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QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES AULA 2 Prof. Everton Luiz Vieira 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa estudaremos sobre a relação da qualidade com o fornecimento. As empresas buscam ser mais competitivas no mercado e, para isso, é importante que se possa contar com fornecedores competentes que atuem em sintonia com as estratégias estabelecidas, visando alcançar os resultados esperados. Ter fornecedores bem preparados e confiáveis pode representar um importante fator de sucesso para as empresas. Deste modo, precisam criar uma cadeia de fornecedores composta por empresas competentes que possam atender às condições e níveis de qualidade dos bens e serviços declarados. Os tópicos que serão abordados nesta etapa são: os dez princípios de Ishikawa que fala sobre clientes e fornecedores; também vamos entender sobre as abordagens da qualidade de produtos e serviços; entender quais são os custos da qualidade do fornecedor; compreender a filosofia Just in Time; compreender a importância e vantagens da qualificação de fornecedores. Bons estudos! TEMA 1 – QUALIDADE ENTRE CLIENTES E FORNECEDORES De acordo com Juran (1999), existem basicamente dois tipos de relacionamento entre a empresa-cliente e fornecedor: • “Meu cliente é meu adversário” – é muito comum este tipo de relação. É aquela em que uma das partes tenta de forma consciente, por exemplo, passar um produto inferior, ou um serviço mal elaborado, ou até uma informação que não é verdadeira para o cliente. Crédito: pizzastereo/Shutterstock. 3 • “Meu cliente é meu parceiro” – aqui se tem uma equipe que trabalha para a mesma empresa ou mesmo objetivo, de forma planejada, a relação é baseada em mútua confidência, planejamento conjunto, visitas e assistências mútuas, sem segredos. O fornecedor é considerado uma extensão da empresa compradora. Crédito: Ikon_GrafixShutterstock. É neste último caso que deve ser implementado o programa de desenvolvimento de fornecedores, que não se baseia somente em selecionar, avaliar e acompanhar fornecedores, mas, sim, em uma série de premissas que necessitam da assimilação e total comprometimento da alta direção da empresa: paradigmas precisam ser quebrados, resistência às mudanças, combatidas, e percepção que os resultados virão a longo prazo, conforme Ishikawa (1985). 1.1 Os princípios do controle de qualidade entre clientes e fornecedores segundo Ishikawa O guru da qualidade, Kaoru Ishikawa, desenvolveu dez princípios do controle da qualidade que são necessários para direcionar os relacionamentos entre clientes e fornecedores. Para Santin e Cavalcanti (2004), clientes e fornecedores devem, inicialmente, desenvolver confiança mútua, cooperação e determinação de mútua sobrevivência. Com estes objetivos alinhados, eles devem praticar os seguintes princípios, propostos por Ishikawa: 4 1. Fornecedores e clientes são totalmente responsáveis pela aplicação do controle da qualidade com entendimento e cooperação entre seus respectivos sistemas de controle de qualidade; 2. Devem ser mutuamente independentes e promover a independência do outro; 3. O cliente é responsável por entregar informações e exigências claras e adequadas de tal maneira que o fornecedor saiba precisamente o que deve produzir e oferecer; 4. Fornecedor e cliente, antes de entrar nas negociações, devem fazer um contrato racional com relação à qualidade, quantidade, preço, termos de entrega e condições de pagamento; 5. O fornecedor é responsável pela garantia da qualidade que dará ao cliente a necessária satisfação; 6. Fornecedor e cliente devem decidir, com antecedência, sobre o método de avaliação de vários itens que seja admitido como satisfatório para ambas as partes; 7. Ambos devem estabelecer no contrato os sistemas e procedimentos por meio dos quais podem atingir acordo amigável de disputas, sempre que qualquer problema ocorrer; 8. Ambos, levando em consideração a posição do outro, devem trocar informações necessárias a melhor condução do controle de qualidade; 9. Ambos devem sempre conduzir de maneira eficaz as atividades de controle dos negócios, tais como pedidos, planejamento de produção e estoque, trabalho administrativo e sistemas, de maneira que o relacionamento deles seja mantido em uma base amigável e satisfatória; 10. Ambos, quando estiverem tratando de seus negócios, devem sempre levar em conta o interesse do consumidor final. De acordo com Santin e Cavalcanti (2004), a ideia de cooperação proposta por Ishikawa, juntamente com os princípios da qualidade total, busca substituir, de forma inequívoca, a abordagem de disputa pelo poder, comum entre cliente e fornecedor. O objetivo do fortalecimento da relação com os fornecedores é assegurar que o produto esteja em perfeitas condições de uso, com o mínimo de inspeções e ações corretivas. Para isso, espera-se que o fornecedor e a empresa desenvolvam cada um o perfil adequado para consolidar essa nova relação. 5 Ishikawa (1985) relaciona algumas características do perfil para ambas as partes: • Perfil fornecedor – o que a empresa-cliente espera do fornecedor: o Compreensão da política administrativa da empresa compradora; o Estabilidade administrativa, confiança e respeito por parte da sociedade; o Elevada capacitação tecnológica, capaz de absorver inovações ou introduzir conhecimentos de ponta e de vanguarda; o Fornecimento com qualidade assegurada conforme as especificações, tanto das matérias-primas como dos componentes e condições de aprimoramento do processo; o Capacidade e habilidade para atender às quantidades necessárias de fornecimento e investimento; o Segurança contra vazamentos de informações confidenciais; o Preço de venda adequado, pontualidade no fornecimento, facilidade de comunicação e de transporte entre as fábricas; o Capacidade de cumprir contratos transparentes, sinceros e objetivos. • Perfil fornecedor – o que o fornecedor espera da empresa cliente? o Detectar a realidade dos fatos mantendo um contato permanente com o fornecedor, consolidando uma confiança mútua; o Analisar e avaliar o fornecedor, baseando-se nos resultados de inspeção de recebimento, resultados de entrega e da própria performance do componente durante o uso integrando o produto final; o Além da própria auditoria da qualidade realizada junto ao fornecedor, detectar os problemas críticos de qualidade e fornecer subsídios que poderão contribuir para sua solução; o Instituir sistemática de reconhecimento da qualidade fornecida, concentrando certificados e diplomas aos fornecedores. Os resultados da auditoria também deverão ser comunicados e, se possível, efetuar recomendações de utilidade. 6 1.2 Trilogia de Juran aplicada às relações com fornecedores Para Juran (1999), o gerenciamento da qualidade necessita do uso extensivo de três processos gerenciais, que juntos forma a Trilogia de Juran, conforme figura 1. Figura 1 – Trilogia de Juran Esses três processos que fazem parte da Trilogia de Juran são compostos por uma série de etapas, conforme quadro 1. Quadro 1 – Etapas dos três processos de gerenciamento da qualidade Planejamento da qualidade - Estabelecer metas de qualidade; - Identificar quem são os clientes; - Determinar quais as necessidades dos clientes; - Desenvolver especificações de produtos que atendem às necessidades dos clientes; - Desenvolver processos capazes de realizar os produtos especificados; Planejamento da qualidade Controle da qualidade Melhoria da qualidade 7 - Estabelecer o controle de processos e implementá-los. Controle da Qualidade - Avaliar o desempenho atual; - Comparar o desempenho atual com as metas de qualidade; - Atuar nas diferenças; Melhoria da Qualidade - Estabelecer ainfraestrutura; - Identificar os projetos de melhorias; - Estabelecer as equipes de projeto; - Prover recursos, treinamentos e motivação as equipes para: - Diagnosticar as causas; - Estimular soluções. - Estabelecer controles para manter os ganhos. Fonte: Juran, 1999. Sob a perspectiva dos relacionamentos empresa-fornecedor, tais filosofias buscam, por meio de relações estáveis, colaborativas e de longo prazo, a obtenção de vantagem competitiva através da melhoria da qualidade e redução dos custos de produção ao longo da cadeira de suprimentos. TEMA 2 – QUALIDADE DE BENS E SERVIÇOS A preocupação com a qualidade dentro das organizações já existe desde o início do século XX, no entanto, as diversas formas pelas quais as empresas planejam, definem, obtêm, controlam, melhoram continuamente e demonstram a qualidade tem sofrido grandes evoluções ao longo dos anos, respondendo a mudanças políticas, econômicas e sociais (Mendes, 2007). Neste sentido, os clientes são os protagonistas de todo o processo organizacional, devendo as decisões de negócio e as tarefas operacionais ter em conta e procurar superar as necessidades e expectativas dos clientes de forma a alcançar a plena satisfação dos seus requisitos. 8 2.1 Bens e serviços Seleme e Paula (2013) citam que, como parte de um produto, o bem é considerado um objeto que sofreu um processo de transformação (manufatura) para resultar no atendimento de uma necessidade de um cliente. Podemos enquadrar nessa categoria elementos como móveis, eletrodomésticos, eletrônicos, automóveis etc. Figura 2 – Exemplo de bens Crédito: sdp_creations/Shutterstock. O serviço, por sua vez, compreende “qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não 9 resulta na propriedade de nada. A execução de um serviço pode ou não estar ligada a um produto concreto” (Kotler, 2000, p. 448). Figura 3 – Exemplo de serviço: corte de cabelo Crédito: Net Vector/Shutterstock. A principal diferença entre bens físicos e serviços é que, no bem, existe transferência de propriedade, ou seja, tornamo-nos donos de um carro, lápis, computador, mas não de uma consulta com um médico ou um serviço de corte de cabelo. De acordo com Paladini (2000) a área de prestação de serviços envolve a produção de serviços propriamente dita e a estruturação de métodos. Ao contrário do caso industrial, não há possibilidade aqui de se separar, com nitidez, o processo produtivo da prestação de serviço – ambos se confundem. Dessa forma, no ambiente de prestação de serviços, a gestão da qualidade centra-se fundamentalmente na interação com o usuário. É nesse processo interativo que a qualidade aparece. No quadro 2 é possível observar algumas características de bens e serviços, as quais definem a natureza do fornecimento de cada um. 10 Quadro 2 – Características distintivas entre bens e serviços Bens puros Serviços puros Tangível Intangível Pode ser estocado Não pode ser estocado A produção precede o consumo A produção e o consumo são simultâneos Baixo nível de contato com o consumidor Alto nível de contato com o consumidor Pode ser transportado Não pode ser transportado A qualidade é evidente É difícil julgar a qualidade Fonte: Slack et al., 2009. Ao avaliar a qualidade de um item, são consideradas suas características físicas, como forma, cor e acabamento, ou seja, julgar a qualidade por critérios objetivos. No que diz respeito à avaliação da qualidade do serviço, os critérios são mais subjetivos, pois dependem das características e capacidades do cliente, bem como do fornecedor ou prestador de serviço. Assim, por exemplo, um corte de cabelo depende das habilidades do cabeleireiro e das características do cliente. No entanto, o corte pode não satisfazer o cliente e, apesar da alta habilidade do cabeleireiro, o cliente perceberá o serviço como de baixa qualidade (Seleme; Paula, 2013). Carpes Jr. (2014) realizou a unificação das classificações de Kotler para explicar produtos, conforme quadro 3. Quadro 3 – Classificação de produtos Produto tangível É o produto em si, o material físico oferecido ao comprador Produto genérico É o benefício essencial que o comprador espera obter do produto ou a solução de um problema Produto esperado É o produto com todo o conjunto de serviços que o acompanha, ou seja, é tudo o que está contido no produto genérico, mais as características dos componentes esperados do produto, como entrega (local e frequência), condições (preços, 11 descontos, prazos e quantidades), esforço de apoio (orientação de uso, instalação, manutenção e garantias), novas ideias (sugestão de fornecedores, clientes, universidades para utilização e formas de otimizar os recursos do produto) Produto ampliado É quando o produto oferece mais do que o cliente esperava, evidenciando a surpresa positiva em termos de melhoria, evolução e inovação Fonte: Carpes Jr., 2014. Slack et al. (2009) cita que produtos e serviços são usualmente a primeira coisa que clientes veem em uma empresa. Por esse motivo, é importante que sejam projetados para atender suas necessidades e expectativas. Os clientes também podem esperar que os projetos sejam atualizados com certa frequência para exprimir modernidade, avanços tecnológicos e as mudanças de suas necessidades. Logo, além do mérito intrínseco do projeto de seus produtos e serviços, para muitas organizações, o desenvolvimento contínuo de projetos e a criação de projetos totalmente novos também ajudam a definir sua posição competitiva. Paladini (2000) realizou a classificação das diferenças básicas entre a gestão da qualidade em um ambiente industrial na fabricação de bens e ambiente de prestação de serviços, conforme quadro 4. Quadro 4 – Diferenças básicas entre a gestão da qualidade de bens e serviços Gestão da qualidade em ambientes industriais (bens) Gestão da qualidade em ambientes de serviços O esforço pela qualidade aparece no produto O esforço aparece na interação com o cliente Interação com clientes via produto Interação direta com clientes Elevado suporte Baixo suporte Baixa interação Intensa interação Suporte ao produto (qualidade de produto) Suporte ao cliente (qualidade de serviço) 12 Cliente atua ao final do processo produtivo Cliente presente ao longo do processo produtivo Produção e consumo em momentos bem distintos Produção e consumo simultâneos Feedback (retorno do usuário sobre o produto adquirido) pode demorar Feedback imediato Expectativas menos sujeitas a mudanças abruptas Expectativas dinâmicas Cliente tende a não influenciar no processo produtivo Cliente participa do processo produtivo Resulta em um conjunto de elementos (máquinas e pessoas) Resulta mais do desempenho dos recursos humanos Condições favoráveis a padronização Difícil padronizar Tende a uniformizar-se a médio prazo Difícil ter um modelo uniforme de execução Fonte: Paladini, 2000. Existem muitas maneiras pelas quais os produtos e serviços podem ser diferenciados dos seus concorrentes, quando escolher um tipo de diferenciação a ser adotada, devem ser levados com consideração vários fatores: o custo da diferenciação, o valor agregado da diferenciação, o custo da diferenciação em relação ao valor agregado, a chance de o concorrente copiar a diferenciação e a velocidade com que isso poderá ocorrer. TEMA 3 – CUSTO DA QUALIDADE DO FORNECEDOR Para Feigenbaum (1994) os custos da qualidade podem ser definidos como: custos relacionados à definição, criação e controle de qualidade, assim como a avaliação e realimentação da conformidade com exigências em qualidade, confiabilidade e segurança e associados às consequências decorrentes de falhas em atendimento a essas exigências durante o processoprodutivo ou nas mãos dos clientes. 13 Figura 4 – Custos no processo produtivo Crédito: eamesBot/Shutterstock. Segundo Crosby (1994), qualidade não custa, mas é, sim, um investimento com retorno assegurado. O que custa e causa prejuízos às organizações é a não qualidade, que seria a falta de um nível de qualidade aceitável. Os custos da qualidade consistem na medida dos custos especificamente associados ao sucesso e ao fracasso no processo de obtenção da qualidade, é representado pelo somatório dos custos de prevenção, custos de avaliação, custos de falhas internas e custos de falhas externas, conforme figura 5. Figura 5 – Custos da qualidade Custos da qualidade Custos de prevenção Custos de avaliação Custos de falhas internas Custos de falhas externas = + + + Custos inevitáveis Custos evitáveis 14 Para Juran (1999), os custos de prevenção e avaliação são categorizados como “Custos inevitáveis”, pois a empresa precisa investir em prevenir problemas e avaliar a qualidade de seus produtos ou serviços. Já os custos de falhas internas e externas são “Custos evitáveis”, pois dizem respeito a problemas de qualidade que ocorrem dentro e fora da empresa. Os custos da qualidade com fornecedores podem ser enquadrados nos custos de prevenção e avaliação em que a empresa pode trabalhar para ter fornecedores com qualidade assegurada dos itens comprados, a fim de evitar custos de falhas internas e externas. 3.1 Tipos de custos da qualidade do fornecedor De acordo com Marinho e Neto (1997) os custos da qualidade do fornecedor podem ser considerados como os custos relacionados com problemas de qualidade detectados nos itens que são fornecidos. São conhecidos como custos da “não qualidade” e podem incluir uma grande gama de itens de custo, muitos difíceis de mensurar. Quando avaliar um fornecedor, não devemos levar em consideração apenas o preço de aquisição, mas, sim, o custo total envolvido. Na maioria dos casos um menor preço pode representar um custo maior, devido a muitos fatores que são embutidos no custo do material. Moura (2009), cita alguns: • Custo da qualidade o É formado por elementos mensuráveis, como custos de testes, custos com inspeções de recebimento, perdas com sucatas, retrabalhos, entre outros custos. • Custo da garantia da entrega o Quando não há o cumprimento dos prazos de entrega, pode haver custos adicionais, como paradas de produção, atrasos de entrega, estoques intermediários, vendas perdidas. • Custo de tempo de resposta o Quando o “lead time” de fornecimento é maior que o esperado, fazendo com que a empresa tenha custos com estoques de segurança para evitar a falta de materiais e necessidade de programação. • Custo de lotes de reposição 15 o Problemas com abastecimento podem levar a empresa a possuir estoques médios elevados para não sofrer com a falta de materiais, podendo causar obsolescência de itens em caso de mudança de produto ou atualização tecnológica. • Custo da falta de melhoria o No longo prazo, caso a empresa não invista em melhorias, pode gerar redução de margens de lucratividade e não se verifica a redução nos custos da qualidade. • Custo da obsolescência tecnológica o Perda de oportunidades por não se atualizar tecnologicamente ao mercado, consequentemente gerando perda de negócios. Realizando esses levantamentos as empresas podem se tornar capazes de selecionar fornecedores baseando-se no menor custo total em vez do menor preço ofertado. TEMA 4 – JUST IN TIME Segundo Rodrigues (2014) o just in time teve como visionário o Sr. Kiichiro Toyoda, mesmo antes do surgimento da Toyota, da qual foi fundador. Após uma visita realizada na fábrica da Ford, em Detroit, foi inspirado a conceber um sistema para controlar os estoques em todas as estações de trabalho, reduzindo, assim, desperdícios em toda a linha de produção. Segundo Ohno (1997) a base do Sistema Toyota de Produção é a absoluta eliminação do desperdício, os dois pilares que sustentam o sistema são: Just in Time e Jidoka. O JIT significa que, em um processo de fluxo, as partes corretas necessárias a montagem alcançam a linha no momento e quantidade necessários. A tradução do termo just in time significa no tempo certo, esse significado vem ao encontro do que a Toyota buscava em seus processos. 16 Figura 6 – Just in time Crédito: phoelixDE/Shutterstock. Para Léxico Lean (2007) o JIT tem por objetivo a total eliminação dos desperdícios para atingir a melhor qualidade possível, o custo mais baixo possível, o menor tempo de produção e o menor lead time de entrega. Pode parecer simples inicialmente, mas o JIT requer disciplina para que seja possível sua eficaz implementação. O JIT ajuda as empresas na redução dos seus estoques, tendo o produto na hora certa e na quantidade certa. Na figura 7, podemos observar que quando a empresa vai reduzindo seus estoques, muitos problemas vão surgindo. O estoque é representado pelo nível de água, e os problemas são as rochas. Quanto mais estoque a empresa tiver, fica mais difícil visualizar os problemas, pois as ineficiências são encobertas pelo alto nível de estoques. 17 Figura 7 – Desvendando problemas de produção ao reduzir estoques Conforme o nível dos estoques são reduzidos, os problemas aparecem com maior facilidade, o que demanda muito esforço e dedicação dos envolvidos no processo para melhorá-lo. Para Dennis (2009) a produção JIT tem algumas regras: • Não produza um item sem que o cliente tenha realizado um pedido; • Nivele a demanda para que o trabalho possa proceder de forma tranquila em todos os processos; • Conecte todos os processos à demanda do cliente por meio de ferramentas visuais simples (conhecidas como Kanban); • Maximize a flexibilidade de pessoas e máquinas. 4.1 Princípios do sistema JIT De acordo com Rodrigues (2014), para entender e conceber o JIT é preciso entender seus princípios norteadores que buscam a melhoria contínua dos processos a partir da busca de: • Ambiente de trabalho limpo e organizado; • Células de produção com base na tecnologia de grupo; • Sistemas a prova de falhas humanas; • Sistemas e equipamentos controlados pelo operador; • Menor tempo de preparação de máquina; • Maior integração operador x máquina; Problemas de produção Quebras de máquinas Absenteísmo de trabalhadores Problemas de qualidade Materiais fora de especificação Desequilíbrios de carga de trabalho Falta de materiais Estoque em processo 18 • Sistema de produção puxada pelo cliente; • Zero estoque em todo o processo; • Um eficaz abastecimento e otimização da relação com os fornecedores ou parceiros; • Zero defeitos; • Zero desperdício; • Qualidade total. O JIT tende a direcionar a organização para um menor lead time (tempo do recebimento do pedido até a entrega), reduzir custos, eliminar os desperdícios, aumentar a flexibilidade, dar confiabilidade ao sistema e, acima de tudo, possibilitar uma integração eficaz entre o ciclo de produção e o ciclo de consumo, fazendo com que a produção atenda completamente o valor do cliente (Rodrigues, 2014). 4.2 Componentes do sistema JIT Dennis (2009) cita que o JIT é composto por alguns componentes, que são: • Kanban: um sistema de ferramentas visuais (cartões de sinalização) que sincronizam e fornecem instruções aos fornecedores e clientes interna e externamente à fábrica. • Nivelamento da produção ou heijunka: dá suporte ao trabalho padronizado e ao kaizen, a meta é produzir no mesmo ritmo todos os dias para minimizar os picos e vales na carga de trabalho. Irracionalmente, heijunka também dá suporte para que haja uma rápida adaptação a demanda flutuante. O kanban e heijunka, por sua parte, dependem de:• Trocas rápidas de máquinas e ferramentas que permitem respostas rápidas aos pedidos diários de clientes e minimizam o desperdício de espera. • Gerenciamento visual por meio do sistema 5S, que tornam as condições de produção transparentes para toda a equipe e coordena ações. • Processos capazes, o que significa métodos, operadores e máquinas competentes: 19 o Métodos competentes significam trabalho padronizado que fornece uma base para kaizen. Também significa aplicar jidoka para minimizar e conter os defeitos do processo. o Operadores capazes significam solucionadores de problemas com múltiplas habilidades que circulam de uma tarefa para outra e se envolvem em atividades de melhoria. o Máquinas competentes significam atividades de manutenção produtiva total (TPM) e 5S que ataquem as grandes perdas da produção (equipamento, avarias, atrasos de setup e de ajuste, ociosidade e paradas menores, velocidade reduzida, defeitos do processo e produção reduzida). Para Ghinato (1995) é fundamental que se entenda que o JIT é somente um “meio” de alcançar o verdadeiro objetivo do STP que é o de aumentar a lucratividade por meio da eliminação completa das perdas. TEMA 5 – IMPORTÂNCIA E VANTAGENS DA QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES Quando se fala em qualidade, sabe-se que ela é um fator decisivo na escolha de um produto ou serviço e, ao estabelecer um padrão de qualidade do produto, vai depender do grau de interação que a empresa fabricante do produto ou serviço tem com seus fornecedores. Por meio da qualificação de fornecedores, nota-se a importância para as empresas de se receber produtos ou serviços com qualidade assegurada dos seus fornecedores. Um grande passo para o sucesso das empresas é firmar parcerias sólidas com seus fornecedores, pois o sucesso baseia-se quase que exclusivamente na qualidade do produto ou serviço produzido. De acordo com Santin e Cavalcanti (2004), as empresas adquirem de seus fornecedores, muitas vezes, mais do que 50% dos valores de suas vendas. Por isso, existe uma grande preocupação de contar com fontes confiáveis para operar no fornecimento de produtos e serviços. Quando a empresa possui uma variedade de empresas aptas a satisfazer suas necessidades de fornecimento, terá alternativas para obter melhores condições de compras, podendo obter redução de custos e oportunidades de negócios. 20 Para Serra (2006), a terceirização com utilização de fornecedores deve ser adotada de modo coerente, alinhando os propósitos e estratégias da empresa e deixando claro seu objetivo. São listados alguns objetivos da terceirização: • Redução de custos: quando o preço praticado pelo mercado é menor que o custo interno e, por fazer uso de profissionais especializados, aumentando a produtividade e qualidade; • Focalização em atividades estratégicas ou de maior retorno: permite que a empresa fique mais enxuta, melhorando o fluxo de informação especializada e flexível; • Melhoria da qualidade: por fazer uso de empresas especializadas, existe a possibilidade de se obter maior garantia da qualidade; • Utilização e acesso a novas tecnologias: os fornecedores tendem a ser mais bem capacitados em determinadas atividades que não representam o negócio ou interesse da empresa; • Mudanças organizacionais: com as evoluções e alterações mercadológicas, a empresa deve responder com mais rapidez as mudanças e, fazendo uso de fornecedores, essa ação tende a ser mais fácil e menos onerosa; • Racionalização produtiva: a partir da definição do foco de atuação da empresa, deve-se racionalizar o sistema produtivo, delegando a terceiros o que não é estratégico; • Especialização flexível: a empresa tende a atuar com maior flexibilidade pelo uso de fornecedores, podendo chegar a ser uma gestora de um conjunto de células produtivas, envolvendo fornecedores de serviços ou bens; • Adequação às tendências internacionais: a competição global requer, muitas vezes, a adoção de práticas adequadas a realidades internacionais distintas e as estratégias definidas podem envolver o uso de fornecedores de outros países. 5.1 Parcerias entre cliente e fornecedor De acordo com Macedo (2002) a relação entre cliente e o fornecedor deve ser sólida e clara, pois qualquer problema que venha a acontecer no 21 fornecimento poderá desencadear uma série de situações indesejáveis. Realizar aquisições bem-sucedidas é um pré-requisito para a qualidade do produto final. Para uma empresa que deseja manter uma política baseada em desenvolver, produzir e comercializar produtos com alto nível de qualidade é essencial assumir uma sólida parceria com seus fornecedores. Figura 8 – Parceria entre clientes e fornecedores Crédito: Net Vector/Shutterstock Para Band (1997), a relação entre cliente e fornecedor pode se dar de diversas formas. De qualquer modo, para que o relacionamento entre eles alcance o ideal de colaboração, deve passar pelos seguintes estágios: • Estágio 1: tanto fornecedor quanto cliente estão incertos quanto ao nível de comprometimento da outra parte no esforço de cumprir o acordo; • Estágio 2: o cliente é pressionado a cumprir um objetivo relacionado aos custos (reduzir custos dos produtos na aquisição) e o fornecedor pressionado a aumentar o volume dentro do orçamento (aumentar a quantidade de itens e reduzir os custos no orçamento); • Estágio 3: o cliente tenta obter o controle de pedidos e o fornecedor procura garantir o negócio devido a investimentos realizados; 22 • Estágio 4: ambos os lados buscam a criação de um novo relacionamento que traga benefício mútuo; • Estágio 5: ambas as partes devem renunciar ao interesse pessoal e independência em favor da confiança, a fim de se obter uma aliança; • Estágio 6: passa-se a discutir novos valores, tais como investimentos em equipamentos, resolução de problemas e melhoria contínua para garantir a aliança realizada; • Estágio 7: cliente e fornecedor são parceiros, obtendo margens maiores de lucro, qualidade assegurada, tempo de resposta rápido e consequentemente estoques menores para os clientes e produção flexível. Segundo Moura (2009) quando um ideal de colaboração é alcançado na relação entre clientes e fornecedores, é possível obter bons resultados. Essa relação deve ser construída de acordo com regras claras e de forma que se mantenha o entendimento e os objetivos em comum para que haja sucesso na parceria entre clientes e fornecedores. 5.2 Vantagens da Qualificação de fornecedores Para Baily et al. (2000) a qualificação de fornecedores consiste em um modo de avaliação da conformidade de empresas realizada através de auditorias de certificação para verificar o atendimento a requisitos estabelecidos. Sua intenção é definir e avaliar as características do “melhor fornecedor”. Pode-se citar alguns atributos de um bom fornecedor: • Cumpre prazos de entrega; • Fornece itens com qualidade; • Oferece preços competitivos; • Tem um bom histórico de referências de negócios; • Fornece um bom serviço; • Cumpre o prometido; • Apoia seus clientes tecnicamente. As empresas podem obter muitas vantagens ao manter um cadastro de fornecedores qualificados, entre elas: 23 • Redução de atrasos nos processos de fabricação ao se evitar devoluções de materiais; • Otimização do processo de fabricação dos produtos; • Redução do nível de inspeções a serem efetuadas ao ter um fornecedor qualificado com qualidade assegurada; • Tendo fornecedores qualificados existe a otimização dos processos de recebimento e incorporação no estoque dos materiais; • Atender legislações vigentes, quando for o caso. De um modo geral, a qualificação de fornecedores se refere aos esforços que a empresa faz para criar e manter uma rede de fornecedores competentes, envolvendo também um esforço cooperativo de longo prazo entre uma empresacompradora e seus fornecedores para atingir as melhorias desejadas. Como meta final, esses programas buscam formar relacionamentos mutuamente benéficos que ajudarão ambas as empresas a competirem mais eficientemente no mercado, mantendo uma política de qualidade total. FINALIZANDO Nessa etapa aprendemos que clientes e fornecedores precisam trabalhar em parceria para que consigam atingir os objetivos estabelecidos na relação de negócios, e a qualidade é um dos elementos de sucesso no fornecimento de bens e serviços. Quando se tem qualidade nos itens fornecidos, muitos problemas e custos são evitados, fazendo com que o cliente tenha confiança nos itens adquiridos de seu fornecedor. Também estudamos sobre o conceito de Just in Time, que tem por objetivo a total eliminação dos desperdícios para atingir a melhor qualidade possível, o custo mais baixo possível, o menor tempo de produção e o menor lead time de entrega. No último tópico falamos sobre a importância e vantagens da qualificação de fornecedores, que tem grande importância para as empresas, pois podem receber produtos ou serviços com qualidade assegurada dos seus fornecedores. 24 REFERÊNCIAS BAILY, P. et al. Compras: princípios e administração. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2000. BAND, W. A. Competências Críticas - Dez Novas Idéias para Revolucionar a Empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997. CARPES JR, W. P. Introdução ao projeto de produtos. [S.l.]: Bookman Editora, 2014. CROSBY, P. B. Qualidade é investimento. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994. DENNIS, P. Produção lean simplificada. Bookman Editora, 2009. FEIGENBAUM, A. V. Controle da Qualidade Total: gestão e sistemas. V.1. São Paulo: Makron Books, 1994. GHINATO, P. Sistema Toyota de Produção: mais do que simplesmente just-in- time. Production, v. 5, n. 2, p. 169-189, 1995. ISHIKAWA, K. What is Total Quality Control? The Japanese Way, Prentice Hall Inc. Englewood Clifs: N. J., 1985. 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