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Guia de Estudos - Comunicação e Expressão

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Prévia do material em texto

Comunicação e Expressão
Profa. Dra. Ana Amélia Furtado de Oliveira
1ª Edição
Autoria
Currículo Lattes:
Doutora e mestre em Estudos Linguísticos na área “Análise de Línguas de Especialidade”. For-
mada em Letras com Bacharelado em Tradução (português-francês) e em licenciatura em Por-
tuguês. Atua como professora universitária no Centro Universitário do Sul de Minas desde 2011.
Profa. Dra.
Ana Amélia Furtado de Oliveira
http://lattes.cnpq.br/3635809359841101
Coautoras
Currículo Lattes:
Currículo Lattes:
Profa. Dra.
Carina Adriele Duarte de Melo
Profa. Esp.
Rebeca Nogueira Lourenço Kaus
Doutora em Ciências da Linguagem pela Universidade do Vale do Sapucaí. Concluiu o Mes-
trado em Letras (Linguagem, Cultura e Discurso) em 2008 e graduação também em Letras em 
2005. Foi professora efetiva na rede pública de ensino de 2006 a 2009, também trabalhou como 
professora substituta no Centro Tecnológico de Minas Gerais - CEFET/Varginha no período de 
2014 a 2015.
http://lattes.cnpq.br/6909130283777291
Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras (Português - Espanhol), pelo Centro Univer-
sitário do Sul de Minas - Unis/MG (2011) e em Comunicação Social, também pelo Centro Uni-
versitário do Sul de Minas - Unis/MG (2003). Especialista em Docência na Educação a Distância, 
pelo Centro Universitário do Sul de Minas-Unis/MG (2007).
http://lattes.cnpq.br/1533428235775539
6
Unis EaD
Cidade Universitária – Bloco C
Avenida Alzira Barra Gazzola, 650, 
Bairro Aeroporto. Varginha /MG 
ead.unis.edu.br
OLIVEIRA, Ana Amélia Furtado de. Comunicação e Expressão. Var-
ginha: GEaD-UNIS/MG, 2021.
 p.
1. Comunicação 2. Texto verbal e não verbal 3. Gênero textual. 4. 
Contexto
 Caro(a) estudante,
 Este guia tem por objeto o estudo da Língua Portuguesa. Neste período, vamos priori-
zar a construção de competências e habilidades em leitura, escrita e interpretação. Para traba-
lharmos a teoria de forma contextualizada, escolhemos gêneros textuais adequados aos obje-
tivos de cada unidade. 
 Inicialmente, veremos um pouco sobre “Linguagem e Comunicação”, analisando os tex-
tos verbais, não verbais e mistos. Também veremos a importância do conhecimento de mundo 
para a construção do sentido.
 Na unidade seguinte, unidade II, vamos abordar o funcionamento da comunicação e os 
diferentes objetivos comunicativos para iniciarmos o percurso da leitura crítica e aprofundada. 
Aprenderemos também sobre as conexões textuais.
 A unidade III nos permitirá refletir sobre a nossa própria língua, o conceito de “erro”, 
questionando concepções mais tradicionais, ampliando para uma visão mais heterogênea da 
língua. Para aperfeiçoar a escrita adequada em contexto formal, aprenderemos sobre a lingua-
gem acadêmica, linguagem formal e e impessoal.
 Na unidade seguinte, unidade IV, trabalharemos estratégias argumentativas para que 
possamos aperfeiçoar a defesa de nossas ideias e posicionamentos, seja como cidadãos ou 
profissionais. Também faremos exercícios de revisão, visando identificar problemas de escrita e 
aperfeiçoá-la.
 Por fim, na atividade V, trataremos dos novos gêneros textuais e comunicação digital. 
Todo o guia está escrito em uma linguagem bastante dialogal, para que sua leitura seja praze-
rosa e de compreensão satisfatória. Durante esse estudo, iremos sugerir alguns livros e endere-
ços eletrônicos, é importante que os visite também.
Um grande abraço e bons estudos!
Ana Amélia
Ementa
Orientações
Palavras-chave
Gêneros textuais: suas estruturas e funções. O papel do leitor na construção 
do sentido. Níveis de leitura e procedimentos de interpretação textual. Aspec-
tos linguístico-gramaticais aplicados aos textos. Procedimentos e estratégias de 
construção de textos: o público-alvo, o contexto de produção, recursos de coesão 
e coerência. A argumentação nos textos orais e escritos. O papel da reescrita na 
construção textual. anúncio 
Ver Plano de Estudos da disciplina, disponível no ambiente virtual.
Comunicação; Texto verbal e não verbal; Gênero textual; Contexto.
Unidade I - Linguagem e Comunicação 13
1.1. A Comunicação 13
1.1.1. Texto Verbal, Não Verbal e Misto 14
1.2. Gêneros Textuais 17
1.3. Texto e Contexto de Produção 19
Unidade II – Leitura Crítica e Competente 29
Introdução 29
2.1. Aprofundando a Leitura 29
2.2. Coesão e Coerência 39
Unidade III –Fala, Escrita e Variedades Linguísticas 47
3.1 Fala e escrita 47
3.2 Variação linguística e normatização 49
3.3 Linguagem acadêmica 50
Unidade IV - O Papel Da Reescrita 58
4.1 O texto dissertativo 58
4.2 O papel da reescrita 64
Unidade V – Gêneros Textuais 75
5.1 Novos gêneros textuais 75
Objetivos da Unidade
Unidade I - 
Linguagem e 
ComunicaçãoI
- Compreender, analisar e interpretar textos verbais, não ver-
bais e mistos. 
- Construir o sentido de um texto a partir da ativação do co-
nhecimento prévio. 
- Compreender os elementos que compõem os gêneros tex-
tuais. 
13
Unidade I - Linguagem e Comunicação
1.1. A Comunicação
 Para introduzirmos nossos estudos, vamos tentar responder a seguinte pergunta:
 O que é COMUNICAÇÃO?
 Segundo o dicionário do nosso grande Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a comuni-
cação se define como:
1. Ato ou efeito de comunicar(-se). 2. Processo de emissão, transmissão e re-
cepção de mensagens por meio de métodos e/ou sistemas convencionados. 
3. A mensagem recebida por esses meios. 4. A capacidade de trocar ou discutir 
ideias, de dialogar, com vista ao bom entendimento entre pessoas.
 Mas o que o ato de comunicar revela so-
bre o ser humano? Observe a gravura do famo-
so quadro A Leitora (1770-1772), de Jean-Ho-
noré Fragonard na imagem ao lado, e veja se 
essa imagem lhe diz algo:
Figura 1 - A leitora
Fonte: Pintura de Jean-Honoré Fragonard
14 
 Observe a relação que você estabeleceu com a imagem e pense se está se comunican-
do com ela... 
 Ao olhar a imagem, podemos nos comunicar com o pintor, com a sua personagem ou 
nos comunicarmos com nós mesmos, pois, como bem nos lembra a filosofia de Maurice Merle-
au-Ponty, em sua obra “Fenomenologia da percepção”:
[...] Toda linguagem, em suma, ensina-se por si mesma e introduz sentido no es-
pírito do ouvinte. Uma música ou uma pintura que não é compreendida, acaba 
por criar ela mesma seu público, caso diga alguma coisa. [...] A comunicação ou 
a compreensão dos gestos se obtém pela reciprocidade de minhas interações 
e gestos do outro, de meus atos e das intenções legíveis na conduta do outro. 
[...] Tudo ocorre como se a interação do outro habitasse meu corpo ou como se 
minhas intenções habitassem o seu. (1971, p. 176)
1.1.1. Texto Verbal, Não Verbal e Misto
 Para nos comunicarmos, produzimos textos. Mas o que vem a ser um texto? Comu-
mente, relacionamos texto a conjunto de palavras ou de frases que formam um todo cheio de 
sentido, não é mesmo?
 No entanto, a palavra não necessariamente será um requisito mínimo para um texto. 
Vejamos:
O produto final de toda enunciação, feita em linguagem que for, é chamada de 
texto. Assim, são textos: um gráfico, um cartum, uma pintura, uma melodia, um 
poema, um filme, uma escultura, etc. Em muitos casos, dependendo da situa-
ção, até mesmo o silêncio pode ser considerado um texto. (CEREJA; COCHAR; 
CLETO 2009: p.14)
 Sendo assim, a charge abaixo é considerada um texto:
15
Figura 2 - Charge
Fonte: Autor Duke
 O autor da charge não utilizou palavras, mas com um tom de humor retratou um aspec-
to da sociedade contemporânea: a forte presença da tecnologia e das famosas “selfies”. 
 Quando não utilizamos palavras na comunicação, dizemos que o texto é não verbal. 
São exemplos de comunicação não verbal: gestos, expressões faciais, esculturas, pinturas, api-
to e cartões do árbitro em um jogo de futebol...
 Dica de leitura: Caso queira aprofundar seus estudos sobre a 
comunicação corporal, leia o livro “O corpo fala”, de Pierre Weil.
“Estelivro tenta desvendar a comunicação não verbal do corpo huma-
no, primeiramente analisando os princípios que regem e conduzem o 
corpo. A partir desses princípios, aparecem as expressões, gestos e atos corporais que, 
de modos característicos, estilizados ou inovadores, expressam sentimentos, concep-
ções, ou posicionamentos internos.”
 Por outro lado, chamamos o texto que faz uso da palavra, ou seja, tem suporte no alfa-
beto, de verbal.
16 
 É possível, ainda, sobretudo em charges, haver textos que mesclam os dois tipos de 
linguagem, sendo considerados mistos:
Figura 3 - Charge
Fonte: Autor Ivan Cabral
 Veja que, na charge acima, o texto verbal (“Mãe, que cor é essa?”) se soma ao não verbal 
(o restante da charge: desenho/imagem) para formar o sentido completo da comunicação. Ao 
ligarmos o questionamento verbal da criança aos itens não verbais chapéu, vegetação, restos 
de animais, cor, percebemos que o autor quis retratar uma realidade da região nordestina do 
Brasil.
 Reflita: Se a cor do lápis fosse outra, o texto teria o mesmo sen-
tido? Qual é o papel das cores na comunicação?
 Hoje em dia, fala-se também de texto multimodal, que é aquele constituído por múlti-
plas formas de linguagem (escrita, oral e visual). Pense em um vídeo que assistiu em sua rede 
social, ele pode ter mistura de imagens, estáticas ou em movimento, textos escritos (estáticos 
ou em movimentos), todos explorando recursos visuais, como cor, fonte, tamanho... também 
temos a fala ou então músicas, trilha sonora... 
17
 Resumindo, a comunicação ocorre por meio de:
A) TEXTO VERBAL. Como o próprio nome sugere, está relacionado 
ao “verbo”, ou seja, à palavra. Os textos verbais são aqueles que não 
possuem desenhos, gravuras. São formados apenas por palavras. Exemplos: cartas, textos 
literários, anedotas...
B) TEXTO NÃO VERBAL. São aqueles textos que se caracterizam por usar outras lingua-
gens que não a verbal: fotografias, desenhos, pinturas, ou mesmo, a linguagem da dança... 
C) TEXTO MISTO. Textos mistos nada mais são do que a junção dos textos verbais e não 
verbais. Por exemplo, as histórias em quadrinhos são constituídas por desenhos e palavras. 
Hoje em dia também pode ser chamado de texto multimodal. 
1.2. Gêneros Textuais
 Como exemplos de textos não verbais e mistos, vimos duas charges. Mas o que é uma 
charge, afinal?
GÊNERO TEXTUAL: CHARGE
 A charge é um gênero textual não verbal ou misto que expõe de forma crítica, 
sarcástica ou humorística determinado fato ou aspecto da sociedade.
 Reflita: Os gêneros textuais seriam uma proposta teórica de 
classificação dos textos?
18 
 Os gêneros textuais são os próprios textos materializados, as formas de organização da 
língua, formas de direcionar sua manifestação a atividades socialmente reconhecidas. 
 Para escrever um “currículo”, por exemplo, normalmente é preciso fazer perguntas 
como: o que é um currículo? O que um texto deve ter para ser considerado como tal? Para que 
ele serve e para quem vou enviar? Quais informações deve conter? Que formato deve ter? Que 
linguagem devo utilizar?
 A depender do contexto e da finalidade da comunicação, o texto apresentará um con-
teúdo temático, uma composição e um estilo de linguagem específicos:
 Quando você responde aos questionamentos que fizemos sobre o currículo, indireta-
mente você está refletindo sobre esses aspectos do gênero textual.
 O uso da língua como ato comunicativo, um instrumento de comunicação, é invaria-
velmente um gênero textual. Como toda pessoa eventualmente irá se comunicar de alguma 
maneira, sempre existirá um gênero textual que ela domina, inserindo o enunciador em outros 
gêneros. 
 Sendo assim, em nossa vida cotidiana, estamos o tempo todo lidando com gêneros 
textuais, seja recebendo-os ou produzindo-os. Veja alguns exemplos deles: anúncios publicitá-
rios, cartuns, tirinhas, crônicas, reportagens, letras de músicas, conversas informais, conversas 
telefônicas... 
 Mais especificamente na Educação a distância, a comunicação ocorre por meio de gê-
neros como: correio (ou e-mail), bate-papo, fórum, slides, videoaula...
19
 Se entendermos a linguagem como articuladora da vida social 
e do sistema da língua, estamos pressupondo, acerca do ensino de 
linguagem, que ensinar uma língua é ensinar a agir naquela língua.
1.3. Texto e Contexto de Produção
 Continuando nossos estudos sobre o gênero textual “charge”, temos mais especifica-
mente o conceito de charge como sendo:
desenho humorístico, com ou sem legenda ou balão, geralmente veiculado 
pela imprensa e tendo por tema algum acontecimento atual, que comporta a 
crítica e focaliza, por meio de caricatura, uma ou mais personagens envolvidas; 
caricatura, cartum. (HOUAISS, 2001)
 Assim, uma das principais características da charge é a temporalidade, ou seja, o fato 
de remeter necessariamente a uma época, a um contexto específico. Por esse motivo, ela é 
bastante utilizada em jornais e revistas. Observemos a charge a seguir:
Figura 4 - Charge
Fonte: Revista Piauí, v. 82, p. 43
20 
 Nós, enquanto leitores, para compreendermos um texto, sobretudo a charge, precisa-
mos entender o contexto de produção, ou seja, as circunstâncias em que foi produzido.
 Como a charge acima aconteceu há certo tempo, não temos acesso ao seu contexto e 
sua compreensão fica, de certa forma, comprometida. Então, é importante saber que as condi-
ções de produção de qualquer texto podem ser diferentes das da recepção.
 Enfim, a charge trata-se de uma publicação de julho de 2013, época em que os brasilei-
ros estavam descontentes com os altos gastos investidos na Copa do Mundo de Futebol e saí-
ram às ruas para protestar. Na mesma época, surgiu um polêmico projeto de lei, proposto pelo 
deputado Marco Feliciano, considerando a homossexualidade como uma doença e propondo 
a cura.
 Quando resgatamos o momento, o local e a situação política e econômica em que o 
texto foi publicado, ele parece se tornar mais claro, não é verdade? De posse dessas informa-
ções, vamos iniciar a leitura e compreensão do texto? 
 Lembre-se: estamos trabalhando a leitura crítica, e esse tipo de 
leitura requer uma intensa participação sua, refletindo sobre o texto 
em si, como ele foi construído e trazendo sua vivência para a constru-
ção do sentido. As orientações que darei agora, ao direcionar a leitura, 
também foram influenciadas pela minha própria vivência. Assim, podemos dizer que é 
UMA das leituras possíveis.
 As charges geralmente utilizam-se de situações verossímeis para produzir um efeito de 
realidade. Dessa forma, reconhecemos na charge uma situação que pode realmente acontecer. 
Por esse motivo, muitos consideram a charge como uma “crônica visual”.
 Nesta, por meio do texto não verbal (imagem, placa, gestos), temos a caracterização de 
um personagem que se manifesta contra algo. Lembre-se que é um “efeito de realidade” que 
a charge cria. Se fosse um manifestante realmente presente nas manifestações, não se enqua-
draria no gênero “charge”, seria “ilustração”, ou algo do tipo.
21
 Por que o autor utilizou “acordey gay” em seu texto verbal? Essa construção pode reme-
ter a algo novo, a uma mudança de estado. Costumamos utilizar, no dia a dia, frases do tipo “ele 
acordou doente hoje”, significando que a pessoa acabou de ficar doente, ou seja, não estava 
doente no dia anterior, certo?
 Se transpusermos essa ideia para a charge, podemos visualizar uma crítica ao projeto 
de lei “A cura gay” na passagem “Acordey gay”, como se o personagem “manifestante” tivesse 
descoberto naquela noite sua doença, a homossexualidade, e quisesse ser curado. Essa des-
coberta repentina pode se referir à própria proposta de lei, que caracterizava a partir daquela 
data os homossexuais como doentes.
 Alémdisso, houve uma brincadeira com a escrita da palavra “acordei”, transformando 
em “acordey” e relacionando à palavra “gay”. 
 No texto, foi utilizado o sarcasmo, pois dá a entender que o manifestante não compar-
tilha realmente daquela opinião. É como se estivesse dizendo “Certo, vamos seguir sua ideia, 
deputado. Se eu for homossexual e estiver realmente doente como o senhor diz...”
 O sarcasmo, a ironia, o humor constituem outra característica das charges. Eles são uti-
lizados como estratégias para surpreender o leitor e despertar o riso. 
 Em meio aos textos informativos das reportagens e notícias, também presentes nos 
jornais e revistas, a charge aborda algo importante de forma inusitada. Muitas vezes, o riso nas 
charges pode funcionar também como uma evasão de algo desagradável presente na socieda-
de. 
 Continuando a análise da charge, podemos perceber uma segunda crítica do autor: a 
crítica à falta de infraestrutura dos hospitais brasileiros. Aliás, essa era uma das reivindicações 
das manifestações pré-Copa do Mundo. Na época, houve, inclusive, uma polêmica declaração 
do ex-jogador de futebol Ronaldo ao dizer “Não se faz copa do mundo com hospitais”.
 Voltando a comparar a charge a outros gêneros textuais presentes em jornais e revistas, 
a charge é um dos poucos textos em que está explicitamente marcado o posicionamento de 
seu autor. Geralmente, os outros textos apresentam-se textualmente “imparciais”. 
 Viu como conhecer o contexto e o gênero textual nos ajuda a interpretar melhor? Isso 
22 
ocorre porque, para lermos qualquer tipo de texto, precisamos ativar nosso conhecimento de 
mundo e termos papel ativo na leitura! 
 Vamos fazer uma revisão do conteúdo realizando uma atividade? 
 Após realizar, veja no final os comentários das questões.
1. Essa questão, extraída do ENADE, demonstra as infindáveis possibilidades de comunica-
ção e as relações que os textos verbais e não verbais podem estabelecer. Veja:
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. In: Poesia completa. 
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 23.
23
Cidadezinha cheia de graça...
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça...
Sua igrejinha de uma torre só...
Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca nem num segundo...
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!...
Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!
Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha... Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar...
QUINTANA, Mário. A rua dos cata-ventos. In: Poesia completa. Org. Tânia Franco Carvalhal. Rio de Janeiro: 
Nova Aguilar, 2006, p. 107.
 Ao se escolher uma ilustração para esses poemas, qual das obras, abaixo, estaria de 
acordo com o tema neles dominante?
24 
2. Observe a ilustração abaixo, obra de Henfil, e responda as questões abaixo:
25
Figura 5 - Obra de Henfil
Fonte: http://macariocampos.blogspot.com/2010/06/craques-do-cartum-na-copa.html
a) Trata-se de uma comunicação não verbal, verbal ou mista?
b) Está estruturada em que gênero textual?
c) Analise todo o texto e comente o que pretende retratar.
3. Observe a charge abaixo, também do cartunista Henfil:
Figura 6 - Obra de Henfil
Fonte: RODRIGUES, Marly. O Brasil da 
Abertura. De 1974 à Constituinte. 3. 
ed. São Paulo: Atual, 1990. p. 62.
26 
 Assinale a alternativa que identifica CORRETAMENTE o período da história republicana 
brasileira contemporânea retratada e ironizada pela charge do cartunista Henfil:
a) O impeachment do presidente Collor.
b) O início da redemocratização. 
c) Os chamados “Anos de Chumbo”. 
d) O período do “milagre brasileiro”.
Atividade comentada da Unidade
1. Você acertou se escolheu a opção E, pois a imagem de uma cidade pequena, do interior, 
como demonstra os poemas, está presente na tela de Guignard. Lembre-se também de 
que é importante considerarmos as características de cada texto na hora de interpretá-
-los. 
2. Trata-se de uma charge mista. A parte verbal mostra um personagem inicialmente apre-
ensivo e, em um segundo momento, aliviado e sorridente. A presença da televisão e 
sua comunicação gestual direcionam a leitura para uma “torcida” do personagem. O tex-
to verbal complementa a ideia de “torcida” com os dizeres “Deus é Brasileiro”, ou seja, 
podemos depreender que esse personagem torcedor pode estar assistindo a um jogo 
internacional e tem fé de que deus esteja torcendo para o mesmo time, ou seja, para o 
Brasil. Em nenhum momento o texto deixa claro o esporte “futebol”, mas isso pode ser 
entendido a partir do texto verbal “opção p/ domingo”, já que no Brasil os jogos de fu-
tebol normalmente acontecem aos domingos, e também a partir do conhecimento da 
cultura brasileira. Dessa forma, o texto retrata o importante papel que esse esporte de-
sempenha na vida do brasileiro. Isso pode ser notado sobretudo pela inversão do texto 
verbal “deus é brasileiro” em “o brasileiro é deus”, ou seja, aparentemente após um gol, 
elevando o jogador e, consequentemente, o brasileiro a um status de deus. 
3. Aqui, você precisa ter um conhecimento prévio sobre vários aspectos da época em ques-
tão para chegar à conclusão de que a charge se refere ao início da redemocratização.
27
 Nós falamos nesta unidade sobre os três tipos de linguagens 
que podemos utilizar para nos comunicarmos: verbal, não verbal e 
mista. 
 Vimos, ainda, as formas distintas de linguagem no nosso coti-
diano, como existe uma linguagem para cada situação social. Damos a estas maneiras 
singulares de comunicação o nome de gêneros textuais. O romance, uma entrevista, um 
e-mail, uma receita de bolo, um resumo, um conto, uma aula e até mesmo este guia de 
estudos que está lendo, é um gênero textual.
 Por meio do gênero textual “charge”, começamos a desenvolver a leitura crítica, 
observando a construção do gênero, o contexto comunicativo em que foi produzido e 
desempenhando nosso papel de leitores ativos e competentes.
Objetivos da Unidade
Unidade II - 
Leitura Crítica e 
Competente
II
- Apreender as relações existentes entre os objetivos que nor-
teiam a elaboração da comunicação;
- Relacionar os recursos linguísticos empregados na compo-
sição do texto aos sentidos e intenções da mensagem; 
- Compreender um texto como um todo coerente;
- Perceber os elementos de conexão de um texto. Fazer a co-
nexão das partes do texto.
29
Unidade II – Leitura Crítica e Competente
Introdução
 A leitura não se restringe apenas à decodificação de sinais gráficos, mas trata-se de uma 
atividade bem mais complexa. Por isso, não basta ser alfabetizado para saber inferir sentidos, 
interpretar, realizar análises críticas. 
2.1. Aprofundando a Leitura
 Leitura é processo, leitura é trabalho – e nem sempre é considerado um trabalho pra-
zeroso. Ler pode ser bem doloroso e isso acontece quando nos deparamos com aquele texto 
indicado pelo professor da faculdade: nós o lemos “dez vezes” e nada compreendemos.
 Segundo Infante (1998), a compreensão de um texto exige que façamos diferentes lei-
turas: 
• Sensorial: importante em nosso relacionamento com a realidade escrita, porque é nes-
sa etapa que observamos cores, formas e embalagens que se apresentam como uma 
mensagem apelativa aos nossos sentidos. 
• Emocional: permite-nos conhecer o texto propriamente dito, percorrer as páginas e es-
tabelecer contato com o conteúdo. Nessa etapa, a leitura nos remete a emoções de 
comoção ou tédio, riso ou irritação, prazer ou aborrecimento. É uma experiência sem 
compromisso,da qual participam nosso gosto e nossa formação. 
• Intelectual: As duas leituras acima oferecem subsídios para a leitura intelectual. Essa, 
por sua vez, começa por um processo de análise da organização textual (unidades, e 
como as partes se relacionam para formá-la). A leitura é intelectual quando o leitor nun-
ca perde de vista o fato de que aquilo que está lendo foi escrito por alguém que tinha 
propósitos determinados ao fazê-lo. Procurar detectar esses propósitos juntamente com 
30 
a informação transmitida e com a estruturação do texto é fazer uma leitura intelectual 
satisfatória, ou seja, é dar sentido ao texto. A leitura intelectual implica uma atitude crí-
tica, voltada não só para a compreensão do conteúdo do texto, mas, principalmente, 
ligada à investigação dos procedimentos de seu produtor. Por isso, ao ler, levante sem-
pre a questão: “o que pretendia quem escreveu isto?”, “por que esse autor escolheu essa 
palavra e não outra”?
 Sabemos que não basta ser alfabetizado para fazer da leitura um ato de crítica que en-
volve constatação, reflexão e transformação de significados. Uma compreensão crítica do ato 
de ler leva à tradução dos significados dos enunciados e até ao desenvolvimento do que se 
oculta por trás deles.
 Vamos iniciar o treinamento da leitura crítica a partir de um anúncio publicitário.
 Um dos primeiros passos da sua análise precisa ser a reflexão sobre o gênero do texto, 
pois a partir dele entendemos a proposta geral da comunicação. Ele é um anúncio publicitário 
e caracteriza-se como:
Gênero textual: anúncio publicitário
 É um gênero, geralmente misto, que se utiliza de diferentes veículos de comunica-
ção (revista, jornal, TV) para persuadir o consumo de uma ideia ou produto.
 Para cativar seu destinatário em meio a tantos outros textos, o gênero “anúncio publi-
citário” lança mão de diversos recursos argumentativos, não verbais, verbais, figuras de lingua-
gem, jogo de palavras, metáforas, intertextualidade (diálogo com outros textos).
 O texto informativo também pode estar presente nos anúncios, pois uma das estratégi-
cas de persuasão é o realce das qualidades do produto. Há valorização dos adjetivos: o melhor, 
genial, fantástico, inovador...Alguns atributos dos produtos que costumam ser valorizados nos 
31
anúncios são: exclusividade (inédito, só aqui tem), excelência, boa qualidade, inovação...
 Agora vamos analisar o anúncio:
Figura 7 - Anúncio
Fonte: http://wearesocial.com/
 O anúncio foi produzido pela marca Omo, por meio da comunicação mista e visual em 
língua portuguesa. Temos o produto representado no lado direito do texto, lado mais valoriza-
do. A cor azul predomina e remete à água e à própria cor do produto. Analisando a escolha das 
palavras, as figuras, as cores para se comunicar, temos um texto que conversa com o receptor. 
Esse apelo ao receptor pode ser observado, sobretudo, pelo uso do “seja” (verbo no imperativo 
= ordem), “se você tem uma família”, “você pode ser uma das primeiras famílias” (uso da inter-
pelação direta = você). 
 DICA DE PORTUGUÊS: Na norma culta, sempre usamos o verbo 
ser no imperativo como SEJA e não SEJE, ok? Essa regra também vale 
para o verbo estar: que você esteja seguindo conosco a reflexão sobre 
 A partir da construção da mensagem, do produto em si, do veículo de comunicação, 
podemos traçar um perfil específico de destinatário: o público-alvo. E qual seria o público-alvo 
do anúncio acima?
32 
 Em um primeiro momento, pensando no senso comum, muitos dirão que são as mulhe-
res. Porém, vamos observar a construção da mensagem do anúncio na passagem “seja um dos 
primeiros”. Foi escolhido o gênero masculino, então, não necessariamente seriam as mulheres. 
Neste texto, em específico, o autor teve como público-alvo aquela pessoa que é responsável 
pela limpeza da roupa da casa, não necessariamente a mulher. 
 Muitas vezes associamos o produto a um público-alvo específico, influenciados pela 
nossa própria cultura ou pela tradição das propagandas, pois estas acabam reforçando deter-
minados aspectos e estereótipos de nossa sociedade. Como exemplo, você pode pensar nas 
propagandas de cerveja que conhece.
 Toda comunicação é influenciada pela imagem que o emissor 
constrói de seu receptor. No momento da emissão, planeja-se a co-
municação, fazendo hipóteses sobre o conhecimento de mundo do 
possível receptor, a linguagem que mais se adequaria a seu perfil, os 
efeitos que esse texto causaria nesse receptor... Compare, por exemplo, a linguagem de 
um anúncio publicitário para jovens com um anúncio para um público mais adulto e 
mais culto. Ou então um anúncio de um mesmo produto em revistas diferentes, como 
Caras e PEGN (Pequenas Empresas Grandes Negócios). Este site é muito interessante, 
pois reúne propagandas em diferentes revistas e você poderá fazer esse exercício:
 A arte imita a vida ou a vida imita a arte?
Figura 8 - Anúncio Omo
Fonte: http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/5771/
33
 Veja que, no anúncio acima, de 1999, o público-alvo nitidamente são as mulheres. E não 
podemos deixar de refletir sobre o papel da propaganda do ponto de vista crítico e ideológico, 
como reafirmação de valores e estereótipos da sociedade.
 A publicidade elabora um discurso a partir de dados culturais com o objetivo de pro-
vocar o desejo de consumo por meio da identificação, ou seja, o receptor (ou receptora) se vê 
retratado no personagem elaborado pelo emissor, seja por suas dificuldades, seus hábitos, seu 
perfil.
 Assim, durante muito tempo, as propagandas não só da Omo, mas de qualquer produto 
de limpeza, retrataram a mulher como sendo a única responsável pelas tarefas domésticas. 
 Com a mudança do papel da mulher na sociedade e sua saída para o mercado de tra-
balho, a mulher continua como público-alvo, mas é retratada como “moderna”, com roupas 
mais formais, como se estivesse saindo para o trabalho. Os atributos do produto passam a ser 
a praticidade, pois essa mulher precisa conciliar muitas tarefas, afinal, é profissional, dona de 
casa e, muitas vezes, mãe.
 O lado materno, aliás, está sendo muito valorizado nas propagandas, já que uma das 
maiores angústias da mulher moderna é deixar o convívio com seus filhos para trabalhar. 
 Como na elaboração de qualquer comunicação, precisamos considerar a aceitabilidade 
de nosso receptor. Hoje em dia, propagandas que reforçam o estereótipo de mulher “Amélia” 
foram deixando de ser utilizadas. Isso causaria, em vez de identificação, certa aversão pelo tom 
sexista.
 Veja este comercial indiano da marca Ariel, que tenta ir na con-
tramão dos discursos tradicionais de comerciais de produtos de limpe-
za.
34 
 Além da identificação, a propaganda também age para despertar outros sentimentos 
nos seres humanos: 
[...] a propaganda é uma das grandes formadoras do ambiente cultural e so-
cial de nossa época. Isso porque trabalha a partir de dados culturais existentes, 
recombinando-os, remodelando-os (até mesmo alterando suas relevâncias), e 
sobre alguns dos instintos mais fortes dos seres humanos: o medo, a vontade 
de ganhar, a inveja, o desejo de aceitação social, a necessidade de autorrealiza-
ção, a compulsão de experimentar o novo, a angústia de saber mais, a seguran-
ça da tradição. (SAMPAIO, 2003, p. 38).
 Vejamos outro exemplo de anúncio publicitário:
Figura 9 - Anúncio Amélia
Fonte: https://discutindoaredacao.wordpress.com/category/intertextualidade-2/
 Neste anúncio, a depender de seu conhecimento de mundo, você vai perceber um re-
curso utilizado em diversos textos: a intertextualidade. O autor do anúncio fez uma brinca-
deira com a música “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves, cujo refrão dizia: “Amélia é 
que era mulher de verdade, Amélia não tinha a menorvaidade”. 
 Foi a partir dessa música que possamos a chamar de Amélia aquela mulher que cuida 
do lar, que muitas vezes é submissa. Quando você usar essa palavra nesse sentido, você está 
35
fazendo intertextualidade também. Então, a intertextualidade é o diálogo entre os textos, a 
remissão a outros textos. 
 Fiorin (1994, p.20) nos mostra que as finalidades do uso da intertextualidade são dife-
rentes. O Hino Nacional brasileiro, por exemplo, faz intertextualidade com o poema de Gon-
çalves Dias. No poema original, o autor retrata o sentimento de que nossa pátria é melhor do 
que qualquer lugar no mundo e o Hino Nacional retoma os versos de Dias para reforçar esse 
sentimento. Mas, podemos ver intenção inversa nos versos de Murilo Mendes, por exemplo, 
quando diz:
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
 Então a intertextualidade, pode ser utilizada:
 Uma dica de filme intertextual e um ótimo programa para a 
família toda é “Shrek 2”, de Andrew Adamson. EUA, 2003. Dreamworks
36 
 Como é o caso dos exemplos acima, muitas vezes os autores incorporam a intertextu-
alidade como recurso criativo ou estilístico sem mencionar claramente que estão remetendo 
a outros textos. Cabe então ao leitor, de posse de seu conhecimento de mundo, inferir essa 
remissão e refletir sobre os sentidos provocados. 
Como já dizia Fiorin (1994,p.20), a capacidade de detectar as relações intertex-
tuais das referências entre textos é dependente do repertório do leitor, do seu 
acervo de conhecimentos acerca da literatura, movimentos sociais e de outras 
manifestações culturais. Por isso, ler é importante, quanto mais se lê mais se 
amplia a visão de mundo do leitor, bem como a habilidade de perceber o diá-
logo que os textos travam entre si, por meio de referências citações e alusões. 
Cada livro lido aumenta a capacidade de apreender, de maneira mais completa, 
os sentidos dos textos.
 É possível também marcarmos a voz de outros autores em nosso texto de forma clara, 
que é o caso de uma citação. Em textos argumentativos, informativos, acadêmicos, a citação 
vai conferir maior credibilidade às informações, sobretudo fazendo referência a estudiosos, es-
pecialistas, entidades de renome. 
 Continuando nosso percurso de análise textual, leremos um poema de Carlos Drum-
mond de Andrade:
Um boi vê os homens 
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
37
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos — e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.
 Você também pode ouvir o poema aqui.
 Que crítica Drummond faz ao ser humano, hein? Aqui, gostaria de enfatizar alguns pon-
tos. Quando recebemos um texto e nos deparamos com uma negação, como leitores atentos, 
precisamos analisa-la mais a fundo. 
38 
 No poema, temos “Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os 
segredos do feno”. A negação traz consigo a voz da afirmação. Por trás dessa negação, há su-
bentendido que é costume, a partir da perspectiva do boi, escutar o canto do ar e os segredos 
do feno. Nessa frase, está implícito que o homem deveria realizar essas ações. E o fato de não 
seguir esse hábito é um espanto para o boi.
 Você pode fazer o mesmo tipo de análise da negação em:
Figura 10 - Uso da negação
Fonte: http://condominiomaeterra.com/folha-seca-nao-e-sujeira/
 A partir de agora, fique de olho nas negações! Elas têm muito a nos dizer. Nelas, pode-
mos encontrar outras vozes. 
 No poema, ao ouvirmos/lermos o verbo “ruminar” podemos entender como uma ação 
fisiológica do boi, típica de sua digestão. Ou então, podemos entender “ruminar nossa verda-
de” em um sentido simbólico, como o de refletir sobre a verdade, ou até mais um refletir em um 
tom de culpa, já que, assim como o alimento do boi vai e volta no estômago, os pensamentos 
sobre a verdade vão e voltam à nossa cabeça, muito típico de quando estamos com a consci-
ência pesada. O verbo “ruminar” pode, então, ser entendido em seu sentido denotativo (ação 
fisiológica – primeira leitura) e também em seu sentido conotativo (segunda leitura).
 Para um leitura crítica, é preciso considerar sempre que, mesmo nos textos que apa-
rentam imparcialidade, como o informativo, ao escrever um texto, todos têm uma intenção, 
39
na qual o autor procura sempre interagir com um leitor: modificar seu comportamento, suas 
ideias, informar, argumentar sobre um ponto de vista, ensinar, narrar...
Nenhum texto é neutro, despretensioso. Todo texto está carregado de inten-
ções, significados explícitos e implícitos e ideologia que dependem imprete-
rivelmente do contexto em que foi produzido. Um mesmo texto pode ter, em 
um e outro contexto, sentidos completamente diferentes, ou seja, a situação 
participa da construção do sentido do texto.
O leitor competente é aquele que, além do sentido das palavras, descobre tam-
bém o significado das pausas, dos silêncios, da pontuação. (Cereja; Cochar; Cle-
to, 2009, p.11).
2.2. Coesão e Coerência 
 Você já ouviu certos comentários como: “Este texto está incoerente!” ou “Falta coerência 
entre as ideias”, mas o que é coerência? Em que aspectos ela interfere no texto?
 De acordo com Kock (1999), o conceito de coerência textual é muito difícil de definir 
exatamente, mas podemos percebê-la a partir de aspectos que possibilitam a percepção de 
coerência. 
 Um destes princípios é a atribuição de sentido, isso quer dizer que o texto não é apenas 
um amontoado de frases, jogadas uma após a outra, mas relacionadas entre si. O estabeleci-
mento da relação entre as frases gera a interpretabilidade e inteligibilidade do texto. Vamos ver 
um exemplo?
40 
O show
O cartaz
O desejo
O pai
O dinheiro
O ingresso
O dia
A preparação
A ida
O estádio
A multidão
A expectativa
A música
A vibração
A participação
O fim
A volta
O desejo
(s/a apud: KOCK, 1999,p.12)
41
 Veja que interessante! O texto é apenas uma lista de palavras sem qualquer liga-
ção sintática e sem nenhum elemento que explique a relação entre elas. Se você já foi a 
um show, percebeu nesta sequência linguística uma unidade de sentido, não é mesmo? 
Isso faz com que o poema “O show”, seja visto como um texto e não um simples amon-
toado de palavras. O sentido aqui se refere ao todo, porque a coerência textual é global 
e está diretamente vinculada à capacidade do alocutário de decifrar e compreender o 
texto.
 Agora vamos observar os trechos abaixo:
(1) Raquel tinha lavado o carro quando chegamos, mas ainda estava lavando o carro.
(2) Lucas não foi à aula, entretanto estava doente.
(3) A galinha estava grávida.
 Não houve uma incongruência no sentido textual? Kock (1999) explica porque essas 
passagens podem ser apontadas como fonte de incoerência. 
 A incoerênciatextual pode derivar de problemas de coesão. 
 Koch (2003) apresenta a coesão textual como as relações de sentido existentes no in-
terior do texto e que o definem como texto. Em outras palavras, é quando a interpretação de 
algum elemento do discurso é dependente da interpretação de outro.
 No exemplo (2), “entretanto” que causou incoerência. Ele normalmente funciona como 
elemento coesivo unindo as orações dando uma ideia de “quebra de expectativa”, como na 
frase:
Estudei tanto para a prova. Entretanto, não fui aprovado.
42 
 Veja que o esperado nesse caso era ser aprovado na prova, já que se estudou muito. 
Então, para haver coerência na frase (2) acima, precisaríamos reescrever:
Lucas não foi à aula, entretanto estava bem de saúde.
 O uso de conectivos vão trazer maior coesão ao texto. A depender desse conectivo, as 
frases e as orações serão conectadas com sentidos diferentes como o de oposição (contudo, 
entretanto, embora, por outro lado...), tempo (depois disso, então...), adição (e, também, ainda, 
além disso...), finalidade (a fim de...), explicação ou causa (porque, pois, já que, visto que...), 
conclusão (logo, assim, então, portanto...) e consequência (de maneira que, de modo que, as-
sim...). Lembrando que o sentido dos conectivos não estão estanques. É necesssário considerar 
o contexto em que o texto ocorre. 
 Então, o link entre as partes do texto por meio de conectivos é uma forma de se fazer 
coesão (“costura do texto”). Agora vamos conhecer a segunda: que é a retomada de informa-
ções. Considere a frase:
Cláudia tem cinco anos agora. Porém, ela tinha três quando teve um dos seus primeiros 
choques emocionais. 
 O emprego do pronome “ELA” estabelece uma coesão, pois retoma uma informação 
anteriormente expressa (Cláudia). Um texto bem construído apresenta uma dosagem de in-
formações novas com retomada de informações velhas. No caso acima, a informação Cláudia 
já era antiga. Logo, para que seja um texto, precisamos retomar a informação velha de outras 
formas.
 Podemos retomar ideias com:
• Os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual etc.;
• Os advérbios: aqui, aí, lá, assim etc.
43
• Sinônimos, expressões e paráfrases: eu poderia retomar Cláudia por “a criança”, “a me-
nina”, “A filha de Maurício”, “a paciente”... 
• Omissão da informação: elipse. No caso da frase acima, poderíamos retirar o “ela” e o 
leitor já resgataria a informação.
 Percebeu que coesão e coerência caminham juntas para a formação do nexo textual? 
A coesão funciona mais no plano linguístico, ou seja, por meio de palavras da própria língua 
nós conectamos as ideias do texto. Já a coerência funciona mais no plano das ideias, algo mais 
abstrato, a harmonia de sentido final do texto. 
 Vamos fazer juntos a análise do texto retirada da obra de Kock (2003), para que você 
entenda a coesão textual e seus mecanismos:
1º- Vamos ler o texto:
Os urubus e sabiás 
 (1)Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam...(2) Os 
urubus aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que mesmo 
contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E para isto fundaram escolas 
e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram 
competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam permissão para 
mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pompo-
sos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável 
44 
urubu titular, a que todos chamavam de Vossa Excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a 
doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por 
bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com os 
sabiás...(7) Os velhos urubus entortaram o bico, e o rancor encrespou a testa e eles convocaram 
pintassilgos, canários e sabiás para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus 
concursos?(9) E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais 
coisas houvessem. (10) Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com 
elas. (11) E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam 
simplesmente...(12)”- Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito 
à ordem.”(13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam 
sem alvarás...(14) MORAL: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.
(Rubem Alves, Estórias de quem gosta de Ensinar. São Paulo: Cortez Editora, 1984.)
2º- Agora vamos responder perguntas simples:
a) No início do texto em “Tudo aconteceu...”. Que tudo é esse? Que foi que aconteceu numa terra 
distante, na época que os bichos falavam?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
b) Em (3), temos o termo isto: “E para isto fundaram escolas...” . Isto o quê? De que se está falan-
do? 
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_____________________________________________________________________________
c) Ainda em (3), qual o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, 
45
fizeram? É o mesmo de teriam? Fala-se em quais deles: deles quem?
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_____________________________________________________________________________
d) Em (7), a quem se refere o pronome Eles? E seus em (8)?
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e) Quais são as pobres aves de que se fala em (9)? E as tais coisas? Elas em (10) refere-se a tais 
coisas ou pobres aves? 
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f ) De que passarinhos se fala em (13)?
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_____________________________________________________________________________
g) A que se relaciona Foi assim em (4)? Ou porque em (9)?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
 Veja que se tais questionamentos podem ser respondidos fa-
cilmente é por causa das relações textuais: todos estes elementos são 
recursos de coesão textual.
Objetivos da Unidade
Unidade III - 
Fala e EscritaIII
- Compreender a língua como um conjunto de variedades e a 
variação como fenômeno natural. 
- Compreender o processo de normatização da língua. 
- Avaliar as diferentes situações de enunciação e a adequação 
das produções textuais. 
- Compreender a fala e a escrita como modalidades diferen-
tes, mas complementares, da língua.
47
UNIDADE III –Fala, Escrita e Variedades Linguísticas 
 Para além das definições, a importância da língua em nossas vidas é imensa. Nós vive-
mos a língua em todas as situações da vida humana e o próprio modo como nos organizamos 
em sociedade reflete isso e, ao mesmo tempo, é consequência do uso dessa capacidade de 
linguagem. Somos seres “linguageiros”! 
3.1 Fala e escrita
 Alguma vezvocê já disse ou ouviu alguém dizer: “não sei português” ou “português é 
muito difícil”? Pois é, esse é um pensamento comum, mas precisamos questioná-lo! Na esma-
gadora maioria das vezes, a pessoa, quando expressa uma opinião como as descritas acima 
sobre a língua, está falando sobre a escrita do idioma.
 Escrita: ou me decifras ou te devoro? 
 
 Segundo Marcuschi (2004), hoje é impossível investigar oralidade (fala) e letramento 
(escrita) sem uma referência direta ao papel dessas práticas na civilização contemporânea, ou 
seja, já não se podem observar satisfatoriamente as semelhanças e diferenças entre fala e es-
crita sem considerar a distribuição de seus usos na vida cotidiana. E o próprio autor afirma que, 
para se pensar desse modo, é necessário realizar uma mudança na visão que se tinha princi-
palmente antes dos anos 80, na qual fala e escrita eram vistas (e ainda o são) como opostas, 
predominando a supremacia cognitiva da escrita. 
 Tanto a fala como a escrita permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas 
permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações 
estilísticas, dialetais e outras.
 Desta forma, não se pode conceber que qualquer caracterização linguística ou situacio-
nal da fala ou da escrita se efetive em todos os gêneros orais ou escritos. Existem gêneros orais 
48 
e escritos muito semelhantes (conferência−artigo acadêmico, conversa entre amigos−carta fa-
miliar, entre outros) e outros muito distintos (bate-papo−artigo acadêmico ou um seminário−
bilhete). Isto ocorre porque não há homogeneidade na relação oralidade/escrita.
Figura 01 – Continuum tipológico
Fonte: Marcuschi 2004
49
 Como se pode ver no quadro acima, que é uma representação do contínuo tipológico 
proposto por Marcuschi (2004), fala e escrita apresentam-se num “continuum” que abrange vá-
rios gêneros textuais. Há os que se aproximam mais da fala e outros mais amplos no contexto 
que estão mais próximos da escrita. Não há padrão fechado. Os gêneros oscilam em manifes-
tações orais ou escritas, e seu maior ou menor planejamento da linguagem dependerá das 
intenções do falante e do contexto de uso. 
 Para Kato (1987), o que determina as diferenças entre as modalidades oral e escrita são 
as diferentes condições de produção, que refletem uma maior ou menor dependência do con-
texto, um maior ou menor grau de planejamento e uma maior ou menor submissão às regras 
gramaticais.
3.2 Variação linguística e normatização
 Costumamos dizer que somos péssimos em português, justamente na língua em que 
falamos desde a nossa mais tenra infância! Como assim? 
 A língua é um conjunto de variedades, de dialetos. Um desses 
dialetos é eleito (socialmente) como o mais ‘certo’, a chamada norma pa-
drão, que geralmente se aproxima da escrita. As gramáticas tradicionais, 
ao objetivarem “conservar” essa norma que consideram a ideal, vão de 
encontro às leis naturais da mudança linguística, causando, consequentemente, um des-
conforto por parte dos usuários, que acham a língua “difícil” e até mesmo dificultando a 
aprendizagem da escrita e gerando preconceitos linguísticos. O primeiro passo para nos 
apropriarmos da nossa língua é entender que as modalidades falada e escrita da língua se 
complementam, mas são bem diferentes. Além disso, é preciso relativizar as regras ditadas 
pela gramática normativa levando em conta os usos sociais da escrita.
50 
 Muitas vezes, a escola é co-responsável pelos mitos construídos pelos alunos a respeito 
de suas próprias capacidades, inclusive as linguísticas. 
 O processo de normatização, ou padronização, retira a língua de 
sua realidade social, complexa e dinâmica, para transformá-la num ob-
jeto externo aos falantes, numa entidade com "vida própria", (suposta-
mente) independente dos seres humanos que a falam, escrevem, leem e 
interagem por meio dela.
 Precisamos compreender que as línguas variam e isso é algo natural, não há nada de 
“feio” ou “bizarro’ neste fenômeno. 
 As variações linguísticas podem estar ligadas a diferentes fatores, entre eles o geográ-
fico, o social e o situacional. Sobre o último, é importante dizer que o mesmo falante, em di-
ferentes ocasiões, dentro do mesmo dialeto, pode monitorar mais ou menos a sua linguagem 
dependendo do contexto no qual está inserido (formal ou informal) e dos objetivos da comuni-
cação. Afinal, não nos expressamos do mesmo modo numa roda de amigos e numa entrevista 
de emprego. Esse fenômeno é chamado de “diferença de registro” ou de “nível de linguagem”. 
 Há inadequação em relação ao nível de linguagem quando o usuário não leva em conta 
o contexto e se expressa de forma equivocada em relação a ele, sendo formal, por exemplo, 
quando a situação exige o inverso. 
3.3 Linguagem acadêmica
 Como vimos na unidade 1, todo gênero textual apresenta características estáveis para 
ser considerado como tal pela sociedade. Dessa forma, é importante considerarmos a tradição 
textual de uma comunidade linguística para nos comunicarmos eficientemente. 
 Nos textos acadêmicos, que podem se apresentar em diversos gêneros textuais, parece 
51
haver um maior rigor no que diz respeito à linguagem e ao formato do texto e, muitas vezes, se 
não seguirmos as características tradicionais podemos ser “penalizados” de alguma forma. 
 O texto acadêmico é aquele que veicula o resultado de uma investigação científica, 
filosófica ou artística. É preciso, porém, que não confunda “texto acadêmico” com textos de 
“divulgação científica”: 
Divulgação científica
 Textos informativos com vocabulário preciso, frases curtas, ou seja, objetivo. Tem por 
finalidade divulgar para o grande público as descobertas mais recentes no campo das ciências 
em geral.
 Veja que no caso acima o texto é dirigido ao público em geral, pessoas que não neces-
sariamente estudaram academicamente sobre o assunto. Esse é caso das reportagens sobre 
descobertas científicas em revistas comuns, como Superinteressante, Veja, Isto é...
 O texto acadêmico, por sua vez, é direcionado a estudiosos, pesquisadores da área em 
questão. Então, enquanto aluno, precisamos estar cientes de que a linguagem apresenta carac-
terísticas mais formais, uso de vocabulário acadêmico e alta densidade de termos específicos 
da área em questão. 
 Mas como você vai aprender a escrever textos acadêmicos? Não há receita fixa. Você 
aprenderá lendo e observando outros textos acadêmicos e terá que praticar bastante. Hoje em 
dia, com o auxílio da tecnologia e da web, temos muitos textos acadêmicos ao nosso alcance. 
O gênero mais acessível são os artigos acadêmicos:
Gênero textual: artigo acadêmico-científico
 É um gênero de divulgação científica direcionado a pesquisadores, estudiosos so-
bre determinado assunto. Normalmente publicado em revistas acadêmicas, apresenta as 
52 
seguintes partes: Título, nome do(s) autor(es), resumo, resumo em língua estrangeira, intro-
dução (contextualização do tema, objetivos de pesquisa, justificativa), referencial teórico, 
metodologia, resultados e considerações finais.
Linguagem formal e impessoal
 É preciso observar que artigos acadêmicos não são aqueles escritos por jornalistas, mas 
aqueles escritos por pesquisadores para estudiosos daquela área em específico. Hoje em dia, 
os artigos acadêmicos são publicados em revistas acadêmicas online. Você pode procurar na 
web revistas acadêmicas de sua área! Acesse o site dela e percorra os artigos para observar a 
linguagem utilizada. 
 Dentro do artigo acadêmico, temos outro gênero textual: o resumo. Para observamos a 
linguagem acadêmica, veremos o resumo de um artigo da área de Administração e Marketing:
RESUMO
 O comportamento relacionado à compra compulsiva se caracteriza por um impulsoincontrolável e irracional que tende a manifestar-se quando os indivíduos vivenciam sentimen-
tos negativos. Apesar de ser intensamente pesquisada, ainda restam dúvidas sobre os fatores 
influenciadores da compra compulsiva, em especial em públicos potencialmente vulneráveis, 
como é o caso do público adolescente. Ao considerar tal lacuna, este artigo analisa o compor-
tamento de compra compulsiva, assim, buscando compreender os condicionantes oriundos 
dos níveis de autoestima, materialismo, estresse e prazer em comprar especificamente de con-
sumidores adolescentes. A partir da revisão de literatura, foram definidas quatro hipóteses, que 
foram testadas a partir de dados coletados junto a uma amostra de 153 sujeitos. No teste das 
hipóteses, foi utilizada a técnica de regressão da família gama de modelos lineares generaliza-
dos, operacionalizados no software R. Os resultados demonstraram que fatores como estresse, 
53
materialismo e prazer em comprar influenciam o comportamento de compra compulsiva dos 
adolescentes, tendo-se constatado ainda que a autoestima não teve influência na compulsivi-
dade dos respondentes da pesquisa. A pesquisa inova na operacionalização dos dados e avan-
ça no conhecimento acadêmico sobre compulsividade no consumo, gerando conhecimento 
que pode servir para formuladores de políticas públicas e organizações sociais orientadas ao 
interesse do consumidor.
Palavras-Chave: adolescentes; comportamento do consumidor; compra compulsiva
MEDEIROS, F. Gama de et al. Influência de Estresse, Materialismo e Autoestima na Compra 
Compulsiva de Adolescentes. IN: Revista de Administração Contemporânea. 
Disponível em:
h t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i -
d=S1415-65552015000800003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 12-12-2016
Gênero textual: resumo
 É um gênero que sintetiza as informações essenciais de um outro texto. Costuma-se 
seguir a ordem das informações do texto original, sem usar cópias do autor e sem exprimir 
opiniões pessoais.
 Observe que o resumo contido no artigo não apresenta parágrafos. É uma característica 
particular deste gênero acadêmico. O resumo vai mostrar com poucas palavras todo o con-
teúdo do artigo. A linguagem é mais formal e apresenta características típicas da linguagem 
acadêmica:
• uso de verbos no objetivo de pesquisa: “analisar o comportamento”, “buscando compreen-
der os condicionantes”. 
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 A dica para escrita do objetivo é sempre escolher um verbo que exija investigação ou 
reflexão. Prefira: analisar, investigar, comparar, compreender... Evite: fazer. Uma confusão que 
também ocorre é colocar um objetivo do tipo “Contribuir para que a sociedade se torne menos 
preconceituosa”. Este não é um objetivo de pesquisa, mas é um benefício, uma consequência 
que sua pesquisa trará. O objetivo diz respeito ao que você, investigador, irá fazer, ok? 
• a impessoalidade da escrita acadêmica: “Este artigo analisa”, “foram definidas quatro hipó-
teses”, “Os resultados demonstraram”. Veja que aqui os autores do artigo poderiam ter escri-
to “Analisamos no artigo”, “Definimos quatro hipóteses”, “demonstramos que”, mas houve a 
preferência para uma frase impessoal. Sobre esta questão, assista à videoaula “Impessoali-
dade”.
• uso de vocábulos típicos do fazer científico: revisão da literatura, hipóteses, testar hipóte-
ses, coletar dados, amostra, sujeitos. Neste caso específico, são termos mais utilizados para 
descrever aspectos metodológicos da pesquisa. O termo “revisão da literatura”, por exem-
plo, também chamada de “revisão bibliográfica” é uma pesquisa mais aprofundada sobre as 
principais obras que tratam do assunto pesquisado. 
• linguagem formal: Outra característica do texto acadêmico é a formalidade. Precisamos 
considerar que não se trata de uma conversa entre amigos. Então, no texto acadêmico, a 
escolha de nossas palavras deve ser refletida. Devemos fazer uso de uma linguagem sem 
regionalismos, sem gírias... Vamos treinar a questão da formalidade no item a seguir, ok?
 A questão da autoria é algo muito rígida nos textos acadêmicos. O texto em sua totali-
dade deve ser escrito com as palavras do pesquisador, sendo que passagens de outros autores 
devem ser destacadas em forma de citação. Aliás, fazer referência a outros autores no texto 
acadêmico é uma estratégia de argumentação quase que obrigatória. Veja o exemplo:
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Em um dos primeiros trabalhos relevantes sobre o tema, Arndt (1967) 
definiu a comunicação BAB como “uma comunicação oral e pessoal en-
tre um emissor percebido como não comercial e um receptor, tratan-
do de uma marca, um produto ou um serviço oferecido para venda” (p. 
190).
Apesar da sua relevância, essas teorias foram construídas num contexto 
de marketing sem a presença da internet (Dellarocas, 2003; Hennig-Thu-
rau et al., 2004). No final da década de 1990, Buttle (1998) lançou novas 
perspectivas sobre o entendimento da comunicação BAB. Segundo o 
autor, na era da internet, as comunidades on-line geram BAB virtual que 
não é face a face. 
Tubenchlak, Daniel Buarque et al. Motivações da Comunicação Boca a 
Boca Eletrônica Positiva entre Consumidores no Facebook. IN: Revista 
de Administração Contemporânea. 
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S141565552015000100008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 
12-12-2016
 Ao colocarmos as vozes de autores renomados em nosso texto, reforçamos nossa ar-
gumentação e a credibilidade das ideias. Toda pesquisa parte do velho para produzir o novo. 
Pense nisso!
A credibilidade de sua argumentação é prejudicada se você não souber 
selecionar as fontes a serem citadas.
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- Para trabalhos acadêmicos, evite citar WIKIPÉDIA e textos de sites e blogs. Prefira autores 
renomados da área e obras publicadas realmente, como livro, teses, dissertações ou artigos 
acadêmico-científicos. 
Objetivos da Unidade
Unidade IV - 
O Papel Da 
ReescritaIV
- Construir textos considerando a situação comunicativa. 
- utilizar estratégias argumentativas para aperfeiçoar a defe-
sa de ideias.
- Perceber a reescrita de texto como uma reflexão sobre a 
norma padrão. 
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Unidade IV - O Papel Da Reescrita
 Um dos textos mais presentes no nosso dia a dia é o dissertativo, aquele texto por meio 
do qual expressamos nossa opinião, justificamos nossas ideias. 
 Na vida estudantil, esse tipo de texto está presente, por exemplo, nas respostas das 
questões abertas de atividades e de provas. Você precisa defender que seu aprendizado está 
se transformando em conhecimento, não é mesmo? Aquele famoso ditado “porque sim não é 
resposta” é muito verdadeiro. Precisamos argumentar, exemplificar, organizar ideias para de-
fendermos nossa opinião da melhor forma na tentativa de convencer nosso interlocutor. Na 
vida profissional, também precisamos justificar nossas escolhas, argumentar sobre decisões, 
defender novos projetos, não é mesmo?
 Nesta unidade, vamos aprender algumas estratégias para argumentar melhor e tam-
bém faremos uma revisão de alguns pontos de gramática.
4.1 O texto dissertativo
 Segundo Medeiros (1996, p.211), construir um texto dissertativo é apresentar ideias, 
analisá-las, é formar um ponto de vista fundamentando-se na lógica dos fatos, consolidando 
então, relações de causa e efeito.
 É um tipo de texto muito utilizado no meio acadêmico. Na dissertação não basta expor, 
narrar ou descrever, é preciso explicar, explanar, defender uma ideia ou colocar em debate um 
questionamento sobre determinado assunto. O raciocínio nesta composição deve ser claro, 
pois quanto maior a argumentação, maior também a credibilidade e persuasão do texto.
 Precisamos, ainda, ficar atentos na escolha dos argumentos para quenão haja uma in-
coerência argumentativa, por exemplo, em um texto dizermos que todos são iguais perante a 
lei e, depois, criticarmos o privilégio de outras classes sociais no pagamento de impostos:
 Assim também é incoerente defender qualquer ponto de vista contrário a qualquer tipo 
de violência e ser favorável à pena de morte, a não ser que não se considere a ação de matar 
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como uma ação violenta. (IDEM, p.265)
 A elaboração da dissertação está ligada diretamente à habilidade de argumentação do 
autor, de costurar o tema e o ponto de vista aos fatos e elementos que comprovam sua teoria 
distribuídos na estrutura do texto.
 Normalmente, quando pensamos em texto dissertativo-argumentativo, lembramos 
das provas de vestibular e concursos, não é mesmo? Talvez ele seja solicitado justamente por-
que requer organização das ideias, seleção de conhecimento de mundo do produtor, domínio 
da escrita e da norma padrão. Mas não fique com essa ideia fixa, ok? Podemos produzir textos 
dissertativos até mesmo em post de Facebook. Esse tipo textual está muito presente em nosso 
cotidiano. 
 Veja abaixo alguns gêneros que tem caráter dissertativo. 
Resenha crítica
 Apresenta o conteúdo de uma obra. Indica-se a forma de abordagem do autor a res-
peito do tema e da teoria utilizada. É uma análise crítica, pois encerra um conceito de valor 
emitido pelo resenhista sobre a obra em questão. Pode-se fazer uma resenha crítica sobre um 
livro, um show, um espetáculo teatral, entre outros. 
Carta do leitor
 Texto em que o leitor de jornal ou da revista manifesta seu ponto de vista sobre um 
determinado assunto da atualidade, usando elementos argumentativos.
Artigo de opinião
 Assim como o editorial, também é um texto de caráter opinativo. Porém, ao invés de 
representar a opinião do veículo em que está sendo divulgado, tem caráter pessoal. Logo, deve 
vir assinado pelo autor, que se responsabiliza pelo conteúdo, ou seja, pelas opiniões apresen-
tadas.
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Impessoalidade
 Quando vamos escrever um texto dissertativo, uma dúvida sur-
ge. Posso utilizar “eu”, ou seja, a subjetividade textual, como em “acredi-
to”, “na minha opinião”? É importante analisar sempre o gênero textual 
que vamos escrever e o contexto comunicativo. Para dissertações tradi-
cionais e textos acadêmicos, o aconselhado é que o texto seja impessoal. 
 A dissertação tradicional, aquelas solicitadas em provas oficiais, parece estar se tornan-
do um gênero textual bem rígido, com uma série de orientações a respeito do que se pode 
ou não fazer. Na sequência dos estudos, não é nosso intuito engessar o processo de produção 
textual, mas sim fornecer mecanismos que acrescentam qualidade na produção e auxiliam na 
geração de sentido e unidade. Para isso, apresentamos uma estrutura criada para a organiza-
ção da dissertação mais tradicional:
- Introdução: deve mostrar de forma clara o assunto que será tratado, com o intuito de 
situar o leitor conduzindo-o para a dinâmica do texto. A introdução demarca os questio-
namentos que serão tratados no decorrer da discussão. Neste momento pode-se formular 
uma tese, na qual o interlocutor se torna capaz de perceber a opinião do enunciador sobre 
o tema que deverá ser debatido e comprovado durante a argumentação.
 Pereira (2010) ilustra o que dissemos aqui com o exemplo de introdução de um profes-
sor de Direito:
 “A sociedade espera e merece a atuação conjunta dos poderes 
constituídos para imediata realização das necessárias alterações na le-
gislação sobre delinqüência juvenil. O Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA) é uma das leis mais avançadas na proteção da infância e da 
juventude, bem como na preservação do bem-estar da família, mas o 
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fenômeno da criminalidade é mutável, e a aplicação prática de toda lei exige aperfeiçoa-
mento e adaptações”. 
Disponíveis em: www.aescritanasentrelinhas.com.br
 A introdução não pode mostrar tudo do texto, devem existir algumas coisas que intro-
dução também deve esconder, 
A introdução deve esconder pelo menos algum argumento significati-
vo, garantindo que o leitor, à medida que prossegue na leitura, perceba 
um acréscimo na carga de informação transmitida. Se todas as ideias* 
importantes forem apresentadas na introdução, o texto tenderá à re-
dundância, traindo a expectativa do leitor. Assim como um filme deve 
revelar algo de surpreendente, evitando criar a impressão de que tudo 
era previsível, o texto precisa surpreender o leitor, oferecendo-lhe infor-
mações novas. (PEREIRA, 2010, §11)
- Desenvolvimento: É nesta parte do texto que as ideias apresentadas na introdução são dis-
cutidas e relacionadas com os fatos, raciocínios e argumentos comprobatórios da tese exposta 
inicialmente. Mais abaixo, traremos estratégias argumentativas que auxiliarão a construir esta 
parte.
- Conclusão: É o momento de desfecho texto, fazendo um apanhado forte e uma “amarração” 
de tudo o que já foi dito. A conclusão deve fazer uma confirmação final do assunto discutido. 
Veja no fragmento destacado:
62 
 Eliminar a chaga da tortura e da violência policial não é tarefa 
simples. Ela torna-se ainda mais difícil quando altas vozes de comando 
da polícia paulista parecem preferir a linguagem da força e do confron-
to e tratar o respeito aos direitos humanos como um empecilho, e não 
como uma norma inegociável. (PEREIRA, 2010, §22)
Parágrafos
Na escrita, como afirmam alguns autores, noção de parágrafo é, antes 
de tudo, visual, mas não menos importante por isso. A constituição do 
parágrafo pode ser muito variada e dependerá dos objetivos e do públi-
co-alvo do texto e também das intenções do autor.
INADEQUAÇÃO: Existem basicamente dois tipos de problemas: quando o texto é excessi-
vamente longo (bloco indivisível!) com poucos parágrafos e quando o texto é truncado pelo 
excesso de parágrafos.
 Para finalizarmos nosso aprendizado sobre o texto dissertativo, abaixo listamos algu-
mas estratégias que podem ser utilizadas para sua argumentação. Alguns exemplos foram re-
tirados de redações “nota 1000” no ENEM do ano de 2014, de tema “Publicidade Infantil em 
questão no Brasil”:
• Definição de um conceito: muito utilizada na introdução do texto, a definição de uma pa-
lavra ou conceito auxilia na contextualização. Não é considerada meramente informativa, 
pois cada interlocutor pode definir determinado conceito a partir de seu ponto de vista. É 
possível também selecionar uma definição tradicional de dicionário e, a partir da análise de 
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seu texto, iniciar a discussão. 
Exemplo: 
A mobilidade urbana, isto é, as condições oferecidas pelas cidades para garantir a livre 
circulação de pessoas entre as suas diferentes áreas, é um dos maiores desafios na 
atualidade tanto para o Brasil quanto para vários outros países. (Rodolfo F. Alves Pena 
– Mundo Educação)
• Contestação de um conceito ou opinião: consiste na previsão de posicionamentos contrá-
rios e sua contestação. 
Exemplo: 
Há muito tempo as famílias são consideradas aquelas que envolvem a união de um 
homem e uma mulher que geram filhos e, portanto, esse tornou-se o padrão consi-
derado normal e socialmente aceito. Contudo, não é sempre que o amor acontece 
somente entre pessoas de sexo oposto, ou até por duas pessoas e, da mesma forma, 
como indivíduos detentores de direitos, querem formar suas famílias e serem aceitos 
por suas diferenças.
• Ênfase da palavra, uso metalinguístico: para sinalizarmos a escolha proposital 
de uma palavra destaque na argumentação, podemos dar ênfase com a própria repe-
tição dela, com algum destaque de formatação (ou na entonação em comunicações 
orais), ou por meio de expressões como “isso mesmo”, “quer dizer”, “essa palavra”.
Exemplo: 
Ler a Bíblia nas escolas é uma opção. Uma opção de leitura. (Discussão da jornalista 
Rachel Sheherazadesobre o pedido da retirada das Bíblias das bibliotecas públicas)
• Argumentação por autoridade: consiste em trazer vozes de outros autores para auxiliar na 
defesa das ideias. 
Exemplo: 
Prova disso são os dados da UNESCO afirmarem que cerca de 85% das crianças prefe-
64 
rem se divertir com os objetos divulgados nas propagandas, tornando notório que a 
relação entre ser humano e consumo está “nascendo” desde a infância. (Dandara Luíza 
da Costa – Redação Nota 1000 no ENEM de tema Publicidade Infantil)
De acordo com Karl Marx, filósofo alemão do século XIX, para que esse incentivo ocor-
resse, criou-se o fetiche sobre a mercadoria: constrói-se a ilusão de que a felicidade 
seria alcançada a partir da compra do produto. (Giovana Lazzaretti Segat – Redação 
Nota 1000 no ENEM de tema Publicidade Infantil)
4.2 O papel da reescrita
 Faraco & Moura (1999, p.21) falam da adequação da linguagem e sobre a noção de erro. 
Explicam-nos que a sociedade e, portanto, nossa ação social, está permeada de leis e regras 
que devemos obedecer. Isso acontece também com a linguagem: ela tem normas, princípios, 
que precisam ser obedecidos.
 De acordo com os autores, geralmente achamos que essas regras dizem respeito apenas 
à gramática normativa. Tanto isso é verdade para a grande maioria das pessoas, expressar-se 
corretamente em língua portuguesa significa não cometer “erros” de ortografia, concordância 
verbal, acentuação etc. Eles mostram que há, no entanto, outro erro mais comprometedor do 
que o gramatical: o de inadequação de linguagem ao contexto. 
 Em casa ou com os amigos, nós empregamos uma linguagem mais informal, do que em 
avaliações. Ao conversar com nossos professores ou com alguém que não conhecemos, não é 
apropriado utilizar algumas gírias, pois a compreensão do diálogo poderia ficar prejudicada. 
Em uma dissertação solicitada em um concurso público e em texto acadêmicos, é necessário 
que o candidato utilize uma expressão mais formal. Estes exemplos nos ajudam a concluir que 
é essencial adequar o nível de linguagem à situação social.
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Outro ponto importante em nossa produção textual é a reescrita. A reescrita permite que o 
autor realize uma reflexão sobre a própria escrita e enquanto ele reescreve seu texto também 
reconstrói sua percepção da linguagem.
Ortografia
 Apesar das caras de susto que podemos encontrar quando alguém escreve “pesso” em 
vez de “peço”, devemos lembrar que a ortografia de nosso idioma é bastante complexa, já que 
temos vários sons que correspondem a uma só letra e vice-versa. Assim, o domínio da ortogra-
fia só pode ser dar de forma gradativa e depende muito do hábito de leitura. 
 Muitos consideram difícil a missão de colocar os “pensamentos” em palavra escrita e, 
quando se deparam com a escrita acadêmica, parece um desafio inalcançável. Como toda es-
crita, é preciso praticar. A leitura de diversos textos da sua área de pesquisa, a escrita refletida e 
a reescrita são essenciais para que você aperfeiçoe a escrita acadêmica. 
 Vamos trabalhar a revisão de textos de outros alunos? Lembre-se que, quando você for 
66 
escrever seu próprio texto, você também assumirá o papel de seu próprio revisor, ok?
Os textos abaixo apresentam problemas de escrita, seja com relação ao texto acadêmico ou 
com relação à linguagem acadêmica e os padrões da norma culta. Reescreva-os! Você pode 
mudar a estrutura do texto, mudar a argumentação, complementar, como quiser, ok? É um 
exercício para aperfeiçoarmos a escrita. 
Texto 1
No mundo de hoje todos recebem informações e aprendem tudo, na hora e onde quiserem. 
Muitas vezes, quando o aluno chega na sala de aula, ele não está interessado sobre o assunto 
da aula, pois ele já ouviu falar sobre o mesmo na televisão, na internet ou nos jornais. Para que 
o aluno não fique desinteressado sobre o assunto o educador tem que falar sobre ele de ma-
neiras menos paradas e com maior participação. 
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Considerações sobre o texto original
No mundo de hoje todos recebem informações e aprendem tudo, na hora e onde quiserem¹.
Muitas vezes, quando o aluno chega na sala de aula, ele não está interessado sobre o assunto 
da aula, pois ele já ouviu falar sobre o mesmo² na televisão, na internet ou nos jornais. Para 
que o aluno não fique desinteressado sobre o assunto³ o educador tem que4 falar sobre ele de 
maneiras menos paradas5 e com maior participação. 
Comentário1: Estrutura muito informal
Comentário2: Pela gramática, não é adequado retomar algo já dito com “o mesmo”, “a mesma”.
Comentário3: Muita repetição da palavra “assunto”.
Comentário4: Informal
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Comentário5: Como está sendo criado um texto na área de educação, é necessário escolher 
melhor as palavras.
Sugestão de reescrita
Atualmente, com a internet e o desenvolvimento da tecnologia1, a informação pode ser aces-
sada em qualquer circunstância. E toda essa facilidade de informação influencia na aprendiza-
gem2. Muitas vezes, o aluno chega à sala de aula desinteressado, pois o assunto já é conhecido. 
Para diminuir o desinteresse dos alunos, o educador precisa abordar o conteúdo de maneira 
mais dinâmica e participativa.
Comentário1: Melhora da argumentação mostrando a causa.
Comentário2: Tentativa de estabelecer relação (coesão) entre as duas frases.
Texto 2
No presente trabalho, apresento dados da pesquisa que buscou ver o quanto a pobreza dos 
guris e gurias tem a ver com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em escolas de 
ensino fundamental. Analisei os municípios que tem mais de 10.000 habitantes que moram na 
zona rural, ou seja, estudantes carentes que têm dificuldade grandíssima para ir para a escola. 
Ao todo, o número é de mais de 5.500 cidades brasileiras.
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Considerações sobre o texto original
No presente trabalho, apresento1 dados da pesquisa que buscou ver2 o quanto a pobreza dos 
guris e gurias3 tem a ver4 com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em escolas de 
68 
ensino fundamental. Analisei5 os municípios que tem6 mais de 10.000 habitantes7 que moram 
na zona rural, ou seja, estudantes carentes que têm dificuldade grandíssima8 para ir para a es-
cola. Ao todo, o número é de mais de 5.500 cidades brasileiras.
Comentário1: Retirar subjetividade.
Comentário2: Não é um verbo bom para investigação. 
Comentário3: Evitar regionalismos.
Comentário4: Informal
Comentário5: Retirar subjetividade
Comentário6: No plural tem acento = têm
Comentário7: Para deixar o texto mais formal, evite a repetição do QUE.
Comentário8: Evitar adjetivação subjetiva.
Sugestão de reescrita
No presente trabalho, serão apresentados dados da pesquisa que buscou verificar a relação 
entre a condição financeira das crianças e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em 
escolas de ensino fundamental. Foram analisados os municípios com mais de 10.000 habitan-
tes vivendo na zona rural, ou seja, municípios em que há uma grande parcela dos estudantes 
com grande dificuldade de deslocamento para a escola. Ao todo, contabilizam mais de 5.500 
cidades brasileiras.
Texto 3
Neste projeto, foi feito uma pesquisa com donos de empresas sobre a mortalidade das micro 
e pequenas empresas devido a desconhecerem as ferramentas da gestão financeira, o sócio 
da empresa 1 falou que muitos amigos dele já tentaram abrir seus próprios negócios, só

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