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Jurisprudência do STF, STJ e TJPR sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher

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JURISPRUDÊNCIA DO 
ST F S O BRE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA E FAMILIAR 
CONTRA A MULHER 
 
JURISPRUDÊNCIA DO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
E SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA SOBRE VIOLÊNCIA 
CONTRA A MULHER 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 
1. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE OS GÊNEROS. 
CRIAÇÃO DE JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A 
MULHER. 
“VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO 
– TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o 
ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, 
harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as 
peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. COMPETÊNCIA – 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no 
que revela a conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência normativa dos 
estados quanto à própria organização judiciária. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E 
FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O 
artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra 
a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º 
do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado 
adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares” . 
(STF – ADC: 19 DF, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 
09/02/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO Dje-080 
DIVULG 28-04-2014 PUBLIC 29-04-2014.) 
 
2. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA NOS CASOS DE LESÃO CORPORAL 
“AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL 
– NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência 
doméstica contra a mulher é pública incondicionada” (STF – ADI: 4424 DF, 
Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 09/09/2012, Tribunal Pleno, 
Data de Publicação: DJe-148 DIVULG 31-07-2014 PUBLIC 01-08-2014). 
3. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06 – ALCANCE. 
O preceito do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 alcança toda e qualquer prática 
delituosa contra a mulher, até mesmo quando consubstancia contravenção penal, 
como é a relativa a vias de fato. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO 41 DA LEI Nº 
11.340/06 – AFASTAMENTO DA LEI Nº 9.099/95 – CONSTITUCIONALIDADE. Ante 
a opção político-normativa prevista no artigo 98, inciso I, e a proteção versada no 
artigo 226, § 8º, ambos da Constituição Federal, surge harmônico com esta última 
o afastamento peremptório da Lei nº 9.099/95 – mediante o artigo 41 da Lei nº 
11.340/06 – no processo-crime a revelar violência contra a mulher. (HC 106212, 
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-112 DIVULG 10-06-2011 PUBLIC 13-06-2011 RTJ VOL-
00219- PP-00521 RT v. 100, n. 910, 2011, p. 307-327). 
4. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PEDIDO 
DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. INAPLICABILIDADE DA LEI N. 
9.099/1995. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI N. 11.340/2006 (LEI MARIA DA 
PENHA). PRECEDENTE. 
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal assentou a constitucionalidade do art. 
41 da Lei n. 11.340/2006, que afasta a aplicação da Lei n. 9.099/1995 aos 
processos referentes a crimes de violência contra a mulher.2. Ordem denegada. 
(HC 110113, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 
20/03/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-068 DIVULG 03-04-2012 PUBLIC 09-04-
2012). 
5. INCONSTITUCIONALIDADE DA TESE DE “LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA” NOS 
CASOS DE FEMINICÍDIO 
“REFERENDO DE MEDIDA CAUTELAR. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE 
PRECEITO FUNDAMENTAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. 
ARTIGOS 23, INCISO II, E 25, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO PENAL E 
ART. 65 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. “LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA”. NÃO 
INCIDÊNCIA DE CAUSA EXCLUDENTE DE ILICITUDE. RECURSO ARGUMENTATIVO 
DISSONANTE DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ART. 1º, III, DA CF), DA 
PROTEÇÃO À VIDA E DA IGUALDADE DE GÊNERO (ART. 5º, CAPUT, DA CF). 
MEDIDA CAUTELAR PARCIALMENTE DEFERIDA REFERENDADA. “Legítima defesa 
da honra” não é, tecnicamente, legítima defesa. A traição se encontra inserida no 
contexto das relações amorosas. Seu desvalor reside no âmbito ético e moral, não 
havendo direito subjetivo de contra ela agir com violência. Quem pratica 
feminicídio ou usa de violência com a justificativa de reprimir um adultério não 
está a se defender, mas a atacar uma mulher de forma desproporcional, covarde 
e criminosa. O adultério não configura uma agressão injusta apta a excluir a 
antijuridicidade de um fato típico, pelo que qualquer ato violento perpetrado 
nesse contexto deve estar sujeito à repressão do direito penal. A “legítima defesa 
da honra” é recurso argumentativo/retórico odioso, desumano e cruel utilizado 
pelas defesas de acusados de feminicídio ou agressões contra a mulher para 
imputar às vítimas a causa de suas próprias mortes ou lesões. Constitui-se em 
ranço, na retórica de alguns operadores do direito, de institucionalização da 
desigualdade entre homens e mulheres e de tolerância e naturalização da 
violência doméstica, as quais não têm guarida na Constituição de 1988. Tese 
violadora da dignidade da pessoa humana, dos direitos à vida e à igualdade entre 
homens e mulheres (art. 1º, inciso III, e art. 5º, caput e inciso I, da CF/88), pilares 
da ordem constitucional brasileira. A ofensa a esses direitos concretiza-se, 
sobretudo, no estímulo à perpetuação da violência contra a mulher e do 
feminicídio. O acolhimento da tese tem a potencialidade de estimular práticas 
violentas contra as mulheres ao exonerar seus perpetradores da devida sanção. 
A “legítima defesa da honra” não pode ser invocada como argumento inerente à 
plenitude de defesa própria do tribunal do júri, a qual não pode constituir 
instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas. Assim, devem prevalecer a 
dignidade da pessoa humana, a vedação a todas as formas de discriminação, o 
direito à igualdade e o direito à vida, tendo em vista os riscos elevados e 
sistêmicos decorrentes da naturalização, da tolerância e do incentivo à cultura da 
violência doméstica e do feminicídio. Na hipótese de a defesa lançar mão, direta 
ou indiretamente, da tese da “legítima defesa da honra” (ou de qualquer 
argumento que a ela induza), seja na fase pré-processual, na fase processual ou 
no julgamento perante o tribunal do júri, caracterizada estará a nulidade da 
prova, do ato processual ou, caso não obstada pelo presidente do júri, dos 
debates por ocasião da sessão do júri, facultando-se ao titular da acusação 
recorrer de apelação na forma do art. 593, III, a, do Código de Processo Penal. 
Medida cautelar parcialmente concedida para (i) firmar o entendimento de que a 
tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios 
constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), da proteção à 
vida e da igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF); (ii) conferir interpretação 
conforme à Constituição aos arts. 23, inciso II, e 25, caput e parágrafo único, do 
Código Penal e ao art. 65 do Código de Processo Penal, de modo a excluir a 
legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima defesa; e (iii) obstar 
à defesa, à acusação, à autoridade policial e ao juízo que utilizem, direta ou 
indiretamente, a tese de legítima defesa da honra (ou qualquer argumento que 
induza à tese) nas fases pré-processual ou processual penais, bem como durante 
o julgamento perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do ato e do 
julgamento. Medida cautelar referendada”. (STF – ADPF: 779 DF 0112261-
18.2020.1.00.0000, Relator: DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 15/03/2021, 
Tribunal Pleno, Data de Publicação: 20/05/2021).SUPERIOR TRIBUNAL JUSTIÇA 
 
1 – SUSPENSÃO DO PROCESSO E TRANSAÇÃO PENAL 
Em um passo importante na evolução jurisprudencial, o STJ editou, em 2015, 
a Súmula 536 (A suspensão condicional do processo e a transação penal não se 
aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha), na qual 
estabeleceu que a suspensão condicional do processo e a transação penal não se 
aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Maria da Penha, sendo proibida 
a concessão de benefícios da Lei 9.099/1995 – Lei dos Juizados Especiais. No HC 
196.253, a defesa de um homem condenado por agredir sua companheira 
solicitou a suspensão do processo por considerar que o artigo 41 da Lei Maria da 
Penha não vedaria a concessão do benefício quando se tratasse de contravenção 
penal. Ao negar o pedido, o relator, ministro Og Fernandes, afirmou que, 
"alinhando-se à orientação jurisprudencial concebida no seio do Supremo 
Tribunal Federal, a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça adotou o 
entendimento de serem inaplicáveis aos crimes e contravenções penais pautados 
pela Lei Maria da Penha os institutos despenalizadores previstos na Lei 
9.099/1995, entre eles, a suspensão condicional do processo". 
2 – AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA 
No mesmo ano, o tribunal editou a Súmula 542, fixando que "a ação penal relativa 
ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é 
pública incondicionada" – ou seja, a propositura da ação fica a cargo do Ministério 
Público e não depende de representação da vítima. Além disso, em 2017, a 
Terceira Seção revisou entendimento adotado no rito dos recursos repetitivos 
(Tema 177) para ajustá-lo à jurisprudência do STF, estabelecendo que também 
nos crimes de lesão corporal leve cometidos contra a mulher, no âmbito 
doméstico e familiar, a ação é pública incondicionada (Pet 11.805). De acordo com 
o ministro Rogerio Schietti Cruz, autor da proposta de revisão de tese, a alteração 
considerou os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da 
isonomia. 
3 – SUBSTITUIÇÃO DE PENA 
Outro passo significativo foi dado pelo STJ, também em 2017, com a aprovação 
da Súmula 588 (A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com 
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da 
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos), definindo que a prática de 
crime ou contravenção contra a mulher no ambiente doméstico, com violência ou 
grave ameaça, impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por 
restritiva de direitos. Segundo o ministro Ribeiro Dantas, relator do HC 590.301, 
nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, é vedada a aplicação 
de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a 
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa, conforme 
o artigo 17 da Lei Maria da Penha. "A Lei Maria da Penha veda a aplicação de 
prestação pecuniária e a substituição da pena corporal por multa isoladamente. 
Por consequência, ainda que o crime pelo qual o réu tenha sido condenado tenha 
previsão alternativa de pena de multa, como na hipótese, não é cabível a 
aplicação exclusiva de tal reprimenda em caso de violência ou grave ameaça 
contra a mulher", afirmou. 
4 – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
A Súmula 589 (É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou 
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações 
domésticas.) do STJ preceitua ser inaplicável o princípio da insignificância nos 
crimes ou nas contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das 
relações domésticas. No julgamento do AgRg no REsp 1.743.996, o ministro 
Reynaldo Soares da Fonseca explicou que a jurisprudência do tribunal veda a 
aplicação do princípio da insignificância, mesmo que o casal tenha se reconciliado 
após o episódio de violência. Segundo o ministro, "não incidem os princípios da 
insignificância e da bagatela imprópria aos crimes e às contravenções praticados 
mediante violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações 
domésticas, dada a relevância penal da conduta". 
5 – INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL 
Nos casos de violência doméstica contra a mulher, "é possível a fixação de valor 
mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da 
acusação ou da parte ofendida, ainda que não indicada a quantia, e 
independentemente de instrução probatória específica". Essa foi a tese fixada em 
2018 pela Terceira Seção ao julgar recursos especiais repetitivos (Tema 983) que 
discutiam a possibilidade da reparação de natureza cível por meio de sentença 
condenatória nos casos de violência doméstica. O relator, Rogerio Schietti, 
destacou que a Lei Maria da Penha passou a permitir que o juízo criminal decida 
sobre reparações relacionadas à dor e à humilhação da vítima, as quais derivam 
da prática criminosa e possuem difícil mensuração e comprovação. O que se tem 
de provar, segundo ele, é a própria imputação criminosa; uma vez demonstrada a 
agressão à mulher, "os danos psíquicos dela derivados são evidentes e nem têm 
mesmo como ser demonstrados". 
6 – DESNECESSIDADE DE COABITAÇÃO 
Um dos questionamentos enfrentados pelo STJ foi sobre a necessidade de 
coabitação para a caracterização da violência tratada nos dispositivos da Lei Maria 
da Penha. O tribunal decidiu então que a relação existente entre o sujeito ativo e 
o passivo deve ser analisada em face do caso concreto para verificar a aplicação 
da Lei, sendo desnecessário que se configure a coabitação entre eles (HC 
184.990). No caso analisado pela Sexta Turma, foi reconhecida a aplicação da 
Maria da Penha por existir relação íntima de afeto familiar entre os agressores e 
a vítima. "A hipótese, portanto, se amolda àquele objeto de proteção da Lei 
11.340/2006, já que caracterizada a relação íntima de afeto, em que os 
agressores, todos irmãos da vítima, conviveram com a ofendida, inexistindo a 
exigência de coabitação no tempo do crime para a configuração da violência 
doméstica contra a mulher", afirmou o ministro Og Fernandes. O entendimento 
está consolidado na Súmula 600: ”para configuração da violência doméstica e 
familiar prevista no artigo 5º da Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, não se 
exige a coabitação entre autor e vítima”. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 
22/11/2017. 
7 – FAMA E VULNERABILIDADE 
Nos casos de agressão em razão do gênero, o fato de a vítima ser figura pública 
renomada não afasta a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher para julgar o delito. A decisão foi tomada em 2014, pela Quinta 
Turma, ao analisar caso envolvendo uma atriz que levou um tapa no rosto do 
namorado em público. Para a ministra Laurita Vaz, a condição de destaque da 
mulher no meio social, seja por situação profissional ou econômica, não afasta a 
incidência da Maria da Penha, nos casos em que ela for submetida a uma situação 
de violência decorrente de relação íntima afetiva. "A situação de vulnerabilidade 
e fragilidade da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto, nas 
circunstâncias descritas pela lei de regência, se revela ipso facto. Com efeito, a 
presunção de hipossuficiência da mulher, a implicar a necessidade de o Estado 
oferecer proteção especial para reequilibrar a desproporcionalidade existente, 
constitui-se em pressuposto de validade da própria lei", destacou a ministra. 
8 – EXECUÇÃO DE ALIMENTOS 
Para o STJ, cabe ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher 
julgar a execução de alimentos fixados a título de medida protetiva de urgência 
em favor de filho do casal em conflito. A decisão foi tomada em processo 
envolvendo uma mulher agredida pelo marido. Ela procurou a vara especializada 
em violência doméstica, pleiteando medidas protetivas – entre elas, alimentos 
provisionais, que foram deferidos pela juíza. Segundo o ministro Moura Ribeiro, 
mesmo que a regra geral atribua a questão dos alimentos às varas de família,cabe 
ao juizado especializado – quando procurado pela vítima de violência doméstica 
– apreciar o pedido e, se for o caso, fixar a verba alimentar. Negar o julgamento 
pela vara especializada, postergando o recebimento dos alimentos arbitrados 
como urgentes, seria "afastar o espírito protetivo da lei", afirmou o ministro. 
Este entendimento confronta o ENUNCIADO 35 do FONAVID: “O juízo de violência 
doméstica e familiar contra a mulher não é competente para a execução de 
alimentos fixados em medidas protetivas de urgência”, vez que tal entendimento 
enfraquece a especialização do JVCFCM, levando ao risco de prescrição de crimes, 
ante a cumulação de competências. 
9 – AMEAÇA A PARTIR DO EXTERIOR 
Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência 
decorrente de ameaça feita a partir do estrangeiro, por meio de redes sociais, 
contra mulher que vive no Brasil. Assim decidiu o STJ no julgamento do CC 
150.712, em 2018, quando a Terceira Seção analisou um suposto caso de crime 
de ameaça cometido por morador dos Estados Unidos contra a ex-namorada. Com 
base em entendimento anterior do STF, o colegiado concluiu que, embora as 
convenções sobre combate à violência de gênero firmadas pelo Brasil não tratem 
do crime de ameaça, a Lei Maria da Penha concretizou o dever assumido pelo país 
nesse campo. O relator, ministro Joel Ilan Paciornik, destacou que esses acordos 
internacionais asseguram os direitos das mulheres e estabelecem recomendações 
para a erradicação de qualquer forma de discriminação e violência contra elas. 
10 – VÍNCULO TRABALHISTA E SALÁRIO 
Em 2019, a Sexta Turma decidiu que o afastamento do serviço por até seis meses, 
quando isso for necessário para preservar a integridade física e psicológica da 
mulher em situação de violência doméstica, deve ser remunerado. Para o 
colegiado, esse afastamento – previsto no artigo 9º, parágrafo 2º, inciso II, da Lei 
Maria da Penha – tem natureza jurídica de interrupção do contrato de trabalho; 
assim, analogicamente, a mulher tem direito ao auxílio-doença, o que significa 
que o empregador deve se responsabilizar pelo pagamento dos 15 primeiros dias, 
ficando o restante do período a cargo do INSS. Segundo o ministro Rogerio 
Schietti, a lei assegurou a manutenção do vínculo empregatício, sem nada 
estabelecer quanto à remuneração. "A vítima de violência doméstica não pode 
arcar com danos resultantes da imposição de medida protetiva em seu favor", 
afirmou o magistrado. Na falta de norma legal específica, ele concluiu que a 
solução mais razoável é a imposição, ao INSS, dos efeitos remuneratórios do 
afastamento do trabalho. O entendimento fixado pela corte se mostra ainda mais 
relevante quando consideradas as informações do estudo Participação no 
Mercado de Trabalho e Violência Doméstica contra as Mulheres no Brasil, 
publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), segundo o qual a 
ocorrência de violência doméstica contra mulheres que integram a população 
economicamente ativa é praticamente o dobro daquela que se verifica entre as 
que não estão no mercado de trabalho. 
11 – NETO DA PATROA CONTRA EMPREGADA 
Em fevereiro de 2021, a Sexta Turma confirmou decisão do ministro Sebastião 
Reis Júnior para restabelecer sentença que condenou um homem por atentado 
violento ao pudor (atual delito de estupro) praticado contra a empregada 
doméstica da casa de sua avó. O tribunal estadual, na análise de revisão criminal, 
entendeu que a vara especializada em violência doméstica seria incompetente 
para julgar o caso, e anulou a sentença condenatória. Como o neto não morava 
na casa da avó, a corte entendeu que não seria aplicável a Lei Maria da Penha, 
que prevê a competência da vara especializada. Entretanto, segundo o ministro 
Sebastião Reis Júnior, relator do caso, a sentença registrou que o crime foi 
cometido em ambiente doméstico, tendo o neto da patroa se aproveitado do 
convívio com a empregada da casa para praticá-lo – situação que se enquadra na 
hipótese do artigo 5º, inciso I, da Lei Maria da Penha. De acordo com o ministro, 
"o que se exige é um nexo de causalidade entre a conduta criminosa e a relação 
de intimidade pré-existente, gerada pelo convívio doméstico, sendo 
desnecessária coabitação ou convívio contínuo entre o agressor e a vítima, 
podendo o contato ocorrer de forma esporádica". Ao restabelecer a sentença, 
Sebastião Reis Júnior ressaltou parecer do Ministério Público Federal segundo o 
qual a existência de relação hierárquica e a hipossuficiência da vítima não deixam 
dúvidas quanto a se tratar de um caso de violência doméstica contra a mulher. 
12 – ABRANGÊNCIA AMPLA 
A violência combatida pela Maria da Penha pode ser cometida por qualquer 
pessoa, inclusive por outra mulher, que tenha uma relação familiar ou afetiva com 
a vítima. A Quinta Turma, no julgamento do AgRg no AREsp 1.626.825, por 
constatar a situação de vulnerabilidade, aplicou a lei a um caso de violência 
praticada por neto contra a avó. Para o relator, ministro Felix Fischer, a Maria da 
Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar cometida no 
âmbito da unidade doméstica, da família ou de qualquer relação íntima de afeto. 
Fischer citou precedentes da corte (entre eles, o HC 310.154) que consideraram, 
com base na doutrina, que estão no âmbito de abrangência do delito de violência 
doméstica as esposas, companheiras ou amantes, bem como a mãe, filhas, netas, 
sogra, avó ou qualquer outra mulher que mantenha vínculo familiar ou afetivo 
com o agressor. 
13 – MÃE VULNERÁVEL, FILHAS AGRESSORAS 
Da mesma forma, para o STJ, nos termos do artigo 5º, inciso III, da Lei 
11.340/2006, é possível a caracterização de violência doméstica e familiar nas 
relações entre filhas e mãe, desde que os fatos tenham sido praticados em razão 
da relação de intimidade e afeto. O entendimento foi firmado pela Quinta Turma 
em 2014, ao negar habeas corpus (HC 277.561) para duas mulheres acusadas de 
constrangerem e ameaçarem a própria mãe. Elas pediam a anulação do processo 
instaurado no Juizado de Violência Doméstica e a desconstituição das medidas 
protetivas deferidas com base nos artigos 22 e 23 da Lei 11.340/2006. Segundo o 
ministro Jorge Mussi, as instâncias ordinárias apontaram a condição de 
vulnerabilidade da mãe na relação com as filhas agressoras, o que justifica a 
incidência da Maria da Penha. "Infere-se que o objeto de tutela da Lei 
11.340/2006 é a mulher em situação de vulnerabilidade não só em relação ao 
cônjuge ou companheiro, mas também qualquer outro familiar ou pessoa que 
conviva com a vítima, independentemente do gênero do agressor", acrescentou 
o ministro. 
14 – RETRATAÇÃO SÓ DIANTE DO JUIZ 
Embora a representação da vítima não seja mais necessária para a abertura 
da ação penal no caso de lesão corporal em ambiente doméstico, o STJ ainda julga 
casos relacionados à situação jurídica anterior. Em 2019, a Quinta Turma não 
conheceu de habeas corpus apresentado pela defesa de um homem denunciado 
por lesão corporal e estupro – crime para o qual a legislação penal também deixou 
de exigir a representação, em 2018. Segundo o relator, Ribeiro Dantas, a Lei Maria 
da Penha estabeleceu em seu artigo 16 um procedimento próprio para a 
retratação da vítima nas ações penais públicas condicionadas, exigindo que a 
renúncia à representação fosse manifestada em audiência perante o juiz, e antes 
do recebimento da denúncia. Por outro lado, a jurisprudência da corte considera 
que, depois de oferecida a denúncia, a representação do ofendido será 
irretratável, conforme o disposto nos artigos 102 do Código Penal e 25 do Código 
de Processo Penal. No caso julgado, após o oferecimento da denúncia, a vítima 
compareceu ao cartório da vara e expressou o desejo de se retratar. Com base 
nisso, o juiz rejeitou a denúncia. O tribunal estadual mandou que a ação 
prosseguisse, e houve a impetração do habeas corpus no STJ. O ministro Ribeiro 
Dantas explicou que, como a retratação ocorreusomente em cartório, e não em 
audiência, foi correta a decisão da corte local. Quanto ao estupro, o relator 
também considerou que a retratação não deveria ter efeito, pois foi manifestada 
após o oferecimento da denúncia. 
15 – AGRESSÕES COMETIDAS PELO EX 
"A Lei 11.340/2006 buscou proteger não só a vítima que coabita com o agressor, 
mas também aquela que, no passado, já tenha convivido no mesmo domicílio, 
contanto que haja nexo entre a agressão e a relação íntima de afeto que já existiu 
entre os dois", anotou o ministro Napoleão Nunes Maia Filho no julgamento do CC 
102.832, em 2009. Ao analisar o HC 542.828, o ministro Reynaldo Soares da 
Fonseca refutou a tese defensiva de que a ausência de contemporaneidade entre 
o delito de injúria e o casamento do ofensor com a vítima – rompido 20 anos antes 
– impediria a incidência da Maria da Penha. Para a lei – acrescentou –, é 
irrelevante o tempo de dissolução do vínculo conjugal, se a conduta tida como 
criminosa está vinculada à relação de afeto que houve entre as partes. Em outro 
processo (HC 477.723), a defesa afirmou que a Maria da Penha não poderia ser 
aplicada, pois o acusado e a vítima estavam separados de fato havia 13 anos. No 
entanto, segundo a ministra Laurita Vaz, sendo o agressor e a vítima ex-cônjuges, 
"pode-se concluir, em tese, que há entre eles relação íntima de afeto para fins de 
aplicação das normas contidas na Lei Maria da Penha". 
16. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA E CRIME DE 
DESOBEDIÊNCIA 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. 
DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA. OFENSA A PRINCÍPIOS 
CONSTITUCIONAIS. IMPROPRIEDADE. PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. 
MANUTENÇÃO PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. AGRAVO REGIMENTAL 
PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. I - A análise de ofensa a dispositivos 
ou princípios de índole constitucional não cabe em sede de recurso especial, 
devendo ser alegada pela via do recurso extraordinário. II - O Superior Tribunal 
de Justiça adota o entendimento de que o descumprimento de medida protetiva 
prevista na Lei Maria da Penha não caracteriza a ocorrência do delito de 
desobediência previsto no art. 330 do Código Penal - CP. Precedentes. II - Decisão 
agravada que deve ser mantida por seus próprios fundamentos, uma vez que as 
razões do agravo regimental não cuidam de infirmar os fundamentos da decisão 
recorrida. III - Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1490460/DF, Rel. 
Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA 
TURMA, julgado em 16/04/2015, DJe 11/05/2015). 
17. CARÁTER CAUTELAR AUTÔNOMO DA MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA 
“RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 22 DE LEI N. 11.340/2006. PLEITO DE 
REVOGAÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS ANTE A CONSIDERAÇÃO DA ABSOLVIÇÃO 
DO RECORRENTE. IRRELEVÂNCIA. CARÁTER AUTÔNOMO POR CONTA DA SUA 
NATUREZA CAUTELAR. JURISPRUDÊNCIA DO STJ. 
(...) 1. As medidas protetivas de urgência são autônomas, podendo ser deferidas 
independentemente da existência de inquérito policial ou ação penal em curso. 
Visam à proteção de pessoas e não de processos. "Assemelham-se aos writs 
constitucionais que, como o habeas corpus ou o mandado de segurança, não 
protegem processos, mas direitos fundamentais do indivíduo" (HC 340.624/SP, 
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 
23/02/2016, DJe 02/03/2016). (..) Com efeito, tenho que a análise do 
requerimento de medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006, 
independentemente de persecução penal, deve estar pautado em fundamentos 
próprios concernentes à necessidade de proteção da mulher contra todo tipo de 
violência, seja física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, garantindo-lhe uma 
assistência efetiva e eficaz, sobretudo quando estiver em situação de violência 
doméstica e familiar, como ocorreu na hipótese dos autos. Nesse sentido, para a 
jurisprudência desta Corte Superior, em conformidade com a doutrina mais 
autorizada, as medidas protetivas de urgência, previstas no art. 22 da Lei n. 
11.340/2006, não se destinam à utilidade e efetividade de um processo específico. 
Sua configuração remete à tutela inibitória, visto que tem por escopo proteger a 
vítima, independentemente da existência de inquérito policial ou ação penal, não 
sendo necessária a realização do dano, mas, apenas, a probabilidade do ato ilícito 
[...] O subsistema inerente à Lei Maria da Penha impõe do intérprete e aplicador 
do Direito um olhar diferenciado para a problemática da violência doméstica, com 
a perspectiva de que todo o complexo normativo ali positivado tem como mira a 
proteção da mulher vítima de violência de gênero no âmbito doméstico, familiar 
ou de uma relação íntima de afeto, como corolário do mandamento inscrito no 
art. 226, § 8º da Constituição da República (RHC n. 74.395/MG, Ministro Rogerio 
Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 21/2/2020 – grifo nosso). 
Vale reiterar que as medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006, em 
especial as elencadas nos arts. 22, 23 e 24, podem ser requeridas de forma 
autônoma visando cessar ou impedir a ocorrência de violência doméstica contra 
a mulher, ainda que inexistente o processo-crime ou ação principal contra o 
suposto agressor. Ante o exposto, com fundamento no art. 255, § 4º, II, do RISTJ, 
nego provimento ao recurso especial. Publique-se. Brasília, 25 de novembro de 
2021”. RESP Nº 1937822 - DF (2021/0143141-8) - Relator Ministro SEBASTIÃO REIS 
JÚNIOR, 29/11/2021). 
 
18. PREVALÊNCIA DA PALAVRA DA VÍTIMA NA AÇÃO PENAL E MEDIDA 
PROTETIVA DE URGÊNCIA 
“AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. APELAÇÃO CRIMINAL. VIAS DE FATO NO 
ÂMBITO DOMÉSTICO (ART. 21 DO DECRETO-LEI 3.688/41C/C ART. 7º DA LEI Nº 
11.340/06). RECURSO DA DEFESA. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. ALEGAÇÃO DE 
INSUFICIENCIA DE PROVAS. INACOLHIDO. MATERIALIDADE E AUTORIA 
DEVIDAMENTE COMPROVADAS. PALAVRA DA VÍTIMA CORROBORADA COM O 
LAUDO PERICIAL. RELEVÂNCIA. CONDENAÇÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO 
E IMPROVIDO. (...) A jurisprudência pátria é pacífica ao atribuir ao depoimento 
da vítima relevância especial, nos casos em que os fatos são ocorridos na 
presença apenas do denunciado e da vítima. (...)” (STJ. AGRAVO EM RECURSO 
ESPECIAL Nº 1823759 - SE (2021/0023938-7), julgado em 19 de maio de 2021. 
Relator Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO) 
 
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. LEI MARIA DA 
PENHA. MEDIDAS PROTETIVAS. FUNDAMENTAÇÃO. PALAVRA DA VÍTIMA. 
RELEVÂNCIA. INEXISTÊNCIA DE RISCO PARA A OFENDIDA. EXAME FÁTICO 
PROBATÓRIO, INCABÍVEL EM HABEAS CORPUS. RECURSO DESPROVIDO. (...) 3. A 
jurisprudência deste Tribunal Superior tem entendido que, em casos de 
violência doméstica, a palavra da vítima tem especial relevância, pois ocorre 
frequentemente em situações de clandestinidade. Precedentes. 4. A apreciação 
da suposta desnecessidade das medidas protetivas demandaria reexame 
aprofundado do conjunto probatório, incabível na via estreita do habeas corpus. 
Precedentes. 5. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.” (RHC 
102.859/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 06/11/2018, 
DJe 23/11/2018) 
19. AGRAVANTE ARTIGO 61, II, F, DO CÓDIGO PENAL NA VIOLÊNCIA CONTRA A 
MULHER NÃO CONFIGURA BIS IN IDEM 
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL E 
AMEAÇA NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AGRAVANTE PREVISTA NO 
ART. 61, II, ‘F’, DO CÓDIGO PENAL. DISPOSIÇÕES DA LEI N. 11.340/2006. BIS IN 
IDEM. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO. 1. ‘Nos termos da 
jurisprudência desta Corte Superior, a aplicação da agravante prevista no art. 
61, II, f, do Código Penal, de modo conjunto com outras disposições da Lei n. 
11.340/2006 não acarreta bis in idem, pois a Lei Maria da Penha visou 
recrudescer o tratamento dado para a violência doméstica e familiar contra a 
mulher’ (AgRg no HC n. 463.520/SC, relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 
SEXTA TURMA, julgado em 25/9/2018, DJe 10/10/2018.) 2. Agravo regimental 
desprovido” (6ª Turma, AgRg no REsp nº 1.911.818/SP, Rel. Min. AntonioSaldanha 
Palheiro, j. em 10.08.2021)”. 
 
20. DESCUMPRIMENTO REITERADO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA E 
VALORAÇÃO NEGATIVA DA PERSONALIDADE DO AGENTE 
“o descumprimento reiterado de medidas protetivas de urgência é fundamento 
idôneo para valorar negativamente a personalidade do agente, porquanto tal 
comportamento revela seu especial desrespeito e desprezo tanto pela mulher 
quanto pelo sistema judicial. Ademais, denota intrepidez do paciente, porquanto, 
não obstante a imposição judicial de proibição de aproximação da vítima, a 
providência foi por ele desprezada a fim de concretizar o objetivo” (HC 
452.391/PR, Rel. Min. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 6ª Turma, DJe 04/06/2019). 
 
21. CONDUTA VIOLENTA NA PRESENÇA DOS FILHOS – CULPABILIDADE 
NEGATIVA 
HABEAS CORPUS. PENAL. AMEAÇA. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. PALAVRA DA 
VÍTIMA. VALOR PROBATÓRIO. AUSÊNCIA DE SERIEDADE DA AMEAÇA. REEXAME 
FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA. CULPABILIDADE. CRIME 
PRATICADO NA PRESENÇA DE FILHO MENOR DE IDADE. MOTIVAÇÃO. CIÚME 
EXCESSIVO. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. A palavra da 
vítima, em harmonia com os demais elementos presentes nos autos, possui 
relevante valor probatório, especialmente em crimes que envolvem violência 
doméstica e familiar contra a mulher. 2. A pretensão de absolvição do Paciente 
por ausência de provas ou por ausência de seriedade na ameaça exigiria 
aprofundado reexame do conjunto fático-probatório, com o objetivo de elidir as 
conclusões das instâncias ordinárias acerca da dinâmica dos fatos, o que não é 
possível nos limites estreitos do habeas corpus. 3. É adequada a valoração 
negativa da culpabilidade do agente que pratica o crime na presença de seu filho 
menor de idade, bem como a avaliação negativa da motivação consistente em 
ciúme excessivo nutrido pelo agressor. 4. Ordem denegada. 
 
22. CONDENAÇÃO MESMO COM RETRATAÇÃO DA OFENDIDA NA FASE POLICIAL 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL NO 
ÂMBITO FAMILIAR. DEPOIMENTO DA VÍTIMA COLHIDO NA FASE INQUISITORIAL 
CORROBORADO POR OUTRAS PROVAS PRODUZIDAS SOB O CONTRADITÓRIO. 
VIOLAÇÃO DO ART. 155 DO CPP. NÃO OCORRÊNCIA. REVALORAÇÃO DAS PROVAS. 
PLEITO DE REEXAME DO CONTEÚDO FÁTICO-PROBATÓRIO. ÓBICE DA SÚMULA N. 
7 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte 
entende que as provas produzidas no inquérito podem servir de suporte para a 
condenação, desde que corroboradas pelo conjunto probatório colhido sob o 
contraditório. 2. Nos delitos de violência doméstica em âmbito familiar, em regra, 
praticados sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima recebe 
considerável ênfase. 3. In casu, as instâncias ordinárias consignaram que o 
depoimento da vítima, colhido apenas na fase inquisitorial, foi confirmado pelas 
demais provas produzidas no contraditório judicial, de modo que não se pode 
falar em violação do art. 155 do CPP. 4. A revaloração dos elementos fático-
probatórios já delineados pelas instâncias ordinárias não se confunde com o 
reexame de provas. 5. O pedido do agravante de que as provas sejam analisadas 
por esta Sexta Turma sob o prisma defensivo não pode ser conhecido, por 
encontrar óbice na Súmula n. 7 do STJ. 6. Agravo regimental não provido (AgRg no 
AREsp 1143114/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, DJe 
01/06/2018) 
 
DECISÕES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ 
ASPECTOS PENAIS E PROCESSUAIS 
1. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA E MUDANÇA DO DEPOIMENTO EM JUÍZO – 
RECONCILIAÇÃO DO CASAL. 
“APELAÇÃO CRIME – DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA (ART. 339, DO CP) – 
PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA.APELO DA DEFESA – 1. PLEITO PELA ABSOLVIÇÃO 
DA APELANTE DO DELITO DE DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA – CABIMENTO – RÉ QUE 
PROCUROU A AUTORIDADE POLICIAL RELATANDO A OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – ACUSADA QUE MUDOU 
PARCIALMENTE A SUA VERSÃO DOS FATOS QUANDO OUVIDA EM JUÍZO – CASAL 
QUE HAVIA REATADO A RELAÇÃO CONJUGAL – NECESSIDADE DE SE CONSIDERAR 
AS PRESSÕES SOFRIDAS PELAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA PARA A 
RETRATAÇÃO DOS FATOS – ANIMUS CALUNIANDI QUE NÃO RESTOU 
DEVIDAMENTE CONFIGURADO – ABSOLVIÇÃO – ART. 386, III, CPP – 2. 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – PEDIDO DE MAJORAÇÃO AOS FIXADOS EM 
PRIMEIRO GRAU – NÃO CABIMENTO – 2.1. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS 
ADVOCATÍCIOS PELA ATUAÇÃO EM GRAU RECURSAL – DEFENSOR DATIVO – 
CABIMENTO – RECURSO PROVIDO. Não havendo provas suficientes a demonstrar 
o elemento subjetivo exigido para a configuração do crime de denunciação 
caluniosa (animus caluniandi), imperioso reformar a decisão guerreada, para o fim 
de absolver a acusada/apelante, com fundamento no artigo 386, inciso III, do 
Código de Processo Penal. Os honorários advocatícios fixados na decisão 
monocrática mostram-se proporcionais e adequados com o trabalho efetuado 
pelo defensor dativo, não merecendo a sua majoração. 2.1. O Estado deve arcar 
com o pagamento de honorários advocatícios ao defensor dativo nomeado pelo 
juiz à parte, juridicamente necessitada, para apresentação das razões recursais”. 
(TJPR - 2ª C.Criminal - 0005165-85.2019.8.16.0084 - Goioerê - Rel.: 
DESEMBARGADOR LUIS CARLOS XAVIER - J. 03.11.2021) 
 
 
 
2. CONDENAÇÃO MESMO COM RETRATAÇÃO EM JUÍZO (reconciliação) 
“APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CRIME DE 
LESÃO CORPORAL. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. RECURSO DA ACUSAÇÃO. 
MATERIALIDADE E AUTORIA DEVIDAMENTE COMPROVADAS. PALAVRA DA 
VÍTIMA, AINDA QUE COLHIDA NA FASE EXTRAJUDICIAL, AMPARADA NOS DEMAIS 
ELEMENTOS DE PROVA CONSTANTES DOS AUTOS. LEGÍTIMA DEFESA NÃO 
CONFIGURADA. SENTENÇA REFORMADA. PRETENSÃO PUNITIVA JULGADA 
PROCEDENTE. CONDENAÇÃO DO APELADO À PENA DE 03 MESES E 15 DIAS DE 
DETENÇÃO, EM REGIME ABERTO, E AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO 
MORAL À VÍTIMA. RECURSO PROVIDO” (TJPR, 1ª C. Crim., Apelação nº 0002815-
42.2021.8.16.0024, Rel. Des. Xisto Pereira, j. 08.4.2022. Decisão unânime). 
3. SILÊNCIO DA VÍTIMA E CONDENAÇÃO COM BASE NA PROVA COLHIDA NA 
FASE POLICIAL 
“APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. GRATUIDADE 
PROCESSUAL. MATÉRIA AFETA AO JUÍZO DA EXECUÇÃO. NÃO CONHECIMENTO. 
ARGUIÇÃO DE NULIDADE DA OITIVA DA VÍTIMA EM JUÍZO. QUESTÃO NÃO 
ARGUIDA PELA DEFESA EM MOMENTO OPORTUNO. OCORRÊNCIA DA 
PRECLUSÃO. PRELIMINAR REJEITADA. CRIME DE LESÃO CORPORAL. PRETENDIDA 
ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. INVIABILIDADE. MATERIALIDADE 
E AUTORIA DEVIDAMENTE COMPROVADAS. PALAVRA DA VÍTIMA, AINDA QUE 
COLHIDA NA FASE EXTRAJUDICIAL, EM CONSONÂNCIA COM PROVA NÃO 
REPETÍVEL, ISTO É, COM O LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO (CPP, ART. 
155). IRRELEVÂNCIA, DO PONTO DE VISTA PENAL, DA RECONCILIAÇÃO DO CASAL. 
INAPLICABILIDADE, NO CASO EM EXAME, DO PRINCÍPIO ‘IN DUBIO PRO REO’. 
CONDENAÇÃO MANTIDA. PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE 
DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO § 4º DO ART. 129 DO CÓDIGO PENAL. NÃO 
ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE QUE TENHA O RÉU AGIDO SOB 
O DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, LOGO APÓS A INJUSTA PROVOCAÇÃO DA 
VÍTIMA. AFASTAMENTO DE UMA DAS CONDIÇÕES DO REGIME ABERTO, A DE 
COMPARECER MENSALMENTE EM JUÍZO. CONDIÇÃO OBRIGATÓRIA POR FORÇA 
DO DISPOSTO NO INCISO IV DO ART. 115 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. RECURSO 
PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, NÃO PROVIDO” 
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO E CONTRADIÇÕES. 
VÍCIOS INEXISTENTES. NULIDADE DA OITIVA DA VÍTIMA NÃO ARGUIDA EM 
MOMENTO OPORTUNO. DEFESA QUE SE RESTRINGIU A INVOCAR, EM AUDIÊNCIA, 
O DIREITO DE A VÍTIMA PERMANECER EM SILÊNCIO. INJUSTA PROVOCAÇÃO DA 
VÍTIMA E VIOLENTA EMOÇÃO DO RÉU NÃO EVIDENCIADAS. INVIABILIDADE DE 
RECONHECIMENTO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DA PENA PREVISTA NO 
ART. 129, §4º, DO CÓDIGO PENAL. INADMISSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DO QUE 
SE DECIDIU. ACLARATÓRIOS REJEITADOS”. 
(TJPR - 1ª C.Criminal - 0014387-09.2018.8.16.0021 - Cascavel 
- Rel.: DESEMBARGADOR ADALBERTO JORGE XISTO PEREIRA - J. 30.07.2022)

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