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Modelos da administração pública SST Souza, Luiz Ricardo de Modelos da administração pública / Luiz Ricardo de Souza Ano: 2020 nº de p.: 11 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Modelos da administração pública 3 Apresentação Caro(a) estudante, você sabia que a administração pública possui vários modelos de gestão? Cada modelo possui características específicas e que prevaleceram em determinado período da história de nosso país. Neste material, conheceremos um pouco mais sobre esse tema. Assim, veremos, primeiramente, como se deu a gênese da administração pública, observando então um breve histórico dos modelos de gestão dessa área no Brasil e alguns marcos importantes em torno dela. Depois, estudaremos detalhadamente quais são os modelos de gestão e as características específicas de cada um deles. Bons estudos! A gênese da administração pública e os seus modelos de gestão no Brasil Os modelos de gestão ou administração pública são um conjunto de propósitos, premissas, orientações e normativas legais que se desdobram em processos específicos, em estruturas de gestão e de pessoas e em recomendações para o comportamento administrativo e gerencial (MATIAS-PEREIRA, 2009). A gênese da administração pública como campo de estudos foi fortemente influenciada pelo trabalho do ex-presidente americano Woodrow Wilson, que em 1887 publicou o seu “Estudo da administração” (The Study of Administration, no original). Nesse trabalho, ele reconheceu o crescimento e o aumento das complexas demandas administrativas do governo. A partir do modelo de negócio, o então presidente sugeriu que o governo deveria se estabelecer como autoridade executiva, ser controlado essencialmente a partir de organizações hierárquicas e buscar alcançar seus objetivos por meio de operações mais eficientes. No ensaio de Woodrow Wilson, há duas ideias-chave que serviram de foco para o estudo da administração pública. 4 Há distinção entre política e administração a isto estão associadas ideias de prestação de contas por parte dos líderes eleitos e a competência neutra por parte dos administradores. Há interesses na definição de estruturas e estratégias para a gestão administrativa essas estruturas e estratégias permitem que as organizações públicas e seus gestores ajam da forma mais eficiente possível. No caso do Brasil, cada período histórico apresentou um modelo de administração pública específico. De acordo com Matias-Pereira (2012), os principais são o patrimonialismo, a burocracia e a nova gestão pública ou gerencial. Patrimonialismo (1550 a 1929) o contexto institucional era marcado por um Estado regulador e liberal e a administração pública era compreendida como uma ciência jurídica. Burocracia (1930 a 1979) apresentou fases bem distintas, abarcando a década de 1930 até 1979. Em cada fase o contexto institucional era marcado pelo Estado administrativo. Nova gestão pública (NGP) em vigência a partir de 1990, a NGP propõe uma redefinição do papel do Estado. A administração pública tem na capacidade política, aliada à competência técnica, a sua principal característica. A seguir, veremos mais detalhes sobre cada um desses modelos de gestão da administração pública brasileira. 5 Características dos modelos de gestão da administração pública: o modelo patrimonialista O modelo patrimonialista apresenta características singulares. No patrimonialismo, o Estado é compreendido como uma extensão do poder do soberano, e os agentes da administração pública adquirem status de nobreza por estarem diretamente ligados a ele. Nesse modelo, não há distinção clara entre o público e o privado, ampliando o espaço e as oportunidades para a corrupção, a apropriação indevida e o uso da administração pública com finalidade privada. Há também predomínio do nepotismo, que favorece parentes em detrimento de outros indivíduos com melhor qualificação para ocupar o cargo público. A administração patrimonialista era o modelo de administração próprio das monarquias absolutas, em que o patrimônio do rei se confundia com o patrimônio público. O Estado não era apenas o rei, como no célebre dito atribuído a Luís XIV. O Estado era considerado propriedade do rei. Curiosidade Esse modelo vigorou ao longo de todo o período colonial e monárquico no Brasil, mas com a queda do Império e a ascensão da República, o movimento reformista ganhou força. Associado à ineficiência do modelo patrimonialista, o contexto socioeconômico brasileiro apresentava mudanças que contribuíram para a ascensão de uma nova administração pública. Desde o final do século XIX, o Brasil alterou significativamente sua matriz produtiva, passando a contar com uma crescente indústria que começou a disputar, em termos de importância, com o tradicional setor agropecuário. Nesse cenário, os industriais e empresários exigiam que a administração pública se modernizasse. Para completar, as aglomerações urbanas ganhavam cada vez mais expressão frente às cidades rurais. 6 Assim, alguns setores da administração pública começaram a se estruturar melhor no início do século XX, principalmente os segmentos voltados à prestação de serviços nos centros urbanos que começavam a crescer. O cenário de disputa entre as velhas oligarquias e os setores mais progressistas da sociedade brasileira, à época, culminou com a ascensão de Getúlio Vargas à Presidência da República em 1930. Só então a administração pública brasileira passaria a incorporar várias mudanças para superar o modelo patrimonialista e adotar o modelo burocrático, sobre o qual veremos a seguir. Características dos modelos de gestão da administração pública: os modelos burocrático e da nova gestão pública Com a chegada de Vargas ao poder, a administração pública brasileira passou por mudanças. O governo Vargas estava amparado a uma ampla coalizão de forças, incluindo camadas mais populares, industriais e mesmo as forças armadas. Uma das principais influências desse último segmento foi compelir todo o alto escalão do governo federal a adotar um modelo baseado nas administrações públicas de outros países, especialmente dos Estados Unidos. O modelo ficou conhecido como modelo burocrático, e sua adoção pode ser dividida em dois períodos, conforme é possível observar na figura a seguir. Fases do modelo burocrático 1930 até 1950 1950 até o final dos anos 1970 Fortalecimento da administração pública e a busca por sua profissionalização Fortalecimento do papel do Estado como promotor de desenvolvimento Modelo burocrático Fonte: Elaborada pela autora (2020). Durante o período de 1930 a 1950, houve, então, o fortalecimento da administração pública e a busca por sua profissionalização. Esse período é ainda marcado pela criação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), em 1938. 7 Ao adotar o modelo burocrático, o governo buscava estruturar a administração pública com base na meritocracia e na profissionalização, para formar bases que permitissem constituir um Estado de bem-estar social no Brasil. Foi destaque, nesse período, a influência de trabalhos da chamada Escola Econômica Clássica, pautados nas teorias de Taylor, Fayol, Willoughby e Gulick. Durante o período de 1950 a 1970, a administração pública se consolidou como disciplina e, graças à cooperação de países como os Estados Unidos, internacionalizou-se. O papel do Estado como promotor de desenvolvimento foi fortalecido, com ênfase na ideologia desenvolvimentista, planejamento e ação do Estado centralizada e tecnicista. Nessa fase, o modelo burocrático apresentava as características destacadas a seguir. Foco no governo Governo como um provedor de serviços por meio das agências existentes ou de novas agências autorizadas. Elaboração e implementação de políticas públicas Administradores públicos com papel de elaborar e implementar as políticas públicas. 8 Conceito de accountability Administradores com responsabilidadede prestar contas de seus atos, descrevendo-os detalhadamente. Gerenciamento dos programas públicos Gerenciamento por meio de organizações hierárquicas, com gestores exercendo o controle do topo da organização. Foco em eficiência e racionalidade Esses são os principais valores da organização pública. 9 Limitação da participação dos cidadãos Implantação de sistema fechado nas organizações públicas. De acordo com Rezende (2012), o modelo burocrático é baseado em Max Weber e em seus estudos sobre um tipo ideal de dominação racional-legal. São utilizados vários regulamentos para orientar o comportamento do servidor, além da ênfase na impessoalidade. Os princípios do modelo burocrático são: formalismo, impessoalidade, hierarquização e rígido controle dos meios. Princípios do modelo burocrático Formalismo: Existência de atividades estruturadas e de procedimentos codificados em regras exaustivas. Impessoalidade: Interessa o cargo e a norma, e não a pessoa em sua subjetividade. Hierarquização: As decisões obedecem a uma lógica de hierarquia administrativa, prescrita em regulamentos expressos, com reduzida autonomia do administrador. 10 Rígido controle de meios: Há um constante monitoramento dos meios, especialmente dos procedimentos adotados pelos membros da administração no cotidiano de suas atividades. Fonte: Adaptada de Rezende (2012). A partir da crise do Estado brasileiro, entre os anos 1970 e 1980, esse modelo, também conhecido como estadocêntrico, começou a ser questionado. Emergiram em diferentes países novos elementos para a discussão da esfera pública, entre eles a redução do Estado e a atuação de organizações da sociedade civil na provisão dos serviços públicos. No contexto internacional, alguns fatores influenciaram a derrocada do modelo burocrático, entre eles: • a crise das finanças públicas devido a déficits acumulados; • o aumento do controle social e a responsabilização dos agentes públicos; • novas possibilidades apresentadas pelo avanço da tecnologia da informação e comunicação; • ascensão de uma visão neoliberal de Estado. Com isso, emerge a nova gestão pública (NGP), que se refere a um conjunto de ideias e práticas que buscam utilizar a abordagem do setor privado e dos negócios no setor público. A NGP iniciou-se na Inglaterra, durante o governo de Margaret Thatcher, primeira ministra que defendia uma forte redução do Estado inglês. Outra experiência pioneira foi desenvolvida na Nova Zelândia, durante a década de 1980. Embora tenham existido outras abordagens que defendiam o governo como um negócio, a NGP envolveu mais do que somente o uso de técnicas de negócio. Ela se tornou um modelo normativo, sinalizando uma profunda mudança no modo de pensar o papel dos administradores públicos e da administração pública. 11 Fechamento Neste material, conhecemos de forma detalhada os principais modelos de gestão da administração pública adotados no Brasil. Conforme vimos, o modelo patrimonialista prevaleceu por um longo tempo no país, vigorando pelos períodos colonial e monárquico e sendo substituído pelo modelo burocrático somente no início do século XX. O modelo burocrático, por sua vez, durou de 1930 até 1979, e teve como uma de suas principais ênfases a eficiência e o formalismo. Já o modelo da nova gestão pública teve como foco a competência técnica. É importante salientar, finalmente, que cada modelo possui características específicas que o caracterizam, mas na prática do dia a dia, uma característica de determinado modelo pode estar presente em outro modelo de gestão. Referências MATIAS-PEREIRA, J. Curso de gestão estratégica na administração pública. São Paulo: Atlas, 2012. REZENDE, D. A. Planejamento estratégico público ou privado: guia para projetos em organizações de governo e de negócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
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