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Sala de Aula 5_ Estacio FILOSOFIA DO DIREITO

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13/08/2023, 19:06 Disciplina Portal
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Filoso�a do Direito
Aula 5 - A justiça
INTRODUÇÃO
Nesta aula, estudaremos o termo Justiça, um termo polissêmico. Descreveremos as origens da ideia de justo e suas
diferentes concepções. A elucidação sobre o conceito de justiça nos leva a pensar sobre Direito, Poder e Estado.
OBJETIVOS
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Identi�car as duas principais acepções para o termo justiça;
Problematizar �loso�camente a relação justiça, felicidade, liberdade, utilidade, igualdade e paz.
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O QUE É JUSTIÇA?
Fonte da Imagem: en.wikipedia.org/wiki/Amartya_Sen
O que nos move, com muita sensatez, não é a
compreensão de que o mundo é privado de uma justiça
completa — coisa que poucos de nós esperamos —, mas a
de que a nossa volta existem injustiças claramente
remediáveis que queremos eliminar.
Amartya Sem
Para os so�stas personi�cados na �gura de Trasímaco, justiça é o interesse do mais forte, sendo, portanto, a prática da
injustiça mais interessante, atraente.
Sócrates, como �lósofo, observa a impossibilidade da ideia sustentada pelo interlocutor, assegurando que sem justiça,
sociedade alguma seria possível.
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Mas o que é justiça?
Como a identi�camos?
Qual o papel da racionalidade e da razoabilidade na compreensão desse valor?
Será que a justiça não estaria muito mais ligada ao modo como agimos do que às instituições que nos circundam?
, Muitas investigações partem de análises em que se focalizam instituições descurando do papel fundamental que temos como
sujeitos. Uma re�exão sobre a justiça deve indagar também que tipo de vida somos capazes de escolher (SEN, 2011).
Sob o ponto de vista �losó�co, podemos observar duas percepções principais para o termo justiça. A primeira
compreensão considera a ideia de conformidade da conduta a uma determinada norma. Julga-se o comportamento de
alguém em relação a uma norma.
Nesse tipo de percepção, temos que buscar esclarecimentos em Aristóteles que concebeu, na obra Ética a Nicômaco,
Livro V, a ideia de que tudo o que é conforme a lei é justo. Para ele, a justiça é a virtude mais perfeita porque envolve
todas as outras virtudes e nos liga à alteridade (ABBAGNANO, 1982) . No livro V da Ética a Nicômaco (item 1),
Aristóteles observou que:
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Fonte da Imagem: en.wikipedia.org/wiki/Ulpian
Mais tarde, no contexto romano, Ulpiano observa o sentido de justiça que será adotado pelos jurisconsultos, como a
vontade de dar a cada um o que é seu, de�nição problematizada muito antes pelos gregos, particularmente por Platão,
no Livro I, da República em que o personagem Sócrates refuta essa tese.
Essa ideia presente na obra Digesto (livro I, 1, 10) de Ulpiano, “vontade constante e perpétua de dar a cada um o seu”
(suun cuique tribure) con�gura outra forma de designar justiça como conformidade à lei.
Por quê? Porque pressupõe que o “seu” foi determinado por uma norma, ou seja, assegurado em uma lei anterior
(ABBAGNANO, 1962).
VOCÊ SABIA?
Essa noção de justiça como conformidade, apesar de muito polemizada como tautológica, inclusive por Hans Kelsen,
permaneceu de certo modo entre alguns pensadores; em Thomas Hobbes, por exemplo, quando sustentava no leviatã
a necessidade da existência de um poder central forte, coercitivo, para manutenção dos pactos.
Assim, Hobbes acreditava em uma justiça como conformidade ao que fora ajustado no pacto. Interessante que a ideia
de justiça passa então a ter uma relação forte com uma norma estabelecida anteriormente para assegurar um direito. E
o próprio Immanuel Kant, na obra Metafísica dos costumes, na Divisão da Doutrina do Direito, item A, número 3, a�rma
sobre a expressão romana:
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Existem também teorias, como a de Hans Kelsen, que observaram esse primeiro signi�cado como a manutenção de
normas positivadas — uma justiça segundo o Direito, porque expressa a conformidade à lei.
Nesta primeira acepção, a ideia que precisamos guardar é a de uma justiça como conformidade à norma, seja ela uma
norma moral, um direito natural ou uma norma jurídica. Trata-se de um sentido ligado à pessoa e o seu comportamento
(ABBAGNANO, 1962). E, neste sentido, liga-se à dimensão ética. Por quê? Porque a ética é a ciência que estuda a
moral, as nossas formas de viver e agir, o cumprimento das regras e o respeito aos valores compartilhados.
A segunda acepção que a Filoso�a oferece ao termo justiça refere-se à norma em si e não mais à pessoa e seu
comportamento. Segundo Abbagnano (1962, p. 566), liga-se ao sentido de e�ciência da norma para viabilizar as
relações humanas: “Neste caso, obviamente, o objeto do juízo é a própria norma”.
, Neste ponto, os autores observaram diferentes �ns para o termo, entendendo-o como garantidor da comunidade humana. A
justiça será um instrumento e poderá estar ligada a �ns como a felicidade, a utilidade, a liberdade, igualdade e a paz
(ABBAGNANO, 1962). Vejamos como se liga a cada um destes �ns.
Quanto à felicidade, a tese de Aristóteles, no Livro V da Ética a Nicômaco, é a de que são justas as coisas que
procuram salvaguardar a felicidade (bem comum) na comunidade política. Este �lósofo nos oportunizou uma
interessante classi�cação da justiça em justo universal e particular.
No sentido particular dividida em justiça distributiva e justiça corretiva. Vejamos:
JUSTIÇA UNIVERSAL OU TOTAL
Justiça no sentido amplo, conformidade ao nomos.
JUSTIÇA PARTICULAR
Hábito de realizar a igualdade. Divide-se em justo particular distributivo e corretivo.
Justiça particular distributiva: desvela a igualdade na devida proporção. São as ações da sociedade política com seus membros.
Igualdade proporcional.
Justiça particular corretiva: regula as relações entre cidadãos e usa o critério do justo meio ou igualdade matemática. Subdivide-
se em: comutativa ou judicial. Igualdade matemática.
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Nesta acepção o termo justiça perde o seu caráter de valor absoluto como entendiam os jusnaturalistas,
particularmente Hugo Grócio, e passa a não ser mais um �m em si mesmo, mas um instrumento para realização e
outra coisa.
A relação entre justiça e liberdade aparece no pensamento kantiano quando surge o sentido de justiça como a
existência de liberdades compatibilizadas entre si, em uma dada sociedade.
Na Crítica da razão prática observa o sentido de justo quando assevera que ninguém poderá nos constranger a ser feliz
à sua maneira, mas a cada um é dado o direito a buscar a felicidade pela via que lhe parecer boa, desde que não
prejudique o direito do outro de fazer a mesma coisa. Ou, ainda, no célebre escrito, Ideia de uma história universal sob
o ponto de vista cosmopolita, na tese V, em que reforça a ideia de liberdade sob leis como expressão de uma
constituição civil justa (ABBAGNANO, 1962).
Quanto à paz, muitos pensadores compreendem que a justiça seria um critério importante para salvaguardar a paz.
Interessante que esta ideia pode ser vista em Thomas Hobbes quando, na obra De Cive (I, § 15), sustenta a tese do fato
da violência em que o homem é mal por natureza e, neste horizonte, somente um ordenamento justo poderia assegurar
a paz sufocando qualquer possibilidade de guerra de todos contra todos. O que nos motivaria a sair do estado de
natureza para este �lósofo político, em que há violência de todos contra todos, é a busca pela paz.
Fonte da Imagem:
Mais tarde,Kelsen contrapôs justiça e paz, quando assegurou em sua Teoria pura do Direito, que a justiça seria um
ideal irracional, não realizável, e, somente a norma jurídica seria capaz de assegurar a paz. E muitos teóricos
assimilaram essa ideia kelseniana e passaram a valorizar a norma jurídica pela sua funcionalidade negativa de evitar
con�itos (ABBANGNANO, 1962).
A ideia de justiça como igualdade pode ser identi�cada nas teorias �losó�cas, a começar pelo pensamento de
Pitágoras, que considera a igualdade na reciprocidade, ou seja, posso esperar do outro aquilo que ele poderá esperar
de mim. A justiça como igualdade baseou-se nessa ideia de expectativas recíprocas entre cidadãos de uma mesma
comunidade.
Quando analisamos o termo justiça, observando uma história das deias, percebemos, não obstante sua esperança
sempre frustrada, uma resistente exigência sendo revigorada dia a dia, por ser talvez a mais antiga aspiração humana.
Atualmente podemos pensar em suas diversas representações:
como conformidade à lei;
como instrumento para diferentes �ns humanos;
como igualdade entre as partes;
como função distributiva em uma sociedade em que há uma grande demanda de bens e poucos bens disponíveis;
como entende o senso comum que a liga às decisões judiciais ou ao proferir um juízo de valor diante de algum
acontecimento: “a justiça foi feita”.
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Justiça é um conceito polissêmico que vai desde a virtude grega até a legalidade de nossos dias:
no sentido antropológico, liga-se à existência humana;
em um aspecto psicossociológico, uma expectativa individual de reparação de um dano sofrido;
no viés social e político, enquanto reconhecimento da necessidade de regras para existência coletiva.
Talvez uma forma de reconhecimento do outro (FARAGO, 2004). Há muitas leituras possíveis para o termo justiça,
sugerimos aqui uma abordagem re�exiva sobre algumas.
ATIVIDADES
O professor de Direito Constitucional, Luis Roberto Barroso, ministro do STF, apresenta uma de�nição para o termo
justiça. Veja:
VÍDEO
Agora que já assistiu ao vídeo, responda:
Na história das ideias a quem atribuímos essa formulação e o que signi�ca?
Resposta Correta
EXERCÍCIOS
Questão 1:
Reconhecemos que precisamos de regras para a vida em sociedade. Neste ponto, a justiça é uma condição importante
ao pacto. Para alcançarmos a paz e evitarmos uma situação de violência generalizada, precisamos cumprir o acordo.
Essa tese sobre a justiça foi elaborada por:
Aristóteles
Immanuel Kant
Hans Kelsen
David Hume
Thomas Hobbes
Justi�cativa
Questão 2:
“Justiça seja feita!” — Essa é uma ideia corriqueira no mundo da vida. Todavia, estudamos que existem duas acepções
importantes que a �loso�a do Direito destaca para o termo justiça, a saber:
Justiça como equidade e como julgamento meditativo pessoal.
Justiça como conformidade à lei e justiça como instrumento para outros �ns.
Justiça como conformidade à norma e justiça como virtude.
Justiça como instrumento para liberdade e justiça como medida e equilíbrio.
Justiça como polissemia e justiça como julgamento justo.
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Justi�cativa
Questão 3:
A ideia de justiça como igualdade pode ser identi�cada nas teorias �losó�cas, a começar pelo pensamento de
Pitágoras. A justiça como igualdade baseou-se em:
igualdade como proporcionalidade.
equidade.
expectativas recíprocas entre cidadãos.
igual distribuição de bens.
dar a cada um o que é seu.
Justi�cativa
Glossário

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