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IANI SOARES LUZ XIII – MED PRÁTICA 08 – EPILEPSIA Introdução - Crises epilépticas ou convulsão: Sinais/sintomas transitórios focais ou generalizados decorrentes de atividade neuronal excessiva ou síncrona no cérebro. • Focais: Originam-se em redes neuronais limitadas a um hemisfério cerebral, produzem sinais/sintomas correspondendo à região específica do cérebro afetada pela crise. ◦ O termo “convulsões parciais” não é mais usado. • Generalizadas: Afetam rapidamente extensas redes neuronais em ambos os hemisférios cerebrais, e os sinais/sintomas são coerentes com o envolvimento substancial de ambos os lados do cérebro. - Epilepsia: Grupo de doenças nas quais um transtorno neurológico subjacente resulta em uma tendência crônica de manifestar crises epilépticas recorrentes não provocadas. - Epilepsia é uma doença do cérebro definida por qualquer uma dessas condições (ILAE, 2014): • Pelo menos, 2 convulsões não provocadas (ou reflexas) ocorrendo com intervalo de > 24 h; ◦ O termo “crise provocada” pode ser considerado sinônimo de “crise reativa” ou “crise sintomática aguda”. • Uma convulsão não provocada (ou reflexa) e uma probabilidade de novas convulsões semelhante ao risco geral de recorrência (pelo menos 60%) após 2 convulsões não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos; • Diagnóstico de uma síndrome de epilepsia. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Variáveis associadas a um maior risco de epilepsia: • Insulto cerebral anterior; • Eletroencefalograma (EEG) epileptiforme; • Crise durante o sono. Etiologia e fatores de risco - Metabólicas: Hipernatremia, hiponatremia, hipocalcemia, hipoxia, hipoglicemia, hiperglicemia hiperosmolar não cetótica, insuficiência renal; - Induzidas por substâncias: Teofilina, meperidina, antidepressivos tricíclicos, efedrina, Ginkgo, fenotiazinas, quinolonas, betalactâmicos, isoniazida, anti-histamínicos, ciclosporina, interferonas, tacrolimo, cocaína, lítio, anfetaminas - Abstinência de substâncias: Álcool etílico, benzodiazepinas, barbituratos; - Endócrinas: Hipertireoidismo, hipotireoidismo, periparto; - Outras condições sistêmicas: Crise falciforme, encefalopatia hipertensiva, lúpus eritematoso sistêmico, poliarterite, eclâmpsia, febre alta; - Transtornos do SNC: Traumatismo, AVE, hemorragia intracerebral, encefalite, abscesso, meningite bacteriana. - Entre todos os grupos etários, os 5 principais fatores de risco para desenvolvimento de crises epilépticas sintomáticas agudas são: • Traumatismo craniano (16%), AVE (16%) • Distúrbios infecciosos (15%) • Distúrbios tóxicometabólicos (15%) • Abstinência de álcool e substâncias psicoativas (14%). IANI SOARES LUZ XIII – MED Classificação das crises epiléticas - Classificação de acordo com a Comissão deClassificação e Terminologia da International League Against Epilepsy (ILAE) de 2017: Convulsões de início focal (60% dos casos) - Surgem a partir de uma rede neuronal localizada distintamente dentro de uma região cerebral ou distribuída mais amplamente, porém ainda situada dentro de um hemisfério cerebral. • O EEG interictal (= entre as convulsões) de rotina em pacientes com convulsões focais está frequentemente normal ou pode demonstrar descargas breves, denominadas pontas epileptiformes ou ondas agudas. Convulsões focais perceptivas (intact awareness) Manifestações motoras e não motoras sem comprometimento da percepção. ◦ Manifestações motoras: Movimentos tônicos, clônicos ou mioclônicos; ▪ Marcha jacksoniana: Os movimentos motores anormais podem começar em uma região muito restrita, como os dedos, e avançar de modo gradual (em questão de segundos a minutos) para incluir uma parcela maior do membro, o que representa a disseminação da atividade convulsiva para uma região progressivamente maior do córtex motor; ▪ Paralisia de Todd: Paresia localizada, durante alguns minutos a muitas horas, na região acometida após a convulsão; IANI SOARES LUZ XIII – MED Epilepsia parcial contínua Casos em que a convulsão persiste durante horas ou dias. Muitas vezes é refratária ao tratamento clínico. ◦ Manifestações não motoras: Sintomas sensitivos, autonômicos ou emocionais. ▪ Alterações na sensibilidade somática (p. ex., parestesias), na visão (luzes piscando ou alucinações bem formadas), no equilíbrio (sensação de queda ou vertigem), ou na função autonômica (rubor, sudorese, piloereção). ▪ As convulsões focais que surgem do córtex temporal ou frontal também podem causar alterações na audição, olfato ou estado emocional. • Elas incluem a sensação de odores incomuns e intensos (p. ex., borracha queimando ou querosene) ou sons (grosseiros ou altamente complexos), ou uma sensação epigástrica que ascende do estômago ou tórax para a cabeça. • Alguns pacientes descrevem sentimentos singulares, como medo, sensação de mudança iminente, dissociação, despersonalização, déjà vu, ou ilusões de que os objetos estão se tornando menores (micropsia) ou maiores (macropsia). ▪ Esses eventos “internos” subjetivos, que não são diretamente observáveis por outra pessoa, são designados auras. Convulsões focais disperceptivas (impaired awareness) Comprometimento transitório da capacidade do paciente de manter contato normal com o ambiente. - O paciente é incapaz de responder adequadamente a comandos visuais ou verbais durante a convulsão e tem memória ou percepção da fase ictal comprometidas. - As convulsões costumam começar com aura (convulsão focal sem distúrbio cognitivo), estereotipada para cada paciente. ▪ O início da fase ictal consiste frequentemente em olhar fixo imóvel, que assinala o começo do período de comprometimento da percepção. - A percepção comprometida é habitualmente acompanhada de automatismos, que são comportamentos automáticos involuntários, com ampla variedade de manifestações. ▪ Ex: Mastigar, estalar os lábios, deglutir, ou movimentos de apanhar objetos com as mãos, ou comportamentos mais elaborados, como a expressão de emoção ou o ato de correr. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Em geral, o paciente está confuso após a convulsão, e a transição até a recuperação plena da consciência pode demorar de segundos até 1 hora. - O exame imediatamente após a convulsão pode revelar amnésia anterógrada ou déficits neurológicos transitórios (como afasia, heminegligência ou perda visual) causados por inibição pós-ictal das regiões corticais mais envolvidas na convulsão. Evolução das convulsões focais paraconvulsões generalizadas Convulsões focais podem disseminar-se e comprometer ambos os hemisférios cerebrais, produzindo uma convulsão generalizada, em geral do tipo tônico-clônica. • Essa evolução é observada com frequência após convulsões focais, que surgem a partir de um foco no lobo frontal. • Muitas vezes, é difícil diferenciar uma convulsão focal que evolui para uma generalizada de uma convulsão tônico-clônica primária de início generalizado, visto que as testemunhas tendem a enfatizar a fase convulsiva generalizada, mais dramática, da convulsão, e omitir os sintomas focais mais sutis presentes no início. • Em alguns casos, o início focal da crise só fica evidente quando uma anamnese minuciosa identifica uma aura prévia e/ou uma análise cuidadosa do EEG. A semiologia das crises epilépticas focais inclui manifestações clínicas visuais, gustativas, sensitivas, olfativas abdominais e psíquicas. Convulsões de início generalizado - Originam-se em algum ponto do cérebro, porém ocupam, imediata e rapidamente, redes neuronais em ambos os hemisférios. • Crises de ausência típicas: Caracterizam-se por lapsos breves e súbitos da consciência sem perda do controle postural. ◦ Em geral,dura apenas alguns segundos, a consciência retorna tão rapidamente quanto foi perdida e não há confusão pós-ictal. ◦ As crises de ausência, em geral, acompanham-se de sinais motores bilaterais sutis, como rápido piscar de olhos, movimentos mastigatórios, ou movimentos clônicos de pequena amplitude das mãos. ◦ Estão associadas a um grupo de epilepsias geneticamente determinadas que começam em geral na infância (entre 4 e 10 anos) ou no início da adolescência e são o principal tipo de convulsão em 15 a 20% das crianças com epilepsia. O BS: IANI SOARES LUZ XIII – MED ◦ As convulsões podem ocorrer centenas de vezes durante o dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser incapaz de expressar sua ocorrência. ◦ Essas crises epilépticas começam na infância e os professores na escola são, com frequência, os primeiros a notá-las. Crises de ausência atípicas • A perda de consciência tem duração maior e início e fim menos abruptos, e a convulsão acompanha-se de sinais motores mais evidentes que podem incluir características focais ou de lateralização. ◦ Costumam associar-se a anormalidades estruturais difusas ou multifocais do cérebro e, portanto, podem acompanhar outros sinais de disfunção neurológica, como deficiência intelectual. Convulsões tônico-clônicas generalizadas - São o principal tipo de convulsão em cerca de 10% de todas as pessoas com epilepsia e, também, são o tipo mais comum de convulsão nos distúrbios metabólicos e, portanto, são frequentes em muitas situações clínicas diferentes. ◦ Costuma iniciar-se bruscamente, sem aviso prévio, porém alguns pacientes descrevem sintomas premonitórios vagos nas horas que a antecedem. ◦ Fase tônica: Contração dos músculos de todo o corpo, fato responsável por diversas características clássicas do evento. ▪ A contração tônica dos músculos da expiração e da laringe no início da convulsão produz um gemido alto, ou “grito ictal”. A respiração é prejudicada, as secreções acumulam- se na orofaringe e surge cianose. ▪ A contração dos músculos da mandíbula pode levar o paciente a morder a língua. ▪ Um aumento acentuado do tônus simpático gera aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e do tamanho das pupilas. ◦ Após 10 a 20 segundos, a fase tônica da convulsão evolui para a fase clônica. ◦ Fase clônica: Há a sobreposição de períodos de relaxamento muscular e a contração muscular tônica. ▪ Os períodos de relaxamento aumentam progressivamente até o final da fase ictal, a qual costuma durar não mais que 1 minuto. IANI SOARES LUZ XIII – MED ▪ A fase pós-ictal se caracteriza por ausência de responsividade, flacidez muscular e salivação excessiva que pode causar respiração ruidosa e obstrução parcial das vias aéreas. Nesse momento, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal. ◦ Pós-ictal: Os pacientes gradualmente recuperam a consciência em alguns minutos ou horas. Em geral, o paciente dorme por 2 a 8 horas e, então, queixa-se de cefaleia intensa, músculos doloridos, língua mordida e incapacidade de se concentrar por 1 dia ou mais. ▪ Alguns indivíduos apresentam perda de memória intensa, que gradualmente melhora, às vezes por mais de algumas semanas. ◦ EEG: ▪ Fase tônica: Exibe um aumento progressivo da atividade rápida e generalizada de baixa voltagem, seguido por descargas poli-pontas generalizadas de alta amplitude. ▪ Fase clônica: Atividade de alta amplitude é interrompida por ondas lentas, criando um padrão de ponta onda lenta. ▪ Pós-ictal: Supressão difusa de toda atividade cerebral e, em seguida, lentidão que gradualmente se recupera à medida que o paciente acorda. Convulsões atônicas Caracterizam-se por perda súbita de tônus muscular postural com duração de 1 a 2 segundos. ◦ A consciência é brevemente prejudicada, mas não costuma haver confusão pós-ictal. ◦ Uma convulsão muito breve pode gerar apenas queda rápida da cabeça ou movimento de inclinação da cabeça, enquanto uma convulsão mais longa faz o paciente a cair. ▪ Isso pode ser extremamente perigoso, pois existe um risco substancial de traumatismo craniano na queda. Convulsões mioclônicas A mioclonia é uma contração muscular súbita e breve que pode comprometer uma parte ou todo o corpo. IANI SOARES LUZ XIII – MED ◦ Mioclonia patológica é vista com mais frequência associada a distúrbios metabólicos, doenças degenerativas do SNC, ou lesão cerebral anóxica. ◦ Embora a distinção de outras formas de mioclonia seja imprecisa, as convulsões mioclônicas são consideradas eventos epilépticos verdadeiros, pois são causadas por disfunção cortical (vs. subcortical ou espinal). • Espasmos epiléptico: Caracterizam-se por flexão ou extensão brevemente sustentadas dos músculos predominantemente proximais, incluindo músculos do tronco. ◦ Os espasmos epilépticos ocorrem predominantemente em lactentes e resultam provavelmente de diferenças da função neuronal e da conectividade no SNC imaturo versus maduro. Status epiléptico (estado do mal epiléptico) - As crises epilépticas focais, com ou sem perturbação do estado de consciência, também podem ocorrer como uma série de eventos isolados sem comportamento interveniente normal, resultando em estado de mal epiléptico focal. - Esse quadro com crises epilépticas com consciência prejudicada se caracteriza por comportamento confuso prolongado. - Caracterizado por: • Crises contínuas com duração ≥ 5 minutos; • Crises recorrentes sem a recuperação completa de consciência entre elas. Diagnóstico - Principais diagnósticos diferenciais: Síncope, ataques isquêmicos transitórios, enxaqueca, transtornos de movimento e crises psicogênicas não epilépticas. - O diagnóstico de epilepsia é estabelecido se 1 dos 3 critérios a seguir for cumprido : a. Ocorrência de 2 ou mais crises epilépticas não provocadas ou reflexas com intervalo de mais de 24 horas; b. Uma única crise epiléptica não provocada ou reflexa em uma pessoa cujo risco de recorrência seja de pelo menos 60% nos próximos 10 anos (p. ex., tumor cerebral, hemorragia ou infecção); c. Uma síndrome epiléptica conhecida (p. ex., epilepsia benigna com ondas agudas centrotemporais, epilepsia reflexa). IANI SOARES LUZ XIII – MED - O diagnóstico de epilepsia é, majoritariamente, clínico. - Exames complementares: • EEG; • Exames de imagem; • Exames laboratoriais. Tratamento - O passo mais importante para o sucesso terapêutico é a correta identificação do tipo de crise e síndrome epiléptica, já que os mecanismos de geração e propagação das crises são diferentes. Além disso, os vários fármacos anticonvulsivantes agem por diferentes mecanismos, que podem ou não ser favoráveis a cada síndrome. - Os agentes antiepilépticos parecem atuar basicamente por bloqueio do início ou da propagação das convulsões. • Isso ocorre por meio de diversos mecanismos que modificam a atividade dos canais iônicos ou dos neurotransmissores e, na maioria dos casos, os fármacos possuem efeitos pleiotrópicos. As estatinas demonstram ter uma gama de ações farmacológicas intrigantes, os chamados efeitos pleiotrópicos, que incluem efeitos anti-inflamatórios, antidiabéticos, melhora da doença de Alzheimer, melhora da disfunção endotelial, antioxidante, entre outros. - Os mecanismos incluem: • Inibição dos potenciais de ação dependentes de Na+ de maneira dependente da frequência: Fenitoína, carbamazepina, lamotrigina, topiramato, zonisamida, lacosamida, rufinamida; • Inibição dos canais de Ca2+ dependentes de voltagem: Fenitoína, gabapentina, pregabalina; IANI SOARES LUZ XIII – MED • Facilitação da abertura dos canais de potássio: Ezogabina; • Atenuação da atividade do glutamato: Lamotrigina,topiramato, felbamato; • Potencialização da função dos receptores GABA: Benzodiazepínicos e barbitúricos; • Aumento da disponibilidade de GABA: Ácido valproico, gabapentina, tiagabina; • Modulação da liberação de vesículas sinápticas: Levetiracetam, brivaracetam. • Inibição dos canais de Ca2+ do tipo T nos neurônios talâmicos: Etossuximida e ácido valproico. ◦ Efetivos para as crises de ausência - Em contrapartida à quantidade relativamente grande de antiepilépticos capazes de atenuar a atividade convulsiva, hoje não existem fármacos conhecidos que impeçam a formação de um foco convulsivo após lesão do SNC. IANI SOARES LUZ XIII – MED IANI SOARES LUZ XIII – MED Escolha do medicamento IANI SOARES LUZ XIII – MED Manejo de casos refratários - O controle insatisfatório permanece sendo um problema em cerca de 15% dos pacientes com epilepsia focal, sendo, estes, candidatos ao tratamento cirúrgico da epilepsia ou ao tratamento com novos fármacos experimentais. - A epilepsia de lobo temporal com esclerose hipocampal é particularmente refratária ao tratamento medicamentoso. - A adição de um fármaco de segunda linha reduz a frequência de crises em pacientes com epilepsia parcial e com crises generalizadas .C/D. que não responderam ao tratamento usual. - Os fármacos antiepilépticos mais recentes – oxcarbazepina, lamotrigina, gabapentina, topiramato e vigabatrina – têm demonstrado eficácia e, em muitos casos, melhor tolerabilidade, características farmacocinéticas mais favoráveis e menor potencial para interações medicamentosas em relação aos fármacos antiepilépticos tradicionais. - No entanto, ainda não há informações suficientes a respeito da segurança e da eficácia desses fármacos em relação aos convencionais, e seu papel no tratamento da epilepsia ainda carece de melhor definição. - Seu uso está mais estabelecido como adjuvância a um fármaco de primeira linha no tratamento de crises parciais, sendo efetivos para esse propósito. Entre eles, o topiramato parece ser o mais eficaz, apesar de a sua tolerância também ser inferior. - Se um esquema terapêutico para pacientes refratários ao tratamento não puder ser desenvolvido em conjunto com um neurologista, seja de forma presencial ou por meio de teleconsultoria/telemedicina, deve-se encaminhar o paciente para um centro terciário de tratamento de epilepsias refratárias. Modo de administração - O fármaco escolhido deve ser iniciado com uma dose baixa, para evitar efeitos colaterais, e aumentado em poucas semanas, até atingir a dose de manutenção antecipada, geralmente o limite inferior da dose diária indicada, capaz de atingir concentração plasmática eficaz. - Se as crises recorrerem e houver certeza de que não ocorreu descontinuidade do uso do fármaco, a dose deve ser aumentada. Em caso de falha do primeiro fármaco empregado, deve- se fazer a substituição gradual por outro de primeira linha ou por um representante dos novos antiepilépticos. - A monoterapia deve ser o objetivo sempre que o tratamento é iniciado. Inúmeros estudos indicam que a monoterapia com fármacos de primeira escolha em doses adequadas fornece um controle adequado das crises em 70% dos pacientes adultos com epilepsia focal. - Além disso, a monoterapia evita as interações medicamentosas, facilita a adesão do paciente ao tratamento e apresenta menor frequência de efeitos colaterais e risco de teratogenia. - No entanto, nos casos de epilepsia refratária, a monoterapia é frequentemente insuficiente para o controle das crises, e a associação racional de anticonvulsivantes passa a ser uma alternativa IANI SOARES LUZ XIII – MED útil, sobretudo após a introdução no mercado de fármacos com novos mecanismos de ação, possibilitando a intervenção nos mecanismos de geração e propagação das → → → → crises e a prevenção de dano neuronal. - Associações de fármacos, como carbamazepina e ácido valproico, ácido valproico e lamotrigina, ou ácido valproico e etossuximida, têm demonstrado boa eficácia como politerapia. Verificação da concentração plasmática Esclarecimentos ao paciente O controle das crises depende fundamentalmente do uso de medicamento adequado em doses ótimas, sem interrupção. A maioria dos casos de recrudescimento de crises – e também dos estados de mal epiléptico – resulta da suspensão ou do uso irregular do medicamento. Para a aceitação do tratamento, é fundamental que o paciente seja informado sobre o seu diagnóstico, o prognóstico, os objetivos do tratamento e a necessidade de manter níveis plasmáticos estáveis dos fármacos dentro da faixa terapêutica. Situações facilitadoras de crises são bem conhecidas e incluem privação de sono, uso e abstinência de álcool, fatores emocionais, hiper-hidratação, febre, estimulação luminosa intermitente e medicamentos psicotrópicos (anfetaminas, clozapina e bupropiona). Tempo de tratamento Considera-se o paciente livre de crises quando estas não ocorrem há pelo menos 2 anos em vigência de tratamento com doses de anticonvulsivantes inalteradas nesse período. Não existem critérios definitivos para a interrupção do tratamento medicamentoso, devendo-se levar em conta as consequências médicas e psicossociais da recorrência de crises em relação aos efeitos colaterais dos fármacos anticonvulsivantes, inclusive os efeitos cognitivos e comportamentais mais sutis e os efeitos sobre reprodução e gestação. IANI SOARES LUZ XIII – MED → → → → → → → As taxas de recorrência de crises ficaram em torno de 40% nos pacientes que suspenderam o medicamento após 2 anos sem crises em comparação com 19 a 22% de recorrência de crises nos pacientes que mantiveram o medicamento. Fatores como tempo maior de remissão das crises e menor duração da doença estiveram associados a um melhor prognóstico, enquanto outros estudos indicaram que persistência da lesão determinante das crises, retardo mental, alterações paroxísticas no EEG, crises focais disperceptivas ou múltiplos tipos de crises, necessidade de politerapia e ocorrência de estado de mal epiléptico estão associados a maior risco de recorrência. Retirada do tratamento - O risco de recorrência geral de crises após retirada do fármaco anticonvulsivante é de 34%,32 com todos os fatores associados a essa recorrência: medo de morrer, perda da habilitação para dirigir e perda do emprego e da independência geral. No entanto, o uso desnecessário desses medicamentos adiciona custos e sobrecarga de efeitos colaterais, que contribuem para uma pior qualidade de vida. - Os seguintes preditores de recorrência de crise foram identificados em recente metanálise,32 em que 46% dos pacientes livres de crises após retirada do fármaco anticonvulsivante tiveram uma nova crise durante o acompanhamento e 9% tiveram crises no último ano do acompanhamento, sugerindo a possibilidade de desenvolvimento de epilepsia farmacorresistente subsequente: - anormalidade epileptiforme no EEG antes da retirada; - menor intervalo livre de crises antes da retirada do medicamento antiepiléptico; - maior idade de início da epilepsia; - maior número de convulsões (≥ 10) antes da remissão; - história de crises febris; ausência de uma síndrome de epilepsia autolimitada; - atraso de desenvolvimento (QI < 70) Esses fatores foram agregados em dois nomogramas preditivos um do risco de uma nova crise e outro da probabilidade de estar livre de crises para no mínimo 1 ano no final do acompanhamento. ENCAMINHAMENTO Como mencionado antes, todo paciente com manifestações iniciais de epilepsia deve ser avaliado por neurologista e ser submetido a um EEG. Além disso, a incorporação de um neurologista no manejo está indicada se as crises epilépticas persistirem após a certeza do uso regular e adequado do medicamento.