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História do Brasil 
Colonial: Consolidação 
e Tensões Iniciais
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Esp. Pietro Henrique Fernandes Delallibera Sant’Anna
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
O Processo de Independência do Brasil
5
•	 O	Debate	Historiográfico
•	 As	Políticas	de	D.	João	VI:	Aceitação	e	Reação
•	 Portugueses	x	Brasileiros
•	 As	Cortes	Portuguesas	e	o	Processo	de	Independência
•	 Considerações	Finais:	As	Independências
Os objetivos da unidade são:
Medir o impacto da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro 
e relacionar esse episódio com a independência;
Entender a oposição entre brasileiros e portugueses que criaria a ruptura 
independentista;
Conhecer os principais fundamentos do projeto de independência que 
saiu vitorioso, bem como compará-lo com as demais linhas políticas, 
mais conservadoras ou mais radicais, que também propunham a 
emancipação brasileira.
Leia atentamente o conteúdo desta Unidade. Ela trata das circunstâncias históricas e das 
lutas políticas que levaram à independência do Brasil.
Você encontrará uma atividade composta por questões de múltipla escolha e terá a oportunidade 
de trocar conhecimentos e debater os assuntos abordados em nosso fórum de discussão.
É extremamente recomendável que você consulte, também, a bibliografia da unidade e os 
materiais complementares. São valiosas fontes de informação que podem ajudá-lo a aprofundar 
seus conhecimentos sobre os temas em questão.
O Processo de Independência do Brasil
6
Unidade: O Processo de Independência do Brasil
Contextualização
Leia	o	seguinte	texto:
“[...] o liberalismo no mundo luso-brasileiro padeceu de limites profundos, 
estabelecidos pelas dimensões restritas da esfera política propriamente pública. 
A cultura política da independência implantou, sem dúvida, certas práticas 
fundamentais do liberalismo, capazes de converter a Coroa em Estado, ao extrair 
a política dos círculos palacianos para situá-la na praça pública; ao organizar a 
sociedade por meio de uma Constituição, ainda que outorgada; e ao estabelecer 
uma divisão de poderes que definia algum espaço para a participação dos 
cidadãos, como as eleições. A autêntica vida pública, porém, não foi capaz de 
estender-se além de uma elite, mais intelectual e política que social, sediada nas 
principais cidades e temerosa de afetar os interesses quase sempre mudos dos 
poderosos de todas as latitudes.”
NEVES, Lúcia Maria Bastos P. Cidadania e participação política na época da independência do 
Brasil. Cadernos	Cedes (Unicamp), Campinas, v.2, n.58, p. 61, dezembro/2002. 
Como você pôde perceber, o trecho trata dos resultados do processo de independência 
brasileiro. Mais especificamente, dos limites sociais e políticos desse projeto de independência. 
Mantenha esses apontamentos em mente. 
Nesta unidade, vamos explorar o caminho percorrido pelo país até a emancipação em 
1822. Ao final da leitura do material teórico, teremos demonstrado como esse cenário político 
descrito no texto acima pôde ganhar forma.
7
O Debate Historiográfico
Dada a importância do evento, a Independência do Brasil é um dos temas da nossa História 
que mais suscita debates e controvérsias. Conhecer o processo de emancipação passa, 
portanto, por conhecer a forma com que os historiadores têm interpretado essa ruptura, 
atribuindo-lhe significados e graus de importância distintos.
A primeira versão da história da Independência, que poderíamos chamar de “tradicional”, 
é aquela que nasceu no próprio século XIX e perdurou até o início do século XX, consolidada 
principalmente pela obra de Oliveira Lima. Essa linha interpretativa valoriza a narrativa dos 
eventos, concentrando a análise histórica no campo superficial da política e na ideia de vontade 
individual. Suas fontes primárias são a documentação oficial e os relatos deixados por figuras 
notórias do processo de emancipação (cartas, diários etc.).
Essa historiografia tradicional preocupa-se em fazer a crônica, a narração, dos acontecimentos 
políticos que levaram ao fim da situação colonial, sem estabelecer conexões relevantes entre esses 
episódios e as macroestruturas econômicas e políticas que condicionavam a história brasileira. 
A Independência aparece, portanto, como fruto da vontade política de notáveis como Bonifácio 
e D. Pedro, que souberam vencer dificuldades uma a uma e concretizar o sonho da emancipação.
Por volta da década de 1930, surge uma nova linha de interpretação, majoritariamente 
calcada no marxismo e cujo principal precursor foi Caio Prado Jr., mas também Nelson 
Werneck Sodré e, mais tarde, Fernando Novais. 
Se, conforme vimos na unidade anterior do curso, esses autores entendem a colonização 
como um episódio do expansionismo comercial europeu, integrada à lógica do Antigo Regime 
e às bases do capitalismo nascente, a Independência – isto é, o fim da política colonial – só pode 
ser vista como decorrência da falência desse conjunto de fatores. Em oposição à interpretação 
tradicional, essa nova versão da história prioriza a explicação (e não a simples narração) e os 
elementos estruturais do sistema, com forte tendência para o campo da Economia.
A vontade política dos atores envolvidos na independência é relegada a segundo plano. O 
decisivo aqui é a crise do próprio Antigo Regime no século XVIII, que arrastaria consigo o 
Antigo Sistema Colonial. A saída de Portugal e Espanha do epicentro da economia mundial, 
cedendo lugar à Inglaterra; a Revolução Industrial, trazendo consigo a necessidade de abertura 
de novos mercados e de alteração nas relações de trabalho; a entrada do Capitalismo na sua 
fase industrial, em que a acumulação primitiva – motivadora da exploração colonial, típica 
da fase comercial ou mercantil – já está concluída; e o desenvolvimento interno da colônia, 
pautado pelos mesmos princípios liberais, o que forçou a destruição paulatina dos grilhões 
coloniais: todos esses fatores levaram inexoravelmente à Independência, que ocorreria cedo 
ou tarde, independentemente da atuação da classe política brasileira.
Logo, a data de 1822 marcaria apenas a oficialização de um processo irrefreável posto 
em marcha muito tempo antes. Se fosse necessário apontar uma data mais precisa, o ano de 
1808 aparece como o mais adequado: o marco da Independência de fato coincidiria com a 
abertura dos portos, isto é, com a queda de um pilar do pacto colonial.
8
Unidade: O Processo de Independência do Brasil
Essa visão estrutural foi predominante até a década de 1990. Desde então, historiadores 
têm proposto abordagens novas para o problema da independência, distanciando-se das visões 
anteriores por duas vias.
A primeira dessas vias é uma espécie de “retorno” crítico à historiografia tradicional: se 
historiadores como Oliveira Lima de fato pecaram em tomar a vontade política da classe 
dirigente como principal motor da independência, a historiografia marxista-estrutural 
“exagerou no remédio”, interpretando o evento como uma derivação automática de mudanças 
nas macroestruturas globais. Tratar-se-ia, portanto, de um olhar mecanicista, determinista, que 
exclui da história o elemento humano e os embates políticos nacionais.
Os estudos mais recentes procuram justamente recuperar os temas da historiografia 
tradicional – a crônica dos episódios políticos, a narração, o desenrolar mais cotidiano e 
“superficial” da história – mas reposicioná-los criticamente em um contexto estrutural, em 
consonância com o ferramental teórico que as correntes da Nova História Política podem 
fornecer. Em síntese, retomar o elemento humano da história, antes perdido na análise fria de 
estruturas econômicas impessoais.
A segunda via pela qual o tema da Independência tem sido reinterpretado é o da Nova 
História Cultural. A linguistc turn (“virada linguística”) da década de 1960 (que se consistiu 
genericamente numa guinada das ciências humanas em direção a temas ligados aos símbolos e 
representações – isto é, a temas da linguagem e, consequentemente,da cultura) e as tendências 
da Nova História francesa ecoaram na historiografia da independência com uma série de 
estudos que a partir da década de 1980 passaram a escrutinar campos até então negligenciados 
pela história tradicional (ligada ao campo político) e estrutural (campo econômico). 
Surgiram trabalhos sobre o papel da imprensa no período, o cotidiano do Rio de Janeiro 
e a recepção da notícia da independência (temas da chamada História do Cotidiano), a 
participação popular condicionada a clivagens de classe, gênero e cor, as representações do 
poder, e assim por diante. 
Uma característica geral dessas obras é o abandono da pretensão de responder às grandes 
perguntas historiográficas (“Quais foram as causas da independência?”, “Quem liderou o 
processo?”) em detrimento de trabalhos mais focados e precisos.
Agora que temos este panorama das principais linhas interpretativas da independência, 
podemos nos debruçar sobre o evento concreto.
As Políticas de D. João VI: Aceitação e Reação
Já construímos ao longo do Curso um quadro-síntese da crise do sistema colonial. Vale a 
pena recapitular aqui seus elementos principais: 
 » Alterações na Economia mundial, com o protagonismo britânico alavancado pela 
Revolução Industrial;
 » Situação marginal das economias ibéricas, ainda apoiadas sobre formas tradicionais 
(não-industriais) de produção; 
9
 » Vitória revolucionária na França e nos recém-formados Estados Unidos;
 » Ampla divulgação das ideias liberais e iluministas; 
 » Independência das colônias espanholas na América; 
 » Formação de um ainda incipiente nacionalismo brasileiro; 
 » Tendência de queda do preço do açúcar e da produção de ouro, principais artigos de 
exportação da economia nacional; 
 » Tentativas de reforma do sistema colonial, exemplificadas pela política pombalina; 
 » Tensões sociais internas e eclosão de revoltas separatistas. 
Esta foi a conjuntura que emoldurou os episódios diretamente relacionados à proclamação 
da Independência, os quais analisaremos agora.
O mais decisivo desses episódios é a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Não 
cabe aqui discutir os motivos que levaram à fuga de D. João VI e sua corte – uma história 
relacionada às “guerras revolucionárias” de Napoleão que, por sua vez, têm raízes fincadas na 
dinâmica peculiar da Revolução Francesa. 
Neste momento, basta compreender que essa situação atípica forçou um rearranjo completo 
das relações coloniais, criando o cenário definitivo da independência.
O Brasil fora subitamente transformado em sede da monarquia, capital de fato da metrópole. 
Frente a isso, o rei precisou tomar uma série de medidas que adequassem o país a essa nova 
condição, ainda que à custa de perverter o pacto colonial. 
Em janeiro de 1808, os portos brasileiros foram abertos ao comércio estrangeiro. Em abril 
do mesmo ano, caíram as disposições que proibiam a instalação de fábricas e manufaturas 
na colônia e, em 1810, o comércio de porta em porta, praticado individualmente, tornou-se 
atividade legalizada para qualquer habitante da colônia – medida intensificada em 1811, com 
a liberação da comercialização de quaisquer gêneros não vedados. 
Em agosto de 1815, colonos foram autorizados a produzir e vender peças de ouro e prata. 
Finalmente, em dezembro de 1815, o Brasil foi elevado à categoria de reino.
A política de D. João VI golpeou duplamente a estrutura colonial. Por um lado, indicava uma 
direção francamente liberalizante, pautando-se por ideias de livre-concorrência e liberdade de 
mercado que são avessas ao ambiente colonial, conforme procuramos exemplificar com os 
decretos e alvarás listados acima. 
Por outro lado, ela não pôde perverter por completo a lógica da exploração metropolitana, o que 
contribuiu para aumentar o descontentamento entre os colonos. Olhemos para esse aspecto.
O rei determinou, como vimos, a abertura dos portos, mas com isso emitiu uma série de outros 
decretos que privilegiavam as mercadorias portuguesas, pela cobrança de impostos especialmente 
baixos ou pela estipulação de taxas elevadas aos produtos estrangeiros, isso quando não vetavam 
simplesmente o comércio de determinados gêneros. É o caso do decreto de 13 de maio de 1810, 
que isentava de taxas os produtos vindos de colônias lusitanas na China, ou de 25 de abril de 1818, 
que criava taxas especiais para vinhos e aguardentes portugueses.
10
Unidade: O Processo de Independência do Brasil
A liberação do comércio de qualquer tipo de mercadoria na colônia foi acompanhada por 
um decreto também de 1818 que proibia a importação de certos gêneros caso estes não 
fossem trazidos por navios portugueses, pertencentes a cidadãos devidamente estabelecidos 
em alguma cidade do Império. 
Anos antes, em 1814, a navegação de cabotagem (isto é, entre portos de um mesmo 
país), importantíssima para a circulação de bens na América Portuguesa, foi também 
vetada a navios estrangeiros.
Todas estas são medidas que desagradavam os comerciantes estrangeiros, especialmente 
ingleses (inicialmente conquistados pelo caráter liberalizante da política econômica), e também 
os colonos, que se viam presos aos produtos portugueses cuja importação era facilitada. 
Em termos conceituais, o problema dessa estratégia foi sua incapacidade de superar dois 
legados: o da doutrina mercantilista, com sua lógica protecionista e de direção estatal da 
economia, e o do pacto colonial, cujo fundamento é usar a colônia sempre em benefício da 
metrópole, eliminando o princípio da concorrência. Este “liberalismo joanino” tentou, em 
suma, coadunar-se a uma sociedade ainda calcada no privilégio.
O fracasso dessa política é assim explicado pela professora Emília Viotti da Costa.
Diálogo com o Autor
“Fácil é perceber que, com medidas que pretendam conciliar interesses tão 
contraditórios quanto os dos comerciantes e produtores estrangeiros, comerciantes e 
produtores portugueses e brasileiros (...) não consiga D. João VI senão descontentar 
a todos” (COSTA, 1975, p.78).
Prossegue	a	historiadora:
Diálogo com o Autor
“Adotar em toda extensão os princípios do liberalismo econômico significaria destruir 
as próprias bases sobre as quais se apoiava a Coroa. Manter intacto o sistema colonial 
era impossível nas novas condições. Daí as contradições de sua política econômica. 
Os inúmeros conflitos decorrentes acentuaram e tornaram mais claras, aos olhos 
dos colonos e dos agentes da metrópole, as divergências de interesses existentes 
entre eles, provocando reações opostas: os colonos perceberam as vantagens de 
ampliar cada vez mais a liberdade, enquanto os metropolitanos convenciam-se 
da necessidade de restringi-las. A oposição entre os dois grupos manifestar-se-ia 
claramente quando deputados brasileiros e portugueses se defrontaram nas Cortes 
portuguesas em 1821” (COSTA, 1975, p.78).
Temos aqui o desenho da oposição entre brasileiros e portugueses, conflito central da 
ruptura independentista. Cabe agora explorar suas nuances.
11
Portugueses x Brasileiros
A nomenclatura não se refere necessariamente às nacionalidades de ambos os lados, mas sim às 
suas afinidades e interesses. Durante todo o período colonial, Portugal funcionou como entreposto 
de todo o escoamento da produção brasileira, um arranjo comercial vantajoso para a Coroa (que 
aumentava sua receita pela via da tributação), para os capitães responsáveis pelo transporte marítimo, 
para as alfândegas lusas, para os intermediadores tanto da venda de artigos coloniais no mercado 
europeu quando da importação de gêneros manufaturados para a colônia.
Durante esse tempo, as mercadorias americanas representaram a maior fatia do comércio 
internacional português. Com a abertura dos portos brasileiros (1808) e a liberação do 
comércio direto com nações estrangeiras, preferencialmente com a Inglaterra, essa cadeia de 
vantagens caiu por terra. O rei tentou, como vimos, compensar a quebra do pacto colonial 
com políticas que beneficiavam mercadores lusitanos, mas não a ponto de fazeresquecer a 
perda dos privilégios.
Nesse contexto, “brasileiros” são aqueles que defendiam a abertura cada vez maior da 
economia, enquanto que “portugueses” são os partidários da volta da situação colonial estrita. 
Cada um desses grupos adotou uma visão de mundo própria.
A maioria das lideranças políticas da colônia – isto é, dos “brasileiros” – não buscava 
ainda a independência. A condição de reino unido bastava, desde que mantidas as liberdades 
conquistadas. Na concepção conservadora, o modelo de monarquia dual seria a melhor saída 
para o impasse das relações entre os países – proposta, aliás, levada às Cortes portuguesas 
em junho de 1822.
Do ponto de vista dos metropolitanos, a perda dos privilégios sobre o comércio americano 
era inaceitável. Não havia consenso com relação ao arranjo político do Império – dever-
se-ia voltar ao modelo colonial clássico, formar uma monarquia dual ou manter a corte no 
Rio de Janeiro, instituindo uma regência em Lisboa? – mas o modelo econômico era claro, 
implicando o cancelamento do livre comércio. 
A partir desse diagnóstico, deputados lusitanos e ideólogos pró-colonialismo – o grupo dos 
chamados “portugueses” – identificaram o culpado pela situação de crise: o rei, com suas 
medidas liberalizantes.
Assim se explica um dos episódios mais curiosos e contraditórios da história portuguesa: 
a Revolução do Porto, de 1820. Calcada em princípios liberais, voltada contra o regime 
absolutista, exigindo a submissão do rei a uma Constituição votada democraticamente, ela 
demandava, também, a volta de alguma forma de pacto colonial. 
À luz dos eventos que listamos acima, esse arranjo heteróclito ganha sentido: o liberalismo 
foi lido de maneiras diversas por brasileiros e portugueses, significando comércio livre para os 
primeiros e, para os segundos, poder de controle sobre as decisões reais que, justamente por 
serem excessivamente liberais, prejudicavam a pátria. 
12
Unidade: O Processo de Independência do Brasil
O importante aqui é saber que esse levante forçou o retorno de D. João VI a Portugal, o que criou 
dois novos condicionamentos para a questão colonial: o Brasil teria um príncipe regente, D. Pedro, 
distante da sua metrópole; e a nova Carta Magna, que determinaria a forma acabada das relações 
luso-brasileiras, começaria a ser debatida e redigida pelas Cortes portuguesas.
No ambiente parlamentar, o embate entre brasileiros e portugueses se tornaria direto, 
escancarando a impossibilidade de uma solução política que envolvesse a manutenção dos 
laços entre Brasil e Portugal.
As Cortes Portuguesas e o Processo de Independência
As Cortes Constituintes se reuniram pela primeira vez em janeiro de 1821. No final daquele ano, 
já havia ficado claro que os princípios liberais que animaram a Revolução do Porto não se estendiam 
à questão colonial. Com o retorno do rei à metrópole, crescia a ameaça de recolonização. 
Essa mudança de percepção ocorreu principalmente a partir de julho de 1821, quando 
passaram a ser votadas medidas que atacavam a autonomia administrativa do Brasil e 
procuravam revogar decretos de D. João VI que abriram o nosso comércio às nações 
estrangeiras, restituindo, assim, a função dos atravessadores portugueses.
Convencidos de que a Constituinte não iria equacionar o problema colonial da maneira 
mais adequada, o grupo de brasileiros começou a se articular para a separação. Mesmo entre 
os mais conservadores, para os quais “Independência” significava apenas manter a autonomia 
administrativa da colônia, o rompimento entre Brasil e Portugal começou a parecer uma 
solução mais plausível.
As estratégias empreendidas por esse grupo foram duas. Em primeiro lugar, manter a 
todo custo o príncipe regente no país, já que um eventual regresso de D. Pedro a Portugal 
significaria um passo enorme em direção à recolonização.
Dissemos acima que as Cortes votaram, a partir de julho de 1821, medidas que atacavam 
a autonomia do Brasil. Uma dessas medidas foi justamente a ordem de retorno do príncipe a 
Portugal, emitida três vezes apenas naquele ano, de modo que a administração do Brasil ficaria 
a cargo de governadores provinciais nomeados pela coroa.
Lideranças brasileiras partiram tanto para o convencimento, discorrendo sobre as qualidades 
de D. Pedro e as conveniências de sua permanência, quanto para a ameaça: o regresso do 
príncipe regente seria imprudente, pois acarretaria a declaração imediata de independência, 
ainda que com ajuda de aliados estrangeiros como a Inglaterra. Esta é a conjuntura por trás, 
por exemplo, do “fico” em 9 de janeiro de 1822. Isso ajuda a explicar também porque, 
entre os modelos possíveis de independência, venceu aquele que envolvia a manutenção de 
membros da antiga metrópole na cúpula do governo.
A segunda estratégia era a mais importante: preparar a convocação de uma Assembleia 
Constituinte brasileira, responsável por elaborar Carta Magna própria e corrigir as injustiças 
que se cristalizavam, uma a uma, no texto votado pelas Cortes lusas. 
13
Até o último minuto, tentou-se conciliar essa medida com a manutenção dos laços luso-
brasileiros. O objetivo, dizia-se, era apenas corrigir as distorções do texto votado em Lisboa 
e elaborar uma lei mais adequada à realidade brasileira, sem quebra dos laços. Os próprios 
manifestos de independência do período asseveravam que a nova Carta reconheceria D. João 
VI como rei legítimo. No entanto, a ordem de convocação de uma constituinte, expedida em 
julho de 1822 por D. Pedro, significou, naquele contexto de acirramento das rivalidades, uma 
declaração de emancipação na prática.
A reação das Cortes portuguesas foi violenta. O antagonismo entre brasileiros e portugueses 
atingiu seu grau máximo. Os deputados lusos mandaram revogar a convocação da Constituinte 
brasileira e intimaram D. Pedro a retornar. A gota d’água seria a notícia, a 2 de setembro, do 
envio de tropas portuguesas encarregadas de buscar o príncipe regente. Acuado, D. Pedro 
viu-se entre duas opções: regressar a Portugal como um quase prisioneiro ou abandonar as 
soluções bilaterais para o problema brasileiro, partindo para a independência de fato. No dia 
7 de setembro de 1822, ele escolheu a segunda opção.
Considerações Finais: As Independências
A proclamação da Independência representou a vitória de um projeto político específico, 
entre muitos outros que concorriam pela hegemonia naquele momento de impasse histórico, 
de abertura de uma brecha revolucionária. É preciso que isso fique bastante claro.
Após o 7 de setembro, o governo precisou travar uma batalha política intensa para garantir 
suas conquistas. A notícia da Independência não foi bem recebida na Bahia, no Maranhão e 
no Pará, onde as juntas governamentais tinham maioria portuguesa. Além disso, setores das 
forças armadas e comerciantes lusos também não se animaram com a divisão dos reinos.
Internamente, o governo conservador precisou enfrentar o grupo mais radical, liderado 
pelo deputado Joaquim Gonçalves Ledo. Para estes, a manutenção da família real portuguesa 
no poder era inaceitável. Além disso, defendiam a República, e não o modelo de Monarquia 
Constitucional que se instalava no país.
Nesses dois fronts, a habilidade política de José Bonifácio foi fundamental – além de sua 
mão-de-ferro: a vitória do projeto conservador se deve em parte ao fato de que Bonifácio, do 
alto do Ministério do Império, mandou investigar e prender figuras radicais e republicanas.
Ainda assim, estamos falando aqui de disputas no interior da classe política brasileira, 
composta por membros da própria elite colonial. O movimento independentista inteiro foi 
conduzido por homens ligados ao latifúndio e ao comércio marítimo, ou pelos estamentos 
privilegiados da burocracia estatal patrimonialista. Seu propósito era manter intacta a estrutura 
política, econômica e social do país, baseada no trabalho escravo e na exportação de gêneros 
primários tropicais para o mercado europeu. A ausência de uma classe verdadeiramente 
revolucionária– como era o caso das burguesias europeias – explica os contornos adquiridos 
pelo país após a emancipação.
14
Unidade: O Processo de Independência do Brasil
Quais seriam, então, os outros projetos de independência? 
Para os escravos, era a promessa de liberdade, a conquista do status de cidadão – o que, 
traduzido em linguagem política, significaria uma transformação profunda no modelo de 
produção que sustentava a elite colonial. 
Para a população pobre, composta de negros libertos e mestiços, a revolução precisaria 
incorporar o tema da igualdade e a eliminação do entulho racista da legislação nacional. Trata-
se, aqui, de uma Independência mais nos moldes daquela pretendida pela Conjura Baiana 
(1798) e pela Revolução Pernambucana de 1817. 
Nas zonas rurais, palavras como “igualdade”, “liberalismo”, “revolução” e “independência” 
eram desconhecidas. Esta é justamente a população para a qual o nacionalismo, a ideia de “ser 
brasileiro”, foi apresentado com muitas décadas de atraso. 
Nessas regiões, vivia-se ou sob controle direto dos grandes senhores de terra ou em 
relativo isolamento, como era o caso da província de São Paulo. A causa independentista é 
majoritariamente urbana e seu campo de batalha preferencial foi a capital, o Rio de Janeiro.
Em um país com as características do Brasil colonial – que esperamos ter apresentado 
satisfatoriamente ao longo deste Curso – isso significa dizer: nosso projeto de independência 
simplesmente excluiu a esmagadora maioria da população.
15
Material Complementar
Recomendamos este interessante estudo coordenado pelo professor João Paulo Pimenta 
como leitura complementar. O objetivo do trabalho foi mapear como o episódio da 
independência ficou registrado na cultura brasileira, por meio da análise de livros didáticos, 
best-sellers da área de história, filmes, séries para televisão, revistas e pesquisas de opinião 
pública. Não se trata, portanto, de um estudo da independência, mas uma análise de como 
esse episódio se fixou na mentalidade coletiva do brasileiro.
Site:
A referência completa para o texto é: PIMENTA, João Paulo et al. A Independência e uma cultura 
de história no Brasil. Almanack. Guarulhos, n.8, p. 5-36, 2º semestre de 2014. Disponível em: 
http://www.almanack.unifesp.br/index.php/almanack/issue/current
http://www.almanack.unifesp.br/index.php/almanack/issue/current
16
Unidade: O Processo de Independência do Brasil
Referências
COSTA, Emília Viotti da. Introdução ao estudo da emancipação política do Brasil. In: MOTA, 
Carlos Guilherme (org.). Brasil em perspectiva. 6.ed. São Paulo: Difel, 1975. p. 64-125.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13.ed. São Paulo: Edusp, 2009.
MALERBA, Jurandir. As Independências do Brasil: ponderações teóricas em perspectiva 
historiográfica. História. São Paulo, v.24, n.1, p.99-126, 2005.
MOTA, Carlos Guilherme (org.). 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972.
NOVAIS, Fernando; MOTA, Carlos Guilherme. A independência política do Brasil. 2.ed. 
São Paulo: Hucitec, 1996.
17
Anotações

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