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CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SST CAMPOS, Alexandre de Crimes praticados contra a Administração Pública / Alexandre de Campos Ano: 2020 nº de p.: 10 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 3 Apresentação Nesta unidade, veremos a prática de crimes contra a administração pública. Entenderemos os principais crimes que permeiam as relações entre a administração e os seus funcionários; e, ainda, entre administração pública e outros agentes, sejam empresas, sejam cidadãos. Com a compreensão das atuações criminosas, poderemos analisar, criticamente, enquanto cidadãos e enquanto profissionais, os impactos de ações ilegais na máquina administrativa do Estado. Assim, de posse desses conhecimentos, construiremos e direcionaremos nossos esforços profissionais e pessoais à coibição de crimes que lesam o Estado e, consequentemente, comprometem o bem-estar dos cidadãos. Boa reflexão! Busca de privilégios e o dano à administração pública Fonte: Plataforma Deduca (2020). Aspectos introdutórios Os crimes contra a administração pública são barbaridades praticadas desde que o homem criou a política e as formas de representação social. Visando a interesses particulares, muitas pessoas (agentes públicos e privados) agem contrariamente à lei, buscam privilégios e fraudam o erário público. 4 Oliveira (2019) explica que, em se tratando do Direito, na própria legislação, existe o anseio à regulação das relações sociais. Assim, há a previsão de regras e de punições àqueles que não as acatam. Nesse sentido, ao agirmos contra regras e ditames legais e em prejuízo da administração pública, não comprometemos apenas o Estado, mas, sobretudo, a própria estabilidade social. Os crimes praticados contra a administração pública acarretam, portanto, danos à sociedade brasileira, devendo ser coibidos e punidos na forma da lei. Essa punição do Estado ao infrator, por via contrária, será imperativa, para que cumpra seu papel de proteger e de atender aos interesses coletivos. Crimes praticados contra a administração pública Fonte: Plataforma Deduca (2020). A seguir, observaremos alguns dos principais crimes que podem ser praticados contra a administração por funcionários públicos. Crimes praticados por funcionários públicos Abordaremos, aqui, alguns dos crimes incluídos no Código Penal brasileiro, no âmbito da administração pública. Trataremos, especialmente, do peculato; do extravio, da sonegação e da inutilização de documentos; do emprego irregular de verbas e de rendas públicas; da concussão; do excesso de exação; da corrupção passiva; da prevaricação; da advocacia administrativa; da violação do sigilo funcional; e da violação do sigilo de proposta de concorrência. Recebemos, cotidianamente, notícias sobre desvio de dinheiro público, sobre corrupção e sobre assuntos correlatos. Muitas vezes, não sabemos conceituar esses tipos de desvios, mas estamos diante de crimes de peculato. 5 Pode ser caracterizado como a prática de Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio (BRASIL, 2020). Segundo o art. 312 do Código Penal, o peculato é punido com pena de reclusão de dois a doze anos e com multa. Peculato Fonte: Plataforma Deduca (2020). Há diversos tipos de peculato. Um é o peculato mediante erro de outrem, conforme estabelece o art. 313, em que existe a apropriação “de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem”, punível com pena de reclusão de um a quatro anos e também aplicação de multa (BRASIL, 2020). Os crimes de extravio, de sonegação e de inutilização de documento consistem em atos que provoquem o desaparecimento de qualquer documento oficial. O funcionário público é responsável pelos documentos sob sua guarda em razão de seu cargo. Ao sonegar ou inutilizar documentos (total ou parcialmente), o funcionário público se sujeita a uma pena de reclusão de um a quatro anos. Para cálculo dessa punição, ainda é observado se o fato perpassa por outro crime de maior gravidade (BRASIL, 2020). O crime de emprego irregular de verbas e/ou de rendas públicas, segundo o art. 315, consiste em “dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei”, sendo neste caso prevista uma pena (detenção), de um a três meses, ou multa (BRASIL, 2020). A prática de concussão é estabelecida, no art.316, como “Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, 6 mas em razão dela, vantagem indevida”. Esse crime é penalizado com a reclusão de dois a oito anos e com a aplicação de multa. (BRASIL, 2020). Concussão Fonte: Plataforma Deduca (2020). O Código Penal, com redação dada pela lei n. 8.137/1990, estabelece o crime de excesso de exação, explicando que se trata da exigência, por parte do funcionário público, de “um tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza” (BRASIL, 2020). Nessas situações, a pena a ser designada varia entre três e oito anos e inclui multa. Quanto ao famoso crime de corrupção passiva, o art. 317 do Código Penal assevera que consiste em Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem (BRASIL, 2020). É importante destacar que tal crime é punido com reclusão de dois a doze anos e com multa. Contudo, a pena é aumentada em um terço se, por vantagem ou por promessa, o funcionário deixar de agir segundo seus deveres. Outros dois crimes muito famosos são os de prevaricação e de condescendência criminosa. O primeiro acontece quando o funcionário público retarda ou deixa de praticar um ato de ofício; ou o faz em disposição contrária à estabelecida em lei (para satisfazer interesse ou sentimento pessoal). Para esse crime, imputa-se pena de três meses a um ano e, também, multa. Por sua vez, o crime de condescendência criminosa ocorre quando um funcionário deixa, indulgentemente, de responsabilizar um subordinado que tenha cometido infração no exercício do cargo ou que, pela falta de competência, não leve o fato 7 à autoridade superior. Nesses casos, a pena é mais branda, havendo detenção de quinze dias a um mês e multa. A advocacia administrativa, punível com detenção de um a três meses ou com multa, de acordo com o art. 321, é a prática de “patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário” (BRASIL, 2020). Cabe observarmos se o interesse envolvido no crime de advocacia administrativa é ilegítimo. Nesse caso, a pena será detenção de três meses a um ano e multa (BRASIL, 2020). Atenção Por fim, é importante destacar os crimes relacionados ao sigilo: os de violação de sigilo funcional e de violação do sigilo de proposta de concorrência. No Código Penal, explicita-se que o primeiro crime acontece caso, pelo desempenho da atividade, o funcionário revele algo sigiloso ou facilite que tal informação seja revelada. O criminoso será punido ou com detenção de seis meses a dois anos ou com multa. É levado em consideração o teor de gravidade do fato e outros agravantes, como o dano causado. A violação do sigilo de proposta de concorrência, por outro lado, ocorre quando, em uma concorrência pública (licitação), de alguma forma, ou for quebrado o sigilo de uma proposta apresentada ou for propiciado a terceiro o ensejo de quebrar o sigilo da proposta. Nesses casos, o Código Penal prevê, em seu art. 326, a pena de detenção de três meses a um ano e multa (BRASIL, 2020). Nos crimes relacionados a sigilo, a pena será aumentada em um terço quando osautores forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou de assessoramento de órgão da administração direta, de sociedade de economia mista, de empresa pública e de fundação instituída pelo poder público (BRASIL, 2020). Atenção 8 Depois de verificarmos tantos crimes que podem ser cometidos ou por funcionários públicos ou por aqueles que, transitoriamente, exercerem cargo, emprego ou função pública, veremos, a seguir, alguns crimes que podem ser cometidos por empresas e por cidadãos contra a administração pública. Crimes praticados por particulares Ao contrário dos crimes descritos anteriormente, os crimes praticados pelo particular contra a administração pública são delitos que envolvem cidadãos, empresas privadas e outros elementos que tenham alguma relação com a administração pública. No âmbito desses crimes, trataremos da usurpação de função pública; da desobediência; do desacato; do tráfico de influência; da corrupção ativa; do impedimento, da perturbação ou da fraude de concorrência; da subtração ou inutilização de documento; e da sonegação de contribuição previdenciária. Primeiramente, quanto ao crime de usurpação de função pública, o art. 328 do Código Penal define, para quem “usurpar o exercício de função pública”, (BRASIL, 2020), a detenção, com pena de três meses a dois anos, e a multa. O crime de desobediência, por outro lado, trata-se da situação em que uma pessoa, conforme está disposto no art. 330 do Código Penal, “desobedecer a ordem legal de funcionário público”. Poderá ser detida por um período de quinze dias a seis meses e pagar multa. Por sua vez, o desacato a um funcionário público no exercício de sua função ou em razão dela pode gerar uma detenção mais longa, de seis meses a dois anos, ou multa. O tráfico de influência ocorre quando alguém solicitar, exigir, cobrar e/ou obter, para si ou para outrem, uma vantagem ou uma promessa sob o pretexto de manipular ato praticado em sua função. Tal crime incorre em reclusão de dois a cinco anos e em multa (BRASIL, 2020). No crime de tráfico de influência, a pena é aumentada em 50% se o agente alegar ou insinuar que a vantagem é, também, destinada ao funcionário público. Atenção 9 O crime de corrupção ativa está definido no art. 333 da seguinte forma: “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício” (BRASIL, 2020). A pena é de reclusão de dois a doze anos e multa. No parágrafo único do art.333, a pena para corrupção ativa “é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional” (BRASIL, 2020). Atenção O crime de impedimento, de perturbação ou de fraude de concorrência se aplica nos casos de uma pessoa tentar impedir, perturbar ou fraudar uma concorrência e/ou uma venda em hasta pública e tentar afastar concorrentes de alguma forma. Nesse contexto, a pena varia entre seis meses e dois anos e pode ser comutada por multa. Além disso, a pena é proporcional à violência empregada (BRASIL, 2020). Assim como ocorre com o funcionário público, o ente particular também incorre em crime com reclusão de dois a cinco anos se subtrair ou se tornar inutilizável documento confiado à custódia de funcionário público em razão de ofício, à sua própria custódia e à custódia de outro ente particular em serviço público. Por fim, outro crime que, infelizmente, é muito falado em nossa sociedade é o da sonegação de contribuição previdenciária, em que ocorre a supressão ou a redução de contribuição social previdenciária e condutas ilícitas, como a omissão de folha de pagamento, por exemplo. Essa sonegação é punida com reclusão de dois a cinco anos e com multa. 10 Fechamento Nesta unidade, vimos questões extremamente importantes ligadas ao Direito Público e à conduta das pessoas frente ao setor público; e entendemos os males que os crimes contra a administração pública geram, com resultados reverberando sobre a própria sociedade. Também identificamos alguns dos principais crimes contra a administração pública e as penalidades imputadas a cada um deles. Em resumo, ficou clara a importância de que os funcionários públicos sejam honestos e atentos à lei. Evidenciamos, ainda, que os crimes praticados por qualquer agente, seja funcionário, seja entre particular, prejudicam o funcionamento do Estado, a sua credibilidade e a sua capacidade de investimento em ações de interesse público. Isso, juntamente com a necessidade social de regulação jurídica, imputa menor estabilidade à sociedade como um todo. Referências OLIVEIRA, L. F. S. O dano moral coletivo como sanção reparadora nos crimes contra a administração pública. Dissertação (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019. 186p. Disponível em: https://tede.pucsp.br/ bitstream/handle/22559/2/Luiz%20Fernando%20Silva%20Oliveira.pdf. Acesso em: 04 out. 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: 1988. Disponível em: http://planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 04 out.2020. https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/22559/2/Luiz%20Fernando%20Silva%20Oliveira.pdf https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/22559/2/Luiz%20Fernando%20Silva%20Oliveira.pdf http://planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm art332 art337a
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