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Comunicação e Expressão Profa. Dra. Ana Amélia Furtado de Oliveira 1ª Edição Autoria Currículo Lattes: Doutora e mestre em Estudos Linguísticos na área “Análise de Línguas de Especialidade”. For- mada em Letras com Bacharelado em Tradução (português-francês) e em licenciatura em Por- tuguês. Atua como professora universitária no Centro Universitário do Sul de Minas desde 2011. Profa. Dra. Ana Amélia Furtado de Oliveira http://lattes.cnpq.br/3635809359841101 Coautoras Currículo Lattes: Currículo Lattes: Profa. Dra. Carina Adriele Duarte de Melo Profa. Esp. Rebeca Nogueira Lourenço Kaus Doutora em Ciências da Linguagem pela Universidade do Vale do Sapucaí. Concluiu o Mes- trado em Letras (Linguagem, Cultura e Discurso) em 2008 e graduação também em Letras em 2005. Foi professora efetiva na rede pública de ensino de 2006 a 2009, também trabalhou como professora substituta no Centro Tecnológico de Minas Gerais - CEFET/Varginha no período de 2014 a 2015. http://lattes.cnpq.br/6909130283777291 Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras (Português - Espanhol), pelo Centro Univer- sitário do Sul de Minas - Unis/MG (2011) e em Comunicação Social, também pelo Centro Uni- versitário do Sul de Minas - Unis/MG (2003). Especialista em Docência na Educação a Distância, pelo Centro Universitário do Sul de Minas-Unis/MG (2007). http://lattes.cnpq.br/1533428235775539 6 Unis EaD Cidade Universitária – Bloco C Avenida Alzira Barra Gazzola, 650, Bairro Aeroporto. Varginha /MG ead.unis.edu.br OLIVEIRA, Ana Amélia Furtado de. Comunicação e Expressão. Var- ginha: GEaD-UNIS/MG, 2021. p. 1. Comunicação 2. Texto verbal e não verbal 3. Gênero textual. 4. Contexto Caro(a) estudante, Este guia tem por objeto o estudo da Língua Portuguesa. Neste período, vamos priori- zar a construção de competências e habilidades em leitura, escrita e interpretação. Para traba- lharmos a teoria de forma contextualizada, escolhemos gêneros textuais adequados aos obje- tivos de cada unidade. Inicialmente, veremos um pouco sobre “Linguagem e Comunicação”, analisando os tex- tos verbais, não verbais e mistos. Também veremos a importância do conhecimento de mundo para a construção do sentido. Na unidade seguinte, unidade II, vamos abordar o funcionamento da comunicação e os diferentes objetivos comunicativos para iniciarmos o percurso da leitura crítica e aprofundada. Aprenderemos também sobre as conexões textuais. A unidade III nos permitirá refletir sobre a nossa própria língua, o conceito de “erro”, questionando concepções mais tradicionais, ampliando para uma visão mais heterogênea da língua. Para aperfeiçoar a escrita adequada em contexto formal, aprenderemos sobre a lingua- gem acadêmica, linguagem formal e e impessoal. Na unidade seguinte, unidade IV, trabalharemos estratégias argumentativas para que possamos aperfeiçoar a defesa de nossas ideias e posicionamentos, seja como cidadãos ou profissionais. Também faremos exercícios de revisão, visando identificar problemas de escrita e aperfeiçoá-la. Por fim, na atividade V, trataremos dos novos gêneros textuais e comunicação digital. Todo o guia está escrito em uma linguagem bastante dialogal, para que sua leitura seja praze- rosa e de compreensão satisfatória. Durante esse estudo, iremos sugerir alguns livros e endere- ços eletrônicos, é importante que os visite também. Um grande abraço e bons estudos! Ana Amélia Ementa Orientações Palavras-chave Gêneros textuais: suas estruturas e funções. O papel do leitor na construção do sentido. Níveis de leitura e procedimentos de interpretação textual. Aspec- tos linguístico-gramaticais aplicados aos textos. Procedimentos e estratégias de construção de textos: o público-alvo, o contexto de produção, recursos de coesão e coerência. A argumentação nos textos orais e escritos. O papel da reescrita na construção textual. anúncio Ver Plano de Estudos da disciplina, disponível no ambiente virtual. Comunicação; Texto verbal e não verbal; Gênero textual; Contexto. Unidade I - Linguagem e Comunicação 13 1.1. A Comunicação 13 1.1.1. Texto Verbal, Não Verbal e Misto 14 1.2. Gêneros Textuais 17 1.3. Texto e Contexto de Produção 19 Unidade II – Leitura Crítica e Competente 29 Introdução 29 2.1. Aprofundando a Leitura 29 2.2. Coesão e Coerência 39 Unidade III –Fala, Escrita e Variedades Linguísticas 47 3.1 Fala e escrita 47 3.2 Variação linguística e normatização 49 3.3 Linguagem acadêmica 50 Unidade IV - O Papel Da Reescrita 58 4.1 O texto dissertativo 58 4.2 O papel da reescrita 64 Unidade V – Gêneros Textuais 75 5.1 Novos gêneros textuais 75 Objetivos da Unidade Unidade I - Linguagem e ComunicaçãoI - Compreender, analisar e interpretar textos verbais, não ver- bais e mistos. - Construir o sentido de um texto a partir da ativação do co- nhecimento prévio. - Compreender os elementos que compõem os gêneros tex- tuais. 13 Unidade I - Linguagem e Comunicação 1.1. A Comunicação Para introduzirmos nossos estudos, vamos tentar responder a seguinte pergunta: O que é COMUNICAÇÃO? Segundo o dicionário do nosso grande Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a comuni- cação se define como: 1. Ato ou efeito de comunicar(-se). 2. Processo de emissão, transmissão e re- cepção de mensagens por meio de métodos e/ou sistemas convencionados. 3. A mensagem recebida por esses meios. 4. A capacidade de trocar ou discutir ideias, de dialogar, com vista ao bom entendimento entre pessoas. Mas o que o ato de comunicar revela so- bre o ser humano? Observe a gravura do famo- so quadro A Leitora (1770-1772), de Jean-Ho- noré Fragonard na imagem ao lado, e veja se essa imagem lhe diz algo: Figura 1 - A leitora Fonte: Pintura de Jean-Honoré Fragonard 14 Observe a relação que você estabeleceu com a imagem e pense se está se comunican- do com ela... Ao olhar a imagem, podemos nos comunicar com o pintor, com a sua personagem ou nos comunicarmos com nós mesmos, pois, como bem nos lembra a filosofia de Maurice Merle- au-Ponty, em sua obra “Fenomenologia da percepção”: [...] Toda linguagem, em suma, ensina-se por si mesma e introduz sentido no es- pírito do ouvinte. Uma música ou uma pintura que não é compreendida, acaba por criar ela mesma seu público, caso diga alguma coisa. [...] A comunicação ou a compreensão dos gestos se obtém pela reciprocidade de minhas interações e gestos do outro, de meus atos e das intenções legíveis na conduta do outro. [...] Tudo ocorre como se a interação do outro habitasse meu corpo ou como se minhas intenções habitassem o seu. (1971, p. 176) 1.1.1. Texto Verbal, Não Verbal e Misto Para nos comunicarmos, produzimos textos. Mas o que vem a ser um texto? Comu- mente, relacionamos texto a conjunto de palavras ou de frases que formam um todo cheio de sentido, não é mesmo? No entanto, a palavra não necessariamente será um requisito mínimo para um texto. Vejamos: O produto final de toda enunciação, feita em linguagem que for, é chamada de texto. Assim, são textos: um gráfico, um cartum, uma pintura, uma melodia, um poema, um filme, uma escultura, etc. Em muitos casos, dependendo da situa- ção, até mesmo o silêncio pode ser considerado um texto. (CEREJA; COCHAR; CLETO 2009: p.14) Sendo assim, a charge abaixo é considerada um texto: 15 Figura 2 - Charge Fonte: Autor Duke O autor da charge não utilizou palavras, mas com um tom de humor retratou um aspec- to da sociedade contemporânea: a forte presença da tecnologia e das famosas “selfies”. Quando não utilizamos palavras na comunicação, dizemos que o texto é não verbal. São exemplos de comunicação não verbal: gestos, expressões faciais, esculturas, pinturas, api- to e cartões do árbitro em um jogo de futebol... Dica de leitura: Caso queira aprofundar seus estudos sobre a comunicação corporal, leia o livro “O corpo fala”, de Pierre Weil. “Estelivro tenta desvendar a comunicação não verbal do corpo huma- no, primeiramente analisando os princípios que regem e conduzem o corpo. A partir desses princípios, aparecem as expressões, gestos e atos corporais que, de modos característicos, estilizados ou inovadores, expressam sentimentos, concep- ções, ou posicionamentos internos.” Por outro lado, chamamos o texto que faz uso da palavra, ou seja, tem suporte no alfa- beto, de verbal. 16 É possível, ainda, sobretudo em charges, haver textos que mesclam os dois tipos de linguagem, sendo considerados mistos: Figura 3 - Charge Fonte: Autor Ivan Cabral Veja que, na charge acima, o texto verbal (“Mãe, que cor é essa?”) se soma ao não verbal (o restante da charge: desenho/imagem) para formar o sentido completo da comunicação. Ao ligarmos o questionamento verbal da criança aos itens não verbais chapéu, vegetação, restos de animais, cor, percebemos que o autor quis retratar uma realidade da região nordestina do Brasil. Reflita: Se a cor do lápis fosse outra, o texto teria o mesmo sen- tido? Qual é o papel das cores na comunicação? Hoje em dia, fala-se também de texto multimodal, que é aquele constituído por múlti- plas formas de linguagem (escrita, oral e visual). Pense em um vídeo que assistiu em sua rede social, ele pode ter mistura de imagens, estáticas ou em movimento, textos escritos (estáticos ou em movimentos), todos explorando recursos visuais, como cor, fonte, tamanho... também temos a fala ou então músicas, trilha sonora... 17 Resumindo, a comunicação ocorre por meio de: A) TEXTO VERBAL. Como o próprio nome sugere, está relacionado ao “verbo”, ou seja, à palavra. Os textos verbais são aqueles que não possuem desenhos, gravuras. São formados apenas por palavras. Exemplos: cartas, textos literários, anedotas... B) TEXTO NÃO VERBAL. São aqueles textos que se caracterizam por usar outras lingua- gens que não a verbal: fotografias, desenhos, pinturas, ou mesmo, a linguagem da dança... C) TEXTO MISTO. Textos mistos nada mais são do que a junção dos textos verbais e não verbais. Por exemplo, as histórias em quadrinhos são constituídas por desenhos e palavras. Hoje em dia também pode ser chamado de texto multimodal. 1.2. Gêneros Textuais Como exemplos de textos não verbais e mistos, vimos duas charges. Mas o que é uma charge, afinal? GÊNERO TEXTUAL: CHARGE A charge é um gênero textual não verbal ou misto que expõe de forma crítica, sarcástica ou humorística determinado fato ou aspecto da sociedade. Reflita: Os gêneros textuais seriam uma proposta teórica de classificação dos textos? 18 Os gêneros textuais são os próprios textos materializados, as formas de organização da língua, formas de direcionar sua manifestação a atividades socialmente reconhecidas. Para escrever um “currículo”, por exemplo, normalmente é preciso fazer perguntas como: o que é um currículo? O que um texto deve ter para ser considerado como tal? Para que ele serve e para quem vou enviar? Quais informações deve conter? Que formato deve ter? Que linguagem devo utilizar? A depender do contexto e da finalidade da comunicação, o texto apresentará um con- teúdo temático, uma composição e um estilo de linguagem específicos: Quando você responde aos questionamentos que fizemos sobre o currículo, indireta- mente você está refletindo sobre esses aspectos do gênero textual. O uso da língua como ato comunicativo, um instrumento de comunicação, é invaria- velmente um gênero textual. Como toda pessoa eventualmente irá se comunicar de alguma maneira, sempre existirá um gênero textual que ela domina, inserindo o enunciador em outros gêneros. Sendo assim, em nossa vida cotidiana, estamos o tempo todo lidando com gêneros textuais, seja recebendo-os ou produzindo-os. Veja alguns exemplos deles: anúncios publicitá- rios, cartuns, tirinhas, crônicas, reportagens, letras de músicas, conversas informais, conversas telefônicas... Mais especificamente na Educação a distância, a comunicação ocorre por meio de gê- neros como: correio (ou e-mail), bate-papo, fórum, slides, videoaula... 19 Se entendermos a linguagem como articuladora da vida social e do sistema da língua, estamos pressupondo, acerca do ensino de linguagem, que ensinar uma língua é ensinar a agir naquela língua. 1.3. Texto e Contexto de Produção Continuando nossos estudos sobre o gênero textual “charge”, temos mais especifica- mente o conceito de charge como sendo: desenho humorístico, com ou sem legenda ou balão, geralmente veiculado pela imprensa e tendo por tema algum acontecimento atual, que comporta a crítica e focaliza, por meio de caricatura, uma ou mais personagens envolvidas; caricatura, cartum. (HOUAISS, 2001) Assim, uma das principais características da charge é a temporalidade, ou seja, o fato de remeter necessariamente a uma época, a um contexto específico. Por esse motivo, ela é bastante utilizada em jornais e revistas. Observemos a charge a seguir: Figura 4 - Charge Fonte: Revista Piauí, v. 82, p. 43 20 Nós, enquanto leitores, para compreendermos um texto, sobretudo a charge, precisa- mos entender o contexto de produção, ou seja, as circunstâncias em que foi produzido. Como a charge acima aconteceu há certo tempo, não temos acesso ao seu contexto e sua compreensão fica, de certa forma, comprometida. Então, é importante saber que as condi- ções de produção de qualquer texto podem ser diferentes das da recepção. Enfim, a charge trata-se de uma publicação de julho de 2013, época em que os brasilei- ros estavam descontentes com os altos gastos investidos na Copa do Mundo de Futebol e saí- ram às ruas para protestar. Na mesma época, surgiu um polêmico projeto de lei, proposto pelo deputado Marco Feliciano, considerando a homossexualidade como uma doença e propondo a cura. Quando resgatamos o momento, o local e a situação política e econômica em que o texto foi publicado, ele parece se tornar mais claro, não é verdade? De posse dessas informa- ções, vamos iniciar a leitura e compreensão do texto? Lembre-se: estamos trabalhando a leitura crítica, e esse tipo de leitura requer uma intensa participação sua, refletindo sobre o texto em si, como ele foi construído e trazendo sua vivência para a constru- ção do sentido. As orientações que darei agora, ao direcionar a leitura, também foram influenciadas pela minha própria vivência. Assim, podemos dizer que é UMA das leituras possíveis. As charges geralmente utilizam-se de situações verossímeis para produzir um efeito de realidade. Dessa forma, reconhecemos na charge uma situação que pode realmente acontecer. Por esse motivo, muitos consideram a charge como uma “crônica visual”. Nesta, por meio do texto não verbal (imagem, placa, gestos), temos a caracterização de um personagem que se manifesta contra algo. Lembre-se que é um “efeito de realidade” que a charge cria. Se fosse um manifestante realmente presente nas manifestações, não se enqua- draria no gênero “charge”, seria “ilustração”, ou algo do tipo. 21 Por que o autor utilizou “acordey gay” em seu texto verbal? Essa construção pode reme- ter a algo novo, a uma mudança de estado. Costumamos utilizar, no dia a dia, frases do tipo “ele acordou doente hoje”, significando que a pessoa acabou de ficar doente, ou seja, não estava doente no dia anterior, certo? Se transpusermos essa ideia para a charge, podemos visualizar uma crítica ao projeto de lei “A cura gay” na passagem “Acordey gay”, como se o personagem “manifestante” tivesse descoberto naquela noite sua doença, a homossexualidade, e quisesse ser curado. Essa des- coberta repentina pode se referir à própria proposta de lei, que caracterizava a partir daquela data os homossexuais como doentes. Alémdisso, houve uma brincadeira com a escrita da palavra “acordei”, transformando em “acordey” e relacionando à palavra “gay”. No texto, foi utilizado o sarcasmo, pois dá a entender que o manifestante não compar- tilha realmente daquela opinião. É como se estivesse dizendo “Certo, vamos seguir sua ideia, deputado. Se eu for homossexual e estiver realmente doente como o senhor diz...” O sarcasmo, a ironia, o humor constituem outra característica das charges. Eles são uti- lizados como estratégias para surpreender o leitor e despertar o riso. Em meio aos textos informativos das reportagens e notícias, também presentes nos jornais e revistas, a charge aborda algo importante de forma inusitada. Muitas vezes, o riso nas charges pode funcionar também como uma evasão de algo desagradável presente na socieda- de. Continuando a análise da charge, podemos perceber uma segunda crítica do autor: a crítica à falta de infraestrutura dos hospitais brasileiros. Aliás, essa era uma das reivindicações das manifestações pré-Copa do Mundo. Na época, houve, inclusive, uma polêmica declaração do ex-jogador de futebol Ronaldo ao dizer “Não se faz copa do mundo com hospitais”. Voltando a comparar a charge a outros gêneros textuais presentes em jornais e revistas, a charge é um dos poucos textos em que está explicitamente marcado o posicionamento de seu autor. Geralmente, os outros textos apresentam-se textualmente “imparciais”. Viu como conhecer o contexto e o gênero textual nos ajuda a interpretar melhor? Isso 22 ocorre porque, para lermos qualquer tipo de texto, precisamos ativar nosso conhecimento de mundo e termos papel ativo na leitura! Vamos fazer uma revisão do conteúdo realizando uma atividade? Após realizar, veja no final os comentários das questões. 1. Essa questão, extraída do ENADE, demonstra as infindáveis possibilidades de comunica- ção e as relações que os textos verbais e não verbais podem estabelecer. Veja: Cidadezinha qualquer Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus. ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. In: Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 23. 23 Cidadezinha cheia de graça... Tão pequenina que até causa dó! Com seus burricos a pastar na praça... Sua igrejinha de uma torre só... Nuvens que venham, nuvens e asas, Não param nunca nem num segundo... E fica a torre, sobre as velhas casas, Fica cismando como é vasto o mundo!... Eu que de longe venho perdido, Sem pouso fixo (a triste sina!) Ah, quem me dera ter lá nascido! Lá toda a vida poder morar! Cidadezinha... Tão pequenina Que toda cabe num só olhar... QUINTANA, Mário. A rua dos cata-ventos. In: Poesia completa. Org. Tânia Franco Carvalhal. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006, p. 107. Ao se escolher uma ilustração para esses poemas, qual das obras, abaixo, estaria de acordo com o tema neles dominante? 24 2. Observe a ilustração abaixo, obra de Henfil, e responda as questões abaixo: 25 Figura 5 - Obra de Henfil Fonte: http://macariocampos.blogspot.com/2010/06/craques-do-cartum-na-copa.html a) Trata-se de uma comunicação não verbal, verbal ou mista? b) Está estruturada em que gênero textual? c) Analise todo o texto e comente o que pretende retratar. 3. Observe a charge abaixo, também do cartunista Henfil: Figura 6 - Obra de Henfil Fonte: RODRIGUES, Marly. O Brasil da Abertura. De 1974 à Constituinte. 3. ed. São Paulo: Atual, 1990. p. 62. 26 Assinale a alternativa que identifica CORRETAMENTE o período da história republicana brasileira contemporânea retratada e ironizada pela charge do cartunista Henfil: a) O impeachment do presidente Collor. b) O início da redemocratização. c) Os chamados “Anos de Chumbo”. d) O período do “milagre brasileiro”. Atividade comentada da Unidade 1. Você acertou se escolheu a opção E, pois a imagem de uma cidade pequena, do interior, como demonstra os poemas, está presente na tela de Guignard. Lembre-se também de que é importante considerarmos as características de cada texto na hora de interpretá- -los. 2. Trata-se de uma charge mista. A parte verbal mostra um personagem inicialmente apre- ensivo e, em um segundo momento, aliviado e sorridente. A presença da televisão e sua comunicação gestual direcionam a leitura para uma “torcida” do personagem. O tex- to verbal complementa a ideia de “torcida” com os dizeres “Deus é Brasileiro”, ou seja, podemos depreender que esse personagem torcedor pode estar assistindo a um jogo internacional e tem fé de que deus esteja torcendo para o mesmo time, ou seja, para o Brasil. Em nenhum momento o texto deixa claro o esporte “futebol”, mas isso pode ser entendido a partir do texto verbal “opção p/ domingo”, já que no Brasil os jogos de fu- tebol normalmente acontecem aos domingos, e também a partir do conhecimento da cultura brasileira. Dessa forma, o texto retrata o importante papel que esse esporte de- sempenha na vida do brasileiro. Isso pode ser notado sobretudo pela inversão do texto verbal “deus é brasileiro” em “o brasileiro é deus”, ou seja, aparentemente após um gol, elevando o jogador e, consequentemente, o brasileiro a um status de deus. 3. Aqui, você precisa ter um conhecimento prévio sobre vários aspectos da época em ques- tão para chegar à conclusão de que a charge se refere ao início da redemocratização. 27 Nós falamos nesta unidade sobre os três tipos de linguagens que podemos utilizar para nos comunicarmos: verbal, não verbal e mista. Vimos, ainda, as formas distintas de linguagem no nosso coti- diano, como existe uma linguagem para cada situação social. Damos a estas maneiras singulares de comunicação o nome de gêneros textuais. O romance, uma entrevista, um e-mail, uma receita de bolo, um resumo, um conto, uma aula e até mesmo este guia de estudos que está lendo, é um gênero textual. Por meio do gênero textual “charge”, começamos a desenvolver a leitura crítica, observando a construção do gênero, o contexto comunicativo em que foi produzido e desempenhando nosso papel de leitores ativos e competentes. Objetivos da Unidade Unidade II - Leitura Crítica e Competente II - Apreender as relações existentes entre os objetivos que nor- teiam a elaboração da comunicação; - Relacionar os recursos linguísticos empregados na compo- sição do texto aos sentidos e intenções da mensagem; - Compreender um texto como um todo coerente; - Perceber os elementos de conexão de um texto. Fazer a co- nexão das partes do texto. 29 Unidade II – Leitura Crítica e Competente Introdução A leitura não se restringe apenas à decodificação de sinais gráficos, mas trata-se de uma atividade bem mais complexa. Por isso, não basta ser alfabetizado para saber inferir sentidos, interpretar, realizar análises críticas. 2.1. Aprofundando a Leitura Leitura é processo, leitura é trabalho – e nem sempre é considerado um trabalho pra- zeroso. Ler pode ser bem doloroso e isso acontece quando nos deparamos com aquele texto indicado pelo professor da faculdade: nós o lemos “dez vezes” e nada compreendemos. Segundo Infante (1998), a compreensão de um texto exige que façamos diferentes lei- turas: • Sensorial: importante em nosso relacionamento com a realidade escrita, porque é nes- sa etapa que observamos cores, formas e embalagens que se apresentam como uma mensagem apelativa aos nossos sentidos. • Emocional: permite-nos conhecer o texto propriamente dito, percorrer as páginas e es- tabelecer contato com o conteúdo. Nessa etapa, a leitura nos remete a emoções de comoção ou tédio, riso ou irritação, prazer ou aborrecimento. É uma experiência sem compromisso,da qual participam nosso gosto e nossa formação. • Intelectual: As duas leituras acima oferecem subsídios para a leitura intelectual. Essa, por sua vez, começa por um processo de análise da organização textual (unidades, e como as partes se relacionam para formá-la). A leitura é intelectual quando o leitor nun- ca perde de vista o fato de que aquilo que está lendo foi escrito por alguém que tinha propósitos determinados ao fazê-lo. Procurar detectar esses propósitos juntamente com 30 a informação transmitida e com a estruturação do texto é fazer uma leitura intelectual satisfatória, ou seja, é dar sentido ao texto. A leitura intelectual implica uma atitude crí- tica, voltada não só para a compreensão do conteúdo do texto, mas, principalmente, ligada à investigação dos procedimentos de seu produtor. Por isso, ao ler, levante sem- pre a questão: “o que pretendia quem escreveu isto?”, “por que esse autor escolheu essa palavra e não outra”? Sabemos que não basta ser alfabetizado para fazer da leitura um ato de crítica que en- volve constatação, reflexão e transformação de significados. Uma compreensão crítica do ato de ler leva à tradução dos significados dos enunciados e até ao desenvolvimento do que se oculta por trás deles. Vamos iniciar o treinamento da leitura crítica a partir de um anúncio publicitário. Um dos primeiros passos da sua análise precisa ser a reflexão sobre o gênero do texto, pois a partir dele entendemos a proposta geral da comunicação. Ele é um anúncio publicitário e caracteriza-se como: Gênero textual: anúncio publicitário É um gênero, geralmente misto, que se utiliza de diferentes veículos de comunica- ção (revista, jornal, TV) para persuadir o consumo de uma ideia ou produto. Para cativar seu destinatário em meio a tantos outros textos, o gênero “anúncio publi- citário” lança mão de diversos recursos argumentativos, não verbais, verbais, figuras de lingua- gem, jogo de palavras, metáforas, intertextualidade (diálogo com outros textos). O texto informativo também pode estar presente nos anúncios, pois uma das estratégi- cas de persuasão é o realce das qualidades do produto. Há valorização dos adjetivos: o melhor, genial, fantástico, inovador...Alguns atributos dos produtos que costumam ser valorizados nos 31 anúncios são: exclusividade (inédito, só aqui tem), excelência, boa qualidade, inovação... Agora vamos analisar o anúncio: Figura 7 - Anúncio Fonte: http://wearesocial.com/ O anúncio foi produzido pela marca Omo, por meio da comunicação mista e visual em língua portuguesa. Temos o produto representado no lado direito do texto, lado mais valoriza- do. A cor azul predomina e remete à água e à própria cor do produto. Analisando a escolha das palavras, as figuras, as cores para se comunicar, temos um texto que conversa com o receptor. Esse apelo ao receptor pode ser observado, sobretudo, pelo uso do “seja” (verbo no imperativo = ordem), “se você tem uma família”, “você pode ser uma das primeiras famílias” (uso da inter- pelação direta = você). DICA DE PORTUGUÊS: Na norma culta, sempre usamos o verbo ser no imperativo como SEJA e não SEJE, ok? Essa regra também vale para o verbo estar: que você esteja seguindo conosco a reflexão sobre A partir da construção da mensagem, do produto em si, do veículo de comunicação, podemos traçar um perfil específico de destinatário: o público-alvo. E qual seria o público-alvo do anúncio acima? 32 Em um primeiro momento, pensando no senso comum, muitos dirão que são as mulhe- res. Porém, vamos observar a construção da mensagem do anúncio na passagem “seja um dos primeiros”. Foi escolhido o gênero masculino, então, não necessariamente seriam as mulheres. Neste texto, em específico, o autor teve como público-alvo aquela pessoa que é responsável pela limpeza da roupa da casa, não necessariamente a mulher. Muitas vezes associamos o produto a um público-alvo específico, influenciados pela nossa própria cultura ou pela tradição das propagandas, pois estas acabam reforçando deter- minados aspectos e estereótipos de nossa sociedade. Como exemplo, você pode pensar nas propagandas de cerveja que conhece. Toda comunicação é influenciada pela imagem que o emissor constrói de seu receptor. No momento da emissão, planeja-se a co- municação, fazendo hipóteses sobre o conhecimento de mundo do possível receptor, a linguagem que mais se adequaria a seu perfil, os efeitos que esse texto causaria nesse receptor... Compare, por exemplo, a linguagem de um anúncio publicitário para jovens com um anúncio para um público mais adulto e mais culto. Ou então um anúncio de um mesmo produto em revistas diferentes, como Caras e PEGN (Pequenas Empresas Grandes Negócios). Este site é muito interessante, pois reúne propagandas em diferentes revistas e você poderá fazer esse exercício: A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Figura 8 - Anúncio Omo Fonte: http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/5771/ 33 Veja que, no anúncio acima, de 1999, o público-alvo nitidamente são as mulheres. E não podemos deixar de refletir sobre o papel da propaganda do ponto de vista crítico e ideológico, como reafirmação de valores e estereótipos da sociedade. A publicidade elabora um discurso a partir de dados culturais com o objetivo de pro- vocar o desejo de consumo por meio da identificação, ou seja, o receptor (ou receptora) se vê retratado no personagem elaborado pelo emissor, seja por suas dificuldades, seus hábitos, seu perfil. Assim, durante muito tempo, as propagandas não só da Omo, mas de qualquer produto de limpeza, retrataram a mulher como sendo a única responsável pelas tarefas domésticas. Com a mudança do papel da mulher na sociedade e sua saída para o mercado de tra- balho, a mulher continua como público-alvo, mas é retratada como “moderna”, com roupas mais formais, como se estivesse saindo para o trabalho. Os atributos do produto passam a ser a praticidade, pois essa mulher precisa conciliar muitas tarefas, afinal, é profissional, dona de casa e, muitas vezes, mãe. O lado materno, aliás, está sendo muito valorizado nas propagandas, já que uma das maiores angústias da mulher moderna é deixar o convívio com seus filhos para trabalhar. Como na elaboração de qualquer comunicação, precisamos considerar a aceitabilidade de nosso receptor. Hoje em dia, propagandas que reforçam o estereótipo de mulher “Amélia” foram deixando de ser utilizadas. Isso causaria, em vez de identificação, certa aversão pelo tom sexista. Veja este comercial indiano da marca Ariel, que tenta ir na con- tramão dos discursos tradicionais de comerciais de produtos de limpe- za. 34 Além da identificação, a propaganda também age para despertar outros sentimentos nos seres humanos: [...] a propaganda é uma das grandes formadoras do ambiente cultural e so- cial de nossa época. Isso porque trabalha a partir de dados culturais existentes, recombinando-os, remodelando-os (até mesmo alterando suas relevâncias), e sobre alguns dos instintos mais fortes dos seres humanos: o medo, a vontade de ganhar, a inveja, o desejo de aceitação social, a necessidade de autorrealiza- ção, a compulsão de experimentar o novo, a angústia de saber mais, a seguran- ça da tradição. (SAMPAIO, 2003, p. 38). Vejamos outro exemplo de anúncio publicitário: Figura 9 - Anúncio Amélia Fonte: https://discutindoaredacao.wordpress.com/category/intertextualidade-2/ Neste anúncio, a depender de seu conhecimento de mundo, você vai perceber um re- curso utilizado em diversos textos: a intertextualidade. O autor do anúncio fez uma brinca- deira com a música “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves, cujo refrão dizia: “Amélia é que era mulher de verdade, Amélia não tinha a menorvaidade”. Foi a partir dessa música que possamos a chamar de Amélia aquela mulher que cuida do lar, que muitas vezes é submissa. Quando você usar essa palavra nesse sentido, você está 35 fazendo intertextualidade também. Então, a intertextualidade é o diálogo entre os textos, a remissão a outros textos. Fiorin (1994, p.20) nos mostra que as finalidades do uso da intertextualidade são dife- rentes. O Hino Nacional brasileiro, por exemplo, faz intertextualidade com o poema de Gon- çalves Dias. No poema original, o autor retrata o sentimento de que nossa pátria é melhor do que qualquer lugar no mundo e o Hino Nacional retoma os versos de Dias para reforçar esse sentimento. Mas, podemos ver intenção inversa nos versos de Murilo Mendes, por exemplo, quando diz: Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Então a intertextualidade, pode ser utilizada: Uma dica de filme intertextual e um ótimo programa para a família toda é “Shrek 2”, de Andrew Adamson. EUA, 2003. Dreamworks 36 Como é o caso dos exemplos acima, muitas vezes os autores incorporam a intertextu- alidade como recurso criativo ou estilístico sem mencionar claramente que estão remetendo a outros textos. Cabe então ao leitor, de posse de seu conhecimento de mundo, inferir essa remissão e refletir sobre os sentidos provocados. Como já dizia Fiorin (1994,p.20), a capacidade de detectar as relações intertex- tuais das referências entre textos é dependente do repertório do leitor, do seu acervo de conhecimentos acerca da literatura, movimentos sociais e de outras manifestações culturais. Por isso, ler é importante, quanto mais se lê mais se amplia a visão de mundo do leitor, bem como a habilidade de perceber o diá- logo que os textos travam entre si, por meio de referências citações e alusões. Cada livro lido aumenta a capacidade de apreender, de maneira mais completa, os sentidos dos textos. É possível também marcarmos a voz de outros autores em nosso texto de forma clara, que é o caso de uma citação. Em textos argumentativos, informativos, acadêmicos, a citação vai conferir maior credibilidade às informações, sobretudo fazendo referência a estudiosos, es- pecialistas, entidades de renome. Continuando nosso percurso de análise textual, leremos um poema de Carlos Drum- mond de Andrade: Um boi vê os homens Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente, falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, 37 como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade. Toda a expressão deles mora nos olhos — e perde-se a um simples baixar de cílios, a uma sombra. Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade, e como neles há pouca montanha, e que secura e que reentrâncias e que impossibilidade de se organizarem em formas calmas, permanentes e necessárias. Têm, talvez, certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem perdoar a agitação incômoda e o translúcido vazio interior que os torna tão pobres e carecidos de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme (que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo como pedras aflitas e queimam a erva e a água, e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade. Você também pode ouvir o poema aqui. Que crítica Drummond faz ao ser humano, hein? Aqui, gostaria de enfatizar alguns pon- tos. Quando recebemos um texto e nos deparamos com uma negação, como leitores atentos, precisamos analisa-la mais a fundo. 38 No poema, temos “Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno”. A negação traz consigo a voz da afirmação. Por trás dessa negação, há su- bentendido que é costume, a partir da perspectiva do boi, escutar o canto do ar e os segredos do feno. Nessa frase, está implícito que o homem deveria realizar essas ações. E o fato de não seguir esse hábito é um espanto para o boi. Você pode fazer o mesmo tipo de análise da negação em: Figura 10 - Uso da negação Fonte: http://condominiomaeterra.com/folha-seca-nao-e-sujeira/ A partir de agora, fique de olho nas negações! Elas têm muito a nos dizer. Nelas, pode- mos encontrar outras vozes. No poema, ao ouvirmos/lermos o verbo “ruminar” podemos entender como uma ação fisiológica do boi, típica de sua digestão. Ou então, podemos entender “ruminar nossa verda- de” em um sentido simbólico, como o de refletir sobre a verdade, ou até mais um refletir em um tom de culpa, já que, assim como o alimento do boi vai e volta no estômago, os pensamentos sobre a verdade vão e voltam à nossa cabeça, muito típico de quando estamos com a consci- ência pesada. O verbo “ruminar” pode, então, ser entendido em seu sentido denotativo (ação fisiológica – primeira leitura) e também em seu sentido conotativo (segunda leitura). Para um leitura crítica, é preciso considerar sempre que, mesmo nos textos que apa- rentam imparcialidade, como o informativo, ao escrever um texto, todos têm uma intenção, 39 na qual o autor procura sempre interagir com um leitor: modificar seu comportamento, suas ideias, informar, argumentar sobre um ponto de vista, ensinar, narrar... Nenhum texto é neutro, despretensioso. Todo texto está carregado de inten- ções, significados explícitos e implícitos e ideologia que dependem imprete- rivelmente do contexto em que foi produzido. Um mesmo texto pode ter, em um e outro contexto, sentidos completamente diferentes, ou seja, a situação participa da construção do sentido do texto. O leitor competente é aquele que, além do sentido das palavras, descobre tam- bém o significado das pausas, dos silêncios, da pontuação. (Cereja; Cochar; Cle- to, 2009, p.11). 2.2. Coesão e Coerência Você já ouviu certos comentários como: “Este texto está incoerente!” ou “Falta coerência entre as ideias”, mas o que é coerência? Em que aspectos ela interfere no texto? De acordo com Kock (1999), o conceito de coerência textual é muito difícil de definir exatamente, mas podemos percebê-la a partir de aspectos que possibilitam a percepção de coerência. Um destes princípios é a atribuição de sentido, isso quer dizer que o texto não é apenas um amontoado de frases, jogadas uma após a outra, mas relacionadas entre si. O estabeleci- mento da relação entre as frases gera a interpretabilidade e inteligibilidade do texto. Vamos ver um exemplo? 40 O show O cartaz O desejo O pai O dinheiro O ingresso O dia A preparação A ida O estádio A multidão A expectativa A música A vibração A participação O fim A volta O desejo (s/a apud: KOCK, 1999,p.12) 41 Veja que interessante! O texto é apenas uma lista de palavras sem qualquer liga- ção sintática e sem nenhum elemento que explique a relação entre elas. Se você já foi a um show, percebeu nesta sequência linguística uma unidade de sentido, não é mesmo? Isso faz com que o poema “O show”, seja visto como um texto e não um simples amon- toado de palavras. O sentido aqui se refere ao todo, porque a coerência textual é global e está diretamente vinculada à capacidade do alocutário de decifrar e compreender o texto. Agora vamos observar os trechos abaixo: (1) Raquel tinha lavado o carro quando chegamos, mas ainda estava lavando o carro. (2) Lucas não foi à aula, entretanto estava doente. (3) A galinha estava grávida. Não houve uma incongruência no sentido textual? Kock (1999) explica porque essas passagens podem ser apontadas como fonte de incoerência. A incoerênciatextual pode derivar de problemas de coesão. Koch (2003) apresenta a coesão textual como as relações de sentido existentes no in- terior do texto e que o definem como texto. Em outras palavras, é quando a interpretação de algum elemento do discurso é dependente da interpretação de outro. No exemplo (2), “entretanto” que causou incoerência. Ele normalmente funciona como elemento coesivo unindo as orações dando uma ideia de “quebra de expectativa”, como na frase: Estudei tanto para a prova. Entretanto, não fui aprovado. 42 Veja que o esperado nesse caso era ser aprovado na prova, já que se estudou muito. Então, para haver coerência na frase (2) acima, precisaríamos reescrever: Lucas não foi à aula, entretanto estava bem de saúde. O uso de conectivos vão trazer maior coesão ao texto. A depender desse conectivo, as frases e as orações serão conectadas com sentidos diferentes como o de oposição (contudo, entretanto, embora, por outro lado...), tempo (depois disso, então...), adição (e, também, ainda, além disso...), finalidade (a fim de...), explicação ou causa (porque, pois, já que, visto que...), conclusão (logo, assim, então, portanto...) e consequência (de maneira que, de modo que, as- sim...). Lembrando que o sentido dos conectivos não estão estanques. É necesssário considerar o contexto em que o texto ocorre. Então, o link entre as partes do texto por meio de conectivos é uma forma de se fazer coesão (“costura do texto”). Agora vamos conhecer a segunda: que é a retomada de informa- ções. Considere a frase: Cláudia tem cinco anos agora. Porém, ela tinha três quando teve um dos seus primeiros choques emocionais. O emprego do pronome “ELA” estabelece uma coesão, pois retoma uma informação anteriormente expressa (Cláudia). Um texto bem construído apresenta uma dosagem de in- formações novas com retomada de informações velhas. No caso acima, a informação Cláudia já era antiga. Logo, para que seja um texto, precisamos retomar a informação velha de outras formas. Podemos retomar ideias com: • Os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual etc.; • Os advérbios: aqui, aí, lá, assim etc. 43 • Sinônimos, expressões e paráfrases: eu poderia retomar Cláudia por “a criança”, “a me- nina”, “A filha de Maurício”, “a paciente”... • Omissão da informação: elipse. No caso da frase acima, poderíamos retirar o “ela” e o leitor já resgataria a informação. Percebeu que coesão e coerência caminham juntas para a formação do nexo textual? A coesão funciona mais no plano linguístico, ou seja, por meio de palavras da própria língua nós conectamos as ideias do texto. Já a coerência funciona mais no plano das ideias, algo mais abstrato, a harmonia de sentido final do texto. Vamos fazer juntos a análise do texto retirada da obra de Kock (2003), para que você entenda a coesão textual e seus mecanismos: 1º- Vamos ler o texto: Os urubus e sabiás (1)Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam...(2) Os urubus aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam permissão para mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pompo- sos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável 44 urubu titular, a que todos chamavam de Vossa Excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com os sabiás...(7) Os velhos urubus entortaram o bico, e o rancor encrespou a testa e eles convocaram pintassilgos, canários e sabiás para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos?(9) E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. (10) Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...(12)”- Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.”(13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...(14) MORAL: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá. (Rubem Alves, Estórias de quem gosta de Ensinar. São Paulo: Cortez Editora, 1984.) 2º- Agora vamos responder perguntas simples: a) No início do texto em “Tudo aconteceu...”. Que tudo é esse? Que foi que aconteceu numa terra distante, na época que os bichos falavam? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ b) Em (3), temos o termo isto: “E para isto fundaram escolas...” . Isto o quê? De que se está falan- do? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ c) Ainda em (3), qual o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, 45 fizeram? É o mesmo de teriam? Fala-se em quais deles: deles quem? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ d) Em (7), a quem se refere o pronome Eles? E seus em (8)? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ e) Quais são as pobres aves de que se fala em (9)? E as tais coisas? Elas em (10) refere-se a tais coisas ou pobres aves? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ f ) De que passarinhos se fala em (13)? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ g) A que se relaciona Foi assim em (4)? Ou porque em (9)? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Veja que se tais questionamentos podem ser respondidos fa- cilmente é por causa das relações textuais: todos estes elementos são recursos de coesão textual. Objetivos da Unidade Unidade III - Fala e EscritaIII - Compreender a língua como um conjunto de variedades e a variação como fenômeno natural. - Compreender o processo de normatização da língua. - Avaliar as diferentes situações de enunciação e a adequação das produções textuais. - Compreender a fala e a escrita como modalidades diferen- tes, mas complementares, da língua. 47 UNIDADE III –Fala, Escrita e Variedades Linguísticas Para além das definições, a importância da língua em nossas vidas é imensa. Nós vive- mos a língua em todas as situações da vida humana e o próprio modo como nos organizamos em sociedade reflete isso e, ao mesmo tempo, é consequência do uso dessa capacidade de linguagem. Somos seres “linguageiros”! 3.1 Fala e escrita Alguma vezvocê já disse ou ouviu alguém dizer: “não sei português” ou “português é muito difícil”? Pois é, esse é um pensamento comum, mas precisamos questioná-lo! Na esma- gadora maioria das vezes, a pessoa, quando expressa uma opinião como as descritas acima sobre a língua, está falando sobre a escrita do idioma. Escrita: ou me decifras ou te devoro? Segundo Marcuschi (2004), hoje é impossível investigar oralidade (fala) e letramento (escrita) sem uma referência direta ao papel dessas práticas na civilização contemporânea, ou seja, já não se podem observar satisfatoriamente as semelhanças e diferenças entre fala e es- crita sem considerar a distribuição de seus usos na vida cotidiana. E o próprio autor afirma que, para se pensar desse modo, é necessário realizar uma mudança na visão que se tinha princi- palmente antes dos anos 80, na qual fala e escrita eram vistas (e ainda o são) como opostas, predominando a supremacia cognitiva da escrita. Tanto a fala como a escrita permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas, dialetais e outras. Desta forma, não se pode conceber que qualquer caracterização linguística ou situacio- nal da fala ou da escrita se efetive em todos os gêneros orais ou escritos. Existem gêneros orais 48 e escritos muito semelhantes (conferência−artigo acadêmico, conversa entre amigos−carta fa- miliar, entre outros) e outros muito distintos (bate-papo−artigo acadêmico ou um seminário− bilhete). Isto ocorre porque não há homogeneidade na relação oralidade/escrita. Figura 01 – Continuum tipológico Fonte: Marcuschi 2004 49 Como se pode ver no quadro acima, que é uma representação do contínuo tipológico proposto por Marcuschi (2004), fala e escrita apresentam-se num “continuum” que abrange vá- rios gêneros textuais. Há os que se aproximam mais da fala e outros mais amplos no contexto que estão mais próximos da escrita. Não há padrão fechado. Os gêneros oscilam em manifes- tações orais ou escritas, e seu maior ou menor planejamento da linguagem dependerá das intenções do falante e do contexto de uso. Para Kato (1987), o que determina as diferenças entre as modalidades oral e escrita são as diferentes condições de produção, que refletem uma maior ou menor dependência do con- texto, um maior ou menor grau de planejamento e uma maior ou menor submissão às regras gramaticais. 3.2 Variação linguística e normatização Costumamos dizer que somos péssimos em português, justamente na língua em que falamos desde a nossa mais tenra infância! Como assim? A língua é um conjunto de variedades, de dialetos. Um desses dialetos é eleito (socialmente) como o mais ‘certo’, a chamada norma pa- drão, que geralmente se aproxima da escrita. As gramáticas tradicionais, ao objetivarem “conservar” essa norma que consideram a ideal, vão de encontro às leis naturais da mudança linguística, causando, consequentemente, um des- conforto por parte dos usuários, que acham a língua “difícil” e até mesmo dificultando a aprendizagem da escrita e gerando preconceitos linguísticos. O primeiro passo para nos apropriarmos da nossa língua é entender que as modalidades falada e escrita da língua se complementam, mas são bem diferentes. Além disso, é preciso relativizar as regras ditadas pela gramática normativa levando em conta os usos sociais da escrita. 50 Muitas vezes, a escola é co-responsável pelos mitos construídos pelos alunos a respeito de suas próprias capacidades, inclusive as linguísticas. O processo de normatização, ou padronização, retira a língua de sua realidade social, complexa e dinâmica, para transformá-la num ob- jeto externo aos falantes, numa entidade com "vida própria", (suposta- mente) independente dos seres humanos que a falam, escrevem, leem e interagem por meio dela. Precisamos compreender que as línguas variam e isso é algo natural, não há nada de “feio” ou “bizarro’ neste fenômeno. As variações linguísticas podem estar ligadas a diferentes fatores, entre eles o geográ- fico, o social e o situacional. Sobre o último, é importante dizer que o mesmo falante, em di- ferentes ocasiões, dentro do mesmo dialeto, pode monitorar mais ou menos a sua linguagem dependendo do contexto no qual está inserido (formal ou informal) e dos objetivos da comuni- cação. Afinal, não nos expressamos do mesmo modo numa roda de amigos e numa entrevista de emprego. Esse fenômeno é chamado de “diferença de registro” ou de “nível de linguagem”. Há inadequação em relação ao nível de linguagem quando o usuário não leva em conta o contexto e se expressa de forma equivocada em relação a ele, sendo formal, por exemplo, quando a situação exige o inverso. 3.3 Linguagem acadêmica Como vimos na unidade 1, todo gênero textual apresenta características estáveis para ser considerado como tal pela sociedade. Dessa forma, é importante considerarmos a tradição textual de uma comunidade linguística para nos comunicarmos eficientemente. Nos textos acadêmicos, que podem se apresentar em diversos gêneros textuais, parece 51 haver um maior rigor no que diz respeito à linguagem e ao formato do texto e, muitas vezes, se não seguirmos as características tradicionais podemos ser “penalizados” de alguma forma. O texto acadêmico é aquele que veicula o resultado de uma investigação científica, filosófica ou artística. É preciso, porém, que não confunda “texto acadêmico” com textos de “divulgação científica”: Divulgação científica Textos informativos com vocabulário preciso, frases curtas, ou seja, objetivo. Tem por finalidade divulgar para o grande público as descobertas mais recentes no campo das ciências em geral. Veja que no caso acima o texto é dirigido ao público em geral, pessoas que não neces- sariamente estudaram academicamente sobre o assunto. Esse é caso das reportagens sobre descobertas científicas em revistas comuns, como Superinteressante, Veja, Isto é... O texto acadêmico, por sua vez, é direcionado a estudiosos, pesquisadores da área em questão. Então, enquanto aluno, precisamos estar cientes de que a linguagem apresenta carac- terísticas mais formais, uso de vocabulário acadêmico e alta densidade de termos específicos da área em questão. Mas como você vai aprender a escrever textos acadêmicos? Não há receita fixa. Você aprenderá lendo e observando outros textos acadêmicos e terá que praticar bastante. Hoje em dia, com o auxílio da tecnologia e da web, temos muitos textos acadêmicos ao nosso alcance. O gênero mais acessível são os artigos acadêmicos: Gênero textual: artigo acadêmico-científico É um gênero de divulgação científica direcionado a pesquisadores, estudiosos so- bre determinado assunto. Normalmente publicado em revistas acadêmicas, apresenta as 52 seguintes partes: Título, nome do(s) autor(es), resumo, resumo em língua estrangeira, intro- dução (contextualização do tema, objetivos de pesquisa, justificativa), referencial teórico, metodologia, resultados e considerações finais. Linguagem formal e impessoal É preciso observar que artigos acadêmicos não são aqueles escritos por jornalistas, mas aqueles escritos por pesquisadores para estudiosos daquela área em específico. Hoje em dia, os artigos acadêmicos são publicados em revistas acadêmicas online. Você pode procurar na web revistas acadêmicas de sua área! Acesse o site dela e percorra os artigos para observar a linguagem utilizada. Dentro do artigo acadêmico, temos outro gênero textual: o resumo. Para observamos a linguagem acadêmica, veremos o resumo de um artigo da área de Administração e Marketing: RESUMO O comportamento relacionado à compra compulsiva se caracteriza por um impulsoincontrolável e irracional que tende a manifestar-se quando os indivíduos vivenciam sentimen- tos negativos. Apesar de ser intensamente pesquisada, ainda restam dúvidas sobre os fatores influenciadores da compra compulsiva, em especial em públicos potencialmente vulneráveis, como é o caso do público adolescente. Ao considerar tal lacuna, este artigo analisa o compor- tamento de compra compulsiva, assim, buscando compreender os condicionantes oriundos dos níveis de autoestima, materialismo, estresse e prazer em comprar especificamente de con- sumidores adolescentes. A partir da revisão de literatura, foram definidas quatro hipóteses, que foram testadas a partir de dados coletados junto a uma amostra de 153 sujeitos. No teste das hipóteses, foi utilizada a técnica de regressão da família gama de modelos lineares generaliza- dos, operacionalizados no software R. Os resultados demonstraram que fatores como estresse, 53 materialismo e prazer em comprar influenciam o comportamento de compra compulsiva dos adolescentes, tendo-se constatado ainda que a autoestima não teve influência na compulsivi- dade dos respondentes da pesquisa. A pesquisa inova na operacionalização dos dados e avan- ça no conhecimento acadêmico sobre compulsividade no consumo, gerando conhecimento que pode servir para formuladores de políticas públicas e organizações sociais orientadas ao interesse do consumidor. Palavras-Chave: adolescentes; comportamento do consumidor; compra compulsiva MEDEIROS, F. Gama de et al. Influência de Estresse, Materialismo e Autoestima na Compra Compulsiva de Adolescentes. IN: Revista de Administração Contemporânea. Disponível em: h t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i - d=S1415-65552015000800003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 12-12-2016 Gênero textual: resumo É um gênero que sintetiza as informações essenciais de um outro texto. Costuma-se seguir a ordem das informações do texto original, sem usar cópias do autor e sem exprimir opiniões pessoais. Observe que o resumo contido no artigo não apresenta parágrafos. É uma característica particular deste gênero acadêmico. O resumo vai mostrar com poucas palavras todo o con- teúdo do artigo. A linguagem é mais formal e apresenta características típicas da linguagem acadêmica: • uso de verbos no objetivo de pesquisa: “analisar o comportamento”, “buscando compreen- der os condicionantes”. 54 A dica para escrita do objetivo é sempre escolher um verbo que exija investigação ou reflexão. Prefira: analisar, investigar, comparar, compreender... Evite: fazer. Uma confusão que também ocorre é colocar um objetivo do tipo “Contribuir para que a sociedade se torne menos preconceituosa”. Este não é um objetivo de pesquisa, mas é um benefício, uma consequência que sua pesquisa trará. O objetivo diz respeito ao que você, investigador, irá fazer, ok? • a impessoalidade da escrita acadêmica: “Este artigo analisa”, “foram definidas quatro hipó- teses”, “Os resultados demonstraram”. Veja que aqui os autores do artigo poderiam ter escri- to “Analisamos no artigo”, “Definimos quatro hipóteses”, “demonstramos que”, mas houve a preferência para uma frase impessoal. Sobre esta questão, assista à videoaula “Impessoali- dade”. • uso de vocábulos típicos do fazer científico: revisão da literatura, hipóteses, testar hipóte- ses, coletar dados, amostra, sujeitos. Neste caso específico, são termos mais utilizados para descrever aspectos metodológicos da pesquisa. O termo “revisão da literatura”, por exem- plo, também chamada de “revisão bibliográfica” é uma pesquisa mais aprofundada sobre as principais obras que tratam do assunto pesquisado. • linguagem formal: Outra característica do texto acadêmico é a formalidade. Precisamos considerar que não se trata de uma conversa entre amigos. Então, no texto acadêmico, a escolha de nossas palavras deve ser refletida. Devemos fazer uso de uma linguagem sem regionalismos, sem gírias... Vamos treinar a questão da formalidade no item a seguir, ok? A questão da autoria é algo muito rígida nos textos acadêmicos. O texto em sua totali- dade deve ser escrito com as palavras do pesquisador, sendo que passagens de outros autores devem ser destacadas em forma de citação. Aliás, fazer referência a outros autores no texto acadêmico é uma estratégia de argumentação quase que obrigatória. Veja o exemplo: 55 Em um dos primeiros trabalhos relevantes sobre o tema, Arndt (1967) definiu a comunicação BAB como “uma comunicação oral e pessoal en- tre um emissor percebido como não comercial e um receptor, tratan- do de uma marca, um produto ou um serviço oferecido para venda” (p. 190). Apesar da sua relevância, essas teorias foram construídas num contexto de marketing sem a presença da internet (Dellarocas, 2003; Hennig-Thu- rau et al., 2004). No final da década de 1990, Buttle (1998) lançou novas perspectivas sobre o entendimento da comunicação BAB. Segundo o autor, na era da internet, as comunidades on-line geram BAB virtual que não é face a face. Tubenchlak, Daniel Buarque et al. Motivações da Comunicação Boca a Boca Eletrônica Positiva entre Consumidores no Facebook. IN: Revista de Administração Contemporânea. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S141565552015000100008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 12-12-2016 Ao colocarmos as vozes de autores renomados em nosso texto, reforçamos nossa ar- gumentação e a credibilidade das ideias. Toda pesquisa parte do velho para produzir o novo. Pense nisso! A credibilidade de sua argumentação é prejudicada se você não souber selecionar as fontes a serem citadas. 56 - Para trabalhos acadêmicos, evite citar WIKIPÉDIA e textos de sites e blogs. Prefira autores renomados da área e obras publicadas realmente, como livro, teses, dissertações ou artigos acadêmico-científicos. Objetivos da Unidade Unidade IV - O Papel Da ReescritaIV - Construir textos considerando a situação comunicativa. - utilizar estratégias argumentativas para aperfeiçoar a defe- sa de ideias. - Perceber a reescrita de texto como uma reflexão sobre a norma padrão. 58 Unidade IV - O Papel Da Reescrita Um dos textos mais presentes no nosso dia a dia é o dissertativo, aquele texto por meio do qual expressamos nossa opinião, justificamos nossas ideias. Na vida estudantil, esse tipo de texto está presente, por exemplo, nas respostas das questões abertas de atividades e de provas. Você precisa defender que seu aprendizado está se transformando em conhecimento, não é mesmo? Aquele famoso ditado “porque sim não é resposta” é muito verdadeiro. Precisamos argumentar, exemplificar, organizar ideias para de- fendermos nossa opinião da melhor forma na tentativa de convencer nosso interlocutor. Na vida profissional, também precisamos justificar nossas escolhas, argumentar sobre decisões, defender novos projetos, não é mesmo? Nesta unidade, vamos aprender algumas estratégias para argumentar melhor e tam- bém faremos uma revisão de alguns pontos de gramática. 4.1 O texto dissertativo Segundo Medeiros (1996, p.211), construir um texto dissertativo é apresentar ideias, analisá-las, é formar um ponto de vista fundamentando-se na lógica dos fatos, consolidando então, relações de causa e efeito. É um tipo de texto muito utilizado no meio acadêmico. Na dissertação não basta expor, narrar ou descrever, é preciso explicar, explanar, defender uma ideia ou colocar em debate um questionamento sobre determinado assunto. O raciocínio nesta composição deve ser claro, pois quanto maior a argumentação, maior também a credibilidade e persuasão do texto. Precisamos, ainda, ficar atentos na escolha dos argumentos para quenão haja uma in- coerência argumentativa, por exemplo, em um texto dizermos que todos são iguais perante a lei e, depois, criticarmos o privilégio de outras classes sociais no pagamento de impostos: Assim também é incoerente defender qualquer ponto de vista contrário a qualquer tipo de violência e ser favorável à pena de morte, a não ser que não se considere a ação de matar 59 como uma ação violenta. (IDEM, p.265) A elaboração da dissertação está ligada diretamente à habilidade de argumentação do autor, de costurar o tema e o ponto de vista aos fatos e elementos que comprovam sua teoria distribuídos na estrutura do texto. Normalmente, quando pensamos em texto dissertativo-argumentativo, lembramos das provas de vestibular e concursos, não é mesmo? Talvez ele seja solicitado justamente por- que requer organização das ideias, seleção de conhecimento de mundo do produtor, domínio da escrita e da norma padrão. Mas não fique com essa ideia fixa, ok? Podemos produzir textos dissertativos até mesmo em post de Facebook. Esse tipo textual está muito presente em nosso cotidiano. Veja abaixo alguns gêneros que tem caráter dissertativo. Resenha crítica Apresenta o conteúdo de uma obra. Indica-se a forma de abordagem do autor a res- peito do tema e da teoria utilizada. É uma análise crítica, pois encerra um conceito de valor emitido pelo resenhista sobre a obra em questão. Pode-se fazer uma resenha crítica sobre um livro, um show, um espetáculo teatral, entre outros. Carta do leitor Texto em que o leitor de jornal ou da revista manifesta seu ponto de vista sobre um determinado assunto da atualidade, usando elementos argumentativos. Artigo de opinião Assim como o editorial, também é um texto de caráter opinativo. Porém, ao invés de representar a opinião do veículo em que está sendo divulgado, tem caráter pessoal. Logo, deve vir assinado pelo autor, que se responsabiliza pelo conteúdo, ou seja, pelas opiniões apresen- tadas. 60 Impessoalidade Quando vamos escrever um texto dissertativo, uma dúvida sur- ge. Posso utilizar “eu”, ou seja, a subjetividade textual, como em “acredi- to”, “na minha opinião”? É importante analisar sempre o gênero textual que vamos escrever e o contexto comunicativo. Para dissertações tradi- cionais e textos acadêmicos, o aconselhado é que o texto seja impessoal. A dissertação tradicional, aquelas solicitadas em provas oficiais, parece estar se tornan- do um gênero textual bem rígido, com uma série de orientações a respeito do que se pode ou não fazer. Na sequência dos estudos, não é nosso intuito engessar o processo de produção textual, mas sim fornecer mecanismos que acrescentam qualidade na produção e auxiliam na geração de sentido e unidade. Para isso, apresentamos uma estrutura criada para a organiza- ção da dissertação mais tradicional: - Introdução: deve mostrar de forma clara o assunto que será tratado, com o intuito de situar o leitor conduzindo-o para a dinâmica do texto. A introdução demarca os questio- namentos que serão tratados no decorrer da discussão. Neste momento pode-se formular uma tese, na qual o interlocutor se torna capaz de perceber a opinião do enunciador sobre o tema que deverá ser debatido e comprovado durante a argumentação. Pereira (2010) ilustra o que dissemos aqui com o exemplo de introdução de um profes- sor de Direito: “A sociedade espera e merece a atuação conjunta dos poderes constituídos para imediata realização das necessárias alterações na le- gislação sobre delinqüência juvenil. O Estatuto da Criança e do Adoles- cente (ECA) é uma das leis mais avançadas na proteção da infância e da juventude, bem como na preservação do bem-estar da família, mas o 61 fenômeno da criminalidade é mutável, e a aplicação prática de toda lei exige aperfeiçoa- mento e adaptações”. Disponíveis em: www.aescritanasentrelinhas.com.br A introdução não pode mostrar tudo do texto, devem existir algumas coisas que intro- dução também deve esconder, A introdução deve esconder pelo menos algum argumento significati- vo, garantindo que o leitor, à medida que prossegue na leitura, perceba um acréscimo na carga de informação transmitida. Se todas as ideias* importantes forem apresentadas na introdução, o texto tenderá à re- dundância, traindo a expectativa do leitor. Assim como um filme deve revelar algo de surpreendente, evitando criar a impressão de que tudo era previsível, o texto precisa surpreender o leitor, oferecendo-lhe infor- mações novas. (PEREIRA, 2010, §11) - Desenvolvimento: É nesta parte do texto que as ideias apresentadas na introdução são dis- cutidas e relacionadas com os fatos, raciocínios e argumentos comprobatórios da tese exposta inicialmente. Mais abaixo, traremos estratégias argumentativas que auxiliarão a construir esta parte. - Conclusão: É o momento de desfecho texto, fazendo um apanhado forte e uma “amarração” de tudo o que já foi dito. A conclusão deve fazer uma confirmação final do assunto discutido. Veja no fragmento destacado: 62 Eliminar a chaga da tortura e da violência policial não é tarefa simples. Ela torna-se ainda mais difícil quando altas vozes de comando da polícia paulista parecem preferir a linguagem da força e do confron- to e tratar o respeito aos direitos humanos como um empecilho, e não como uma norma inegociável. (PEREIRA, 2010, §22) Parágrafos Na escrita, como afirmam alguns autores, noção de parágrafo é, antes de tudo, visual, mas não menos importante por isso. A constituição do parágrafo pode ser muito variada e dependerá dos objetivos e do públi- co-alvo do texto e também das intenções do autor. INADEQUAÇÃO: Existem basicamente dois tipos de problemas: quando o texto é excessi- vamente longo (bloco indivisível!) com poucos parágrafos e quando o texto é truncado pelo excesso de parágrafos. Para finalizarmos nosso aprendizado sobre o texto dissertativo, abaixo listamos algu- mas estratégias que podem ser utilizadas para sua argumentação. Alguns exemplos foram re- tirados de redações “nota 1000” no ENEM do ano de 2014, de tema “Publicidade Infantil em questão no Brasil”: • Definição de um conceito: muito utilizada na introdução do texto, a definição de uma pa- lavra ou conceito auxilia na contextualização. Não é considerada meramente informativa, pois cada interlocutor pode definir determinado conceito a partir de seu ponto de vista. É possível também selecionar uma definição tradicional de dicionário e, a partir da análise de 63 seu texto, iniciar a discussão. Exemplo: A mobilidade urbana, isto é, as condições oferecidas pelas cidades para garantir a livre circulação de pessoas entre as suas diferentes áreas, é um dos maiores desafios na atualidade tanto para o Brasil quanto para vários outros países. (Rodolfo F. Alves Pena – Mundo Educação) • Contestação de um conceito ou opinião: consiste na previsão de posicionamentos contrá- rios e sua contestação. Exemplo: Há muito tempo as famílias são consideradas aquelas que envolvem a união de um homem e uma mulher que geram filhos e, portanto, esse tornou-se o padrão consi- derado normal e socialmente aceito. Contudo, não é sempre que o amor acontece somente entre pessoas de sexo oposto, ou até por duas pessoas e, da mesma forma, como indivíduos detentores de direitos, querem formar suas famílias e serem aceitos por suas diferenças. • Ênfase da palavra, uso metalinguístico: para sinalizarmos a escolha proposital de uma palavra destaque na argumentação, podemos dar ênfase com a própria repe- tição dela, com algum destaque de formatação (ou na entonação em comunicações orais), ou por meio de expressões como “isso mesmo”, “quer dizer”, “essa palavra”. Exemplo: Ler a Bíblia nas escolas é uma opção. Uma opção de leitura. (Discussão da jornalista Rachel Sheherazadesobre o pedido da retirada das Bíblias das bibliotecas públicas) • Argumentação por autoridade: consiste em trazer vozes de outros autores para auxiliar na defesa das ideias. Exemplo: Prova disso são os dados da UNESCO afirmarem que cerca de 85% das crianças prefe- 64 rem se divertir com os objetos divulgados nas propagandas, tornando notório que a relação entre ser humano e consumo está “nascendo” desde a infância. (Dandara Luíza da Costa – Redação Nota 1000 no ENEM de tema Publicidade Infantil) De acordo com Karl Marx, filósofo alemão do século XIX, para que esse incentivo ocor- resse, criou-se o fetiche sobre a mercadoria: constrói-se a ilusão de que a felicidade seria alcançada a partir da compra do produto. (Giovana Lazzaretti Segat – Redação Nota 1000 no ENEM de tema Publicidade Infantil) 4.2 O papel da reescrita Faraco & Moura (1999, p.21) falam da adequação da linguagem e sobre a noção de erro. Explicam-nos que a sociedade e, portanto, nossa ação social, está permeada de leis e regras que devemos obedecer. Isso acontece também com a linguagem: ela tem normas, princípios, que precisam ser obedecidos. De acordo com os autores, geralmente achamos que essas regras dizem respeito apenas à gramática normativa. Tanto isso é verdade para a grande maioria das pessoas, expressar-se corretamente em língua portuguesa significa não cometer “erros” de ortografia, concordância verbal, acentuação etc. Eles mostram que há, no entanto, outro erro mais comprometedor do que o gramatical: o de inadequação de linguagem ao contexto. Em casa ou com os amigos, nós empregamos uma linguagem mais informal, do que em avaliações. Ao conversar com nossos professores ou com alguém que não conhecemos, não é apropriado utilizar algumas gírias, pois a compreensão do diálogo poderia ficar prejudicada. Em uma dissertação solicitada em um concurso público e em texto acadêmicos, é necessário que o candidato utilize uma expressão mais formal. Estes exemplos nos ajudam a concluir que é essencial adequar o nível de linguagem à situação social. 65 Outro ponto importante em nossa produção textual é a reescrita. A reescrita permite que o autor realize uma reflexão sobre a própria escrita e enquanto ele reescreve seu texto também reconstrói sua percepção da linguagem. Ortografia Apesar das caras de susto que podemos encontrar quando alguém escreve “pesso” em vez de “peço”, devemos lembrar que a ortografia de nosso idioma é bastante complexa, já que temos vários sons que correspondem a uma só letra e vice-versa. Assim, o domínio da ortogra- fia só pode ser dar de forma gradativa e depende muito do hábito de leitura. Muitos consideram difícil a missão de colocar os “pensamentos” em palavra escrita e, quando se deparam com a escrita acadêmica, parece um desafio inalcançável. Como toda es- crita, é preciso praticar. A leitura de diversos textos da sua área de pesquisa, a escrita refletida e a reescrita são essenciais para que você aperfeiçoe a escrita acadêmica. Vamos trabalhar a revisão de textos de outros alunos? Lembre-se que, quando você for 66 escrever seu próprio texto, você também assumirá o papel de seu próprio revisor, ok? Os textos abaixo apresentam problemas de escrita, seja com relação ao texto acadêmico ou com relação à linguagem acadêmica e os padrões da norma culta. Reescreva-os! Você pode mudar a estrutura do texto, mudar a argumentação, complementar, como quiser, ok? É um exercício para aperfeiçoarmos a escrita. Texto 1 No mundo de hoje todos recebem informações e aprendem tudo, na hora e onde quiserem. Muitas vezes, quando o aluno chega na sala de aula, ele não está interessado sobre o assunto da aula, pois ele já ouviu falar sobre o mesmo na televisão, na internet ou nos jornais. Para que o aluno não fique desinteressado sobre o assunto o educador tem que falar sobre ele de ma- neiras menos paradas e com maior participação. _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Considerações sobre o texto original No mundo de hoje todos recebem informações e aprendem tudo, na hora e onde quiserem¹. Muitas vezes, quando o aluno chega na sala de aula, ele não está interessado sobre o assunto da aula, pois ele já ouviu falar sobre o mesmo² na televisão, na internet ou nos jornais. Para que o aluno não fique desinteressado sobre o assunto³ o educador tem que4 falar sobre ele de maneiras menos paradas5 e com maior participação. Comentário1: Estrutura muito informal Comentário2: Pela gramática, não é adequado retomar algo já dito com “o mesmo”, “a mesma”. Comentário3: Muita repetição da palavra “assunto”. Comentário4: Informal 67 Comentário5: Como está sendo criado um texto na área de educação, é necessário escolher melhor as palavras. Sugestão de reescrita Atualmente, com a internet e o desenvolvimento da tecnologia1, a informação pode ser aces- sada em qualquer circunstância. E toda essa facilidade de informação influencia na aprendiza- gem2. Muitas vezes, o aluno chega à sala de aula desinteressado, pois o assunto já é conhecido. Para diminuir o desinteresse dos alunos, o educador precisa abordar o conteúdo de maneira mais dinâmica e participativa. Comentário1: Melhora da argumentação mostrando a causa. Comentário2: Tentativa de estabelecer relação (coesão) entre as duas frases. Texto 2 No presente trabalho, apresento dados da pesquisa que buscou ver o quanto a pobreza dos guris e gurias tem a ver com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em escolas de ensino fundamental. Analisei os municípios que tem mais de 10.000 habitantes que moram na zona rural, ou seja, estudantes carentes que têm dificuldade grandíssima para ir para a escola. Ao todo, o número é de mais de 5.500 cidades brasileiras. _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Considerações sobre o texto original No presente trabalho, apresento1 dados da pesquisa que buscou ver2 o quanto a pobreza dos guris e gurias3 tem a ver4 com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em escolas de 68 ensino fundamental. Analisei5 os municípios que tem6 mais de 10.000 habitantes7 que moram na zona rural, ou seja, estudantes carentes que têm dificuldade grandíssima8 para ir para a es- cola. Ao todo, o número é de mais de 5.500 cidades brasileiras. Comentário1: Retirar subjetividade. Comentário2: Não é um verbo bom para investigação. Comentário3: Evitar regionalismos. Comentário4: Informal Comentário5: Retirar subjetividade Comentário6: No plural tem acento = têm Comentário7: Para deixar o texto mais formal, evite a repetição do QUE. Comentário8: Evitar adjetivação subjetiva. Sugestão de reescrita No presente trabalho, serão apresentados dados da pesquisa que buscou verificar a relação entre a condição financeira das crianças e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em escolas de ensino fundamental. Foram analisados os municípios com mais de 10.000 habitan- tes vivendo na zona rural, ou seja, municípios em que há uma grande parcela dos estudantes com grande dificuldade de deslocamento para a escola. Ao todo, contabilizam mais de 5.500 cidades brasileiras. Texto 3 Neste projeto, foi feito uma pesquisa com donos de empresas sobre a mortalidade das micro e pequenas empresas devido a desconhecerem as ferramentas da gestão financeira, o sócio da empresa 1 falou que muitos amigos dele já tentaram abrir seus próprios negócios, só
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