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SUSTENTABILIDADE EM NEGÓCIOS Reny Aparecida Galvão Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Discutir a evolução do conceito de desenvolvimento sustentável no tempo. Apresentar o conceito de ODM e sua evolução para ODS. Relacionar exemplos de compromisso de empresas com os ODS. Introdução Neste capítulo, você vai estudar as discussões e os principais eventos que contribuíram para a evolução do desenvolvimento sustentável. Você também vai aprender como os objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM) evoluíram para se tornar objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). Por fim, você vai compreender quais são os compromissos de empresas com os ODS. Conceitos básicos O termo desenvolvimento sustentável surgiu a partir de uma inquietação: afi nal, como nós vamos satisfazer as nossas necessidades sem prejudicarmos as futuras gerações? O termo foi cunhado no documento conhecido como Relatório Brundtland, intitulado “Nosso Futuro Comum”, no ano de 1987. Porém, o seu conceito básico emergiu na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, na Suécia, no ano de 1972, como uma abordagem do ecodesenvolvimento, conforme leciona Sachs (1993). Formada em 1983, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desen- volvimento (CMMAD), presidida por Gro Harlem Brundtland e, por isso, conhecida como Comissão Brundtland, reuniu 21 pessoas; dentre elas, estavam políticos, diplomatas, cientistas e representantes de vários países. Durante o período no qual a Comissão se reuniu para realizar o trabalho, aconteceram dois grandes e catastróficos acidentes ambientais que sensibilizaram o mundo (Figura 1), conforme descrito abaixo. Em 1984, em Bhopal, na Índia, em uma unidade da Union Carbide Índia Ltda., ocorreu uma descarga acidental na atmosfera de isocianato de metila. A nuvem tóxica matou mais de 2 mil pessoas e intoxicou mais de 200 mil. Em 1986, na Ucrânia, um reator da usina de Chernobyl explodiu e provocou um incêndio que durou uma semana. Foi lançada na atmosfera uma quantidade de material radioativo 30 vezes maior do que o das bombas de Hiroshima e Nagasaki juntas, matando mais de 10 mil pessoas (ONU BRASIL, [2019]). Figura 1. Os anos 1980 foram marcados por tragédias decorrentes de acidentes am- bientais tecnológicos, como o de Bhopal, na Índia, em 1984, e o de Chernobyl, na antiga União Soviética, em 1986. Na foto acima, vemos um brinquedo abandonado no pátio de uma escola infantil da hoje cidade-fantasma de Pripyat, na Ucrânia, onde a usina nuclear soviética funcionava. Fonte: Serhii Barylo/Shutterstock. Os membros da Comissão Brundtland descreveram no resumo do relatório final, apresentado à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios2 (ONU), em 1987, os desastres ambientais ocorridos nesse período. Eles também informaram que, a cada ano, 6 milhões de hectares de terras produtivas se transformam em deserto e 11 milhões de hectares de florestas são destruídos. Esse documento tinha como objetivo propor uma agenda global de estratégias ambientais de longo prazo, para se obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 (CMMAD, 1991). Para construir o conceito de desenvolvimento sustentável, o grupo recorreu à noção de capital ambiental. A Comissão relatou a destruição dos recursos ambientais do planeta pela geração atual, com o propósito de atender às suas necessidades e ambições, às custas dos interesses da geração futura. Conforme apontou a Comissão, tais práticas são insustentáveis — tanto nas nações desenvolvidas quanto nas pobres. Retira-se demais de uma conta de recursos ambientais já negativa e, no futuro, essa conta não fechará. Conforme aponta o Relatório, os lucros podem ser contabilizados pela geração atual, mas a geração futura herdará os prejuízos, pois pegamos emprestado um capital ambiental dos nossos filhos e netos, sem qualquer intenção de devolvê-lo (CMMAD, 1991). Assim, conforme descrito no “Nosso Futuro Comum” (CMMAD, 1991, p. 9), “[…] a humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável — de garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capa- cidade de as gerações futuras também atenderem às suas”. Nessa afirmação, existem dois conceitos-chave: o primeiro é o das necessidades, que variam de sociedade para socie- dade, principalmente aquelas que são essenciais à sobrevivência dos pobres; o segundo é o de limitação, que envolve reconhecer a necessidade da tecnologia, para desenvolver soluções na conservação dos recursos atualmente disponíveis, que permitam sua renovação à medida que as gerações futuras necessitem. Portanto, o desenvolvimento sustentável deve assegurar as necessidades econômicas, sociais e ambientais, sem comprometer o futuro de nenhuma delas. Em síntese, conforme o Relatório, os principais objetivos das políticas ambientais e desenvolvimentistas são: retomar o crescimento; alterar a qualidade do desenvolvimento; 3Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios atender às necessidades essenciais de emprego, alimentação, energia, água e saneamento; manter um nível populacional sustentável; conservar e melhorar a base de recursos; reorientar a tecnologia e administrar o risco; incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões. O viés social não foi deixado de lado. Nesse sentido, o Relatório Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1991, p. 10) afirma que “[…] a pobreza não é apenas um mal em si mesma, mas para haver um desenvolvimento sustentável é preciso atender as necessidades básicas e dar a todos a oportunidade de realizar suas aspirações de uma vida melhor”. O trabalho da Comissão Brundtland termina com uma recomendação para que a Assembleia Geral da ONU convocasse a II Conferência Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento, marcando-a para 1992, exatamente 20 anos depois da Conferência de Estocolmo. Trata-se da Rio-92, também conhecida como Eco-92, sediada no Rio de Janeiro, que contou com a presença de 179 países, que estabeleceram o desenvolvimento sustentável como uma das metas dos governos e das sociedades mundiais, conforme leciona Dias (2017). Dessa Conferência, resultaram cinco documentos (DIAS, 2017, p. 38): a declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; a declaração de princípios para a gestão sustentável das florestas; o Convênio sobre a Diversidade Biológica; o Convênio sobre as Mudanças Climáticas; e o Programa das Nações Unidas para o Século XXI, conhecido como Agenda 21. De todos os documentos, o mais abrangente é a Agenda 21, que teve o propósito de estabelecer uma agenda de cooperação internacional para pôr em prática, ao longo do século XXI, o desenvolvimento sustentável no planeta. Os países traçaram um programa detalhado de direcionamento de atividades que protejam os recursos ambientais e que causem menos danos ao meio ambiente. O programa também recomendou um olhar sobre a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento, sobre os padrões insustentáveis de produção e consumo e sobre pressões demográficas. E foi mais além, ao propor meios de fortalecer o papel desempenhado por mulheres, organizações sindicais, agricultores, crianças e jovens, povos indígenas, comunidade científica, auto- Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios4 ridades locais, empresas, indústrias e organizações não governamentais, para alcançar o desenvolvimento sustentável (ONU BRASIL, [2019]). No ano de 1997, foi realizada a Rio+5, em Nova York, nos Estados Unidos, e o objetivo principal era o de analisar a execução da Agenda 21. Após muitas divergências entre os países sobre como financiar o desenvolvimento susten- tável mundialmente, surgiram alguns acordos que constam no documento final (ONU BRASIL, [2019]): adotarobjetivos juridicamente vinculantes para reduzir a emissão dos gases de efeito estufa, os quais são causadores da mudança climática; avançar com mais vigor para modalidades sustentáveis de produção, distribuição e utilização de energia; focalizar a erradicação da pobreza como requisito prévio do desenvol- vimento sustentável. Na Rio+10, no ano de 2002, aconteceu a Cúpula Mundial sobre Desenvol- vimento Sustentável, na cidade de Johanesburgo, na África do Sul. A intenção dessa Cúpula era reavaliar e implementar conclusões e diretrizes em relação à Eco-92. No ano de 2005, entrou em vigor o Protocolo de Kyoto, que obriga os países desenvolvidos a reduzirem os gases que provocam o efeito estufa, estabelecendo os mecanismos de desenvolvimento limpo. Em 2007, foi pu- blicado o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que relata as consequências do aquecimento global até 2100, caso os seres humanos nada façam para impedi-lo (DIAS, 2017). O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente divulgou, em 2011, um dos documentos-chave para a Rio+20, “Rumo à economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza — síntese para tomadores de decisão”, com o propósito de promover um século XXI susten- tável e de combate à pobreza. Em 2012, na Rio+20, foi gerado o documento “O futuro que queremos”. Além disso, foi formado um grupo para elaborar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tendo como meta o ano de 2030. Finalmente, no ano de 2014, a Assembleia Geral da ONU recebeu o documento final do grupo responsável por elaborar os ODS, que substituíram os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), elaborados em 2000, conforme será apresentado na próxima seção (DIAS, 2017). No Quadro 1, é apresentada uma linha do tempo dos principais aconteci- mentos relacionados ao desenvolvimento sustentável nos últimos anos. 5Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios Fonte: Adaptado de Dias (2017). Ano Acontecimentos 1962 Publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson 1968 Criação do Clube de Roma e da Conferência das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura sobre a Biosfera 1971 Criação do Programa o Homem e a Biosfera 1972 Publicação do informe “Os limites do crescimento”, apresentado pelo Clube de Roma 1972 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, na Suécia 1983 Formação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) 1987 Publicação do informe “Nosso Futuro Comum”, da CMMAD 1992 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio-92, Brasil 1994 Publicação do livro Canibais com Garfo e Faca, de John Elkington 1997 Rio+5, realizado em Nova Iorque, EUA 2002 Rio+10, Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, Johanesburgo, África do Sul 2005 Protocolo de Kyoto 2007 Relatório do Painel das Mudanças Climáticas 2011 Relatório “Rumo a uma Economia Verde” 2012 Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável 2014 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) Quadro 1. Timeline dos acontecimentos relacionados ao desenvolvimento sustentável Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios6 A evolução dos objetivos de desenvolvimento Diversas ações e debates que tiveram início no período após a Guerra Fria, no fi nal dos anos 1980, contribuíram para o surgimento dos ODM. As agências de assistência ao desenvolvimento tiveram cortes no orçamento para a ajuda aos países que necessitavam desses recursos. Então, a ONU e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) passaram a discutir o futuro da ajuda ao desenvolvimento. Essas discussões levaram à elaboração de um documento, em 1996, intitulado “Shaping the 21th Century: The Con- tribution of Development Cooperation” (DAC, 1996), no qual se consolidavam as discussões da Rio-92 e se fi xavam metas e objetivos em três áreas: bem-estar econômico; desenvolvimento social; e sustentabilidade ambiental e regeneração. Por outro lado, havia a discussão sobre o desenvolvimento humano, do qual a renda não é o fim, mas é um dos itens que o compõem, conforme aponta o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Essa discussão culminou com a criação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 1998, composto por três dimensões: renda, educação e saúde. No ano de 2000, 189 nações se comprometeram a se unir para combater a extrema pobreza e os problemas sociais. Nesse mesmo ano, aconteceu a Cú- pula do Milênio, em que foi aprovada a Declaração do Milênio, que serviu de base para o documento “Road Map towards the implementation of the United Nations Millennium Declaration” (UNITED NATIONS, 2001), levando aos ODM. Com oito objetivos a serem cumpridos até 2015, os ODM (Figura 2) eram subdivididos em 21 metas e 60 indicadores: 1. acabar com a fome e a miséria; 2. oferecer educação básica de qualidade para todos; 3. promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4. reduzir a mortalidade infantil; 5. melhorar a saúde das gestantes; 6. combater a Aids, a malária e outras doenças; 7. garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8. estabelecer parcerias para o desenvolvimento. 7Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios Figura 2. Os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas são metas para combater a pobreza e promover a saúde no planeta. Fonte: Portal UNIL (2019, documento on-line). Por meio dos ODM, foram definidas, pela primeira vez, metas quantitativas com prazos predefinidos, dando sentido operacional para dimensões básicas do desenvolvimento humano. Assim, países em desenvolvimento puderam traçar estratégias orientadas por essas metas, conforme apontam Carvalho e Barcellos (2015). Como contribuições dos ODM, podemos destacar: o estímulo ao consenso mundial; o foco no fluxo de ajuda aos países em desenvolvimento; e o monitoramento de projetos de desenvolvimento. Já como principais vantagens dos ODM, podemos citar: Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios8 objetivos simples, limitados e mensuráveis; prazo delimitado; foco em áreas de grande consenso internacional; foco nos resultados; compreensão de que a pobreza é um fenômeno multidimensional; e acompanhamento de políticas de apoio à produção de estatísticas. Enfim, os ODM forneceram uma importante estrutura para o desenvolvi- mento e obtiveram sucesso em muitas áreas, como a redução da pobreza e a melhoria da saúde e da educação nos países em desenvolvimento. O Relatório Sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, divulgado pela ONU em 2015 (IPEA, 2019), relata os avanços de 15 anos do movimento de combate à pobreza no mundo: a extrema pobreza caiu em mais da metade, desde 1990; nas regiões em desenvolvimento, a subnutrição diminuiu quase pela metade; o número de matrículas no ensino básico atingiu mais de 90% nos países em desenvolvimento; houve melhorias nas taxas de combate à aids, malária e tuberculose; houve a diminuição da taxa de mortalidade em crianças menores de cinco anos e materna em 45%; houve o aumento do número de pessoas com acesso à água potável. No Brasil, conforme o Relatório Nacional de Acompanhamento dos Obje- tivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM BRASIL, [2019]), a maioria das metas foram alcançadas e muitas foram superadas antes do final de dezembro de 2015. Vale ressaltar que, apesar de o relatório final da ONU sobre os ODM informar que, das 21 metas, somente quatro foram alcançadas — ou seja, 19% —, os ODM foram uma iniciativa bem-sucedida. Como surgiram os ODS Os ODS começaram a ser elaborados a partir da deliberação da Rio +20 e são o resultado do engajamento de Estados Membros da ONU, das pesquisas com milhares de pessoas e da comunidade internacional, em um processo que levou três anos para ser concluído. A intenção era a de avançarem relação às lições aprendidas com os ODM, juntamente com a Agenda 21 e o Plano de Implementação da Rio+10. 9Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios É muito importante frisar que os 17 ODS tiveram como base as oito metas dos ODM. São o resultado da revisão dos ODM, atingidos ou não, quando chegou a data-limite de 2015. Os objetivos revisados, os ODS, receberam uma nova data-limite, o ano de 2030. Apesar do sucesso no combate à pobreza e na diminuição da fome e des- nutrição no mundo, entre os objetivos não alcançados estão as metas de qua- lidade de vida e respeito ao meio ambiente: os desmatamentos continuam e ainda há tendência crescente de emissão de gases de efeito estufa. Da mesma forma, aumentam a desigualdade social; a sustentabilidade socioambiental é uma preocupação, assim como permanece a necessidade de combate à dis- criminação racial e de orientação sexual. Com esse intuito, em 2015, a ONU apresentou o documento “Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”. É comum que pesquisadores e meios de comunicação usem Agenda 2030 como um objetivo geral de desenvolvimento sustentável, o que acaba causando alguma confusão. Na verdade, a Agenda 2030 é uma espécie de plano de ação para alcançar o equilíbrio entre a proteção do planeta e a prosperidade humana e é composta por uma declaração, 17 objetivos (ODS) e 169 metas, uma seção sobre meios de implementação e, finalmente, um arcabouço para acompanhamento e revisão. Na Figura 3, são apresentados os 17 objetivos. Figura 3. Os objetivos da Agenda 2030. Fonte: ONU BRASIL, 2015, documento on-line. Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios10 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. 4. Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. 6. Assegurar a disponibilidade, a gestão sustentável da água e o sanea- mento para todos. 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho decente para todos. 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização in- clusiva e sustentável e fomentar a inovação. 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos. 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terres- tres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade. 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. Para auxiliar no cumprimento dos objetivos e metas, a Agenda 2030 foi dividida em cinco pilares, conhecidos como 5 Ps, conforme descrito abaixo e apresentado na Figura 4. O primeiro pilar aborda o quesito pessoas, pois o desenvolvimento das sociedades está associado à garantia de uma vida digna e igualitária. 11Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios O segundo pilar tem o sentido de complementar o primeiro pilar, pois a prosperidade significa que as vidas devem ser vividas com dignidade. O terceiro pilar, planeta, sempre esteve presente nas nossas preocu- pações com a sustentabilidade, dado o reconhecimento da maioria dos recursos não renováveis explorados pelas nossas sociedades modernas. O quarto pilar é a paz e tem o propósito de garantir sociedades mais justas e livres, por meio da redução das formas de violência e abuso, exploração, tráfico e tortura. O quinto P é o das parcerias para o desenvolvimento, por meio da exis- tência de mercados globais de matérias-primas, de bens e de serviços, com o propósito da estabilidade financeira global. Figura 4. Os 5 Ps do desenvolvimento sustentável. Os pilares da Agenda 2030 envolvem áreas consideradas de extrema importância para a humanidade. Fonte: Movimento Nacional ODS (2019, documento on-line). Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios12 Segundo a ONU (ONU BRASIL, [2019]), os objetivos e as metas da Agenda 2030 são integrados e indivisíveis e equilibram as três dimensões do desenvolvi- mento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Eles começaram a valer a partir de 1 de janeiro de 2016 e guiarão as ações em áreas fundamentais para a humanidade e o planeta até o ano de 2030. Embora tenham natureza global e possam ser aplicados universalmente, os ODS dialogam com as políticas e ações regionais e locais. Porém, para alcançar as metas estabelecidas, precisa-se que os governantes e gestores locais sejam protagonistas da conscientização, da propagação e da mobilização dessa agenda. Enel Brasil A Enel Brasil foi premiada pela Revista EXAME como a empresa mais sustentável do ano de 2018. A multinacional italiana é a maior empresa do setor elétrico no país e também é a líder dos segmentos de geração de energia eólica e solar. Com base no ODS 8, empregos dignos e crescimento econômico, a empresa implementou um programa com o propósito de promover uma transformação na vida de pessoas e de suas comunidades, por meio da criação de valor compartilhado. O programa engloba uma série de ações voltadas ao empoderamento local das comunidades nas quais a empresa atua. A iniciativa tem o propósito de engajar e dar suporte às comunidades que se encon- tram nas áreas de concessão em que a empresa atua no Brasil, por meio da criação de valor, da promoção da consciência empreendedora e da maximização dos impactos positivos nessas localidades. As iniciativas do projeto contemplam a formação de redes e associações produtivas comunitárias, além de abordar temas ligados ao meio ambiente, como o reúso, a reciclagem, o descarte de resíduos e a economia circular. Busca-se contribuir para a inclusão social, o empoderamento feminino e a geração de renda às comunidades. A empresa relata que, entre 2015 e 2018, mais de 6.500 pessoas foram beneficiadas diretamente, e a renda gerada pelos grupos que participam do programa totalizou R$ 2,7 milhões. Ainda conforme a empresa (ENEL, 2019), foram também realizadas as seguintes ações: um projeto voltado ao fortalecimento da cultura quilombola, por meio da criação de ateliês de costura em uma comunidade na Bahia; a implementação de um sistema de agricultura familiar que utiliza água de uso doméstico, também na Bahia, no entorno dos parques eólicos; a instalação de painéis solares para geração de energia para a produção de ali- mentos no Piauí. 13Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios O compromisso das empresas Os ODS impactam diretamente as empresas, porque dizem respeito a ques- tões operacionais da atividade e exigem mudanças na gestão dos negócios. É necessário repensar como as empresas transformam os recursos da natureza em bens. Um dos meios de alcançar essas mudanças é por meio da tecnologia, aprimorando o uso da energia, dos recursos e dos materiais, conforme sugerem Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2016). O desafi o dos ODS atinge também a relação da empresa com os públicos de interesse,por meio de políticas públicas que possam garantir direitos fundamentais, autonomia e qualidade de vida da população nas áreas onde cada empresa atua. As empresas podem utilizar os ODS para obter diferentes benefícios, con- forme apontado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (GRI; UN COMPACT; WBCSD, [2015]): identificação de oportunidades de negócios futuros; valorização da sustentabilidade corporativa; fortalecimento das relações com as partes interessadas; investimento em um ambiente propício aos negócios; e utilização de uma linguagem comum e de uma finalidade compartilhada. Nem todos os ODS são igualmente relevantes para a empresa, pois sua relevância depende do quanto a empresa poderá contribuir com cada um dos objetivos, além dos riscos e das oportunidades relacionados a cada objetivo, que dependem de fatores diversos. Assim, a empresa, ao adotar um modelo de estratégia para os ODS, terá como primeira tarefa fazer uma avaliação dos impactos potenciais positivos e negativos de suas atividades em toda a cadeia de valor, conforme exemplificado na Figura 5. O propósito é identificar os impactos positivos que podem ser aumentados e os impactos negativos que podem ser reduzidos ou evitados. Dessa forma, para cumprir as metas da Agenda 2030 e gerar mudanças, as empresas deverão ir além do financiamento de projetos, incorporando essas metas em suas próprias atividades. Isso não é apenas uma questão de cidadania corporativa, mas também um posicionamento estratégico que é necessário ao sucesso futuro da empresa. Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios14 Figura 5. Exemplo de mapeamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na cadeia de valor. Ao avaliar os ODS na cadeia de valor, a empresa pode detectar o impacto social e ambiental. Fonte: GRI, UN Global Compact e WBCSD ([2015], documento on-line). Cada vez mais, as empresas estão incorporando critérios de sustentabilidade social e ambiental em suas operações e procedimentos de gestão e estão sendo desafiadas a rever seus modos de produção e sua relação com a comunidade local em que operam. Dessa forma, a construção de parcerias por meio de transparência, confiança e diálogo é fundamental, assim como o engajamento nos âmbitos local, nacional e global. Confira a seguir dois casos de sucesso de empresas que já incorporaram as metas dos ODS nas suas estratégias. 15Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios Itaú Unibanco O Itaú Unibanco é o maior banco privado do Brasil e uma das maiores empresas do mundo, segundo ranking da Forbes. Com 91 anos de história e de tradição, conta com mais de 90 mil colaboradores, quase 60 milhões de clientes e mais de 95 mil acionistas. Um dos temas que o banco tem trabalhado dentro dos ODS é o empoderamento feminino, que está presente no objetivo 5: “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” (ONU BRASIL, 2019, documento on-line). Dentre essas ações, destaca-se o Itaú Mulher Empreendedora, programa que iniciou no ano de 2014, com base nos pilares capacitação, inspiração e conexão. Por meio de uma plataforma on-line, com mais de 6 mil empreendedoras, a empresa disponibiliza gratuitamente vídeos, artigos e ferramentas com foco em gestão, finanças, marketing e inovação. As participantes também podem se inscrever em workshops, programa de mentoria e programa de aceleração de empresas, com o intuito de proporcionar meios de crescimento e diferenciação de seus negócios. Outra ação envolve compartilhar as trajetórias de sucesso de mulheres empreendedoras, por meio de palestras e vídeos. Ainda, é desenvolvida a Rodada de Negócios, que reúne empreendedoras de diferentes segmentos para apresentarem suas empresas umas às outras, com o intuito de estimular a realização de parcerias, negócios e networking. A empresa mensurou os resultados do programa por meio de uma pesquisa, realizada em 2016, comparando as participantes do programa com empreendedoras que não estavam envolvidas na iniciativa. O estudo mostrou que as empreendedoras que participam do Itaú Mulher Empreendedora apresentam faturamento maior e estão trabalhando para alavancar suas empresas, contratando mais produtos financeiros, investindo mais e, ao mesmo tempo, se endividando menos (ITAÚ MULHER EMPRE- ENDEDORA, 2018). Você deve ter percebido que o desenvolvimento de uma cultura de susten- tabilidade tem como tendência aumentar o nível de exigência das pessoas em relação aos bens e produtos; como consequência, surgirá um maior questio- namento em relação aos produtos e comportamentos das empresas. Assim, o desenvolvimento sustentável passa a ser uma exigência e um compromisso com a sociedade e corresponde a um desafio que demanda muitos anos de trabalho e exige mudanças nas empresas e em seus modelos de negócio. Ele funcionará como um diferencial nas empresas, possibilitando que elas sejam prósperas e sustentáveis nas próximas décadas, caso adotem suas práticas. Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios16 ALIGLERI, L.; ALIGLERI, L. A.; KRUGLIANSKAS, I. Gestão industrial e produção sustentável. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. CARVALHO, P. G. M.; BARCELLOS, F. C. Os objetivos de desenvolvimento do milênio - ODM: uma avaliação crítica. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em: https://biblioteca.ibge. gov.br/visualizacao/livros/liv94600.pdf. Acesso em: 18 set. 2019. CMMAD. Nosso futuro em comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991. DAC. Shaping the 21st century: the contribution of development co-operation. Paris: OECD, 1996. Disponível em: https://www.oecd.org/dac/2508761.pdf. Acesso em: 25 set. 2019. DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 3. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2017. ENEL. Relatório de sustentabilidade. 2019. Disponível em: https://www.eneldistribuicaosp. com.br/Documents/Relat%202017_port.pdf. Acesso em: 26 set. 2019. GRI; UN GLOBAL COMPACT; WBCSD. Guia dos ODS para as empresas: diretrizes para imple- mentação dos ODS na estratégia dos negócios. [S. l.: s. n], [2015]. Disponível em: https:// cebds.org/wp-content/uploads/2015/11/Guia-dos-ODS.pdf. Acesso em: 25 set. 2019 IPEA. Relatório Nacional de Acompanhamento dos ODM [2015]. Disponível em: http:// www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/140523_relatorioodm.pdf. Acesso em: 26 set. 2019 ITAÚ MULHER EMPREENDEDORA. O cenário do empreendedorismo feminino no Brasil. 2018. Disponível em: https://imulherempreendedora.com.br/posts/gestao/o-cenario- -do-empreendedorismo-feminino-no-brasil. Acesso em: 25 set. 2019. MOVIMENTO NACIONAL ODS. Os 5 P’s da sustentabilidade. 2019. Disponível em: https:// movimentoods.org.br/nossa-causa/os-5-ps-da-sustentabilidade/. Acesso em: 18 set. 2019. ODM BRASIL. Os objetivos de desenvolvimento do milênio. [2000]. Disponível em: http:// www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio. Acesso em: 25 set. 2019. ONU BRASIL. A ONU e o meio ambiente. [2019]. Disponível em: https://nacoesunidas. org/acao/meio-ambiente/. Acesso em: 18 set. 2019. ONU BRASIL. Conheça os novos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. 2015. Disponível em: https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de- -desenvolvimento-sustentavel-da-onu/. Acesso em: 18 set. 2019. PORTAL UNIL. 8 jeitos de mudar o mundo. 2019. Disponível em: https://unil.com.br/8- -jeitos-de-mudar-o-mundo/. Acesso em: 18 set. 2019. 17Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel,1993. UNITED NATIONS. Road map towards the implementation of the United Nations Millennium Declaration: Report of the Secretary-General. New York: United Nations, 2001. Disponível em: https://www.preventionweb.net/files/13543_N0152607.pdf/. Acesso em: 25 set. 2019. Leituras recomendadas IPCC. IPCC factsheet: what is the IPCC? 2013. Disponível em: http://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/02/FS_what_ipcc.pdf. Acesso em: 25 set. 2019 PNUD Brasil. Perfil oficial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil. [2019]. Twitter: @PNUDBrasil. Disponível em: https://twitter.com/PNUDBrasil. Acesso em: 18 set. 2019. Desenvolvimento sustentável aplicado aos negócios18
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