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Brasil Colônia Unidade II

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Prévia do material em texto

História do Brasil 
Colonial: Consolidação 
e Tensões Sociais
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profª. Dra. Celia Maira Estrella
Revisão Textual:
Profª. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
5
• Primórdios do nacionalismo brasileiro
• Pensamento ilustrado e nacionalismo
• Movimentos separatistas
• Considerações finais
 · Analisar o surgimento e os fundamentos do sentimento nacional no Brasil.- 
 · Conhecer, apontando suas semelhanças e diferenças, os movimentos separatistas 
que antecedem a independência. 
Leia atentamente o conteúdo desta unidade. Ela trata dos movimentos separatistas do 
Brasil colonial e dos primórdios do um projeto de “nação brasileira”, levado a cabo décadas 
mais tarde com a independência.
Você encontrará nesta unidade uma atividade composta por questões de múltipla escolha 
e terá a oportunidade de trocar conhecimentos e debater em nosso fórum de discussão os 
assuntos abordados.
É extremamente recomendável que você consulte também a bibliografia da unidade e os 
materiais complementares. São valiosas fontes de informação que podem ajudá-lo a aprofundar 
seus conhecimentos sobre os temas em questão.
As Rebeldias contra a Metrópole: 
Rupturas
6
Unidade: As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
Contextualização
Antes de partir para o texto do material teórico, leia este poema de 1798 atribuído a 
Francisco Muniz Barreto, professor envolvido na chamada Inconfidência Baiana, um dos 
movimentos que analisaremos nesta unidade.
Atente para o vocabulário, para a escolha das palavras, e para as ideias políticas presentes 
no poema. Elas dão pistas das mudanças culturais e políticas que impactaram o mundo inteiro 
no século XVIII e também dos conflitos sociais que fizeram os colonos brasileiros se levantarem 
contra o domínio de Portugal. Trataremos desses dois assuntos ao longo da aula.
Igualdade, e liberdade,
No Sacrário da razão,
Ao lado da sã justiça
Preenchem o meu coração.
I
Se a causa mortis dos entes
Tem as mesmas sensaçoens
Mesmos organos, e precizoens
Dados a todos os viventes,
Se a qualquer suficientes
Meios da necessidade,
Remir deo com equidade;
Logo são imprescritíveis
E de Deus Leys infallíveis
Igualdade, e liberdade.
II
Se este dogma for seguido
E de todos respeitado,
Fará bemaventurado,
Ao povo rude, e polido.
E assim que florecido
Tem da América a Nação!
Assim fluctue o Pendão
Dos Francezes, que a imitarão
Depois que affoutos entrarão
No Sacrário da razão.
III
Estes povos venturozos
Levantando soltos os braços,
Desfeitos em mil pedaços
Feres grilhoens vergonhosos,
Jurarão viver ditozos,
Izentos da vil cobiça.
Da impostura, e da preguiça
Respeitando os Seos Direitos,
Alegres e satisfeitos
Ao lado da sã Justiça
IV
Quando os olhos dos Baianos
Estes quadros divizarem,
E longe de si lançarem
Mil despóticos tiranos,
Nas suas Terras serão!
Oh doce commoção
Experimentão estas venturas,
Se ellas, bem que futuras
Preenchem o meo coração.
7
Primórdios do nacionalismo brasileiro
Nas unidades anteriores do curso, vimos alguns dos traços mais marcantes da sociedade 
colonial: modelo econômico exploratório, com os principais centros geradores de riqueza 
voltados para fora do país, isto é, para o mercado europeu; baixa densidade demográfica e 
distribuição desigual da população, com a formação de núcleos mais densos geralmente no 
litoral; pouca comunicação entre as várias regiões da colônia; mobilidade, busca incessante 
por novas chances de enriquecimento, o que dificultou a formação de laços duradouros de 
pertencimento ao território; e assim por diante. O Brasil foi durante muitas décadas um 
apêndice de Portugal nas Américas, uma zona dedicada ao abastecimento da metrópole e 
na qual se podia buscar oportunidades de negócios. Ademais, não existia a consciência de 
que as várias partes do território conformavam uma unidade. Habitantes de São Paulo, Rio 
Grande do Sul, Pernambuco, ou Pará não tinham motivos para imaginar que partilhavam uma 
identidade cultural. A experiência colonial foi fundamentalmente uma experiência regional.
Nessas condições, entender a separação entre Portugal e Brasil passa necessariamente por 
entender quando e como a população da colônia – ou, pelo menos, parte dessa população – 
começou a se enxergar como dona de uma nacionalidade própria, isto é, como brasileiros.
Esse processo histórico não pode ser datado com precisão. Genericamente, ele começa 
com setores da colônia formando interesses distintos dos de Portugal. Começa, portanto, 
de forma regional, baseado na diferença entre “nós” (os pernambucanos, os mineiros, os 
cariocas etc.) e “eles” (os reinóis), e não na semelhança entre brasileiros. No contexto da crise 
do sistema colonial, que examinamos na aula anterior, esse sentimento evoluiu de um simples 
antagonismo para a identificação dos lusitanos e da própria situação de dominação como 
fontes dos problemas da colônia.
Além disso, essa tomada de consciência não foi concluída em 1822 com a independência. 
Veremos na próxima unidade que a emancipação política do Brasil foi conduzida por alguns 
grupos sociais específicos, de modo que a conformação de uma identidade nacional, com 
todas as suas características, só foi possível muito mais tarde – a depender do ponto de vista, 
apenas na época do segundo reinado, nos primórdios da república, ou na década de 1930. O 
fato é que setores e regiões periféricas do país só foram apresentados à ideia de “ser brasileiro” 
com décadas de atraso.
Uma das evidências disso é a própria heterogeneidade das respostas que diferentes grupos 
sociais ofereceram à crise da colonização. A conformação dos projetos de independência, 
apesar de suas pretensões nacionais, foi sempre regional, calcada em diferentes identidades, 
valores, bagagens intelectuais – ou seja, em diferentes leituras da realidade histórica. Basta 
olhar para os processos de sedição elencados no fim desta unidade: mineiro, carioca, baiano, 
pernambucano, nunca verdadeiramente brasileiro. A respeito disso, o historiador Istvan Jancsó 
diz o seguinte:
8
Unidade: As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
Diálogo com o Autor
“Para os homens que a viveram [a crise], 
independentemente das abrangências consideradas, 
a percepção do que representavam as mudanças em 
curso não se deu de modo uniforme, e dos diferentes 
entendimentos que delas tinham resultaram outros 
tantos projetos políticos, cada qual expondo, com 
maior ou menor nitidez, os contornos da comunidade 
humana cujo futuro político esboçavam.” 
(JANCSÓ, 2003, p.20).
Portanto, a setorização tanto da tomada de consciência nacionalista quanto da luta por 
independência ajuda a explicar o descompasso na integração das várias regiões do Brasil ao 
projeto de nação surgido no século XVIII.
De todo modo, o aparecimento de algum tipo de nacionalismo, mesmo que restrito e 
heterogêneo, foi com certeza uma das novidades do período colonial tardio. É preciso, 
portanto, compreender as raízes desse sentimento.
O terreno para o seu surgimento foi preparado ao longo do próprio período colonial 
por movimentos históricos que traziam consigo o embrião de uma identidade nacional. O 
bandeirismo é um desses movimentos. As expedições paulistas alcançaram praticamente 
todos os cantos da América Portuguesa, um empreendimento extraordinário de expansão 
que naturalmente despertou certo orgulho regional e uma maior intimidade com o território. 
A posição de São Paulo na arquitetura do sistema colonial fornecia condições ideais para 
esse florescimento: região pouco integrada ao comércio mundial, desde cedo autônoma 
e interiorizada, cercada pela serra do mar e pela mata atlântica. Logo, é no caminho das 
bandeiras que vemos surgir uma das primeiras versões da consciência nativista.
Outro desses movimentos é a expulsão dos holandeses do Nordeste no século XVII. Os 
pernambucanos uniram-se pela via da guerra: montaram uma frente de resistência na década 
de 1630, formaram espécies de guerrilhas após 1637nas chamadas “guerras brasílicas” e 
fizeram a grande Insurreição em 1645, que culminaria com a capitulação dos invasores dez 
anos depois. A noção de que seu território fora reconquistado a duras penas alimentou, nos 
moradores de Pernambuco, um forte orgulho regionalista.
O nacionalismo nascente também foi alimentado por eventos do século XVIII que, acima 
de tudo, acirraram a oposição entre colonos e lusitanos, de modo que o fortalecimento da 
identificação nacional ou regional apareceu como efeito colateral. Vimos alguns desses eventos 
na unidade anterior. A Guerra dos Mascates, por exemplo, em que senhores de engenho 
de Olinda, fortemente marcados pela memória da expulsão dos holandeses, sentiram-se 
contrariados pelos comerciantes reinóis do Recife. A Guerra dos Emboabas também: a injustiça 
sentida pelos paulistas foi resultado das determinações da Coroa, que tentou sanar o conflito 
distribuindo o direito à exploração das minas também aos estrangeiros. Outro exemplo é a 
revolta de Filipe dos Santos, que opôs a população de Minas Gerais à instituição das Casas de 
Fundição pelo governo português.
9
Todos esses eventos ajudaram a formar, no plano das mentalidades, uma oposição entre 
habitantes da colônia e agentes colonizadores, embora, nessas primeiras formulações, o 
antagonista dos portugueses não seja ainda o “brasileiro”, mas sim o mineiro, o pernambucano, 
o paulista etc. Quando somado à consciência de que Portugal era cada vez mais um reino 
dependente das riquezas produzidas na colônia, ou seja, quando encaixado na conjuntura de 
crise do sistema colonial que examinamos na aula anterior, esse conjunto de fatores revela os 
antecedentes do desejo de autonomia em nosso país – em outras palavras, as pré-condições 
históricas responsáveis por fertilizar o terreno em que o sentimento nacional pôde florescer 
no século XVIII.
Falta agora examinarmos a substância ideológica desse nacionalismo, isto é, as ideias e os 
valores que animaram o projeto de nação independente.
Pensamento ilustrado e nacionalismo
Já tratamos na última unidade do movimento iluminista e da sua penetração nos meios 
intelectuais brasileiros, contribuindo para o processo de desintegração das relações coloniais. 
Mas ainda não analisamos o ideário ligado especificamente ao tema da soberania nacional, 
tampouco a forma como esse ideário inspirou movimentos que, diferentemente daqueles que 
vimos até agora, lutavam, sim, pela emancipação do país. Falaremos disso agora.
Em primeiro lugar, precisamos destacar o significado que o termo “nação” passou a 
carregar naquele período. A palavra é antiga, e sempre se referiu à ideia de origem, isto é, 
a um grupo de indivíduos nascidos numa mesma época ou lugar, ou que partilham a mesma 
“raça”, a mesma língua ou qualquer outro traço cultural. Desde a Idade Média, uma colônia de 
comerciantes estrangeiros, por exemplo, poderia ser chamada de nação: a “nação espanhola” 
da Antuérpia, a “nação francesa” em Cádis, e assim por diante. O termo também carregava 
um sentido geográfico, associado à ideia de pátria, a terra onde se nasceu, mas esse significado 
ainda englobava a “pequena pátria”, ou seja, uma cidade ou região. Na maior parte das vezes, 
os homens daquele tempo cultivavam laços de pertencimento muito mais profundos com suas 
pequenas comunidades de origem do que com um território abstrato e desconhecido como 
o reino inteiro. No mundo colonial brasileiro, pelos vários motivos já mencionados, isso era 
ainda mais marcante.
No século XVIII, na esteira do pensamento ilustrado, o conceito ganha seu sentido moderno. 
Essa nova nação, aquela de que falam as lideranças dos movimentos independentistas brasileiros, 
é marcada basicamente por três características: identificação entre o povo e a sua “grande 
pátria” de origem (a França, a Espanha, o Brasil etc.), uma identificação que deveria sobrepor 
quaisquer regionalismos – a nação moderna ideal é o Estado-nação. Em segundo lugar, a 
importância da unidade linguística e cultural de seus membros. Não por um acaso, o processo 
de conformação das nações modernas, incluindo o Brasil, englobou sempre a construção de 
um repertório cultural comum – pela invenção de mitos e heróis nacionais, por exemplo – e 
de implementação de uma língua oficial, sobreposta aos vários dialetos regionais.
10
Unidade: As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
Por fim, a terceira e principal característica do conceito moderno de nação é o de ser 
eminentemente político. A nação não se forma apenas porque seus membros compartilham 
um território, uma língua e uma cultura, mas também porque estão unidos socialmente por 
meio de uma espécie de contrato. A coesão da nação não se daria mais em torno do direito 
hereditário do rei sobre seu território e da submissão dos súditos – bases do Estado Absolutista 
– mas em torno de um conjunto de leis socialmente pactuadas e vigentes em qualquer região 
do território nacional. Isso em parte pode ser explicado porque, na virada do século XVIII 
para o XIX, várias nações da Europa assistem ao surgimento de movimentos republicanos 
vitoriosos ou, como foi o caso, por exemplo, em Portugal, Espanha e Brasil, da exigência de 
que os reis jurem obediência a uma Constituição.
Essa nova forma de organização política nacional, fortemente inspirada nos ideais do 
Iluminismo, teve vários desdobramentos. A desigualdade natural entre os homens e grupos 
sociais, presente na sociedade do Antigo Regime, deu lugar à igualdade jurídica, em 
concordância com preceitos racionais de organização da vida social. Caem, portanto, os 
estamentos privilegiados e os direitos políticos exclusivos da nobreza, em detrimento da ideia 
de que todos os indivíduos são cidadãos.
A soberania nesse novo tipo de nação também é profundamente alterada. No Antigo 
Regime, ela repousava sobre o rei, e sua legitimidade vem do berço, do direito herdado. 
No Estado-nação moderno, a soberania e a legitimidade de um governante emanam da 
própria nação, isto é, do conjunto dos cidadãos. Cabe à classe política, portanto, equacionar 
os problemas do país com base na Razão, de modo a gerar o máximo de bem-estar geral. 
Não cumprindo com esse dever, é legítimo ao povo tirá-la do cargo. A noção de que o 
poder de um governante pode ser revogado pela vontade popular é, portanto, outra invenção 
política moderna. Esse novo conceito de soberania, agora com inspiração iluminista, serviu 
de combustível teórico ao questionamento da situação colonial e da própria legitimidade do 
controle português sobre o território brasileiro.
É claro que o Estado-nação não nasceu pronto no século XVIII. Esse tipo de organização 
social, cujo primeiro modelo (de vários possíveis) veio da Revolução Francesa, foi construído 
ao longo de pelo menos um século e meio, atingindo seu apogeu por volta de 1870. Além 
disso, foi um processo de diferentes temporalidades, de modo que países como a Itália e a 
Alemanha modernas só nasceriam no fim do século XIX.
Mas é exatamente nesse ambiente cultural de elaboração do nacionalismo moderno que 
está encaixada a crise do sistema colonial e a conformação do desejo por independência. 
Todos os principais traços do nacionalismo moderno – unificação da pátria e destruição 
do regionalismo, uniformização da língua, constitucionalismo, direito à autodeterminação, 
soberania nacional – estão presentes no sonho independentista brasileiro.
É esse conceito de nação que têm em mente as lideranças dos movimentos separatistas que 
começam a eclodir no fim do século XVIII, os quais passaremos a analisar agora.
11
Movimentos separatistas
Comecemos com o caso da Inconfidência Mineira.
Duas das suas principais causas foram a importação das ideias políticas do Iluminismo 
e a notícia da Revolução Americana de 1776. Como os envolvidos no movimento foram 
levados a julgamento e sentenciados, temos acesso aos autos do processo aberto pela justiça 
portuguesa, nos quais aprendemos que os inconfidentes estavam familiarizados com os escritos 
de JohnLocke, Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e demais pensadores subversivos, além 
de terem adotado a emancipação norte-americana como principal modelo de luta política 
anticolonial. Sabemos também que um dos conspiradores, José Joaquim da Maia, manteve 
contato em 1786 com o então embaixador Thomas Jefferson, principal autor da declaração 
de independência dos Estados Unidos e futuro presidente do país.
Essas ideias encontraram terreno fértil em Minas Gerais por uma série de motivos internos. 
No plano político, pesou a má administração do governador Luís da Cunha Meneses (1783-
1788). No plano econômico, Minas Gerais estava há décadas em franco declínio, e a crise 
do ouro só fez apertar o controle português. Em meio a esse quadro, chegou a notícia da 
derrama, isto é, da execução à força, inclusive por meio do saque, dos impostos atrasados. A 
Coroa havia determinado que a província pagasse cem arroubas de ouro como imposto anual, 
mas, com o esgotamento das jazidas, esse valor não era atingido há duas décadas. Na época 
da Inconfidência, a dívida acumulada chegava a quase 600 arroubas.
Outro elemento decisivo para explicar a Inconfidência tem a ver com a formação social 
particular da região. A renda da elite local vinha da mineração, mas também de engenhos 
produtores de açúcar e aguardente (este último principalmente para o mercado interno), da 
pecuária, do cultivo de milho e feijão. Diferentemente do que o ocorria, por exemplo, no 
nordeste do país, sua riqueza não dependia tão fortemente das exportações. Em fins do século 
XVIII, boa parte da economia mineira estava, portanto, fora da alçada do pacto colonial, o 
que explica a relativa autonomia da sua elite em relação a Portugal e também o porquê de o 
antagonismo entre colonos e portugueses tornar-se mais expressivo naquela província.
Por último, é preciso lembrar que a Inconfidência foi protagonizada por membros das 
classes mais abastadas. Com algumas poucas exceções, incluindo o próprio Tiradentes (um 
militar da patente mais baixa – alferes – e dentista nas horas vagas), eram todos fazendeiros, 
mineradores, oficiais de alta patente, advogados, magistrados. Figuras de prestígio, 
invariavelmente prejudicadas pelo desastre das políticas coloniais. Portanto, na formação da 
conspiração concorreram também interesses pessoais.
Na prática, a Inconfidência se resumiu a alguns poucos encontros, nos quais se discutiram 
falhas e injustiças da administração colonial e os planos para separar Brasil e Portugal. Os 
conspiradores dividiam-se basicamente em três grupos: homens de ação, como Tiradentes, 
responsáveis pela costura de alianças políticas e pela conquista de apoio; intelectuais, ideólogos 
do movimento; e homens de recursos, responsáveis por financiar o levante e que naturalmente 
teriam muito a ganhar com a sua vitória.
12
Unidade: As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
Não sabemos ao certo qual era o projeto de país dos inconfidentes, mas algumas medidas 
foram cogitadas, conseguindo maior ou menor adesão: fundação de uma universidade em 
Minas, extinção do exército regular e armamento da população civil (que deveria servir na 
milícia nacional quando convocada), incentivo à manufatura, perdão das dívidas contraídas por 
Minas Gerais junto à Coroa e até a libertação dos escravos. Discutia-se também se o Estado 
brasileiro após a independência deveria ser uma monarquia ou uma república.
A conspiração foi traída por três de seus membros. A Inconfidência acabou com a prisão 
dos envolvidos, exílios temporários ou permanentes na África e a morte espetaculosa de 
Tiradentes, que após o terceiro interrogatório (de onze) assumiu todas as culpas.
O aparente fracasso do movimento deve ser relativizado por dois motivos. Em primeiro 
lugar, ele causou temor na administração colonial, o que aumentaria ainda mais com a vitória 
da Revolução Francesa em 1789 e sua radicalização pós-1792, culminando com a decapitação 
do rei Luís XVI e de Maria Antonieta. Por esse ponto de vista, a Inconfidência de certo modo 
vingou sua derrota prematura despertando a paranoia da Coroa portuguesa, o que seria mais 
um dos muitos sintomas da desintegração do sistema colonial. O segundo motivo é assinalado 
pelo brasilianista Kenneth Maxwell, autor de um dos mais importantes estudos sobre a história 
da Inconfidência Mineira:
Diálogo com o Autor
“Pelo meio da década de 1790, tornou-se claro para 
muitos que, dentro e fora do governo português, as 
relações entre colônia e metrópole haviam chegado a 
um impasse. A Inconfidência Mineira fora um miserável 
e ignominioso desastre, mas também o tinha sido a 
política de Portugal para as colônias. Ambas tinham 
sido tentativas de racionalizar as relações alteradas entre 
colônia e metrópole. E na formulação tinham sido, 
ambas, profundamente influenciadas pelas coações 
econômica e social locais. E ambas resultaram abortivas: 
a revolta nacionalista e o neomercantilismo [isto é, as 
reformas pombalinas] tinham provado sua ineficiência, 
passando a ser considerados como fracassos”. 
(MAXWELL, 2005, p.310).
Em outras palavras, a Inconfidência fracassou, mas com isso ajudou a desmascarar um 
fracasso ainda maior, que é o da própria política colonial.
O clima de paranoia despertado pelos eventos em Minas Gerais levou à revelação de mais 
uma conjura: a Carioca.
Seguindo as várias recomendações da Coroa para que se investigassem, no pós-Inconfidência 
Mineira, a penetração das temidas “ideias francesas” no país, o conde de Resende, então 
Vice-Rei do Brasil (1790-1801), investiu contra a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, 
onde, segundo ele, estava o embrião de uma nova conspiração. Uma denúncia, não se sabe 
se fabricada, serviu de pretexto para o fechamento da instituição em 1794 e a prisão de seus 
membros mais proeminentes.
13
As suspeitas do Vice-Rei revelaram-se em parte verdadeiras. Os encontros da Sociedade 
Literária expressavam um descontentamento profundo com a situação colonial (assim como 
ocorria, aliás, em muitos outros círculos sociais) e, à revelia do seu estatuto, que só permitia 
discussões de cunho literário ou científico, lá se debatiam as novas ideias políticas europeias. 
Mas diferentemente do caso mineiro, não havia quaquer articulação política revolucionária ou 
plano concreto de insurreição.
A reação do governo também foi diferente no caso da Conjuração Carioca. Os réus 
ficaram presos durante todo o processo, só finalizado em 1797, mas não houve condenações 
e o episódio foi mantido sob relativo sigilo. Portugal agiu com cautela por dois motivos: em 
primeiro lugar, porque o caso era de fato muito menos grave que o de Minas Gerais; em 
segundo, para não alimentar a imagem perigosa de que o Brasil estava tomado de norte a sul 
por conspirações e levantes anticoloniais.
Em 1798, ocorreu outra Inconfidência, dessa vez em Salvador. Diferentemente das 
anteriores, ela envolveu as camadas mais pobres da população, incluindo alguns escravos, a 
ponto de o escritor Affonso Ruy nomear seu livro de 1942 como “A primeira revolução social 
brasileira”. Esse rótulo, apesar de exagerado, aponta para o traço distintivo da Conjuração 
Baiana: pela primeira vez um movimento independentista incorporava bandeiras de cunho 
social.
O historiador Istvan Jancsó, autor do maior clássico da nossa historiografia sobre o episódio, 
também assinala essa peculiaridade:
Diálogo com o Autor
“Não se tratou mais, aí, de buscar o reordenamento 
das condições operativas da gestão da coisa 
pública visando a restauração de uma ordem 
perdida (referência geral dos eventos de Minas 
Gerais no final da década anterior), mas do 
ensaio consciente de instaurar uma nova ordem”. 
(JANCSÓ, 1996, p.204).
Participaram do movimento negros livres, mulatos, escravos, soldados, artesãos e alfaiates 
– cujo protagonismo, aliás, renderia à conjura o apelido de “Revolta dos Alfaiates”. Suas 
reivindicações incluíam a proclamação da República, o fim da escravidão, aumento do salário 
dos militares e o livre-comércio.Suas ideias políticas derivavam mais da corrente democrática 
– filha do jacobinismo e, portanto, mais radical – do que do liberalismo burguês, estritamente 
econômico. Em outras palavras, enquanto todos os movimentos predecessores se apoiaram 
sobre o ideal da liberdade, a Conjura Baiana foi pioneira em introduzir o problema da 
igualdade no debate público.
A conspiração ocorreu num quadro de crise econômica e escassez de alimentos. Salvador 
assistiu a uma série de rebeliões em fins do século XVIII, especialmente entre os anos de 1797 
e 1798, quando a fome levou a população a organizar motins e saques.
Podemos dividir o episódio em dois momentos. De 1793 até 1797, um grupo de bacharéis, 
militares, sacerdotes e outros notáveis reuniu-se possivelmente em uma loja maçônica 
para discutir temas de interesse político, dentre eles a Revolução Francesa. Avertidos pelo 
governador, eles encerraram suas atividades, temendo represálias e perseguições.
14
Unidade: As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
Um segundo círculo, este sim de origem popular, entrou em cena. Influenciados pelos 
ideólogos do primeiro grupo, eles continuaram com as reuniões e passaram a discutir medidas 
concretas para derrubar o governo colonial, a ponto de marcarem uma data para o primeiro 
levante: 28 de agosto de 1798. A conclamação foi feita em panfletos colados pelas ruas da 
capital baiana no dia 12 daquele mês.
Assim como as inconfidências mineira e carioca, a conjura em Salvador foi desmantelada 
antes de conseguir qualquer vitória política concreta. Algumas das punições foram duras, o 
que se explica pela origem social dos conspiradores. A elite colonial era assombrada pela 
revolução escrava no Haiti, que só terminaria no começo do século XIX, e pelo aumento no 
número de motins negros em Salvador. Nessas circunstâncias, e tratando-se de uma província 
cuja população era 80% negra ou mestiça, uma tentativa de levante popular não poderia ser 
tolerada.
Por fim, é preciso avançar alguns anos para tratar da Revolução Pernambucana de 1817.
Ela eclodiu cercada por circunstâncias bem diferentes. Em primeiro lugar, porque várias 
colônias da América Espanhola já haviam conseguido sua independência, fornecendo novos 
modelos de lutas separatistas bem-sucedidas. Em segundo lugar, porque a Corte portuguesa 
desde 1808 estava instalada no Rio de Janeiro. Veremos isso com mais atenção na próxima 
unidade, mas é importante assinalar aqui duas consequências imediatas dessa situação: o 
aumento do gasto público necessário para sustentar as despezas da nobreza lusitana, o que 
se traduziu em aumento de impostos; e o problema da desigualdade regional, com o nordeste 
sentindo-se privado de qualquer investimento público em detrimento do Rio de Janeiro.
Além disso, Pernambuco tem uma história bastante particular, e não se pode refletir sobre 
a Revolução sem levar em conta a herança da expulsão dos holandeses no século XVII. O 
historiador Evaldo Cabral de Mello, autor de um dos principais livros sobre o levante de 1817, 
explica essa questão:
Diálogo com o Autor
“[...] tampouco se pode entender a Independência 
da província [de Pernambuco] sem referência à 
tradição colonial, que, graças à experiência da 
guerra holandesa, gerara uma noção contratualista 
das relações entre a capitania e a Coroa 
portuguesa. Enquanto entre El Rei e os demais 
colonos prevaleceria uma sujeição natural, os 
pernambucanos manteriam com a monarquia um 
vínculo consensual, ao se haverem libertado dos 
Países Baixos mercê de uma guerra travada por 
seus próprios meios, havendo assim retornado à 
suserania lusitana de livre e espontânea vontade 
quando poderiam ter instituído governo próprio ou 
recorrido à proteção de uma potência europeia”. 
(MELLO, 2004, p.20-21).
15
Por isso, os pernambucanos esperavam contar com certas restrições à influência de Portugal 
na sua província, como, por exemplo, a proibição de novos impostos e a prerrogativa de 
nomear ocupantes de cargos públicos locais. No contexto da falência das relações coloniais, a 
Coroa violou todos esses acordos.
A conspiração envolveu várias camadas da população: proprietários rurais, artesãos e 
comerciantes, militares, juízes e muitos membros do clero. O governador de Pernambuco, 
ciente dos planos para a revolução, mandou prender seus líderes. Um deles, o capitão José de 
Barros Lima, matou o oficial português que tentou capturá-lo e antecipou, assim, o início da 
revolta. Ela se espalhou rapidamente, culminando com a fuga do governador e a instauração 
de um novo governo na província. Diferentemente dos seus antecessores em Minas, Rio de 
Janeiro e Bahia, o levante em Pernambuco foi bem sucedido.
A Revolução proclamou a república e se espalhou para Alagoas, Paraíba, Ceará e Rio Grande 
do Norte, transformando-se numa espécie de levante geral nordestino. A nova administração 
estabeleceu tolerância religiosa e igualdade perante a lei, embora não tenha tocado no tema 
da escravidão. Como sempre, os interesses dos vários grupos envolvidos no movimento não 
eram homogêneos. Os mais pobres estavam preocupados especialmente com o problema 
da igualdade – no que foram, aliás, combatidos. Os grandes proprietários rurais, que sofriam 
com a queda do preço do açúcar e com as dificuldades crescentes para a compra de escravos, 
queriam acabar com o controle da Coroa sobre seus negócios, sem qualquer preocupação de 
cunho social.
O governo revolucionário durou dois meses. O Recife ficou cercado por mar e por terra e 
a revolta acabou em maio de 1817 com doze de seus líderes executados.
Considerações finais
Nesta unidade, terminamos de esmiuçar o quadro-geral de crise do modelo colonial de 
dominação. Procuramos, na unidade anterior, expor os aspectos nacionais e internacionais, 
estruturais e episódicos, da crise, incluindo aí os movimentos sociais dos séculos XVII e 
XVIII que enfraqueceram o domínio português. Nesta, procuramos, por um lado, recuperar 
os antecedentes históricos (concretos) e teóricos do projeto nacional brasileiro e, por outro, 
enumerar os levantes separatistas que prepararam caminho para a independência.
Portanto, temos agora subsídios suficientes para compreender, na próxima unidade, o 
processo de independência do Brasil.
16
Unidade: As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
Material Complementar
Livros:
A respeito do surgimento do nacionalismo no Brasil, recomendamos a leitura deste ensaio do Prof. Carlos Lessa. O 
texto engloba toda a história brasileira, permitindo observar continuidades e, mais importante ainda, perceber as 
limitações e lacunas no jovem projeto nacional brasileiro do século XVIII:
LESSA, Carlos. Nação e nacionalismo a partir da experiência brasileira. Revista 
Estudos Avançados. Instituto de Estudos Avançados da USP, São Paulo, v.22, n.62, 
2008, p.237-256. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/eav/article/viewFile/10331/12005
Com relação aos movimentos separatistas, algumas das melhores referências já estão citadas na bibliografia desta 
unidade. Mas recomendamos também a leitura destes dois artigos sobre casos específicos – a Inconfidência Mineira 
e a Revolução Pernambucana de 1817. Os textos atualizam algumas das análises clássicas sobre os levantes e 
permitem o comparativo.
MAXWELL, Kenneth. Conjuração mineira: novos aspectos. Revista Estudos Avançados. 
Instituto de Estudos Avançados da USP, São Paulo, v.03, n.06, mai/ago 1989, p.04-24. 
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141989000200002
VILLALTA, Luiz Carlos. Pernambuco, 1817, ‘encruzilhada de desencontros’ do 
Império luso-brasileiro: notas sobre as ideias de pátria, país e nação. Revista USP. São 
Paulo, n.58, jun/ago 2003, p. 58-91. Disponível em: http://www.usp.br/revistausp/58/04-luizcarlos.pdf
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Referências
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13ª ed. São Paulo: Edusp, 2009.
JANCSÓ, István (org.). Brasil: formação do Estado e da nação. São Paulo: Hucitec; Ed. 
Unijuí; Fapesp, 2003. (Estudos Históricos, 50).
__________________.Na Bahia contra o Império: História do Ensaio de Sedição de 1798. 
São Paulo: Hucitec/ Salvador: EDUFBA, 1996.
MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa. A Inconfidência Mineira, Brasil e Portugal, 
1750-1808. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
MELLO, Evaldo Cabral de. A outra Independência. O federalismo pernambucano de 1817 
a 1824. São Paulo: Editora 34, 2004.
18
Unidade: As Rebeldias contra a Metrópole: Rupturas
Anotações

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