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Gado Leiteiro- Manejo pré parto e doenças metabolicas

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ESCOLA ESTADUAL TÉCNICA DE AGRICULTURA LEONEL DE MOURA BRIZOLA – EETA
ERS 040, KM 16, S/N, PASSO DO VIGÁRIO, VIAMÃO/RS
GADO LEITEIRO
Nome: Luísa Conte
Turma: 322
Professor: Leandro Krenski
Viamão,
22 de agosto de 2023
LUÍSA CONTE
Manejo pré-parto e Doenças Metabólicas
- Com ênfase na produtividade e bem-estar animal-
Trabalho apresentado na disciplina de Gado de Leite do curso Técnico em Zootecnia da Escola Estadual Técnica de Agricultura Leonel de Moura Brizola sob regência do Professor Leandro Krenski como requisito parcial para obtenção da nota na disciplina.
Viamão,
	22 de agosto de 2023	
Sumário
INTRODUÇÃO	4
MANEJO NUTRICIONAL DE VACAS LEITEIRAS NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO	5
CICLO DE PRODUÇÃO DA VACA DE LEITE................................................................................5
PERÍODO DE TRANSIÇÃO.......................................................................................................7
ESCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL........................................................................................9
MANEJO DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO...................................................................10
DOENÇAS RELACIONADAS AO PERÍODO DE TRANSIÇÃO.......................................................11
Lipidose Hepática	12
 Cetose.................................................................................................................................14
 Descolamento do Abomaso...............................................................................................17
 Hipocalcemia.......................................................................................................................19
 Hipomagnesemia.................................................................................................................25
 Acidose Ruminal .................................................................................................................26 METRITES E OUTRAS INFLAMAÇÕES UTERINAS................................................................27
CONCLUSÃO .......................................................................................................................29
Introdução
A importância da alimentação para a eficiência na produção de leite é fundamental em todos os estágios de produção. Porém, no período de transição, que compreende o intervalo de três semanas antes e três semanas após o parto, ocorrem grandes mudanças na fisiologia e no comportamento dos animais, o que gera grande impacto sobre a exigência nutricional.
Os programas de nutrição implementados durante o período de transição são cruciais para a saúde e a produtividade das vacas leiteiras recém paridas. Em geral, observamos 30% de redução no consumo alimentar durante as três últimas semanas de gestação, sendo que grande parte deste declínio ocorre na última semana.
A fim de maximizar a produtividade e assegurar um bom desempenho reprodutivo subsequente, as dietas de transição precisam ter concentrações energéticas e proteicas mais elevadas e geralmente contêm ingredientes de maior custo. Inadequada formulação de dietas, manejo alimentar de pouca qualidade ou estresse ambiental excessivo podem acabar comprometendo os potenciais benefícios destas dietas mais caras e causar doenças metabólicas que, quando não tratadas, podem levar o animal a óbito.
O presente trabalho tem por objetivo informar ao produtor/profissional sobre os manejos adequados com a vaca durante o período do peri-parto (Período de Transição) e evidenciar as principais doenças que atingem as vacas leiteiras durante esse período.
Manejo Nutricional de Vacas Leiteiras no Período de Transição
O período de transição é considerado como a fase mais crítica para a vaca leiteira, pois o animal deve se recuperar da lactação anterior e se preparar para o início do próximo ciclo produtivo. Durante esse período, a vaca passa por uma série de alterações metabólicas e fisiológicas preparando-se para o parto e para a futura lactação. Assim, os acontecimentos durante as 3 semanas que antecedem o parto, e as 3 semanas após o nascimento dos bezerros, determinam grande parte dos resultados produtivos da vaca em lactação. 
Por conta disso, o manejo produtivo deve direcionar seus esforços para garantir que a transição ocorra da forma tranquila para estes animais. Assim, instalações adequadas, conforto animal, dietas específicas, entre outros cuidados, são investimentos prioritários em sistemas que buscam a adequação e aumento de desempenho para o período de transição.
Ciclo de Produção da Vaca de Leite
Para entender o melhor o período de transição e as mudanças metabólicas que ocorrem neste momento é importante entender todo o ciclo produtivo da vaca.
Podemos dividir o ciclo produtivo em 4 fases principais: Início da lactação, meio da lactação, final da lactação e período seco. O período de transição compreende o final do período seco e início do período de lactação. 
Início da lactação = período em que a ingestão de matéria seca é reduzida e a produção de leite começa a crescer. O balanço energético neste período é negativo e com isso a vaca mobiliza suas reservas corporais para atender as demandas da lactação e consequentemente perde condição corporal. Além disso, a vaca tem ao final deste período o desafio de emprenhar novamente para manter a produtividade ideal de um bezerro a cada 12 meses.
Meio da lactação = neste momento a ingestão de alimentos é reestabelecida e a produção de leite já alcançou seu pico máximo e começa a decair. A vaca deve estar prenha e o balanço energético novamente positivo ela para de perder peso e volta a ganhar. O crescimento fetal neste momento ainda é lento e não afeta o balanço energético e distribuição de nutrientes no metabolismo da vaca.
Final da lactação = momento em que ocorre um maior desenvolvimento do feto, começando a interferir na capacidade física de ingestão de alimento (competição por espaço na cavidade abdominal entre rúmen e órgão gravídico), porém sem afetar o balanço energético, uma vez que ocorre a queda acentuada na produção de leite. Assim, a partir deste momento a vaca deve reestabelecer suas condições corporais.
Período seco = fundamental para a manutenção da produtividade, é necessário que a vaca tenha um período de descanso de aproximadamente 60 dias para e recuperação da glândula mamária para a próxima gestação. Neste período a vaca não produz leite, mas suas demandas energéticas estão aumentadas para o desenvolvimento fetal e sua capacidade ingestiva começa a se tornar limitada. Neste período a vaca deve recuperar sua condição corporal e ao final do período seco deve-se investir na adaptação da vaca às dietas mais energéticas que serão fornecidas no período pós-parto.
Dessa forma, o período de transição compreende as 3 semanas finais do período seco e as 3 semanas iniciais da lactação subsequente, e recebe este nome pois é o período em que a vaca passa de um período improdutivo para um período de alta produção.
Período de Transição
O período periparto ou período de transição é caracterizado por diversas alterações metabólicas e fisiológicas para se preparar para o parto e para a futura lactação. São características importantes deste período: alterações hormonais (em função da chegada do parto); maior demanda por nutrientes, voltados à produção do colostro e do leite; desenvolvimento contínuo da glândula mamária; rápido crescimento fetal; e, além disso, frequentemente uma mudança de ambiente, por conta de mudanças de lotes, que podem gerar estresse devido à mudança de local e adaptação. Todos esses fatores culminam na queda do consumo de alimentos, e, consequentemente, do percentual de matéria seca, independentemente do porte ou idade da vaca. 
Todas estas alterações também interferem no estado imunológico da vaca que fica comprometido durante a fase de transição. A função de neutrófilos e linfócitos sanguíneos fica deprimida, bem como a concentraçãode outros componentes do sistema imune. Este comprometimento do estado imunológico se deve entre outros fatores pelo estado nutricional da vaca, mudanças metabólicas e alterações fisiológicas que podem afetar o animal.
 Estudos mostram que a maximização do consumo de matéria seca no período de transição é uma alternativa para minimizar estes efeitos e deve ser o foco de administradores e técnicos da fazenda produtora de leite. Além disso, a partição de nutrientes e a prioridade nutricional ocorre na seguinte ordem: metabolismo basal, atividade, crescimento, reservas energéticas basais, gestação, lactação, reservas energéticas adicionais, ciclicidade reprodutiva e excesso de reservas.
Por isso, técnicas para melhoria do manejo de alimentação, fornecimento de água e alimentos de qualidade e controle do ambiente proporcionando o conforto e bem-estar das vacas em transição, devem ser implantadas nesta fase de forma rotineira como prevenção de incidências de patologias e distúrbios que possam prejudicar a produtividade das vacas. 
Durante a fase de transição é recomendado a formulação de dietas com maior densidade energética e proteica para compensar a redução na ingestão de matéria seca que ocorre neste período, a fim de atender às exigências nutricionais do final da gestação onde ocorre maior crescimento do feto, o parto e a lactogênese, e reduzir o risco de distúrbios metabólicos (NRC, 2001). 
Além do aumento da densidade da dieta e cuidado com o balanço nutricional, é possível utilizar os efeitos farmacológicos de alguns nutrientes na prevenção de distúrbios, como, por exemplo: selênio para a prevenção da retenção de placenta e/ou o cálcio para prevenção da febre do leite. O desbalanço nutricional no pré-parto, em deficiência ou excesso, bem como suas associações, predispõe às desordens metabólicas (periparto) e reprodutivas (pós-parto).
 No momento do parto e em seu dia seguinte, a demanda supera a quantidade de nutrientes ingeridos e disponíveis e por isso a vaca apresenta um balanço energético negativo.
Por conta disso, a vaca precisa retirar nutrientes de suas reservas corporais, para que ela consiga produzir o leite, por exemplo.
Escore de Condição Corporal
O Escore de Condição Corporal é uma escala de 1 a 5 pontos que é utilizada para qualificar a condição energética dos animais, sendo que o número 1 representa uma vaca excessivamente magra e 5 uma vaca obesa. Para a determinação desse escore, a região da garupa da vaca (englobando o ísquio, o íleo e a inserção da cauda) é avaliada. Uma avaliação secundária também pode considerar as costelas, as vértebras lombares e o vazio.
É comum a vaca sofrer alterações no escore de condição corporal ao longo do ciclo produtivo. Pode haver a redução de até 1 ponto na escala de ECC no início da lactação quanto a vaca encontra-se em balanço energético negativo. Por outro lado, vacas com ECC muito alto não são desejáveis pois o excesso de gordura corporal pode favorecer a mobilização de AGNE e causar excesso de corpos cetônicos no metabolismo levando a distúrbios metabólicos como a cetose. 
Assim, o escore de condição corporal deve ser acompanhado e utilizado como guia para planejamento da dieta das vacas, e evitar que grandes alterações ocorram sendo prejudiciais à saúde e reprodução e causando perdas econômicas. 
O ECC ideal para que a vaca alcance uma prenhez de sucesso, evitando grandes perdas no período e retorne rapidamente a um balanço energético positivo é entre 3 e 3,5.
Manejo Durante o Período de Transição
É indispensável o manejo correto no período de transição para que a rentabilidade e a saúde do animal não sejam comprometidas. Abaixo, seguem os principais pontos de atenção que o período exige:
· Disponibilidade de Comida
É importante fornecer uma alimentação com pequena sobra nesse período, entre 3-5%, evitando maior competição dos animais e proporcionando a todos a chance de comer o necessário.
· Espaço no Cocho
Procure manter um espaço de cocho de pelo menos 75 cm por vaca e não mais de 4 a 5 vacas por canzil.
· Lotação
Manter menos de 85% de densidade de lotação, variando conforme o sistema
de produção (nunca mais de uma vaca por cama em sistema de free-stall; em currais sem cama, um espaço mínimo de 7m2 por vaca é recomendado, além de 12m2 por animal no compost barn).
· Maternidade
Tenha capacidade para 130-140% da média de acordo com o número de partos mensais; assegurando camas ou lotes confortáveis (mínimo de 1,22m de largura por 2,74m de comprimento).
· Monitoramento
Estabelecimento de um programa de monitoramento para vacas durante a transição.
· Segregação de Grupos
Alojar novilhas e vacas separadas no peri- parto para evitar competição e melhorar o manejo alimentar considerando que a demanda de nutrientes da novilha pode ser diferente das vacas multíparas.
· Evite Estresse
Procure evitar mudanças de grupos ou currais no peri-parto. Minimize o estresse térmico, ajustando a infraestrutura para dar conforto aos animais.
· Dieta 
Forneça uma dieta balanceada, sem exceder a exigência energética de 8 a 3 semanas antes do parto. Ofereça dietas com nível de FDN de 35% e 40% para uma densidade energética adequada, utilizando forragens com tamanho longo de partículas (5-8 cm de comprimento).
· Disponibilidade de Água
Forneça água à vontade, com 10 centímetros de espaço no bebedouro por vaca e, pelo menos, duas fontes de água por curral.
· Aditivos Nutricionais
Além do correto fornecimento de uma dieta balanceada, quando possível, utilize aditivos nutricionais. Eles auxiliam no aproveitamento dos nutrientes.
· Condição de ECC
O ECC ideal para que a vaca alcance uma prenhez de sucesso, evitando grandes perdas no período e retorne rapidamente a um balanço energético positivo é entre 3 e 3,5.
Doenças Relacionadas ao Período de Transição
Apesar de relativamente curto, o período de transição é crucial para a saúde do animal. Estima-se que cerca de 70% das vacas leiteiras são acometidas por alguma enfermidade no decorrer desse período! 
Estudos epidemiológicos vêm nos mostrando que existe uma relação direta entre a incidência de doenças no período de transição e o desempenho reprodutivo das vacas leiteiras, apresentando menor taxa de fertilização e menor qualidade embrionária, já nos primeiros dias pós-inseminação. Além disso, em decorrência da perda de qualidade embrionária, o desenvolvimento do feto é atrasado e a multiplicação celular é comprometida. Já num estágio mais desenvolvido de gestação, os embriões afetados por vacas doentes no período de transição têm, em geral, um menor tamanho, e, podem ter seu desempenho afetado durante toda a vida do animal. 
É muito importante ter em mente que muitas dessas doenças estão interligadas, de modo que uma enfermidade pode levar ao surgimento (ou agravamento) de outras. Por conta disso, é preciso compreender as doenças mais comuns do período e buscar um rápido diagnóstico e tratamento. 
· Lipidose hepática
· Etiologia
Uma redução no consumo de alimentos ocorre durante o período de transição, chegando a 30% de queda antes do parto. Entretanto, as demandas nutricionais neste período aumentam para suportar o crescimento fetal e o início da síntese de leite, ocasionando um balanço energético negativo. 
Durante a primeira semana pós-parto, devido ao parto e ao início da lactação, ocorrem mudanças dramáticas nos estados metabólico, endócrino e sanguíneo, o que acarreta um balanço energético negativo ainda maior. A presença do balanço energético negativo no pós-parto provoca a mobilização de ácidos graxos não esterificados e o acúmulo de triglicerídeos no fígado. 
O fígado é um dos principais locais do metabolismo da gordura. Sob condições normais, uma proporção significativa dos ácidos graxos não esterificados que chega ao fígado será completamente oxidada para suportar os requerimentos energéticos da vaca. Alternativamente, ácidos graxos não esterificados podem ser exportados do fígado como lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) para serem metabolizados em outros tecidos, sendo esta a rotapela qual a gordura corporal mobilizada é incorporada na gordura do leite. 
Entretanto, quando a quantidade de gordura que chega ao fígado exceder as capacidades de oxidação ou transporte, ocorrerá uma oxidação parcial, resultando em produção aumentada de corpos cetônicos. É importante ressaltar que os ruminantes possuem uma taxa lenta de exportação de ácidos graxos não esterificados como VLDL, o que contribui para o acúmulo de gordura nas células do fígado. Quando a taxa de ácidos graxos não esterificados que chega ao fígado exceder todas as rotas possíveis, o acúmulo de gordura nas células hepáticas é uma consequência inevitável, gerando o chamado distúrbio de Lipidose hepática ou fígado gorduroso.
· Consequências
O balanço energético negativo e o distúrbio do fígado gorduroso trazem resultados negativos diretos para a reprodução. Segundo Jorritsma et al. (2000), uma vaca com fígado gorduroso tem um intervalo maior entre o parto e o primeiro estro, podendo ter até 30% menos chances de emprenhar no início da lactação e uma probabilidade até 35% menor de apresentar estro. Entretanto, apesar do atraso no estro, não há relação entre o fígado gorduroso e a taxa de concepção na primeira inseminação. 
O atraso no estro das vacas com fígado gorduroso pode ser explicado por alguns fatores. Após o parto, as vacas com altas concentrações hepáticas de triglicerídeos apresentam baixas concentrações de colesterol total no soro, devido à diminuição de sua síntese no fígado. Como o estrógeno deriva do colesterol e a expressão do estro depende, entre outros fatores, da concentração deste hormônio no sangue,haverá um atraso na expressão de estro dos animais com altas concentrações de triglicerídeos.
 O balanço energético negativo, mais severo em vacas com fígado gorduroso, também é um fator importante para o atraso do estro. Segundo Staples e Thatcher (1990), vacas com severo balanço energético negativo demoram mais para retomar sua atividade cíclica e para demonstrar o estro. De acordo com Staples e Thatcher (1990), o impacto do balanço energético negativo durante as primeiras semanas pós-parto tem potencial influência na atividade ovariana subsequente de vacas da raça Holandesa. Vacas com marcado déficit energético nas 2 a 3 semanas pós-parto podem apresentar um atraso na atividade ovariana durante as primeiras 9 semanas pós-parto, ocasionando um atraso na ovulação, no estro e no primeiro serviço. Além disso, as taxas de concepção são mais baixas para os animais com acentuado déficit energético. Kim e Suh (2003) relataram que uma acentuada perda de condição corporal é um bom indicativo de déficit energético.
 A perda de condição corporal acarreta diminuição do colesterol total, atrasando o estro e predispondo o animal a doenças metabólicas tais como deslocamento abomasal, hipocalcemia e cetose. Após o parto, o acúmulo de triglicerídeos no fígado diminui a conversão de amônia em uréia, o que resulta em uma concentração de amônia ainda maior em vacas com fígado gorduroso. A alta concentração de amônia reduz a liberação de insulina e, portanto, traz efeitos negativos para a reprodução. A insulina é um conhecido regulador de função celular folicular, conforme foi demonstrado por seus efeitos in vitro na esteroidogênese, mitose e diferenciação morfológica das células da granulosa. 
Além disso, a insulina e o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-I) estimulam o desenvolvimento do blastocisto através do receptor de IGF-I . Efeitos benéficos da insulina ainda foram relatados na pré-implantação do desenvolvimento embrionário. Para complementar, a desintoxicação de amônia ainda exige um alto gasto energético, o que exacerba o balanço energético negativo do animal.
· Cetose
· Etiologia
Está claro que a nutrição da vaca no período seco tem influência direta nos distúrbios metabólicos no pós-parto (fígado gorduroso, cetose). Isto ocorre porque a vaca seca não regula o seu consumo de acordo com seus requerimentos e irá consumir um excesso energético se tiver oportunidade. Imediatamente após o parto, a vaca reduz seu consumo e aquelas vacas que tiverem consumido dietas com excesso de energia, terão maior mobilização de gordura corporal, gerando altos níveis de ácidos graxos não esterificados e, consequentemente, tendo mais chances de gerar fígado gorduroso e cetose subsequente. 
Grummer et al. (1993) citam que o desenvolvimento do fígado gorduroso pode predispor à cetose. O desenvolvimento do fígado gorduroso tem um efeito direto no metabolismo do carboidrato, reduzindo a formação de glicose. Redução na gliconeogênese hepática pode reduzir a glicemia e diminuir a secreção de insulina, o que, em compensação, pode elevar a mobilização de lipídeos do tecido adiposo e aumentar a taxa de mobilização de ácidos graxos hepáticos e cetogênese. Alta proporção de triglicerídeos hepáticos em relação a glicogênio poderia gerar alta cetogênese.
Concentrações séricas de metabólitos em vacas sadias ou com cetose subclínica e clínica
· Consequências
A redução da glicemia gerada pela cetose pode retardar a primeira ovulação por diminuir a pulsatilidade de LH (Jorritsma et al., 2000). O LH, além de estimular a maturação folicular, o crescimento pré-ovulatório do folículo dominante e a ovulação, ainda provoca a luteinização dos folículos ovarianos, estimulando a formação do corpo lúteo (Fortune et al., 2001). 
A redução na secreção de insulina também interfere negativamente na reprodução. Este hormônio, além de outras funções, age, juntamente com o IGF-I, em sinergia com o LH para promover o desenvolvimento folicular em vacas no período pós-parto (Lucy, 2001). O IGF-I estimula o crescimento folicular através de ação parácrina (Roche, 2006).
Segundo Gillund et al. (2005), um histórico de cetose antes do primeiro serviço influencia negativamente a taxa de concepção ao primeiro serviço. Isto acontece porque a cetose gera uma perda exacerbada de condição corporal durante o período pós-parto, sendo esta perda associada com queda das taxas de concepção ao primeiro serviço, prolongados intervalos entre parto e concepção e aumentado número de inseminações artificiais por concepção. Além disso, os corpos cetônicos são intimamente relacionados ao balanço energético negativo (Van Knegsel et al., 2005) e uma relação inversa entre balanço energético e dias de recuperação da atividade ovariana pós-parto foi demonstrada (Staples e Thatcher, 1990).
 De acordo com Tamminga (2006), um balanço energético negativo está associado com mudanças em metabólitos e em hormônios metabólicos. A mobilização de gordura corporal causa aumentados níveis de ácidos graxos não esterificados e corpos cetônicos como acetoacetato, acetona e β-hidroxibutirato. Isto é normalmente associado com baixos níveis de glicose no sangue. Ao mesmo tempo, níveis sanguíneos do hormônio de crescimento (GH) estão aumentados e os de insulina e IGF-I estão diminuídos (Bosclair et al., 2006).
 Estas mudanças metabólicas estão associadas com infertilidade. Tais mudanças incluem distúrbios na frequência de pulsos de LH, taxas de crescimento e diâmetro do folículo dominante, peso do corpo lúteo e concentrações de progesterona e estrógeno (Van Knegsel et al., 2005).
Nos próximos tópicos serão apresentadas algumas alternativas que podem ser utilizadas em conjunto com o manejo do ECC para a prevenção da cetose.
· Ionóforos
Os ionóforos são compostos poli-éter com reduzido peso molecular. Estes compostos são produzidos a partir de várias espécies de Streptomyces sp. Os ionóforos atuam alterando a flora ruminal, agindo principalmente sobre microrganismos gram-positivos. Uma das principais ações dos ionóforos é a redução da metanogênese ruminal, fenômeno proporcionado pela alteração da flora ruminal. 
Desta forma microrganismos produtores de propionato são favorecidos pelo maior apor te de C e H+ o que aumenta a densidade energética da dieta em 3 a 4%, e promove maior produção de glicose para o animal (Santos, 2006). Isto pois o propionato é utilizado pelos ruminantes na rota de gliconeogêneseno fígado. Estes efeitos provocados pelo fornecimento de ionóforos, em geral, resultam em diminuição da cetogênese, contribuindo para uma menor incidência de ce tose clínica e subclínica.
· Precursores gliconeogênicos
Conforme discutido no tópico acima, a maior parte da glicose utilizada por uma vaca leiteira (cerca de 70%) é proveniente da gliconeogênese hepática (Santos, 2006).
Sendo assim o fornecimento de substâncias que promovam maior produção de glicose tende a diminuir a cetogênese. Entre os precursores gliconeogênicos encontram-se o propilenoglicol, o propionato de cálcio e o glicerol, os quais são parcialmente fermentados pela microbiota ruminal sendo, portanto, parcialmente absorvidos pelo epitélio ruminal e transportados para o fígado pelo sistema porta onde são convertidos em glicose (Santos, 2006). O melhor uso desta alternativa se faz quando seu fornecimento é realizado individualmente e não incorporado a dieta. Isto porque neste último caso a presença destes compostos pode causar uma redução no consumo de matéria seca. O influxo de tais compostos deve ser realizado em doses mais concentradas e não a mercê do consumo dos animais, o que poderia provocar um consumo esporádico durante o dia e em quantidade insuficiente para promover uma resposta efetiva. Sendo assim o fornecimento de precursores de gliconeogênese deve ser realizado em dose única diária. Além disso o uso deve ser restrito às últimas duas semanas de gestação e aos primeiros 10 a 15 dias de lactação (Santos, 2006).
· Niacina
Niacina ou vitamina B3 é necessária para a síntese de NAD+ e NADP+ no citoplasma celular. Tais compostos são coenzimas fundamentais para o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos. Ruminantes são capazes de sintetizar niacina seja pelo processo de fermentação ruminal ou a nível celular através do aminoácido triptofano. No entanto, tem-se observado que a suplementação de vacas leiteiras com niacina leva a uma redução na mobilização de reservas corporais durante período de transição. O mecanismo pelo qual a niacina promove tal efeito ainda não está elucidado para ruminantes. Em animais de laboratório e humanos, sabe-se que a niacina atua inibindo a lipase hormônio sensível (Santos, 2006). É provável que esta estratégia surta efeito apenas em animais com alta condição corporal.
· Deslocamento de abomaso
· Conceituação e etiologia 
A incidência deste distúrbio varia conforme a região, podendo chegar a 5% das vacas em período pós-parto (Geishauser et al., 2000). Os prejuízos deste distúrbio incluem: custos de tratamento, queda da produção de leite, descarte de leite (Shaver, 1997), doenças metabólicas secundárias (Van Winden et al., 2003), efeitos negativos sobre a reprodução, descarte prematuro de animais e morte (Raizman e Santos, 2002). Conforme Raizman e Santos (2002), o deslocamento de abomaso para a esquerda é uma condição primária da vaca leiteira em que o abomaso fica preenchido com fluído e gás e é deslocado mecanicamente de sua posição normal para o lado esquerdo da cavidade abdominal, entre o rúmen e a parede abdominal esquerda. 
Van Winden et al. (2003) citam que o deslocamento abomasal para a esquerda pode ser clinicamente detectado se o gás presente no abomaso resultar em um som timpânico e ressonante. Entre os fatores que podem predispor a deslocamento abomasal estão: distocia, parição gemelar, retenção de placenta, metrite, hipocalcemia, fígado gorduroso e cetose (Rohrbach et al., 1999). De fato, o período periparturiente pode ser considerado como a fase crítica para o desenvolvimento desta patologia. 
Shaver (1997) cita que 80 a 90% dos casos de deslocamento de abomaso para a esquerda são diagnosticados dentro do primeiro mês pós-parto. Este período de transição, da segunda até a quarta semana pós-parto, caracteriza-se por depressão do consumo pré-parto, seguido por um pequeno aumento de consumo no pós-parto, representando o período de maior risco para este distúrbio. Segundo Shaver (1997), o baixo consumo durante esta fase leva a um baixo preenchimento ruminal, o que gera grandes oportunidades para a migração do abomaso e a uma reduzida taxa de consumo de volumoso: concentrado em rebanhos não alimentados com rações totalmente misturadas, o que contribui para a diminuição do pH ruminal e produção excessiva de ácidos graxos voláteis. Uma elevada incidência de doenças metabólicas pós-parto, devido ao balanço energético negativo gerado, pode causar uma estase gastrointestinal. 
Dentre as doenças metabólicas que geram a estase gastrointestinal, podemos destacar a hipocalcemia. É sabido que uma das funções do cálcio é a contração muscular. Quando a concentração plasmática de cálcio está muito baixa, observa-se redução da motilidade abomasal de até 70% e a força da contração muscular cai em até 50% (Daniel, 1983). Além disso, o melhoramento genético contribuiu para o aumento das dimensões corporais, o que contribui ainda mais para que haja o deslocamento (Hansen, 2000). 
· Consequências 
Vacas com deslocamento de abomaso em geral apresentam menor consumo de alimentos, menor produção de leite, reduzidos níveis de cálcio no sangue, elevadas concentrações de corpos cetônicos e ácidos graxos não esterificados (Van Winden et al., 2003). Portanto, pode-se dizer que este distúrbio aumenta os riscos de outras doenças metabólicas. Além disso, o baixo consumo alimentar agrava o balanço energético negativo da vaca, o que traz diversas consequências negativas para o animal. 
Além da queda de produção leiteira e do aumento das taxas de mortalidade, o deslocamento abomasal ainda afeta negativamente a reprodução, o que contribui para o aumento da taxa de descarte de animais do rebanho (Raizman e Santos, 2002). 
O deslocamento de abomaso não afeta o período parto-concepção ou as taxas de concepção. Entretanto, o período do parto ao primeiro serviço é prolongado, o que aumenta os dias em aberto (Raizman e Santos, 2002).
· Hipocalcemia
· Conceituação e etiologia
A hipocalcemia, também conhecida como febre do leite ou febre vitular, é um distúrbio metabólico bastante comum, especialmente em vacas de alta produção leiteira, e predispõe a várias outras doenças metabólicas, acarretando prejuízos econômicos. Segundo Wilde (2006), a incidência desta doença no Reino Unido é de 4 a 7%, com algumas propriedades individuais podendo atingir uma incidência de 41%. No Brasil, Ortolani (1995) relatou que 4,25% das vacas da raça Holandesa e mestiças Girolando desenvolvem hipocalcemia.
 A hipocalcemia é conceituada como uma depressão dos níveis de cálcio ionizado nos líquidos teciduais (Blood e Radostis, 1989). Os níveis séricos de cálcio caem em todas as vacas adultas no momento do parto, devido ao aparecimento da lactação. Existe um período lento aparente entre o estímulo da hipocalcemia, provocado pela ordenha, e o aparecimento de uma hipercalcemia compensatória. Esta demora na operação dos mecanismos homeostáticos do cálcio provavelmente é vital para o desenvolvimento da febre do leite.
 O fato importante é que os níveis séricos de cálcio caem mais em umas vacas do que em outras e é esta diferença que resulta na suscetibilidade variada dos animais à febre do leite (Blood e Radostis, 1989). Existem três fatores que afetam a homeostasia do cálcio e a alteração de um ou mais deles pode ser suficiente para causar a doença em qualquer indivíduo.
O primeiro pode ser simplesmente a excessiva perda de cálcio no colostro. As variações na susceptibilidade entre vacas podem ser devidas a variações na concentração de cálcio no leite e ao volume de leite secretado. 
O segundo fator é que pode existir uma diminuição da absorção do cálcio pelo intestino no momento do parto. 
O terceiro, e provavelmente o mais importante, é que a mobilização do cálcio do seu estoque no esqueleto pode não ser suficientemente rápida para manter os níveis séricos normais. Certamente, as taxas de mobilização do cálcio e de suas reservas imediatamente disponíveis estão suficientemente reduzidas em vacas no final da gestação para repor este mineral,tornando-as incapazes de resistir às perdas esperadas de cálcio no leite (Blood e Radostis, 1989). 
O cálcio funciona como um dos principais elementos estruturais do tecido ósseo, estando mais de 99% do total do cálcio corporal nos ossos e dentes. Além de serem o arcabouço estrutural, os ossos também são a reserva corporal do cálcio. O cálcio encontrado na porção trabecular dos ossos está em equilíbrio dinâmico com aquele dos fluídos corporais e outros tecidos do corpo. Durante os períodos de deficiência alimentar ou quando as necessidades aumentam, como durante a gestação e a lactação, o cálcio e o fósforo são rapidamente mobilizados dos ossos para manter os níveis normais e dentro dos limites constantes no sangue e outros tecidos moles (Hays e Swenson, 1996). 
O movimento de cálcio que entra e sai do esqueleto e a manutenção apropriada da concentração de cálcio nos líquidos intra e extracelular são essenciais para muitas funções críticas do corpo. A regulação da concentração de cálcio e remodelagem dinâmica do osso é de responsabilidade de três hormônios: hormônio paratireoide (também chamado de paratormônio ou PTH) da glândula paratireoide, a calcitonina (CT) das células parafoliculares no interior da glândula tireoide e o 1,25-diidroxicolecalciferol (1,25-DHCC) que é um derivado da vitamina D (Dickson, 1996). 
Em casos de hipocalcemia, o PTH é o responsável por mobilizar cálcio do osso, liberando este mineral para o líquido extracelular e circulação geral. Além disso, o PTH aumenta a retenção renal de cálcio. O 1,25-DHCC também age para aumentar os níveis de cálcio na circulação, estimulando a absorção intestinal deste através do aumento da proteína ligadora de cálcio e cálcio-ATPase dentro das células do epitélio intestinal (Dickson, 1996). A CT, ao contrário do PTH e do 1,25-DHCC, atua quando há uma hipercalcemia, impedindo a mobilização óssea do cálcio. Além disso, a CT aumenta a diurese do cálcio (Dickson, 1996). 
A hipocalcemia irá ocorrer quando a taxa de chegada de cálcio na glândula mamária para a produção de leite for maior do que o cálcio absorvido pela dieta ou mobilizado pelos ossos. Altas dietas de cálcio fazem com que haja uma interrupção temporária do sistema de mobilização óssea, fazendo com que os suplementos deste mineral sejam provenientes somente da absorção intestinal. Durante o parto, a demanda massiva de cálcio pode ser muito alta, causando a febre do leite, já que o ciclo do PTH pode demorar dois a três dias para tornar-se completamente funcional (Wilde, 2006). 
A febre do leite pode ser evitada por meio do fornecimento de uma ração com alta quantidade de fósforo e uma baixa quantidade de cálcio, durante o final da gestação. Tal dieta estimularia a atividade da paratireóide durante o período seco e condicionaria a glândula para uma atividade maior necessária no parto (Blood e Radostis, 1989). Entretanto, apesar de regimes de baixo cálcio prevenirem a febre do leite, estas dietas resultam em uma leve deficiência deste mineral, podendo levar a outros distúrbios metabólicos (Wilde, 2006). 
Pesquisas da diferença catiônica-aniônica da dieta (DCAD) de rações pré-parto têm sido extensivas nos últimos anos com a conclusão de que acidificando a dieta pode permitir o uso de dietas ricas em cálcio sem causar a hipocalcemia. O cálculo da DCAD é baseado nos níveis de cátions (K+ e Na+) e ânions (Cl- e SO4). Altos níveis de potássio (K+) e sódio (Na+) na ração fazem com que o sangue fique levemente alcalino, o que reduz a efetividade do PTH (Goff e Horst, 1997).
No Reino Unido, para prevenir o condicionamento excessivo das vacas, forragem verde são geralmente restritas, com oferta de feno à vontade e 1 a 2 kg de concentrado. Geralmente, a redução da febre do leite é vista como um resultado deste método de alimentação por reduzir o cálcio na ração. Entretanto, as forragens verdes são geralmente ricas em potássio e sua restrição pode ser benéfica por reduzir o consumo de potássio (Wilde, 2006). 
Rações aniônicas podem ajudar a reduzir a extensão do balanço energético negativo periparturiente por aumentar o consumo de matéria seca no pós-parto como consequência de uma melhor homeostasia do cálcio e, portanto, reduzir distúrbios pós-parto. Evidências sugerem que alimentação com rações com DCDA negativa torna os partos rápidos e fáceis, reduzindo a incidência de retenção de placenta e deslocamento de abomaso. 
Produtores relataram que vacas alimentadas com este tipo de ração têm maior apetite imediatamente após o parto. Isto obviamente aumenta rapidamente o consumo de matéria seca, reduzindo o balanço energético negativo pós-parto. Tal fato pode aumentar a eficiência reprodutiva, já que vacas alimentadas com rações com DCAD negativa tendem a apresentar maiores taxas de concepção ao primeiro serviço e menores dias para o primeiro serviço. Certamente, a correta suplementação de microminerais, juntamente com variação nos níveis de forragem, deve ser levada em conta para formulação de dieta pré-parto, prevenindo hipocalcemia e outros distúrbios pós-parto e melhorando a eficiência reprodutiva (Wilde, 2006).
· Consequências
A ocorrência de hipocalcemia subclínica aumenta o risco de problemas reprodutivos associados com parição tais como distocia e retenção de placenta. Além disso, este distúrbio predispõe a mastite, Laminite e doenças metabólicas que afetam as funções uterinas, resultando em endometrite, anestro e reduzidas taxas de concepção para inseminação artificial. Consequentemente, vacas afetadas pela hipocalcemia podem acabar sendo descartadas por infertilidade (Roche, 2006). 
A hipocalcemia reduz a contratilidade muscular, reduzindo as funções ruminais e o consumo de matéria seca. O consumo de matéria seca reduzido leva a um balanço energético negativo, aumentando a mobilização de gordura, resultando em fígado gorduroso e cetose (Wilde, 2006). Além disso, a hipocalcemia também reduz o tônus muscular uterino, dificultando o parto, predispondo a retenção de placenta e atrasando a involução uterina (Wilde, 2006). Além da hipocalcemia, são fatores de risco para a retenção placentária, uma condição corporal elevada e deficiências nutricionais (Roche, 2006). 
Como deficiências nutricionais, podem ser citadas: deficiência das vitaminas A, D e E e deficiências em Selênio, Iodo e talvez, Zinco (Roche, 2006). O atraso na expulsão das membranas fetais aumenta o risco de metrite (Correa et al., 1993) e tem efeitos negativos diretos para a reprodução, já que aumenta o intervalo entre o parto e o primeiro serviço e o número de serviços para concepção (Martin et al., 1986). 
A endometrite é uma inflamação do endométrio sem sinais sistêmicos de doença que geralmente ocorre antes da primeira ovulação (Sheldon, 2004). Este distúrbio traz diversas consequências para a reprodução, prolongando o intervalo entre o parto e o primeiro serviço, o intervalo entre parto e concepção e os dias em aberto (Roche, 2006). O prolongado intervalo entre o parto e o primeiro serviço provocado pela endometrite pode ser explicado da seguinte forma: a taxa de crescimento do primeiro folículo dominante pós-parto está diminuída, o que também reduzirá a secreção de estrógeno no período pós-parto (LeBlanc et al., 2002). 
Este estrógeno será insuficiente para induzir a liberação do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo, impedindo o surgimento dos hormônios luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH) pela hipófise, ambos responsáveis pelo crescimento folicular (Fortune et al., 2001). Consequentemente, a ovulação estará atrasada. Além disso, a produção de endotoxinas também pode suprimir a frequência dos pulsos de LH, impedindo a maturação folicular, e, consequentemente diminuindo a secreção posterior de estrógeno, aumentando as chances de uma atresia folicular (Roche, 2006). A endometrite pode, ainda, ter efeitos negativos nas taxas de concepção ao primeiro serviço se isto ocorrer entre 20 e 33 dias pós-parto (LeBlanc et al., 2002), aumentando o número de inseminações para concepção. 
Finalmente, a baixaconcentração de cálcio ainda tem influência negativa na produção de insulina (Goff, 1999), a qual tem importantes contribuições para a reprodução. As doenças metabólicas trazem diversos prejuízos para o setor de bovinocultura leiteira, tais como: custos com tratamento, queda da produção leiteira, descarte precoce de animais e alta mortalidade. Além disso, essas doenças têm efeitos negativos diretos na eficiência reprodutiva de bovinos de leite, aumentando ainda mais os prejuízos da atividade. Queda das taxas de concepção, atraso na primeira ovulação, prolongado período do parto ao primeiro serviço, prejuízo para o desenvolvimento embrionário e elevados riscos de distocia e retenção de placenta são problemas decorrentes das doenças metabólicas. Entretanto, apesar de sentir estes prejuízos, o produtor, muitas vezes, não tem a consciência de que estes estão relacionados com as doenças metabólicas. É imprescindível, portanto, que atitudes sejam tomadas para evitar ou ao menos reduzir a incidência destas doenças nos rebanhos. Para tanto, deve-se, através de medidas de manejo e nutrição, reduzir o balanço energético negativo sofrido pelos animais no período pós-parto.
· Dietas deficientes de cálcio
A utilização de dietas deficientes em Ca resulta em um balanço negativo, levando a baixas concentrações de Ca no sangue e consequente aumento da produção de PTH. O aumento da secreção de PTH leva a maior mobilização do Ca dos ossos e promove maior absorção de Ca no intestino por efeito da Vitamina D3. No entanto, existe um problema prático neste método. Para que uma dieta deste tipo seja efetiva na prevenção da hipocalcemia deve fornecer menos de 20 g/dia de Ca absorvível, o que nem sempre se consegue na prática devido a concentração de Ca nos alimentos usualmente utilizados em dietas de vacas leiteiras (Santos, 2006).
· Balanço cátion-aniônico (BCA)
A utilização do balanço cátion-aniônico como forma de evitar a ocorrência de hipocalcemia no rebanho está baseado na teoria de íons fortes proposta por Stewart (1983). Segundo esta teoria, uma alteração nos íons de uma solução é capaz de causar alterações no pH desta solução. Para realização do BCA de dietas de vacas no pré-parto tem sido utilizado como ânions o Cl- e o S- - e como cátions o Na+ e o K+, pois estes possuem grande importância no metabolismo, balanço ácido-base, balanço osmótico, mecanismos de bombeamento e integridade de membranas (Block, 1994). 
Além disso, estes minerais apresentam alta taxa de absorção no intestino e maior concentração em mEq (Santos, 2006). Com relação a outros minerais como Ca, P e Mg ainda não se compreende totalmente seus papéis em tal equilíbrio e, portanto, eles não têm sido utilizados para tal fim (Leite et al., 2003 ). A intenção de tais dietas é deslocar o balanço para uma dieta aniônica fazendo com que mais H+ seja retido, resultando em uma pequena acidose metabólica. Esta condição de pH sanguíneo ligeiramente ácido promove maior atividade do PTH, promovendo uma maior mobilização óssea de Ca. Existem diversas formas de calcular o BCA de uma dieta (Santos, 2006). Para exemplificar utilizaremos a metodologia de cálculo utilizada por Block (1994) e Santos (2006), considerando que a biodisponibilidade destes minerais é igual, como segue: BCA (mEq/kg) = {(Na+ + K+) – (Cl- + S2)
· Hipomagnesemia
Assim como a hipocalcemia, a Hipomagnesemia também é uma deficiência mineral (Magnésio – Mg), porém menos recorrente. Esta doença pode predispor a própria hipocalcemia, além de ocorrerem casos de morte súbita em animais não socorridos rapidamente. A incidência é maior em sistemas a pasto, principalmente em animais expostos a pastagem nova, visto que rebanhos confinados tentem a corrigir os níveis do mineral na dieta.
· Acidose ruminal
Por fim, uma das doenças mais comuns em gado leiteiro é a acidose ruminal, caracterizada pela diminuição do pH do rúmen, geralmente devido a consumo de dietas ricas em carboidratos não fibrosos.
Normalmente se apresenta de forma subclínica, quando o pH fica inferior a 5,8. Esta condição compromete o crescimento bacteriano, principalmente das espécies responsáveis pela degradação da fibra, de forma que a digestibilidade total da dieta fica prejudicada.
Os principais sinais de acidose no rebanho são hábito de consumo errático, alta variabilidade na produção de leite, fezes inconsistentes, pouca ruminação e uma depressão geral na aparência da vaca. 
Para prevenir a ocorrência da doença, deve-se evitar o consumo de grandes quantidades de concentrado distribuídas poucas vezes ao dia. Essa situação é muito comum em animais mantidos a pasto e com produção elevada. Outra circunstância que propicia a acidose são dietas ricas em carboidratos não fibrosos, de fermentação rápida, principalmente quantidades elevadas de grãos de cereais (amido). 
Deve-se, então, atentar-se principalmente para o tamanho da partícula da dieta quando os animais são mantidos confinados. Já no caso do pastejo, a principal recomendação é quebrar em mais vezes por dia a oferta de concentrado. Outra opção é substituir o amido por outra fonte de energia com degradação mais lenta, como subprodutos mais fibrosos. Além disso, pode-se fazer uso de aditivos, como leveduras, tampões e ionóforos, para controle do pH ruminal.
Metrites e outras Inflamações Uterinas
A metrite é uma inflamação que envolve toda a espessura da parede uterina (endométrio, miométrio e serosa). Ela pode ainda ser dividida em porções específicas como endometrite (inflamação restrita ao endométrio), perimetrite (inflamação restrita à serosa), e parametrite (inflamação dos ligamentos suspensórios do útero).
 A metrite é caracterizada pela infecção ou inflamação das camadas do útero, geralmente diagnosticada cerca de duas semanas após o parto, comumente ser avaliada por critérios visuais - a partir da aparição de uma descarga uterina fétida, aquosa e de cor rosada/marrom. As vacas afetadas podem apresentar ainda, outros sintomas como: febre, depressão, anorexia e queda na produção de leite. 
Os principais fatores de risco relacionados com a enfermidade são: vacas com retenção de placenta, hipocalcemia ou cetose; animais com baixo conforto térmico ou ambiental; além de outros fatores que deprimam o consumo de alimentos nesse período. 
Como medidas de prevenção, é muito importante garantir o conforto térmico, fazendo com que a vaca fique pelo menos 14h/dia deitada e, se possível, com ventilação/aspersão e protegidas de radiação solar; balancear uma dieta adequada, rica em fibras, proteína e energia; separar a vaca do lote pós-parto por ao menos 3 semanas com espaço de cocho superior a 80 cm; além do fornecimento de altos níveis de antioxidantes. 
O tratamento é realizado geralmente com a utilização de antibióticos sistêmicos, com duração de 3 a 5 dias, dependendo do antibiótico utilizado. Recomenda-se que o tratamento seja realizado apenas em casos de vacas que apresentem pelo menos com dois sintomas de metrite diagnosticados.
 A endometrite é uma doença causada pela inflamação do endométrio, podendo ocorrer após o parto, monta natural, inseminação artificial ou infusão de substâncias irritantes no útero da vaca. Os sintomas relacionados à manifestação da doença são: presença de mais de 50% de pus no exsudato uterino, diâmetro cervical superior a 7,5 cm após 26 dias de lactação ou descarga uterina mucopurulenta após 26 dias de lactação. O diagnóstico deve ser feito a partir da terceira semana pós-parto. 
A prevalência de endometrite depende da forma de diagnóstico. Quando o diagnóstico é feito via observação externa, a prevalência é de 6,6%, enquanto em casos de vaginoscopia é de 23,5%. O escore da descarga uterina é definida pela taxa de prenhez e pela probabilidade de isolamento de bactérias no útero. O principal problema recorrente da endometrite é a redução da fertilidade do animal, afetando tanto os ovócitos quanto os embriões já que o aumento de pus está relacionado ao aumento de bactérias no útero. 
Quanto ao tratamento, atualmente, não existe ainda uma definiçãolargamente aceita. O principal tratamento nos últimos anos foi a partir da infusão intrauterina, apesar de não se ter comprovação de uma melhora nos índices reprodutivos das vacas ao longo do tempo. Nos últimos anos, outra substância começou a ser utilizada e a gerar melhores resultados produtivos: a infusão de cefapirina no útero (cefalosporina de primeira geração). 
A endometrite subclínica, por sua vez, é definida como a inflamação do endométrio diagnosticada por citologia na ausência de descargas uterinas purulentas e sintomas sistêmicos. O tratamento recomendado também está relacionado a infusão de cefalosporina.
Conclusão
É fundamental o conhecimento das exigência nutricionais de vacas leiteiras durante o período de transição, para que se estabeleça uma alimentação que proporcione mantença, crescimento corporal, crescimento do feto, útero e anexos, crescimento da glândula mamária e que prepare a vaca, para as mudanças drásticas que ocorrem neste período.
Algumas práticas de manejo alimentar podem proporcionar o aumento da IMS incrementando assim a ingestão de nutrientes, como a disponibilização de alimentos frescos durante todo o dia, provimento de área de cocho compatível com o número de animais, higiene dos comedouros, fornecimento de água fresca e abundante e fornecimento de condições ambientais agradáveis (sombra, ventilação e vaporização).
Finalmente, o controle nutricional da vaca durante o período de transição previne o aparecimento de doenças, proporciona o bem estar da vaca leiteira e evita perdas econômicas.

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