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Aula 04 - Impugnação ao Cumprimento de Sentença

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AULA 04 – IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA1 
 
1. Introdução 
 
1.1 Cumprimento de Sentença 
 
Quando estamos no plano da sentença condenatória proferida em 
processo de conhecimento e com trânsito em julgado, ou seja, decisão não mais 
passível de modificação por qualquer recurso, apresenta-se a fase de cumprimento 
de sentença como aquela relativa à última fase do processo de conhecimento, que é 
inaugurada, justamente, após o trânsito em julgado da sentença condenatória 
proferida pelo juízo competente. 
 
Desse modo, existindo sentença em processo de conhecimento da seara 
cível (lato sensu) que condene alguém a pagar, a realizar obrigação de fazer, não 
fazer ou de entregar coisa, não sendo mais passível esta decisão de modificação, 
teremos o início da fase de cumprimento de sentença. (art. 515, inciso I, CPC). 
 
Também ocorrerá a possibilidade de cumprimento de sentença diante 
do não adimplemento de obrigação assumida através de: a) decisão judicial 
homologatória de acordo judicial; b) decisão homologatória de acordo extrajudicial; 
c) formal e certidão de partilha; d) crédito de auxiliar da justiça reconhecido em 
decisão judicial. 
 
Noutro giro, não se pode esquecer que também se encontram no âmbito 
do cumprimento de sentença: i) a decisão transitada em julgado proferida pelo juiz 
da Vara Criminal, quando condena o réu a reparar o prejuízo causado pelo crime 
cometido (art. 515, VI, CPC); além dos casos de: ii) cumprimento de sentença arbitral 
(art. 515, VII, CPC); iii) sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de 
Justiça (art. 515, VIII, CPC) e; iv) decisão interlocutória estrangeira na forma do 
artigo 515, IX, CPC. 
 
Em todas as hipóteses do art. 515, portanto, diante de inadimplemento 
daquele ao qual foi imposta uma obrigação através dos títulos executivos 
reconhecidos pelo art. 515 do CPC, terá início a fase de cumprimento de sentença, a 
fim de impor à parte o adimplemento do dever que lhe foi imposto, propiciando, ao 
mesmo tempo, a satisfação do direito do vencedor da causa. 
 
A fase de cumprimento de sentença para as hipóteses do art. 515 estão 
previstas: 
 
i) arts. 523 e ss., tratando-se de obrigação de pagar quantia certa; 
 
 
1 Material elaborado tendo por base a obra: TARTUCE, Fernanda. Manual de Prática Civil. 15. Ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. 
 
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ii) arts. 528 e ss., tratando-se de obrigação de pagar alimentos; 
 
iii) arts. 534 e ss., sendo a hipótese de obrigação de pagar imposta à 
Fazenda Pública; 
 
iv) arts. 536 e ss., sendo a hipótese de obrigação de fazer, não fazer ou 
entregar coisa. 
 
2. Impugnação ao Cumprimento de Sentença 
 
Diante do exposto no tópico anterior e já cientes, portanto, dessa 
peculiar fase do processo, denominada de cumprimento de sentença, na qual já se 
tem certeza acerca do direito perseguido pela parte, perguntamos: ainda há 
possibilidade de defesa disponível àquele instado ao cumprimento desta obrigação? 
 
R: Sim. A defesa disponível é a Impugnação ao Cumprimento de 
Sentença, prevista no art. 525 do CPC. 
 
*Importante: não confundir com os Embargos à Execução, estudados 
na aula anterior e SOMENTE cabíveis para a defesa do obrigado em sede de 
execução de título EXTRAJUDICIAL (títulos executivos extrajudiciais: art. 784, 
CPC). 
 
2.1 Natureza Jurídica 
 
Diferentemente dos Embargos à Execução, que são uma ação 
autônoma, a Impugnação é uma modalidade de defesa processual, incidente, feita 
nos próprios autos do processo. 
 
2.2 Previsão Legal 
 
Arts. 525 e 536, §4º, CPC. 
 
2.3 Prazo 
 
O artigo 525 do CPC estabelece que o prazo para impugnar o 
cumprimento de sentença é de 15 (quinze) dias, após encerrado o prazo, também de 
15 (quinze) dias do art. 523 do CPC. 
 
Eis a redação de ambos artigos: 
 
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em 
liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento 
definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado 
 
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intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se 
houver. 
 
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento 
voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, 
independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, 
sua impugnação. 
 
Ou seja, tem-se decisão transitada em julgado. Nesse contexto, o 
vencedor da causa apresenta simples petição pugnando pela intimação do executado 
(perdedor da causa) para pagar o que deve no prazo de 15 (quinze) dias.2 
 
Nota-se que é possível vislumbrar, em regra, que o prazo de 
impugnação tem início a partir de simples intimação do devedor nos autos do 
processo de conhecimento, agora em fase de cumprimento, sendo feita a intimação, 
inclusive, por meio de seu advogado constituído nos autos, não sendo necessária 
citação ou intimação pessoal. 
 
Excepcionalmente, em casos de cumprimento de sentença arbitral, 
penal ou estrangeira, será imprescindível a ciência pessoal do devedor, por meio de 
citação, vide art. 515, §1º, CPC: 
 
“§1º Nos casos dos incisos VI a IX [do art. 515], O DEVEDOR SERÁ 
CITADO NO JUÍZO CÍVEL para o cumprimento da sentença ou para a 
liquidação no prazo de 15 (quinze) dias”. 
 
2.3.1 Prazo em Dobro 
 
É possível que o prazo para impugnar seja contabilizado em dobro. 
 
Em qual hipótese? 
 
Desde que se trate de cumprimento voltado contra dois ou mais 
coobrigados, com procuradores diferentes entre si, e que seja hipótese de processo 
físico, não eletrônico. 
 
Ou seja, o prazo para impugnar, em vez de 15, poderá ser de 30 dias, 
vide redação dos artigos 525, §3º e 229, caput e §2º, do CPC: 
 
 
 
 
 
2 Há divergência na jurisprudência sobre a contagem do prazo de 15 dias para cumprir a decisão: se em dias 
corridos ou se em dias úteis. Tem prevalecido, no entanto, o entendimento de ser contabilizado em dias úteis, por 
se tratar de prazo processual, existindo precedente do STJ nessa linha. RESP 1.708.348. DJ 01/08/2019. 
 
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Art. 525 [...] 
 
§3º Aplica-se à impugnação o disposto no art. 229. 
 
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de 
escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as 
suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de 
requerimento. 
 
[...] 
 
§2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos 
eletrônicos. 
 
2.4 Desnecessidade de Penhora ou Garantia do Juízo para Apresentação de 
Impugnação pelo Devedor 
 
Para ingressar com a impugnação, não é necessário que o Impugnado 
tenha sofrido penhora de seus bens, nem que garanta o juízo, efetuando o depósito 
judicial, por exemplo, do valor executado, vide o caput do art. 525, CPC. 
 
2.5 Possibilidade de Garantia do Juízo: Efeito → Atribuição de Efeito 
Suspensivo 
 
A garantia do juízo ou a prévia penhora de bens do devedor não é 
necessária, mas pode ser realizada pelo executado. 
 
Com qual objetivo? 
 
Obter a atribuição de efeito suspensivo à impugnação: ou seja, os atos 
de execução serão suspensos de modo a que o Executado não tenha diminuído o seu 
patrimônio enquanto não decididas as questões levantadas em sede de impugnação. 
 
Em regra, a impugnação, tal qual os embargos à execução, não 
suspenderá o cumprimento de sentença. 
 
O juiz, entretanto, a requerimento do executado, pode suspender os atos 
de expropriação de bens, desde que presentes os requisitos do artigo 525, §6º, do 
CPC (requisitos da tutela provisória de urgência e desde que a execução já esteja 
garantida por penhora, depósito ou caução suficientes). 
 
 
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§6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos 
executivos, inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do 
executado e DESDE QUE GARANTIDO O JUÍZO COM PENHORA, CAUÇÃO 
OU DEPÓSITO SUFICIENTES,ATRIBUIR-LHE EFEITO SUSPENSIVO, SE 
SEUS FUNDAMENTOS FOREM RELEVANTES E SE O PROSSEGUIMENTO 
DA EXECUÇÃO FOR MANIFESTAMENTE SUSCETÍVEL DE CAUSAR AO 
EXECUTADO GRAVE DANO DE DIFÍCIL OU INCERTA REPARAÇÃO. 
 
Ex.: José está sendo alvo de cumprimento de sentença iniciado por João, 
que lhe cobra R$ 100.000,00 (cem mil reais). Em sede de cumprimento de sentença, 
José alega incorreção dos cálculos de João, apresentando impugnação em que 
demonstra dever R$ 70.000,00 (setenta mil reais). José protocola a impugnação já 
com depósito do valor discutido (100 mil) e embasa seu pedido de atribuição de 
efeito suspensivo demonstrando a probabilidade do direito alegado (fundamentos 
relevantes – fumus boni iuris) e a possibilidade de lhe ser causado dano de difícil ou 
incerta reparação (periculum in mora). 
 
José, em vez de depositar o valor em juízo, também poderá indicar bem 
seu à penhora. Ex.: veículo no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). 
 
Reforços de penhora ou novas penhoras, contudo, poderão ser feitas, 
desde que o patrimônio fique preservado de efetiva expropriação. 
 
Art. 525. [...]. 
 
§7º A concessão de efeito suspensivo a que se refere o §6º não 
impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da 
penhora e de avaliação dos bens 
 
2.6 Matérias Passíveis de Serem Elencadas nos Embargos 
 
Rol do Art. 525, §1º, CPC 
 
Art. 525. [...]. 
 
§1º. Na impugnação, o executado poderá alegar: 
 
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo 
correu à revelia. 
 
Ex.: citação encaminhada e recebida por pessoa diversa do réu, tendo 
transcorrido o processo sem que se tenha percebido tal erro. 
 
II - ilegitimidade de parte; 
 
 
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Ex.: dois réus no processo. Somente o 1º réu é condenado à obrigação 
de pagar indenização por dano moral ao Autor. Contra o 2º réu, o pedido de 
indenização do autor foi julgado improcedente. Caso, por equívoco, o autor inicie o 
cumprimento de sentença instando ambos os réus ao pagamento da indenização, 
poderá o 2º réu se voltar contra o cumprimento, alegando ser parte ilegítima a figurar 
nessa fase do processo. 
 
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação 
(TÍTULO NÃO É PASSÍVEL DE SER EXECUTADO – FORA DO ROL DO ART. 
515, CPC) ou inexigibilidade da obrigação (obrigação reconhecida por sentença, 
mas ainda pendente da análise de recurso em 2ª instância) 
 
IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; 
 
Ex.: penhora de bem de família ou avaliação feita em valor inferior ao 
do bem. 
 
V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; 
 
1ª Hipótese: valor executado está além do realmente devido. Devedor 
deverá indicar o valor correto, sob pena de rejeição liminar de sua impugnação. Art. 
515, §§4º e 5º. 
 
2ª Hipótese: dois cumprimentos de sentença embasados no mesmo 
título judicial. Ex.: cumprimento de uma mesma sentença arbitral ajuizado em dois 
juízos distintos 
 
VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; 
 
O cumprimento de sentença deve ser realizado de acordo com as regras 
do art. 516 do CPC, que estabelece os ditames de competência para processamento 
dessa fase. 
 
VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como 
pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que 
supervenientes à sentença. 
 
Atenção também ao art. 515, §§12, 14 e 15 (MATÉRIA DE DEFESA 
DO DEVEDOR COM BASE EM SENTENÇA INCONSTITUCIONAL): 
 
§12 Para efeito do disposto no inciso III do §1º deste artigo, considera-
se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado 
em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal 
Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido 
 
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pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em 
controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. 
 
Trata-se de impossibilidade de cumprimento de sentença atinente à 
decisão proferida em contrariedade a entendimento firmado pelo STF. 
 
O devedor, portanto, poderá manifestar-se em sede de impugnação, 
alegando que a sentença é inconstitucional. 
 
A decisão do STF, em regra, deve ser anterior ao trânsito em julgado da 
decisão exequenda: 
 
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 DEVE 
SER ANTERIOR ao trânsito em julgado da decisão exequenda. 
 
Se a decisão do STF for posterior ao trânsito em julgado, não caberá a 
impugnação, mas o devedor deverá valer-se de ação rescisória, no prazo de dois anos, 
a contar do trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF, para combater a 
decisão que considera inconstitucional. 
 
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em 
julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do 
trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. 
 
3. Caso Concreto 
 
 Deustêmio, de posse de uma sentença estrangeira condenatória contra 
Zílio, devidamente homologada perante o Superior Tribunal de Justiça, propõe a 
competente execução perante uma das Varas Cíveis da Comarca de São Paulo, local 
onde reside o devedor, tendo sido distribuída para a 30ª. Vara Cível. 
 
Ocorre que o bem penhorado não é da propriedade de Zílio, pois trata-se 
de veículo de propriedade da empresa em que ele trabalha, estando na sua posse para 
exercício da profissão. Além do mais, os cálculos elaborados pelo credor estão em 
desconformidade com o disposto na sentença. 
 
Como advogado de Zílio, elabore a defesa cabível.

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