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PRIMEIROS SOCORROS Autor Mateus Aparecido de Faria Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI PRIMEIROS SOCORROS 1 INTRODUÇÃO Imprevistos são situações não planejadas ou não esperadas, que fazem parte do cotidiano das pessoas. Você, certamente, já passou por isso. No entanto, em alguns casos, esses imprevistos podem envolver um machucado, um acidente e até mesmo o risco de morte. A isso denominamos emergência. Neste curso, abordaremos os principais aspectos dessas situações e como agir com fins de assegurar a saúde das pessoas envolvidas em emergências. Antes de seguir, são necessários alguns destaques. Primeiros Socorros são ações preliminares para preservar a vida no caso de emergências, até que profissionais de saúde especializados, como os bombeiros ou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU – 192), possam chegar e prestar o cuidado necessário. Este curso, portanto, é introdutório e, caso seja de seu interesse se aprofundar na temática, você poderá buscar cursos de graduação e pós-graduação voltados para a atuação em emergências. 2 IDENTIFICANDO UMA EMERGÊNCIA O perf i l epidemiológico do Brasi l vem passando por transições importantes que evidenciam os modos como a população adoece e morre. Se antes a preponderância dos motivos de óbito era de doenças infecciosas como tuberculose e hepatites, atualmente a prevalência maior é das chamadas causas externas, que incluem acidentes de trânsito, acidentes domésticos, violência urbana, podendo ser não intencionais, como atropelamentos e fraturas por queda, ou intencionais, como tentativas de autoextermínio ou ferimentos por armas (LUONGO, 2014; SOARES et al., 2020). Desse modo, cada dia mais é necessário haver ações de educação sobre Primeiros Socorros para diferentes grupos populacionais, de modo a socializar tais saberes e, assim, prevenir mortes evitáveis. Tal socorro em situações de emergências pode ser realizado por pessoas mais próximas ao local do incidente ou que dele tomam conhecimento. A elas chamamos de socorristas leigos, quando não possuem formação específica na área, e constituem como importantes sujeitos para a preservação da vida até que socorristas especializados possam atender a ocorrência. No Brasil, deixar de prestar socorro quando poderia fazê-lo ou pedir socorro a autoridades públicas é crime tipificado no Código Civil nacional como omissão de socorro e pode levar à detenção ou multa (BRASIL, 1940). Importante salientar que tal socorro deve ser prestado na medida do seu conhecimento sobre emergências e técnicas de atendimento, ou seja, caso não tenha certeza do procedimento, não o realize, uma vez que pode agravar o estado de saúde da vítima. Afinal, causar dano a outrem por conta de negligência, imprudência ou imperícia também é ato ilícito (BRASIL, 2002). No Quadro 1, são mostradas as diferenças entre tais conceitos. QUADRO 1 – MODALIDADES DE CULPA Modalidade Conceito Imperícia Ação feita sem conhecimentos ou aptidão para tal, resultando em dano. Imprudência Ação realizada sem zelo, sem o cuidado necessário requerido pela situação. Negligência Falta de cuidado, quando havia o dever de fazê-lo. É uma omissão, ao contrário da imprudência. FONTE: Adaptado de Luongo (2014) Portanto, aqui buscaremos abordar o maior número de aspectos relativos aos Primeiros Socorros e suas técnicas para que sua apreensão seja a mais significativa possível, assim como, mais adiante, explicaremos o que fazer quando há dúvidas quanto aos procedimentos. Vamos então à prática! Imagine que você está em um local de acidente automobilístico com vítimas e pretende realizar os primeiros socorros. O que fazer? Antes de tudo, mantenha a calma. As pessoas ao seu redor podem estar machucadas e a cada segundo suas lesões podem aumentar, com risco de morte. Por isso, você, enquanto socorrista, precisa ser o “prumo” da situação, ou seja, ter a capacidade de discernir e escolher as ações mais adequadas para o socorro. Isso se aplica a qualquer emergência e, por mais difícil que possa parecer, pode ser o aspecto essencial para preservar a vida das outras pessoas envolvidas. Outro ponto considerado como regra de ouro dos primeiros socorros é a autopreservação. Não é adequado você arriscar a própria vida durante o atendimento de outrem, portanto, certifique-se de que é seguro realizar o atendimento e que possua os conhecimentos necessários para tanto. Ao lidar com fluidos corporais, como sangue e outras secreções, use luvas e aparatos de proteção – caso não seja possível, melhor não se aproximar. Isso não quer dizer que você deixará a vítima sozinha! É essencial manter contato visual e/ou verbal com as pessoas envolvidas na emergência o tempo necessário até a chegada do socorro especializado. Além disso, a área do acidente deve estar devidamente sinalizada e protegida. Faça um cordão de isolamento com fita zebrada ou quaisquer outros materiais que possam sinalizar aos transeuntes que ali é um local perigoso. O importante é que o momento do socorro não seja interrompido por conta de outros acidentes, como desabamentos e atropelamentos. Identificada a situação que requer primeiros socorros, o estado das vítimas e a proteção do local, deve-se imediatamente solicitar ajuda aos bombeiros (193) ou ao SAMU (192), informando o local, o tipo do acidente e o estado (e quantidade) das vítimas. Enquanto o atendimento especializado não chega, avalie se você possui os conhecimentos necessários para prestar assistência inicial e, em caso afirmativo, proceda com algumas precauções: • Não mova a vítima do local, pois isso pode agravar as lesões presentes, assim como provocar mais ferimentos. Pode ser que em alguns casos seja menos danoso retirar a vítima do local do que mantê-la, como em incêndios ou acidentes envolvendo veículos em estradas, mas atenção! O mais aconselhável é aguardar avaliação de profissional de saúde capacitado. • Não tente posicionar a vítima, uma vez que isso pode gerar dano irreparável na medula espinhal. • Não dê bebidas ou alimentos à vítima – mesmo que seja água, é importante esperar as orientações de profissional especializado, já que isso pode impedir as vias aéreas, aumentar o perigo do ambiente ou outro aspecto prejudicial às pessoas envolvidas. • Não tente acordar a vítima inconsciente com movimentos bruscos, líquidos com odor forte, beliscões ou outro ato de contato com o corpo, isso também pode aumentar as lesões já existentes, inclusive as não visíveis. Pode-se tentar acordá-la com gritos ou chamando pelo nome. Neste curso, focaremos nas emergências traumáticas, de modo que possamos aprofundar nos seus aspectos principais e construir práticas de primeiros socorros condizentes à necessidade deste evento que, aliás, ocorre com bastante frequência no cotidiano. De modo geral, podemos definir como traumática uma situação de emergência ocasionada por fatores externos, levando a lesões ocorridas por movimentos, energias etc. que não são suportados pelo nosso corpo. O trauma é um evento inesperado, uma ação nociva, um resultado de lesão violenta. Poderíamos inclusive dizer que trauma não é um acidente, mas sim uma doença, pois as lesões que a ocasionaram em geral podem ser evitadas (LUONGO, 2014). Agora que já vimos os aspectos básicos das situações de emergência traumática e suas características, vamos partir para um momento posterior do nosso curso, em que serão abordadas as técnicas e instrumentos necessários para prestar os primeiros socorros. 3 MOMENTO DE SOCORRO O atendimento à vítima de trauma acontece no momento em que a pessoa socorrista chega ao local, como mostrado anteriormente, e continua com a garantia da presença de sinais vitais. 3.1 TÉCNICAS DE PRIMEIROS SOCORROS O método que apresentaremos aqui é a base para qualquer protocolo de atendimento de emergência, inclusive em unidades hospitalares e não importandoo estado de saúde da/o paciente: é o método ABCDE, que é o mnemônico para avaliação das vias aéreas, respiração, circulação, disfunções neurológicas e exposição. Em inglês, a junção desses passos (airways, breathing, circulation, disabilities, exposition) forma a sequência (LUONGO, 2014). Tal mnemônico foi construído de modo a auxiliar a/o socorrista no momento de emergência, pois é fácil de lembrar e extremamente útil para verificação das funções vitais. A primeira letra sinaliza para a avaliação das vias aéreas – certifique-se que a vítima está respirando, seja observando o movimento do tórax, seja pela sensação de ar entrando e saindo quando se aproximar de seu rosto. Caso não esteja, coloque a vítima deitada de costas e alinhe a cabeça, pescoço e tórax, conforme Figura 1. Para a liberação das vias aéreas, basta fazer uma hiperextensão do pescoço: coloque uma de suas mãos na testa da pessoa e a outra na mandíbula, assim, com os dedos, você estenderá o pescoço, deixando-o reto e levando o queixo para trás. Isso provocará elevação da mandíbula e da língua, liberando as vias, conforme Figura 2. Importante relembrar que a/o socorrista leiga/o não deve movimentar a vítima nem o local do acidente, a menos que seja essencial para a proteção das pessoas envolvidas na situação. FIGURA 1 – ALINHAMENTO CABEÇA, PESCOÇO E TÓRAX FONTE: Adaptada de Lambert (2013) Descrição da imagem: desenho de uma pessoa segurando a cabeça de outra, com as duas mãos posicionadas perto das orelhas. A outra pessoa está deitada de costas. FIGURA 2 – HIPEREXTENSÃO DO PESCOÇO FONTE: Adaptada de Lambert (2013) Descrição da imagem: desenho de uma pessoa deitada tendo o pescoço hiperestendido por outra pessoa, tendo suas mãos posicionadas na testa e logo abaixo do queixo. É possível visualizar as vias aéreas do nariz, boca e traqueia. Com esse movimento, será possível verificar se há algum elemento obstruindo a passagem do ar como sangue, vômito, próteses dentárias e até mesmo resquícios do acidente que podem ter entrado pela boca ou nariz. Se mesmo com o desimpedimento das vias, a pessoa vitimada não estiver respirando, proceda com a respiração boca a boca: tape o nariz da vítima, de modo que, ao soprar, o ar não saia antes de ir para os pulmões, encaixe sua boca à da pessoa, sopre duas vezes e observe se o pulmão inflará. Esse é o passo que corresponde à letra B do mnemônico de suporte à vida. Aqui o objetivo é manter o suprimento de oxigênio ao cérebro até que o socorro especializado chegue. Importante salientar que o próximo passo (C, de circulação), em determinadas situações, é realizado simultaneamente com o da respiração (B, de breathing), uma vez que o fornecimento de oxigênio ao corpo depende não só da entrada de ar, mas também de sua distribuição no corpo pelo sangue. Para avaliar a circulação de sangue da vítima, a/o socorrista pode verificar por meio da pressão indireta em alguns pontos específicos do corpo, como pescoço, braço, axila, punho, joelho e virilha, conforme Figura 3. FIGURA 3 – PONTOS DE PULSAÇÃO FONTE: Adaptada de < https://i.pinimg.com/564x/12/60/4b/12604b1716f898d7fd42ba7a4c45ba55.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2021. Descrição da imagem: sequência de imagens mostrando uma mão tocando partes do corpo nas quais é possível sentir o pulso do fluxo sanguíneo: carotídeo (no pescoço, ao lado da traqueia), humeral (na junção entre o braço e o antebraço, onde geralmente tiramos sangue para exames), axilar (nas axilas), radial (mãos se tocando como em um cumprimento e a outra mão tocando o punho), cubital (mão com a palma para cima e a outra mão tocando o punho), poplíteo (atrás do joelho), tibial posterior (no tornozelo), pedlo (na parte lateral do pé) e femoral (na virilha). Constatada a falta de pulso por mais de dez segundos, procede-se a massagem cardíaca. Primeiro movimento é deixar a vítima na mesma posição dos passos A e B, ou seja, deitada de costas e com alinhamento entre cabeça, pescoço e tórax. Apoie a mão esquerda na região do esterno (aquele osso que fica no meio do peito) da vítima e a palma da mão direita sobre o dorso da esquerda. Então, com seus braços estendidos, sem dobrar os cotovelos e com os dedos levantados, faça pressão de modo compassado, levando para frente o peso do seu corpo, conforme Figura 4. Lembra que falamos anteriormente que os passos B e C costumar ser simultâneos? Por isso a frequência das pressões que a/o socorrista deve fazer será em relação ao número de respirações realizadas: 30 compressões torácicas para cada duas ventilações. A frequência mínima deve ser 100 a 120 compressões por minuto. Resumindo, a cada 30 movimentos afundando o esterno, se adulto até na profundidade de, pelo menos, cinco centímetros (duas polegadas) e no máximo seis centímetros (e assim estimulando o coração a bombear sangue), será necessário fazer duas respirações boca a boca (para alimentar o sistema com oxigênio). No caso de crianças até oito anos, não é necessária tanta força, podendo realizar a massagem cardíaca com os dedos em vez de ser com as mãos, sendo neste caso aplicando até uma profundidade de até quatro centímetros (DUARTE et al., 2021). FIGURA 4 – MASSAGEM CARDÍACA FONTE: Adaptada de Lambert (2013) Descrição da imagem: desenho de uma pessoa de joelhos, com os braços esticados e apoiados em cima do tórax de outra pessoa, que está deitada de costas. Seguindo o nosso ABCDE, já avaliamos a abertura das vias aéreas, a respiração e a circulação sanguínea. Com isso já é possível manter a vida da vítima pelo tempo suficiente ao deslocamento do resgaste especializado. Há situações, no entanto, que a pessoa acidentada está respirando e com frequência cardíaca adequada, mas que não responde a estímulos da/o socorrista. A importância de verificar as disfunções neurológicas – o passo D do mnemônico – que decorrem de emergências traumáticas consiste na obtenção de informações consideradas cruciais, em especial nos casos de traumatismos cranioencefálicos (LUONGO, 2014). Neste momento, é necessário conferir a abertura ocular, a resposta verbal e a motora, a fim de medir a necessidade de intubação, o estado de coma e a responsividade da vítima. Para isso, utilizamos um instrumento chamado Escala de Glasgow. Criada na década de 1970 por pesquisadores do Instituto de Ciências Neurológicas de Glasgow, na Escócia (daí seu nome), essa escala reúne os principais indicadores utilizados para casos traumáticos e lhes confere graus, de modo que o resultado seja um valor entre três e quinze. Quanto maior o escore final, melhor é o estado da pessoa, conforme visto no Quadro 2. QUADRO 2 – ESCALA DE GLASGOW FONTE: <https://www2.ufjf.br/neurologia/wp-content/uploads/sites/53/2018/12/Tabela-ECG-768x503.png>. Acesso em: 10 ago. 2021. O cálculo para a definição do escore depende do somatório do item referente a cada parâmetro e subtração do valor correspondente à reatividade pupilar. Perceba que é necessário escolher apenas uma resposta obtida para cada parâmetro – como exemplo, na resposta motora, a/o socorrista precisa avaliar se a vítima consegue obedecer a comandos simples, como mexer os dedos. Caso contrário, ela estará em um dos demais níveis e nunca em dois simultaneamente. Já a reatividade pupilar é vista quando jogamos um feixe de luz contra os olhos de outra pessoa, por exemplo, com o auxílio da lanterna do celular. O esperado é que a pupila se contraia rapidamente em contato com luz forte. Importante salientar que uso de álcool e outras drogas pode interferir na aferição precisa da escala de Glasgow. Para facilitar, imaginemos que em uma cena de acidente esteja uma vítima que consegue abrir os olhos espontaneamente (pontuação = 4), mas não verbaliza nada (pontuação = 1) nem se move (pontuação = 1). Ao se aproximar dela, você percebe que suas pupilas se contraem normalmente (pontuação = 0). Assim, o indicador Glasgow para essa vítima será 4 + 1 + 1 + 0 = 6, ou seja, trauma grave, necessitandode atendimento especializado imediatamente. A letra E do mnemônico se refere à exposição e está ligada à prevenção da hipotermia – quando há uma queda de temperatura corporal por tempo prolongado. Tal estado pode levar à dormência dos membros até dificuldade de respirar e perda de sentidos. Para evitar isso, a/o socorrista precisa cobrir a vítima com manta térmica ou outro material disponível que impeça o corpo de dissipar calor para o ambiente pelo tempo necessário à chegada do atendimento especializado. Por fim, apresentaremos as principais emergências traumáticas, de modo que possa conhecer suas características definidoras. O traumatismo cranioencefálico (TCE) é uma das situações de emergências que requer cuidados imediatos, visto que decorre de trauma externo e provoca mudança anatômica do crânio e comprometimento funcional de algumas estruturas como as meninges, encéfalo ou seus vasos. O TCE pode resultar em alterações cerebrais perenes ou temporárias, seja cognitiva, seja funcionalmente (BRASIL, 2015). Outras emergências podem ser associadas a feridas, que classificamos como abertas aquelas em que há contato com o exterior: arranhões (quando a ferida permanece na superfície da pele), cortes (podendo haver bordas regulares, portanto incisões, ou irregulares, configurando lacerações), perfurações (quando danifica tecidos transversalmente, podendo haver pontos de entrada e/ou saída), avulsões (quando partes do corpo são rasgadas ou arrancadas) ou amputações. Já as fechadas, sem contato externo com o conteúdo corporal, acontecem, por exemplo, nas contusões – nesses casos, só é possível sua visualização de modo indireto, através de edemas ou irregularidades na superfície da pele. O risco adicional nas feridas fechadas é a presença de hemorragia interna, quando há um sangramento descontrolado dentro da vítima, e consequente desenvolvimento para um quadro chamado choque hipovolêmico. Isso ocorre quando perdemos mais de 20% do volume de sangue do corpo e, portanto, prejudicará a oxigenação de órgãos e tecidos, resultado em falência múltipla (LUONGO, 2014). Além do choque hipovolêmico, há outros tipos de choque que merecem atenção, como o cardiogênico, o obstrutivo, o distributivo e o anafilático. O choque cardiogênico acontece no momento em que o coração perde seu tônus para bombear sangue em quantidade adequada, levando a uma falta de oxigênio generalizada nos órgãos. Já o choque obstrutivo ocorre pela compressão do coração realizada por outros órgãos, impedindo-o, assim, de bombear o sangue normalmente pelo corpo e levando a uma queda da pressão arterial. Nessa mesma esteira, o choque distributivo ou também chamado de vasogênico é assim chamado por haver deslocamento inadequado de tecido sanguíneo para o sistema vascular, acumulando-se nos vasos periféricos e dificultando o seu retorno ao coração. O último choque listado é o anafilático, decorrente de uma resposta exagerada do sistema imunológico a determinada substância ou alimento, podendo ser encontrada em picadas de insetos, medicamentos ou mesmo na saliva de alguns animais (BRASIL, 2015; LAMBERT, 2013; FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2003). Finalizando o rol de tipos comuns de emergências traumáticas, temos a fratura, identificada pela ruptura, total ou parcialmente, de algum osso. Quando a ruptura causa lesão da pele, chamamos de fratura exposta, ao passo que a fechada acontece quando a ruptura não apresenta contato com o ambiente externo. O risco de infecção é tanto maior quanto mais exposta for a fratura, portanto os primeiros socorros são extremamente necessários para propiciar o suporte à vida da vítima (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2003). 3.2 FERRAMENTAS PARA O SOCORRO Como visto no começo do livro, emergência traumática é mais uma doença que um acidente, pois são altamente preveníveis. Assim, ter um conjunto de ferramentas para auxiliar o socorro é ser coerente com tal concepção de trauma. O famoso kit de primeiros socorros precisa fazer parte do cotidiano das famílias e instituições, de modo que todas as pessoas consigam tanto localizá-lo facilmente, como também fazer uso dos seus componentes quando necessário. Não há uma lista pré-definida para todo e qualquer kit, pois isso dependerá das exigências e especificidades do local, assim como do conhecimento e aptidões dos possíveis usuários. Por exemplo, não adiante ter um desfibrilador portátil se não houver pessoas treinadas para seu manuseio. Aqui mostraremos os principais itens de kits para primeiros socorros, dispostos na Quadro 3, que podem ser majorados dependendo das especificidades do local. Isso também se aplica à quantidade, ou seja, o número de materiais deve ser condizente com o número de pessoas que estão expostas a riscos no local, seja em casa ou na empresa. QUADRO 3 – ITENS PARA UM KIT PRIMEIROS SOCORROS Item Descrição Recipiente Resistente, feito de material que possa proteger seu con- teúdo, fácil de abrir e fechar, facilmente identificado, com compartimentos internos. Lanterna Preferencialmente autorrecarregável, de material resistente e à prova d’água. Luvas Descartáveis, preferencialmente de vinil. Sabão Preferencialmente neutro e em barra. Saboneteira Feita de material plástico e que caiba o sabão. Bandagem Gaze elástica, branca, absorvente, 100% algodão, não adesiva. Fita adesiva Não elástica, à prova d'água, com fissuras para admitir o ar e que pode ser rasgada com a mão. Solução antisséptica em garrafa Feita de Iodo-povidona 10%, a garrafa deve ser resistente ao líquido e com bico dosador. Tesoura Preferencialmente de aço não temperado e não magnética. Manual de Primeiros Socorros Escrito na língua mais utilizada no local e de modo objetivo. FONTE: Adaptado de Comitê Internacional da Cruz Vermelha (2007) Independente do conteúdo do seu kit primeiros socorros, é importante algumas medidas de conservação para que seu uso seja eficaz: mantenha sempre limpo o conteúdo, assim como o recipiente do kit; reabasteça-o após o uso; e esteja sempre pronta/o para improvisar caso necessite de um material que não esteja no kit. É possível também manter alguns medicamentos, como antibióticos, analgésicos ou pomadas para queimaduras, no entanto, deve- se estar atento/a ao prazo de validade, às instruções contidas na bula e se a vítima possui alergia a algum componente do medicamente. 4 FINALIZANDO O MOMENTO DE SOCORRO Uma emergência traumática, que necessita de socorro imediato, é sempre uma situação estressora, pois envolve a preservação da vida de pessoas. Primeiros socorros são ações realizadas muito rapidamente, quase sem tempo e espaço para reflexão ou adaptação. Isso pode gerar muitos afetos em que realiza o socorro. Por isso, uma das primeiras coisas que aprendemos é manter a calma, uma vez que já é alarmante para a vítima e ficar nervosa/o enquanto socorrista não irá ajudar. Após a intervenção na cena do trauma, ao certificar-se de que a vítima está amparada pelo serviço de atendimento de emergência especializado, reserve um tempo para pensar. Muita coisa pode ter ocorrido em um curto período e, agora que as pessoas estão seguras, é necessário voltar para si – refletir a experiência, os seus sentimentos e o que foi possível fazer. Faça uma avaliação sobre seu estado de saúde: precisa de apoio? Quer conversar com alguém? Quero me alimentar? Preciso de água? São algumas perguntar que podem auxiliar neste momento de pós socorro. Leve o tempo que precisar. É aconselhável utilizar técnicas de relaxamento após atendimento de primeiros socorros, como focar na respiração, meditar, entre outras. Independente de sua escolha, tenha em mente que você não precisa se sentir diminuída/o, envergonhada/o ou qualquer pensamento de incompetência caso sua intervenção não tenha sido feita de modo ideal – você pode fazer o que foi possível fazer, considerando a situação encontrada. Por fim, tenha certeza de que “você sabe melhor do que ninguém o que fazer para se ajudar” (COMITÊINTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 2007, p. 138). REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. O presidente da república, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte Lei. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 6 ago. 2021. BRASIL. Lei n° 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ L10406compilada.htm. Acesso em: 6 ago. 2021. BRASIL. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com traumatismo cranioencefálico. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Primeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violência. Genebra: CICV, 2007. DUARTE, A. C. DA S. et al. Uma análise dos últimos 20 anos dos protocolos da American Heart Association: o que mudou no Suporte Básico de Vida? Research, Society and Development, v. 10, n. 5, p. e5710514607, 27 abr. 2021. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Manual de Primeiros Socorros. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. LAMBERT, E. G. Guia Prático de Primeiros Socorros. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2013. LUONGO, J. Tratado de primeiros socorros. São Paulo: Rideel, 2014. SOARES, A. P. L. et al. Perfil das ocorrências por causas externas atendidas pelo serviço urgência e emergência. Revista Recien – Revista Científica de Enfermagem, v. 10, n. 32, p. 239-247, 15 dez. 2020.
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