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Indaial – 2023 SalárioS e BenefícioS Prof.ª Mariane Rosineide Estefano 1a Edição GeStão de carGoS, Elaboração: Prof.ª Mariane Rosineide Estefano Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. ESTEFANO, Mariane Rosineide. Gestão de Cargos, Salários e Benefícios. Mariane Rosineide Estefano. Indaial - SC: Arqué, 2023. 218p. ISBN 978-65-5646-624-8 ISBN Digital 978-65-5646-625-5 “Graduação - EaD”. 1. Cargos 2. Salários 3. Benefícios CDD 658.32 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Caro acadêmico, seja bem-vindo a disciplina Gestão de Cargos, Salários e Benefícios. Este livro o ajudará a entender mais esta área, apresentando temas fundamentais da disciplina. A disciplina Gestão de Cargos, Salários e Benefícios leva você a ter um olhar aguçado aos processos organizacionais relacionados à recompensa de pessoal. Você será instigado a perceber as nuances da área e as atribuições da profissão de Recursos Humanos (RH). Após a leitura deste livro, bem como a realização das autoatividades e leitura complementar, entende-se que você estará habilitado a discorrer a respeito do tema sob uma ótica moderna e geradora de vantagens competitivas na área de Recursos Humanos, em que gestores e RH alinham seus esforços rumo ao sucesso de suas tratativas. A disciplina foi desenvolvida com o intuito de ser uma das ferramentas facilitadoras na busca e aplicação desse conhecimento, sendo estruturada em três unidades. Na Unidade 1, abordaremos os conceitos relacionados a cargos, salários e carreira. Você conhecerá os conceitos fundamentais de cargos e salário e as vantagens de aplicar a gestão de cargos e salários empresas. Você também entenderá a importância da gestão de carreiras para as organizações. Esta unidade dará enfoque ao papel do RH na gestão de cargos e salários e na gestão de carreiras. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os benefícios descobrindo as tendências vigentes da área. Você receberá dicas de como gerir benefícios, contribuindo para a o clima e cultura empresarial. Essa unidade também trará informações de liderança e vantagem competitiva. Por fim, na Unidade 3, trataremos da grande área de remuneração variável. Você conhecerá os modelos de remuneração variável e estratégica que contribuem para a motivação da equipe. A fim de solidificar as aprendizagens apreendidas nesta disciplina, você irá se deparar com exemplos e aplicações da remuneração variável nas organizações. Ao final deste livro, você terá uma visão mais ampla da área e descobrirá possibilidades de atuação profissional dentro da Gestão de Cargos, Salários e Benefícios. Esperamos que sua leitura seja proveitosa e que desperte seu interesse na área. Bons estudos! Prof.ª Mariane Rosineide Estefano APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. 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SUMÁRIO UNIDADE 1 - CARGOS E SALÁRIOS.........................................................................1 TÓPICO 1 - CONCEPÇÕES DE CARGOS E SALÁRIOS ............................................ 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 CARGOS EMPRESARIAIS ....................................................................................4 2.1 CONCEITO DE CARGO ..........................................................................................................5 2.2 COMPLEXIDADE DO CARGO ............................................................................................. 8 2.3 DESENHO DO CARGO .......................................................................................................10 2.3.1 Descrição do cargo ...................................................................................................10 2.3.2 Análise do cargo ........................................................................................................11 2.3.3 Avaliação do cargo ...................................................................................................13 2.4 MATRIZ DE RESPONSABILIDADE ...................................................................................14 2.5 NOMEAÇÃO DO CARGO .................................................................................................... 17 3 SALÁRIO ............................................................................................................. 19 3.1 CONCEPÇÃO DE SALÁRIO ...............................................................................................20 3.1.1 Composição salarial ...................................................................................................213.1.2 Salário e RH ................................................................................................................ 23 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................28 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................29 TÓPICO 2 - GESTÃO DE CARGOS E SALÁRIOS ................................................... 31 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 31 2 PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS ......................................................................32 2.1 ESTRUTURA DO PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS ................................................... 33 2.1.1 Planejamento do trabalho ....................................................................................... 33 2.1.2 Análise e avaliação dos cargos .............................................................................34 2.1.3 Pesquisa e política salarial ..................................................................................... 39 2.1.4 Divulgação do PCS ...................................................................................................40 2.1.5 Aplicação do PCS .....................................................................................................40 2.2 GESTÃO DO PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS ............................................................41 2.3 O APRIMORAMENTO DO COLABORADOR E O PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS....... 43 3 ADMINISTRAÇÃO DE CARGOS E SALÁRIOS ................................................... 44 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................49 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................50 TÓPICO 3 - CARREIRA EMPRESARIAL ................................................................53 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................53 2 CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE CARREIRA ...............................................54 2.1 RESPONSABILIDADES NA GESTÃO DE CARREIRAS ................................................. 56 2.2 A PERCEPÇÃO GERACIONAL SOBRE CARREIRA PROFISSIONAL .........................58 2.3 A GESTÃO DE CARREIRA DE PESSOAS TALENTOSAS .............................................60 3 MODELOS DE PLANO DE CARREIRA ................................................................ 61 3.1 CARREIRA EM LINHA HIERÁRQUICA ............................................................................. 63 3.2 CARREIRA EM Y .................................................................................................................64 3.3 CARREIRA EM W ................................................................................................................66 3.4 TENDÊNCIAS NA GESTÃO DE CARREIRAS ..................................................................67 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................70 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 72 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 73 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 75 UNIDADE 2 — BENEFÍCIOS ................................................................................... 77 TÓPICO 1 — CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE BENEFÍCIOS ........................... 79 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 79 2 BENEFÍCIO ..........................................................................................................80 2.1 PRINCÍPIOS DO PLANO DE BENEFÍCIOS ......................................................................82 2.2 ASPECTOS A CONSIDERAR NA GESTÃO DE BENEFÍCIOS .......................................83 2.2.1 Análise do ambiente ................................................................................................85 2.2.2 Posicionamento Estratégico do RH .................................................................... 87 2.3 BENEFÍCIOS NÃO REMUNERATÓRIOS .........................................................................89 3 VANTAGENS DE IMPLANTAR UM PACOTE DE BENEFÍCIOS ............................92 3.1 ATRAIR E RETER TALENTOS ............................................................................................ 92 3.2 AMPARAR AS NECESSIDADES DA MAIORIA DA EQUIPE ........................................ 93 3.3 ATENDER EXIGÊNCIAS LEGAIS ..................................................................................... 93 3.4 MELHORAR A MOTIVAÇÃO DO TRABALHADOR ........................................................ 94 3.5 CUSTO E VALORIZAÇÃO .................................................................................................. 95 3.6 ATENDER DEMANDAS NÃO MONTERÁRIAS ............................................................... 96 4 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 1 ........................................................ 97 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................100 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 101 TÓPICO 2 - TIPOS DE BENEFÍCIO ......................................................................103 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................103 2 BENEFÍCIOS EM VOGA NO MERCADO .............................................................104 2.1 ALIMENTAÇÃO ...................................................................................................................107 2.1.1 Alimentação na CLT ..................................................................................................111 2.1.2 Programa de Auxílio ao Trabalhador (PAT) ........................................................ 112 2.2 VALE-TRANSPORTE ........................................................................................................ 113 2.3 PLANO DE SAÚDE ........................................................................................................... 115 2.4 OUTROS BENEFÍCIOS ......................................................................................................117 3 CLASSIFICAÇÃO DOS BENEFÍCIOS ................................................................ 118 4 HOME OFFICE ...................................................................................................120 5 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 2 ...................................................... 123 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 127 AUTOATIVIDADE .................................................................................................128 TÓPICO 3 - LIDERAR AO GERIR BENEFÍCIOS ....................................................131 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................131 2 COMO O RH PODE AGREGAR VALOR .............................................................. 132 3 POTENCIAIS DO RH NA GESTÃO DE BENEFÍCIOS ......................................... 136 4 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 3 ...................................................... 141 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................144 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 147 AUTOATIVIDADE .................................................................................................148 REFERÊNCIAS.....................................................................................................150 UNIDADE 3 — REMUNERAÇÃO VARIÁVEL ......................................................... 153 TÓPICO 1 — REMUNERAR ESTRATEGICAMENTE .............................................. 155 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 155 2 FORMAS DE REMUNERAÇÃO .......................................................................... 156 2.1 REMUNERAÇÃO FIXA ...................................................................................................... 156 2.1.1 Vantagens da forma tradicional de remunerar .................................................157 2.1.2 Limitações da forma tradicional de remunerar ............................................... 159 2.2 REMUNERAÇÃO VARIÁVEL ........................................................................................... 162 2.3 REMUNERAÇÃO ESTRATÉGICA ................................................................................... 164 2.3.1 Estratégia ................................................................................................................. 165 2.3.2 Concepção De Remuneração Estratégica .......................................................167 3 REMUNERAÇÃO E O MERCADO DE TRABALHO ............................................. 169 3.1 TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO .......................................................171 4 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 1 ...................................................... 172 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 175 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 176 TÓPICO 2 - NOVOS MODELOS DE REMUNERAÇÃO ........................................... 179 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 179 2 MODELOS DE REMUNERAÇÃO .......................................................................180 2.1 REMUNERAÇÃO POR HABILIDADE .............................................................................. 180 2.2 REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIA ........................................................................ 182 2.3 REMUNERAÇÃO POR RESULTADOS ........................................................................... 185 2.4 REMUNERAÇÃO ACIONÁRIA ........................................................................................ 186 3 BENEFÍCIOS VARIÁVEIS .................................................................................. 187 3.1 BENEFÍCIOS FLEXÍVEIS .................................................................................................. 188 3.2 PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS ........................................................ 190 4 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 2 .......................................................191 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................194 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 195 TÓPICO 3 - A PRÁTICA DA REMUNERAÇÃO VARIÁVEL .................................... 197 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 197 2 CASOS EMPRESARIAIS ...................................................................................198 2.1 MANIPULAÇÃO DA REMUNERAÇÃO VARIÁVEL PELOS EXECUTIVOS EMPRESARIAIS ................................................................................................................. 198 2.2 PERCEPÇÕES SOBRE A REMUNERAÇÃO ESTRATÉGICA ...................................... 201 2.3 O CASO DA REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS ...............................................204 3 ESTUDO DOS CASOS ...................................................................................... 206 4 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 3 ..................................................... 209 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 211 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................214 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 215 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 217 1 UNIDADE 1 - CARGOS E SALÁRIOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir os papéis e responsabilidades atrelados a gestão de cargos e salários; • estruturar o Plano de Cargos e Salários em uma empresa; • discutir sobre a importância do Plano de Cargos e Salários e o Plano de Carreiras nas empresas; • identificar o Plano de Carreiras vigente nas organizações; A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEPÇÕES DE CARGOS E SALÁRIOS TÓPICO 2 – GESTÃO DE CARGOS E SALÁRIOS TÓPICO 3 – CARREIRA EMPRESARIAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CONCEPÇÕES DE CARGOS E SALÁRIOS 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 - UNIDADE 1 Caro acadêmico, nesta jornada de aprendizagem você iniciará seus estudos conhecendo os aspectos fundamentais do tema cargos e salários. Para isso, é interessante que os conceitos principais da área sejam apresentados. Esta disciplina se concentra na análise gerencial com foco na área de Recursos Humanos (RH), por isso este material está dividido em dois subtemas, o primeiro traz as concepções essenciais de cargo e o segundo, de salário. A partir das concepções de cargo você vai conhecer as atribuições e responsabilidades do profissional de RH nessa área. Você também entenderá a diferença da complexidade do cargo a partir das técnicas e a partir dos desafios enfrentados pela pessoa que ocupa o cargo. No desenho do cargo, você verá com detalhes as etapas para realizar a descrição deste, receberá dicas de como fazer a análise de cargo, incluindo a análise ambiental do cargo na empresa, e descobrirá os fatores de avaliação de um cargo. A titulação e a nomeação também são abordadas neste subtema, no qual serão tratadas as mudanças e as recolocações de pessoal nos cargos empresariais. Ainda no que tange às concepções de cargo, você conhecerá a Matriz RACI. Essa ferramenta pode ser de grande valia para o RH. O Subtema 3 diz respeito ao salário. Nesse momento é interessante ver a dife- rença conceitual e de nomenclatura dos tipos de salário, assim como para a remune- ração. Essas terminologias são bastante utilizadas na área de gestão de pessoas. Com uma atenção especial ao RH, este material também aponta as possibilidades de melho- ria que um profissional da área pode agir para otimizar a produtividade e os resultados empresariais, além de motivar e contribuir para o trabalho da equipe colaborativa. Quando você for aplicar os conceitos estudados, ele já foi pensado na ordem de trabalho do profissional de RH: primeiro o profissional entende as características e complexidades do cargo, depois desenha o cargo, para então nomear e resumir na Matriz RACI. Explorados os conteúdos de cargo, você é dirigido ao tema salários. O estudo de salários contribui ao levantar diferentes questões que permitam entender e motivar os colaboradores. 4 2 CARGOS EMPRESARIAIS O tema cargos e salários surge da ideia de ação e recompensa, e é disso que falaremos. Para tanto, vamos partir da noção essencial de comportamento dos animais. Fundamentalmente, animais se caracterizam pela ação, pela movimentação. Sejapara a colheita de frutos, para o deslocamento de lugares ou até mesmo para a aquisição de novos itens, o emprego de sua energia para conseguir algo é uma característica inerente aos animais. O trabalho, especialmente o trabalho coletivo, tem papel essencial na sobrevivência dos seres vivos. Formigas, por exemplo, dispendem grandes esforços (em alguns casos esforços maiores, inclusive, que o peso do próprio corpo) para conseguir mantimento e objetos para a sua colônia. E é interessante notar que mesmo em seres instintivos, como os animais, há um processo de organização. A formiga do tipo soldado, por exemplo, é aquela que trabalha na defesa da colônia e em alguns casos no corte dos alimentos. As formigas operárias buscam o alimento e fazem a limpeza do formigueiro. O emprego da força animal, portanto, tem papel preponderante para a sua sobrevivência. Analisando sob essa perspectiva, o mesmo ocorre com os seres humanos. Ao dispor seus esforços para um trabalho, o humano busca ter recompensas e sobreviver aos novos espaços sociais. No caso dos animais, geralmente a recompensa consiste na manutenção da colônia por mais tempo, ou com maior qualidade, estando preparado para as diferentes intempéries que possam surgir. No caso do ser humano, ele adentra em um sistema organizacional e trabalha para conseguir alguma recompensa, mas antes de prosseguirmos à concepção de cargo e de salário, precisamos falar sobre o ambiente em que o esforço humano é empregado. A pessoa enquanto ser social participa de uma organização. Podemos afirmar categoricamente que todo ser humano participar de (pelo menos) uma organização. Não acredita? Vamos analisar: quando uma pessoa nasce, ela já é inserida em uma organização – a organização familiar. Ao correr de sua vida, essa pessoa também se ambientará em outros tipos de organizações – empresarial, social, aprendizagem (como é o seu caso, que está inserido em uma organização de ensino), dentre outras. Vale dizer que, quando falamos de organização, estamos ampliando o conceito para uma visão bem abrangente, o que inclui organizações que visam o lucro, como, por exemplo, bancos e supermercados, e organizações que não visam o lucro, ou seja, aquelas que têm outros objetivos, como uma ONG ambiental que busca a conservação de espécies ou um time de vôlei amador do bairro, que objetiva se encontrar as sextas- feiras para se divertir. Essencialmente, você tem uma organização quando há mais de uma pessoa que tem objetivos comuns. Você consegue pensar em outros exemplos de organizações? Quantas organizações você participa? 5 GIO Falando de organização, lançamos um desafio: você consegue descobrir qual o objetivo da organização familiar? Sabemos que não é o lucro. Bom, no caso da organização familiar, assim como no caso dos animais, o objetivo é fundamentalmente a sobre- vivência. Quando uma criança nasce, ela é cuidada para que continue viva e saudável. Naturalmente, existem outras metas que estreitam o laço, o relacionamento entre os familiares, mas o objetivo principal é o da sobrevivência. Os participantes dessas organizações costumam ter papéis específicos. No caso de uma escola, por exemplo, existe uma pessoa com a função de mediar conhecimentos na sala de aula enquanto outra faz a gestão de eventos e desavenças ocorridas no espaço escolar. No caso da organização familiar, não há propriamente um cargo, visto que é uma organização informal, mas há pessoas com papéis que geralmente lhe são conferidos. Uma pessoa, por exemplo, pode ser a responsável, ou a que realiza com frequência a alimentação da casa enquanto outra pode ser a responsável pela higiene e limpeza do lar. Nesse sentido, podemos perceber que as tarefas habituais e atividades corriqueiras feitas por uma ou mais pessoas são o que caracterizam uma área de atuação. No caso das organizações empresariais, essas tarefas comuns são estruturadas mais formalmente. Quando estamos diante de uma organização empresarial, é comum nos depararmos com os cargos. No exemplo anterior descrito das atividades escolares, o mediador de conhecimentos é o professor e o gestor de conflitos é o coordenador. A fim de elucidar as questões referentes a cargos, vamos estudar o conceito de cargo. 2.1 CONCEITO DE CARGO Atentando-nos ao sentido da palavra, o cargo está atrelado aos conceitos de responsabilidade e de obrigação (CARGO, 2022). Essa relação pode ser percebida com facilidade por aqueles que já vivenciaram a experiência de trabalhar com empresas formais, nas quais lhes atribuíram um cargo. A nomeação do cargo de auxiliar de recursos humanos (RH), por exemplo, pode dar a responsabilidade de contribuir nas entrevistas de desligamento e a obrigação de organizar os arquivos de modo que a ética e o sigilo dos dados pessoais do ex-colaborador, coletados nesse processo, não sejam divulgados por pessoas fora do grupo diretivo (ou pessoas autorizadas a receber tais informações). 6 Cargo também é atrelado ao sentido de emprego público. Isso se dá especialmente em função da exigência normativa da área pública em criar leis e regulamentos que contemplem todo o vínculo de trabalho existente com as organizações públicas. Por consequência, temos um grande número de instruções, atribuições e informações legais vigentes que regulam os cargos organizacionais. Veja, por exemplo, a Prefeitura de Sinimbu, no Rio Grande do Sul, que por meio da Lei nº 2003, de 2022, criou o cargo de analista de recursos humanos. Já a Lei nº 1721, de 2019, estabelecida em Capanema, no Paraná, além de criar o mesmo cargo, também define salário e carga horária. A título de curiosidade, o cargo analista de recursos humanos na Prefeitura de Capanema está atrelado à atuação de 40 horas semanais e remuneração inicial de R$ 2.106,41. Interessante, também, perceber as funções conferidas ao cargo. De acordo com a Lei nº 1721/2019, dentre as funções da área, cabe ao profissional analista de RH a intermediação dos serviços de assistência social do servidor, assim como a gestão das relações do município com seus sindicatos. A legislação destaca a possível demanda de atendimento ao público e a escolaridade mínima de ensino superior. Assim como nas organizações públicas, na empresa privada devem ser respeitados os direitos e deveres das profissões pertencentes ao quadro de pessoal da organização. Nesse sentido, é usual que sejam firmados acordos, contratos, regras e negociações das partes envolvidas nas relações de trabalho. Conceitualmente, o cargo dá título a um conjunto de funções similares executadas por uma ou mais pessoas que atuam na organização. Esse título é utilizado para registrar o trabalho do colaborador nos processos legais do RH, tais como para assinar a carteira de trabalho (se trabalha em regime de Consolidações das Leis de Trabalho – CLT), firmar contratos (feito também para profissionais que ficam cadastrados em outros regimes, como o autônomo e o temporário), para realizar o exame admissional e registrar no sistema eSocial. O código do cargo também é utilizado para os registros fiscais e trabalhistas. DICAS O eSocial é um importante sistema do Governo Federal criado para a es- crituração digital das obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas, você consegue acesso a ele por aqui: https://login.esocial.gov.br/login.aspx . No final de 2022, o sistema sofreu grandes alterações e, dentre essas, o sistema passou a ser parte do sistema GOV.BR. Você consegue conferir algumas das novidades no “Manual de orientação do eSocial”, versão S-1.1 . https://login.esocial.gov.br/login.aspx 7 Lacombe (2004 apud MORENO, 2014) associa o conceito de cargo a atribuições profissionais semelhantes com responsabilidades específicas. É interessante perceber os tópicos responsabilidade e atividades (ou funções e atribuições) a que o autor comenta diretamente relacionados ao conceito de cargo. Veja que esses aspectos são fundamentais para compor novos cargos organizacionais.Quando os gestores, junto do RH, virem a necessidade de criar novos cargos para a empresa, são as informações da função e responsabilidade que irão nortear todo esse trabalho. Nesse momento, vale conceituar função como um conjunto de atividades com um objetivo comum. Uma função é composta de várias tarefas, ou atividades, que reque- rem esforço humano (MORENO, 2014). Vejamos, como exemplo, a função de recrutar pes- soas para uma vaga. A função de recrutamento é composta pelas seguintes atividades: • coletar e descrever os requisitos do cargo a ser recrutado; • procurar canais de divulgação, como o indicado na Figura 1; • requisitar a aprovação dos custos envolvidos para conseguir divulgar a vaga; • cadastrar a vaga nas plataformas on-line de divulgação; • apresentar-se para as pessoas com dúvidas sobre a vaga. Figura 1 – Divulgação de vagas de emprego Fonte: https://bit.ly/3kCWWNL. Acesso em: 23 dez. 2022. Considerando a concepção de cargo, Chiavenato (2010 apud MORENO, 2014) adiciona ao conceito a ideia de o cargo, conferir à pessoa uma posição formal no organograma empresarial. 8 NOTA Organograma é uma representação visual da disposição dos cargos na empresa. Nele você consegue perceber os níveis hierárquicos da empresa, ou seja, o grau de responsabilidade e a área a que um cargo está vinculado. Naturalmente, essa posição do cargo está relacionada à responsabilidade atribuída. Normalmente, quanto mais alta sua posição no organograma, mais responsabilidades e maior o nível de supervisão dos demais cargos. Isso pode sofrer modificações a depender do tipo de estrutura da empresa. No caso de empresas que têm um organograma horizontal, por exemplo, a responsabilidade não se vincula necessariamente ao cargo mais alto hierarquicamente. Por isso, faz-se necessário analisar a variação do cargo a partir de sua complexidade. Estudemos, então, a complexidade do cargo. 2.2 COMPLEXIDADE DO CARGO Um exemplo da relação direta entre cargo, posição hierárquica e responsabilidades se dá, por exemplo, no caso de uma empresa que tem a área de Recursos Humanos bem desenvolvida. Nesse caso, imaginemos que há os cargos de auxiliar de RH, supervisor de RH e gerente de RH. Podemos dizer que a pessoa que é gerente de RH tem seu cargo hierarquicamente superior ao de auxiliar de RH, mas também lhe confere maiores responsabilidades e abrangência de sua supervisão. Vale mencionar, no entanto, que a posição hierárquica do cargo não necessariamente está relacionada com a complexidade do cargo. A posição de um cargo está mais ligada as responsabilidades de suas atividades do que aos aspectos específicos e complexos das atividades em si. Você consegue perceber isso? Quando analisamos um mesmo setor, podemos ser influenciados pela ideia de que, como o cargo de gerente, ou de supervisor, tem mais responsabilidades, ele é mais complexo, mas essa afirmação não é verdadeira. Alguns profissionais, como técnicos e mestres, podem estar subordinados a outros cargos, mas ter um alto índice de expertise na área e, por isso, serem cargos complexos de execução. Veja, por exemplo, o setor da construção civil. Ainda que o engenheiro civil tenha um cargo hierarquicamente superior ao de pedreiro, as funções de um não podem ser executadas pelo outro. O trabalho de um profissional no cargo de pedreiro tem alta complexidade, mas é um trabalho com menor responsabilidade e baixa necessidade de supervisão, diferente do engenheiro. Por ter tarefas específicas e que exigem técnicas próprias do cargo, as atividades de pedreiro se tornam complexas. 9 Veja outro exemplo: em uma universidade há profissionais com baixo nível de supervisão, como o de professor, mas que tem alto nível de complexidade. Se um dia um professor de Física Avançada faltar, é provável que nem o coordenador ou o diretor da referida universidade consiga atender com qualidade as demandas dos estudantes da área. Trata-se de trabalhos específicos, feitos por especialistas, geralmente com experiência e habilidades na área. Uma outra maneira de perceber a relação entre cargo e complexidade é a partir da análise de Paiva (2019, p. 72), para a autora, as funções de um cargo “[...] podem ser, basicamente, de dois tipos: (1) tarefas repetitivas e (2) atribuições não rotineiras”. Podemos associar esses dois pontos com a complexidade e a posição do cargo no organograma. Cargos com funções de supervisão e controle não possuem tantas atividades rotineiras, trabalham com desafios mais atípicos. Na medida em que o nível hierárquico linear cresce, é mais frequente a demanda de atendimento de problemas destoantes e que exigem um maior nível de maturidade do colaborador para resolvê-los. Em contrapartida, cargos mais operacionais, hierarquicamente inferior, trabalham com atividades mais rotineiras e, por esse viés de análise, com menor complexidade. Voltamo-nos ao caso da empresa de construção civil. As tarefas de um pedreiro costumam ser mais repetitivas do que as de um engenheiro. Figura 2 – Construção de uma parede Fonte: https://bit.ly/3ZbZVeY. Acesso em: 23 dez. 2022. Na Figura 2, você consegue ver um exemplo de atividade corriqueira do pedreiro: a construção de uma parede. Perceba os recursos que ele utiliza para executar suas ações rotineiras. Imaginemos, agora, que tenha acabado o cimento para a construção dessa parede. Enquanto o pedreiro apenas cobra a falta de cimento, por exemplo, na obra, é função do engenheiro verificar a qualidade deste, considerando o melhor custo dos materiais específicos para a obra, dentro das opções disponíveis do mercado. Ele deve garantir que os produtos estão adequados ao que foi calculado e desenhado anteriormente por ele, para que, quando a obra ficar pronta, não haja riscos, por 10 exemplo, de desmoronamento ou de infiltração. Além da complexidade, o cargo deve ser desenhado. Estudemos, neste momento, o desenho do cargo e suas atribuições. Os subtemas estão organizados na ordem de indicação de processo de trabalho para efetivamente desenhar o cargo. 2.3 DESENHO DO CARGO Ainda no tange a questão da posição hierárquica do cargo, esta depende do desenho projetado para aquele cargo. O desenho do cargo diz respeito a informações específicas do cargo empresarial. Em suma, para Chiavenato (2010 apud MORENO, 2014), o desenho do cargo precisa ter pelo menos as informações: tarefas inerentes ao cargo; processos e métodos de trabalho; e posição no organograma do cargo. Analisando esses pontos com atenção podemos perceber que, quando Chiavenato (2010 apud MORENO, 2014) fala das condições básicas do desenho do cargo, ele orienta a fazer uma descrição detalhada das atividades a serem desempenhadas pela pessoa que irá ocupar aquele cargo, além de informações ambientais do cargo. 2.3.1 Descrição do cargo Descrever um cargo é detalhar as funções, deveres e responsabilidades da pessoa que ocupará aquele cargo. Fica mais fácil para o RH construir essas informações básicas respondendo as seguintes perguntas: • O que será feito (função)? • Quantas vezes será feita aquela função? E em que momento do dia ela deve ser realizada? • Como serão feitas as atividades? • Quais recursos são necessários para realizá-las? • Onde serão feitas as atividades? Precisará sair da empresa ou pegar informações fora dela? No que se refere à ambientação do cargo, é interessante também analisar: • Quais cargos estão ligados a esse? • Qual cargo (superior imediato) supervisionará esse? • Quem são os subordinados deste cargo? Tendo essas informações como condição básica, de acordo com Chiavenato (2010 apud MORENO, 2014), é possível entender a estrutura e dimensão do cargo. O autor também conecta a ideia de autoridade e responsabilidade à posição hierárquica do cargo. O cargo tem responsabilidades a serem apresentadas a seu superior imediato e autorida- de sobre cargos que são seus subordinados ou que dependem dele para trabalhar. 11 Vamos analisar: trazendo o exemplo da função de recrutarpessoas para um vaga, você pode ter a periodicidade de realizá-la duas vezes ao dia, sendo desempenhada pelas etapas já mencionadas (coleta dos dados, busca de locais para divulgação, pedido de pagamento dos custos, cadastro da vaga e atendimento de candidatos). Para tanto, é necessário o uso de pelo menos um computador com acesso à internet e um veículo de comunicação imediato (telefone ou celular com WhatsApp, por exemplo) para trocar informações digitalmente ou por comunicação por voz ou vídeo. O cargo cujas atividades foram desenhadas agora pode ser o de assistente de RH, que tem a responsabilidade de reportar os resultados ao gerente de RH, e tem autoridade sobre o estagiário e auxiliar de RH para delegar atividades como as de solicitar o pagamento de custos e cadastrar novas vagas. GIO Faça o desafio de analisar o cargo que você ocupa, ou o último cargo que você ocupou, respondendo às perguntas anterior- mente elencadas. Você consegue descrever esses aspectos a partir de uma função sua? Considerando a concepção de desenho de cargo, Paiva (2019) expande o conceito indicando a necessidade de ter um panorama sobre três aspectos. Além da descrição, o desenho de cargos deve trazer a análise e a avaliação do cargo. Vejamos, com atenção, estes aspectos. 2.3.2 Análise do cargo A atividade de desenho do cargo fica na área da aplicação do RH e contribui para a integração das pessoas diante das suas atividades organizacionais. A descrição e análise de cargo indicam o que as pessoas devem fazer naquela empresa (STADLER; PAMPOLINI, 2014). A análise do cargo vai conferir quais são os requisitos necessários para ocupar o cargo e conseguir executar suas atividades. Nesse momento, são analisados a demanda por formação, experiências e conhecimentos específicos. Aqui, são conferidos as qualificações e requisitos técnicos para executar as funções do cargo. 12 A fim de realizar a análise de cargo, é interessante buscar informações sobre aspectos físicos demandados pelo cargo, tais como peso, musculatura e altura (PAIVA, 2019). São verificadas, também, as exigências do cargo relativas ao nível de concentração visual e auditiva da pessoa que ocupará o cargo. Nesse momento são analisados aspectos importantes como os registros ambientais e o monitoramento de potenciais agentes nocivos à saúde e integridade do ocupante do cargo. Cargos com maior exposição a riscos físicos costumam exigir um perfil psicográfico específico geralmente utilizado pelo RH como requisito de seleção de pessoal. O processo de seleção de áreas funcionais, como o de bombeiro militar, é exemplo de requisito demandado resultante da análise do cargo, já que esse processo exige um perfil psicográfico específico. As etapas de análise de cargo podem incluir as ações de: coletar dados e informações da pessoa que ocupa esse cargo, descrever a dimensão e estrutura do cargo, especificar o tipo de perfil esperado e classificar o cargo (VIEIRA, 2015). Essa análise também é utilizada para a atualização dos cargos existentes. Moreno (2014) dá algumas dicas para o profissional de RH na hora de realizar esse trabalho. Para a autora, é fundamental que a pessoa responsável por esse trabalho: • Descreva de maneira clara o cargo, isso inclui o uso de linguagem simples e a explicação de termos técnicos utilizados. A intenção aqui é produzir um material que seja compreensível para todos. • Seja impessoal em sua descrição e análise, ou seja, apresente as informações do cargo, e não da pessoa que o está exercendo, para tanto Moreno (2014) indica o uso de verbos na terceira pessoa do presente do indicativo ou no infinitivo, exemplo: auxiliar, desenvolver e obter. Na descrição e análise, deve-se considerar apenas as exigências da função e não as do detentor da vaga. • Apresente, além da atividade, o objetivo que se quer atingir ao realizá-la. Moreno (2014) sugere utilizar o verbo visando para que a descrição e análise fique completa. O verbo visando ficaria depois da descrição da vaga e indicaria porque aquela atividade está sendo realizada, exemplo: analisar os cargos da área de vendas visando o alinhamento dos papéis e responsabilidades da equipe. A fim de contribuir na descrição e análise das atividades do cargo, Moreno (2014) traz alguns verbos que podem auxiliar a equipe de RH. Confira estes verbos no Quadro 1. 13 Quadro 1 – Verbos para utilizar na descrição das atividades do cargo Fonte: Moreno (2014, p. 74) Vamos pegar um verbo do Quadro 1 para exemplificar seu uso na descrição e análise do cargo. O verbo conduzir pode ser utilizado em uma atividade de gerente de RH para descrever a atividade de reavaliação dos resultados. Nesse caso, ficaria descrita a atividade do seguinte modo: “conduzir reuniões da equipe de Recursos Humanos visando a reavaliação dos resultados mensais.”. 2.3.3 Avaliação do cargo A etapa de avaliação de cargos está relacionada à ambientação do cargo dentro da hierarquia da empresa. Ela vai colocar o cargo dentro da estrutura de cargos existen- tes na empresa. Ela também vai contribuir na avaliação salarial dos papéis organizacio- nais. Vieira (2015) explica que essa etapa é composta das ações de escolher o método de avaliação e de avaliar os grupos ocupacionais. É interessante perceber os fatores de avaliação apontados por Stadler e Pampolini (2014, p. 36). Os autores informam que a avaliação de cargo deve considerar os fatores: 14 [...] mental, físico, responsabilidades e condições do trabalho, nos mais são considerados conhecimento, especialização, experiência, complexidade das tarefas, iniciativas, esforço físico, posições assumidas, habilidade manual, ferramentas e equipamentos, erros, valores, segurança, decisões e dados confidenciais, além de fatores ambientais e riscos do trabalho. Essa lista de fatores é interessante porque, além de conter os aspectos já mencionados, traz novas características de análise, tais como: leva em consideração o grau de erro permitido pelo cargo e a necessidade da iniciativa exigida pela pessoa que ocupará o cargo. 2.4 MATRIZ DE RESPONSABILIDADE Um ponto interessante da atribuição de cargo à pessoa organizacional é a clareza dos papéis e responsabilidades dela. Quando a empresa trabalha com cargos bem definidos, fica mais fácil, inclusive para a área de Gestão de Pessoas, estabelecer o responsável pela função desempenhada. Nesse sentido, uma ferramenta de gestão que pode ser utilizada pela equipe de RH é a Matriz de Responsabilidade, ou Matriz RACI. A Matriz RACI traz, visualmente, de forma resumida, os papéis de cada colaborador. O acrônimo RACI vem da letra inicial de quatro palavras em inglês e tem sua tradução relacionada, respectivamente a: R – Responsible – Responsável. A – Accountable – Autoridade. C – Consulted – Consultado. I – Informed – Informado. Esses quatro aspectos indicam papéis diferentes para cada função ou atividade. O responsável é aquele que vai executar as atividades. Trata-se da pessoa, ou pessoas, que trabalhará efetivamente na função apresentada na matriz. Se está descrita a atividade, por exemplo, de registrar novas vagas nas plataformas de divulgação, o auxiliar de RH pode ser o responsável, geralmente indicado pela letra (R) na Matriz, pela atividade. A autoridade vai fazer a aprovação das atividades exercidas pelo responsável. É essa pessoa que vai tomar as decisões sobre as mudanças, problemas e melhorias da função. Trazendo o exemplo de registro de novas vagas, o assistente de RH pode ser a autoridade (A) na função. O cargo, ou pessoa consultada, é aquele que pode ser chamado em situações específicas. Sua atuação pode ser necessitada pelos conhecimentos e experiência no assunto, ou ainda pela liderança da equipe. No exemplo do registro da vaga, o gerente de RH pode ser o cargo indicado para exercer tal função. Na matriz RACI, o gerente teria sua designação marcada pela letra (C). 15 O informado é aquele que tem menos impacto nos resultados do trabalho, masque pode ter algum interesse pela atividade ou função. O poder de decisão des- se(s) profissional(ais) é baixo, mas ainda assim pode ser interessante ser informado. Quando realizada a atividade de divulgação de uma vaga, os trabalhadores do setor podem ser informados (I) sobre essa vaga ociosa, podendo sugerir, ocasionalmente, melhorias na divulgação. Veja que os itens para análise podem ser uma função ou uma atividade. Quando o RH escolher fazer a Matriz RACI pelas atividades, esta será mais completa, mais bem especificada, mas pode ser mais cansativa e custosa de produzir. Já no pessoal que será atribuído às funções, podem ser aplicados ao cargo ou à pessoa que ocupa o cargo. Em empresas de médio ou grande porte, é mais interessante associar a função ao cargo. A acadêmica Sousa (2016) trouxe dois exemplos de Matriz RACI, uma que atrela o papel de cada pessoa a sua atividade (Quadro 2) e outra que designa as atividades aos cargos e vinculações da empresa (Quadro 3). Quadro 2 – Exemplo da Matriz RACI atrelada a cada pessoa Fonte: Sousa (2016 , p. 47) É interessante analisar, na Matriz do Quadro 2, como fica fácil perceber qual atividade cada pessoa realiza. Vejamos, por exemplo, a atividade de revisão de arquitetura. Essa atividade é executada pelo Lucas, aprovada pelo João, conferida pelo Pedro, Thiago e Marcos, e informada ao Paulo. As chances de haver retrabalho ou desentendimento do papel de cada pessoa dentro da empresa diminui. A Matriz RACI é muito utilizada na gestão de projetos. Projeto é um trabalho temporário que gera um produto exclusivo. Considerando o prazo limitado dos projetos, a matriz contribui na agilidade da delimitação de funções para os profissionais incumbidos nas atividades. 16 Quadro 3 – Exemplo da Matriz RACI atrelada ao cargo Fonte: Sousa (2016, p. 47) Podemos perceber, no Quadro 3, o acúmulo de responsabilidades depositadas na coordenação para as atividades elencadas na Matriz RACI. Essa matriz em específico, segundo Sousa (2016), foi criada para auxiliar no projeto de instalação de um jornal mural na escola. Uma questão interessante é que o quadro contém cargo, como os de direção, coordenação e de professor, mas também o tipo de vínculo de outras pessoas que não fazem parte do quadro de colaboradores, mas que tem interesse na instituição, o que é o caso dos alunos e dos responsáveis pelos alunos. Isso pode ser interessante para empresas que queiram, por exemplo, instalar inovações e tenham pessoas de fora interessada no projeto, tais como a comunidade próxima, fornecedores e potenciais colaboradores. Outra curiosidade do Quadro 3 diz respeito aos espaços deixados em branco. Perceba que ele também traz informações sobre o papel dessas pessoas na organização. Vejamos, por exemplo, a atividade de distribuir o jornal. Quem vai executar a distribuição (R) são as pessoas no cargo de coordenação, não tendo os alunos qualquer poder de decisão sobre essa atividade. Estes, no entanto, serão informados (I) do cronograma de entrega. 17 ATENÇÃO Você conseguiu associar o trabalho de desenho de cargo à Matriz RACI por meio dos exemplos apontados? A descrição do cargo pode ser utiliza- da na coluna de atividades da RACI, enquanto a avaliação do nível hierár- quico do cargo pode ser aproveitada para posicionar os cargos nos papéis de responsabilidade da matriz. Depois de desenhado o cargo, quando se tratar de cargo novo ou de um re- desenho completo das atribuições ocupacionais, faz-se necessário nomear os cargos. Estudemos, agora, a nomeação do cargo. 2.5 NOMEAÇÃO DO CARGO É interessante comentar que, na medida em que a sociedade muda, as atribuições dos cargos e até a nomenclatura podem também mudar. Veja, por exemplo, o cargo de guarda-livros. No início das expedições, por volta do século XV, as nações em busca de expansão do seu território exploravam novas terras e retiravam pertences das terras nativas. Essa movimentação gerou a necessidade de conferir os materiais e recursos dispendidos nessa jornada. Para tanto, surgiu a necessidade de contar, calcular os pertences e os guarda livros eram os responsáveis por tal função. Esse cargo foi se transformando ao longo dos anos, as funções foram se atualizando e, por consequência, a titulação desse profissional também foi modificada. Hoje, chama-se contador aquele que controla o patrimônio das entidades. INTERESSANTE Um exemplo prático da alteração de nome dos cargos pode ser visto na empresa bancária Bradesco. Eles alteraram o cargo de “escriturário” para “agente de negócios”. Confira a notícia completa aqui: https://bit.ly/3KMiIcz. A alteração do título do cargo está relacionada a mudanças do mercado e inovações da área. Na medida em que as pesquisas e os recursos da área expandem, as atividades também são transformadas e, por consequência, os títulos precisam ser atualizados. O gestor de RH, nesse sentido, precisa se atentar ao delineamento dos cargos, ou seja, as características limítrofes entre os cargos e funções. Veja, por exemplo, o cargo de supervisor de produção e de líder de linha de produção, embora tenham 18 funções semelhantes, é preciso analisar o que especifica esses dois, de modo que a empresa não sofra nenhuma sanção jurídica posteriormente. É um trabalho que deve ser realizado frequentemente pelo gestor de RH e que está principalmente atrelado à legislação da área. Quando a empresa muda o cargo de um profissional, ela precisa estar ciente dos direitos e deveres alterados. Analisando sob o aspecto do trabalhador, ser nomeado para o cargo pode estar naturalmente relacionado ao currículo que ele possui, mas também pode ter relação com as características da empresa. Uma empresa que trabalha com impressão gráfica, por exemplo, pode nomear o profissional da gestão com o cargo de gestor tampográfico, ao invés de gestor de produção. Esta escolha, quando intencional, permite que o profissional tenha seu vínculo fortalecido com sindicatos e entidades de setores direcionados exclusivamente à tampografia. Ele também atesta que a experiência que o profissional vai construir na gestão se aplica àquela área específica de atuação. Nesse sentido, é curioso fazermos a análise da influência do RH nesse processo. Quando o profissional já está instalado na organização, cabe a outra pessoa nomeá- la para outro cargo. A mudança de cargo é uma tarefa que não está no alcance do trabalhador, mas sim na análise do desempenho de pessoas hierarquicamente acima dela, e, em alguns casos, do RH, afinal, não é muito comum vermos profissionais se autonomeando em novos cargos, certo? Apenas por meio do resultado do seu trabalho, ou da sua participação de processos seletivos internos, é que o trabalhador consegue ascender na empresa. E ainda que o colaborador tome a iniciativa de participar da seleção interna de novos cargos, é de responsabilidade dos gestores, da área e do RH, aprovar a sua recolocação. Cabe ao RH a função, portanto, de ocupação e desocupação de cargos na organização. Veja, portanto, a necessidade ímpar de a área conhecer os cargos a partir de seus desenhos. Naturalmente, essa não é uma tarefa exclusiva da área. O processo de realocação de cargos depende do feedback dos supervisores diretos do profissional e do desempenho do trabalhador naquela função. GIO Você já vivenciou ou conhece a história de profissionais que tive- ram que pedir demissão para só então a empresa oferecer uma nova posição a eles? Partindo da visão de um profissional de RH, como você analisa essa situação? Quais ações você, enquanto RH, tomaria em uma situação como essa? 19 Feita a atividade de criar ou rever o cargo, cabe ao RH atribuir um pacote de remuneração àquela função. O âmago desse pacote, de suma importância para os trabalhadores, consiste na definição do valor salarial a ele atribuído. Analisemos, portanto, a atribuição e característica do salário. 3 SALÁRIO As organizações operam por sistemas de trabalho, é preciso o esforço humano paraque as organizações funcionem. O trabalho, natural ao homem, permite que itens sejam transformados. Essas transformações geram resultados, que são os produtos das organizações. As entregas mais comuns das organizações são produtos, serviços e informações. Nos processos de negociação entre comprador (cliente) e vendedor (empresa), as organizações empresariais adquirem capital, lucro. Na organização empresarial, a recompensa dos participantes geralmente consiste na repartição dos valores monetários recebidos. Perceba que há uma troca da força do trabalho por recompensas. O salário, portanto, surge dessa ideia de recompensa das ações depreendidas em uma organização. Por ser um aspecto relevante para o relacionamento entre trabalhador e empre- sa, o salário se vale de algumas regras. Na área de Gestão de Pessoas, especialmente no estabelecimento de acordos e regimentos legais (como contratos e acordos sindicais) é usual utilizarmos os termos empregador e empregado. A relação, portanto, entre a ação humana e a recompensa empresarial é direta, para que o participante da organização empregue seus esforços na organização, é preciso uma contraprestação, sendo, esta, geralmente monetária. Daí surge o conceito de salário. Vamos explorar, nos próximos subtemas, a concepção de salário. INTERESSANTE É provável que você chame a pessoa que trabalha em uma empresa de funcionário. Este termo, no entanto, está entrando em desuso – já que a palavra funcionário remete à ideia de “aquele que funciona”. Colaborador desponta como a palavra vista com mais frequência na literatura, mas em- pregado também é uma nomeação comum – pois, traz a ideia de “aquele que emprega sua força de trabalho em troca de recompensas”. 20 3.1 CONCEPÇÃO DE SALÁRIO No estudo da palavra, salário é uma “retribuição pecuniária regular por um serviço executado, geralmente definida por um contrato de trabalho” (SALÁRIO, 2022), ou seja, uma retribuição em dinheiro que é paga com regularidade devido a um trabalho realizado e que pode ser fixado em um contrato. A Figura 3 traz os aspectos monetários e de contrato, resumindo o conceito de salário. Figura 3 – Contrato e recompensa Fonte: https://bit.ly/41CnIGG. Acesso em: 23 dez. 2022. Na literatura, o conceito de salário se associa aos termos: contraprestação, dinheiro e recorrência (ou frequência). Conforme Chiavenato (2010 apud MORENO, 2014, p. 24) “em troca do dinheiro – elemento simbólico e cambiável –, a pessoa empenha parte de si mesma, de seu esforço e de sua vida, comprometendo-se a uma atividade cotidiana e a um padrão de desempenho na organização”. Vale mencionar que essa regularidade de esforços pode se limitar a um espaço de tempo relativamente curto. Isso porque o salário também pode se referir ao pagamento do trabalho de um dia, ou até mesmo horas de trabalho (SALÁRIO, 2022). Nesse sentido, Moreno (2014) explica que nas situações em que o salário é definido a partir do tempo investido, este se chama salário por unidade de tempo. Dentro dessa variação há também o salário por resultado, que tem seu valor estabelecido a partir da quantidade de produção do empregado na área. Exemplos de salário por resultado são número de vendas realizadas no período, os produtos fabricados ou os serviços prestados no período de trabalho. Veja, agora, outros tipos de salário indicados nos livros (STADLER; PAMPOLINI, 2014; MORENO, 2014) são: https://bit.ly/41CnIGG. 21 • Salário nominal: valor firmado em contrato e registrado na carteira de trabalho (se CLT). • Salário real: valor aquisitivo, poder de compra do empregado. • Salário complessivo: salário e valores adicionais, como hora extra. • Salário absoluto: salário líquido recebido pelo empregado, ou seja, que já foi retirado todos os descontos. O salário tem relação direta com o cargo do empregado. Quando as empresas se organizam por meio de cargos, elas costumam vincular o salário ao cargo que a pessoa ocupa na empresa. Esses valores geralmente são fixos, recebidos até no quinto dia útil após o mês corrente. GIO Você acredita que atrelar o salário ao cargo, como geralmente é feito pelas empresas tradicionais, é uma boa opção? Você conhe- ce alguém que trabalhou em uma organização que não tivesse seu salário vinculado exclusivamente ao cargo, mas sim a outros aspectos de trabalho? Chiavenato (2008 apud VIEIRA, 2015) lembra que a remuneração fixa e estática está mais voltada a processos tradicional de recompensa. Na abordagem tradicional de recompensas, os acordos são generalizados, a mudança de salário está relacionada ao tempo de trabalho e os processos são padrões. Numa abordagem moderna, os processos de recompensa são especializados, individualizados. As estruturas modernas de recompensa têm seus salários atrelados a metas (que visam o futuro da empresa) e esquemas flexíveis de remuneração. Dentro da concepção de salário, portanto, é preciso conhecer do que é composto o pacote remuneratório, e compensatório, e como o RH pode contribuir para a gestão de salários empresariais. 3.1.1 Composição salarial Para o prosseguimento dos estudos é fundamental diferenciarmos salário de remuneração. Salário tem seu conceito mais restrito, é a contraprestação paga em valor fixo ao empregado pelo período trabalho. A remuneração, por sua vez, tem uma ideia mais abrangente de recompensa. Remunerar engloba o recebimento de tudo que é pago ao trabalhador. A remuneração considera, além do salário, os benefícios recebidos pelo empregado em função do trabalho realizado. Férias, vale transporte e plano de saúde são exemplos de benefícios que fazem parte da remuneração, mas não entram no conceito de salário. Vale comentar que além da remuneração fixa, salário 22 mensal, há também a remuneração variável. Pode compor a remuneração variável: a participação nos lucros e resultados (PLR), os bônus – como o bônus de fim de ano – e ações da empresa. Chiavenato (2010 apud MORENO, 2014) defende a concepção de que recompensas como bônus e PLR são exemplos de incentivos salariais. ESTUDOS FUTUROS A terceira unidade deste livro abordará o tema remuneração variável. O salário, atrelado ao cargo, se vale de faixas salariais. As faixas salariais são os limites de salário estabelecidos para cada cargo (STADLER; PAMPOLINI, 2014), elas mudam a depender das competências acrescidas pelo empregado, do desempenho percebido pela empresa e dos resultados conquistados por ele. Uma questão importante a ser considerada no que tange a faixa salarial do cargo diz respeito a viabilidade do pagamento. Se você perguntar a qualquer empresário que trabalha no sistema de pagamento de salários tradicionais quais são as maiores preocupações que ele tem relativas à empresa, ele comentará da necessidade de pagar em dia os colaboradores. Nesse sentido, Stadler e Pampolini (2014) trazem o questionamento para os gestores empresariais, se eles entendem o salário como custo ou como investimento. Naturalmente, o pagamento dos colaboradores é um grande compromisso financeiro, tanto que muitas empresas, quando se veem diante de recessos financeiros, toma como decisão os desligamentos de pessoal, o que é uma atitude passível de debates. Um colaborador, por sua vez, dispõe sua força de trabalho para a empresa, mas em níveis diferentes, há uma instabilidade no desempenho do recurso humano. A troca de esforço humano pode se tornar inviável na medida em que a qualidade decai, a produtividade é reduzida ou os absenteísmos se tornam mais frequentes. A isso pode ser atrelado à motivação do empregado e às remunerações não financeiras. Stadler e Pampolini (2014, p. 34) explicam que, para além das remunerações financeiras, o empregador pode oferecer vantagens, como: [...] oportunidades de desenvolvimento, estabilidade no emprego, qualidade de vida, promoções, reconhecimento e autoestima, orgulho de pertencer a determinada empresa e do trabalho realizado, ambiente físico saudável, bom relacionamento entre as pessoas, autonomia,cultura e clima organizacionais favoráveis. A análise da viabilidade é uma via de mão dupla. Por tratar-se de uma troca, na medida em que os esforço dispendidos são proporcionais às vantagens recebidas, o colaborador mantém seu vínculo de trabalho. Do mesmo modo, a empresa permanecerá 23 oferecendo as remunerações na mesma proporção com que o trabalhador se empenha para executar seu trabalho, com qualidade e produtividade. Essa estrutura, por vezes, é atravessada por outras questões: falta de mão de obra, pouca fiscalização e avaliação do desempenho do pessoal, necessidades urgentes do colaborador, acomodação e medo da mudança. Nesse ponto o RH tem papel crucial. 3.1.2 Salário e RH Vimos que no sistema tradicional de pagamento de salário, a contraprestação pecuniária está vinculada ao cargo e tem valor fixo, geralmente pago mensalmente. O cargo, por sua vez, está associado ao papel do colaborador na empresa. Cargo e salário, portanto, costumam andar lado a lado. Além das atribuições do cargo, este também se estrutura em uma organização hierárquica. Daí o desejo comum das pessoas em ascender hierarquicamente na empresa. Um problema, no entanto, que pode surgir a partir dessa relação é o despreparo ou a falta de competências, especialmente competências voltadas ao relacionamento das pessoas que querem galgar novas posições empresariais. Muitas pessoas buscam o crescimento de suas remunerações ao aceitarem novos cargos, mas não têm ciência das responsabilidades e desafios que enfrentarão. Você conhece algum profissional que trabalhava com atividades rotineiras, operacionais e foi promovido, mas não gostou dessa nova posição? Nesse sentido, é interessante que o RH estabeleça um relacionamento mais próximo durante essa transição de modo que a nova pessoa esteja preparada para os desafios que irá vivenciar no novo cargo. Uma prática que pode ser estabelecida é a instituição do Plano de Cargos e Salários. O Plano de Cargos e Salários (PCS) contribui na promoção e realocação das pessoas ao vislumbrar os papéis e possibilidades existentes na empresa. Ele também estabelece padrões salariais aos níveis organizacionais, o que permite fixar as faixas salariais dos colaboradores. Esse trabalho, no entanto, não é possível se não há informações previas do desenho do cargo. O PCS geralmente é originado da área de RH, mas depende de informações de toda a empresa e do apoio e incentivo da alta direção para entrar em funcionamento. Nesse momento vamos trazer à tona um desafio moderno para a área de RH. Desde 2020, em função da pandemia, o número de pessoas no regime de teletrabalho cresceu. O home office se tornou uma realidade para muitas empresas. Cargos e funções que poderiam trabalhar em regime remoto, adotaram temporária ou definitivamente esse sistema. Alguns desafios, no entanto, vieram dessa experiência: quais benefícios são dispensados e quais são acrescidos nesse regime de trabalho? Bom, visto que o empregado trabalhará em casa, ou onde ele estiver, benefícios como o vale transporte não são mais necessários. O consumo, no entanto, de aparelhos digitais e em infraestrutura interna cresceu. 24 Outra grande questão envolvendo essa mudança diz respeito aos benefícios intrínsecos ao trabalho remoto: o colaborador não precisa gastar seu tempo para se deslocar até a empresa, em algumas situações não há a necessidade de investir em trajes sociais, se valendo de roupas mais confortáveis, e o benefício de poder fazer pausas mais longas ou poder gerir seu tempo. Isso, claro, em locais que ofereçam esse conforto às pessoas. Quando a pessoa não tem um espaço que permita focar no trabalho, ou não se sinta confortável em trabalhar no local onde geralmente descansa, estes não são considerados benefícios. Nesse sentido, os benefícios do home office podem ser questionados. GIO Considerando o que você vivenciou e estudou sobre trabalho home office, você entende que quando a empresa oferece esta opção ao trabalhador, ela também está oferecendo uma vanta- gem? Acerca do regime de teletrabalho, como o RH pode gerir salários e benefícios? Como o RH pode avaliar para promover o trabalhador que não está atuando no mesmo espaço que ele? Uma atribuição essencial relacionada ao RH, no que tange a gestão de salários, diz respeito ao registro adequado dos salários. Gerir salários é uma parte importante da área de Gestão de Pessoas e que envolve uma grande quantidade de processos burocráticos. Conferir descontos, promoções, bônus e reajustes de salário fazem parte da lide diária do RH e que deve ser feito com cautela – afinal, a recompensa deve ser proporcional ao esforço do trabalhador. Atualmente, as organizações utilizam softwares que facilitam esse processo, mas, ainda assim, é preciso transferir essas informações para o sistema, e é função do RH, em alguns casos do Departamento Pessoal, junto do contador, fazer esses ajustes. O registro correto dos salários, no sistema eSocial, na carteira de trabalho e, em alguns casos, no pagamento do colaborador, é uma grande responsabilidade do RH. Junto dessa responsabilidade vem também a cobrança dos empregados sobre melhorias, mudanças e reclamações salariais. Ainda que a expectativa salarial não esteja no controle da gestão do RH, fazer com que as recompensas remuneratórias se aproximem das competências, experiências e responsabilidades do profissional é uma missão da área. É interessante que o RH instrua os colaboradores das entregas e resultados percebidos pela empresa e que resolva conflitos de interesse entre as áreas. Isso porque, diante da gestão de salários, o RH tem a função de intermediar conflitos de interesse e de objetivos. 25 O salário pode ser considerado um reconhecimento da empresa sobre o trabalho executado ao longo dos anos. Nesse sentido, a remuneração pode ser vista como um fator motivador na hierarquia das necessidades humanas, Maslow já trazia a questão da recompensa dos esforços imputados em tarefas da organização. Para ele, o ser humano é motivado quando as recompensas são satisfeitas em ordem crescente: da necessidade fisiológica, passando pela demanda por segurança, de relacionamento social, em como a pessoa tem e recebe estima para, por fim, demandar autorrealização. Figura 4 – Teoria das necessidades humanas Fonte: Vieira (2015, p. 99) A teoria de Maslow, conforme mostra a Figura 4, indica uma escala que, quando uma necessidade é atendida, a demanda pelo próximo fator motivacional surge. Acerca da relação entre motivação e salário, Pontes (2021, p. 29, grifos nossos) traz uma excelente análise a partir da teria das necessidades de Maslow. Associando a teoria de Maslow à questão de salário, como fator de motivação, podemos observar que, direta ou indiretamente, o salário contribui para a satisfação de muitas das necessidades humanas. É por intermédio dele que temos assegurada a satisfação de nossas necessidades básicas-fisiológicas (alimentação) e segurança (moradia, serviço médico e dentário, estoque de alimentos, poupança, entre outras). Ainda em relação à segurança e estabilidade da empresa no mercado proporciona certa garantia, como o recebimento dos salários em dia. De certa forma, o salário pode facilitar no relacionamento social, possibilitando que as pessoas possam fazer programas recreativos com a família e com outros grupos sociais. A remuneração pode proporcionar status social, como a compra de uma casa melhor, de um carro, satisfazendo 26 a necessidade de autoestima. Aumentos salariais por mérito ou promoção, demonstram para as pessoas o reconhecimento do seu valor no trabalho, que vêm ratificar todas as demonstrações informais de estima que o funcionário possa ter recebido. Se a pessoa tem como objetivo alcançar um certo patamar salarial, também, a remuneração pode estar associada à autorrealização, quando essa pessoa alcança seu objetivo profissional. Na visão de Paiva (2019), o papel da Gestão de RH, em cada fator motivacional,acontece da seguinte maneira: • Necessidade fisiológica: garantir pagamentos, férias, repousos e pausas, além da melhoria das condições ambientas. • Necessidade de segurança: oferecer condições seguras de trabalho, um pano de carreira, a indicação e atendimento de sindicatos, além de planos de seguro. • Necessidade social: fomentar grupos formais e informais de troca de experiência, além de clubes e ações comunitárias para além do espaço de trabalho. • Necessidade de estima: por meio da formalização da hierarquia, garantir o poder e título ao pessoal, além de produzir símbolos e prêmios para os trabalhadores que se destacarem. O RH também consegue atingir a autoestima do empregado ao oferecer promoções profissionais. • Necessidade de autorrealização: aplicação de novos desafios à equipe, possibilidade de fazer trabalhos criativos e de desenvolver habilidade e capacidades do colaborador. É interessante perceber que o salário e o RH têm funções preponderantes (PAIVA, 2019; PONTES, 2021). Na necessidade fisiológica, o RH pode garantir, por exemplo, o pagamento do salário no prazo. O salário em si é necessário para que produtos como a alimentação estejam garantidas para o trabalhador. Na necessidade de segurança, a gestão de salário pode contribuir por meio do plano de cargos e salários, o que oferece a sensação de estabilidade ao colaborador e de continuidade dos seus trabalhos a longo prazo. Na necessidade social, o salário garante os custos para que, como dito por Pontes (2021), o colaborador participar de eventos sociais. O desenho do cargo e a hierarquia dos cargos em si, têm um forte papel na estima do trabalhador. Visto que o cargo está atrelado ao salário, esses dois podem ser motivadores para o colaborador no que se refere à autoestima. Com relação à autorrealização, Pontes (2021) dá o exemplo de pessoas que ambicionam um padrão de vida que exige maior valor salarial e, quando conseguem, podem ser motivadas pelo atendimento dessa necessidade. Outro exemplo é a aplicação do salário para desenvolver-se ou promover um novo projeto dentro da sua área. Caro acadêmico, neste tema de aprendizagem você aprendeu que o cargo é um título para funções similares, contendo obrigações e responsabilidades. Devido aos estudos e exemplos, descobriu que um cargo pode variar sua complexidade a depender de técnicas de trabalho, como é o cargo de pedreiro, mas também varia a depender 27 do impacto, responsabilidade e desafios enfrentados pela pessoa que ocupa o cargo, como é o caso do engenheiro civil da obra. Você descobriu as etapas do desenho de cargo – descrição, análise, especificação e avaliação do cargo. Conheceu o que significa RACI e como esta matriz pode ser importante para o RH, já que dá um panorama das responsabilidades da equipe empresarial. No que diz respeito ao salário, você descobriu que o salário está associado ao conceito de contraprestação e que é uma parte que compõe a remuneração. O Tema de Aprendizagem 1, por fim, traz dicas para os profissionais relativas à gestão salarial, tais como a implantação do PCS, a questão do trabalho home office e a importância de se considerar os benefícios intrínsecos. Neste momento, encerramos este tema de aprendizagem, esperamos que você tenha aproveitado o material e aprofundado seus conhecimentos na área. Não esqueça de treinar seus conhecimentos por meio da realização das autoatividades. 28 Neste tópico, você aprendeu: • O conceito de cargos e salários. • Como estruturar o desenho de cargo, incluindo a descrição e análise do cargo. • O que compõe o salário. • O papel do salário na motivação da equipe empresarial. RESUMO DO TÓPICO 1 29 AUTOATIVIDADE 1 Conceitualmente, o cargo dá título a um conjunto de funções similares executadas por uma ou mais pessoas que atuam na organização. Função é um conjunto de atividades com um objetivo comum. Acerca do conceito de cargo, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O cargo está atrelado aos conceitos de responsabilidade e de obrigação. Cargo também é atrelado ao sentido de emprego público. b) ( ) Ainda que o cargo seja importante para o RH, não deve se colocar no sistema eSocial. Este sistema publica os dados do trabalhador, por isso deve ser evitado. c) ( ) Cargo é composto de atribuições profissionais distintas com responsabilidades gerais. d) ( ) Esse título não é utilizado para registrar o trabalho do colaborador nos processos legais do RH. 2 O delineamento da posição hierárquica do cargo depende do desenho projetado para aquele cargo. O desenho do cargo diz respeito a informações específicas do cargo empresarial. Com base nas características do desenho do cargo, analise as sentenças a seguir: I- Descrever um cargo é detalhar as funções, deveres e responsabilidades da pessoa que ocupará aquele cargo. II- A atividade de desenho do cargo fica na área da aplicação do RH e contribui para o distanciamento das pessoas diante das suas atividades organizacionais. III- As etapas de análise de cargo podem incluir as ações de: coletar dados e informações da pessoa que ocupa o cargo, descrever a dimensão e estrutura do cargo. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 30 3 Quando a empresa trabalha com cargos bem definidos, fica mais fácil, inclusive para a área de Gestão de Pessoas, estabelecer o responsável pela função desempenhada. Nesse sentido, uma ferramenta de gestão que pode ser utilizada pela equipe de RH é a Matriz de Responsabilidade, ou Matriz RACI. De acordo com a Matriz RACI, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O informado é aquele que vai executar as atividades. Trata-se da pessoa, ou pessoas, que trabalharão efetivamente na função apresentada na matriz. ( ) O acrônimo RACI vem da letra inicial de quatro palavras em Inglês e tem sua tradução relacionada, respectivamente a: R: Responsible – Responsável; A: Accountable – Autoridade; C: Consulted – Consultado; I: Informed – Informado. ( ) O consultado vai fazer a aprovação das atividades exercidas pelo responsável. É essa pessoa que vai tomar as decisões sobre as mudanças, problemas e melhorias da função. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 É interessante comentar que, à medida em que a sociedade muda, as atribuições dos cargos e até a nomenclatura podem também mudar. Quando a empresa muda o cargo de um profissional, ela precisa estar ciente dos direitos e deveres alterados. Analisando sob o aspecto do trabalhador, ser nomeado para o cargo pode estar, naturalmente, relacionado ao currículo que ele possui, mas também pode ter relação com as características da empresa. Disserte sobre a influência do RH nesse processo. 5 Na literatura, o conceito de salário se associa aos termos: contraprestação, dinheiro e recorrência (ou frequência). No estudo da palavra, salário é uma retribuição em dinheiro que é paga com regularidade devido a um trabalho realizado e que pode ser fixado em um contrato. Nesse contexto, disserte sobre as terminologias da concepção de salário. 31 GESTÃO DE CARGOS E SALÁRIOS 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 TÓPICO 2 - Caro acadêmico, iniciaremos seus estudos dos aspectos fundamentais do Pla- no de Cargos e Salários (PCS). Para isso, é interessante que seja apresentada a estrutura de trabalho do PCS. Neste momento, é delineado o que compõe o PCS, seus benefícios e as dicas dos pesquisadores da área sobre sua implantação nas empresas. Em busca de uma apresentação completa da administração de cargos e salários, você conhecerá os métodos para descrever e planejar o trabalho de construção de PCS. Veremos, também, um modelo de cronograma de trabalho para elaborar o PCS. Na descrição de cargos, você descobrirá como aproveitaras informações da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), oferecidas pelo Ministério do Trabalho, para ampliar e validar sua descrição de cargos. Explorando o tema descrição de cargos, você verá as especificações de informações do cargo a depender de suas características particulares, tais como os riscos envolvidos e as responsabilidades abarcadas pelo cargo. A administração de cargos e salário também comporta a avaliação dos cargos e do desempenho de quem o ocupa. Você, para tanto, estudará métodos de construção e aplicação de avaliações. Administrar cargos e salários também envolve constantes pesquisas de valores remuneratórios e benefícios. Por esse motivo, você conhecerá uma estrutura que pode auxiliar na pesquisa de salários, analisando as remunerações praticadas internamente (pela empresa) e externamente (pelo mercado). Como resultado, o RH consegue produzir, ou atualizar, sua política salarial. A gestão de PCS deve considerar as legislações da área e as motivações dos trabalhadores, por isso você vai conhecer aspectos que interferem na gestão de PCS. A gestão de cargos e salários está ligada à movimentação de pessoal, por este motivo vamos conhecer dois tipos de movimentação de pessoal: rotação de cargos e a extensão de cargos. Este material dará especial atenção à administração de cargos e salários e, por meio do trabalho de PCS, você descobrirá os aspectos fundamentais para melhor geri- los. Ao organizar este tema de aprendizagem, pensamos em estruturá-lo de um modo que você consiga colocar em prática as dicas e conceitos oferecidos na ordem em que estão dispostos, ou seja: planejamento, descrição, análise e avaliação de cargos, pesquisa e política empresarial, divulgação e publicação do PCS. Iniciemos, portanto, os estudos deste tema conhecendo o plano de cargos e salários. 32 2 PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS Cada vez mais as organizações se dão conta da importância de investir no capital humano para poderem evoluir e competir com seus concorrentes. Uma empresa não consegue sucesso profissional se não tiver uma equipe engajada e um RH com estratégias bem delimitada. Para tanto, muitas vezes se faz necessário investimentos no aprimoramento e evolução da equipe. Hoje, com a globalização e a divulgação de informações relativas às responsabilidades sociais das empresas, o cenário do mercado se transformou, se tornou mais transparente. Programas e melhorias implantadas pelo RH, por exemplo, podem servir inclusive como estratégia de fidelização e reconhecimento do cliente com a marca. Uma empresa que tem grande movimentação de pessoal não é bem-vista pelo mercado e pode sofrer penalidades, como a redução de clientes e de parceiros de negócio. Além disso, empresas que têm alta rotatividade de profissionais também têm um alto risco atribuído. A empresa se torna vulnerável, por exemplo, às capacidades prévias e aspectos éticos do novo colaborador. Os custos que incorrem na movimentação de pessoal também são altos e, por isso, devem ser evitados. Outra grande preocupação das empresas, e em especial da área de RH, é a retenção de talentos jovens. As novas gerações têm traços de personalidade que fazem com que o mercado se mobilize para gerar segurança e estabilidade de um modo que o trabalhador se sinta acolhido e motivado. A tendência de uma governança que tem por base princípios transparentes e confiáveis está cada vez mais vigente. Em organizações públicas, por exemplo, a governança já é realidade e existe como princípio para o trabalho com a sociedade. Usar estratégias de gestão que levem em conta os valores e a sustentabilidade econômica do negócio, garantem a motivação da equipe (em certo grau) e permitem uma melhor governabilidade nos processos e operações. Objetivando agregar valor às condições de trabalho empresariais, surge como opção o uso do Plano de Cargos e Salários (PCS). O PCS é uma técnica de organização da empresa que visa apresentar, transparecer e indicar as oportunidades de cargos e salários que ela comporta dentro de sua estrutura. Por ser um plano, o PCS envolve o trabalho de pesquisa e levantamentos dentro e fora da empresa. Este método estabelece padrões salariais de acordo com os papéis e responsabilidades da equipe. A implantação do PCS depende do envolvimento da equipe, do apoio da gestão e alta direção, da cultura de inovação, de uma instrução prévia do que vai ser alterado e como vai acontecer o trabalho, de comprometimento, a unidade de objetivos entre a organização e o colaborador, além do clima de respeito à aprendizagem que vai surgir a partir desse trabalho. O RH que pretende implantar e rever o plano de cargos de salários precisa inicialmente estruturá-lo. Vamos conhecer esse processo e sua estrutura de trabalho nos próximos subtemas. 33 2.1 ESTRUTURA DO PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS Alguns autores (MORENO, 2014; PONTES, 2021; VIEIRA, 2015) apresentam diferentes estruturas de trabalho para o Plano de Cargos e Salários (PCS). Vejamos brevemente as estruturas. Moreno (2014) traz um resumo das fases de construção do plano de cargos e salários, que envolvem: o planejamento, que abarca a criação de um cronograma de trabalho, a análise da estrutura atual, a estimativa prévia das funções existentes, um levantamento de todas as funções, uma análise das funções levantadas, a descrição de cargos, a pesquisa de remuneração e dos benefícios junto da avaliação de cargos e (a pesquisa e a avaliação vão gerar) a classificação dos cargos, necessária para ser incluída na política de remuneração. A política de remuneração contém a estrutura de salários, o mix de remuneração variável e o programa de benefícios. Para estruturar os salários dentro do PCS é preciso produzir uma política de movimentação salarial que vai permitir a implementação do PCS e que vai orientar o trabalho do RH de enquadramento funcional e salarial. A política de remuneração também vai definir os programas de remuneração variável e de benefícios e, criada a política, a empresa conseguirá implantar esses programas. ATENÇÃO Cargos são estruturas organizacionais que delimitam os papéis dos pro- fissionais dentro da empresa. Salários, por sua vez, são recompensas da- das aos empregados pela realização das atividades em nome da empresa. Ambos são fontes essenciais de análise da gestão de RH, deve-se estudar com atenção esses pontos para que a área consiga agregar valor ao tra- balho realizado pela empresa. As atividades de estruturação do plano de cargos e salários, portanto, consistem nas ações de: planejamento do trabalho, análise e avaliação dos cargos, pesquisa e política salarial e divulgação do plano de modo a aplicá-lo. Vamos conhecer essas etapas com atenção? 2.1.1 Planejamento do trabalho Pontes (2021) apresenta uma estrutura que comporta, também, a revisão do PCS já existente, orientando a realizar o planejamento e a divulgação do plano por meio da elaboração, primeiramente, do plano de trabalho, depois a discussão do plano com gerentes e a aprovação do plano, que será divulgado posteriormente aos colaboradores. 34 Quadro 4 – Modelo de cronograma de PCS Fonte: Pontes (2021, p. 37) Perceba, no Quadro 4, que é possível conferir todas as etapas dos trabalhos a serem realizados pela empresa para elaborar o PCS. É interessante, também, observar o prazo definido para cada etapa. No exemplo indicado pelo autor (Quadro 4), essa primeira fase pode ser realizada em menos de um mês. Naturalmente, essas datas podem sofrer alteração, dependendo do tamanho da empresa e da aceitação da equipe para a realização desse trabalho. 2.1.2 Análise e avaliação dos cargos A empresa, tendo já o PCS implantado, pode fazer a análise e a avaliação dos cargos. Fases importantes comentadas pelo autor no momento da análise consiste na coleta de dados, na sua descrição e especificação, na atenção à titulação do cargo, na verificação da classificação dos cargos conforme os grupos ocupacionais e na análise do catálogo dos cargosexistentes na empresa. A descrição do cargo, conforme orienta Moreno (2014), no PCS é organizada por meio de uma descrição sumária e uma descrição detalhada. A descrição sumária é um resumo das atividades que a pessoa que ocupa o cargo realiza (ou deveria realizar). Essa descrição é feita em tópicos, introduzidas pelo título do cargo e composta de frases que iniciam com o verbo no infinitivo. Já a descrição detalhada especifica e amplia as informações do cargo, sendo estruturada intencionalmente por ordem de importância das atividades. 35 Uma fonte confiável e importante para conseguir informações dos cargos e ocupações é a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), que traz informações sobre: • os títulos atrelados à ocupação; • o código do cargo utilizado nos registros oficiais; • uma descrição sumária das atividades; • as condições gerais do exercício (em quais áreas atua, o vínculo que geralmente estão associados às empresas, dentre outros); • a necessidade de formação e experiência; • as áreas de atividade; • os recursos de trabalho; • as competências pessoais, dentre outras. INTERESSANTE Você consegue acessar os dados da CBO em: http://www.mtecbo .gov.br/. Vejamos o exemplo da ocupação gerente de recursos humanos. Na CBO, esta ocupação está ligada ao código 1422-05. São encontrados com funções semelhantes os títulos dos cargos: coordenador de rh, gerente de planejamento de salários e benefícios, gerente de relações de recursos humanos, gerente de relações humanas e gerente de relações industriais. Na CBO, também há indicação de que o gerente de RH atua em diferentes setores empresariais, nas esferas pública e privada, e que pode ter os serviços de recrutamento, seleção e treinamento terceirizados. Essa função geralmente exige quatro ou cinco anos de experiência na área de RH e deve exercida por pessoas que tenham ensino superior completo. As atividades do gerente de RH, de acordo com a CBO, promovem, dentre outras, a administração de cargos e salários e o controle de benefícios. A administração de cargos e salários, por exemplo, inclui as atividades de administrar e analisar a pesquisa salarial, desenvolver um plano de carreiras e implantá-lo, além de analisar propostas de promoção de funcionários. Já a função de controle de benefícios inclui as atividades de: pesquisa e organização do plano de benefícios, negociação e controle de contrato com fornecedores, o controle dos benefícios diante de órgãos públicos, a realização de pesquisas internas para verificar a satisfação dos beneficiários, o atendimento de demandas internas e externas e a promoção de programas de prevenção. http://www.mtecbo.gov.br/ 36 Dentre as competências pessoais apresentada na CBO, no que tange a atividade do gerente de RH, podemos destacar as seguintes características: empatia, habilidades de negociação, atuar como facilitador, saber se comunicar e ser assertivo em sua comunicação, além de dominar a informática e se reciclar constantemente. Para trabalhar nessa área, é necessário agenda e caneta, aparelhos de TV, vídeo e telefone, calculadora, computador com impressora, dentre outros. Dentro da descrição é interessante, também, fazer a especificação do cargo. Figura 5 – Especificações do cargo Fonte: Pontes (2021, p. 46) Pontes (2021) traz uma ilustração que resume as especificações do cargo (Figura 5), e Moreno (2014) traz um resumo da maioria dos itens ilustrados nessa figura. Vamos analisá-los com atenção. Na especificação de dados do cargo que exige esforço físico, este pode incluir posições incômodas na hora do trabalho ou o carregamento de peso de maior inten- sidade. No cargo que exige concentração visual e mental, este pode ser em função da frequência em que é exigido maior concentração ou na intensidade desta concentração visual ou mental. O esforço físico de maior intensidade e as posições incômodas são co- muns em atividades operacionais, e trabalhos que exigem habilidade manual também entram na especificação do cargo. Já o trabalho que exige maior concentração mental visual pode estar presente tanto em cargos operacionais como cargos administrativos técnicos de nível médio ou em cargos de profissionais de nível superior (PONTES, 2021). 37 Cargos que precisam de informações específicas, e que devem ser verificadas, das condições de trabalho, são aqueles que devem ser analisadas as condições físicas do ambiente em que o trabalhador, seja por estar vulnerável a ruídos, calor, sujeira, vibrações, gases, fumaças ou outro fator do ambiente de trabalho. Já cargos específicos que estão expostos a riscos são aqueles que têm maior chances de um acidente e deve ser analisada a frequência de exposição a portabilidade de um acidente e a gravidade das lesões diante dos riscos existentes. Esses riscos são mais comuns de serem encontrados em cargos operacionais. A necessidade de especificação do cargo para atividades que exigem um trabalho mental, pode existir para cargos que dependem da instrução, geralmente formal, obtida por meio de cursos, enquanto o fator conhecimento diz respeito aos conhecimentos complementares exigidos para exercer o cargo. A especificação do cargo que exige experiência diz respeito à demanda de um determinado tempo de experiência mínimo para executar as tarefas do cargo e a especificação por iniciativa está relacionada à complexidade das atividades, à demanda de supervisão e ao poder de decisão dado ao cargo analisado. Todas as especificações do cargo mental comentadas podem ser encontradas em diferentes grupos ocupacionais, do operacional ao gerencial (MORENO, 2014; PONTES, 2021). • A especificação de informação de cargo sujeito a erros está relacionada ao risco de erro quando o empregado está executando suas atividades. Este cargo está sujeito a riscos que podem produzir um efeito negativo na imagem da empresa, podendo ocasionar ônus nos custos ou trazer algum prejuízo para a empresa. Esta especificação está presente em todos os níveis ocupacionais da organização. • A necessidade de especificação de informações para cargos de responsabilidade do numerário, ou de valores monetários, está atrelada à guarda e ao manuseio de dinheiro. Este cargo também lida com títulos e documentos da empresa. Com exceção da área operacional, os demais grupos ocupacionais fazem parte desta especificação. • A demanda de especificação de dados dos cargos que têm responsabilidade de supervisão, comporta os cargos que fazem o trabalho de supervisão, incluindo informações do número de subordinados e a complexidade da supervisão. Esta especificação é exclusiva da área gerencial. • A especificação de informações de cargos que têm responsabilidade pelo patrimônio, ou seja, pelos materiais da empresa, inclui a análise da responsabilidade sobre a matéria prima, os produtos acabados sob sua supervisão e os prejuízos que podem ocorrer, caso haja problemas com o ocupante do cargo. Grupos ocupacionais operacionais e técnico de nível médio são aqueles que se atrelam a esta responsabilidade. • A especificação de cargos que têm responsabilidade de contatos diz respeito a análise do objetivo, frequência e hierarquia das pessoas, internas ou externas, com quem a pessoa que ocupa esse cargo possui. Esta responsabilidade é mais comum em cargos administrativos, gerenciais e de profissionais de nível superior. • A necessidade de especificação do cargo em função dos dados confidenciais é mais comum nas áreas: administrativas, técnicas, de nível superior e gerencial. 38 A avaliação dos cargos mede a importância do cargo na empresa por meio de seus resultados. Ela também analisa as competências demandadas para o cargo e da aplicação dessas competências na empresa. Questões comportamentais também são avaliadas. Neste momento são verificadas as posturas exigidas pelo profissional que atua naquele cargo, habilidades comportamentais e a visão gerencial exigida pelo cargo. Naturalmente, deve-se levar em conta o setor de mercado quea empresa atua. O cargo de cozinheiro, por exemplo, é mais importante para empresas que trabalham na área da alimentação do que empresas que trabalham com construção civil. Vieira (2015) sugere que, depois de avaliados os cargos por ordem de importância, eles sejam organizados no PCS de acordo com a classe que eles recebem. este ordenamento vai ajudar no estabelecimento da faixa salarial. É interessante destacar, no entanto, que este não é um trabalho que deve ser feito só por uma pessoa. A individualização da avaliação pode gerar favoritismo e parcialidade. É preciso que se forme um comitê de avaliação, que fará a escolha dos métodos que serão avaliados os cargos, objetos de análise. A avaliação pode ser feita por meio do método global, analítico, sistémico ou de escalonamento (VIEIRA, 2015). Analisemos a diferença entre eles: o método global de avaliação considera o aspecto total do cargo, não se atentando às particularidades dele ao contrário do método analítico, primeiro considera todos os fatores do cargo para depois definir seu valor final. Já o método sistêmico considera os requisitos do cargo, exigidos para o trabalhador que vai ocupá-lo (neste momento são analisadas a responsabilidade do cargo e sua complexidade) e os resultados que ele pode produzir quando o cargo for efetivamente ocupado. O fator de em escalonamento é feito a partir da descrição de cargos, analisando aspectos intrínsecos – título do cargo, posição no organograma e tarefas ou atribuições deste – e extrínsecos – considerando as informações de especificação do cargo. O comitê geralmente é composto por, pelo menos, três avaliadores que ordenam os cargos por sua análise de importância e impacto do cargo na empresa. Posteriormente, essas informações são confrontadas e chega-se a um consenso sobre as classes ocupacionais da empresa. A avaliação também pode passar pelo processo de escalonamento de cargos, que consiste na comparação para os cargos existentes na empresa e na importância de um em relação ao outro. Esse escalonamento estabelece a classificação final da ordem de importância dos cargos, e o comitê vai avaliar e escolher os cargos-chave da empresa e também avaliará os demais cargos. Depois de descrito, especificado e avaliado o cargo, a próxima atividade consiste nos ajustes do pacote remuneratório. Por este motivo, estudaremos pesquisa e política salarial. 39 2.1.3 Pesquisa e política salarial Na pesquisa salarial, Pontes (2021) orienta a escolher primeiramente os cargos e as empresas que serão pesquisadas. Os cargos amostrais devem representar o nível ocupacional a que ele faz parte, o seu setor e que tenha informações disponíveis no mercado (VIEIRA, 2015). Já as empresas amostrais, geralmente entre 10 e 20 empresas, deve-se escolher aquelas que trabalham no mesmo local, com tamanhos próximos, que atuam no mesmo ramo e com diferentes políticas salariais. Faz-se interessante, também, elaborar um manual de coleta de dados que instrua acerca dessa função. Segue um modelo de informações que devem possuir no manual: • um passo a passo orientando de como responder às perguntas feitas pela equipe de RH; • uma lista de empresas que estão participando e dos cargos que estão sendo pesquisados; • o objeto de análise: o cargo, a especificação e descrições do cargo; • a posição que o cargo ocupa na empresa (posição no organograma); • informações da remuneração, a base de dados utilizada e os possíveis reajustes coletivos que a remuneração pode sofrer; • informações dos benefícios e políticas salariais utilizados. Depois de coletados, faz-se, posteriormente, a tabulação dos dados. A pesquisa salarial também demanda a análise dos resultados. Pontes (2021) sugere a elaboração de um relato a ser divulgado para as empresas participantes. Paiva (2019, p. 89) chama atenção para o fato de que “manter a estrutura salarial atualizada é uma tarefa árdua em determinadas situações, como períodos inflacionários ou de mudanças radicais no mercado de trabalho”. Essa questão é bem atual, visto que este livro foi escrito em 2022, período em que o mercado está se recuperando da crise econômica gerada pela Pandemia da COVID-19. Considerando todas as mudanças que os cargos tiveram, tais como o aumento considerável de trabalhos realizados remotamente, ou em regime híbrido, fazer esse levantamento e atualizar a remuneração dos colaboradores confere à empresa o equilíbrio de suas políticas de gestão de RH. A próxima etapa consiste em calcular a curva básica de estrutura salarial que a empresa pretende aplicar. Ela irá determinar, calcular e analisar o grau de estrutura salarial que quer trabalhar, tanto em relação à amplitude, quanto a sobreposição dos graus de estrutura salarial a serem implementados na empresa. Feita a análise e avaliação dos cargos, realizada a pesquisa e determinada a estrutura salarial do PCS, a próxima etapa consiste em criar políticas salariais e de remuneração. 40 IMPORTANTE A política salarial deve apresentar o salário de admissão do colabo- rador, além das possibilidades de promoção tanto horizontal (por mérito) quanto vertical, em relação ao cargo. Um trabalho interessante, na revisão do PCS, diz respeito à reavaliação dos cargos e os reajustes salariais atualizados à realidade do mercado. É pertinente para a empresa inserir na política salarial os níveis hierárquicos formais da organização. Já a política de remuneração vai definir os adicionais salariais o pacote de benefícios da empresa. Ela vai indicar do que é composta a remuneração naquela empresa, tanto em relação ao salário quanto aos benefícios. Definida a política por meio da pesquisa salarial, a próxima etapa consiste em divulgar e aplicar o plano de cargos e salários. 2.1.4 Divulgação do PCS É interessante observar que a política salarial da organização fica dentro, natu- ralmente, da política de RH, e faz parte da estrutura salarial. A pesquisa salarial vai trazer o equilíbrio do salário com o ambiente externo, e avaliação e classificação de cargos traz o equilíbrio interno dos cargos e salários existentes na empresa (VIEIRA, 2015). A autora defende que, depois de realizada a política salarial, a próxima etapa consiste na divulgação e comunicação, momento em que a equipe de RH vai instruir os colaborado- res de possíveis dúvidas e esclarecimentos que sejam necessários. Divulgada a política salarial, a próxima etapa consiste no treinamento das lideranças, capacitando-os para utilizar o PCS em seus trabalhos, especialmente na avaliação de desempenho. 2.1.5 Aplicação do PCS Uma característica interessante, indicada Pontes (2021), do PCS é a delimitação da carreira profissional. A administração, e o plano de cargos e salários precisa ter a sucessão de cargos, divulgando as carreiras que a empresa oferece para os colaboradores e os programas de desempenho e de treinamento e desenvolvimento. No que tange a carreira profissional, o autor sugere que seja definido o planejamento de recursos humanos nesse sentido. Ainda que a empresa trabalhe com participação nos lucros ou resultados, bônus e comissões, o autor sugere que seja definida a estrutura do programa de modo que fique claro para o colaborador como ele funciona. 41 A avaliação de desempenho é uma etapa indicada por Moreno (2014) e Vieira (2015) para conferir a efetividade do PCS e indicar possíveis atualizações na descrição e análise de cargos realizadas. A avaliação visa medir o desempenho do funcionário diante dos requisitos apresentados anteriormente. É nesse momento que são conferidas as competências descritas no desenho do cargo, se estão sendo alcançadas ou se existe a necessidade de treinamento ou de desenvolvimento de pessoal. Analisando sob a perspectiva da área de RH, uma ferramenta interessante de avaliação diz respeito à avaliação funcional. Nas empresas que adotam sistemas de avaliação, a avaliação funcional deve estar viva e presente em suas atividades. Ela geralmente é coordenada pelo RHe considera, além do desempenho, a avaliação dos resultados e do potencial do colaborador (PAIVA, 2019). O interessante desse tipo de avaliação é a análise do comportamento que o trabalhador efetivamente realiza no exercício do cargo. ele pode ser feito por terceiros, como chefes de pessoas que ele tem contato no dia a dia, e pode ser feito pelo próprio trabalhador (autoavaliação). O RH, inclusive, pode se aproveitar dos resultados dessa análise para verificar como estão os seus resultados e para qual caminho deve seguir suas condutas. No trabalho de avaliação funcional, que pode utilizar diferentes métodos de coleta de dados, o RH precisa se atentar para o feedback dado ao colaborador, na intenção de motivá-los a continuar avaliando. Cabe ao RH fomentar um ambiente de confiança e de análise coletiva dos trabalhadores sobre aspectos como: motivação, comunicação, conflitos e liderança. O RH também deve promover um espaço para agendar, com os colaboradores, atendimentos os permitam esclarecer dúvidas, firmar acordos e realizar reajustes, caso necessário. O resultado da avaliação, quando divulgado, contribui para o andamento do trabalho do colaborador que consegue entender em que momento em que lugar dentro do plano ele está. Mais que isso: conforme indicado por Moreno (2014), a avaliação de desempenho feita a partir do PCS permite a descoberta dos gerentes de novos talentos ou a necessidade de recolocação ou desligamento do profissional. Ao final da aplicação, quando a empresa tiver estabelecido o PCS, o RH deve agir de maneira assertiva para que a gestão deste plano esteja em sintonia com o pla- nejamento estratégico empresarial. Por esse motivo, no próximo subtema estudaremos a gestão e o aprimoramento do plano de cargos e salários. 2.2 GESTÃO DO PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS Vale destacar que a motivação que fez a empresa tomar a decisão de criar um plano para administrar seus cargos e salários é um fator fundamental para o start desse trabalho. A equipe de RH, quando for produzir ou revisar o PCS, deve atuar em conjunto com o setor jurídico ou um consultor externo da área do Direito Trabalhista, e também 42 com a equipe do setor financeiro. Isso porque o plano deve ter previsão orçamentária para efetivamente funcionar na empresa. A motivação originária de trabalho de PCS deve ter argumentos convincentes indicando que aquele trabalho faz sentido. As forças de trabalho também precisam ser mobilizadas nesse sentido. É necessária uma união de esforços e objetivos dos líderes dos trabalhadores e dos gestores, de modo a estabelecer uma relação propícia a instalação do PCS. A negociação deve envolver, também, a apresentação clara e palpável daquilo que se pretende alcançar, ou seja, construir uma visão de onde a empresa pretende ir com essas ações. Fundamental, portanto, projetar a visão de alcance do trabalho com vistas a melhorias na gestão de pessoal. É interessante também mostrar as estratégias e ferramentas que podem ser utilizadas durante esse trabalho. O interessante do PCS é que ele incentiva o colaborador a ter autonomia e bus- car novas oportunidades dentro daquilo que foi estabelecido. Para as novas gerações, o PCS pode incentivá-los ao aprimoramento e a busca de novas competências. Ao apre- sentar o caminho em que aquele trabalho pode seguir, e a importância dele para as outras áreas, o PCS pode fomentar a equipe, motivando-a. IMPORTANTE O Plano de Cargos e Salários deve ser registrado internamente e preci- sa respeitar a legislação vigente relativa aos direitos dos trabalhadores. Direitos básicos, como a equiparação de salários independentemente do sexo, nacionalidade ou idade do empregado, e o respeito à antiguidade e merecimento na movimentação de pessoal, devem ser considerados quando criado e atualizado o PCS. O PCS também contribui para o controle dos processos empresariais, já que apresenta a descrição das atividades e a estrutura com que ele está ligado, facilitando a supervisão e o controle das tarefas executadas pela equipe. Além da gestão, é preciso aprerfeiçoar o plano de modo que ele seja assertivo e otimizador das demandas da equipe, por isso, no próximo subtema, falaremos das questões que devem ser consideradas quando se investe no aprimoramento do colaborador. 43 2.3 O APRIMORAMENTO DO COLABORADOR E O PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS O sucesso de uma empresa depende de alguns fatores. Pode estar ligado ao pro- pósito dos gestores, a uma liderança motivadora ou a uma equipe competente. Todos esses fatores, porém, dependem de uma característica-chave empresarial: a inclinação das pessoas à aprendizagem e à melhoria contínua. A aprendizagem, por sua vez, se não for adequadamente coordenada, pode gerar resultados negativos à empresa, ou opostos àquilo que era esperado. Quando o colaborador busca ascender à empresa, para além da experiência profissional, conhecimentos específicos podem ser cobrados. O PCS, quando institui o nível de escolaridade mínima ou qualificação para a área, está contribuindo para a qualidade do trabalho e serviço oferecido pela empresa. A iniciativa e o investimento de aprimoramento de competências podem vir do trabalhador ou do empregador. Cada vez mais cresce o investimento das empresas na educação corporativa. A educação corporativa oferece aprendizagens focadas em competências específicas de aprimoramento do colaborador especialmente para uso nas atividades dele junto a empresa. Dentre as práticas da educação corporativa há o treinamento e desenvolvimento de pessoal. Treinar é ensinar para funções e atividades específicas que o empregado pode estar tendo dificuldades, como uma função nova do software ou uma competência pessoal que está faltando-lhe, enquanto o desenvolvimento envolve um programa de longo prazo, com a aprendizagem de crescimento do profissional. Vejamos um exemplo do impacto do treinamento em cargos que tem atividades ligadas à manipulação de produtos delicados na área da saúde. Uma empresa que tem problemas, por exemplo, com a conservação dos produtos em função da má utilização dos materiais pelos colaboradores, pode aplicar um treinamento corporativo nesta área. Quando se está diante de organizações, como as de saúde, que trabalham com remédios e produtos esterilizados (que podem ser danificados a depender do estado da embalagem), a habilidade de manusear esses materiais adequadamente se faz de suma importância. Se aplicado um bom treinamento, a empresa terá impactos positivos na qualidade do trabalho da equipe, na diminuição de quebras de produtos e, consequentemente, na redução de custos empresariais. Assim, essa mudança impactará também os clientes, que perceberão o apreço da empresa pela qualidade dos produtos e a preparação da equipe para melhor atendê-los. A educação corporativa traz impactos positivos para as diferentes áreas organizacionais. Se bem aplicada, ela agrega valor ao cliente, o que pode se transformar em um diferencial competitivo da empresa. Seja no treinamento de processos operacionais ou em competências de gestão, investir na educação corporativa é uma predileção de empresas bem-sucedidas e um caminho para o crescimento organizacional. Para tanto, o desenho de cargo contribui ao conferir os requisitos de sucesso do setor e do cargo, o que facilita o trabalho do gestor e do RH na hora de sugerir melhorias de ensino. Além da gestão do PCS, estudá-los e acompanhar as novidades da área é essencial para um bom trabalho do RH. Assim, precisamos entender a administração de cargos e salários. 44 3 ADMINISTRAÇÃO DE CARGOS E SALÁRIOS Administrar cargos e salários, assim como implantar um Plano de Cargos e Salários (PCS), exige ações intencionais da empresa na promoção e retenção da equipe, além de investimentos na estrutura do RH. Quando a empresa fomenta a administração de cargos e salários, ela mostra que está considerando o RH em suas estratégias de crescimento, que os esforços despendidos pelas pessoas estão alinhadose contribuem para o desenvolvimento dos processos e da qualidade organizacional. Isso gera, por consequência, um amadurecimento profissional, que deve buscar o aprimoramento de suas especializações e o investimento em sua carreira. Sob a perspectiva da gestão salarial em empresas de grande porte, o RH precisa fazer um trabalho contínuo de respeito ético as informações individuais e tomar todos os cuidados para que dados e informações dos valores pagos ao funcionário não sejam divulgados. Nesse sentido, é comum que as empresas utilizem softwares, não só para proteger os dados, mas principalmente para facilitar o trabalho da equipe de RH na gestão de salários. Por isso, além do cuidado com os documentos físicos que o RH manipula na empresa, a empresa também precisa investir na segurança dos dados digitais de modo a garantir o anonimato das informações. Quanto ao clima e cultura da organização diante dos salários pagos a sua equi- pe, é fundamental que o RH adote estratégias para lidar com conflitos de interesse. Isso também se aplica à gestão dos cargos e às disputas decorrentes deles, disputas essas relacionadas ao aumento do seu poder e influência ou para delegar responsabilidades. Por ter a possibilidade de galgar melhores posições, a ambição para conseguir melhores cargos e salários é uma questão corrente nessas empresas. Nesse sentido, o RH deve direcionar essa sede de novos caminhos, aproveitando a motivação e força de vontade do trabalhador, a favor da empresa. É um trabalho interessante, nesse sentido, além do estabelecimento e disseminação das políticas de RH, a transparência das ações de promoção e realocação de pessoal. Mais uma vez, o PCS pode contribuir para o RH por meio da transparência da movimentação de pessoal, indicando os pré-requisitos para a ascensão do cargo e salário. Empresas que trabalham com um grande número de trabalhadores podem ter problemas com o clima e cultura organizacional, enquanto empresas de pequeno porte costumam enfrentar dificuldades com o estabelecimento dos papéis e responsabilidades de seu pessoal. É muito comum, em algumas regiões, a existência de empresas familiares e uma das grandes dificuldades de gerir essa equipe está voltada, além das questões comportamentais, às atribuições de cada pessoa. Por ter uma proximidade pessoal, a empresa familiar muitas vezes tem conflitos acerca das funções e responsabilidades de cada um. Normalmente isso acontece porque os cargos não estão bem definidos, o que pode gerar retrabalho ou grandes falhas na tomada de decisão. 45 Tanto na empresa de pequeno porte quanto nas de grande porte, é preciso que o RH tenha uma unidade de trabalho. Normalmente nas pequenas empresas é sugerível a elaboração de fluxogramas dos cargos para encontrar as falhas e disputas de comando, enquanto, nas de grande porte, é interessante que o RH realize trabalhos que visem o fortalecimento da estratégia adotada pela equipe diante dos conflitos de interesse. Os cargos e salários podem contribuir especialmente para o atendimento das necessidades da equipe em conseguir sucesso profissional. Para tanto, a gestão de RH pode implementar a avaliação funcional, que deve instigar e orientar o trabalho da equipe para esse caminho. Outra preocupação do trabalhador está relacionada à área de relacionamento interpessoal. Desde os primeiros estudos de administração, com a análise de Mayo, sabe-se que a realização no âmbito pessoal, de comportamento, impacta nos resultados do trabalho. Para isso, o RH pode adotar premiações, individuais ou coletivas, que demonstrem a aceitação e o pertencimento daquela pessoa diante do grupo de trabalho que ela convive. Na busca de poder, os trabalhadores procuram influenciar o comportamento dos outros por meio da posição que eles ocupam, ou seja, do seu cargo dentro da hierarquia organizacional, ou por meio da influência de sua liderança (para além da hierarquia formal). A gestão de RH pode conduzir melhorias por meio do estabelecimento de planos de carreiras, do fomento à liderança e pelo apoio ao crescimento profissional dos trabalhadores dentro daquela empresa. Nessas três principais necessidades, de poder, afiliação ao grupo empresarial e de conseguir o sucesso profissional, o PCS pode contribuir. GIO Você acredita que a associação de salários fixos aos cargos em- presariais aumenta ou reduz a motivação do colaborador em busca de crescimento profissional? O plano de cargos e salários é um trabalho complexo que vai exigir esforços de todos da equipe, mas especialmente dos profissionais de RH. Ele também vai exigir um trabalho intenso de pesquisa desses profissionais e a colaboração da alta direção. Por esse motivo, levantamos alguns questionamentos: o quanto se pode mudar depois de instituído o PCS? Como o PCS vai impactar nos resultados das pessoas e da empresa? O estabelecimento do PCS aumenta ou diminui a disputa de novos cargos e salários? Vamos analisar com atenção essas questões. 46 Depois de instituído o PCS, a tendência é que os trabalhadores saibam quais são as possibilidades de direcionamento naquela empresa. Ele consegue entender onde ele está, do contexto dos cargos existentes e qual a sua importância no grupo ocupacional, além disso, ele é instigado a unir seus objetivos pessoais aos objetivos da empresa. Isto fomenta o sentimento de pertencimento daquele colaborador, o que impactará positivamente na redução da rotatividade de pessoal. Em contrapartida, o RH precisa considerar o PCS dentro das suas ações na empresa de modo que ele seja efetivo e que acompanhe as tomadas de decisão de seu trabalho, inclusive a título de autoavaliação. Ele precisa, também, atualizá-lo recorrentemente para que o PCS se mantenha alinhado com os objetivos de curto prazo e o planejamento estratégico da empresa. A decisão de adotar o PCS deve ser feita com cautela, visto que sua aplicação interfere na cultura e motivação da empresa. O que pode ser considerado um benefício pelo colaborador, pode também gerar uma certa inflexibilidade da equipe para aceita suas modificações ou, pior, a desmotivação caso a empresa opte posteriormente por não mais adotar o PCS. No que tange a disputa de novos cargos, ou melhores salários, o PCS instrui e orienta os trabalhadores dos caminhos a serem perseguidos para conseguirem seus objetivos. O interessante do PCS é que ele conecta os desejos do colaborador com as metas e objetivos da empresa. Do mesmo modo, o PCS ajuda na tomada de decisão do trabalhador caso ele não se encaixe nas oportunidades presentes na empresa. Ao adotar o PCS, a tendência é que a empresa consiga construir uma relação fortalecida com o empregado, liderando especialistas em formação e reduzindo a rotatividade, o que é essencial especialmente em profissões com mão de obra escassa. O PCS também oferece uma equidade de oportunidades, já que, quando divulgado, ele indica requisitos que estão em ofertas para todos os colaboradores que ali trabalham. Esse programa ajuda a empresa a justificar as diferenças salariais e é um ponto crucial para fazer uma boa gestão de salários e uma boa gestão de carreiras. Nos estudos da área, quando falamos de administração de cargos e salários, estamos nos referindo especialmente de: desenho e descrição do cargo, pesquisa e estrutura salarial. Além dos termos Plano de Cargos e Salários, você também pode encontrar o termo Plano de Cargos, Carreira e Salários (PCCS). Vale destacar que o PCS solidifica as estruturas hierárquicas, o que, em alguns casos, não é interessante. Existe uma tendência no mercado, diante das mudanças de relacionamento entre empregador e empregado, de reduzir a hierarquia e desvincular o cargo ao salário. Há um forte viés de metodologia de trabalho do RH que ruma à remuneração atrelada ao trabalho efetivo e aos resultados que o trabalhador oferece para a empresa. Nesses modelos, o RH tem a função essencial de coordenar os sistemas de avaliação que recompensarão o trabalhadora partir do seu esforço dispendido a ele. Esse trabalhador tem o seu desempenho gerido individualmente, embora considere, 47 também, o seu papel dentro da equipe que pertence. Essa nova estrutura defende o atravessamento dos cargos que devem ser analisados a partir das atividades que são empreendidas para entregar um produto ao cliente. A estrutura remuneratória desvinculada do salário afixado a partir do cargo vai depender dos sistemas de trabalho adotados pela empresa, podendo ser um sistema de gestão por competência, de gestão por processo, por projetos ou outro. A proposta de gerir cargos e salários intenta unir objetivos, esforços. Quanto mais alinhadas estiverem as expectativas dos colaboradores com as demandas da empresa, mais resultados a equipe conseguirá. Quando a demissão, por exemplo, acontece recorrentemente na empresa, mais a empresa perde com os investimentos imputados no capital humano, maiores também as perdas de conhecimento e técnicas de trabalho, além da perda de credibilidade junto as pessoas interessadas na empresa. Nesse sentido, é interessante que o RH tenha ciência das possibilidades que podem atenuar o impacto do programa de demissões da empresa. Algumas dessas opções estão relacionadas à realocação de pessoal dentro da empresa. Existem diferentes maneiras para realocar pessoas em seus cargos, vejamos algumas delas. Uma estratégia de gestão de cargos consiste na utilização da rotação de cargos. A rotação de cargos permite que o colaborador trabalhe em diferentes setores por algum tempo por meio da experimentação de diferentes cargos na empresa. Dessa maneira, ele consegue vislumbrar e escolher aquele que mais se adéqua as suas aptidões e objetivos. Naturalmente, esse projeto requer cautela, já que há riscos envolvido no processo. A equipe de RH que administra os cargos e salários deve instituir, que para que isso aconteça sem maiores riscos, um acordo (preferencialmente registrado por meios oficiais) com o trabalhador e, dependendo do grau de institucionalização desse processo, uma política de trabalho que apresente os direitos e responsabilidades envolvidos durante o processo de rotação de cargos. Um resultado interessante gerado pela rotação de cargos diz respeito à ampliação da visão da empresa pelo colaborador. Quando o empregado vive, na prática, o trabalho dos diferentes setores da empresa, ele consegue aprimorar a visão sistêmica dos papéis de cada pessoa dentro dela. Assim, é provável que haja uma melhoria na qualidade do seu trabalho, vindo do que ele aprendeu na prática, o que produz impacto nos produtos dos seus processos que serão repassados a outros departamentos. Ao analisar os processos e os resultados que a empresa movimenta, o colaborador pode ser impulsionado a descobrir novos sentidos sobre as pessoas, seus trabalhos e o papel da organização em suas atividades. Desse modo, o trabalhador consegue informações coesas das atividades e os cargos que a empresa oferece. Outra interessante tática de movimentação de pessoal é por meio da extensão do cargo. o RH, em parceria com o profissional, pode ir inserindo novas tarefas de outros cargos (tarefas simples, mas que demonstrem como é a vivência daquela função) para que o trabalhador consiga decidir sobre a promoção ou mudança de função. 48 Naturalmente, para fazer esse trabalho, é preciso um monitoramento constante e a ciência, acordo, do profissional que está testando essas novas tarefas. Vale comentar que a movimentação mais usual consiste na ampliação do cargo incluindo novas tarefas e responsabilidades ao profissional que já trabalha naquela área. Querido acadêmico, você deve ter percebido que, enquanto o Tema de Aprendizagem 1 desta unidade trouxe questões mais conceituais, este tema apresentou a aplicação daqueles no PCS. O Plano de Cargos e Salários, como você viu, tem o objetivo de agregar valor e traz uma estrutura de trabalho concisa que pode otimizar, de modo fundamental, a gestão de cargos e salários na empresa. Este tema traz a estrutura do plano de cargos e salários, a saber: planejamento do trabalho, descrição, especificação e análise do cargo, pesquisa e política salarial, além da divulgação e aplicação do PCS. Por meio da apresentação dessa estrutura, você tem condições de avaliar e, quando interessante para a organização, produzir a viabilidade de implantação do PCS para apresentação aos diretores e sócios empresariais. Feita a estrutura do plano, o estudo segue para a próxima etapa do trabalho do RH, que consiste na gestão do plano de cargos e salário. A gestão de PCS também atua em sintonia com os investimentos em aprimoramento das funções dos colaboradores, por esse motivo você estudou a educação corporativa. Considerando que a movimen- tação de pessoal interfere na gestão de PCS, você estudou dois tipos de movimentação de pessoal: rotação de cargos e a extensão de cargos. Neste momento, encerramos o Tema de Aprendizagem 1 desta unidade, esperamos que você tenha aproveitado o material e aprofundado seus conhecimentos na área. Não esqueça de treinar seus co- nhecimentos mediante a realização das autoatividades. 49 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • A estrutura do Plano de Cargos e Salários. • Os benefícios e as dificuldade ao gerir o Plano de Cargos e Salários. • O papel do profissional de RH na gestão de cargos e salários. • Os tipos de movimentação de pessoal. 50 AUTOATIVIDADE 1 Cada vez mais as organizações se dão conta da importância de investir no capital humano para poderem evoluir e competir com seus concorrentes. A tendência de uma governança que tem por base princípios transparentes e confiáveis está também cada vez mais vigente. Acerca da transparência de movimentação de pessoal nas organizações, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Depois de instituído o Plano de Cargos e Salários, a tendência é que os trabalha- dores saibam quais as possibilidades de direcionamento para aquela empresa. b) ( ) Não é interessante para as organizações privadas promover a transparência da movimentação de pessoal, isto é uma decisão da gestão, apenas. c) ( ) O gestor de RH precisa se atentar para que os requisitos de movimentação de pessoal não sejam divulgados pela empresa, é preciso discrição nesse trabalho. d) ( ) Apesar de interessante, o Plano de Cargos e salários não contribui para a transparência dos requisitos necessários para a movimentação de pessoal nos cargos empresariais. 2 A descrição do cargo no PCS é organizada por meio de uma descrição sumária e uma descrição detalhada. A descrição sumária é um resumo das atividades que a pessoa que ocupa o cargo realiza (ou deveria realizar). Uma fonte confiável e importante para conseguir informações dos cargos e ocupações é a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Com base nas orientações acerca das informações que o profissional de RH consegue coletar na CBO, analise as sentenças a seguir: I- A CBO traz informações dos títulos atrelados à ocupação e o código do cargo utilizado nos registros oficiais. II- É possível consultar na CBO informações das condições gerais do exercício (em quais áreas atua, os vínculos que geralmente estão associados às empresas, dentre outros). III- A CBO fornece informações dos valores salariais praticados pelo mercado, divididos por ramos do mercado. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 51 3 São consideradas fases importantes no momento da análise do cargo: a coleta de dados, a sua descrição e especificação, a atenção à titulação do cargo, a verificação da classificação dos cargos conforme os grupos ocupacionais e a análise do catálogo dos cargos existentes na empresa. De acordo com as orientações acerca das informações que devem ser colhidas a depender da especificação do cargo, classifique V paraas sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Na especificação de dados do cargo que exige esforço físico, este pode incluir posições incômodas na hora do trabalho ou o carregamento de peso de maior intensidade. ( ) A necessidade de especificação de informações para cargos de responsabilidade do numerário, ou de valores monetários, está atrelada à necessidade do cargo de trabalho mental. ( ) A necessidade de especificação de informações para cargos de responsabilidade do numerário, ou de valores monetários, está atrelada à guarda e ao manuseio de dinheiro. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Na pesquisa salarial, deve-se escolher primeiramente os cargos e as empresas que serão pesquisadas. Os cargos amostrais devem representar o nível ocupacional a que ele faz parte, o seu setor e que tenha informações disponíveis no mercado. Já as empresas amostrais, geralmente entre 10 e 20 empresas, é necessário escolher aquelas que trabalham no mesmo local, com tamanhos próximos, que atuam no mesmo ramo e com diferentes políticas salariais. Para tanto, é interessante elaborar um manual de coleta de dados que instrua essa função. Disserte sobre algumas informações que o manual de coleta de dados deve ter para auxiliar na pesquisa junto das empresas e da análise dos cargos. 5 Administrar cargos e salários, assim como implantar um Plano de Cargos e Salários (PCS), exige ações intencionais da empresa na promoção e retenção da equipe, além de investimentos na estrutura do RH. Esse trabalho costuma gerar um amadureci- mento profissional da equipe, que deve buscar o aprimoramento de suas especializa- ções e o investimento em sua carreira. Neste contexto, disserte sobre os benefícios do Plano de Cargos e Salários, e da Gestão de Cargos e Salários, em pequenas e grandes empresas. 52 53 TÓPICO 3 - CARREIRA EMPRESARIAL 1 INTRODUÇÃO Cada vez mais as empresas têm percebido o impacto das ações da gestão de pessoas nos resultados da empresa. Fica mais claro com o tempo a necessidade de reter talentos e de estruturar o trabalho do RH de modo que o colaborador tenha uma relação saudável e produtiva com a empresa. A tendência nas organizações é entender que, por exemplo, a ascensão dos colaboradores na empresa deve ser feita com intenção, visando objetivos que vão ao encontro das estratégias empresariais. Nesse sentido, uma atividade pertinente ao RH e que pode contribuir para a redução da rotatividade e motivação dos esforços humanos consiste na construção de planos de carreira. Para tanto, precisamos, inicialmente, conhecer as concepções que regem o tema carreira. Caro acadêmico, no Tema de Aprendizagem 3, abordaremos os assuntos gestão de carreira e planos de carreira. Iniciaremos seus estudos com as concepções fundamentais de carreira, incluindo o conceito de carreira atrelado a uma empresa e à vida de uma pessoa. Dentro das definições, você conhecerá a concepção sob o viés da pessoa e sob o olhar da organização. Para isso, você conhecerá as responsabilidades da empresa na gestão de carreiras e o papel do profissional nesta. Dentro dela, você entenderá o papel do RH na gestão de carreiras. Esta disciplina se concentra na análise da carreira empresarial, por isso é analisada a percepção das diferentes gerações acerca das carreiras que as empresas oferecem aos trabalhadores. Outra análise relevante diz respeito às possibilidades de atuação do RH para reter e desenvolver talentos na empresa. Depois de levantadas as definições iniciais e as perspectivas da gestão de carreiras, com foco na atuação do RH, você terá ciência dos benefícios e importâncias de a empresa empregar planos de carreira. Veremos, neste tema de aprendizagem, três tipos de estruturas de carreira: carreira em linha, em Y e em W. Conheceremos, por fim, algumas tendências na área da gestão de carreiras, tais como o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) e o plano de sucessão. Vamos começar? UNIDADE 1 54 2 CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE CARREIRA Uma organização oferece diferentes apoios e incentivos para as pessoas seguirem frequentando seus espaços. A mobilização de esforços é uma máxima de atenção do RH, sendo um trabalho muitas vezes negligenciado pelas empresas que a consideram uma grande fonte de custos. A disputa de pensamento dos gestores corporativos sobre a gestão de pessoal ser custo ou investimento é antiga, mas se posicionar diante de situações vivenciadas pela empresa, tomando ações ao encontro (ou não) do envolvimento e investimento na equipe é um exercício constante. Quando a empresa opta, por exemplo, em criar planos de carreira, ela está passando uma mensagem para a equipe e para as pessoas interessadas na empresa quanto a sua estratégia de trabalho. Não ter um departamento de RH também diz muito sobre a empresa. Vimos que a gestão de cargos e salários pode ser intencional, indicada pela empresa por meio do Plano de Cargos e Salários. Nesse sentido, um conceito fortemente atrelado à movimentação de cargos e de responsabilidades diz respeito à carreira profissional. Considerado um processo natural de quem está atuando profissionalmente, a carreira profissional diz respeito ao caminho que o trabalhador segue rumo ao crescimento de sua ocupação, ou ao reajuste de suas competências. Bom, isso é o que normalmente acontece. A ressalva de que nem sempre os trabalhadores querem alavancar suas carreiras em direção à ascensão hierárquica, ou nem sempre querem buscar novas responsabilidades, vem de Robbins (2003). É interessante perceber que o olhar do RH deve contemplar as particularidades do trabalhador, e não deve supor que todos querem novos desafios, novas responsabilidades. Ainda que se invista em ofertas de oportunidades, o gestor de RH deve ter em mente de que alguns trabalhadores têm suas necessidades satisfeitas para além do ambiente de trabalho e que não buscam uma movimentação dentro dela. Robbins (2003, p. 130) explica que “Para muitas pessoas, o trabalho é algo que nunca as estimulará ou desafiará. E elas não esperam encontrar suas oportunidades de crescimento no trabalho”. IMPORTANTE No sentido da palavra, carreira está atrelado ao caminho percorrido. No ambiente de trabalho, carreira se liga a ideia de profissão ou percurso profissional (CARREIRA, 2022). Carreira, portanto, diz respeito à trajetória dos trabalhadores diante de suas profissões e atribuições. 55 Conceitualmente, a carreira é a sucessão de experiência que uma pessoa vivencia no ambiente de trabalho. Dias (2022) traz a noção de carreira de forma mais abrangente, entendendo que a carreira é a sequência de momentos dos quase a pessoa se dedica ao trabalho. Ela está conectada ao papel que a pessoa assume na sociedade, podendo promover sua autorrealização, a prática de sua vocação ou para atender suas demandas. Perceba como esse conceito comprova os pressupostos iniciais de que uma pessoa participa de diferentes organizações. É por meio dessas organizações que a pessoa consegue assumir esse papel a que o autor fala. Além disso, o conceito também se vincula aos aspectos motivacionais do trabalhador, rumando a autorrealização, que podem se efetivar por meio do trabalho da pessoa. Dias (2022) entende que a carreira está incorporada ao ciclo de vida natural de um indivíduo. A fim de explorar as concepções de carreira, veja no Quadro 5 um resumo de estudiosos da área. Quadro 5 - Concepções de carreira Concepção de Carreira – Pessoa Concepção de Carreira – Organização Autor e Ano Sequência de posições ocu- padas e trabalhos feitos na vida profissional. Políticas, procedimentos e de- cisões ligadas à carreira da pes- soa na empresa. London e Stumph (1982) Sequência de experiências profissionais que altera a percepção da pessoa sobre os outros, as organizações e a sociedade. Oferece apoio e condições para uma relação de crescimento mútuo deexpectativas. Arthur, Hall e Lawrencer (1989) Sequência individualmen- te percebida de atitudes e comportamentos associada a experiências de trabalho e atividades durante a vida de uma pessoa. Pode se referir à história de uma pessoa em um papel particular ou status, independentemente do trabalho. Hall (2002) Fonte: adaptado de Veloso, Dutra e Nakata (2016, p. 90) O Quadro 5 mostra três concepções de carreira e as divide sob a percepção da pessoa e da organização. Considera-se a percepção da organização como uma percepção objetiva de carreira, pois leva em conta os aspectos internos, a estrutura que a organização pode oferecer ao indivíduo. Dentro dessa estrutura, é levado em consideração o papel que ela exerce, suas responsabilidades e, nos casos empresariais, seus cargos e remunerações. A concepção da pessoa sobre a carreira, por sua vez, é mais subjetiva. Isso porque seu valor pode variar a depender das características pessoais e das mudanças que a sociedade imprime a esse aspecto ao longo dos anos. 56 Vejamos com atenção os tópicos apresentados no Quadro 5. Na concepção de London e Stumph (1982 apud VELOSO; DUTRA; NAKATA, 2016), a carreira sofre influência do ambiente em que a pessoa está inserida e das cobranças que a pessoa faz sobre seu trabalho, eles associam carreira à ideia de movimento e de imprevisibilidade. Já Arthur, Hall e Lawrencer (1989 apud VELOSO; DUTRA; NAKATA, 2016) consideram que a carreira vai interferir na percepção que a pessoa interage com a sociedade. Os autores inserem o conceito de organização dentro do conceito de sociedade, cabendo à pessoa gerir seu desenvolvimento, a competitividade na profissão e a sua carreira. Hall (2002 apud VELO- SO; DUTRA; NAKATA, 2016) abrange o conceito de carreira a quatro sentidos: • a carreira é composta de avanços na hierarquia da organização, efetivadas por promoções; • a construção da carreira está atrelada às profissões que permitem progredir seu status; • sequência de trabalhos, todas as pessoas que já tiveram algum tipo de trabalho têm carreiras, carreira é uma série de posições ocupadas; • a maneira como a pessoa vivencia sua história de trabalho. Hall (2002 apud VELOSO; DUTRA; NAKATA, 2016) indica, portanto, que ele considera carreira como o papel que alguém assume em diferentes lugares. Esse conceito é interessante porque dissocia a ideia tradicional de carreira ao ambiente empresarial. Como exemplo, o autor cita o papel de dona de casa, de paciente em um hospital ou de membro de uma associação sem fins lucrativos, ou seja, ele abrange o conceito ao papel da pessoa na organização, e não apenas à empresa. Vimos que a gestão de carreira pode ser vista sob o viés da empresa e da pes- soa, ambas têm papéis e responsabilidades sobre a carreira empresarial. Vamos analisar com atenção essas responsabilidades no próximo subtópico. 2.1 RESPONSABILIDADES NA GESTÃO DE CARREIRAS Neste momento é importante destacar que a carreira, como indica Paiva (2019), pode ser planejada ou não pelo profissional. O interessante é que haja uma coerência nas experiências das atividades do colaborador. Isso porque, pensando na gestão de cargos e competências, entender a trajetória da pessoa ao adentrar na empresa, permite que o RH consiga ajustar ou reconfigurar as características pessoais da pessoa à cultura do setor e da equipe. Além disso, o RH pode remanejar os talentos para aproveitar toda a experiência anterior do colaborador na estrutura que já existe dos cargos organizacionais. Você já ouviu dizer que existem empresas que preferem contratar pessoas sem experiência profissional? Ao fazer isso, algumas empresas querem evitar que o profissional tenha “vícios de comportamento”. Isso porque quando algum profissional vem com um vasto currículo, ele descobre alguns truques e maneiras de lidar com as situações que o cargo demanda, mas a empresa, ao preferir pessoas sem experiência, 57 demonstra que quer investir em um novo jeito de lidar com essas situações. Além disso, fica mais fácil orientar uma nova cultura e carreira empresarial, que pode ser oferecida pela organização, quando o trabalhador não está aprendendo o ofício. Naturalmente, ao introduzir um novo colaborador sem experiência à empresa, há um risco grande de erros e aprendizagens que serão acumulados. Custos com melhorias e aperfeiçoamentos podem ser necessários. Outra questão atrelada à admissão, é a separação desta a um cargo específico, mas ligada à sugestão de novas carreiras oferecidas pela empresa. Vemos cada vez mais as empresas contratando pela postura e comportamento da pessoa diante dos desafios e cultura empresarial do que em relação à carreira que a pessoa possui no cargo ou no setor. Desafio você a procurar uma vaga de emprego de grandes empresas e analisar como está organizada a divulgação dessa vaga. Você vai perceber o grande número de informações da empresa e o que ela espera em relação ao perfil profissional do que informações do cargo e das atividades empresariais. Há empresas, inclusive, que fazem o processo de seleção, não pensando no cargo que a pessoa se candidatou, mas ao reaproveitamento de suas competências para outras posições vagas. Isso porque a gestão de carreiras se vincula ao nível de complexidade das atribuições e responsabilidade, aos requisitos de acesso e as competências individuais do trabalhador (TAKAHASHI, 2015). Na análise da gestão por competências, a autora destaca que, na medida em que o conjunto de capacidades aumenta, os desafios e responsabilidades também crescem. Mais que isso: o bem-estar, a fluência e a efetividade do trabalho estão ligados à superação do colaborador ao medo, à ansiedade, frustrações e aborrecimentos. Vieira (2015) afirma que a base do plano de carreiras está na gestão dos cargos e salários estabelecidos na organização. Quando, por exemplo, a empresa adota o Plano de Cargos e Salários, ela tem bem definido os papéis das organizações, as faixas salariais de cada cargo e função, a hierarquia e cargos-chave na empresa, o que contribui para planejar as carreiras de sua equipe. A carreira acontece a partir do estabelecimento e alcance de requisitos e metas pessoais e profissionais, por isso ela geralmente vem acompanhada de um plano. A hierarquia está, sim, presente na maioria das carreiras, mas é preciso analisar o que pode destoar da estrutura de capacidades das pessoas. O que pode acontecer é de trabalhadores buscarem o caminho mais curto para ascender hierarquicamente. Para esses casos, um plano de carreiras bem definido e claro para a equipe pode contribuir para entender a posição em que a pessoa está e oferecer segurança e respeito à senioridade e acúmulo de conhecimentos agregados aos demais profissionais da equipe. Quando se adota um plano de carreira, a empresa tende a apresentar maior isonomia em seu processo de crescimento profissional. Isso porque ela deixa claro quais requisitos adota para ascender em sua empresa. Problemas como a desigualdade de 58 oportunidades em função de características pessoais, tais como gênero e parentesco familiar, com a alta direção, se a cultura for favorável ao respeito e a prática da gestão de carreiras, tendem a diminuir. Nesse sentido, é interessante para o RH entender as nuances da área, especialmente a percepção geracional sobre carreira profissional e a gestão de carreira de pessoas talentosas. Vamos analisá-los com atenção nos próximos subtemas. 2.2 A PERCEPÇÃO GERACIONAL SOBRE CARREIRA PROFISSIONAL O RH tem o que parece ser um grande desafio pela frente: reter pessoas com grandes capacidades de produtividade e de sucesso profissional na empresa. Isso porque os anseios e expectativas das novas gerações vão de encontro aos anseios das gerações anteriores. Veloso, Dutra e Nakata (2016) comprovam isso por meio da pesquisa realizada com 123.445 pessoas de 491 empresas brasileiras. Antes de estudarmos a pesquisa, é importante definirmos alguns conceitos relacionadosao grupo de geração das pessoas utilizados nesta pesquisa. Na pesquisa, pessoas que nasceram entre 1946 e 1964 são chamadas de baby boomers. Pessoas que nasceram entre 1965 e 1977 são consideradas da geração X e não há distinção entre as gerações Y e Z, já que eles associam essas gerações às pessoas que nasceram de 1978 em diante. NOTA O uso dos termos geração X, Y, Z, baby boomers e millenials se tornou po- pular nos últimos anos. Não há um consenso dos pesquisadores quanto a data exata em que uma termina e a outra inicia. O que é comum encontrar nos estudos é que: a geração baby boomer é composta de pessoas que nas- ceram antes dos anos 1960, a geração X é aquela que nasceu entre os anos 1960 e 1980, a geração Y, ou geração millenials, é aquela que nasceu após 1980 até nos anos 2000 e geração Z aquelas pessoas que nasceram entre os anos 2000 até 2010. Quem nasceu a partir de 2010 é considerado como geração alpha. Os autores descobriram que pessoas da geração X têm maior preocupação com o significado do trabalho para a vida delas. Grande parte das pessoas dessa geração que responderam à pesquisa, dizem que gostam do que fazem hoje e que percebem que o seu trabalho é importante para o sucesso da empresa. Eles conseguem encontrar sentido em seu trabalho também perante a sociedade e associa trabalho à segurança e tranquilidade. Os baby boomers, apesar de uma grande parte deles estar aposentada, 59 percebe o trabalho como uma oportunidade de conseguir segurança e tranquilidade para manter sua família e suas necessidades. Essa percepção não está relacionada à possibilidade de crescimento e desenvolvimento de sua carreira profissional (VELOSO; DUTRA; NAKATA, 2016). Já as gerações Y e Z, ou seja, as pessoas nascidas a partir de 1978, relacionam mais fortemente a motivação no trabalho com suas possibilidades de crescimento na carreira. Essa geração também está preocupada em conseguir novos conhecimentos para aplicar no ambiente empresarial, acrescendo valor ao seu trabalho na medida em que percebe as possibilidades de crescimento profissional (VELOSO; DUTRA; NAKATA, 2016). Um fator interessante na análise geracional diz respeito ao impacto que a pandemia terá nessas duas últimas gerações, Y e Z. A geração Y está em plenos pulmões do trabalho, são pessoas que atualmente, em 2022, estão na faixa dos 30 e 40 anos, e puderam ver as mudanças da tecnologia e do mercado durante as novidades e situações vivenciadas pela sociedade. A Geração Z, por sua vez, composta de pessoas de até 22 anos, são pessoas que estão adentrando no mercado, mas já vislumbram novas perspectivas de carreira. Isso porque as gerações anteriores estão mais acostumadas com cargos tradicionais, geralmente alcançados por meio do aprimoramento do currículo, existindo a necessidade, muitas vezes, de cursos de formação ou de experiencias profissionais. Já a geração Z está mais propensa a criar novos cargos e carreiras, desvinculando-se da ideia original de funções estáticas conquistadas por meio de cursos formais ou em empresas tradicionais. Não é tão habitual vermos pessoas com 40 anos, por exemplo, dizendo que sonha ser youtuber, influenciador ou gamer profissional. Na geração Z e na alpha isso já é mais recorrente. A partir disso surgem grandes desafios para o RH, que vai precisar reter os talentos da nova geração e os instigar a buscar a educação continuada. É interessante perceber que, a partir das mudanças geracionais, novos cargos e posições empresariais podem surgir. É provável também que os requisitos do cargo se alterem, fazendo a exigência de formação ao longo de sua carreira, depois de o colaborador estar admitido na empresa. Isso porque, considerando que as novas gerações não buscam cargos tradicionais, como Advogado e Administrador, é provável que a quantidade de profissionais com formações em cursos tradicionais, em áreas específicas de trabalho, seja reduzida. Outra grande questão voltada ao desafio do RH diante das características da nova geração diz respeito a estrutura de carreira vertical. A geração Z e alpha não se ajustam à ideia de posição hierárquica. Nesse sentido, atualmente algumas áreas de RH já vivenciam a gestão de conflitos geracional, visto a diferença entre eles, e muitas terão que modificar sua forma de trabalho, oferecendo autonomia e formações de menor tempo para os novos profissionais que adentram no mercado. O que vemos atualmente é uma tendência de os trabalhadores buscarem des- vincular a carreira a apenas uma empresa. Eles constroem a carreira independente- mente da organização que estão. Diferentemente das pessoas acima de 40 anos, os 60 jovens buscam projetos específicos de aprimoramento e querem ter seu propósito atre- lado ao trabalho que executa. Enquanto as gerações anteriores muitas vezes poderiam desvincular sua satisfação pessoal com o trabalho, as novas gerações acreditam que o trabalho é uma extensão de suas características particulares. Eis outro motivo do porquê os RH estão cada vez mais colocando informações da missão e propósito da empresa e menos dos requisitos do cargo nas divulgações das vagas. Visto que as novas gerações não têm um vínculo tão forte com apenas uma empresa, cabe ao RH apontar novos desafios e transparecer as possibilidades de carreira e autonomia que esse pode alcançar. As novas gerações são mais dinâmicas, questionadoras e complexas, por isso criar uma carreira que aproveite essas características pode ser uma boa opção para a gestão de pessoas. Além das variações da geração, a disparidade de resultados por pessoas talentosas deve ser considerada na gestão da carreira. Analisemos, no próximo subtema, esse aspecto. 2.3 A GESTÃO DE CARREIRA DE PESSOAS TALENTOSAS O RH precisa estar atento aos potenciais talentos que estão interessados na empresa. Para isso, investir na educação corporativa dos líderes para identificar talentos pode ser uma ótima tática. Quando o RH se torna excessivamente burocrático ou toma como estático o plano de carreiras, sem olhar as particularidades das pessoas, as chances de perder talentos é grande. É preciso que o RH potencialize os talentos das pessoas e invista em treinamentos e mentorias. A empresa que quer potencializar talentos, precisa conferir estratégias de novos desafios e fomento ao sentimento de pertença. Uma opção que o RH pode adotar para a retenção de talentos consiste na aceleração da carreira de líderes. Há um pensamento em comum da área que entende que um talento não insiste ou cobra com frequência sua promoção. Vendo que ali ele não está recebendo a atenção ou a recompensa que merece, ou seja, quando o talento acredita que há um desequilíbrio entre sua capacidade de trabalho e sua remuneração, os potenciais talentos geralmente pedem seus desligamentos e procuram outras oportunidades fora da empresa. GIO Sabe aquele trabalhador que está no RH sempre reclamando que não é valorizado, que precisa receber mais? Bom, é provável que ele não seja um talento. Pessoas talentosas, quando sabem do seu potencial, acham mais fácil procurar uma oportunidade fora dessa empresa na qual possa evoluir na sua carreira do que insis- tir na empresa que não a valoriza. Por isso, a necessidade de o RH encontrar e reter esses talentos, mostrando seu valor para a em- presa de diferentes maneiras (por premiações, bônus, aceleração de carreia, entre outros). 61 Outra opção de retenção de talentos consiste em investir em mentorias e em programas de educação profissional. É preciso que haja espaço para inovar e aprender, por isso a mentoria e desenvolvimento de talentos pode ser uma boa opção para a manutenção do talento e o crescimento desse na carreira em voga na empresa. Stadler e Pampolini (2014, p. 117) explicam que “[...] a dinâmica de identificação e da disseminação das competências entre os talentos, a partir das necessidades organizacionais, cria um círculo virtuoso e desejado, que culminará na gestão e na retenção de talentos”, ou seja,uma organização de alta performance desenvolve competências que passa a reter talentos (pessoas engajadas e comprometidas). É fundamental que a gestão de RH se atente à preparação dos gestores e líderes para identificar talentos. Mais que isso: é indicado que o RH estabeleça espaços de comunicação que sinalizem as ações transformadoras e de influência da equipe. Quando há esse canal de comunicação e a cultura se habitua a ter uma relação mais próxima com o RH para dar feedbacks positivos, a tendência é que se perceba os potenciais e áreas-chave que podem ser remuneradas ou reposicionadas da melhor maneira. Na concepção tradicional, a carreira se vincula a movimentação de pesso- al numa progressão vertical, ou seja, no crescimento hierárquico do trabalhador, mas, conforme orienta Stadler e Pampolini (2014), em casos como o das organizações que optam pela gestão por habilidades, a carreira adota um sistema horizontal de promoção. Nesse sistema de carreira, na medida em que são acrescidas novas funções, sua remu- neração pode ser modificada, caso seu desempenho atinja o esperado. Quando avaliado e identificado o exercício da habilidade na nova função, o trabalhador ascende em sua carreira. Além do plano de carreira horizontal existem outros tipos de plano, vamos conhecê-los? 3 MODELOS DE PLANO DE CARREIRA Organizações que apresentam problemas com a rotatividade de pessoal costumam ter grandes gastos com a equipe, maiores riscos de erros e descrédito pelas condições de trabalho oferecidas. Nessas situações, o RH é impactado diretamente. O tempo dispendido com contratações e demissões, a massiva demanda por reajustes, gestão de conflitos e treinamentos são frequentemente vivenciadas pelos profissionais dessa área que trabalham em empresas com alta rotatividade de pessoal. Naturalmente, esse problema não se deve apenas ao trabalho do RH. Quando a alta gestão, por exemplo, não acredita na importância de investir na carreira dos colaboradores de sua empresa, ou acredita que todo o esforço deve vir apenas do trabalhador, está invalidando os serviços de RH e perdendo a chance de melhorar a qualidade e produtividade do seu trabalho. Em situações como essa, é 62 normal que a equipe de RH tenha dificuldades para se estruturar em busca de uma negociação entre empregador e empregado. Visando otimizar a motivação, a gestão dos processos e a produtividade da equipe, o gestor de RH pode organizar um trabalho de plano de carreiras. O plano de carreiras, quando instituído, é um material rico para a organização que quer se estruturar e que visa seu crescimento exponencial. Ele também é interessante para o RH que gerencia as pessoas de modo a guiá-los, tanto em relação a seus papéis e responsabilidades, quanto aos cargos e salários existentes dentro da organização. Enquanto a carreira é a trajetória do colaborador, o plano de carreira é a definição dessa trajetória dentro das possibilidades da empresa. Ele facilita o trabalho de conexão entre os objetivos individuais e os da empresa. Por isso é considerado “[...] uma ferramenta para conciliar os interesses e expectativas de crescimento da empresa com as expectativas de desenvolvimento do colaborador” (OLIVEIRA, 2021, p. 16). Se a empresa enxerga o empregado como fonte de crescimento, investindo em estruturas de trabalho que permitam a melhora do trabalho, ela toma para si a responsabilidade de cativar talentos e pessoas potenciais para o progresso funcional. O plano de carreiras, nesse sentido, é uma ótima ferramenta de trabalho. Nesse caso, a empresa fica responsável pela organização e oferta de carreira, cabendo ao trabalhador aproveitá-la (ou não). Em suma, “[...] o plano de carreira quando bem definido e executado oferece resultados positivos para a empresa no que diz respeito a sua competitividade e solidez. Já para o colaborador, resulta em satisfação e bom desempenho” (OLIVEIRA, 2021, p. 16). Nos casos em que a empresa não investe em programas como planos de car- reira ou plano de cargos e salários, fica como responsabilidade do empregado estruturar sua carreira para além daquela empresa. Há pouca negociação de interesses, o que faz com que o mercado e as oportunidades externas decidam sobre sua permanência. Ain- da que ela possa ser considerada na decisão do colaborador que estrutura sua carreira, a empresa tem maior chance de perder seus trabalhadores. Dentre os benefícios da adoção do plano de carreira, pode-se perceber a melhoria da cultura organizacional fomentando a retenção dos clientes internos, o investimento em pessoas que já trabalham na organização, melhorando a motivação e produtividade do colaborador rumo a busca de aprimoramento de habilidades, e o sentimento de pertencimento. Outra vantagem reside no fato de que a empresa pode gerar vantagem competitiva por meio de ações do RH que priorizem as promoções internas, o que ocorre com mais frequência com empresas que implantam o plano de carreira (STADLER; PAMPOLINI, 2014). Isso porque a promoção que é feita com o auxílio do plano de carreira indica que 63 o colaborador conquistou experiência e conhecimentos na nova função, o que melhora a qualidade do trabalho e, ao ser reconhecido, estreita os laços entre empregador e empregado. Nesse sentido, cabe à equipe de RH divulgar aos colaboradores os planos de carreira oferecidos e estimulá-los a se desenvolver dentro da organização. Stadler e Pampolini (2014) também deixam claro que esse é um investimento, ou seja, com perspectiva de resultado a longo prazo. Normalmente quando a empresa toma ações na gestão de pessoal, os resultados são sentidos posteriormente. O que normalmente acontece é a frustração das empresas que buscam vislumbrar resultado a curto prazo, o que os faz parar de investir na área e usar outras estratégias de curto prazo. Acontece, porém, que esse pensamento não condiz com a visão estratégica, já que, ao retirar os investimentos em pessoal, a empresa reduz as chances de conseguir alcançar grandes objetivos. Por isso, cabe ao profissional de RH instruir a alta gestão do processo e as perspectivas futuras de melhoria nos resultados. Existem diferentes planos de carreira que a empesa pode oferecer ao colaborador. Vamos conhecer, nos próximos subtemas, três tipos principais: o plano de carreira em linha, em Y e em W. 3.1 CARREIRA EM LINHA HIERÁRQUICA O modelo do plano de carreira em linha hierárquica consiste no tipo mais tradicional de plano de carreira. Neste modelo, o profissional pode se movimentar em direção a apenas um caminho. A promoção costuma ocorrer em direção a funções gerenciais. É comum que esse tipo de carreira seja estruturado, respectivamente, pelos cargos de: estágio, assistente, analista, supervisor, coordenador, gerente, diretor e presidente. Dentro dos cargos você pode encontrar níveis de evolução, como o caso do analista júnior, analista pleno e analista sênior. Esta é uma considerada uma estrutura simples, já que direciona os trabalhadores a apenas uma direção. Pessoas que querem aperfeiçoar suas competências técnicas não conseguem seguir esse trabalho na carreira em linha já que a área gerencial foca em outras competências, como a gestão de pessoas e de resultados. Além disso, as organizações que apresentam esse tipo de carreira têm maior recompensa e responsabilidade nas funções gerenciais, o que limita os poderes e responsabilidades de um profissional técnico. Outra opção, elaborada a partir da carreira em linha, para o RH é a implantação da carreira em Y. Conhecemo-nos esse tipo de carreira. 64 3.2 CARREIRA EM Y A carreira em Y, ou carreira paralela, leva o trabalhador para duas direções: para o aperfeiçoamento de uma área específica ou para a gestão da área. O trabalhador que for promovido vai ser direcionado para o trabalho de natureza especializada ou de cará- ter gerencial (OLIVEIRA, 2021). Esses dois caminhos são interessantes porque permitem que o profissional possa seguir seus interessese aperfeiçoar seus talentos na área em que atua, ou que pretende atuar. Ela permite que o trabalhador possa se especializar na área técnica ou gerencial, mas parte da mesma base de cargos e salários. As funções de base se aproximam daquilo que é encontrado na carreira em linha (técnico e analista), sendo diferente a partir das funções de supervisão. Veja o exemplo dado por Purceno et al. (2016, p. 509), na área Química: [...] na medida em que você cresce na organização você tenderá a se afastar da rotina dos laboratórios e, consequentemente, a complexidade e variáveis com que deve se relacionar no dia a dia do trabalho aumentarão. Por exemplo, muitas áreas que ainda não são bem exploradas pelos químicos que vão além da área técnica nas indústrias são o marketing, business intelligence, customer service, quality control. Nessas áreas, além do conhecimento em química, o profissional terá que liderar pessoas, interagir com outras áreas da empresa (produção, comercial, ambiental, fornecedores, entre outras). Mesmo aqueles que atuam em pesquisa e desenvolvimento das indústrias terão que em algum momento atuar nessas interfaces. Perceba que o exemplo mostra que, apesar de os cargos de entrada na empresa serem técnicos, na medida em que o trabalhador evolui na carreira, ele tende a agregar novas competências que abrangem outras áreas de trabalho. A partir do seu desempe- nho nessas áreas é que ele consegue seguir o ramo de especialista ou de supervisor. É importante dizer que o nível de promoção de um técnico e de um gestor na estrutura em Y são acrescidos de salários iguais e de poderes similares. Esse plano de carreira costuma chamar a atenção de pesquisadores, técnicos e consultores internos já que oferecem a mesma valorização e não distinguem esses cargos em relação a ascensão ao ramo administrativo, para que isso aconteça, no entanto, é preciso que o RH estabeleça níveis de sua ramificação para equiparar cargos e salários das diferentes áreas, como mostrado na Figura 6. 65 Figura 6 – Carreira em Y Fonte: Oliveira (2021 , p. 23) Analisando o exemplo apresentado na Figura 6 de um plano de carreira em Y, é possível perceber os níveis pelos números inseridos na imagem. No exemplo da figura, o departamento em análise é o de Organização e Métodos e o nível de entrada na área é o de técnico auxiliar. A partir da obtenção do cargo analista sênior, Nível 4 do plano de carreira apresentado, o profissional pode seguir para a supervisão de equipe do departamento ou para a função de pesquisador pleno. Ambos fazem parte do quinto nível ocupacional, esse trabalho de equiparação deve ser feito pelo RH, junto de profissionais com conhecimentos específicos da área, com cautela e considerando os requisitos específicos exigidos e remunerações similares. Veja como o trabalho de Plano de Cargos e Salários pode contribuir para a construção do plano de carreiras. Tendo já sido realizada a descrição dos cargos e considerando as informações da pesquisa salarial, o RH consegue com mais facilidade equipara os níveis para essas duas áreas de atuação, facilitando a construção, nesse caso, do Nível 5 da carreira em Y. Uma variação da carreira em Y que considera outro ramo de ascensão profissional consiste na implantação da carreira em W. Vamos estudá-la? Caminho "Administrativo" Caminho "Técnico" Diretor de Organização e Métodos Gerente de Organização e Métodos Supervisor de equipe de Organização e Métodos Pesquisador coordenador Pesquisador sênior Pesquisador pleno de assuntos administrativos ou técnicos Analista sênior de Organização e Métodos Analista pleno de Organização e Métodos Analista júnior de Organização e Métodos Técnico auxiliar de Organização e Métodos 66 3.3 CARREIRA EM W Enquanto a carreira em Y é conhecida como carreira paralela, por seguir dois caminhos, a carreira em W é conhecida como um tipo de plano de carreira de múltiplos caminhos. A carreira em W traz uma nova ramificação da carreira em Y. Quando o profissional não se encaixa nas funções de gestão ou de técnico, a carreira em W estrutura sua promoção para outra possibilidade de atuação. Essa terceira via une as funções de técnico com as de coordenação. A carreira em W é composta pelos caminhos de progressão de técnico, de gerente e uma terceira via, versátil, e que une competências de gestão e de especialidade técnica. Por compor os dois vieses de atuação, é fundamental que o RH delimite a parcela de trabalho do colaborador que exigirá as funções gerenciais e as de especialista. Do mesmo modo, quando construída a política salarial e o desenho de cargos, é preciso equiparar aos cargos e funções similares, respeitando a equidade das funções pelos níveis ocupacionais. O plano de carreira em W é muito utilizado em empresas de tecnologia e aquelas que trabalham com projetos. Visto que os projetos podem ter diferentes demandas, ter uma equipe com habilidades técnicas e gerenciais facilita o desenvolvimento e a entrega deles. Oliveira (2021) ilustra um exemplo de carreira em W. Vamos analisá-lo com atenção. Figura 6 – Carreira em Y Fonte: Oliveira (2021 , p. 26) Diretor Diretor de projetos Especialistas Gerente Analista Operador Assistente Estagiário Coordenador de projetos Supervisor Técnico Técnico 67 No primeiro nível, o exemplo apresenta como cargo de entrada as funções de operador, assistente e estagiário. Por serem cargos iniciais da carreira, não há uma ramificação das funções. Posteriormente o trabalhador pode ascender ao cargo de analista, esse voltado a área de gestão, ou de técnico. No exemplo ilustrado por Oliveira (2021) – Figura 7 – o terceiro nível de ocupação tem maior opção de carreira, nesse caso nas funções: gerente, cargo destinado àquele que busca seguir a área administrativa, o cargo de supervisor técnico na área técnica e o cargo de coordenador de projetos, que integra outras duas funções e as direciona para os projetos empresariais. Por fim, no topo da carreira ficam bem definidas as três áreas de atuação: diretor, se o profissional quiser se consolidar no administrativo, especialista, na área técnica e diretor de projetos se ele for na terceira via, o que vai exigir competências da direção e da especialidade dos projetos. Lembrando que o salário inicial para os cargos de mesmo nível, como os de gerente, supervisor técnico e coordenador de projetos, deve ser o mesmo. Além da implantação do modelo de carreira, é preciso estar atento a novas formas e variações dos modelos. Vamos explorar as tendências da área no próximo subtema? 3.4 TENDÊNCIAS NA GESTÃO DE CARREIRAS O RH pode aproveitar os trabalhos do PCS para estruturar um plano de carreiras. O plano de carreiras traz inúmeros benefícios, tanto para a empresa quanto para o colaborador. Naturalmente, os planos de carreira, quando aplicados na empresa, oferecem oportunidades e caminhos para todos os colaboradores. Inclusive esse é um dos benefícios do plano, oferecer oportunidades iguais a partir de parâmetros explícitos de promoção. Acontece que nem todo colaborador tem desejos similares. Vimos que a oferta de novos cargos e salários vem de uma atitude empresarial, mas são as ações diárias do colaborador que vão indicar a sua preparação para a promoção ou movimentação hierárquica. Nesse sentido, considerando as particularidades das pessoas diante da gestão de carreira, o RH pode incentivar o colaborador a elaborar o seu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI). Para elaborar o PDC, são realizadas as seguintes atividades: • alinhar as necessidades da empresa com as do colaborador; • identificar as competências que são necessárias, hoje, para a atuação do colaborador e quais as competências demandadas futuramente naquela empresa; • elaborar estratégias para treinar ou desenvolver esse trabalhador. O RH deve acompanhar esse processo e perceber as expectativas dos colaboradores ao longo desse trabalho, de modo que passe a equilibraro desenvolvimento de todos. Você pode estar se perguntando como as rápidas mudanças de mercado resultantes da transformação digital, podem interferir na gestão de carreiras. É interessante que o gestor de RH faça um plano de carreira sendo que os 68 cargos e demanda de competências mudam constantemente? O plano de carreira visa a trajetória do colaborador a longo prazo, mas como institui-lo se o ambiente atual é de incertezas e de rápidas e inesperadas mudanças? A empresa Great Place To Work (GPTW) elaborou uma matéria, em 2020, afirmando que o conceito de plano de carreira é ultrapassado, já que as transformações digitais eliminaram a estabilidade de cargos e profissões, eles defendem que os cargos estão ficando cada vez mais voláteis, mudando seus requisitos e papéis na empresa com frequência (GPTW, 2020). Considerando que os papéis e responsabilidades dos cargos estão mudando de forma dinâmica, eles indicam que esse foi um ponto fundamental para a transformação do RH, que passou a valorizar mais aspectos comportamentais e competências pessoais do que habilidades específicas e conhecimentos técnicos. Entre exemplos de competências pessoais que são bem-vistos na nova estrutura organizacional, está o trabalho em equipe a capacidade de resolver problemas, a facilidade com relacionamento interpessoal e em liderar (GPTW, 2020). A matéria ainda coloca como tendência de gestão de carreira o autogerencia- mento do colaborador, cabendo à empresa incentivá-los a buscar qualificações e a ser protagonista e sua carreira (GPTW, 2020). Nesse sentido, o papel do RH fica por conta do apoio por meio de mentoria, auxílios-educação e a divulgação de rotação de cargos. A capacidade de aprender é o principal ativo dos profissionais. São aqueles que acompanham a mudança, atualizam constantemente a parte técnica, desenvolvem as competências de cada momento e adaptam-se aos novos desafios. Nesse sentido, a tendência é incentivar os colaboradores a usarem essa capacidade e realizarem o autogerenciamento da carreira. Em vez de esperar a empresa, o profissional deve ser protagonismo e buscar a qualificação (GPTW, 2020, s. p.). A matéria orienta também a fazer um plano de sucessão, não traz um caminho rígido de funções, mas insere o trabalhador dentro de um “radar” de posições e oportunidades que ele pode ter na empresa. A diferença do plano de carreira para o plano de sucessão está principalmente na flexibilidade que esse tem em relação àquele. Eles dão o exemplo da empresa 3M que faz o planejamento de sucessões em posições sênior todos os anos (GPTW, 2020). Caro acadêmico, neste tema de aprendizagem, você conheceu as estruturas e tendências da carreira profissional. Você deve ter percebido como o RH, por meio de ações de fomento à carreira do colaborador, agrega valor aos resultados da empresa. Vimos que carreira é a sucessão de experiências do caminho percorrido pelo trabalhador. Um aspecto fundamental, para tanto, consiste na responsabilidade atribuída a ele, que pode ter diferentes percepções a depender da geração do profissional (geração X é mais tradicional, enquanto a Z é mais flexível) e de como o RH, apoiado pela alta gestão, gere seus talentos. 69 Exploramos, também, neste tema de aprendizagem, os modelos de carreira em linha, em Y e em W. Por meio desses estudos, descobrimos que há uma conexão entre eles, e o modelo em linha é a base cujo modelo em Y ascende para além da área administrativa, e a técnica e o modelo em W ascendem para uma terceira via, usualmente para a gestão de projetos. Por meio do estudo deste material, entendemos tendências como a elaboração do PDI dos trabalhadores em conjunto com o RH, a pesquisa pela empresa GPTW e a tendência de autogerenciamento de carreiras. Neste momento, encerramos o Tema de Aprendizagem 3 desta unidade, esperamos que você tenha aproveitado o material e aprofundado seus conhecimentos na área. Não esqueça de exercitar seus conhecimentos por meio da realização das autoatividades. Fique, agora, com a leitura de um artigo recente da área. 70 O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES PARA DESENVOLVER OS TALENTOS DO FUTURO Valdirene Soares A cada ano, mudanças acontecem no mercado, nas profissões e dentro das organizações. Grande parte dessas mudanças são associadas ao processo de transformação digital que o mundo vive. A tecnologia sempre se mostrou presente nos principais marcos de transformação da humanidade. A Revolução Industrial, por exemplo, – século XIX – trouxe mudanças estruturais nos meios de produção e, consequentemente, nas relações com o trabalho, surgiram novas modalidades, funções e habilidade profissionais. No decorrer dessas revoluções, à medida que os avanços tecnológicos acontecem, o fator humano evolui paralelamente. No caso da inteligência artificial, inúmeras são as possibilidades de interações mais rápidas e eficientes entre as pessoas, o que não exclui a importância de aspectos inerentes ao ser humano como empatia, adaptalidade, inteligência emocional, entre outras. Por isso, considerando o passado, o presente e o futuro, compreendo que as habilidades interpessoais são indispensáveis em qualquer fase de evolução do mundo, o que faz o aprimoramento delas ser considerado um dos principais métodos para desenvolver profissionais hoje. As pessoas que trabalham nas organizações de hoje não são os mesmos que saíram de casa para trabalhar no dia 11 de março de 2020, quando a Covid-19 foi oficialmente caracterizada como uma pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde). E não dá para pensar no futuro do trabalho sem avaliar quem é o profissional que permanecerá e conseguirá atuar frente a todas as mudanças. E como as companhias podem atuar em favor desses profissionais. Para além da tecnologia, o olhar humano também passa por transformações estruturais. Uma pesquisa da Mckinsey, publicada no ano passado, indicou que até 2025 50% da força de trabalho precisará ser retreinada porque novas competências surgirão nos próximos anos. O que nos leva a dois importantes fatores para o mercado de trabalho do futuro: a exigência de habilidades interpessoais e o investimento em capacitação e novas formas de aprendizado, o famoso “lifelong learning” – aprendizado contínuo. LEITURA COMPLEMENTAR 71 A consolidação desses fatores como fenômenos globais no mundo do trabalho ficou clara no último relatório do ‘Fórum Econômico Mundial’. A Organização divulgou uma série de habilidades em alta e colocou aprendizagem ativa e estratégia de aprendizado como destaque. Nesse caso, o desenvolvimento de habilidades como resiliência, liderança, protagonismo, agilidade, capacidade cognitiva e inteligência emocional se mostram tão importantes quanto a mentalidade digital e o conhecimento em tecnologia. Cabe às organizações capacitar e criar oportunidades e mecanismos para que esses profissionais se desenvolvam nesse aspecto. No Grupo Bradesco Seguros, por exemplo, temos investido nesse processo des- de o início da pandemia. Disponibilizamos diversas ferramentas e iniciativas, como tri- lhas de capacitação corporativas, com foco no aprimoramento de competências. Reali- zadas também para as lideranças, envolvendo vertentes de cultura e arte. Mesmo com a distância física imposta, a seguradora manteve o contato próximo com funcionários e parceiros comerciais, foram cerca de 500 mil participações em ações de capacita- ção apenas em 2021. Temos também uma série de outros treinamentos que focam em bem-estar e autoconhecimento, como o treinamento de mindfulness e conteúdos para gestão de emoções. Pensando nos jovens talentos, o Grupo lançou novos programas de Estágio e Trainee para profissionais que querem construir carreira dentro da seguradora. Em ambos os programas os talentos contarão com uma jornada de desenvolvimento robusta e inovadora. Os trainees participarão de uma trilha focada no aprimoramento de habilidades que os tornem especialistas e/ou gestores. Em suma, as organizações devem estarpreparadas para desenvolver talentos para o futuro. E há uma expectativa clara dos profissionais que ingressam no mercado. As novas gerações buscam organizações que tenham propósito e enxerguem o papel dos negócios para a sociedade. Assim como os profissionais, empresas precisam se reinventar. Um grande aprendizado com todas as mudanças e inovações tecnológicas, que surgem para revolucionar o mercado de trabalho, é que as organizações são feitas de pessoas e, por isso, o profissional do futuro deve estar habilitado para lidar com as transformações sociais estruturais que estão em curso. Cuidar de gente significa qualificá-las para lidar consigo mesmas e suas potencialidades. Fonte: SOARES, V. O papel das organizações para desenvolver os talentos do futuro. ABRH Brasil, São Paulo, c2022. Disponível em: https://www.abrhbrasil.org.br/cms/o-papel-das-organi- zacoes-para-desenvolver-os-talentos-do-futuro/. Acesso em: 28 dez. 2022. 72 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • As concepções de carreira. • A responsabilidade do RH, da empresa e das pessoas na gestão de carreiras. • Três tipos de carreira: em linha, em Y e em W. • Os desafios e tendências para gerir carreiras atualmente. 73 AUTOATIVIDADE 1 Conceitualmente, a carreira é a sucessão de experiência que uma pessoa vivencia no ambiente de trabalho. Ela está conectada ao papel que a pessoa assume na sociedade, podendo promover sua autorrealização, a prática de sua vocação ou para atender suas demandas. Com relação às concepções de carreira, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A carreira é uma interrupção de posições desocupadas e trabalhos feitos na vida profissional. b) ( ) A carreira não oferece apoio e condições para uma relação de crescimento mútuo de expectativas entre pessoa e organização. c) ( ) Carreira, na visão das pessoas, é uma sequência de experiências profissionais que altera a percepção delas sobre os outros, sobre as organizações e a sociedade. d) ( ) Esse conceito diverge dos pressupostos iniciais de que uma pessoa participa de diferentes organizações. 2 O RH precisa estar atento aos potenciais talentos que estão interessados na empresa. Para isso, investir na educação corporativa dos líderes, para identificar talentos, pode ser uma ótima tática. Com base no que foi visto acerca da carreira de pessoas talentosas, analise as sentenças a seguir: I- Uma opção que o RH pode adotar para a retenção de talentos consiste na aceleração da carreira de líderes. II- É preciso que haja espaço para inovar e aprender, por isso a mentoria e desenvolvimento de talentos pode ser uma boa opção. III- Toda ação de preparação dos gestores e líderes para identificar talentos deve ser descartada. Este é um trabalho exclusivo do RH. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 74 3 O plano de carreiras, quando instituído, é um material rico para a organização que quer se estruturar e que visa seu crescimento exponencial. Enquanto a carreira é a trajetória do colaborador, o plano de carreira é a definição dessa trajetória dentro das possibilidades da empresa. De acordo com o que foi visto sobre os benefícios do plano de carreira, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A empresa pode gerar vantagem competitiva por meio de ações do RH que priorizem as promoções internas, o que ocorre com mais frequência com empresas que implantam o plano de carreira. ( ) A adoção do plano de carreiras na empresa é um investimento, ou seja, com perspectiva de resultado a curto prazo. ( ) Dentre os benefícios da adoção do plano de carreira pode-se perceber a melhoria da cultura organizacional e o sentimento de pertencimento. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A carreira em Y, ou carreira paralela, direciona o trabalhador para duas direções: para o aperfeiçoamento de uma área específica ou para a gestão da área. Ela permite que o trabalhador possa se especializar na área técnica ou gerencial, mas parte da mesma base de cargos e salários. Disserte sobre como funciona os níveis ocupacionais na carreira em Y. 5 O plano de carreira, quando aplicado na empresa, oferece oportunidades e caminhos para todos os colaboradores. Inclusive, este é um dos benefícios do plano, oferecer oportunidades iguais a partir de parâmetros explícitos de promoção. Acontece que nem todo colaborador tem desejos similares. Nesse contexto, disserte sobre o PDI. 75 REFERÊNCIAS CAPANEMA. Lei nº 1.721, de 21, de novembro de 2019. Autoriza o Poder Executivo a criar cargos no quadro efetivo e alterar atribuições de cargos já existentes, dentro da estrutura administrativa do Município de Capanema/Pr. Capanema, PR: Prefeitura Municipal, [2019]. Disponível em: https://bit.ly/3IxgXx6. Acesso em: 28 dez. 2022. CARGO. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, c2022. Disponível em: https://bit.ly/3ZbxTjE. Acesso em: 20 dez. 2022. CARREIRA. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, c2022. Disponível em: https://bit.ly/3mhWdBP. Acesso em: 20 dez. 2022. DIAS, E. W. Carreira: a essência sobre a forma. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2022. GPTW. Plano de carreira: ainda faz sentido no mundo da transformação digital? Great Place to Work, [s. l.], 2020. Disponível em: https://bit.ly/3ZsDTUV. Acesso em: 28 dez. 2022. MORENO, A. I. Administração de cargos e salários. Curitiba: InterSaberes, 2014. OLIVEIRA, S. M. P. de. A importância da ferramenta de plano de carreira para as empresas de pequeno e médio porte. 2021, 99 f. Relatório de Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Administração) – Universidade de Caixas do Sul; Caxias do Sul, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3KMBh01. Acesso em: 28 dez. 2022. PAIVA, K. C. M. de. Gestão de recursos humanos: teorias e reflexões. Curitiba: InterSaberes, 2019. PONTES, B. R. Administração de cargos e salários: carreiras e remuneração. LTr Editora, 2021. PURCENO, A. et al. Formando um perfil profissional para uma carreira de sucesso na indústria. Química Nova, São Paulo, v. 39, p. 507-512, 2016. Disponível em: https://bit. ly/3ELYL1Q. Acesso em: 28 dez. 2022. ROBBINS, S. P. A verdade sobre gerenciar pessoas. São Paulo: Pearson Education, 2003. SALÁRIO. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, c2022. Disponível em: https://bit.ly/3J2d04P. Acesso em: 20 dez. 2022. SINIMBU. Lei nº 2.003, de 23/11/2022. Cria o cargo de Analista de Recursos Humanos e dá outras providências. Sinimbu, RS: Prefeitura Municipal, 2022. Disponível em: https://bit.ly/3kxpp7J. Acesso em: 28 dez. 2022. 76 SOUSA, K. R. dos S. Ferramentas e técnicas de comunicação no projeto. 2016. 60 f. Relatório de trabalho de conclusão de curso (Graduação em Ciência da Computação) - Universidade Federal do Maranhão: São Luiz, 2016. Disponível em: https://bit. ly/3mf6IWO. Acesso em: 28 dez. 2022. STADLER, A.; PAMPOLINI, C. P. G. Gestão de pessoas: ferramentas estratégicas de competitividade. Curitiba: InterSaberes, 2014. TAKAHASHI, A. R. W. Competências, aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento. Curitiba: Intersaberes, 2015. VELOSO, E. F. R.; DUTRA, J. S.; NAKATA, L. Percepção sobre carreiras inteligentes: diferenças entre as gerações Y, X e baby boomers. REGE-Revista de Gestão, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 88-98, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3Zt2B7F. Acesso em: 26 dez. 2022. VIEIRA, K. C. Administração de cargos e salários. Rio de Janeiro: SESES, 2015. 77 BENEFÍCIOS UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • descobrir as concepções de benefício; • debater sobre os benefícios em voga no mercado; • analisaros benefícios a partir de suas características e classificações; • perceber o papel do RH na gestão de benefícios; A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE BENEFÍCIOS TÓPICO 2 – TIPOS DE BENEFÍCIO TÓPICO 3 – LIDERAR AO GERIR BENEFÍCIOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 78 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 79 TÓPICO 1 — CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE BENEFÍCIOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, seja bem-vindo ao nosso primeiro tema de aprendizagem sobre a temática benefícios. Neste tema de aprendizagem, você conhecerá a definição de benefício e outros conceitos associados a ele. Para isso, você acompanhará as diferentes abordagens sobre benefício, generosidade e incentivo. A associação também se dá aos tipos de salário e ao sistema remuneratório. O material trará os princípios do plano de benefícios e destacará a importância do gestor de RH aprofundar suas competências analíticas. Ainda no que se refere às concepções de benefícios, este tema de aprendizagem apresentará a você, acadêmico, pelo menos 5 aspectos que devem ser considerados na implantação ou renovação do pacote de benefícios. Dentro desses aspectos, você descobrirá as ponderações que o gestor de RH deve ter na hora de gerir os benefícios, as especificações diante do plano de carreira existente na empresa e as análises demandadas pelo setor. Acadêmico, quando você estudar os aspectos da gestão de benefícios, investigue as áreas de atuação da sua profissão e as formas de significado atribuídas aos benefícios. Uma ação importante, por exemplo, diz respeito à avaliação do ambiente empresarial e dos custos e valorização dos benefícios. Com o resultado dessas análises em mãos, o profissional terá fundamento e poder de persuasão para as melhorias que deseja realizar. Essa pode ser sua chance de ouro para empreender em uma empresa. Uma perspectiva interessante sobre o tema é oferecida na identificação e apresentação dos benefícios não remuneratórios. Nele, você vai descobrir o valor do clima e da cultura empresarial, além da importância da felicidade para o melhor andamento dos benefícios percebidos pelo trabalhador. Descobrirá também a influência da atuação do RH, suas limitações e possibilidades. Seguindo os estudos de benefícios, esta unidade explorará as vantagens de se implantar um pacote de benefícios sob o viés da empresa e do trabalhador. São apresentadas 5 vantagens e 1 análise que deve ser feita para considerá-las vantagem. Em suma, as vantagens são: atração e retenção de talentos, amparo das necessidades das pessoas, atendimento das exigências legais, aumento da motivação e atendimento de expectativas remuneratórias não salariais do trabalhador. A análise, por sua vez, deve ser feita pelo gestor de RH e diz respeito à gestão de demandas, tanto do empregador quanto do empregado. 80 O Tema de aprendizagem 1 desta unidade trará análises e reflexões sobre o plano, pacote e gestão de benefícios nas empresas. Além da ampliação de perspectiva sobre o assunto, esperamos que ele desperte seu interesse no tema e o motive a buscar novas oportunidades de estudo e de trabalho. Procuramos, através de estudos e levantamentos do tema, dar enfoque a diferentes percepções de análise: do trabalhador, do RH e da empresa, buscando ampliar seus conhecimentos sobre eles, mas, por se tratar de um conteúdo com vasta aplicação no RH, ele terá, naturalmente, seu viés centrado nessa área. Este tema trará, junto dos conceitos, alguns exemplos que ilustrarão as concepções investigadas. Vamos começar? 2 BENEFÍCIO Antes de começarmos os estudos conceituais de benefício, é importante estabelecer o nível de abrangência daquilo que se entende por remuneração. Remuneração é uma recompensa, também definida como contraprestação, dos trabalhos realizados para outra pessoa, podendo ser uma pessoa física ou jurídica. A remuneração é por definição composta de salário, incentivos e benefícios. Na Unidade 1, falamos sobre salários, nesta unidade vamos nos ater aos benefícios organizacionais. Dito isso, vamos ao conceito de benefício. Voltando-nos ao sentido da palavra, benefício pode ser considerado um bem realizado generosamente a outra pessoa, um rendimento do cargo ou uma beneficiação (PRIBERAM ). É interessante analisar esse aspecto, porque associa, por exemplo, o benefício com a ideia de generosidade, embora, na organização, ele só seja ofertado se o trabalhador estiver efetivamente empregando seu tempo e esforço nas funções que ocupa na empresa. Salício (2015, p. 122) explica que, no passado, a ideia de oferecer benefício se associava a noção de cuidado, "Antigamente, os benefícios estavam associados a um pensamento unilateral e paternalista existente nas empresas, principalmente em organizações com condições de trabalho rudes e adversas". Nesse sentido, o conceito de benefício associado ao rendimento do cargo pode ser mais apropriado, já que o benefício faz parte do sistema remuneratório da empresa, ou seja, não é oferecido se não houver a contraprestação do esforço do empregado. Conceitualmente, o plano de benefícios junto dos acordos feitos por convenção coletiva de trabalho e os serviços sociais oferecidos pela empresa são parte constituin- tes do salário indireto (SALÍCIO, 2015). 81 O salário direto e o indireto constituem a remuneração, que é percebido pelas pessoas como resultado do empenho do seu esforço, enquanto para a empresa é visto como custo para a realização do produto. Segundo Salício (2015, p. 22), “O pagamento de um trabalho é o centro das relações entre as pessoas e as organizações, representando um intercâmbio entre direitos e responsabilidades recíprocos entre empregador e empregado". Considerando a importância de ajustar adequadamente o sistema de remuneração, evidenciada por Salício (2015), faz-se essencial estudar as variáveis e tendências da área. É costumeiro perceber o benefício como uma vantagem oferecida, um adicional ao salário dos trabalhadores de uma organização. Benefício é, para Paiva (2019), toda vantagem, facilidade ou conveniência oferecida pela empresa a fim de reduzir esforços e preocupações. Ele busca preservar as condições físicas e mentais do trabalhador, além de instigar a atividade positiva desse diante da organização. ATENÇÃO É fundamental que você tome ciência e entenda sobre as questões rela- tivas à concepção de benefício e incentivo. Benefício e incentivo são van- tagens que fazem parte do pacote remuneratório e podem ser conside- radas sinônimo, mas, analisando com atenção, alguns autores relacionam o plano de incentivos à remuneração estratégica, ao contrário de Orsi (2015), que defende que o benefício é uma parte constituinte da remu- neração fixa. A remuneração estratégica varia em função de aspectos avaliativos do tra- balhador, já o benefício, de acordo com Orsi (2015), é calculado em base mensal e não varia em função do desempenho ou outro fator de ava- liação do trabalhador. Adotaremos preponderantemente nesta unidade o conceito de Orsi (2015) e exploraremos os programas de incentivo na unidade seguinte, que fala sobre remuneração estratégica. Combinado? De acordo Salício (2015), há três modos principais de motivar os trabalhadores: através da remuneração estratégica, pelo plano de carreira e por meio do planejamento de benefícios. Você, acadêmico, já estudou sobre plano de carreiras na Unidade 1 e conhecerá, na Unidade 3, os tipos de remuneração estratégica. Nesse momento, vamos nos ater ao planejamento de benefícios. Para a construção do plano, resultado do planejamento de benefícios, faz-se proveitoso conhecer seus princípios fundamentais. 82 2.1 PRINCÍPIOS DO PLANO DE BENEFÍCIOS À medida que as empresas vão se acostumandoa trabalhar com o programa de benefícios, e considerando a concorrência e desafios da gestão de RH para atrair, motivar e cativar o colaborador ao mesmo tempo que atende as expectativas da empresa, alguns estudiosos elaboraram técnicas e princípios para planejar o pacote de benefícios. Salício (2015), por exemplo, traz alguns princípios relacionados ao plano de benefícios. Ao todo são dois princípios: princípio do retorno do investimento e princípio da mútua responsabilidade. Vamos conhecê-los? O princípio de retorno de investimento defende que todo benefício investido deve ter algum resultado para a empresa. Seja no aumento da produtividade ou na redução de custos e problemas com acidentes de trabalho, o benefício deve contribuir de alguma maneira para a empresa. Mais que isso, de acordo com Salicio (2015), esse retorno deve ser proporcional aos custos investidos com o benefício. Nesse sentido, cabe ao gestor de RH produzir relatórios de desempenho, percepção e motivação dos trabalhadores para manejar as expectativas e exigências que possam surgir da gestão empresarial. INTERESSANTE Existe uma ideia, um pré-julgamento, de que as pessoas que buscam estu- dar e atuar na área de RH, como a gestão de RH ou a gestão de pessoas, acreditam que não trabalharão, ou terão pouca atuação, com questões vol- tadas a cálculos e estimativas. Nesse momento, você já deve ter percebido que a demanda pela produção e análise de estimativas e retornos de inves- timento são grandes. Afinal, ainda que seja essencial as ações da área volta- das a aspectos comportamentais, também há a necessidade de se trabalhar com situações que exigem expertise com cálculo e raciocínio analítico. O princípio da mútua responsabilidade (grifo nosso) defende que os benefícios devem ser custeados cooperativamente com o empregador e com o empregado. O argumento defensor desse princípio reside especialmente na concepção de pertencimento e responsabilidade sobre os recursos oferecidos. Esse princípio defende que, quando os custos são divididos entre empregador e empregado, há um aumento na percepção de que o trabalhador é parte responsável pelos recursos que o benefício oferece, incluindo sua preocupação com a manutenção e conservação deles, entra nesse princípio, por exemplo, quando empresas dividem o custo entre elas e o trabalhador beneficiado, sendo o caso da coparticipação na assistência médica e assistência educacional. 83 Na visão do RH, essa divisão de responsabilidades pode contribuir, inclusive, para o atendimento do princípio anterior, ou seja, que o retorno do investimento seja viável, mas também pode ser um aspecto desmotivador ou de perda de vantagem competitiva na corrida por profissionais no mercado. Salício (2015, p. 124) defende que: Uma participação relativa dos colaboradores é importante em alguns benefícios, como refeição e grêmios. Assim, o colaborador perceberá o valor dos itens concebidos. Benefícios gratuitos podem parecer legalmente obrigatórios ou serviço de qualidade inferior, nesse caso, perderiam seu valor motivacional. Em todo caso, na dúvida sobre a escolha de dividir os custos mutuamente entre empregador e empregado, faz-se importante realizar uma pesquisa de percepção e demanda sobre a qualidade e necessidade desses benefícios. A pesquisa deve contemplar tanto os trabalhadores quanto as pessoas potencialmente interessadas pela empresa e que a empresa tem interesse no mercado. Atualmente, a pesquisa pode ser conduzida pelas redes sociais da empresa, o que vai atrair respondentes que seguem e apoiam a marca. Vale mencionar que, ainda que analisemos o benefício isolado, usualmente o RH vai se deparar com pacotes de benefícios, ou seja, com a coexistência de mais de um benefício. Isso se deve a exigência legal de oferta de benefícios mínimos e, em alguns casos, a escolha das organizações de presentear os trabalhadores com outros tipos de benefício. O pacote de benefícios, por sua vez, depende de uma gama de fatores. É preciso considerar a atividade da empresa, as demandas dos indivíduos nas regiões onde atua, as especificações do trabalho que executa, as realidades ambientais e de mercado a que a empresa está inserida. A seguir, vamos examinar esses tópicos com atenção. 2.2 ASPECTOS A CONSIDERAR NA GESTÃO DE BENEFÍCIOS A gestão de RH deve analisar alguns pontos antes de implantar ou renovar o pacote de benefícios da empresa. A organização, especialmente a gestão de RH, deve, ao produzir o pacote de benefícios, primeiramente considerar as exigências legais. A partir disso ela deve analisar o que a empresa realiza, inclusive analisando o planejamento estratégico da organização e os objetivos e metas para os próximos anos da empresa. Naturalmente, uma empresa que consegue perceber a importância de investir no capital humano tende a ter vantagem competitiva no que se refere à produtividade de sua equipe. A combinação de benefícios, por sua vez, vai levar em consideração o que a empresa realiza, ou seja, sua missão. 84 Vejamos o exemplo de uma organização que comercializa roupas. Para esse setor empresarial é mais interessante que a empresa invista em benefícios recreativos, como bônus para atividades comunitárias ou festas, de modo que a equipe consiga se relacionar e se atualizar sobre aspectos dos vestuários que estão na moda, do que investir, por exemplo, em um refeitório na empresa. Perceba, o refeitório é importante e, se houver capital para implantá-lo deve ser aplicado, mas para o ramo da empresa, é mais interessante que se fomente a interação e atenção às novidades do que os benefícios que o refeitório pode proporcionar. Nesse sentido, o gestor de RH deve estar atento aos benefícios prioritários e que podem contribuir à organização, ao mesmo tempo que estimule a motivação dos trabalhadores. Um pacote de benefícios também deve considerar a região e a realidade na qual o trabalhador vive. Quando a empresa, por exemplo, oferece o benefício do vale transporte, ela precisa analisar quais as opções viáveis de locomoção do trabalhador. Pouco serve ao colaborador que a empresa oferte esse benefício se na sua região o transporte público é escasso ou com horários que tornam seu uso inviável. Diante dessa realidade, pode ser mais interessante, a depender do tamanho da demanda da equipe, o investimento em veículos particulares que acomodem o número de trabalhadores que dependem de transporte financiado pela empresa para chegar à empresa. Assim, além de promover a pontualidade da chegada de sua equipe até as instalações da empresa, o RH, ao inserir esse benefício no pacote, mostra sua preocupação genuína com as demandas das pessoas. Além das vivências atuais presenciadas e percebidas pelo RH dos trabalha- dores da empresa, o pacote de benefícios também deve ser realizado considerando as metas e objetivos individuais da equipe. Vamos supor que uma empresa investe atualmente no benefício de auxílio maternidade. Esse benefício foi muito importante durante um período da empresa, mas hoje está sendo pouco utilizado e gerando cus- tos para a organização. Nesse momento, o gestor de RH deve estudar a possibilidade de extinção do be- nefício e possivelmente aproveitar esse valor ofertado para investir em um benefício mais propício à equipe. Isso, porém, não deve ser feito sem antes consultar as expectativas e objetivos da sua equipe. Considerando que a empresa está trabalhando com uma equipe com pessoas majoritariamente acima de 55 anos, por exemplo, é provável que seja mais importante para eles o benefício de complementação de aposentadoria do que o auxílio maternidade. Por isso a necessidade de avaliar a realidade e as demandas de sua equipe. Uma questão importante a ser analisada quando se pensa em benefício diz respeito à ação de entender as especificações do grupo ocupacional a que os trabalhadores participam. A isso inclui a análise das atividades que os empregados exercem e dos cargos existentes na empresa. Primeiramente,é preciso conferir as demandas legais dos cargos e ocupações para, a partir disso, especificar os benefícios de modo a atendê-los. Cargos que tem funções insalubres, por exemplo, são acrescentados no pacote remuneratório do adicional insalubridade. 85 Para tanto, é fundamental que a equipe de gestão de pessoas conheça as atividades a que o trabalhador está realizando, ou sujeito a realizar (se a posição estiver vaga na empresa). Investigar as atividades da equipe é essencial já que permite ajustar os benefícios em favor das funções e objetivos de trabalho do cargo ocupado. Nesse sentido, é importante lembrar que os benefícios, em regra, não devem fazer distinção das pessoas a que possam utilizar. Excetuando situações específicas, o pacote de benefícios deve abranger todos os trabalhadores da empresa, pois do contrário o benefício vai ter efeito contrário do esperado, vai gerar problemas interpessoais, desigualdades e disputas, impactando negativamente no clima e cultura organizacional. No momento que a equipe de gestão de pessoas avalia as possibilidades de benefícios a ser ofertados pela organização, ela deve considerar, além das questões já mencionadas, a percepção do ambiente em que a organização está inserida, ou seja, atentar-se aos aspectos do macroambiente e microambiente empresarial. 2.2.1 Análise do ambiente O microambiente empresarial é composto de elementos que afetam a empresa diretamente e que, se houver problemas de relacionamento da empresa com esse elemento, ela será fortemente afetada. Essa afetação pode gerar uma ameaça ou uma oportunidade. São exemplos de elementos do microambiente os clientes da empresa, seus fornecedores e a comunidade próxima de sua instalação. Veja como é fácil perceber o impacto dessa relação direta: se não há clientes, a empresa fecha, certo? Sem clientes, sem receita (dinheiro), o que vai ocasionar em uma grande ameaça para a continuação da empresa. Um outro exemplo de ameaça é o de que, se a organização decide explorar uma área que é de cuidado e preservação da comunidade local, sua imagem será prejudicada e a comunidade local se voltará contra a empresa. Nesse contexto, o RH terá dificuldades para captar novos colaboradores, haverá uma probabilidade maior de demissão e de desmotivação do seu pessoal; ou seja, de nada adianta investir em novos benefícios se essa relação está fundamentalmente estremecida. Por isso, quando se pensa em benefício, é interessante analisar quais desses podem gerar oportunidades, ou reduzir ameaças para as pessoas interessadas diretamente na empresa. 86 NOTA Há alguns anos, os profissionais da área administrativa utilizavam com frequ- ência o termo stakeholders, referindo-se a pessoas interessadas na empresa. Hoje, é mais comum encontrarmos na literatura da área o termo traduzido, ou seja, pessoas interessadas, ou partes interessadas. Portanto, se você en- contrar esses termos saberá que se trata de pessoas que tem algum inte- resse na empresa, podendo ser consumidores que estão interessados nos produtos ou serviços oferecidos, os fornecedores interessados na venda de seus materiais para essa empresa ou a comunidade local, que tem diferentes interesses na empresa sediada na região, podendo ter interesse em traba- lhar nessa empresa ou em fazer parcerias com ela. É interessante observar que, no microambiente, a comunidade local é um grupo interessado na empresa, mas a empresa também é interessada por ela. Sempre há uma relação mútua de interesse entre os elementos do macro e microambiente. Vamos a um exemplo desse interesse mútuo: imaginemos, por exemplo, que trabalhamos numa empresa de construção elétrica. Essa é uma área que tem dificuldades de captar técnicos eletricistas. Uma boa oportunidade de ação do gestor do RH para resolver esse problema de escassez de mão de obra especializada consiste em aplicar um programa de capacitação de membros da comunidade local que possam, posteriormente, fazer parte do seu quadro de funcionários. Assim, a empresa se beneficia ao mesmo tempo em que a comunidade se capacita e consegue novas oportunidades. O macroambiente, por sua vez, diz respeito aos elementos não tão próximos da empresa, mas que tem impacto sobre ela. A economia, por exemplo, é um fator de influência sobre a empresa. As condições da natureza, a tecnologia e a situação política também são elementos de cuidado que podem produzir uma ameaça à empresa, ou uma oportunidade de crescimento e melhoria. No viés do RH, por exemplo, o avanço e o acesso a recursos tecnológicos que permitam reduzir a demanda de trabalhos burocráticos para a sua equipe, ou facilitar esses processos, pode ser um bom exemplo de oportunidade do macroambiente empresarial. Na questão dos benefícios, a legislação advinda de mudanças política pode ser um fator de impacto, assim como a adoção de benefícios para amparar as pessoas, e a família dessas pessoas, que enfrentam intempéries ou problemas financeiros decorrentes de dificuldades econômicas regionais, nacionais ou internacionais. No caso da pandemia da COVID-19, por exemplo, que foi uma ameaça macro ambiental advinda de fatores biológicos, investir em benefícios que amparassem assistencialmente os trabalhadores e seus familiares é um exemplo da importância do gestor de RH conhecer, atualizar e alinhar os benefícios instituídos na empresa com as demandas do macro e microambiente. 87 2.2.2 Posicionamento Estratégico do RH Uma das situações problemáticas percebidas pela área de RH é o acúmulo de atividades operacionais ou de atividades situacionais na sua rotina diária. Você consegue perceber essa problemática para a gestão do RH? Vejamos: enquanto algumas gestões ocupam mais de 70% do seu tempo com trabalhos burocráticos, como o preenchimento de dados para recrutar e admitir o colaborador, outras passam a sua maior parte do tempo “apagando fogo”, ou seja, atendendo situações conflituosas e resolvendo impasses recebidos ao longo do dia. Nos dois casos, o RH está agindo de forma reativa, não se posicionando frente ao mercado nem se estruturando estrategicamente de modo a conseguir vantagem competitiva. Por isso, é interessante realizar, por exemplo, a análise macro e microambiente. Essa análise permite situar a gestão de RH no seu valor competitivo, que pode utilizar isso para tomar decisões mais assertivas e harmonizadas com a realidade externa. A gestão estratégica de RH também tem a possibilidade de conseguir, através do capital humano, organizar trabalhos de parceria, por exemplo, fazendo parcerias com a comunidade, com os clientes ou até com os fornecedores para estruturar planos em comum de admissão, movimentação de pessoal ou formação e troca de experiências. A função de posicionar a organização estrategicamente na competição e promoção de benefícios pessoais ofertados pela empresa é usualmente dirigida ao gestor de RH. O gestor de RH, quando incumbido da função de construir ou atualizar o pacote de benefícios, deve considerar, naturalmente, a valorização do benefício pelo colaborador (e também pelas pessoas interessadas em trabalhar na empresa), além do custo que esse vai gerar na organização. Algumas organizações fazem pesquisas de percepção sobre o pacote de benefícios oferecidos. Essa proposta não só é útil, já que vai subsidiar informações para a tomada de decisões do gestor de RH, como também possível, já que com os recursos tecnológicos existentes no mercado, acesso e operacionalização da pesquisa de satisfação se torna mais ágil. Uma maneira de praticar ações voltadas ao pacote de benefícios de modo a atender ou considerar os aspectos já mencionados é através de um comitê de benefícios. Quem dá essa ideia é Salicio (2015), que explica que é possível fazer essa atividade se o gestor de RH organizar e reunir uma equipe composta de representantes dos diferentes níveis e departamentos da organização. Nesse sentido, uma sugestão é escolher esses representantes pela sua capacidadede liderança da área. Assim, o comitê consegue, em períodos regulares, planejar e discutir sobre alternativas e regimentos voltados ao plano de benefícios. 88 Quando se vai definir e avaliar os benefícios que vão compor o programa de benefícios da empresa, é indicado, de acordo com Salício (2015), que se discuta sobre as seguintes questões: • O pacote de benefícios satisfaz as necessidades reais dos trabalhadores? • No geral, os benefícios podem tornar mais eficiente o trabalho coletivo do que apenas de alguns trabalhadores? • O plano de benefícios está amplamente dividido entre todos os empregados? • Os seus custos dos benefícios são calculáveis? Perceba que as perguntas reverberam a questão da abrangência do benefício, mas vale comentar que em alguns casos há benefícios específicos a depender do cargo. Os diretores, por exemplo, podem ter benefícios como veículo da empresa a disposição com motorista particular ou ter acesso a clubes para a família. Isso deve ser pensado a longo prazo, visando a atração, autorrealização e motivação do trabalhador naquele cargo, e deve levar em consideração alguns aspectos da profissão. No caso da função de diretoria, o aspecto responsabilidade, relevância de suas ações e risco são os decisores na escolha de composição do benefício para eles. No que se refere ao direcionamento de benefícios para cargos específicos em função dos riscos envolvidos, vejamos o exemplo de alguns setores corporativos. As seguradoras e empresas bancárias demandam formações e conhecimentos específicos. “Casco”, por exemplo, é um termo utilizado nas empresas de seguros veiculares para se referir a cobertura da lataria do veículo. Esse é apenas um pequeno exemplo dos conhecimentos básicos específicos que a área demanda. Além dos conhecimentos e experiência específicas exigidas para atuar na área securitária, a complexa tarefa de busca profissionais da área corporativa com qualificações adequadas a cargos de alta gestão são acentuadas devido a sua especificidade e dispêndios gerados no caso de problemas de custos ou boicotes. Nos cargos da alta gerência, como o cargo de Diretoria, o sucesso de toda a empresa depende do direcionamento dado por esses. Diante dos riscos e demandas associados ao cargo, é usual que as grandes empresas ofereçam o benefício de cotas da empresa que o transforma em sócio do negócio. Através dessa ação, a organização pretende fomentar o sentimento de pertencimento na pessoa e a responsabilidade de gerar receitas a ela. Essa ação também é observada no mercado para os cargos de alta gerência dentro de empresas bancárias. 89 2.3 BENEFÍCIOS NÃO REMUNERATÓRIOS Ainda que seja mais comum encontrarmos informações sobre os benefícios remuneratórios, o RH deve estar atento também aos benefícios e incentivos não remuneratórios, ou seja, aqueles que não geram custos à empresa, mas que afetam o desempenho do trabalhador e só são possíveis devido à participação dessa na empresa. Não é incomum encontrar empresas que têm aspectos de sua cultura problemáticos e contraproducentes. Isso traz impactos negativos e podem invalidar os benefícios ofertados pela empresa. Do mesmo modo, pode ser interessante promover benefícios não remuneratórios, como jogos e competições com os empregados. Essas variáveis dependem de dois aspectos: a cultura e o clima da empresa. O clima empresarial é mais fácil de conquistar com benefícios não remuneratórios. O gestor de RH pode promover ações de recreação que motivem os trabalhadores e tornem o clima mais propício à alegria da equipe. DICAS Uma leitura leve e que apresenta estudos empíricos voltados à importância da felicidade no ambiente de trabalho, você encontra no livro “O jeito Har- vard de ser feliz”, de Shawn Achor. O livro associa o nível de desempenho e resultado dos trabalhadores, de diferentes níveis hierárquicos e setores empresariais, à felicidade que ele carrega. Vale a pena conferir. O desafio relacionado ao clima empresarial consiste na volatilidade dele, pois, assim como costuma ser mais fácil melhorar o clima da equipe com benefícios não remuneratórios, também é rápido acabar com o clima amistoso. Quando, por exemplo, a empresa fornece um reconhecimento pelo desempenho realizado em seu trabalho, ao mesmo tempo em que pode ser produtivo e benéfico, também pode mudar o clima e tornar uma situação dispendiosa ou que é vista como inútil. Gerar um clima amistoso é interessante porque pessoas que consideram o clima da empresa positivo tendem a permanecer mais nela e produzir com mais qualidade. Isso pode ser conseguido através de gestores preparados para essa função, profissionais adequados e satisfeitos com suas posições na carreira e animados com as projeções indicadas pelo RH. O clima empresarial positivo e alegre pode ser considerado um benefício não remuneratório, mas depende de vários fatores. 90 Fica claro entender a concepção de clima empresarial, e como isso pode ser considerado um benefício, se você vivenciou ou esteve próximo de pessoas que passaram por trabalhos cujos gestores eram incompetentes para o cargo. Nessas situações, é muito comum encontrar, por parte do gestor, situações de abuso de poder, assédio moral ou retrabalho. Imagine que você chega no seu departamento e encontra um colega de trabalho chorando. Ao questionar o motivo da sua infelicidade, ele informa que se deve a forma como o gestor o repreendeu sobre um erro que cometeu. Se a equipe é unida, parceira e entende a posição desse trabalhador, é natural que seus sentimentos sejam afetados e a quantidade e qualidade de desempenho do seu trabalho seja reduzida. Nesse cenário, o programa de benefícios terá um peso menor para a decisão de desligamento ou de insatisfação dos trabalhadores. No que se refere à incapacidade da gestão em motivar os trabalhadores que supervisiona, o RH deve se ater, dentre outros tópicos, ao fator de ascensão do cargo e ao treinamento e desenvolvimento para a vaga. Considerando que o gestor esteja alinhado aos valores da empresa, cabe ao gestor de RH estruturar a promoção de cargo de modo que, por exemplo, um técnico eletricista apenas vá para a função de gestor elétrico se assim for capacitado e tiver as competências e motivações adequadas. Isso porque um problema muito comum é promover pessoas de funções e perceber o desajuste a longo prazo dos trabalhadores em cargos de liderança formal. Esse problema pode ser resolvido através do programa de carreiras, que dá outras oportunidades ao técnico e especialista, mas também desenvolvendo-o e o auxiliando para conseguir trabalhar com sucesso, sem prejudicar o clima e a motivação de sua equipe. Ao passo que é pouco provável a empresa conseguir investir financeiramente nesse aspecto, ações do RH costumam ter alta influência sobre o clima empresarial. Além de monitorar com frequência a situação percebida pelos trabalhadores, o RH pode tomar ações, como a indicação de desenvolvimento de competências para os gestores já mencionado, que melhorem o clima da equipe. Para isso, é fundamental participar, ouvir e se atentar as reclamações e situações vivenciadas. Entender o clima é entender a realidade da empresa, as características e desafios dos trabalhadores, é estudar e compreender a importância da motivação e felicidade nos resultados empresariais. Diferentemente do clima, a cultura empresarial, quando tem aspectos culturais que são negativos para a convivência ou resultado da empresa, é um grande desafio para o RH. Primeiramente, vamos ao conceito de cultura empresarial. A cultura de uma empresa pode ser percebida pelos hábitos das pessoas, pelas escolhas que fazem em seu espaço de trabalho e pela acreditação comum compartilhado pela maioria. A cultura é mais intrínseca e pode ser encontrada na escolha dos artefatos, itens, que as pessoas vestem ou utilizam, pelo comportamento das pessoas dentro da empresa ou, ainda, pode ser observado por meio da análise do senso comum da equipe sobresituações vivenciadas e preferências, ou seja, através de pensamentos comuns da equipe. 91 Uma cultura problemática, como já dito, pode reduzir os impactos ou até invalidar um benefício. Agora vamos ao exemplo: quando, por exemplo, o RH decide implantar o benefício auxílio educação, mas está cristalizado na cultura a ideia de que a educação não é necessária para a pessoa ou para a empresa, esse benefício não atenderá seu objetivo. Além de o benefício ter pouca adesão, aqueles que decidirem fazer uso desse benefício serão desacreditados e possivelmente confrontados para desistir de usá-lo. Nesse sentido, pode-se perceber outra questão, muitas vezes anterior à implantação/ modificação do benefício. Um problema muito comum observado na cultura da maioria das empresas é a rejeição à novidade. Por isso, toda alteração, melhoria e revisão deve ser feita com cautela e destreza. A flexibilidade na aceitação e até o desejo em construir novas configurações empresariais pode ser trabalhada pelo RH. Alguns administradores defendem que deve ser exercitado o mindset empreendedor. Inclusive, é sugerível que se faça esse exercício de abertura ao que é novo na empresa, para que, quando houver modificações, a equipe esteja preparada e disposta, motivada a recebê-lo. NOTA Mindset diz respeito as características de pensamento, da mentalidade, das pessoas que o induz a tipos diferentes de comportamento. Dizer que o RH deve incentivar o trabalho de aprimoramento da cultura em- presarial rumo ao mindset empreendedor significa dizer que ele deve trabalhar a resiliência, criatividade, comprometimento e disposição para inovar regularmente entre a equipe. Diante de uma nova equipe, quando instalado em uma nova unidade ou empresa, o RH inicialmente deve conhecer a cultura empresarial. Algumas pistas indicam o que é esperado da personalidade das pessoas na equipe, enquanto grupo profissional. Os artefatos e comportamentos podem denunciar essas preferências e ajudar a tomar decisões concisas, pautadas no contexto social. Isso contribui fortemente para balizar os benefícios escolhidos, porque, ainda que se monte um comitê que implante e revise o pacote de benefícios, é preciso reiterar o atendimento dos questionamentos de Salício (2015), acerca da abrangência deles, ou seja, se eles não estão atendendo apenas às demandas dos liderados. Conhecida a cultura, o RH pode revisar os valores da empresa. Isso contribui para que o RH possa promover ações estratégicas de benefícios não remuneratórios, como a coordenação de palestras motivacionais vindas de profissionais de sucesso da área, ou conteúdos de divulgação que resultem na promoção desses valores e cultura. O interessante do conhecimento sobre os valores empresariais por parte do RH colabora não apenas para a implantação de benefícios não remunerados, como também para a admissão e seleção de candidatos, além da movimentação de pessoal. 92 Conhecida a cultura e revistos os valores da empresa, o gestor de RH pode promover ações que são percebidas como benefícios da empresa não pagos em espécie ou em benefícios tradicionais, mas que são vivenciados e positivados pela equipe. Assim, por meio desses benefícios e incentivos, a estima do empregado pelo seu trabalho e pela empresa passa a aumentar, o que traz também vantagens no viés do RH. Afinal, quando o trabalhador está satisfeito com a cultura, clima e valor da empresa, impulsionada com benefícios não remunerados, os índices de reclamações são reduzidos, o seu desempenho é aumentado, a rotatividade reduzida e esses profissionais passam a ser divulgadores das vantagens recebidas naquela empresa. Vale dizer que é função do RH promover os benefícios e vantagens oferecidas pela empresa. Desse modo, o processo de atração e recrutamento amplia e facilita as ações de seleção de pessoal. 3 VANTAGENS DE IMPLANTAR UM PACOTE DE BENEFÍCIOS O pacote de benefícios é um grupo de benefícios, atrelados ao plano remuneratório, geralmente inscrito em um programa de benefícios que atende a uma organização. O benefício pode ser exigido quando a empresa está diante de uma escassez de profissionais, quando há uma forte demanda por ele, quando exigida pelo sindicato, quando faz parte do direito do trabalhador ou quando há uma percepção da importância desse para a motivação das pessoas interessadas na empresa. Vamos conferir essas condições que favorecem a implantação de um pacote de benefícios. 3.1 ATRAIR E RETER TALENTOS Quando se fala em benefícios, se você analisar sob o aspecto do RH, provavel- mente a motivação de requerê-lo aparece especialmente como vantagem para atrair novos candidatos e reter talentos. Afinal, a motivação é um fator a ser considerado quando o RH disputa o profissional no mercado de oportunidades de trabalho. Essa de- manda é acentuada quando há uma escassez de profissionais em funções ocupacionais específicas. Nesse caso, o candidato tem ampliada a possibilidade de decidir quais vagas de emprego vai aceitar, sendo função do gestor de RH, que atua de maneira estratégica, chamar a atenção e oferecer melhores condições de trabalho. Caso a empresa precise de trabalhadores com um perfil específico ou com experiências e formações que são difíceis de conseguir no mercado, o RH deve atuar de forma sincronizada e concordante com as expectativas sobre os benefícios ideais esperados pelo profissional. Um profissional, por exemplo, nível sênior na área de desenvolvimento de software costuma ser bem requisitado. Ele levará em conta as vantagens e benefícios que conseguirá na empresa para, a partir daí, negociar outras questões como salário e condições de trabalho. É a oferta inicial alinhada a sua demanda, como a disponibilização de estrutura física próxima de sua residência para dar o suporte ao seu trabalho, ou o benefício de conseguir incentivo financeiro para atualizar sua ferramenta produtiva, o computador, que poderá ser decisivo na escolha do profissional pela empresa. 93 3.2 AMPARAR AS NECESSIDADES DA MAIORIA DA EQUIPE O programa de benefícios é considerado uma vantagem quando tende a amparar uma grande parte das pessoas da empresa. O gestor de RH que atua há mais tempo com a mesma empresa pode saber intuitivamente as demandas não atendidas dos profissionais, afinal ele recebe e observa (ou deveria observar) as aflições dos trabalhadores. O trabalho, por sua vez, de investigação dos benefícios que a empresa deve e pode ofertar vão depender não apenas de questões subjetivas, mas de aspectos objetivos internos e externos. Planejar a continuação da aplicação dos benefícios a curto e longo prazo, considerando as possibilidades financeiras da empresa e as possibilidades da equipe, são fatores primordiais, mas tão relevante quanto isso é saber escolher sabiamente quais benefícios tem maior cobertura para a sua equipe de trabalho. Isso, porque cada equipe tem características únicas, cultura própria e uma mentalidade coletiva sobre o que é esperado e desejado naquela estrutura empresarial. Numa empresa multinacional, por exemplo, é fundamental que o gestor de RH verifique as demandas de cada país e região de modo que o pacote de benefícios possa atender um maior número de pessoas. Para os brasileiros, em geral, é mais vantajoso o benefício do vale transporte do que o benefício de acesso a clubes, já que algumas regiões não possuem clubes recreativos. Em contrapartida, no Estados Unidos é mais importante para eles o plano de saúde, já que eles não têm qualquer amparo a saúde pública, do que o vale transporte. Quando escolhe, por exemplo, implantar o vale transporte para todos os brasileiros, esse benefício atenderá as demandas de um número maior de pessoas, do mesmo modo que o plano de saúde beneficiará mais amplamente os trabalhadores estadunidenses. 3.3 ATENDER EXIGÊNCIAS LEGAIS É preciso mencionar que em alguns casos o pacote de benefícios surge apenas para atender às exigências sindicais ou legais da área empresarial. Nesse caso,o programa de benefícios pode ser considerado uma vantagem pela visão do empregado, mas, para o empregador e para o gestor de RH, ele tem como benefício majoritariamente o cumprimento de acordos e exigências legais. Assim, a empresa não fica sujeita a processos trabalhistas, que podem ser custosas e consideradas riscos para o financeiro e para a reputação da empresa. Ainda que possa ser percebido como vantagem pelo trabalhador, o benefício cuja implantação é obrigatória por lei, para Orsi (2015), não é considerado no aspecto competitivo, de atração e de retenção das pessoas. Ora, se ele é obrigatório, vai ser ofertado por todas as organizações, o que não faz esse um diferencial da empresa e do RH dela. 94 Há alguns benefícios obrigatórios, que são pagos pela empresa por meio de encargos sociais, que visam a proteção do trabalhador. São exemplos desses benefícios aqueles que visam sua proteção em caso de acidente, morte ou doença. É indicado que o gestor de RH, junto de sua equipe, à medida que as suas atividades exigirem, capacite-se e recicle seu conhecimento regularmente sobre os aspectos legais voltados ao pacote remuneratório. Empresas de grande porte têm profissionais contratados que podem ser consultados regularmente sobre questões trabalhistas, novidades e situações que possam surgir, mas a maioria costuma contratar profissionais da área do direito do trabalho apenas em situações específicas, quando diante de um processo legal ou para modificações contratuais da parte corporativa, sendo, sempre que possível, exigido do gestor de RH que tenha ciência sobre as determinações legais e sindicais que envolvem a equipe de pessoal da empresa. É interessante comentar que, na contramão dessa ideia de aplicação dos benefícios obrigatórios gerarem a vantagem de garantir à empresa o atendimento das exigências legais, Salício (2015) afirma que o plano de benefícios pode surgir a partir do desejo de empresas deduzirem impostos e obrigações legais. Em alguns casos, inclusive, deduções ilegais. Essa dedutibilidade pode ocorrer na contribuição previdenciária, como é o caso do benefício do salário família, ou em outras situações, como na inscrição do Programa de Alimentação do Trabalhador. É considerado irregular quando, por exemplo, esse benefício for oferecido como privilégio a algum trabalhador, sendo que empregados em situações semelhantes não o obtiveram. 3.4 MELHORAR A MOTIVAÇÃO DO TRABALHADOR O pacote de benefícios também pode ser benéfico para a organização quando afeta positivamente a questão motivacional da equipe. Já está consagrado na literatura que a remuneração sozinha não motiva os trabalhadores a longo prazo. Considerando que estamos estudando a área de RH, é importante ter isso bem estabelecido, já que é comum que o trabalhador muitas vezes faça queixas sobre as recompensas que recebe no seu trabalho. Naturalmente, toda reclamação deve ser acolhida e analisada com cautela, mas é importante observar que é errônea a ideia de que um benefício sozinho vai trazer motivação por muitos anos a um empregado. Ele pode atuar como um fator motivador, mas aspectos como o clima organizacional, a rotatividade e a centralização da gestão podem ser fatores mais relevantes do que apenas a remuneração. Ainda que o RH trabalhe de modo a aumentar o pacote de benefícios dos trabalhadores, a longo prazo essa ação pode perder seu valor. Dito isso, o benefício pode ser considerado como um fator motivador considerando que esse é de grande importância para os trabalhadores e para a comunidade que ali atua. 95 Analisando sob a perspectiva de que o relacionamento entre empregador e empregado pode acontecer em forma de parceira, o benefício compreende uma parte favorável a essa relação. Nesse sentido, o benefício pode ser visto muitas vezes como um facilitador para reduzir a rotatividade e contribuir para a melhoria do clima organizacional. Quando, por exemplo, um pai está com seu filho doente e precisa ir trabalhar, caso a empresa ofereça um benefício como o plano de saúde ou auxílio-doença, ele sentirá um laço mais forte com a empresa, já que ele rfoi amparado quando precisava. Percebe-se que o vínculo é estreitado entre empresa e trabalhador quando a percepção dos benefícios é sentida mais fortemente. Normalmente, essa aproximação gera, por consequência, uma motivação do trabalhador que passa a oferecer o melhor trabalho para a organização. Chiavenato (2004 apud COBÊRO, MANURÃO, 2019) explica que tantos os serviços que a empresa realiza em favor do colaborador quanto os benefícios oferecidos interferem na qualidade de vida da organização. Para o autor, o salário é o componente base da remuneração, seguido dos incentivos salariais e, por fim, os benefícios. Dentre as vantagens que a empresa obtém quando estabelece estrategica- mente seu pacote de benefício, tem: melhora da percepção das pessoas interessadas sobre essa empresa, a redução de faltas e da rotatividade de pessoal, o aumento da lealdade do empregado, a facilidade em recrutar e reter pessoas, o aumento da produti- vidade, a indicação dos preceitos cultivados pela empresa e a redução de reclamações. 3.5 CUSTO E VALORIZAÇÃO O RH procura otimizar os resultados das pessoas para obter melhores ganhos. Isso, no entanto, deve ser realizado considerando as necessidade e expectativas do colaborador e da empresa. Na análise de custos para a empresa e valorização pelo trabalhador dos benefícios, Orsi (2015) dá um exemplo de avaliação. No estudo exemplificado pelo autor, o custo para a empresa é feito a partir de níveis, do mais baixo para o mais elevado, tendo uma linha média que posiciona os benefícios pelo seu valor econômico para o empregador. Da mesma forma, para o empregado, é considerado o valor do benefício por níveis, de baixa valorização até elevada valorização, com uma linha média que os divide. No exemplo apresentado por Orsi (2015) de análise custo x valorização do be- nefício, o seguro-saúde é um benefício considerado de grande valia para o trabalhador e de baixo custo para a empresa. Do mesmo modo, o restaurante e o celular empresarial são benefícios valorados pelo trabalhador, mas que podem ter um custo maior para a empresa. Vale combustível e restaurante, por sua vez são benefícios com custo elevado e altamente valorizados. Nesse caso, é interessante analisar a necessidade e importância estratégica desses benefícios diante dos aspectos mencionados anteriormente (atração e retenção de talentos, atendimento legal, abrangência dos beneficiados e motivação). 96 O benefício seguro por invalidez, por sua vez, de acordo com o exemplo de aná- lise de custo e valorização apontado em Orsi (2015), é pouco valorizado pelos trabalha- dores e com alto custo para a empresa. A academia, por sua vez, pode ser considerado um benefício de baixo custo para a empresa, mas também de pouca importância para os empregados. Orsi (2015) também chama atenção sobre os valores a serem repas- sados para o colaborador a depender do seu salário-base. Ele explica que o benefício, quando ofertado pela empresa, e gerido pelo RH, deve considerar o impacto dos des- contos na remuneração do empregado. Desse modo, quando a gestão do RH estruturar seu plano de carreira, por exemplo, ele deve considerar as faixas de desconto possíveis dentro das promoções e progressões delineadas. 3.6 ATENDER DEMANDAS NÃO MONTERÁRIAS Para o trabalhador, o benefício pode gerar conveniências em sua vida que não são monetárias, como a segurança de ter suas necessidades básicas atendidas e a autorrealização sobre o trabalho que realiza ou o cargo que ocupa na empresa. Nesse sentido, cada vez mais a gestão de RH tem se preocupado em montar uma equipe alinhada aos princípios e cultura da empresa. INTERESSANTE Você já observou que a divulgação das vagas estão cada vez mais falando sobre sua estrutura, seus princípios e valores do que sobre aspectos téc- nicos da vaga? Isso acontece porque as organizaçõesestão cada vez mais se preocupan- do com o alinhamento de perfil do trabalhador do que outros aspectos, como experiência e formações. Em algumas empresas, inclusive, o candi- dato é encaminhado pelo RH a fazer uma análise do perfil, e, com seu perfil definido, o RH vai analisar o cargo que ele tem aderência, dentro das pos- sibilidades da empresa. Enquanto no passado o candidato era analisado apenas para o cargo a que concorreu, hoje ele é analisado por completo e, a partir daí, ele pode receber a oferta do cargo vago que o RH, junto do gestor da área, julga adequado a seu perfil. Essas compensações não econômicas consideradas como benefício não financeiro extrapolam o ambiente de trabalho, podendo colaborar na melhora do relacionamento social da pessoa, gerar uma rede de relacionamentos e aumentar a satisfação coletiva. Do mesmo modo, o emprego pode ofertar o benefício de ascensão do status social do trabalhador em função da posição ou liderança que ocupa na empresa. 97 Esse benefício pode se dar em função do cargo ou não, afinal, é de conhecimento do RH a existência do organograma formal e da estrutura de relacionamentos informal. É nesse benefício que o RH pode verificar a pessoa que tem autoridade, ou seja, o líder, aquele que influencia em algum aspecto da cultura empresarial, e a pessoa que tem poder, ou seja, aquele que tem um cargo na estrutura formal com capacidade de decisão sobre seus subordinados. O gestor de RH deve orientar e auxiliar os demais gestores de pessoas sobre a assistência que esse deve oferecer para os demais trabalhadores. Nessa assistência, para além dos benefícios remuneratórios, como auxílio-doença ou auxílio transporte, o gestor deve se ater a assistência também de questões pessoais, como dificuldades vindas de intempéries meteorológicas ou questões familiares que estão impactando negativamente o desempenho do trabalhador. Veja, esse é um exercício difícil, já que há, por um lado, a força do trabalhador que tem suas necessidades, e, do outro, as demandas da empresa. ESTUDOS FUTUROS No terceiro tema de aprendizagem desta unidade, nomeado “liderar ao gerir benefícios”, aprofundaremos os estudos sobre o trabalho do ges- tor de pessoas diante dos benefícios. O plano de carreira, por exemplo, e a promoção de pessoas, para além do seu aspecto remuneratório, pode aumentar a satisfação do trabalhador que passará a ter sua responsabilidade e atribuições diárias aprimoradas. Quando o gestor de RH estimula a equipe a buscar novas áreas dentro da empresa e permite o crescimento do trabalhador, ela firma a parceria e contribui no seu desenvolvimento e bem-estar. Os benefícios financeiros e não financeiros juntos melhoram a relação da equipe com a empresa e reduz sua insatisfação no trabalho. 4 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Caro acadêmico, neste tema de aprendizagem você estudou que o benefício é uma vantagem, uma regalia oferecida pela empresa. Descobriu, também, que a concepção de benefício não está necessariamente associada à ideia atual de generosidade, já que há obrigações legais e exigências do mercado que demandam a implantação de alguns benefícios. Estabelecemos e dissociamos a concepção de benefício ao conceito de incentivo, estando o benefício atrelado à remuneração fixa e o incentivo, remuneração varável. 98 Através dos conceitos de benefício, você deve ter percebido a relação do benefício com o salário e o pacote remuneratório, sendo o benefício considerado pelos autores um salário indireto que faz parte do sistema de remuneração da empresa. Você conheceu os princípios do plano de benefícios de retorno do investimento e da mútua responsabilidade. Deparou-se com ao menos cinco aspectos que devem ser considerados quando o RH for implantar ou renovar um benefício, ou o pacote de benefícios. Ele deve considerar o que a empresa faz a região e realidade do trabalhador, além das especificidades do cargo ou trabalho ocupado. Ainda no que se refere aos aspectos a serem avaliados na gestão de benefícios, o gestor de RH deve analisar o macroambiente e microambiente empresarial, assim como o posicionamento a que o setor de RH está tendo ao preferir tais benefícios. Nesse sentido, foi comentado sobre a importância de se analisar o custo x valorização do benefício, confrontando e estudando diretamente a relação de interesses entre empresa e trabalhador, e a abrangência e especificidades da cobertura de um benefício. Por fim, o quinto aspecto diz respeito aos benefícios não remuneratórios, ou seja, aqueles que não tem custo efetivo para a empresa, mas que tem valor para a equipe. Nesse sentido, foi analisado a questão do clima e a importância da felicidade para o melhor andamento dos trabalhos, além da análise da cultura empresarial. O primeiro tema de aprendizagem, concepções fundamentais de benefício, também traz as vantagens de se implantar um pacote de benefícios. Essa análise é feita sob o viés da empresa e do trabalhador. Dentre as vantagens, há o interesse em atrair e reter talentos, a vantagem de amparar as pessoas que trabalham (e seus familiares, em alguns casos) e o benefício de estar dentro dos parâmetros legais que, como vimos, em alguns casos pode ser implantado para que a empresa consiga descontos em impostos ou para conseguir deduções tributárias. Outra vantagem diz respeito ao aumento da motivação dos trabalhadores, que nesse aspecto deve ser analisada com cautela, já que pode ser uma motivação de curto prazo, apenas o que pode gerar custos desnecessários e nos leva a outro benefício: evoluir na análise de custo e valorização do benefício. É interessante conferir essa análise já que posiciona o benefício dentro de duas variáveis fundamentais de aproveitamento. O seguro-saúde, por exemplo, pode ser mais vantajoso para a empresa, considerando a análise custo versus valorização, do que o seguro de invalidez, visto que, ainda que o seguro-saúde tenha um custo alto para a empresa, os trabalhadores o percebem como um excelente benefício. Por fim, uma vantagem de gerir benefícios diz respeito ao atendimento de expectativas do trabalhador que não são relacionadas ao salário direto, mas que são importantes para a sua motivação e permanência da empresa. A autorrealização, por exemplo, é um aspecto que pode ser otimizado por meio do benefício não remunerado. 99 Este tema, portanto, trouxe análises e reflexões sobre o plano, o pacote e a gestão de benefícios nas empresas. Ele deu enfoque a diferentes percepções de análise: do trabalhador, do RH e da empresa, buscando ampliar seus conhecimentos sobre as concepções de benefício. No próximo tema de aprendizagem, você estudará com profundidade os tipos de benefícios oferecidos pelo mercado. Até lá! 100 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Sobre o conceito de benefício, voltando-nos ao sentido da palavra, benefício pode ser considerado um bem realizado generosamente a outra pessoa, um rendimento do cargo ou uma beneficiação (PRIBERAM). É interessante analisar esse aspecto, porque associa, por exemplo, o benefício com a ideia de generosidade, embora, na organização, ele só seja ofertado se o trabalhador estiver efetivamente empregando seu tempo e esforço nas funções que ocupa na empresa. • Sobre os aspectos essenciais da gestão de benefícios, a gestão de RH deve analisar alguns pontos antes de implantar ou renovar o pacote de benefícios da empresa. A organização, especialmente a gestão de RH, deve, ao produzir o pacote de benefícios, primeiramente considerar as exigências legais. A partir disso ela deve analisar o que a empresa realiza, inclusive analisando o planejamento estratégico da organização e os objetivos e metas para os próximos anos da empresa • Como o clima e cultura organizacional influenciam os benefícios empresariais. Nesse sentido, é importante lembrar que os benefícios, em regra, não devem fazer distinção das pessoas a que possam utilizar. Excetuando situações específicas, o pacotede benefícios deve abranger todos os trabalhadores da empresa, pois do contrário o benefício vai ter efeito contrário do esperado, vai gerar problemas interpessoais, desigualdades e disputas, impactando negativamente no clima e cultura organizacional. • O pacote de benefícios também pode ser benéfico para a organização quando afeta positivamente a questão motivacional da equipe. Já está consagrado na literatura que a remuneração sozinha não motiva os trabalhadores a longo prazo. 101 RESUMO DO TÓPICO 1 AUTOATIVIDADE 1 Voltando-nos ao sentido da palavra, benefício pode ser considerado um bem realizado generosamente a outra pessoa, um rendimento do cargo ou uma beneficiação. É costumeiro perceber o benefício como uma vantagem oferecida, um adicional ao salário dos trabalhadores de uma organização. Sobre a concepção que algumas pessoas têm de que o benefício é uma ação generosa, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Trata-se de um pensamento antigo e inadequado já que ele só é ofertado se o trabalhador estiver efetivamente empregando seu tempo e esforço na empresa. b) ( ) O benefício é uma vantagem e um cuidado unilateral da empresa, não o encontrando em empresas com condições de trabalho rudes e adversas. c) ( ) A concepção é moderna, atual e realista. Ela mostra como a empresa pode ajudar as pessoas e não espera qualquer retorno em troca. d) ( ) O benefício não pode ser considerado uma vantagem, mas é um salário dado a todos. 2 O princípio da mútua responsabilidade do plano de benefícios defende que os benefícios devem ser custeados cooperativamente com o empregador e com o empregado. Esse princípio defende que, quando os custos são divididos entre empregador e empregado, há um aumento na percepção de pertencimento e responsabilidade sobre os recursos que o benefício oferece. Com base nas concepções dos princípios do plano de benefícios, analise as sentenças a seguir: I- Na visão do RH, a divisão de responsabilidades pode contribuir, inclusive, para o atendimento do princípio de retorno de investimento. II- Na dúvida sobre dividir os custos mutuamente entre empregador e empregado, não se deve realizar uma pesquisa de percepção e demanda sobre os benefícios. III- Ainda que seja analisado o benefício isolado, usualmente o RH vai se deparar com pacotes de benefícios, já que existe a exigência legal de oferta de benefícios mínimos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 102 3 O pacote de benefícios depende de uma gama de fatores. É preciso considerar a atividade da empresa, as demandas dos indivíduos nas regiões onde atua, as especificações do trabalho que executa, as realidades ambientais e de mercado a que a empresa está inserida. De acordo com os fatores a considerar na gestão de benefícios, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A organização, especialmente a gestão de RH, deve, ao produzir o pacote de benefícios, primeiramente considerar as exigências legais. A partir disso ela deve analisar o que a empresa realiza, inclusive analisando o planejamento estratégico da organização e os objetivos e metas para os próximos anos da empresa. ( ) Um pacote de benefícios deve desconsiderar a região e a realidade a que o trabalhador vive. Quando a empresa, por exemplo, oferece o benefício do vale transporte, o trabalhador precisa avisar quais as opções viáveis de locomoção e, diante dessa realidade, o RH vai oferecer a opção mais em conta para a empresa. ( ) Uma questão importante ser analisada quando se pensa em benefício diz respeito a ação de entender as especificações do trabalho que os empregados exercem na empresa. Primeiramente é preciso conferir as demandas legais dos cargos e ocupações para, a partir disso, especificar os benefícios de modo a atendê-los. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 No momento que a equipe de gestão de pessoas avalia as possibilidades de benefícios a serem ofertados pela organização, ela deve considerar a percepção do ambiente em que a organização está inserida, ou seja, se atentar aos aspectos do macroambiente e microambiente empresarial. Disserte sobre a relação do macroambiente e no microambiente empresarial com o RH. 5 O pacote de benefícios é um grupo de benefícios, atrelados ao plano remuneratório, geralmente inscrito em um programa de benefícios, que atende a uma organização. O benefício pode ser exigido quando a empresa está diante de uma escassez de profissionais, quando há uma forte demanda por ele, quando exigida pelo sindicato, quando faz parte do direito do trabalhador ou quando há uma percepção da importância desse para a motivação das pessoas interessadas na empresa. Neste contexto, disserte sobre a vantagem de o benefício motivar os trabalhadores de modo que eles trabalhem em parceria. 103 TIPOS DE BENEFÍCIO 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, parabenizo pela sua jornada firmada até aqui, vamos iniciar agora o segundo tema de aprendizagem sobre a temática benefícios. Neste tema de aprendizagem, você conhecerá os benefícios em voga no mercado e as melhorias no âmbito do pacote de benefícios. Para isso, você acompanhará o resultado de estudos de casos e levantamentos feitos por estudiosos do assunto. Ao todo são ofertados pelo menos cinco estudos de mercado. O material traz novidades acerca do plano de saúde e do benefício da alimentação. No que se refere à análise de benefícios específicos, você explorará com profundidade os estudos nos benefícios mais preteridos pela empresa e pelo trabalhador: alimentação, transporte e plano de saúde. Dentro desse aspecto, você descobrirá as ponderações que o gestor de RH deve ter na hora de gerir os benefícios, as exigências e previsões legais e os fatores que podem diferenciar o seu RH quando ofertá-los. O vale-alimentação tem uma diferença fundamental conceitual que precisa ser absorvida por você, acadêmico, e que tem essa especificação prevista em lei. A fim de educá-lo profissionalmente, este material trará um panorama super atualizado que pode servir de base de pesquisa para o gestor de RH acerca das empresas que gerenciam benefícios. Apresentaremos, para isso, 4 empresas gigantes no mercado de fornecimento do benefício alimentício. Uma questão relevante atualmente diz respeito à saúde alimentar do trabalhador e à promoção de ações de fomento à alimentação saudável. Nesse sentido, você conhecerá o PAT e descobrirá como o Banco Central, através de um regulamento, pode modificar o mercado de fornecimento de alimentos. Sugerimos, acadêmico, que você se atente especialmente às regras e às leis que regem esse benefício. O vale-transporte e o plano de saúde também serão estudados com atenção. Uma característica relevante dos apontamentos sobre o vale-transporte é a indicação de outras opções de translado dos trabalhadores para além do transporte público coletivo. A apresentação desses pontos é relevante especialmente em função de complicações que algumas regiões podem sofrer nesse aspecto. Complicações advindas do transporte de pessoal são acentuadas se considerarmos que o benefício do vale-transporte costuma ter um grande custo para a empresa e pode ser um fator de decisão na contratação do trabalhador. Veremos que o plano de saúde é um dos benefícios mais bem-quisto entre os trabalhadores e, por isso, deve ser gerido com cautela pelo RH. No que concerne ao benefício plano de saúde, você descobrirá uma importante ferramenta de análise fornecida pela ANS e o peso desse benefício nas negociações trabalhistas. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 104 A fim de trazer um panorama plural de benefícios, neste tema, serão apresentados mais de 13 tipos diferentes de benefício. Seja em resultados de pesquisas, em indicaçõesou definições e características dos benefícios, você, acadêmico, terá a sua disposição um rol de benefícios que serão explicados e analisados individualmente. Para contribuir com essas informações, você descobrirá diferentes classificações dos tipos de benefício. As classificações são segregadas em três categorias. É interessante conhecê-las e avaliar como as organizações que você participa estão diversificando seu pacote de benefícios entre essas categorias, para que não sobrecarregue uma categoria de benefício e se esqueça da outra. Isso pode indicar problemas na gestão estratégica do plano de benefícios. As vantagens e desvantagens relacionada ao trabalho home office também serão apresentadas neste tópico. Esse assunto foi popularizado a partir da pandemia do COVID-19 e as discussões são efervescidas sobre a questão de a modalidade ser considerada um benefício ou não. Para a discussão, indicamos que faça proveito das novidades divulgadas pela SOBRATT. Através dessa organização você se manterá atualizado acerca das novidades desse regime de trabalho. O Tema de Aprendizagem 2 desta unidade trará até você os estudos e levantamento sobre diferentes tipos de benefício, a classificação na literatura deles e os argumentos opositores e favoráveis à inclusão do home office no rol de benefícios da empresa. A fim de tornar o material mais conciso, este tema estudará mais intimamente os benefícios mais ofertados e exigidos pelo mercado. A intenção, neste tema, é deixar você a par das novidades, legislações e instituições que possam contribuir no seu trabalho de gestão de benefícios. Vamos começar? 2 BENEFÍCIOS EM VOGA NO MERCADO Benefícios são gratificações, vantagens oferecidas aos trabalhadores por organizações que tem diferentes interesses ao ofertá-lo. Seja para atrair candidatos em potencial ou para motivar as pessoas, é usual que organizações ofereçam diferentes benefícios. Vale lembrar que normalmente a empresa oferece ao trabalhador não apenas um benefício, mas sim um pacote de benefícios, já que há alguns benefícios que são obrigados por lei e outros escolhidos para serem oferecidos ao trabalhador. A área administrativa, portanto, analisa os benefícios majoritariamente considerando o pacote oferecido, estudando os mais ofertados e a importância deles para o trabalhador e para a empresa. Por esse motivo, apresentaremos um panorama da oferta de benefícios nas empresas brasileiras. Vamos analisar estudos e pesquisas feitas com trabalhadores que foram questionados sobre questões relativas aos diferentes tipos de benefícios. Na pesquisa de Rosa et al. (2022), realizada com 233 trabalhadores que atuam em Santa Catarina, observou-se que os benefícios mais ofertados são: plano de saúde, vale alimentação/refeição e seguro de vida. Nesta pesquisa percebeu-se que os benefícios menos concedidos aos trabalhadores são a ginástica laboral e a cesta básica. 105 É notável a importância que os benefícios relacionados à saúde do trabalhador são apresentados no levantamento como os mais concedidos a eles. Essa informação é potencializada e talvez até justificada pelo fato de que, nos últimos anos, desde 2020, a população mundial teve um grande risco de sua saúde ser afetada devido à pandemia do COVID-19. É natural, também, que a empresa se resguarde e previna seus trabalha- dores de situações que possam causar riscos a sua saúde, como é o caso do investi- mento em seguro de vida. Na matéria da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), descobrimos o impacto que a pandemia do COVID-19 teve na área. A entrevista, feita a partir de informações coletadas no X Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência (FenaPrevi) de 2022, destacou as alterações de cláusulas e a demanda de recalcular o preço dos seguros. A FenaPrevi também destacou o crescimento de adeptos ao seguro de vida. Do começo de 2020 até o início de 2022, foi pago cerca de R$ 6,5 bilhões de indenização por sinistros relativos ao COVID-19. Nesse período, a área recebeu mais de 175 mil adeptos a esse benefício. Problemas como fadiga e alterações cognitivas, algumas vezes temporários, são os mais percebidos pela área. Ações nesse sentido foram tomados. Conforme matéria da CQCS (2022), a adoção de carência para contratos novos foi necessária para evitar que pessoas que descobriram recentemente que estavam com COVID-19 recebessem indevidamente a cobertura do seguro de vida. Outra medida foi a concessão de descontos para quem estivesse com o esquema vacinal completo. A adoção de cláusulas que cobrissem doenças na pandemia fez com que os custos com indenização aumentassem, mas a venda deles também cresceram, inclusive para as organizações, como pudemos perceber no resultado dos estudos de Rosa et al. (2022). Outra pesquisa de mercado relativa a benefícios foi feita por Oliveira, Leal e Melo (2018). Os autores constataram, através de entrevistas com 210 pessoas escolhidas aleatoriamente, que os benefícios mais ofertados são, na ordem decrescente de oferecimento: vale transporte (82% dos entrevistados), plano de saúde (75%), vale refeição (61%) e assistência odontológica (56%). É importante dizer que a legislação e alguns acordos coletivos exigem a oferta do vale transporte, demandada especialmente necessária se o trabalhador o solicitar. 106 INTERESSANTE Caro acadêmico, vamos fazer um exercício de análise: confira o que os dois estudos, de Oliveira, Leal e Melo (2018) e de Rosa et al. (2022), tem em comum até o momento? Você consegue perceber como o plano de saúde é um dos mais oferecidos nos dois estudos? Isso pode indicar uma pressão do mercado em tê-lo, pode ser que ele ofer- te uma vantagem para a empresa ou pode ser por outros motivos. Você consegue dizer quais são os motivos para o plano de saúde despontar nas pesquisas de oferta de benefício? Foi percebido também na pesquisa de Oliveira, Leal e Melo (2018) que os benefícios raramente (0,5%) ofertados pelas pessoas que responderam à pesquisa e trabalham são: 14º salário, reembolso e auxílio material escolar, refeitório no local, prêmio assiduidade, auxílio maternidade e 5 folgas por ano. Quais desses benefícios você acredita que é o mais importante e que deveria ser mais ofertado? Perceba que alguns desses benefícios podem não ser aproveitados pelo próprio colaborador, mas por um familiar próximo (filho, cônjuge ou outro). Essa opção de oferta de benefício pode ter um impacto e percepção diferente do colaborador diante da empresa, você concorda? O auxílio material escolar, por exemplo, não oferta os produtos diretamente ao trabalhador, afinal, quem consome esse recurso geralmente são os descendentes do colaborador, filho ou neto, por exemplo. O trabalhador não é o consumidor final, mas a empresa, ao ofertar esse benefício, está contribuindo para que ele tenha recurso financeiro, e lhe sobre esse recurso, para investir na educação de outrem. Nesse estudo de Oliveira; Leal e Melo (2018), foi identificado que, apesar de a bolsa de estudos ser ofertada para 29% dos trabalhadores respondentes, o auxílio educação 2x ao ano é raramente oferecido (0,5%). O investimento em auxílio educação pode ser polêmico e envolver uma gama de variáveis. Os colaboradores desejam esses benefícios, ou seja, está alinhado à cultura da empresa? A empresa oferta um plano de carreiras abrangente e que permita utilizados os conhecimentos adquiridos nos estudos do colaborador em sua lide diária? A região oferece oportunidades de estudo de qualidade? Veja, há vários questionamentos que podem ser feitos em relação a esse benefício e que devem ser analisados na hora de o gestor de RH, junto da equipe (ou comitê de benefícios) decidir implantá-lo no pacote de benefícios. Quando questionadas as 210 pessoas sobre o nível de importância dos benefícios, o estudo apresentou o seguinte resultado: o mais importante, para eles é o plano de saúde, o segundo mais importanteé a participação nos lucros e terceiro, a bolsa de estudos. O que chama atenção nessas respostas é a ausência do vale-transporte e vale-refeição. Isso porque, de acordo com o mesmo estudo, o vale-transporte e o vale-refeição são os benefícios mais oferecidos pelas empresas e, curiosamente, não estão na lista dos benefícios mais valorados pelos trabalhadores. É importante dizer 107 que, apesar da não obrigatoriedade na lei da CLT, o vale-refeição, é constantemente exigido nas convenções coletivas. Considerando os benefícios mais ofertados pelas empresas e mais valorizados pelos trabalhadores, vamos analisar com atenção, nos próximos subtópicos, o benefício isolado, ou seja, estudaremos as características de cada benefício e o que os específica. Comecemos pelo benefício da alimentação. 2.1 ALIMENTAÇÃO O auxílio alimentação ou vale refeição são tipos de benefício amplamente utilizados pelas organizações, que procuram, entre outros motivos, atrair candidatos e reter talentos. Há uma diferença fundamental entre esses: o auxílio alimentação permite a compra, por parte do empregado, de produtos alimentícios, como feijão e leite. Já o vale-refeição, pode ser utilizado apenas em estabelecimentos que transformam esses produtos alimentícios para o pronto consumo, geralmente restaurantes e estabelecimentos de alimentação. O vale-alimentação é melhor aproveitado, naturalmente, no caso de empregos que são exercidos fora da sua residência, especialmente se a pessoa mora distante da residência. Já no caso de empregos que são executados majoritariamente na residência do empregado ou quando a empresa possui um refeitório instalado na empresa, o benefício do auxílio alimentação costuma ser mais importante. Hoje, as maiores empresas do ramo que fazem a gestão desses benefícios são a Alelo, Sodexo, Ticket e a VR. Fizemos um levantamento em janeiro de 2023 para ver as ofertas vigentes por essas empresas. Comecemos pela Alelo. A Alelo é uma empresa brasileira que iniciou suas atividades em 2003 oferecendo a gestão dos benefícios vale-refeição e auxílio-alimentação. Em 2022 ela forneceu a seus clientes a opção do cartão para auxílio emergencial em função da pandemia do Covid-19. De acordo com a empresa (2023), atende atualmente 150 mil empresas e 10 milhões de trabalhadores. Além dos benefícios alimentícios, ela oferece serviços de gestão dos benefícios relativos à cultura, transporte (mobilidade, frota e gestão de vale-transporte) e saúde. Esses benefícios são ofertados através de cartões e aplicativos. O cartão mobilidade, por exemplo, oferece ao trabalhador a possibilidade de utilizá-lo em diferentes tipos de transporte: taxi, aplicativos de bicicleta ou em postos de abastecimento veicular. Ele também permite utilizá-lo para pagar estacionamentos e algumas manutenções veiculares (de baixo custo). 108 ATENÇÃO O serviço de aluguel de bicicletas é um modelo importado de outro pa- íses, mas, em função da grandeza do Brasil e das variedades de oferta nas regiões, pode ser que você não conheça. Ele consiste em você pagar pelo tempo que precisar usar a bicicleta. São bicicletas de uma empresa que gerencia esse serviço e geralmente são padronizadas, como o modelo apresentado na figura 1. Com o cartão mobilidade, no exemplo de utiliza- ção do benefício do vale-transporte, é possível comprar essas horas de uso pelo aplicativo da empresa fornecedora desse recurso. Figura 1 – Serviço de locomoção por bicicletas alugadas Fonte: https://elements.envato.com/pt-br/mature-dating-couple-laughing-whilst-pushing-hire- --U6KJZUS. Acesso em: 30 jan. 2022. Outra empresa no mercado que oferece serviços de gestão do benefício alimentício é a Sodexo. A Sodexo é uma empresa de origem francesa que surgiu em 1966. Hoje, ela atua em 56 países e atende 100 milhões de consumidores. No que se refere ao benefício alimentício, a empresa oferece o vale-refeição, limitado ao consumo em restaurante e aplicativos de delivery (entrega de alimentos prontos para o consumo), https://elements.envato.com/pt-br/mature-dating-couple-laughing-whilst-pushing-hire--U6KJZUS https://elements.envato.com/pt-br/mature-dating-couple-laughing-whilst-pushing-hire--U6KJZUS 109 o vale-alimentação, que libera a compra em mercados, açougues e hortifrutis e o auxílio-alimentação, que permite fazer a refeição e a compra de produtos do gênero alimentício. O cartão auxílio-alimentação oferece ao trabalhador a possibilidade de gerir seu saldo, transferindo-o, conforme sua necessidade, de alimentação para refeição e vice-versa. Ele também oferece serviços relacionados a incentivos e reconhecimentos do colaborador, assim como relacionados ao bem-estar e à saúde dele. A Ticket, empresa do grupo Edenred, contribui na gestão dos benefícios da alimentação, de transporte, de incentivos e recompensas. A empresa vende também um cartão que pode ser oferecido às pessoas que foram contratadas recentemente. Trata-se de um cartão provisório, que pode ser oferecido a partir do primeiro dia de trabalho do empregado, chama-se Cartão RH. A VR Benefícios é uma organização brasileira fundada em 1977, que oferta, além dos benefícios alimentícios, serviços de gestão de incentivos e mobilidade. Ela faz parte do ecossistema de empresas que inclui a Audaz Tecnologia, Global Point e Pontomais e trabalha, hoje, com 70 mil empresas, atendendo 3,4 milhões de trabalhadores. ATENÇÃO Há novidades relacionadas a regulamentação do vale alimentação e vale- -refeição. De acordo com a InfoMoney (2023), o Banco Central retirou do Sistema de Pagamentos Brasileiro esses benefícios. A partir do dia primei- ro de março de 2023, empresas que fornecem serviços de vale alimenta- ção e vale refeição não precisam seguir regras específicas exigidas nessa regulamentação. Leia a matéria completa aqui: https://www.infomoney. com.br/consumo/banco-central-deixa-de-regular-vale-alimentacao-e-re- feicao-entenda-o-porque/. Ao longo dos anos, no que se refere ao aspecto da saúde e alimentação, foi possível observar que a busca por uma melhor qualidade de vida no trabalho aumentou exponencialmente. Em um levantamento feito por Silva e Bezerra (2019) com 16 empresas localizadas em São Paulo, descobriu-se que pouco mais da metade delas (ou seja, nove empresas) têm refeitório. Em entrevistas, os autores indicaram que os trabalhadores responderam preferir o benefício do refeitório no local, pois, desse modo, eles buscam ter uma dieta equilibrada e a possibilidade de reduzir o estresse no trânsito quando eles se deslocam para ir se alimentar. Só que, curiosamente, o estudo também revelou que a existência de restaurantes instalados na empresa pouco influencia no índice de massa corporal (IMC) dos 595 trabalhadores. A pesquisa dos autores revela que, dos 595 profissionais entrevistados, quase todos preferem se alimentar no local de trabalho. Analisando sob a percepção do colaborador acerca das vantagens relacionadas à alimentação no trabalho, o estudo 110 Silva e Bezerra (2019) revelou que a distância de casa até o trabalho é um fator relevante para os trabalhadores que atuam em empresa não tem refeitório. Isso chama atenção quando contrastado com a realidade do mercado apontada por Oliveira, Leal e Melo (2018), já que esse é um benefício raramente oferecido no Brasil. O RH, por sua vez, nem sempre vai encontrar equipes que não gostam (ou não conseguem) se alimentar nas instalações do trabalho. Em alguns casos, como quando estamos diante de uma empresa de pequeno porte, ou uma organização que tem uma cultura que rejeita a adoção de refeitório no trabalho, além do restaurante instalado na empresa, outra melhoria que pode ser realizada nesse sentido é a oferta de convênio com restaurantes e pequenas empresas que produzem marmita nas proximidades e convênio com mercados. Silva e Bezerra (2019) apontam outra questão relevante que deve ser levada em conta quando se decide por implantar, ou não, um refeitório no local do trabalho. [...] nogrupo de empresas que não possuem restaurante no local, [...] os funcionários usam o intervalo do almoço para outras atividades. Porém no outro grupo, o das empresas que possuem refeitórios e têm o intervalo de almoço reduzido, a grande maioria dos funcionários não usa o intervalo para outras atividades, mas existem respondentes que o usam para atividades pessoais, principalmente pagamento de contas. [...] a predominância das atividades realizadas pelos respondentes de empresas que não possuem restaurantes no ambiente fica entre pagar contas e realizar compras. Outra questão importante é que, quando o intervalo de almoço é de duas horas, típico das empresas que não possuem restaurante, os funcionários tendem a resolver questões pessoais durante este tempo, principalmente pagamento de contas. Nesse sentido, tem-se uma situação boa, pois é possível ao funcionário ter um “tempo útil” durante o horário comercial (SILVA; BEZERRA, 2019, p. 8-9). Eles complementam dizendo que ao passo que utilizar o tempo de sobra do intervalo reservado à alimentação para fazer outras atividades pode ser vantajoso, também pode ser estressante e pode levar a um aumento de riscos de acidentes no trajeto. Uma questão relevante no que diz respeito às mudanças no benefício da alimentação está relacionada aos acordos que são feitos entre empregado e empregador, muitas vezes mediados por sindicatos. O estudo de Zylberstajn (2021), que pesquisou negociações coletivas feitas ao redor do Brasil, descobriu que os benefícios de vale-alimentação e vale-refeição são um dos mais negociados pelas empresas. Esse estudo analisou as negociações ocorridas entre 2019 e 2020 e descobriu que em 2019 o benefício do vale-refeição esteve em média 17% presente nas negociações trabalhistas, tanto em 2019 como em 2020. Essa porcentagem gerou um ligeiro aumento no valor do vale-refeição mediano de R$ 21,00 para R$ 22,00. Já o vale-alimentação, decresceu sua porcentagem de número de negociações que visavam esse benefício. Em 2019 esse benefício esteve presente em 24% das negociações e em 2020 caiu para 21% a presença 111 desse benefício nas negociações. De acordo com o levantamento, o valor mediano do vale alimentação mudou de R$ 255,00 para R$ 263,00. Vale dizer que em 2020 iniciou- se a pandemia do COVID-19, o que pode ter gerado mudanças nas negociações entre sindicatos e empresas. 2.1.1 Alimentação na CLT A alimentação, conforme encontrado na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (ORSI, 2015), faz parte do salário in natura, ou seja, assim como o pagamento em dinheiro, a alimentação é uma parte do salário do trabalhador. De acordo com a CLT, a alimentação fornecida como salário in natura, também nomeado salário-utilidade, não pode passar de 20% do valor do salário contratual. Para ser considerado salário in natura, este benefício precisa ser fornecido habitualmente ao empregado. O auxílio- alimentação, por sua vez, não entra como remuneração. De acordo com a CLT, mesmo que fornecida habitualmente ao empregado, o auxílio alimentação que não for pago em dinheiro não se caracteriza como salário. Esse benefício, portanto, não gera encargo trabalhista nem deve ser incorporado ao contrato de trabalho. É importante comentar que a Lei nº 14.442, de 3 de agosto de 2022, orienta que o auxílio- alimentação deve ser utilizado para pagar refeições ou produtos do gênero alimentício em restaurantes (ou similares) e em estabelecimentos comerciais. Caso o empregador ou a empresa contratada para este serviço não utilize o valor para este objetivo, eles estão sujeitos a multa. O mesmo ocorre com a empresa que forneceu os produtos não alimentícios ao empregado e a empresa que o credenciou. Ainda no que se refere à CLT, Decreto-Lei nº 5.452 (1943), a Lei estabelece que todo trabalho contínuo que dure mais de seis horas deve ter no mínimo uma hora para descanso e alimentação e no máximo duas horas (a exceção de haver acordo escrito ou contrato coletivo que preveja mais de duas horas de intervalo). O tempo de uma hora intervalo para o trabalhador repousar ou se alimentar pode ser reduzido por ato do Ministério do Trabalho e quando a empresa tiver refeitórios adequados às especificações legais e não estiver sob regime de trabalho prorrogado a horas suplementares. Quando não ofertado esse tempo de repouso e alimentação, a empresa deve indenizar com pagamento acrescido de 50% do valor da remuneração da hora normal de trabalho do empregado. No caso de empregados em prontidão, aguardando nas dependências para trabalhar em estradas de ferro, quando não tiver no seu local de trabalho ou dependência facilidade de alimentação, é obrigatório a pausa, após seis horas de prontidão, de uma hora para cada refeição. Havendo a facilidade de alimentação, esse período passa a ser de dez horas de prontidão. Em se tratando de pessoas que atuam na equipagem de trens, conforme CLT, a empresa deve fornecer ou a alimentação ou ajuda de custo para as despesas com alimentação. O mesmo acontece com as viagens e hospedagens destinadas a trabalhos. Às empresas exploradoras de minas, é garantido ao empregado que atua no subsolo alimentação adequada ao seu trabalho. 112 Vale comentar que, conforme CLT, o tempo que o trabalhador fica na empresa para se alimentar não entra como tempo de jornada de trabalho a título de computar hora extra. 2.1.2 Programa de Auxílio ao Trabalhador (PAT) O Programa de Auxílio do Trabalhador (PAT) é uma iniciativa do Governo Federal que serve de parâmetro para o benefício da alimentação do trabalhador. O PAT foi instituído pelo Decreto nº 10.854, de 2021, embora esteja previsto em lei desde 1976 pela Lei nº 6.321. Ele beneficia empresas que se inscrevem no programa, isentando-as de alguns encargos sociais. É necessário, para tanto, que a empresa forneça a alimentação dos trabalhadores em seu estabelecimento ou estabeleça contratos com empresas de alimentação coletiva. Também cabe ao programa empresas que oferecem alimentos através da distribuição desses. Esse programa é citado como referência para diferentes leis, estudos e negociações. Vejamos alguns desses exemplos. Zylberstajn (2021) menciona o PAT em seus estudos sobre negociação coletiva. O autor defende que o benefício do vale-refeição é bastante oferecido pelas empresas brasileiras porque geram incentivos tributários. Essa justificativa vai ao encontro do argumento de que as empresas podem investir em benefícios para conseguir deduções tributárias e em impostos. Ela também confirma a concepção de que o benefício não necessariamente é uma oferta puramente generosa. Embora traga regalias para o trabalhador e familiares, costumam também ter interesses financeiros e legais sobre sua adoção. Lembrando que o RH deve realizar a análise do benefício considerando o custo dele para a empresa versus a vantagem percebida pelo trabalhador. O estudo de Zylberstajn (2021) também descobriu que o vale-alimentação foi menos abraçado nas negociações trabalhistas em 2019 e 2020, comparado-se ao vale-refeição. Isso é preocupante já que, observando essa tendência atualmente, notou-se que, no período pandêmico, resultante da Covid-19 iniciada em 2020, muitos restaurantes e estabelecimentos que ofereciam alimentos prontos para o consumo fecharam. A maioria, por sua vez, teve que se reinventar, oferecendo seus produtos em aplicativos de entrega ou em plataformas digitais, mas, notadamente a oferta e utilização do benefício vale-refeição reduziu em grande número. Em contrapartida, os mercados não fecharam, tiveram seus serviços mantidos e, considerando que muitos dos trabalhos foram rearranjados, mesmo que provisoriamente, para acontecerem na casa do trabalhador, o consumo de mercado aumentou consideravelmente. Siqueira et al. (2021) investigam o potencial do PAT em uma empresa que foca na alimentação sustentável. A empresa, nomeada Papayas, iniciou seus trabalhos em 2019 no Rio Grande do Sul e oferece as organizações um vale alimentaçãosustentável, ou seja, que trabalha apenas com fornecedores locais e alimentações sustentáveis. 113 O caso estudado mostrou a importância de aprofundar os conhecimentos sobre esse programa. A empresa analisada aponta essa preocupação quando conecta demanda dos trabalhadores às feiras, vendendo direto do produtor, e disponibilizando em sua rede de parceiros empresas locais que fornecem alimentos. O estudo levanta uma questão que deve ser analisada pelo RH e empresa que estão preocupados com a saúde do trabalhador: o vale-alimentação traz o benefício de processamento do produto in natura. Afinal, ao comprar produtos do gênero alimentício em uma rede como a Papayas, que foca nos produtos saudáveis, a alimentação terá poucas modificações. Usualmente, sem tantos conservantes, ao oferecer o vale-alimentação, a empresa está reduzindo a possibilidade de o profissional consumir em grandes quantidades produtos ultra processados. Já quando é ofertado apenas o vale-refeição, o trabalhador fica sujeito ao que lhe é oferecido nos estabelecimentos de produtos prontos para o consumo. Por esse motivo, Siqueira et al. (2021) trazem um alerta: [...] autores que têm se dedicado a essa agenda de pesquisa, como Stolte, Hennington e Bernardes (2006) e Araújo, Costa-Souza e Trad (2010), indicam que os objetivos definidos para o PAT não vêm sendo atendidos satisfatoriamente, visto que, entre outros fatores, a alimentação acessível pelo programa não garante alimentação adequada e saudável para a população. No Rio Grande do Sul (RS), todavia, o poder público municipal e a iniciativa privada têm experimentado estratégias inovadoras com o público atendido pelo PAT, contribuindo para construção de alternativas às relações de produção e consumo (Siqueira et al., 2021, p. 4) Nesse sentido, vale analisar a realidade da empresa, a demanda do colaborador, a cultura de consumo dos alimentos pelos trabalhadores e as inclinações dos gestores diante desse tema. 2.2 VALE-TRANSPORTE O vale-transporte, assim como o vale-refeição, é um benefício altamente oferecido pelas empresas brasileiras. Esse benefício é instituído pela Lei nº 7.418, de 1985, que deve ser antecipada pelo trabalhador de modo que ele consiga arcar com as despesas de locomoção do caminho de sua casa até o trabalho e vice-versa. A Lei também informa que o valor fornecido para esse benefício não tem natureza salarial, o que faz com que não haja vantagens financeiras, por parte do empregado, relativas a contribuições previdenciários ou tributários no valor investido nesse benefício. Ainda no que se refere a descontos e obrigações, o empregado contribuirá com até 6% do seu salário básico para o pagamento desse benefício enquanto a empresa custeará o valor restante, ou seja, tudo que exceder os seis por cento. Essa informação poderia ser confrontada com o princípio da mútua responsabilidade evidenciada por Sa- 114 lício (2015). Naturalmente, por ser uma coparticipação obrigatória, esse princípio não tem tanto peso, ou seja, o colaborador ter descontado seis por cento do seu salário para obter o vale transporte pode não instigar o sentimento de pertencimento e responsabilidade sobre ele. Isso porque, como dito pelo autor, o benefício com obrigação legal que exige contribuição do empregado não impacta de sobremaneira a motivação dele. Uma opção vigente no mercado é a oferta de ônibus fretado. Inclusive, está assegurado na Lei do vale-transporte (Lei nº 7.418, de 1985) a locomoção dos trabalhadores ser realizada pela empresa, ou por outra organização que ela contratar para esse fim, desde que o deslocamento seja feito integralmente por ela em veículo adequado para o transporte coletivo. É interessante analisar a opção de oferta do transporte realizado pela própria empresa porque essa pode impactar nos resultados da empresa. Veja, enquanto RH é preciso estar atento ao clima percebido no translado desses trabalhadores. Enquanto, por um lado, pode ser um benefício agregador, visto que reduz o estresse no trânsito e pode reduzir os custos com o investimento em outros meios de transporte, por outro pode gerar desavenças e desmotivar os trabalhadores, que podem não concordar com aspectos como o horário de saída do veículo, as condições de transporte ou as ações dos outros trabalhadores. Um benefício opcional, para além do ônibus fretado da empresa e do transporte coletivo, é o vale-combustível. Esse, no entanto, não está previsto em lei. No caso do vale-combustível, o empregado utiliza o veículo próprio para se deslocar no trajeto casa-empresa. Além disso, ocupações que exigem a locomoção do trabalhador para diferentes regiões também costumam oferecer esse benefício. É o caso, por exemplo, de promotores de venda que precisam se deslocar para diferentes pontos da região a fim de realizar a reposição de mercadorias em outras empresas. Muitas vezes esse benefício é considerado como ajuda de custo e é percebida como uma indenização pelos serviços prestados. O vale-transporte muitas vezes é visto como uma fonte de alto custo de pessoal para a empresa. É usual vermos vagas de emprego que deem preferência para pessoas que residem próximo das instalações da empresa. Isso faz com que pessoas que residem longe de polos empresariais muitas vezes tenham suas oportunidades reduzidas. Nesse sentido, a questão de transporte é um fator determinante para tal dificuldade. Além dos altos custos que a empresa precisa investir para transportar essa mão-de-obra, há o tempo gasto no trajeto, a maior probabilidade de acidentes ou outros problemas até a chegada desse trabalhador e desmotivação dele, considerando os fatores já mencionado. Para balizar essas questões, o trabalho 100% remoto mostrou-se uma opção vantajosa. 115 NOTA Não dá para desconsiderar a desigualdade social que existe no Brasil quando analisamos as possibilidades de trabalho remoto, especial- mente se considerarmos regiões distantes dos centros urbanos. Isso porque o trabalho remoto depende de recursos mínimos para a sua execução e, se a empresa não a fornece, pode ser um impeditivo para esses profissionais. Há uma tendência das organizações que ofertam vagas home office em subsidiar esses recursos, o que entra como um benefício latente no mercado. No caso de empresas que oferecem vagas de trabalho 100% remotas, o profissional não precisa se deslocar às instalações físicas da empresa, o que impacta nos custos da empresa com esse benefício e na valorização dessa modalidade pelo trabalhador. Percebeu-se especialmente depois da pandemia do COVID-19, que obrigou os trabalhadores a não frequentarem as instalações físicas da empresa, melhorias nesse sentido, tanto por parte da empresa, cuja maioria dispensou investimento nesse benefício, como para o trabalhador, que polpou o tempo que gastaria no trajeto investindo em outras atividades. Naturalmente, a opção de oferta de vagas remotas depende da natureza do trabalho, mas, como descoberto por muitas pessoas durante a pandemia, a dispensa de deslocamento ao espaço físico pode ser considerada um benefício não remuneratório pelo trabalhador e uma economia para o empregador. 2.3 PLANO DE SAÚDE O terceiro benefício analisado é um dos benefícios mais requisitados pelos trabalhadores. O plano de saúde é um serviço que atende às necessidades dos trabalhadores e familiares, chamados de beneficiários, quando diante da necessidade de atendimento médico, hospitalar ou laboratorial. A abrangência dos serviços ofertados através desse benefício depende das coberturas previstas no contrato. Esse benefício é ofertado através da contratação de operadoras de plano de saúde privado e é regulado pelo Ministério da Saúde via Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. DICAS Caro profissional de RH, a ANS oferece o “Programa de Qualificação de Ope- radoras” que avalia o desempenho das operadoras de planos de saúde pri- vado. Ao final da avaliação, o programa divulga o índice de desempenho de cada operadoraque permite comparar qual melhor atuou naquele ano considerando as dimensões: 116 *Qualidade em atender as necessidades de saúde dos beneficiários; *Rede de assistência; *Sustentabilidade no mercado e; *Cumprimento das obrigações técnicas e legais. Essa análise é relevante especialmente para o RH já que o auxilia na escolha da melhor operadora para a gestão do benefício mais importante para os trabalhadores. Tenha acesso a essas informações neste site: https://www.ans.gov.br/qualificacao_consu- midor/consulta_dados/pesquisa_operadora.asp. De acordo com Zylberstajn (2021), o benefício plano de saúde esteve presente em 20% das negociações fechadas em 2019 e em 22% das negociações realizadas em 2020. O pesquisador revelou que os benefícios de vida e saúde tiveram um aumento nas negociações ao longo desses anos. Vale lembrar que esse aumento está diretamente relacionado aos impactos da doença provocada pelo COVID-19. No rol de benefícios da área da saúde, o autor apresenta, além do plano de saúde, os seguintes benefícios: plano odontológico, convênio farmácia, aposentadoria complementar e seguro de vida. Percebeu-se, inclusive, que o seguro de vida esteve mais presente nas negociações de 2020 (26% presente nas negociações) do que o próprio benefício plano de saúde (22% presente nas negociações). Essa análise vai ao encontro do tema da matéria da CNSeg, que fala sobre o crescimento exponencial dos adeptos aos seguros de vida na pandemia. O plano de saúde, apesar de bem-quisto pelos trabalhadores, deve ser gerido com cautela, visto que o custo pode ser alto para a empresa e, dependendo do que for oferecido, pode gerar descontentamento. Por isso se faz essencial instruir adequadamente a equipe sobre todas as características dos benefícios. A divulgação do benefício e das alterações que ele sofre devem ser comunicadas com frequência pelo RH. Não apenas é uma ação importante para situar e instruir os trabalhadores internos, como também é uma ação que pode valorizar a empresa diante de pessoas interessadas em trabalhar nela. Um fato importante colocado no estudo de Zylberstajn (2021) diz respeito às novas pautas de negociação entre empregado e empregador. Para além da questão dos benefícios, a manutenção dos empregos em tempos de pandemia foi assunto em voga nas convenções e acordos coletivos. Ao todo, a manutenção dos empregos esteve presente em 5.038 negociações. Essa situação, assim como a valorização de pacotes de benefício de saúde, fora acentuada pela crise, tanto econômica quanto de saúde pública, gerada pela pandemia do COVID-19. https://www.ans.gov.br/qualificacao_consumidor/consulta_dados/pesquisa_operadora.asp https://www.ans.gov.br/qualificacao_consumidor/consulta_dados/pesquisa_operadora.asp 117 Nesse momento, é válido resgatar a importância e as vantagens que o princípio da responsabilidade mútua pode proporcionar para o benefício plano de saúde. Quando diante desse benefício, é usual que as empresas trabalhem com o sistema de coparticipação, que divide os valores percentual entre empregador e empregado. Ao funcionar desse modo, as empresas evitam que surjam problemas, como o excesso de idas a consultas médicas sem necessidade e a fraude nos serviços. 2.4 OUTROS BENEFÍCIOS Além dos benefícios já mencionados, você encontra no mercado os seguintes benefícios: • Assistência Odontológica: descoberta por Oliveira, Leal e Melo (2018) como sendo um dos benefícios mais oferecidos para os trabalhadores, esse benefício costuma ter baixo custo e pode ser percebido como vantajoso para alguns grupos de trabalhadores. • Auxílio Creche: pouco utilizado pelas empresas, esse benefício não tem como consumidor final o trabalhador, mas é de seu interesse. Trata-se de um serviço que também é ofertado pelo sistema público educacional, mas que, por ter suas limitações em algumas regiões, pode ser interessante ser agregado ao pacote de benefícios. Fundamental que o RH analise as possibilidades e realidade da região em que o trabalhador mora. • Convênio Farmácia: geralmente tem baixo custo, já que se trata de um trabalho de parceria no qual, normalmente, o trabalhador paga integralmente os custos com remédios e outros produtos de farmácia. Esse benefício dá a vantagem para o trabalhador de não desembolsar na hora os produtos comprados em farmácias, descontando-os posteriormente em sua folha de pagamentos. • Cesta Básica: benefício que oferece produtos alimentícios para o trabalhador. É comum encontrar empresas que condicionam o recebimento desse benefício à assiduidade do trabalhador. Esse é um benefício que foi relevante na pandemia do COVID-19. • Vale Cultura: permite ao trabalhador comprar produtos e serviços voltados à cultura. Normalmente tem um limite e são oferecidos por empresas de gestão de benefícios, como Alelo e Sodexo. • Seguro de Vida: como visto, esse benefício está se modificando e sendo cada vez mais procurado pelas empresas (ROSA et al., 2022). Esse e outros motivos fazem, portanto, com que esse seja uma pauta de negociação presente em 26% das negociações trabalhistas (ZYLBERSTAJN, 2021). É importante, nesse sentido, que o RH fique atento e analise com cautela as cláusulas e coberturas dos seguros que contrata. • Empréstimo: pouco presente nas empresas, esse benefício possibilita ao trabalhador fazer empréstimos a menores taxas. Assim como o convênio farmácia, esse benefício geralmente é construído a partir de parceria entre empresas. Desse modo, a empresa garante que não haja uma queda na produtividade do colaborador endividado em função de seus problemas financeiros. 118 • Bolsa de estudos: é um benefício percebido pelos trabalhadores como de grande importância e que tem uma boa adesão pelas empresas, 29% das empresas dos trabalhadores que responderam à pesquisa oferecem bolsa de estudos (OLIVEIRA; LEAL; MELO, 2018). Esse benefício geralmente é ofertado ao trabalhador, mas pode ser estendido aos seus dependentes. Pode ser considerado um benefício que tem poder de impactar positivamente a permanência do trabalhador na empresa, especialmente se ele realizar cursos de longa duração, com mais de dois anos. • Previdência Complementar: assim como o plano de saúde, é ofertado por operadoras de seguro. Esse benefício fornece a sensação de segurança aos trabalhadores, especialmente aqueles em idades próximas da aposentadoria. • Home Office: pode ser considerado um benefício se atendido algumas características, como o fornecimento (ou reembolso) de recursos tecnológicos e a ajuda de custo em outras questões demandadas por essa modalidade de trabalho. Nos últimos anos passou a crescer o número de adeptos, estando na pauta de negociações em 2020 em 5.164 acordos coletivos (ZYLBERSTAJN, 2021). Os benefícios também podem ser não financeiros, como é o caso de benefícios como a prevalência da equidade no ambiente laboral e a liberdade e apoio a criatividade. Perceba que esses benefícios estão conectados aos valores da empresa. Por isso, conhecer aquilo que a sua empresa verdadeiramente oferece de melhor para os trabalhadores é uma função essencial do RH. Além dos benefícios já mencionados, há os obrigatórios, como férias, 13º salário, salário família, abono de férias e horas extras. A fim de delimitar as possibilidades de composição do pacote de benefícios, vamos conhecer como eles são classificados pela literatura. 3 CLASSIFICAÇÃO DOS BENEFÍCIOS Considerando as características dos benefícios, podemos classificá-los de diferentes maneiras. Paiva (2019) classifica os benefícios por exigência, natureza e objetivo. Vejamos com atenção cada categoria. Os benefícios que têm exigência legal são aqueles que a empresa tem a obrigação de oferecer a todos os trabalhadores, da organização ou da classe ocupacional. Quando o benefício está previsto na legislação trabalhista e previdenciária, ou, ainda, quando conquistado através de acordos ou dissídios coletivos, estamos diante de um benefício de exigência legal.São exemplos desses benefícios as férias, o adicional noturno e o 13º salário. 119 NOTA Dissídio coletivo é uma ação realizada através da Justiça do Trabalho que, nesse caso, pode culminar na modificação da empresa no seu pacote de benefícios. Os benefícios de exigência legal, em função de legislação e acordo exterior à organização, obriga a empresa a implantar tais benefícios no seu pacote de benefícios. Nesse sentido, é fundamental que o gestor de RH esteja atento as modificações legais e dos grupos ocupacionais que trabalha de modo a alterar, sempre que necessário, a sua oferta de benefícios. Se a empresa trabalha no regime celetista, é fundamental que o RH conheça e acompanhe na íntegra o texto e as modificações relacionadas a CLT. Quando se tratar de uma empresa pública, ela deve analisar o regimento do órgão e as exigências legais da esfera de poder que atua. Os benefícios de exigência espontânea, por sua vez, são aqueles que não são exigidos por lei, mas que a organização prefere oferece aos trabalhadores, como é o caso de assistência médica e prêmio assiduidade. É curioso, nesse sentido, pensar que, diante da concorrência cada vez mais acirrada entre as empresas, oferecer alguns benefício que seriam considerados como diferenciais, pode ser visto pelo mercado como pré-requisito para a gestão de recursos humanos. Quando a empresa tem um pacote de benefícios enxuto, ela dificilmente vai conseguir competir com outras quando disputar por talentos e mão-de-obra especializada e isso pode ser um problema para o RH. Naturalmente, essa percepção depende da região em que a empresa está instalada. Se ela está em uma área que tem polos de trabalho, como em centros urbanos, a concorrência será maior do que em alguns espaços rurais, que tem poucas empresas ofertando oportunidades de trabalho. Os benefícios também podem ser caracterizados pela sua natureza monetária ou não, vejamos com atenção esses dois. Os benefícios de natureza monetária (grifo nosso), são aqueles pagos ao trabalhador em dinheiro e que geralmente dispendem encargos sociais e trabalhistas. É o caso do prêmio por desempenho, por exemplo, e do 13º salário. Muitas empresas se atentam no modo como disponibilizam os benefícios para que fujam, ou reduzam, a incidência de impostos nos benefícios ofertados. Já os benefícios não monetários, são aqueles que, por meio de vantagens ou serviços, contribuem para a manutenção e bem-estar do trabalhador, como é o caso dos benefícios vale-transporte e assistência médica. Esses serviços têm a intenção de trazer facilidades para o trabalhador, como é o caso, por exemplo, do refeitório na empresa, que oferta a praticidade de se alimentar no trabalho, com uma alimentação balanceada e sem perder tempo do seu intervalo para se locomover até o restaurante. 120 A terceira categoria indicada por Paiva (2019) são os benefícios que tem dife- rentes objetivos. Um benefício, para a autora, pode ter o objetivo assistencial, recreativo ou supletivo. Analisemo-nos esses três objetivos. O benefício assistencial, é aquele que fornece segurança e previne o trabalhador quando ele estiver diante de imprevistos ou emergências. É o caso dos benefícios seguro de vida e complementação da pensão. Já o benefício recreativo, busca instigar e dar condições para que o trabalhador e seus dependentes consigam se divertir, está voltado a atividades de lazer. Exemplos desse tipo de benefício são os benefícios que dão acesso a clubes e festas regionais. O terceiro objetivo do benefício, de acordo com a autora, diz respeito ao objetivo supletivo. O benefício com objetivo supletivo é aquele que oferta facilidades e conveniências para o trabalhador, promovendo uma melhor qualidade de vida para ele. É o caso, por exemplo, do benefício de oferta de um restaurante nas instalações da empresa, ou de oferta de horários flexíveis de trabalho. 4 HOME OFFICE A partir do período pandêmico despontou nas redes sociais e em conversas sobre trabalho a discussão sobre o home office ser um benefício. Vamos estudar essa questão. O home office, de acordo com Haubrich e Froehlich (2020), iniciou-se nos anos 70 por haver problemas de locomoção em função da crise do petróleo. IMPORTANTE Por definição, o home office é uma metodologia de trabalho que se vale de recursos tecnológicos para executá-lo em locais para além da estrutura física empresarial. Haubrich e Froehlich (2020) colocam como sinônimo de home office as metodologias de trabalho nomeadas: teletrabalho, trabalho virtual, trabalho a distância e escritório virtual. De acordo com a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), Decreto- Lei nº 5452, de 1943, “Considera-se teletrabalho ou trabalho remoto a prestação de serviços fora das dependências do empregador, de maneira preponderante ou não, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação, que, por sua natureza, não configure trabalho externo”. 121 As modificações nessa modalidade de trabalho foram percebidas ao longo dos anos, à medida que a Internet foi expandindo e sendo disponibilizada para novos locais. Para Trope (1999 apud HAUBRICH; FROEHLICH, 2020) existem diferentes tipos de home office. Vamos conhecê-los: • Trabalho em casa, o mais adotado neste método de trabalho. • Trabalho realizado em casa e na empresa, nomeado pendular. • Trabalho executado em escritórios localizados na vizinhança de diferentes empresas; • Trabalho produzido no escritório da empresa que fica fora da matriz, nomeado escritório satélite. A modalidade de trabalho que pode ser realizado em casa e na empresa, ou em locais parceiros da empresa, ficou mais conhecida como trabalho híbrido. Outro termo também associado ao trabalho home office executado 100% em casa é o trabalho remoto. O home office modificou as estruturas da organização, não apenas no modo de trabalho, mas também a metodologia de gestão, que se tornou mais flexível e que procura se valer de estratégias versáteis de aprimoramento dos resultados. Para o RH não seria diferente. As políticas de procedimento devem ser revistas, ajustando-se a legislação – que cresceu fortemente durante os anos 2020 – dessa modalidade e trazendo imbricações para os salários e benefícios adotados pela empresa. DICAS Você conhece a SOBRATT? A Sobratt é a Sociedade Brasileira de Teletra- balho e Teleatividades, ela nasceu em 1999 e tem o objetivo de divulgar informações de confiança sobre o trabalho a distância. Obtenha mais infor- mações no site oficial: https://www.sobratt.org.br/. Uma questão fundamental relacionada ao modelo de trabalho home office é a necessidade de o RH aprofundar seus estudos na legislação da área. Mais que isso: é preciso conferir a questão da equidade dos benefícios entre os profissionais de di- ferentes modalidades. No que se refere à política remuneratória, legalmente o salário deve ser o mesmo para os trabalhadores remoto e presenciais (HAUBRICH; FROEHLI- CH, 2020). No que se refere às modificações dos contratos de trabalho, essas só po- dem ser feitas nas novas contratações. Para aqueles que já atuam presencialmente e quiserem alterar seu método de trabalho, pode-se alterar os benefícios apenas se for em favor do colaborador. 122 O que se observa é uma resistência dos gestores, especialmente da alta gestão (direção, sócios), em adotar esta modalidade de trabalho, tendo em vista a necessidade de revisão de toda a estrutura de gestão, especialmente no que tange a supervisão do trabalho. É visto como um desafio, ou um problema que pode gerar improdutividade, a flexibilidade dos espaços e períodos de trabalho da equipe organizacional, o que dificultaria a coordenação e supervisão dos processos de trabalho. No que se refere ao RH, Haubrich e Froehlich (2020) orientam para a gestão de RH ter especial atenção às cláusulas relativas a acidentes de trabalho, jornada de trabalho e hora extra. "O empregado precisa assinar um termo se responsabilizando por tomar cuidado com questões pertinentesde ergonomia e conforto no trabalho, pois ele será fora das dependências da empresa, sendo o mais usual na residência" (HAUBRICH; FROEHLICH, 2020, P. 170). Vale comentar que, diante de um acidente de trabalho, apesar de o trabalhador ter o benefício da Previdência Social, quem arcar com os custos relacionado aos acidentes é exclusivamente o empregador (CASTRO, 2020). A empresa, especialmente a área de Gestão de Pessoas, deve se atentar a instrução dos trabalhadores sobre os riscos relacionados a seu emprego, devendo ao RH realizar, ajustar e recolher assinatura de ciência e acordo a um termo de responsabilidade. IMPORTANTE Imaginemos que você trabalha no RH de uma empresa e recebeu o comunicado de um acidente de trabalho ocorrido com um empregado que atua home office. Quando foi ques- tionar como o acidente aconteceu, a pessoa explica que estava trabalhando quando escor- regou no tapete de casa. E então, como você agiria nesse caso? Você concorda que foi um acidente de trabalho? Veja, esse é um grande desafio já que essa modalidade gerou. Por isso a necessidade, com premência, de rever e estipular cláusulas e acordos no contrato acerca do que configura acidente de trabalho no home office, além da demanda de estudar a legislação da área. Bom, como sugestão de solução diante dessa situação, é indicado que você consulte um advogado trabalhista com conhecimentos sobre essa modalidade de trabalho, pois, a partir das informações embasadas fornecidas por ele, você poderá tomar algumas deci- sões sobre o caso. É fundamental especificar as atividades a serem exercidas pelo trabalhador que atua home office e as responsabilidades de custos e infraestrutura decorrentes do seu trabalho. Mais que isso: é preciso estudar a estrutura física e processos como o trabalhador está atuando em home office. Questões como a ergonomia do trabalhador, por exemplo, deve ser considerada de modo que os trabalhadores que trabalham em casa não tenham problemas de saúde no futuro. A Figura 2 ilustra uma 123 postura inadequada a que os trabalhadores possam ter consequências em sua saúde no futuro. Esses hábitos ruins podem trazer, para a empresa, custos relacionados a baixas e afastamento para tratamento de saúde. Nesse sentido, a ginástica laboral mostra-se como benefício que possa trazer melhorias para o trabalhador e previne custos futuros com pessoa para a empresa. Figura 2 – Ergonomia no trabalho Fonte: https://elements.envato.com/pt-br/stumbling-upon-some-great-websites-shot-of-a-young- -6YQAJQF. Acesso em: 30 jan. 2023. Essas cláusulas e acordos devem ser firmados em acordo individual, firmando o período para receber o benefício de repousos legais. Conforme indicado na CLT, através da Lei nº 14.442, de 2022, o acordo individual também deve prever as disposições da legislação local e nas convenções e acordos coletivos do estabelecimento de lotação do empregado. 5 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Caro acadêmico, no Tema de Aprendizagem 2, você descobriu os benefícios mais adotados pelo mercado de trabalho, são eles: plano de saúde, vale-alimentação/ refeição, vale transporte, seguro de vida e plano odontológico. Essa descoberta se deu através de dois estudos, ambos aplicados para mais de 200 trabalhadores com a diferença de que um tem abrangência estadual e o outro federal. Através dos levantamentos foi percebida a crescente preferência pelas empresas no mercado em ofertar o seguro de vida e por isso você leu o resumo de dois artigos, recebendo informações recentes de 2022 sobre as mudanças e os impactos que o setor da saúde sofreu. Ofertado o panorama geral de benefícios em voga no mercado, a próxima etapa vivenciada por você, estudante, consistiu em conferir informações específicas sobre os três principais benefícios para o trabalhador e para a empresa: o vale-alimentação, https://elements.envato.com/pt-br/stumbling-upon-some-great-websites-shot-of-a-young-6YQAJQF https://elements.envato.com/pt-br/stumbling-upon-some-great-websites-shot-of-a-young-6YQAJQF 124 vale-transporte e o plano de saúde. Você descobriu que o vale-refeição é geralmente associado a ideia da concessão de benefícios para consumir alimentos prontos para consumo em locais como restaurantes enquanto o auxílio alimentação, de acordo com a CLT, faz parte do salário do trabalhador e é orientado para a compra de produtos do gênero alimentício que ainda não foram transformados. A transformação a que se refere esse texto diz respeito ao processo, por exemplo, de cozimento de vegetais, o que inclui o corte dos vegetais, a preparação e o posterior cozimento. A fim de conhecer na prática as ofertas de mercado vigentes relativo a esse benefício, você constatou as características e história de quatro importantes empresas que fazem a gestão de benefícios: a Alelo, Sodexo, Ticket e a VR. Você deve ter percebido alguns diferenciais entre elas, como, por exemplo: a Alelo oferta o cartão mobilidade que pode ser utilizado inclusive para pagar estacionamento e fazer algumas manutenções no veículo, a Sodexo permite transferir o saldo do vale-refeição para o auxílio-alimentação e vice-versa, a Ticket permite ao RH fornecer um cartão temporário para o trabalhador recém-chegado na empresa possa usufruir dos benefícios sem que a empresa precise reembolsá-lo imediatamente e a VT que trabalha com um ecossistema de empresas e tem um vasto leque de opções de contratação. Uma mudança recente que você pode ter descoberto ineditamente através deste material é a informação de que o regulamento do Banco Central vai extinguir, a partir de março de 2023, as exigências que regiam o Sistema de Pagamento acerca do benefício alimentação. No que se refere a esse benefício, você estudou um novo estudo de caso que analisa os benefícios do PAT e o resultado de uma grande pesquisa, feita com quase 600 pessoas, que analisava os impactos, a importância e as vantagens de ter um refeitório na empresa. Esse levantamento descobriu que os trabalhadores preferem que a empresa forneça essa vantagem e identificou algumas atividades que eles realizam durante o horário de intervalor reservado para a alimentação. A pesquisa ponderou que essas atividades podem trazer vantagens, mas que podem também afetar negativamente o clima e produtividade da equipe. Uma pesquisa sobre negociações coletivas apontou que o vale-refeição foi mais negociado em convenções e acordos coletivos do que o auxílio-alimentação em 2019 e 2020, o que vai de encontro com a demanda desse período, cuja pandemia fez os trabalhadores consumirem mais produtos produzidos por eles, comprando alimentos mais de mercado do que de restaurante. No tópico reservado a CLT você viu que a regra do vale-refeição e auxílio-alimentação devem ser cumpridos por força de lei, podendo as empresas sofrer penalidades caso utilizem de outra maneira. Conferiu que está previsto na CLT o intervalo mínimo de 1 hora para o trabalhador que atua mais de seis horas ininterruptas, limitada a duas horas de intervalo. 125 Ainda no que se refere ao benefício da alimentação, você conheceu o PAT, percebendo que esse benefício pode isentar encargos sociais por parte das empresas, o que “cai por terra” a concepção de que a empresa oferece benefícios ao trabalhador apenas por generosidade. Você também analisou alguns resultados do estudo de caso da aplicação do PAT na alimentação saudável dos trabalhadores por meio da jovem empresa gerenciadora desse benefício, a Papaya. Outro benefício analisado é o vale-transporte. Você tem registrado nesta unidade a legislação que a rege, assim como a do benefício anterior, e pode conferir algumas ca- racterísticas essenciais desse benefício, tais como o fato de que ele não incorpora ao sa- lário e de que é obrigatório. Foi trazido à tona opções de translado dos trabalhadores para além da dependência da empresa pelo transporte coletivo. Você foi conduzido a indicação de oferta do vale-transporte por meio de ônibus fretado e vale-combustível.Acerca do vale-combustível é importante lembrar que em alguns casos, como os de profissionais que atuam como promotores de venda, que esse tem a qualidade de ajuda de custo, já que seus valores oscilam em função da natureza da ocupação. Você percebeu, também, que o vale-transporte, por ter muitas vezes alto custo para a empresa, pode ser um fator decisivo para a seleção de candidatos (exceto nos casos de empregos home office). Além dos benefícios alimentação e transporte, um benefício estudado com mais profundidade é o plano de saúde. Sendo preterido nas pesquisas pela grande maioria dos trabalhadores, o plano de saúde é regulado pela ANS e está presente em 22% das negociações coletivas. É interessante que o gestor de RH saiba da existência do Índice de Desempenho de Operadoras de Plano de Saúde Privado, já que pode o auxiliar na sua decisão sobre a contratação de operadoras de plano de saúde. Além dos três benefícios já mencionados, foi citado outros 10 benefícios. A intenção, com isso, é expandir o rol de opções da área acerca das possibilidades de gestão de sua carteira de benefícios. Considerando os tipos de benefício, você vai conhecer uma classificação oferecida na literatura que os organiza por: exigência, natureza e objetivo. A exigência diz respeito a obrigação legal, ou não, de a empresa ofertar o benefício ao trabalhador. Enquanto o vale-transporte é um benefício obrigatório por lei, o plano odontológico não. A classificação por natureza, por sua vez, está associada a forma de pagamento ao trabalhador, se monetária ou não. Um claro exemplo da importância dessa diferenciação reside no benefício da alimentação. A alimentação pode ser um benefício monetário ou não, depende das características de oferta que o trabalhador realiza. A classificação por objetivo divide os benefícios em objetivo assistenciais, ou seja, que o auxilia diante de emergências, o benefício recreativo, com o objetivo de fornecer lazer ao trabalhador e familiares, e o benefício supletivo, que tem o objetivo de ofertar facilidades ao trabalhador, como é o caso do refeitório na empresa. 126 Ao correr dos estudos sobre benefícios, foi citado recorrentemente os impactos que a pandemia do COVID-19 trouxe para eles. Por isso, incluímos como tipo de benefício a análise sobre o trabalho home office. A temática é introduzida como um questionamento, já que há diversas discussões correntes sobre ele ser considerado um benefício ou não. Para tanto, levantamos algumas questões que devem ser consideradas nessa análise, especialmente sob o viés do RH. Você conheceu, por meio dessa análise, a SOBRATT, uma importante organização da área. Este tema, portanto, trouxe análises e reflexões sobre os tipos de benefício, a classificação deles e a possível inclusão do home office ao rol de benefícios Ele explorou majoritariamente os benefícios mais ofertados e exigidos pelo mercado. A intenção, neste tema, é deixar o acadêmico a par das novidades, legislações e instituições que possam contribuir no seu trabalho de gestão de benefícios. No próximo tema de aprendizagem você estudará com profundidade as atividades demandadas para liderar na gestão de benefícios. Até lá! 127 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • As transformações sofridas no mundo do trabalho. • As características dos benefícios mais ofertados e bem-quistos pelo mercado, sendo eles, de acordo com a pesquisa de mercado relativa a benefícios que foi feita por Oliveira, Leal e Melo (2018), através de entrevistas com 210 pessoas escolhidas aleatoriamente, que os benefícios mais ofertados são, na ordem decrescente de oferecimento: vale transporte (82% dos entrevistados), plano de saúde (75%), vale refeição (61%) e assistência odontológica (56%). É importante dizer que a legislação e alguns acordos coletivos exigem a oferta do vale transporte, demandada especialmente necessária se o trabalhador o solicitar. • As distintas classificativas dos tipos de benefícios, sendo eles gratificações, vantagens oferecidas aos trabalhadores por organizações que tem diferentes interesses ao ofertá-lo. Seja para atrair candidatos em potencial ou para motivar as pessoas, é usual que organizações ofereçam diferentes benefícios. • Sobre as vantagens e desvantagens relacionada ao trabalho home office. Esse assunto foi popularizado a partir da pandemia do COVID-19 e as discussões são efervescidas sobre a questão de a modalidade ser considerada um benefício ou não. 128 AUTOATIVIDADE 1 Benefícios são gratificações, vantagens oferecidas aos trabalhadores por organiza- ções que tem diferentes interesses ao ofertá-lo. É notável a importância dada os be- nefícios relacionados a saúde dos trabalhadores, especialmente porque nos últimos anos, desde 2020, a população mundial teve um grande risco de sua saúde ser afeta- da devido a pandemia do COVID-19. É natural, também, que a empresa se resguarde e previna seus trabalhadores de situações que possam causar riscos a sua saúde, como é o caso do investimento em seguro de vida. Sobre as mudanças ocorridas na área de seguro de vida, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Problemas como fadiga e alterações cognitivas, algumas vezes temporários, são foram pouco identificados pela área. Ações nesse sentido foram tomados. b) ( ) A adoção de carência para contratos novos foi dispensada para abarca pessoas que descobriram recentemente que estavam com COVID-19. c) ( ) Uma novidade na área de seguro de vida foi o aumento no valor desse benefício para quem estivesse com o esquema vacinal completo. d) ( ) Do começo de 2020 até o início de 2022 foi pago cerca de R$ 6,5 bilhões de indenização por sinistros relativos ao COVID-19. 2 O auxílio alimentação ou vale refeição são tipos de benefício amplamente utilizados pelas organizações, que procuram, entre outros motivos, atrair candidatos e reter talentos. Há uma diferença fundamental entre esses: o auxílio alimentação permite a compra, por parte do empregado, de produtos alimentícios, como feijão e leite. Já o vale-refeição, pode ser utilizado apenas em estabelecimentos que transformam esses produtos alimentícios para o pronto consumo, geralmente restaurantes e estabelecimentos de alimentação. Com base nas informações sobre o benefício alimentação, analise as sentenças a seguir: I- Hoje as maiores empresas do ramo que fazem a gestão desses benefícios são a Alelo, Sodexo, Ticket e a VR. II- A partir do dia primeiro de março de 2023, empresas que fornecem serviços de vale alimentação e vale refeição devem seguir as regras do Banco Central. III- Em uma pesquisa, descobriu-se que as atividades mais realizadas pelos traba- lhadores nas empresas que não possuem refeitório ficam entre pagar contas e realizar compras. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 129 3 O plano de saúde é um serviço que atende as necessidades dos trabalhadores e familiares, chamados de beneficiários, quando diante da necessidade de atendimento médico, hospitalar ou laboratorial. A abrangência dos serviços ofertados através desse benefício depende das coberturas previstas no contrato. De acordo com o que foi estudado sobre plano de saúde, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A Agência Nacional de Saúde Suplementar oferece o “Programa de Qualificação de Operadoras” que avalia o desempenho das operadoras de planos de saúde privado. ( ) Esse benefício é ofertado através da contratação de operadoras de plano de saúde privado e é regulado pelo Ministério da Educação via Agência Nacional de Educação Suplementar – ANS. ( ) O plano de saúde, por ser bem-quisto pelos trabalhadores, deve ser oferecido sem precedentes, independente da cobertura e das cláusulas do contrato. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( )V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Seja para atrair candidatos em potencial ou para motivar as pessoas, é usual que organizações ofereçam diferentes benefícios. Vale lembrar que normalmente a empresa oferece ao trabalhador não apenas um benefício, mas sim um pacote de benefícios, já que há alguns benefícios que são obrigados por lei e outros escolhidos para serem oferecidos ao trabalhador. Disserte sobre as exigências legais relativas aos benefícios empresariais. 5 O home office modificou as estruturas da organização, não apenas no modo de trabalho, mas também a metodologia de gestão, que se tornou mais flexível e que procura se valer de estratégias versáteis de aprimoramento dos resultados. Para o RH não seria diferente. As políticas de procedimento devem ser revistas, ajustando- se a legislação - que cresceu fortemente durante os anos 2020 - desta modalidade e trazendo imbricações para os salários e benefícios adotados pela empresa. Nesse contexto, disserte sobre a gestão de pessoas nessa modalidade de trabalho. 130 131 TÓPICO 3 - LIDERAR AO GERIR BENEFÍCIOS 1 INTRODUÇÃO Querido acadêmico, seja bem-vindo ao nosso último tema de aprendizagem desta unidade que tem como temática benefícios. Neste tema de aprendizagem você conhecerá as possibilidades de atuação do RH na gestão dos benefícios. A fim de evidenciar as possibilidades de o RH agregar valor à empresa, você acompanhará os resultados de um estudo de caso e de uma pesquisa de satisfação dos trabalhadores. Os seus estudos iniciam evidenciando a relação entre RH e gestão, especial- mente considerando uma corrente teórica de gestão de pessoas. Você acompanhará a potência das ações do RH em toda a empresa e como, com o apoio da alta gestão (dire- tores e sócios), o seu trabalho pode gerar excelente resultados. Uma técnica estudada neste material consiste na análise do esforço do trabalhador versus a recompensa da empresa. As percepções nesse sentido afetam a produtividade do trabalhador e os re- sultados da empresa. Este tema de aprendizagem vai te apresentar quatro tipos de per- cepção sobre a balança esforço x recompensa: injustiça, acomodação, aproveitamento, motivação. Você entenderá como cada uma funciona e como o RH pode interferir nessa percepção de modo a alcançar a motivação do trabalhador. São apresentadas pelo me- nos 4 opções de ação do RH nesse sentido. Vale a pena conferir! Se o RH pretende agregar valor aos resultados da empresa e atuar com assertividade, é fundamental que o gestor do departamento realize o planejamento estratégico. Apenas com esse recurso é que o setor consegue seguir em harmonia com os objetivos da empresa. Você conhecerá um exemplo prático e de suma importância que indica o impacto que as ações do RH no presente, se pautado no planejamento estratégico da RH, podem contribuir para os objetivos corporativos. No estudo de caso foram trazidas inúmeras opções de aplicação do RH diante de possíveis demandas percebidas no caso. A empresa estudada oferta 8 benefícios e foram sugeridas pelos respondentes da entrevista outros 7 benefícios. A pesquisa evidenciou problemas graves em alguns benefícios. As questões se relacionam especialmente a ações do RH na melhoria da oferta dos benefícios: refeição, plano de saúde e plano odontológico. Considerando a análise de aplicação em diferentes tipos de benefício, eles foram analisados à luz da classificação de benefícios. A análise resultou em uma conclusão interessante para o gestor de RH. Esse caso foi escolhido por ter um alto índice de satisfação dos benefícios pelos trabalhadores e porque atende um grande contingente de pessoal. Ao todo a empresa emprega 2 mil trabalhadores e 90% dos respondentes está satisfeito com o pacote de benefícios fornecido pela empresa. UNIDADE 2 132 Este tema de aprendizagem é direcionado ao departamento de RH, mas, considerando que todo gestor é gestor de pessoas, e a transversalidade do assunto, esse material se faz importante para todos que estudam técnicas e levantamentos de gestão de benefícios. A proposta é trazer uma nova análise, propostas de solução e indicação de ações que o RH pode executar a fim de que o seu setor se torne referência na área. A estrutura desse material se dá na apresentação de informações retiradas de artigos científicos e a posterior investigação e possibilidades de atuação profissional. Esperamos que você o aproveite, ele foi produzido com apreço. Bons estudos! 2 COMO O RH PODE AGREGAR VALOR Entre as concepções de gestão de pessoas vigentes na literatura, existe uma linha teórica que defende que todo gestor é gestor de pessoas, ou seja, a gestão de pessoas inclui toda ocupação que envolva gerir alguém. Considerando essa proposta, um desafio torrente na área é justamente as ações de gerir a equipe. Isso porque há inúmeras questões que devem ser analisadas e diferentes desafios vivenciados no dia a dia. “Devo demitir o trabalhador faltoso? Sinto que a produtividade está baixa, o que posso fazer para motivar a equipe? Percebo que não tenho tanta influência pelas pessoas que gerencio, como posso mudar isso.” Essas são algumas das questões que povoam a mente dos gestores de pessoal e que são motivos de preocupação deles. O gestor de RH, nesse sentido, tem uma força essencial. Ele atuar nas vertentes de análise dos desafios da equipe e nas tratativas de balanceamento de demandas. Resolver conflitos, entender como as pessoas atuam e qual é o potencial delas são algumas das atividades-chave da área. Para ter um papel estratégico, no entanto, além do apoio da alta gestão (direção e sócios), o gestor de RH precisar estar ciente das novidades do mercado e, conhecendo sua equipe, explorar as possibilidades de expansão. O RH tem um papel decisivo e pode ser um grande agregador nos resultados da empresa. Se considerarmos que a empresa só acontece se os processos funcionarem e os processos só transcorrer com a ação humana, entendemos que o RH é decisivo nos resultados da empresa. Ao investir em pessoal a empresa está investindo em melhorias. Essa é uma concepção relativamente nova, se considerarmos a evolução da Administração. No passado acreditava-se que todo investimento em mão de obra era apenas custo. O início das teorias administrativas tratava as pessoas como se fossem máquinas, sem considerar fatores como comportamento e motivação. Algumas empresas ainda pensam assim. Atualmente, o senso comum da área já tem cristalizada a concepção de que os investimentos em pessoal, se bem realizados, ou seja, com propósito e de acordo com as demandas da empresa, alinhada as expectativas do trabalhador, impactam fortemente nos resultados. Esse equilíbrio, no entanto, de variáveis pode ser desafiador. Boog e 133 Boog (2013) falam sobre o equilíbrio que o gestor deve ter em relação a balança esforço x recompensa. A percepção do trabalhador sobre a sua recompensa, na organização influencia no seu nível de colaboração, sendo prejudicial se estiver desequilibrada. A relação esforço x recompensa pode ser resumida através da figura a seguir. Figura 3 – Esforço e recompensa Fonte: https://elements.envato.com/pt-br/business-revenue-concept-businessman-holding-us- -do-A9ATTKJ. Acesso em: 31 jan. 2023. Analisando sob o aspecto da Figura 3, sobre as possibilidades de interpretação da imagem, podemos pensar nos tipos de serviço e de recompensa que possam circun- dar a imagem. Do lado do trabalhador, representado pelo ato de mexer notebook, Boog e Boog (2013) acreditam que o profissional pode oferecer à empresa: engajamento, ex- periência, competências, serviços, tempo, esforços, motivação e empenho. Por parte da empresa, o trabalhador recebe recompensas, que podem ser: salários, benefícios, bônus, participações, prestígio, reconhecimento, promoções, status ou oportunidades. Na análise dos autores Boog e Boog (2013), essa balança (esforço versus recompensa) pode resultar em quatro tipos de percepçãodo colaborador: → Injustiça, quando ele percebe que mais colabora do que recebe. → Acomodação, quando ele colabora pouco para a empresa e recebe proporcional- mente ao seu esforço, ou seja, tem pouca recompensa. → Aproveitador, quando ele recebe mais do que colabora para a empresa. → Motivação, quando há um equilíbrio entre sua colaboração com a percepção sobre a recompensa. Para Boog e Boog (2013), a percepção motivada é a que deve ser fomentada pelos gestores, já que é nesse momento que o trabalhador efetivamente agrega valor à organização, produzindo mais e tendo maior satisfação pessoal. Afinal, como dito https://elements.envato.com/pt-br/business-revenue-concept-businessman-holding-us-do-A9ATTKJ https://elements.envato.com/pt-br/business-revenue-concept-businessman-holding-us-do-A9ATTKJ 134 por Salício (2015), o pagamento do trabalho é o que une, o centro das relações, entre empregador e empregado. Há aí uma troca entre direito e responsabilidade: a empresa tem o direito de cobrar resultados e o trabalhador, sua recompensa. Já a empresa tem a responsabilidade de entregar essas recompensas e o trabalhador de entregar seu tempo e esforço nas tarefas do trabalho. IMPORTANTE É possível reter talentos reduzindo os custos financeiros? Quando se pensa em retenção de talentos, os gestores, naturalmente, se preocupam no quanto isso vai custar para a empresa. É possível que o gestor de RH precise negociar com esse gestor e que, juntos, devem considerar a importância desses talentos e o impacto dos custos atrelados a manutenção desse pessoal na equipe. Nesse sentido, Boog e Boog (2013) trazem uma dica para investir em pessoal suavizando os custos empresariais. Para Boog e Boog (2013) quando se investe em retenção de talen- tos há um aumento significativo nos custos de sua mão de obra, seja através de salários ou de benefícios. A estratégia da gestão de pessoas, portanto, para eles, consiste em investir nos potenciais ta- lentos. Eles acreditam que o RH não deve reagir aos talentos de modo a retê-los na empresa, mas sim de instigar o talento potencial daqueles profissionais que estão alinhados ao perfil da empresa e a eles tomar ações de investimento. O segredo, nesse sentido, para eles, é dado através da mentoria dos potenciais talentos. A propos- ta, portanto, dos autores (Ibidem) é de reter potenciais talentos, re- duzindo os custos de investimento em pessoal qualificado para o trabalho e aumentando na equipe que está alinhada aos objetivos e cultura da empresa. Uma questão interessante, no entanto, é a concepção de recompensa e remuneração que os gestores, e o RH, podem apresentar. Para os autores, a percepção do colaborador sobre a recompensa dispendida na organização pode ser considerada a partir do salário, mas também dos benefícios. Os benefícios, remuneratórios e não remuneratórios, são o que devem ser evidenciados pelo gestor e equilibrados de modo a despertar esse estado de percepção. Naturalmente, deve-se levar em consideração também o clima organizacional existente, o reconhecimento dado ao trabalho do colaborador e o aumento do sentimento de valorização do seu esforço na empresa. Veja que interessante o que os autores Boog e Boog (2013) falam acerca da agregação de valor por parte dos gestores de pessoal: Fazer os colaboradores perceberem um aumento do receber, sem onerar a folha de pagamento da organização, é uma das tarefas de todos os profissionais em posição de gestão. Esse é um papel indelegável dos líderes da organização, que com uma atuação positiva, que encante os colaboradores, faz com que estes tenham e percebam um receber substancial (BOOG; BOOG, 2013, p. 92). 135 Divulgar e incluir na percepção dos trabalhadores as recompensas intrínsecas da equipe é competência chave para otimizar a produtividade e o resultado da empresa, mas ela deve ser feita com cautela. A atuação do gestor deve se dar tanto na avaliação da recompensa monetária, quanto na psicológica. A questão central está relacionada a qualidade da gestão empresarial (BOOG; BOOG, 2013). O RH pode conseguir pontificar essa questão se investir em capacitações e aperfeiçoamentos dos gestores. Os treinamentos nesse sentido devem ser intensificados a depender da situação vivenciada na empresa. Quando a empresa trabalha com um grande contingente de pessoas que se sentem injustiçadas diante de suas recompensas, monetárias ou não, ela pode sofrer processos trabalhistas recorrentes, ter gastos com alta rotatividade de pessoal, ser alvo de greves e ações sindicais, além de problemas no clima organizacional e na re- tenção de talentos. Boog e Boog (2013) lembram, no entanto, que a análise também deve ser feita levando em consideração os resultados e desempenho do trabalhador e do seu trabalho dentro da equipe. A ideia, aqui é conferir se a recompensa está realmente sendo desigual para o trabalhador, ou seja, ele se esforça e agrega valor à empresa ou ele está apenas reclamando sem se esforçar o suficiente para mudar sua situação remuneratória? IMPORTANTE Como está a sua percepção sobre o trabalho que desempenha? Nessa análise, você considerou também os aspectos que agregam valor à organização, para além do nível do seu esforço e tempo dispendido na organização? Afinal, você se encontra na organização em qual das situações: mo- tivada, injustiçada, aproveitadora ou motivada? Faça essa análise também com as vivências dos colegas que te rodeiam. A empresa a partir da situação apresentada acima, de insatisfação dos trabalhadores acerca do pacote remuneratório, deve tomar uma atitude. É exigido que ela se posicione, especialmente o gestor de RH, respondendo as cobranças recebidas. Para tanto, o gestor de pessoas deve produzir e/ou exigir do gestor direto da equipe o monitoramento dos resultados, ou, ao menos, os parâmetros de qualidade dos serviços esperados. Avaliar os trabalhadores é uma tarefa de extrema relevância para guiar a tomada de decisão dos gestores. Quando o RH não tem essa informação, ele “caminha no escuro”, ou seja, ele não tem fortes fundamentos que justifiquem a base remuneratória, e de benefícios oferecidos, a equipe. Os parâmetros escolhidos na avaliação de pessoal devem deixar claro à equipe aquilo que é pretendido em seus esforços na organização. Por isso, cabe ao RH instruir os trabalhadores sobre as metas e resultados esperado, assim como associar esse nível 136 de especificidade na composição e alcance de alguns objetivos. Um trabalhador, por exemplo, que questiona por que o promotor de vendas recebe auxílio-combustível e ele não, deve ter claro as especificidades desses, o impacto desse benefício para o promotor e os resultados que a empresa recebe que permitem ofertar tal benefício a eles. Esses parâmetros interferem, inclusive, na hora de desligar o colaborador, que terá, a pessoa desligada e os ex-colegas de trabalho, a ciência dos requisitos que o levou a demissão. 3 POTENCIAIS DO RH NA GESTÃO DE BENEFÍCIOS Os benefícios são geridos pelo RH, mas podem ter a contribuição de outras organizações que fazem com que esse benefício chegue até o trabalhador, como é o caso das operadoras de planos de saúde e as empresas de gestão de benefícios. Nesse sentido, como o RH pode potencializar as ações do setor de modo a trazer diferencial a empresa e a comunidade? Um RH precisa direcionar suas ações. Essa atividade utiliza como referência o plano estratégico da empresa. A partir dele o gestor desse departamento elabora o planejamento estratégico do RH. Planejar estrategicamente o RH é, essencialmente, entender o que a empresa quer para o futuro e, ciente do seu potencial, ferramentas e cultura da empresa, traçar objetivos a serem perseguidos. O interessante, nesse sentido, é a compreensão de que planejar não é apenas pensar no futuro. Trata-se de estruturar seu presente e agir de modo a alcançar o que se pretende no futuro. Imaginemos, por exemplo, que a alta gestão decida ampliar seu espaço físicodaqui três anos. Sabendo dessa informação através do plano estratégico empresarial, o que você considera que o RH deve fazer? É interessante que a área se estruture para conservar as características de processo atual ou é necessário tomar hoje novas atitudes para conseguir bons resultados no futuro, quando a empresa estiver em expansão? Quando se sabe o que a empresa aspira para seu futuro o RH deve se organizar em plano a longo, médio e curto prazo, a fim de concretizar esses objetivos. No caso da expansão da empresa, a empresa pode, por exemplo, construir regulamentos internos e procedimentos admissionais robustos de modo a integrar e orientar da melhor maneira a nova equipe que virá. Mas, perceba, o plano do RH não deve ser fazer esses regimentos ou criar procedimentos de integração daqui três anos, quando a construção da empresa estiver em andamento. A ideia é trabalhar nos próximos dias, ou no próximo ano, para que esses regimentos e procedimentos estejam firmados, ou ao menos em teste de execução, para que daqui a três anos o RH consiga agregar a expansão e contribuir para a liderança da área. 137 O mesmo ocorre para os benefícios. Sabendo que a empresa quer expandir, deve-se avaliar as potencialidades de oferta dos benefícios. A empresa ganha ao ter um RH com ações alinhadas aos seus objetivos e a comunidade pode ser favorecida ao receber investimento nas empresas locais, por exemplo, ou a incluir dependentes no usufruto dos benefícios. A comunidade local, especialmente as pessoas interessadas em trabalhar na empresa, ganham também ao ter ciência da estruturação dos processos, à facilitação percebida na transparência sobre as regras dos benefícios e as oportunidades que podem conseguir nele. Quando divulgada a informação sobre os objetivos da empresa, se os diretores estiverem de acordo, a sociedade costuma tomar maior interesse. As pessoas pensam: essa parece ser uma boa empresa para trabalhar, e o benefício reforça esse pensamento, já que traz vantagens aos trabalhadores e, em alguns casos, a seus dependentes. Nesse sentido, faz-se interessante analisar essas perspectivas a partir de um caso contrato. Um estudo de caso foi realizado em Criciúma, Santa Catarina, em uma fábrica de cerâmica com mais de dois mil colaboradores (MACHADO, 2016). Essa organização oferece os seguintes benefícios: • Plano de saúde (assistência médica), com subsídio de 60% pela empresa e 40% pelo trabalhador. • Assistência odontológica. • Vale transporte, com desconto de 6% do salário base do trabalhador. • Vale refeição, com desconto de R$ 33,20 por mês do trabalhador, ofertado por um refeitório instalado na empresa, que conta com a inspeção de uma nutricionista. • Cesta básica, paga em dinheiro por um cartão que só permite a compra em mercados. • Convênio farmácia, com o grupo Sesi, que desconta os custos da compra no salário base mensal do trabalhador. • Associação, que oferece um espaço para realizar eventos, uma lanchonete e um campo de futebol. • Participação dos Lucros e Resultados, pago anualmente. Na pesquisa foi considerada a percepção do trabalhador sobre a importância dos benefícios oferecidos. Os resultados foram feitos a partir da resposta de 100 trabalhadores (MACHADO, 2016). Desses, 87% dizem que receberam instruções dos benefícios na integração de admissão na empresa. Quando a empresa trabalha com um grande número de trabalhadores, especialmente em áreas que há um alto nível de rotatividade, é fundamental que seu processo de integração do novo colaborador, à empresa esteja programado e estruturado de modo a orientar sobre as possibilidades e características dos benefícios. Através da pesquisa, descobriu-se também que 32% dos respondentes dizem que não recebem as informações necessárias sobre o pacote de benefícios ofertados pela empresa. 138 Esse tipo de resultado denota a deficiência em planejar os processos de integração do trabalhador, mas também a importância de o pacote de benefícios estar presente nas informações instrucionais da empresa. Por isso, é indicado que o RH analise as possibilidades de canais de comunicação entre os colaboradores e o setor. Mais que isso: é sugerível que o gestor de RH estude maneiras de alcançar o maior número de pessoas, gerindo as comunicações internas e externas. Deve, também, manter um espaço digital que fixe as informações contratuais, regimentos, e outros dados que possam ser compartilhados e que, por serem extensos, fica à disposição do trabalhador para lê-los quando tiver tempo e disposição para isso. Afinal, é função do RH cativar as pessoas interessadas na empresa e, nada melhor para isso, do que divulgar o pacote de benefícios. As ações do RH e os diferenciais percebidos a partir das possibilidades e melhorias no pacote remuneratório são questões que devem permear seu planejamento. No que se refere ao aspecto integração, no estudo, percebeu-se problemas especialmente no conhecimento de alguns benefícios nesse caso. O plano odontológico, por exemplo, não é utilizado pela maioria dos trabalhadores que responderam à pesquisa porque eles não sabiam que ele existia. Dos respondentes, 82% não tem o plano odontológico e a estudante que fez a pesquisa (MACHADO, 2016) explica que através da entrevista com os trabalhadores percebeu que muitos desses não sabiam desse benefício e só tomaram ciência quando estavam participando da pesquisa. Ainda que o trabalhador tenha tido ciência sobre os benefícios que seriam ofertados pela empresa na divulgação da vaga, ele precisa entender as regras e características que se estruturam nela. Por exemplo, nessa empresa o vale refeição é dado com um desconto de 20% das refeições com um valor limitado. A cesta básica, por sua vez, só é fornecida se o trabalhador não tiver falta injustificada ou com mais de 15 dias de atestado. Essas especificações e instruções devem ser fornecidas de modo que o benefício não gere uma possível frustração ou indignação do trabalhador por não o conseguir, ou por receber um desconto em seu salário base e não saber a que benefício está atrelado. Ao disponibilizar essas informações regularmente, o RH está, ao mesmo tempo divulgando as potencialidades dos benefícios, e motivando-os, agregando valor ao pacote remuneratório percebido por ele. Essa percepção, como vimos, contribui para a motivação, para a redução da rotatividade e para o equilíbrio da gestão de demandas. No caso estudado Machado (2016) também foi questionado sobre a percepção de alguns benefícios específicos. Primeiramente, foi analisado o uso e o nível de satisfação, do plano de saúde. A pesquisadora, ao trazer essa questão, recebeu uma diversidade de respostas sobre a frequência de utilização do plano. Identificamos, no entanto, ser mais frequente a utilização do plano de saúde a cada três meses. Apenas 17% utilizam o plano de saúde com mais frequência, ou seja, pelo menos uma vez no mês. A formanda em Administração percebeu a pouca frequência de uso deste plano 139 pelos respondentes que afirmam, através das entrevistas, que esse distanciamento se deve a insatisfação dos trabalhadores sobre o tempo de espera de atendimento. Na entrevista, conseguiu-se descobrir a seguinte informação: de acordo com a resposta dos entrevistados, apesar de a empresa administradora do plano de saúde atender bem, os trabalhadores não utilizam com mais frequência o plano porque precisam esperar muito tempo para ter seus atendimentos médicos. Ao todo, 22% dos respondentes nunca o utilizaram, o que pode ser alarmante. Considerando o que já estudamos, que o plano de saúde é o benefício mais importante para o trabalhador, saber que esse tanto de pessoas não o utiliza, é um sinal de que o RH deve tomar uma atitude para melhorar esse serviço, na medida do possível. Ainda assim, 52% dos 100 respondentes dizem que o plano de saúde atende satisfatoriamente as suas necessidades (sua e de sua família). No quesito percepção do benefício refeição, a pesquisaMachado (2016) identificou um grande número de reclamações. Ao todo, 40% dos trabalhadores que responderam à pesquisa dizem estar insatisfeitos com o fornecimento da refeição. De acordo com a estudante (Ibidem), as principais reclamações se dão em relação ao ambiente, a forma como a comida é feita, o caminho feito pelos trabalhadores para chegar até o refeitório e a percepção da qualidade dos alimentos, que deixa a desejar. Dos 100 respondentes, 62 estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos, um resultado preocupante! Através de pesquisas descobriu-se que, num geral, as pessoas gostam de ter o refeitório no local, mas é preciso atenção a esses serviços ou, do contrário, se torna um fator negativo para o pacote de benefícios. É interessante notar, a partir do caso estudado, a importância da realização da pesquisa e das entrevistas para a gestão de RH. Através desse resultado a empresa pode tomar ações como a modificação do espaço em que o refeitório se encontra ou a melhoria no ambiente em que as refeições são servidas. Do contrário, o benefício se torna um aspecto de descontentamento, como observado no caso, para a maioria das pessoas e passa a não atingir seu objetivo, que é o de atender as necessidades reais dos colaboradores. Quando um benefício gera esse tipo de resultado, como o observado no caso estudado sobre o benefício vale refeição, o serviço de refeitório no local deve ser revisto ou até mesmo removido do plano remuneratório, visto que ele não contribui adequadamente as expectativas da maioria do pessoal. Vale lembrar que o benefício da alimentação é o benefício mais presente nas negociações coletivas (ZYLBERSTAJN, 2021), mas, nesse caso, aponta sinais de descontentamento da equipe. Uma indicação, portanto, que podemos fazer nessa situação para a gestão de RH da empresa é a aproximação e revisão de pautas voltadas a esse benefício nas negociações e acordos coletivos. Sugere-se que seja analisada a atuação dos sindicatos na empresa e a representação e liderança desses para os grupos ocupacionais existentes na empresa. Caso não haja uma aproximação dos representantes legais dos trabalhadores, é interessante que o RH se aproxime dos líderes de linha e das equipes de trabalho para negociar as possibilidades de melhoria. 140 Quando questionado aos trabalhadores da empresa de cerâmica analisada na pesquisa, (MACHADO, 2016) sobre os benefícios que gostariam que entrasse no pacote de benefícios, eles sugerem com frequência um vale refeição que possa ser utilizado para se alimentar fora das instalações da empresa. Outros benefícios sugeridos pelos trabalhadores do caso estudado (Ibidem) são: plano de saúde familiar mais acessível, bolsa de estudos, vale cultura, auxílio combustível, creche e ginástica laboral. Ainda, 59% dos trabalhadores que responderam à pesquisa dizem que não há outro benefício que precise ser incluído no pacote de benefícios. Nesse momento, é interessante que a gente observe os benefícios que a empresa já oferece e aqueles sugeridos pelos trabalhadores a partir da classificação dos benefícios,. Analisar os benefícios considerando essa abordagem é interessante porque indica ao gestor de RH quais aspectos que possam não estar contemplados na oferta atual da empresa e que podem ser decisivos na motivação dos trabalhadores. No que se refere aos benefícios de exigência legal, entra o vale-transporte e, a depender do acordo sindical, vale refeição. Nenhum benefício desejado pelos trabalhadores e não ofertados pela empresa são de exigência legal. Os demais benefícios, portanto, são de natureza espontânea. Chama atenção o benefício oferecido cesta básica e ginástica laboral. Em um levantamento de oferta de benefícios do mercado de trabalho (ROSA et al, 2022), foi descoberto que há pouca oferta da ginástica laboral, o que se comprova nesse caso estudado. A cesta básica, por sua vez, é também um benefício pouco oferecido pelo mercado, mas presente nesta empresa. Esse pode ser um diferencial da empresa, cabendo ao RH divulgá-lo as pessoas interessadas. Acerca da natureza dos benefícios, o único benefício de natureza monetária presente na empresa é o benefício participação nos lucros. Não foi solicitado qualquer benefício de natureza monetária. Os demais, portanto, são de natureza não monetária, ou seja, o valor não é pago diretamente em dinheiro em espécie. Analisando esse aspecto, é interessante observar as sugestões de oferta dos benefícios creche, bolsa de estudos e auxílio-combustível. Essas três solicitações evidenciam a demanda de os trabalhadores aproveitarem, a partir do pacote de benefícios, para reduzir seus custos com gastos que provavelmente já possuem, ou pensar ter em breve, através do apoio o financiamento desses pela empresa. Você consegue perceber essas características nas solicitações dos trabalhadores? No que tange aos objetivos dos benefícios, a empresa já oferta a assistência médica e odontológica com objetivo assistencial. Não foi solicitado qualquer benefício com esse objetivo. Apesar da fraca utilização do benefício plano de saúde, a ausência de pedidos de outros benefícios assistenciais reforça o resultado da pesquisa de percepção que apontou alto índice de satisfação sobre ele. O pedido se deu apenas na redução dos valores no caso do plano de saúde familiar. Essa solicitação, por sua vez, vai ao encontro da noção de que o trabalhador quer reduzir os impactos financeiros com o aproveitamento dos benefícios e pode ter relação com o princípio da mútua 141 responsabilidade, já que os custos da assistência médica são divididos entre a empresa e o trabalhador. O único benefício com objetivo recreativo ofertado pela empresa é a associação. Foi solicitada a expansão de benefícios nesse sentido ao ser solicitado o vale cultura. Não há diretamente um benefício supletivo, mas pode-se considerar que o refeitório no local é um benefício com objetivo supletivo. Esse benefício pode ser questionado considerando as reclamações. Afinal, o benefício supletivo deveria oferecer facilidades, mas ao que parece o refeitório instalado nas empresas pode não atender a essa característica. Os benefícios que os trabalhadores que responderam à pesquisa da empresa estudada (MACHADO, 2016) mais usufruem são, na ordem decrescente de utilização: Participação nos Lucros e Resultados (todos os trabalhadores), Vale Refeição (86% dos trabalhadores), Assistência Médica (78%) e Cesta Básica (50%). É interessante observar que apenas metade dos trabalhadores usufrui da cesta básica, o que pode indicar problemas com faltas injustificadas ou alguma insatisfação dos trabalhadores nesse aspecto. A pesquisa não inclui o estudo desse benefício, mas seria interessante analisar as questões de gestão de pessoal envolvendo esse benefício. Dentre os benefícios ofertados pela empresa de cerâmica (MACHADO, 2016), aqueles que os respondentes menos utilizam é a assistência odontológica (8%) seguido da associação (15%) e convênio farmácia (21%). Essa baixa adesão pode se dar por diferentes motivos, no caso da assistência odontológica foi percebido na pesquisa que isso pode ocorrer em função da má divulgação do pacote de benefícios, o que denota uma falha na gestão do RH. Isso, porém, pode acontecer também por outros fatores. Esses dados reforçam, portanto, a necessidade de se analisar cuidadosamente a manutenção (ou não) e as disposições dos benefícios ofertados, considerando principalmente a percepção dos trabalhadores sobre eles. O estudo, por fim, percebeu 90% de satisfação dos trabalhadores que responderam a pesquisa sobre os benefícios atualmente ofertados pela empresa, o que mostra que o pacote de benefícios tem, no geral, uma percepção positiva sobre eles. Alguns respondentes afirmam que estão satisfeitos especialmente com os benefícios que a empresa oferece, mas que não são obrigadas por lei a oferecer. 4 SÍNTESE DO TEMA DE APRENDIZAGEM 3 Caro acadêmico, no Tema de Aprendizagem 3 você explorou as possibilidadesde otimização dos serviços da gestão do RH. As análises foram feitas considerando um estudo de caso feito por uma empresa de grande porte e uma pesquisa que trouxe informações relevantes sobre a percepção dos trabalhadores sobre os benefícios. Iniciamos com as possibilidades de o RH agregar valor à empresa. 142 Sabemos que o RH balanceia demandas, mas a importância dele acontece especialmente se considerarmos que todo gestor é gestor de pessoas e tem como um dos maiores desafio, ouso dizer, o maior, a gestão de equipes. Uma empresa, por sua vez, busca resultados e isso só é possível através das pessoas. Você consegue perceber como o RH atravessa e tem poder de atuação em toda a organização, se assim a alta gestão possibilitar? Isso porque os diretores e sócios precisam apoiar, inclusive financeiramente, investimento no pessoal para que os trabalhos tenham resultados. Daí a importância em se fazer a análise do esforço do trabalhador versus a recompensa da empresa. Analisemos da seguinte maneira: o profissional disponibiliza, dentre outros recursos, seu tempo, esforço, experiência e motivação para a empresa e espera ser recompensada na mesma medida. A empresa, por sua vez, oferece salário, benefícios, bônus, reconhecimento, promoções e oportunidades e espera bons resultados a partir desse investimento. Mas, eu te pergunto, as partes conseguem analisar com imparcialidade, considerando esses aspectos, o equilíbrio entre suas ofertas? De acordo com o levantamento de Boog e Boog (2013), as possibilidades de percepção dessa relação podem se dar de 4 maneiras diferentes: injustiça, acomodação, aproveitamento, motivação. Naturalmente, essa última é a que o RH deseja que a empresa tenha. Nesse sentido, ela pode impactar positivamente de modo a conseguir transformar uma percepção na balança esforço x recompensa. Uma ação para equilibrar a percepção da recompensa ser proporcional ao esforço do trabalhador consiste em evidenciar à equipe os benefícios não apenas remuneratórios, mas também os não remuneratórios. Esse é um exercício de trabalho que deve ser feito em parceria com os gestores das equipes, para isso o RH pode precisar investir em treinamento e desenvolvimento da gestão. O interessante é considerar que quando se investe em potenciais talento, oferecendo trabalhos como monitoria, o RH contribui para a redução de custos adicionais de retenção de talentos. É fundamental, também, que o RH faça a análise imparcial da balança esforço x recompensa, quando recebe a reclamação, mas também que exija dos gestores direto os resultados do seu monitoramento. É essencial para a área que os gestores forneçam o parâmetro do que é esperado nos serviços realizados pela equipe. No que se refere às potencialidades de gestão dos benefícios vindos do RH, foi conversado sobre a importância da realização do planejamento estratégico do RH de modo que ele ande em harmonia com os objetivos da empresa. O exemplo fornecido, de expansão da empresa, evidencia a importância de o RH tomar ações no presente, como rever e estruturar o regimento interno e os processos de integração, a fim de que a empresa consiga atingir com excelência seus objetivos. No caso estudado da empresa com mais de dois mil empregados (MACHADO, 2016), foram tomadas algumas notas de como o RH pode agregar valor, especialmente no que tange a gestão de benefícios. Lembremos dessas anotações: 143 • O RH falhou ao não comunicar adequadamente o pacote de benefícios, o que resultou na baixa adesão dos trabalhadores ao plano odontológico. • Ainda que poucas pessoas utilizem o plano de saúde, os serviços da operadora do plano é bem-quisto pela maioria. • Houve muitas reclamações sobre o benefício vale refeição, agravada pelo fato de que a alimentação é servida nas instalações da empresa. • Apenas metade dos entrevistados tem a oferta da cesta básica. Essa informação pode indicar problemas com assiduidade, já que o benefício está atrelado a faltas injustificadas e afastamentos. No que diz respeito às reclamações da refeição, o caso é grave visto que mais da metade (62% dos entrevistados) tem uma lista de reclamações a fazer sobre esse benefício. Os aspectos de reclamação giram em torno do ambiente, processo de preparação da comida, a distância do trabalho até o refeitório e a qualidade dos alimentos. Ainda que o refeitório seja um benefício requisitado pela maioria dos trabalhadores no mercado de trabalho num geral, nesse caso ele aponta problemas, cabendo ao RH rever as formas de fornecimento desse benefício. Acerca da falta de comunicação dos benefícios, é sugerível que se fixe as regras dos benefícios em um espaço digital. Do mesmo modo, é indicado que o RH crie um canal efetivo de comunicação, para atender dúvidas sobre as possibilidades dos benefícios. Não é aceitável que o trabalhador só descubra a existência de um benefício oferecido na realização de uma entrevista de estudo de caso, como foi o que ocorreu. As entrevistas, por sua vez, se mostraram essenciais já que evidenciaram vários pontos de atenção que o RH dessa empresa deve trabalhar. Os oito benefícios foram analisados a partir da classificação de benefícios, assim como os benefícios sugerido pelos trabalhadores. Percebeu-se que muitas sugestões, como o auxílio creche, a bolsa de estudos e o auxílio-combustível, embora sejam benefícios não monetários, servem para cobrir despesas dos trabalhadores. Ao todo a empresa teve um grande índice de satisfação sobre os benefícios oferecidos (90%), o que pode indicar um bom aproveitamento e gestão de benefícios por parte dessa organização. 144 GOVERNO REGULAMENTA HOME OFFICE PARA CONTROLE DE JORNADA E MAIS BENEFÍCIOS Murilo Tunholi Medida provisória 1.108 prevê adoção de trabalho híbrido, controle de jornada em home office, prioridade de vagas remotas para certos casos, entre outras mudanças. A prática de home office no Brasil terá novas regras para trabalhadores com carteira assinada. Publicada em março deste ano, a medida provisória (MP) de número 1.108 regulamenta o trabalho remoto e ajusta a legislação trabalhista para garantir certos direitos e deveres que, antes, eram exclusivos de indivíduos contratados em regime presencial. Nas linhas a seguir, explicamos as principais mudanças inauguradas pela MP 1.108. Para esclarecer algumas das novas regras, o Tecnoblog conversou com especialistas em legislação trabalhista sobre auxílios, direitos dos trabalhadores em home office e os possíveis benefícios da regulamentação do trabalho remoto. Home office se popularizou pela necessidade Desde o início da pandemia da COVID-19, em março de 2020, o trabalho remoto tem se tornado cada vez mais comum. Por mais que muitas empresas estejam retomando as atividades presenciais aos poucos em 2022, há ainda uma parcela de profissionais que continuam em casa ou preferem trabalhar em modelo híbrido. Essa mudança na realidade dos brasileiros pedia uma revisão na legislação trabalhista. Apesar da demora, a MP 1.108 é o primeiro passo do governo federal em direção a um modelo de trabalho atualizado. Porém, há algumas regras que ainda precisam ser polidas ou esclarecidas, antes da adoção definitiva da lei. As novas regras para o trabalho remoto A MP 1.108, além de regulamentar o trabalho remoto na legislação trabalhista brasileira, traz novas regras, assim como direitos e deveres para trabalhadores e empregadores. Alexandre Gama, sócio do escritório Autuori Burmann, listou as principais mudanças inseridas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Segundo Gama, a MP 1.108 prevê: LEITURA COMPLEMENTAR 145 • adoção do trabalho híbrido, de modo que, mesmo que o empregado compareça em dias determinados à empresa, isso não descaracterizaria o modelo do trabalho remoto. Lembrando que essa condição — do teletrabalho — deve constar expressamente no contrato individual de trabalho; • controle de jornada para profissionais sob o regime de teletrabalho (desde que não sejam remuneradospor produção ou tarefa); • acordo entre as partes para dispor sobre os horários e os meios de comunicação entre empregados e empregadores, assegurando repousos legais; • inclusão de estagiários e aprendizes em regime de home office; • prioridade das vagas de teletrabalho para trabalhadores com deficiência ou com filhos até quatro anos de idade; • utilização de acordos ou convenções coletivas relativos à base territorial do estabelecimento de lotação do empregado (local do registro do eSocial, por exemplo); • regras de aplicação da legislação trabalhista para empregados admitidos no Brasil, mas que optaram por trabalhar remotamente no exterior; • Auxílio-alimentação para usar somente em comida Há ainda novas regras para auxílio-alimentação. A MP 1.108 determina que o benefício seja usado apenas para pagar refeições em restaurantes ou alimentos no comércio. Com isso, o governo federal quer impedir o uso do dinheiro em compras não relacionadas à alimentação — prática comum em empresas que oferecem cartões flexíveis, como o Flash. A advogada trabalhista Rosângela Tolentino explicou que o cartão Flash ainda pode ser oferecido pelas empresas, porém com algumas observações: “Com a MP 1.108/22 restou expresso no texto normativo, que para a utilização do auxílio-alimentação deve haver pagamento exclusivo para refeição em restaurantes e similares ou estabelecimentos alimentícios. Dessa forma, o cartão Flash poderá ser utilizado para outros benefícios. Entretanto, já existe a possibilidade de dentro do valor depositado no cartão, determinada quantia ficar travada para ser usada exclusivamente para fins alimentícios pelo empregado, caso o cartão forneça essa possibilidade é plenamente possível a utilização desse cartão. Cabe ressaltar caso haja a utilização do valor para outros fins que não a alimentação, poderá haver a aplicação de multa de R$ 5 mil até R$ 50 mil.” (Rosângela Tolentino, advogada trabalhista do escritório Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados.) CLT garante infraestrutura ao trabalhador A CLT garante que os trabalhadores em home office recebam todos os equipamentos necessários para realizar suas funções. Porém, não há nenhuma regra na MP 1.108 que obriga o pagamento de auxílios adicionais, como reembolso de conta de energia. Sobre esse ponto, Rosângela comentou: “Conforme estabelecido no art. 75-D da CLT, as condições quanto a fornecimento de equipamentos tecnológicos e de 146 infraestrutura para o trabalho remoto devem ser estabelecidas no contrato de trabalho entre as partes. Dessa forma, a empresa é obrigada a auxiliar seus empregados no que tange ao maquinário, softwares, entre outros equipamentos necessários para exercício da atividade, ressaltando que os produtos fornecidos devem estar em bom estado para o desempenho das funções. No que tange a infraestrutura necessária para a prestação de serviços, aqui entra o famoso “kit home office”, como cadeira, mouse, tela, e outros utensílios para o desempenho das atividades, inclusive a internet. Esclareço ainda que aqui não entra despesas que não são mensuráveis, como contas de água ou luz, devendo desse caso ser arcado único e exclusivamente pelo empregado. Reforço que toda a ajuda de custo fornecida pela empresa deverá constar por escrito em contrato, para que o empregador demonstre o que está fornecendo ao seu empregado, e o empregado possa caso necessário pedir o ressarcimento por valor pago a esses títulos”. (Rosângela Tolentino, advogada trabalhista do escritório Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados.) MP 1.108 ainda não é lei, mas vale como se fosse É importante destacar que medidas provisórias passam a valer como leis assim que são publicadas no Diário Oficial da União, porém por tempo limitado. Ainda é necessário aguardar a aprovação do Congresso Nacional para que a legislação seja alterada definitivamente. A MP 1.108, incluída no documento em 28 de março, vale somente até 26 de maio, podendo ser prorrogada por mais 60 dias, no máximo. Enquanto a MP estiver em vigência, é preciso respeitá-la, assim como qualquer outra lei da legislação trabalhista. Por enquanto, a MP 1.108 está em fase de implementação, apesar de já valer como lei. As mudanças não foram discutidas com a sociedade ou sindicatos, então é recomendado conversar de forma individual com empregadores sobre as novas regras. Ao Tecnoblog, Rosângela falou o seguinte: “A medida provisória veio tentar barra alguns abusos e desvio de finalidade que estavam ocorrendo, contudo, como ainda não é lei, estando válida, portanto, por um período determinado, há uma certa insegurança jurídica para a sua aplicação. Dessa forma, a melhor opção sempre é a negociação com os sindicatos e/ou com o empregado de forma individual para que as partes entrem em consenso quanto a aplicação do benefício dentro dos moldes legais, mas sem que haja prejuízos aos trabalhadores”. (Rosângela Tolentino, advogada trabalhista do escritório Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados.) Fonte: https://tecnoblog.net/noticias/2022/04/06/governo-regulamenta-home-office-para-con- trole-de-jornada-e-mais-beneficios/. Acesso em: 31 jan. 2023. 147 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Além de monitorar com frequência a situação percebida pelos trabalhadores, o RH pode tomar ações, como a indicação de desenvolvimento de competências para os gestores já mencionado, que melhorem o clima da equipe. Para isso, é fundamental participar, ouvir e se atentar as reclamações e situações vivenciadas. Entender o clima é entender a realidade da empresa, as características e desafios dos traba- lhadores, é estudar e compreender a importância da motivação e felicidade nos resultados empresariais. • A importância de o RH agir na percepção esforço versus recompensa. • A atuação do gestor deve se dar tanto na avaliação da recompensa monetária, quanto na psicológica. A questão central está relacionada a qualidade da gestão empresarial (BOOG; BOOG, 2013). O RH pode conseguir pontificar essa questão se investir em capacitações e aperfeiçoamentos dos gestores. Os treinamentos nesse sentido devem ser intensificados a depender da situação vivenciada na empresa. • Como o RH pode agregar valor na gestão de benefícios. 148 AUTOATIVIDADE 1 A percepção do trabalhador sobre a sua recompensa na organização influencia no seu nível de colaboração, sendo prejudicial se estiver desequilibrada. Nesse sentido, os autores apontam que o profissional pode oferecer à empresa: engajamento, experiência, competências, serviços, tempo, esforços, motivação e empenho enquanto ele recebe da empresa recompensas, que podem ser: salários, benefícios, bônus, participações, prestígio, reconhecimento, promoções, status ou oportunidades. Sobre a percepção do trabalhador acerca dos esforços realizados e recompensas recebidas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O trabalhador pode ter o sentimento de justiça, quando ele percebe que mais colabora do que recebe. b) ( ) O trabalhador pode sentir que é aproveitador, quando ele colabora pouco para a em- presa e recebe proporcionalmente ao seu esforço, ou seja, tem pouca recompensa. c) ( ) trabalhador pode ter se sentir motivado, quando há um equilíbrio entre sua colaboração com a percepção sobre a recompensa. d) ( ) trabalhador pode ter o sentimento de injustiça, quando ele recebe mais do que colabora para a empresa. 2 Uma questão interessante é a concepção de recompensa e remuneração que os gestores, e o RH, podem apresentar. A percepção do colaborador sobre a recompensa dispendida na organização pode ser considerada a partir do salário, mas também dos benefícios. Os benefícios, remuneratórios e não remuneratórios, são o que devem ser evidenciados pelo gestor e equilibrados de modo a despertar esse estado de percepção. Com base nos estudos sobre a concepção de recompensa, analise as sentenças a seguir: I- Fazer os colaboradores perceberemum aumento do receber, sem onerar a folha de pagamento da organização, é uma das tarefas de todos os profissionais em posição de gestão. II- Quando a empresa comporta pessoas motivadas diante de suas recompensas, monetárias ou não, ela pode sofrer processos trabalhistas recorrentes, ser alvo de greves e ações sindicais, além de problemas no clima organizacional e na retenção de talentos. III- Divulgar e incluir na percepção dos trabalhadores as recompensas intrínsecas da equipe é componente chave para otimizar a produtividade e o resultado da empresa, mas ela deve ser feita com cautela. 149 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Quando se sabe o que a empresa aspira para seu futuro o RH deve se organizar em plano a longo, médio e curto prazo, a fim de concretizar esses objetivos. No caso da expansão da empresa, a empresa pode, por exemplo, construir regulamentos internos e procedimentos admissionais robustos de modo a integrar e orientar da melhor maneira a nova equipe que virá. De acordo com as possibilidades de atuação do RH estudadas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Deve-se trabalhar nos próximos dias, ou no próximo ano para que esses regimen- tos e procedimentos estejam firmados, ou ao menos em teste de execução, para que daqui a três anos o RH consiga agregar a expansão e contribuir para a liderança da área. ( ) A empresa ganha ao ter um RH com ações desvinculadas dos seus objetivos e a comunidade pode ser favorecida ao receber investimento nas empresas locais, por exemplo, ou a incluir dependentes no usufruto dos benefícios ( ) A comunidade local, especialmente as pessoas interessadas em trabalhar na empresa, ganham também ao ter ciência da estruturação dos processos, à facilitação percebida na transparência sobre as regras dos benefícios e as oportunidades que podem conseguir nele. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Através dos estudos descobriu-se que, num geral, as pessoas gostam de ter o refeitório no local de trabalho, mas é preciso atenção a esses serviços ou, do contrário, se torna um fator negativo para o pacote de benefícios. O benefício da alimentação é o benefício mais presente nas negociações coletivas, mas que podem trazer descontentamentos na equipe. Disserte sobre as possibilidades de atuação do RH diante de problemas na satisfação dos trabalhadores no benefício alimentação. 5 Quando a empresa trabalha com um grande número de trabalhadores, especialmente em áreas que há um alto nível de rotatividade, é fundamental que seu processo de integração do novo colaborador à empresa esteja programado e estruturado de modo a orientar sobre as possibilidades e características dos benefícios. Neste contexto, disserte sobre as possíveis ações do RH para divulgar o pacote de benefícios. 150 REFERÊNCIAS ALELO. Página Inicial, c2023. Disponível em: https://www.alelo.com.br/. Acesso em: 23 jan. 2023. BENEFÍCIO. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, 2008-2021. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/Beneficia%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 20 jan. 2023. BRASIL. Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976. Dispõe sobre a dedução, do lucro tributável para fins de imposto sobre a renda das pessoas jurídicas, do dobro das despesas realizadas em programas de alimentação do trabalhador. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6321.htm. Acesso em: 31 jan. 2023. BRASIL. Lei nº 7.418, de 16 de dezembro de 1985. Institui o Vale-Transporte e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7418. htm. Acesso em: 31 jan. 2023. BRASIL. Lei nº 14.442, de 2 de setembro de 2022. Dispõe sobre o pagamento de auxílio-alimentação ao empregado e altera a Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976, e a Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, [2022]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- 2022/2022/lei/L14442.htm. Acesso em: 31 jan. 2023. BRASIL. Decreto n°10.854, de 10 de novembro de 2021. Regulamenta disposições relativas à legislação trabalhista e institui o Programa Permanente de Consolidação, Simplificação e Desburocratização de Normas Trabalhistas Infralegais e o Prêmio Nacional Trabalhista, e altera o Decreto nº 9.580, de 22 de novembro de 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Decreto/ D10854.htm. Acesso em: 31 jan. 2023. BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ del5452.htm. Acesso em: 31 jan. 2023. BOOG, G. G.; BOOG, M. (Coord.). 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Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) - Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, 2020. Disponível em: https://dspace.uniceplac.edu.br/handle/123456789/974. Acesso em: 31 jan. 2023. COBÊRO, C.; MUNARÃO, G. A. T. ANÁLISE MOTIVACIONAL DOS COLABORADORES EM UMA EMPRESA DO SEGMENTO IMOBILIÁRIO. Revista Científica e-Locução, v. 1, n. 16, p. 26-26, 2019. Disponível em: http://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locucao/ article/view/219. Acesso em: 25 jan. 2023. CQCS. Seguradoras alteram condições do seguro de vida no pós-pandemia. CQCS, 2022. Disponível em: https://www.cqcs.com.br/noticia/seguradoras-alteram- condicoes-do-seguro-de-vida-no-pos-pandemia/. Acesso em: 30 jan.2023. EQUIPE INFOMONEY. Banco Central deixa de regular vale-alimentação e refeição; entenda o porquê. InfoMoney, 2023. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/ consumo/banco-central-deixa-de-regular-vale-alimentacao-e-refeicao-entenda-o- porque/. Acesso em: 28 jan. 2023. HAUBRICH, D. 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S. Uma abordagem sobre os refeitórios no ambiente de trabalho: um estudo de caso múltiplo do ponto de vista da qualidade de vida dos trabalhadores. Gestão & Produção, v. 26, n. 2, p. 23-47, 2019. Disponível em https://www.scielo.br/j/ gp/a/H3PTzhCbWzzNDxNJY5RDt9v/abstract/?lang=pt. Acesso em: 30 jan. 2023. SIQUEIRA, A. C.; HENDLER, V. M.; SCALON, L.; MOURA, C, F.; DA CRUZ, F. T. O Prato do Trabalhador: Conectando Urbano e Rural por meio do Vale-Alimentação da Papayas. Desenvolvimento em Questão, v. 20, n. 58, p. e11834-e11834, 2022. Disponível em: https://revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/ view/11834. Acesso em: 31 jan. 2023. SOBRATT. Página Inicial, c2023. Disponível em: https://www.sobratt.org.br/. Acesso em: 23 jan. 2023. SODEXO. Página Inicial, c2023. Disponível em: https://www.sodexobeneficios.com.br/. Acesso em: 23 jan. 2023. TICKET. Página Inicial, c2023. Disponível em: https://www.ticket.com.br/. Acesso em: 23 jan. 2023. ZYLBERSTAJN, H. A Negociação Coletiva em 2020: Um Balanço. Boletim Informações Fipe, v. 484, n. jan. 2021, p. 09-14, 2021. Disponível em: https:// downloads.fipe.org.br/publicacoes/bif/bif484-9-14.pdf. Acesso em: 31 jan. 2023. https://www.scielo.br/j/gp/a/H3PTzhCbWzzNDxNJY5RDt9v/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/gp/a/H3PTzhCbWzzNDxNJY5RDt9v/abstract/?lang=pt https://revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/view/11834 https://revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/view/11834 https://downloads.fipe.org.br/publicacoes/bif/bif484-9-14.pdf https://downloads.fipe.org.br/publicacoes/bif/bif484-9-14.pdf 153 REMUNERAÇÃO VARIÁVEL UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • descobrir as concepções de remuneração fixa, variável e estratégica; • debater sobre as vantagens e limitações da remuneração tradicional; • analisar os benefícios e desvantagens sobre diferentes modelos de remuneração variável; • perceber o papel da remuneração variável nas organizações. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – REMUNERAR ESTRATEGICAMENTE TÓPICO 2 – NOVOS MODELOS DE REMUNERAÇÃO TÓPICO 3 – A PRÁTICA DA REMUNERAÇÃO VARIÁVEL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 154 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 155 TÓPICO 1 — REMUNERAR ESTRATEGICAMENTE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, seja bem-vindo ao nosso primeiro tema de aprendizagem sobre a temática remuneração variável. Neste tema de aprendizagem, você conhecerá três tipos de remuneração: a fixa, a variável e a estratégica. Para isso, você conhecerá as duas principais formas de remuneração, a fixa e a variável. Através da leitura deste material você descobrirá a que a remuneração fixa está associada e as vantagens e limitações da remuneração tradicional. Por meio dele, você também encontrará informações acerca dos aspectos a que a remuneração variável está condicionada, tanto em relação a causa quanto em relação a forma de variação. Querido acadêmico, quando você fizer a leitura sobre remuneração variável, procure investigar a relação dessa com o incentivo de pessoal. Isso porque, munido dessas argumentações, o profissional que atua no RH terá fundamento e poder de persuasão para as melhorias que deseja realizar. Afinal, toda mudança precisará do apoio e decisão da diretoria, certo? Muitas vezes é preciso construir uma apresentação à alta gestão sobre as melhorias que quer implantar e o impacto dessa para a empresa, por isso se atente as vantagens que cada remuneração pode trazer para as organizações. Depois de exploradas as duas formas de remunerar um empregado, de modo fixo ou variável, você conhecerá a pluralidade desses por meio da remuneração estratégica. Você conhecerá, através deste livro, pelo menos três tipos de estratégia e o impacto dessas para o RH. Quando explorada a concepção da remuneração estratégica, peço que tome atenção a importância dessa para o alcance dos objetivos estratégicos (traremos, para ilustrar, um exemplo da empresa que adota a estratégia de diferenciação). O Tema de Aprendizagem 1 desta unidade trará, por fim, questões voltadas a mudanças do mercado e o impacto dessas para o programa de remuneração. A intenção com isso é ampliar sua perspectiva sobre o assunto e o motivar a se atualizar profissionalmente constantemente. Neste tema, traremos uma fonte de referência que pode ajudar você nesse sentido. Este tema trará, junto dos conceitos, alguns exemplos que ilustrarão as concepções investigadas. Vamos começar? 156 2 FORMAS DE REMUNERAÇÃO O RH é uma área que se atenta a diferentes questões empresariais voltadas ao aspecto humano. Essa área analisa o bem-estar do trabalhador, os direitos dos empregados, o desempenho do capital humano da empresa e os fatores humanos atrelados ao resultado da empresa. Essas situações são atravessadas por aspectos que os une, sendo a recompensa um fator-chave de decisão para os atores organizacionais. A remuneração é um aspecto decisivo tanto para as demandas empresariais quanto para as necessidades do trabalhador. Quando a empresa define, por exemplo, um valor salarial a ser fornecido a partir da admissão do trabalhador, ela tem o dever de pagar essa pessoa mensalmente, ou no período acordado de recebimento do salário, e tem o direito de tomar ações visando o zelo pela qualidade dos serviços prestados. O que muitas empresas perpetuam é a concepção de que a busca de um trabalhador adequado a suas expectativas demandará uma obrigação regular e estável de compromisso de pagamento. A isso atribuímos a ideia de remuneração fixa. 2.1 REMUNERAÇÃO FIXA Quando se pensa de remuneração, usualmente vem a nossa mente a forma mais conhecida dela, a remuneração fixa. A remuneração fixa, também conhecida como remuneraçãotradicional, é aquela que institui um valor fixo para o salário do trabalhador, assim como afixa os benefícios a ele ofertados. Esse pacote remuneratório geralmente não está relacionado ao desempenho do trabalhador nem a outros aspectos ligados a seus resultados, processos ou indicadores de performance. Esse tipo de remuneração foi implementado em muitas empresas desde que se começou a estruturar as empresas (dentro da concepção de empresa que temos hoje), sendo um modelo que está fortemente conectada ao cargo que o trabalhador ocupa na empresa e aliada, portanto, à concepção de carreira. Vejamos a relação que existe entre remuneração tradicional, cargo e carreira. Antes da divulgação da vaga, o RH precisa conhecer o plano de carreira estabelecido anteriormente. Caso não exista, ele precisa atrelar o cargo a um pacote salarial. O cargo, por sua vez, é composto de funções comuns. Essas informações devem ser recolhidas pelo RH, que as estruturará de modo a poder fazer o processo de divulgação das vagas de emprego. Ciente do cargo, atribuições e pacote remuneratório fixo atrelado a ele, o RH passa a recrutar e selecionar o profissional para a posição em aberto na empresa. Quando é admitida, a pessoa fica localizada em um nível hierárquico e tem um pacote salarial atrelado ao cargo, ou seja, é posicionado no plano de carreira da empresa. Esse pacote de remuneração não costuma ter, na remuneração tradicional, variação de valores em função do seu desempenho ou de aquisição de competência. A mudança 157 salarial acontece apenas quando o trabalhador é promovido, horizontal ou verticalmente. É interessante definir aqui a diferença desses tipos de promoção. O empregado ascende horizontalmente quando tem um reconhecimento por destaque ou pelo seu tempo de empresa, mas o cargo permanece o mesmo. Já a promoção vertical diz respeito à inclusão de responsabilidades, na qual se é alterado o cargo ocupacional do trabalhado, inclusive para registro legal. As modificações contratuais, como a alteração de cargo e salário, devem ser registradas na Carteira de Trabalho Pessoa Física (CTPS) e no eSocial. Tanto na promoção vertical quanto horizontal, o salário costuma ser alterado. A remuneração tradicional demanda um método de atuação do RH no que diz respeito à movimentação de pessoal na empresa: primeiramente, o trabalhador é admitido na empresa, com um valor fixo inicial. À medida que ele consegue experiência, ascende horizontalmente (se assim a empresa está organizada, a depender do organograma e plano de carreira), é atribuída de novas responsabilidades, ascendendo verticalmente. Ele também pode ser realocado para outras áreas, a depender do tipo de promoção e movimentação de pessoal instituídos na empresa (PAIVA, 2019). Essa forma de remuneração tem algumas vantagens que podem ser percebidas nos dias de hoje, mas também são percebidas limitações nesse sistema, sendo a estrutura empresarial e as demandas do mercado fatores primordiais na escolha de sua implantação. Vamos, portanto, conhecer as vantagens de aplicar a remuneração fixa nas empresas. 2.1.1 Vantagens da forma tradicional de remunerar A remuneração fixa pode ser vantajosa para algumas empresas e para determinados setores empresariais. Dentre as vantagens da remuneração tradicional temos (STADLER, PAMPOLINI, 2014): • Equilíbrio dos postos ocupacionais. Essa vantagem ocorre principalmente quando a empresa está passando por momentos de instabilidade de movimentação de pessoal. Quando há, por exemplo, um crescimento repentino da empresa, a remuneração fixa pode ser interessante já que padroniza os pacotes remuneratórios e tende a equilibrar os processos de RH e da equipe. Afinal, quando há uma movimentação rápida na equipe, a cultura e clima ficam instáveis, cabendo ao RH ações de fomento a boas práticas e uniformização das oportunidades de trabalho. Essa vantagem é ampliada quando já se tem instituído e implantado o plano de carreiras e as configurações do pacote remuneratório, incluindo seus benefícios. 158 Na perspectiva do trabalhador, a remuneração fixa ele oferece a ele certa estabilidade e previsibilidade financeira, que o permite ter segurança sobre o que receberá no fim do período e fazer planos de gastos a longo prazo. Assim que o salário é definido e acordado previamente entre o empregador e o empregado, o trabalhador costuma sentir que tem certa estabilidade de recebimento de salário. Isso lhe proporciona uma maior sensação de estabilidade financeira e pode reduzir o estresse financeiro do empregado. A remuneração fixa também pode ser um incentivo para reduzir a rotatividade de pessoa, fazendo o empregado permanecer na empresa por um longo período, podendo o aumentar com a experiência e a antiguidade. Como a pessoa sabe que seu salário é garantido independentemente do seu desempenho individual ou das variações do mercado, em alguns casos ele pode servir como motivador. • Facilidade para gerir as remunerações. Considerando que a remuneração será fixa e atrelada ao cargo que o empregado ocupar na admissão e/ou movimentação, a pesquisa por práticas de mercado se torna mais simples. Desse modo, quando o gestor de RH quer, por exemplo, saber a média salarial de um gerente comercial, ele não precisa se aprofundar nas funções comuns ou em índices de desempenho para saber quanto um profissional dessa área geralmente recebe quando atua nessas funções. Basta fazer a pesquisa sobre esse cargo em outras empresas que adotam a remuneração fixa que conseguirá saber se suas práticas salariais se equiparam ao pacote salarial adotado pelo mercado. Do mesmo modo, quando é feita a gestão remuneratória em empresas que utilizam a remuneração fixa, o RH tem a facilidade de uniformizar as oportunidades de pagamento. Assim, todos estão cientes de que, à medida que ela se movimenta na empresa, aquele salário lhe será atribuído e que, no período em que for estabelecido o seu dia de pagamento, não haverá surpresas: será pago aquilo que foi fixado em acordo. Isso se intensifica em empresas que tem implementado um plano de cargos e salários, já que o pacote remuneratório está engessado e disponível (ou deveria estar disponível) para a leitura e acesso de todos os trabalhadores. Assim, o trabalhador tem claro suas possibilidades de recebimento pela sua posição hierárquico e o RH tem poucas reclamações ou desentendimentos sobre as recompensas que obterá a partir da sua posição na empresa. • Equidade interna e externa. A remuneração fixa também tem a vantagem de permitir a mesma oferta salarial para todos que estão no mesmo cargo e posição hierárquica. O interessante dessa vantagem é que ela permite que os valores e benefícios pagos/fornecidos sejam equiparados ao estabelecido para todos na empresa e em comparação a outras ofertas do mercado para o mesmo cargo. Nesse sentido, a remuneração fixa serve de instrumento para promover a equidade remuneratória interna, ou seja, junto dos trabalhadores que lá atual, e externa, em paridade com o mercado. 159 Atentando-nos a questão da equidade interna, o sistema de remuneração fixa por si só fornece condições de pagar igualmente as pessoas sem distingui-las. Ainda que seja obrigatório, por força da Constituição, a equiparação de direitos entre as pessoas, independente de suas características individuais, esse sistema é um reforçador desse direito. Ele propõe pacotes remuneratórios similares com o mercado ao passo que oferta faixas salariais equivalentes a todos que estão na mesma posição hierárquica, sem beneficiar ou prejudicar determinadas pessoas. Além das vantagens já mencionadas, a remuneração tradicional tem benefícios que podem ser percebidos por algumas empresas para além desses, podendo ser a facilidade na contabilização salarial, a simplicidade no processo de remuneração, a manutenção da cultura, a dispensa de um controle de desempenho mais acentuado, entre outras vantagens. Essas, no entanto, podem vir de algumasdesvantagens. Ao passo que a empresa decide por implantar ou manter esse sistema, ela (e especialmente o RH da empresa) deve estar ciente das limitações que esse sistema apresenta. Para tanto, vamos conhecer, a seguir, as limitações da remuneração fixa/tradicional. 2.1.2 Limitações da forma tradicional de remunerar Ainda que a remuneração tradicional traga a vantagem de equiparar valores pagos com o mercado e facilite o trabalho de recompensa do trabalhador, essa forma tem algumas limitações. Vejamos alguns pontos que são limitações, e até desvantagens, a depender do tipo de empresa, da remuneração fixa: • Inflexibilidade no pacote remuneratório A remuneração fixa, em sua estrutura, pode ser entendida como uma forma de remuneração que não premia ou recompensa, de maneira justa, os esforços humanos. Isso porque ela recompensa monetariamente de modo igual às pessoas em cargos similares, e induzem o trabalhador, por consequência, a imobilizar seus esforços (considerando que eles não serão recompensados na mesma medida). Diante disso, é comum vermos empresas que adotam essa remuneração engessada com equipes que não se motivam a buscar melhorar seu trabalho para além das possibilidades do plano de carreira. O pensamento que impera, geralmente, é o seguinte: “se eu vou receber a mais só quando conseguir mudar de cargo, e só serei promovido quando adquirir as competências e responsabilidades que vejo presentes no meu superior, ou apontadas no plano de cargos e salários, por que irei me esforçar para seguir outro caminho, diferente desse? Para que trabalhar a mais se receberei o mesmo no final do mês?” 160 ATENÇÃO Veja, considerando que a mão de obra humana está em constante mu- danças e sabendo que aspectos como aprimoramento ou deficiência de competências e o clima organizacional interferem no desempenho do trabalho, remunerar as pessoas da mesma maneira pode ser um grande limitador de potenciais, você concorda? A remuneração fixa, ao atrelar um valor fixo ao salário, está desconsiderando essas nuances. Entender que a empresa está em mudança e responder à equipe com sua devida recompensa pode ser um grande motivador para continuar suas ações. A partir do momento em que a empresa fixa um plano de cargos e salários, por exemplo, ela reduz as possibilidades de participação, de criação de cargos e funções. Atrelar uma remuneração ao cargo e não considerar a realidade dos departamentos, das variáveis e desempenho do trabalhador pode trazer problemas como uma rígida estrutura hierárquica e cultura organizacional. • Desatenção às melhorias pessoais A equiparação salarial pode ser uma vantagem na medida em que serve de base para pesquisas salariais e para garantir o direito de um salário adequado ao cargo (com base no mercado e nas particularidades da empresa). Essa, no entanto, também pode ser uma limitação desse sistema já que deixa de considerar aspectos individuais e potencializadores de sua equipe. Ocorre, muitas vezes, se o RH perceber a acomodação da equipe pelo fato de eles não receberem recompensas pelo seu esforço a mais. Empresas pequenas, que tem o gestor de RH próximo da equipe produtiva, costumam vivenciar as mudanças no clima da empresa e perceber como isso impacta os resultados de maneira mais prática. Disputas e problemas para separar o papel pessoal do profissional são algumas das questões que afetam o clima organizacional, reduzindo o desempenho da equipe, mas sem impactar no pagamento dessas pessoas. Ações que vão de encontro aos valores da organização também não são contempladas na remuneração. Se um profissional age de forma desrespeitosa, por exemplo, com os demais, isso não afeta sua remuneração. Outra questão relevante que é desconsiderada quando se aplica a remuneração fixa é a retribuição dada para o preparo da pessoa, ou da equipe, diante dos desafios vivenciados. Quando, por exemplo, um cliente liga para o responsável pelas entregas trazendo uma reclamação da qual ela não está ciente, o preparo desse grupo junto das competências desse profissional vai definir como essa situação será resolvida. Não é incomum vermos cenas como essa da Figura 1. 161 Figura 1 - Resolução de problemas Fonte: https://bit.ly/3KpHL36. Acesso em: 19 fev. 2023 Quando o profissional está diante de uma situação atípica, como o apresentado no exemplo da reclamação da entrega e indicado na Figura 1, cabe a ele analisar junto à equipe as possibilidades de resolução, e é nesse momento que o potencial solucionador da equipe é evidenciado. Assim, com as competências adequadas, as ações do profissional podem ser guiadas de modo que ele possa trazer um grande custo ou ser um agente para abrandar as consequências do erro e aplicar posteriores correções. A remuneração fixa, no entanto, não gratifica o uso desse potencial pela equipe considerando seu uso em maior ou menor grau. Em alguns casos, como as posições de gestão, ele supõe que a responsabilidade e desafios serão maiores do que os de seus subordinados e os paga regular e fixamente por isso, ao passo que os esforços dos subordinados não serão acrescidos de recompensas, não fazendo diferença, para ele, esforçar-se a mais para resolver essa questão. • Desunião com as metas empresariais Atualmente, uma empresa precisa ter claro quais metas pretende atingir, afinal, se ela não sabe para onde vai, qualquer caminho serve, não é mesmo? Fixar metas, horizontes e vislumbrar o futuro da empresa é uma tarefa natural para os gestores, assim como precisamos definir o que vamos almoçar hoje e quais ingredientes são necessários para produzi-lo. O RH, do mesmo modo, precisa saber para onde os diretores/sócios e equipe da alta gestão pretendem guiar seus esforços. Um problema, no entanto, percebido no sistema de remuneração fixa é a limitação da gestão humana quando busca fundamento para alinhar os esforços pessoais com os empresariais. O RH pode se ver diante de pensamentos e falas como essa: “Por que devo mudar algo no meu trabalho para a empresa conseguir alcançar essa meta? O meu objetivo aqui é receber meu salário no final do mês e ele não muda se a empresa alcançar 162 a meta ou não. Não estou recebendo nada para querer o mesmo que a empresa.” Ainda que o RH consiga flexibilizar algumas dessas questões, trazendo a ideia de unidade, responsabilidade e acolhimento, esse pensamento é comum e um grande limitador desse sistema de remuneração. Não há um alinhamento da vantagem recebida pelo colaborador com o atingimento de metas e visões de futuro da alta gestão. Do mesmo modo, para a empresa, o uso da remuneração tradicional pode se tornar financeiramente inviável. Considerando o elevado custo do pagamento regular e fixo de salários, o compromisso em honrá-los pode não condizer com a instabilidade do mercado. Isso porque a empresa pode faturar três vezes mais no mês de outubro, mas ficar os outros meses do ano com pouca entrada de capital. Problemas com a imagem da empresa diante dos clientes, por exemplo, pode ser uma situação que vá requerer, a longo prazo, ações custosas e difíceis de serem superadas. Diante da forte exigência de pagamento mensal, a alta gestão se vê numa encruzilhada de recessão financeira. Por ser fixo o valor dos pagamentos da mão de obra, não sobra muitas opções para os gestores e, da mesma forma, fica limitada a contribuição do RH para enfrentar esse problema. Considerando os problemas com inflexibilidade do processo de pagamento, desatenção as melhorias que ocorrem em sua mão de obra e a desarmonia dos custos e motivações relacionadas às metas da empresa, dentre outras limitações, a remuneração fixa passou a sofrer modificações. Com o tempo, foi se considerando a opções de variar os pagamentos dos trabalhadores e, assim, foi se aprimorando a remuneração variável, que vamos conhecer melhor em seguida. 2.2 REMUNERAÇÃO VARIÁVEL Ainda que a remuneração fixa facilite a atividade remuneratória especialmente para as funções do gestor de RH,por se tratar de um pagamento regular e com poucas mudanças, atreladas ao cargo do trabalhador, ela se torna cada vez mais limitadora de potenciais. Excetuando alguns casos, em geral, percebe-se nos estudos corporativos a vantagem cada vez mais pulsante de se remunerar também de forma variável. A remuneração variável é um tipo de remuneração financeira direta composta de alguns fatores que a fazem variar. Em oposição à remuneração tradicional, a remuneração variável não fixa um valor de pagamento ao empregado, ou seja, ele não remunera com um valor predeterminado pago regularmente. Diz-se remuneração direta porque, assim como a remuneração fixa, ela traz uma compensação econômica do esforço do trabalhador. No que diz respeito aos fatores de variabilidade, esses, geralmente, são aspectos voltados aos resultados que o trabalhador apresenta na e para a empresa. Hipólito e Dutra (2012) informam haver apenas essas duas formas de recompensar financeiramente o trabalhador, ou de forma fixa, composta de um salário nominal e de benefício ou de forma variável. 163 Os fatores de variabilidade desse tipo de remuneração podem girar em torno de metas estabelecidas previamente, objetivos escolhidos pela gestão direta do trabalhador ou indicadores de desempenho individual e/ou da equipe. Alguns exemplos comuns de remuneração variável: comissão, bônus e participação nos lucros e resultados. Através desses exemplos, podemos refletir sobre suas possibilidades de variação: ela pode variar seu valor, mas também sua periodicidade de pagamento. Vejamos: a remuneração variável do tipo comissão pode ser paga para um trabalhador em março e depois só em dezembro, enquanto o pagamento da participação nos lucros ocorre apenas final do ano. Os valores, do mesmo modo, variam. A comissão paga em março, para ele, pode ser menor que o valor de dezembro e a divisão de lucros provavelmente vai mudar de um ano para o outro. Esses aspectos, periodicidade e valor pago, variam a depender dos fatores pré-estabelecidos. Dentro da concepção de remuneração variável, é importante estabelecer que essa está relacionada à concepção de incentivo. Não é incomum encontrarmos nos estudos e levantamentos da ciência da Administração a remuneração variável como sinônimo de incentivo a curto e longo prazo (HIPOLITO; DUTRA, 2012; STADLER; PAMPOLINI, 2014) atrelado ao salário fixo do empregado. Nesse sentido, é importante delimitar o que compreende a remuneração variável. Essa é considerada uma técnica utilizada para recompensar os trabalhadores, sendo que diferentes tipos de remuneração se valem dessa forma de remuneração. Vale comentar que a CLT reconhece a possibilidade de pagamento de remuneração variável aos trabalhadores, desde que sejam observados os requisitos legais e acordos entre as partes envolvidas. Quando o RH decide implantar a remuneração variável, ela deve analisar anterior- mente se tem informações suficientes e processos adequados no que tange ao alcance dos objetivos organizacionais. Inicialmente, o profissional de RH deve verificar se a em- presa tem planejamento estratégico e, caso a resposta seja positiva, onde ela se encon- tra e se esse documento é composto de informações sigilosas, ou seja, se a alta gestão permite o compartilhamento e/ou divulgação dos dados apresentados no planejamento estratégico de sua empresa. A partir disso, receber os objetivos departamentais, cabendo a ele esclarecer e elucidar, no planejamento, execução e revisão, a estrutura de pagamen- to e recompensa pelo trabalho da equipe empresarial. Ciente dos indicadores e critérios de elegibilidade para a remuneração variável, o gestor formula como será calculada essa remuneração, informando a equipe sobre os métodos de execução. Definidos os objetivos, identificados e estabelecidos os indicadores e fórmulas para a remuneração variável, comunicada a equipe sobre as mudanças, deve-se implantá-lo, monitorando e avaliando se esse sistema está adequado aos objetivos individuais e organizacionais. Uma maneira de alinhar a remuneração com a estratégia da empresa e o fomento de novos talentos é através da remuneração estratégica. Vamos conhecer esse amplo modelo de gestão de remuneração. 164 2.3 REMUNERAÇÃO ESTRATÉGICA Toda mudança requer esforços. Não se pode dizer que modificar a forma de remuneração seja uma função simples, especialmente para o RH. Será necessário estudos, investimento e um trabalho constante das pessoas para se orientar e atualizar- se diante das novas configurações de recompensa. Ela também dificilmente será unilateral. A origem da ideia de aprimorar o sistema de remuneração pode vir do RH, já que, sendo o seu gestor aquele que trabalha diretamente com essa função, a nível gerencial, claro, ele costuma ter maior entendimento do assunto. Por isso, você estuda esse tema com afinco neste material. Surgida a ideia de melhoria, é fundamental o apoio da alta gestão da empresa. Os diretores e sócios majoritários precisam entender e sustentar a nova estruturação de pagamento dos trabalhadores. Afinal, estamos falando de valores, de motivação e de uma ação que vai impactar toda a organização. Tamanha modificação exige a aprovação e o apoio da alta gestão. Nesse sentido, Marras e Neto (2012) acreditam que a decisão sobre o modelo de remuneração a ser implantado na empresa parte da diretoria e tem o apoio do RH. Normalmente, faz-se necessário apresentar a eles formalmente o que se espera com essa modificação. A apresentação precisa ter o resultado esperado, os impactos e as informações prévias obtidas por outras empresas que já adotam esse sistema de remuneração. Além da apresentação, o gestor do RH (caso seja ele quem está sugerindo essa mudança) deve prever ações de treinamento junto dos gestores empresariais. Objetiva-se, com esse treinamento (e posteriormente com ações de desenvolvimento dos gestores sobre o tema), clarificar as dúvidas e explorar pontos de preocupação dos mesmos. Esses esforços, em suma, preveem melhorias e benefícios para todas as partes. Naturalmente, haverá uma repulsa comum da equipe que está inclinada a preferir o conhecido. O bloqueio faz parte da mudança, a maioria prefere ficar na zona de conforto. Daí a necessidade de reforçar os treinamentos e espaços de apoio elucidativo feitos depois de investigado, planejado e aprovado os processos de trabalho de melhoria da remuneração. Há diferentes maneiras de aprimorar o sistema de remuneração, uma delas é através da implantação da remuneração estratégica. A remuneração estratégica parte da ideia de remunerar o empregado a partir das estratégias de atuação do empregador, ou seja, é uma proposta que visa instigar a equipe a rumar seus esforços ao alcance das metas empresariais. 165 IMPORTANTE Conceitualmente, a remuneração estratégica é uma junção de dife- rentes tipos de remunerações que tem como “[...] princípio funda- mental não fixar um valor para a remuneração do profissional de forma genérica, mas utilizar métodos estratégicos de construir a re- muneração com base na contribuição efetiva do colaborador com a realização do planejamento estratégico da organização” (SCHMID- MEIER, 2020, p. 9). Veja como o conceito de remuneração estratégica está conectado a ideia de meta e estratégia escolhida. Podemos, naturalmente, deduzir que, para o RH conseguir implantar a remuneração estratégica, é preciso que o gestor de RH saiba previamente quais as estratégias correntes da empresa. Você saberia identificar a estratégia das empresas que você atuou ou que tem conhecimento? Estudemos com atenção a concepção de estratégia. 2.3.1 Estratégia Uma estratégia é um conjunto de decisões que rumam a um objetivo comum. No espaço profissional, uma estratégia geralmente precede a análise atual, do mercado e interna, e tem como consequência a produção de um planejamento com objetivos futuros para a organização. Esses objetivos devem ser específicos, ou seja, moldado particularmente para cada empresa