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GEOGRAFIA AGRÁRIA

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GEOGRAFIA 
AGRÁRIA
Letícia Roberta Amaro Trombeta
Agroecologia e 
agricultura orgânica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Analisar a trajetória do movimento agroecológico brasileiro.
 � Descrever os limites e o desafio da agroecologia brasileira. 
 � Explicar as implicações econômicas, sociais e ambientais da agricultura 
orgânica.
Introdução
Neste capítulo, você entenderá como se constituiu e o que motivou a 
trajetória do movimento agroecológico no Brasil, além de sua importância 
em relação à agricultura convencional. Também conseguirá compreender 
quais os limites e as perspectivas para a perpetuação da agroecologia, 
sobretudo no Brasil, e os principais problemas e soluções que a agricultura 
orgânica pode oferecer do ponto de vista econômico, ambiental e social 
para os produtores e consumidores.
Você verá que o capítulo está dividido em três partes: a primeira 
abordará a trajetória do movimento agroecológico no Brasil; a segunda, 
os limites e desafios postos ao desenvolvimento da agroecologia no 
Brasil; e a última, as implicações econômicas, sociais e ambientais da 
agricultura orgânica.
1 Trajetória da agroecologia no Brasil
A agroecologia surgiu em um contexto amplo, a partir da agricultura alterna-
tiva, ainda na década de 1920 na Alemanha, e, mais tarde, como agricultura 
ecológica em oposição ao domínio de uma agricultura extensiva e que usava 
largamente insumos químicos.
Com a Segunda Revolução Industrial ocorrida nos Estados Unidos no final 
do século XIX e início do século XX, foram criadas condições para que as des-
cobertas científicas e tecnológicas, até então concentradas no setor industrial, 
atingissem a agricultura. Entre elas, destacamos: o melhoramento genético 
de espécies vegetais e dos rebanhos de gado; a utilização de fertilizantes 
químicos; e a mecanização das atividades agrícolas (HESPANHOL, 2008).
A implementação dessas técnicas resultou em uma maior dependência do 
campo em relação ao setor industrial, processo de modelos e transformações 
que, nos países desenvolvidos, levou o nome de Revolução Verde.
De acordo com Martine e Garcia (1987), o pacote tecnológico da Revolução 
Verde, composto por sementes melhoradas, mecanização e insumos químicos 
e biológicos, prometia viabilizar a modernização agropecuária de qualquer 
país, aumentando a sua produção por sua padronização em bases industriais.
No Brasil, a Revolução Verde foi incorporada como uma “modernização 
da agricultura”, tendo se intensificado em meados de 1960, no período da 
ditadura militar, com o apoio da tríplice aliança formada pelo Estado e por 
grandes empresas nacionais e internacionais (HESPANHOL, 2008).
Brandenburg (2002) destaca que, como um movimento socialmente or-
ganizado, a agricultura alternativa no Brasil teve origem na década de 1970, 
embora já houvesse fundamentos práticos de uma agricultura ecológica bem 
antes desse período de modernização agrícola.
Imigrantes europeus introduziram sistemas de produção baseados na gestão de 
recursos naturais oriundos da primeira revolução agrícola, sendo marginaliza-
dos pela política da modernização. Pode-se dizer que os nativos, descendentes 
de índios, dominavam um saber que tinha por base as leis da natureza e que, 
embora não fosse competitivo com os sistemas modernos, tinha uma relação 
direta com os ecossistemas naturais (BRANDENBURG, 2002, p. 12).
Aqui, é preciso contextualizar esse momento na história da agricultura 
brasileira: a década de 1970 foi marcada pela modernização no campo, com 
a introdução de máquinas e componentes químicos, por meio de subsídios 
governamentais, que privilegiavam a monocultura e, consequentemente, 
o uso de uma menor mão de obra para o manejo e a colheita das culturas. Isso 
porque, longo da história, o homem desenvolveu técnicas e instrumentos com 
o intuito de controlar e dominar a natureza. Em relação à agricultura, desde os 
tempos mais antigos, havia uma preocupação em diminuir a dependência em 
relação à natureza, principalmente quanto ao controle da fertilidade dos solos 
e das condições climáticas, para aumentar a produção (HESPANHOL, 2008).
Agroecologia e agricultura orgânica2
Esse grupo excludente ou de excluídos diretamente pelos mecanismos de 
expropriação dessa nova política agrícola e sem a assistência dos serviços 
governamentais foi formado basicamente por agricultores familiares, que 
passaram a ser, a partir desse momento, agentes de órgãos ligados às alas 
progressistas da Igreja Católica ou Protestante (BRANDENBURG, 2002).
As chamadas Comissões Pastorais da terra irão desenvolver um trabalho 
junto aos agricultores e, em alguns casos, através de órgãos criados com 
finalidade específica, como é o caso da Associação de Estudos, Orientação 
e Assistência Rural — Assessoar, no Oeste do Paraná, Centro Vianei de 
Educação Popular em Santa Catarina, Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor 
e Centro de Tecnologias Alternativas e populares — Cetap, no Rio Grande 
do Sul. Essas organizações desenvolveram um serviço de assistência aos 
agricultores numa perspectiva política crítica à modernização da agricultura 
(BRANDENBURG, 2002, p. 12).
É importante destacar que essa organização dos agricultores familiares, 
baseada em uma agricultura alternativa, deu-se como uma condição de so-
brevivência, atravessada por uma nova relação do homem com o campo e 
a natureza.
Brandenburg (2002, p. 12) destaca que no Brasil: “A agricultura alternativa 
surge diante de contextos de uma política agrária excludente, motivada por 
organizações politicamente engajadas e visando à construção de uma sociedade 
democrática e com a perspectiva de transformação social.”.
Essas discussões levaram ao desenvolvimento de um padrão de produção 
agroecológico em oposição ao modelo industrial de produção e moderni-
zação no campo. A “[...] agricultura ecológica [seria] aquela que abrange 
um conjunto de modelos alternativos ao padrão agroindustrial de produção 
[...]” (BRANDENBURG, 2002, p. 13), apresentando o mesmo significado da 
agricultura alternativa.
É difícil saber ao certo quantos são os agricultores familiares, pois, no 
Brasil, esses números ainda são escassos, embora se mostre notável o cresci-
mento de produtos ecológicos do campo.
No Brasil, sobretudo a partir da Conferência das Nações Unidas sobre 
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92), a agricultura alternativa 
passou a se tornar sinônimo também de uma agricultura sustentável, com 
base na produção a partir dos recursos à disposição e na redução na utilização 
de insumos, oferecendo, assim, produtos agrícolas com menor risco à saúde, 
fomentando o desenvolvimento de uma agricultura orgânica.
3Agroecologia e agricultura orgânica
Esse novo paradigma da agricultura ecológica sustentável e orgânica abriu 
espaço para que muitas unidades familiares convertessem sua produção e 
adotassem esse modelo, até então desenvolvido por agricultores de elite, 
neorrurais e profissionais qualificados.
Darolt (2000) ainda aponta que os principais motivadores da mudança 
de produção e, consequentemente, do consumo são justamente as questões 
relacionadas à saúde, as vantagens econômicas, a convicção ideológica e a 
conservação dos recursos naturais. 
2 Limites e desafios da agroecologia brasileira
As mudanças gradativas de hábito na alimentação dos brasileiros, a preocupa-
ção com a saúde, uma maior conscientização ambiental e dúvidas em relação 
aos produtos industrializados e transgênicos têm impulsionado o crescente 
consumo de alimentos sem agrotóxicos e sem transformações genéticas, ou 
seja, uma agricultura baseada nos princípios da sustentabilidade.
Conforme aponta Ehlers (1995, p. 16), a única forma de garantir a susten-
tabilidade da agricultura se dá por meio da promoção de:
[...] transformações sociais, econômicas e ambientas em todo o sistema agro-
alimentar; a erradicação da fome e da miséria, a promoção de melhorias na 
qualidade de vida para centenas de milhõesde habitantes, a democratização 
do uso da terra ou mesmo a consolidação de uma ética social mais iguali-
tária, são alguns dos desafios contidos na noção de desenvolvimento e de 
agricultura sustentável.
Nesse contexto de práticas sustentáveis, podemos inserir a agricultura 
alternativa e a agroecologia, em contraposição a um modelo apenas produtivista 
da agricultura convencional (Quadro 1).
Essa nova visão fomentou a expansão de formas alternativas de agricul-
tura, fortalecidas a partir dos anos 1980, com a ampliação do conceito de 
desenvolvimento sustentável, quando passou a ser denominada agricultura 
sustentável (EHLERS, 1999).
Agroecologia e agricultura orgânica4
Fonte: Adaptado de Saquet (2008).
Cultivo convencional Cultivo orgânico
 � Tecnologia de produtos (aquisição 
de insumos)
 � Tecnologia de processos (envolve 
a relação entre planta, solo e 
ambiente)
 � Uso de pesticidas
 � Fertilizantes químico-sintéticos
 � Baixo teor de matéria orgânica no 
solo
 � Falta de manejo e cobertura do 
solo
 � Monocultura
 � Resistência e alternativas naturais
 � Fertilizantes orgânicos
 � Solo rico em matéria orgânica
 � Manutenção da cobertura do solo
 � Rotação de culturas e 
biodiversidade
 � Erosão do solo, empobrecimento 
da vida microbiana
 � Erradicação dos inimigos naturais
 � Desequilíbrio natural
 � Equilíbrio do solo e do meio 
ambiente
 � Aumento do húmus, 
microrganismos e insetos 
benéficos
 � Equilíbrio nutricional
 � Água e alimentos contaminados
 � Contaminação e deterioração do 
ecossistema
 � Descapitalização
 � Água e alimentos sadios
 � Ecossistema equilibrado e saudável
 � Sistema autossustentável
 � Geração de emprego e fixação do 
homem no campo
Quadro 1. Breve comparativo entre os sistemas de cultivo orgânico e convencional.
Segundo Altieri (1995), a agroecologia é ciência ou disciplina científica 
que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias para estudar, 
analisar, dirigir e avaliar agroecossistemas, com o objetivo de favorecer a 
implantação e o desenvolvimento de sistemas de produção com maiores níveis 
de sustentabilidade. Entendida dessa maneira, a agroecologia poderia propor-
cionar as bases científicas para apoiar o processo de transição agroecológica 
para outras formas de agriculturas sustentáveis, como a ecológica, a orgânica, 
a biodinâmica, a regenerativa, a de baixos insumos externos, a biológica, etc.
5Agroecologia e agricultura orgânica
Nesse sentido,
A pesquisa agroecológica preocupa-se não com a maximização da produção 
de uma atividade em particular, mas sim com a otimização do agrossistema 
como um todo, o que implica uma maior ênfase no conhecimento, na análise 
e na interpretação das complexas interações existentes entre as pessoas, 
os cultivos, os solos e os animais (CAPORAL; COSTABEBER, 2001, p. 20).
Moreira e Carmo (2004, p. 55 apud HESPANHOL, 2008) destacam alguns 
desafios inerentes ao desenvolvimento da agroecologia:
A concretização da Agroecologia não se dará com facilidade, visto que ela 
pressupõe a construção de uma nova ciência comprometida com os interesses 
sociais e ecológicos dos movimentos populares e com a articulação entre 
ciências sociais e naturais na compreensão dos problemas socioambientais 
da atualidade, buscando cada vez mais soluções realmente sustentáveis. 
Pressupõe, ainda, um enfrentamento político com os interesses econômicos 
que dominaram o desenvolvimento do capitalismo industrial na agricultura 
durante os últimos 130 anos.
Outro grande desafio consiste na produção em escala de produtos orgânicos 
sem comprometer a prática sustentável e mantendo os padrões exigidos pela 
regulamentação brasileira e internacional.
Contudo, o Brasil, considerado um país-continente por sua extensão terri-
torial, com uma enorme diversificação no clima, no solo e dos ecossistemas, 
permite que a agricultura agroecológica se desenvolva de maneira sólida. 
Trata-se de um país que apresenta condições que favorecem a produção sus-
tentável, com solos profundos e férteis e clima variado, o que possibilita uma 
diversificação na produção de diversas espécies de alimentos, vantagens 
existentes em poucos lugares do mundo, o que reduz a dependência do sistema 
da agricultura convencional.
A agricultura ecológica constitui-se no elemento mediante o qual se pretende 
gerar estratégias de desenvolvimento sustentável e inclusão social. A partir de 
seus princípios elementares, é possível uma menor agressão ao meio ambiente, 
a produção de alimentos mais saudáveis e recursos para a autossustentação 
dos produtores, além do auxílio no processo de independência de recursos 
externos. Atualmente, muitos países encontram-se em plena fase de expansão 
com a produção ecológica, destacando-se a Alemanha, a Suíça, a Austrália 
e outros (SAQUET, 2008, p. 153).
Agroecologia e agricultura orgânica6
Certamente, não há uma limitação ao desenvolvimento da agroecologia, 
sobretudo pelo fato de que muitos programas de pós-graduação vêm inserindo 
esse tema em suas linhas de pesquisas, além da importância cada vez maior 
que a população tem dado a essa questão. 
3 Agricultura orgânica: implicações 
econômicas, sociais e ambientais
Como dissemos, a agricultura orgânica surgiu como um novo paradigma em 
oposição à forma predatória da agricultura convencional, fundamentada em 
técnicas que não agridem o meio ambiente e que impactam diretamente no 
trabalho e na renda de muitos agricultores, sobretudo os familiares, que têm 
outra concepção quanto à produção de alimentos e ao manejo da terra.
Reintjes, Haverkort e Waters-Bayer (1994) destacam que a agricultura 
sustentável de fato ocorre quando é ecologicamente correta, economicamente 
viável, socialmente justa, humana e adaptável.
Para que a agricultura sustentável e, consequentemente, a produção de 
alimentos orgânicos se fortaleça e alcance cada vez mais novos patamares, 
deve ter impacto ambiental, econômico e social.
Nesse sentido, a agricultura orgânica desenvolve-se com base em um sistema 
holístico de gerenciamento da produção, que olha para todos os componentes 
do ambiente e melhora a saúde do agrossistema, com ênfase na biodiversidade, 
nos ciclos e nas atividades biológicas do solo. Por isso, a agricultura orgânica 
trata o solo como um elemento vital, e não apenas como substrato, o que se 
une a conhecimentos científicos, agronômicos e sociais (SCHOENHALS; 
FOLLADOR; WINCK, 2009, p. 274):
O sistema de produção orgânica nada mais é do que a integração entre múltiplas 
atividades na tentativa de permitir e estabelecer ciclos biológicos, criando 
equilíbrio e diminuindo dependências energéticas externas, cabendo ao homem 
com sua capacidade de percepção, aliada ao conhecimento técnico, traduzir e 
transferir a eficácia da sustentabilidade para o desenvolvimento da agricultura.
As implicações ambientais da produção orgânica surgem por esse caráter 
sustentável aplicado à cultura, visando a utilizar os recursos naturais que o 
próprio ambiente oferece, por meio do emprego e da adaptação de técnicas 
com o objetivo de conservar o solo.
7Agroecologia e agricultura orgânica
Algumas práticas comuns são utilizadas na agricultura orgânica, atre-
ladas ao respeito ao meio ambiente (CAMPANHOLA; VALARINI, 2001, 
documento on-line):
a) reciclagem dos recursos naturais presentes na propriedade agrícola, em 
que o solo se torna mais fértil pela ação benéfica dos microrganismos […] 
que decompõem a matéria orgânica e liberam nutrientes para as plantas;
b) compostagem e transformação de resíduos vegetais em húmus no solo;
c) preferência ao uso de rochas moídas, semissolubilizadas ou tratadas termi-
camente, com baixa concentração de nutrientes prontamente hidrossolúveis, 
sendo permitida a correção da acidez do solo […];
d) cobertura vegetal morta e viva do solo;
e) diversificação e integração de explorações vegetais (incluindo as florestas) 
e animais;
f) uso de esterco animal;
g) uso de biofertilizantes;
h) rotação e consorciação de culturas;
i) adubaçãoverde;
j) controle biológico de pragas e fitopatógenos, com exclusão do uso de agro-
tóxicos;
k) uso de caldas tradicionais (bordalesa, viçosa e sulfocálcica) no controle 
de fitopatógenos;
l) uso de métodos mecânicos, físicos e vegetativos e de extratos de plantas 
no controle de pragas e fotopatógenos, apoiando-se nos princípios do manejo 
integrado; 
m) eliminação do uso de reguladores de crescimento e aditivos sintéticos na 
nutrição animal;
n) opção de germoplasmas vegetais e animais adequados a cada realidade 
ecológica; 
o) uso de quebra-ventos.
Assim, a agricultura orgânica ganha relevante destaque em oposição à 
biotecnologia, que, por meio da produção de alimentos transgênicos, tem 
impactado o meio ambiente e a saúde humana, com a introdução de sementes 
modificadas em laboratório, fertilizantes químicos e agrotóxicos diversos.
A biotecnologia foi implementada no campo principalmente para aumentar 
a produção do agronegócio, com extensas áreas de cultivo de apenas um tipo 
de cultura (monocultura) e com relevante importância no produto interno 
bruto (PIB) brasileiro.
Diante desse desafio, a agricultura orgânica aponta para um quadro de 
amenização dessas condições, uma vez que introduz métodos sustentáveis de 
produção e preserva técnicas tradicionais de manejo da terra, influenciando 
diretamente na capacidade de produção do solo.
Agroecologia e agricultura orgânica8
Do ponto de vista econômico, a agricultura orgânica tem expandido sua 
produção, aumentando gradativamente a comercialização desse tipo de ali-
mento, o que a torna uma importante fonte de trabalho e renda para milhares 
de famílias de agricultores: aqueles que, em um primeiro momento, foram 
expropriados do modo de produção da agricultura convencional, agora en-
contram nesse novo tipo de agricultura condições de continuar trabalhando 
no campo, dentro de uma relação socialmente mais justa.
Há, ainda, as questões sociais transformadas pelos modelos sustentáveis, já 
que a agroecologia, segundo Caporal e Costabeber (2004, p. 12), também é um:
[…] processo social, isto é, por depender da intervenção humana, a transição 
agroecológica implica, não somente na busca de uma maior racionalização 
econômica-produtiva, com base nas especificidades biofísicas de cada agros-
sistema, mas também uma mudança nas atitudes e valores dos atores sociais 
em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais.
A agroecologia (re)valorizou o conhecimento e o trabalho do produtor 
rural como o principal agente de mudança das relações de apropriação da 
natureza no campo.
Nesse contexto, a família torna-se o principal sujeito participativo, buscando 
definir caminhos e estratégias para assegurar sua existência na atividade pro-
dutiva rural, sua permanência e representatividade no campo. Os agricultores 
familiares são aqueles que mais contribuem com a economia no abastecimento 
de alimentos (PESSÔA, 2012).
Atualmente, destaca-se na produção orgânica o Movimento Sem Terra 
(MST), que tem tornado diversos assentamentos uma referência na produção 
agroecológica — há alguns anos, o movimento vem liderando a produção 
orgânica de arroz na América Latina, ajudando a manter e fortalecer os traba-
lhadores no campo. Assim, a agroecologia tem se tornado o principal discurso 
do MST, dando maior visibilidade ao movimento na sociedade civil, para além 
da sua importância na reforma agrária.
Para saber mais a respeito do envolvimento do MST com a agricultura orgânica, leia 
a matéria Como o MST se tornou o maior produtor de arroz orgânico da América Latina 
(SPERB, 2017), no site da BBC Brasil.
9Agroecologia e agricultura orgânica
De modo geral, ganham relevância as experiências coletivas na agricultura 
orgânica e de formas de produção mais sustentáveis, baseadas em uma visão 
integrada com o ambiente, o que leva a importantes ganhos econômicos e 
à valorização social das famílias agricultoras.
ALTIERI, M. A. El “estado del arte” de la agroecología y su contribución al desarrolloru-
ral en América Latina. In: CADENAS MARÍN, A. (ed.). Agricultura y desarrollo sostenible. 
Madrid: MAPA, 1995. p. 151–203. (Serie Estudios).
BRANDENBURG, A. Movimento agroecológico: trajetória, contradições e perspectivas. 
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, n. 6, p. 11–28, 2002.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: 
MDA, 2004.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável: 
perspectivas para uma nova Extensão Rural. In: ETGES, V. E. (org.). Desenvolvimento rural: 
potencialidades em questão. Santa Cruz do Sul: EDUSC, 2001. p. 19–52.
CAMPANHOLA, C.; VALARINI, P. J. A agricultura orgânica e seu potencial para o pequeno 
agricultor. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, v. 18, n. 3, p. 69–101, 2001. Disponível 
em: https://ciorganicos.com.br/wp-content/uploads/2013/09/8851-29343-1-PB.pdf. 
Acesso em: 23 jun. 2020.
DAROLT, M. R. As dimensões da sustentabilidade: um estudo da agricultura orgânica 
na Região Metropolitana de Curitiba. 2000. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e 
Desenvolvimento) — Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2000.
EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. 
2. ed. Guaíba: Agropecuária, 1999.
EHLERS, E. Possíveis veredas da transição à agricultura sustentável. Agricultura Sustentável, 
Brasília, v. 2, n. 2, p. 12–22, 1995.
HESPANHOL, R. A. M. Agroecologia: limites e perspectivas. In: ALVES, A. F.; CARRIJO, 
B. R.; CANDIOTTO, L. P. (org.). Desenvolvimento territorial e agroecologia. São Paulo: 
Expressão Popular, 2008.
MARTINE; G.; GARCIA, R. C. Os impactos sociais da modernização agrícola. São Paulo: 
Caetés, 1987.
PESSÔA, E. C. S. Ter de onde partir: uma experiência agroecológica no assentamento 
Martires de Abril – MST (Pará). Revista IDeAS, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 9–27, 2012.
Agroecologia e agricultura orgânica10
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REINTJES, C.; HAVERKORT, B.; WATERS-BAYER, A. A agricultura para o futuro: uma intro-
dução à agricultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. Rio de Janeiro: 
AS-PTA, 1994.
SAQUET, A. A. Reflexões sobre a agroecologia no Brasil. In: ALVES, A. F.; CARRIJO, B. R.; 
CANDIOTTO, L. P. (org.). Desenvolvimento territorial e agroecologia. São Paulo: Expressão 
Popular, 2008.
SCHOENHALS, M.; FOLLADOR, F. A. C.; WINCK, C. Aspectos sociais, ambientais e eco-
nômicos da agricultura orgânica: estudo de caso em Verê-PR. Engenharia Ambiental, 
Espírito Santo do Pinhal, v. 6, n. 1, p. 269–292, 2009.
SPERB, P. Como o MST se tornou o maior produtor de arroz orgânico da América 
Latina. BBC Brasil, Nova Santa Rita, 7 maio 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/brasil-39775504. Acesso em: 23 jun. 2020.
11Agroecologia e agricultura orgânica

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