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09/10/2022 1 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO AULA 15 Professor: Marcelo Uchôa 1 UNIDADE V ESTADO – Parte IV SINOPSE • Nacionalidade; • Apatridia, polipatria e conflito de nacionalidades; • A nacionalidade no Brasil. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 2 Nacionalidade • Em princípio, o Estado possui jurisdição sobre todos que se encontram em seu território. Tal competência é exercida, em primeiro plano, sobre os nacionais, e, em sequência, sobre os estrangeiros. • A nacionalidade é compreendida como o vínculo jurídico-político que une permanentemente um indivíduo a um dado Estado. O estudo da nacionalidade visa, fundamentalmente, determinar quais indivíduos encontram-se unidos ao Estado sob esta condição de perenidade e a que autoridade se submetem. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 3 1 2 3 09/10/2022 2 Povo, população e cidadania Povo, população e cidadania são conceitos próximos, porque dizem respeito a pessoas num dado território. Apesar disso, os conceito se distinguem. O povo tem ligação direta com o Estado via nacionalidade. Integra sua comunidade nacional, inclusive quando residente no exterior. A população não diz respeito propriamente ao vínculo jurídico-político do indivíduo com o Estado. Apesar disso, quando permanente, é um elemento constitutivo estatal e representa o conjunto de pessoas (nacionais ou estrangeiros) ali instalados, os quais, gozam de proteção para residir ou visitar o território. A cidadania está ligada à nacionalidade. Porém, um nacional só gozará de direitos relacionados à cidadania se preencher certos requisitos. Uma exceção à restrição aos não nacionais é a dos portugueses com residência permanente no Brasil, pois, por prescrição do paragrafo 3º do art. 12 da CF, havendo reciprocidade em favor de brasileiros, gozam de direitos inerentes aos brasileiros, inclusive direitos políticos. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 4 Povo, população e cidadania 5 Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa • Apenas a título de informe é relevante ressaltar que a PEC 25/2012 do Senado propunha a alteração do art. 5º, 12 e 14 da CF para estender aos estrangeiros direitos inerentes aos brasileiros e conferir aos estrangeiros com residência permanente no país capacidade eleitoral ativa e passiva nas eleições municipais. Havia Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista sobre Migrações Internacionais e Refugiados do país aprovando-a, mas, no final, ela não vingou. Nacionalidade • Pois bem. Sobre o assunto nacionalidade, dispõe a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 dispõe no art. XV, 1 e 2: 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade; 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. • Com efeito, apesar da atribuição da nacionalidade corresponder a um Estado, o direito à nacionalidade é qualificado como fundamental da pessoa humana, a quem se reconhece, inclusive, a prerrogativa de optar por outra nacionalidade caso deseje. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 6 4 5 6 09/10/2022 3 Nacionalidade Tal compreensão reverbera no sistema interamericano de proteção aos direitos humanos. • Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de Bogotá de 1948 Art. XIX: Toda pessoa tem direito à nacionalidade que legalmente lhe corresponda, podendo mudá-la, se assim o desejar, pela de qualquer outro país que estiver disposto a concedê-la. • Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto de San José da Costa Rica): Art. 20. Direito à nacionalidade. 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito a outra. 3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade nem do direito de mudá-la. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 7 Nacionalidade • A obtenção da nacionalidade pode ser de duas formas: 1. Originária Contraída no nascimento, resultado do lugar de nascimento (jus soli) ou da nacionalidade dos pais (jus sanguinis). Obs. Na Líbia, Síria, etc., o jus sanguinis é patrilinear, ou seja, vinculada à nacionalidade paterna. 2. Adquirida Contraída por naturalização. Obs. Apesar de existir aquisição de nacionalidade “involuntária” (p. Ex., a italiana, por casamento), a obtenção da nacionalidade por naturalização decorre de ato de vontade. Inexiste naturalização imposta como, p. Ex., a grande naturalização da CF/1824, relacionada aos portugueses que optaram por manter residência no Brasil. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 8 Nacionalidade OBSERVAÇÃO 1: Pelo ordenamento da Itália, até 1983, o casamento com o Italiano (com a Italiana, não) gerava para a esposa o reconhecimento da nacionalidade originária italiana. De 1983 para cá, o casamento com o italiano apenas facilita o reconhecimento por naturalização, e, ainda assim, desde que após uma união de, no mínimo, 3 anos. OBSERVAÇÃO 2: Por força do art.1 da Convenção sobre a nacionalidade da mulher casada, Dec. 64.216/69 (no Brasil, aplicada ao homem devido à igualdade entre sexos prevista pela CF/88), o reconhecimento da nacionalidade estrangeira obtida por casamento com consorte de outro país, não implica na perda da nacionalidade originária. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 9 7 8 9 09/10/2022 4 Nacionalidade • Em princípio, a naturalização por vontade do indivíduo implica na perda da nacionalidade anterior. Esta prescrição normalmente é prevista nos ordenamentos domésticos, apesar de cada Estado ser soberano para silenciar sobre o assunto ou, até mesmo, dispor no sentido contrário. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 10 Apatridia • A existência de desigualdades sociais, políticas e econômicas entre povos e nações favorece ao desenvolvimento do fenômeno da apatridia (ou apatria). Segundo especulado por agências de direitos humanos da ONU, há cerca de 10 milhões de apátridas (ou heimatlos) no mundo, decorrendo de variados motivos: a) nascimento, em Estado adotante do critério de obtenção de nacionalidade jus sanguinis, de filhos de pais nacionais de Estados adotantes do critério jus soli; b) devido à perda da nacionalidade anterior, até eventual aquisição de nova nacionalidade; c) por punição; d) por negação de cidadania com base em motivos de discriminação por etnia (palestinos; até 2008, quem falava urdu em Bangladesh), religião (mulçumanos na Birmânia), gênero (mulheres no Irã ou no Catar, impedidas de passar a nacionalidade aos filhos); quando um Estado se desfaz, etc. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 11 Apatridia OBSERVAÇÃO: • Visando reduzir apatridia no continente americano, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto de San José da Costa Rica), segundo já visto, estabeleceu: Art. 20. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito a outra. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 12 10 11 12 09/10/2022 5 Apatridia • Prescrição semelhante à do Pacto de San José já havia sido antes estipulada pelo art.1, da Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia, de Nova York, de 1961 que, no entanto, só passou a viger no Brasil, após 25/10/07, com a ratificação do Decreto Legislativo 274/2007, ensejador do Decreto 8.501, de 18/08/2015. Verbis: 1. Todo Estado Contratante concederá sua nacionalidade a uma pessoa nascida em seu território e que de outro modo seria apátrida. A nacionalidade será concedida: (a) de pleno direito, no momento do nascimento (...). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 13 Apatridia • O fenômeno da apatridia não passa ao largo da apreciação normativa nacional. Pelo menos dois diplomas internacionais de referência sobre o tema foram internalizadasno país: a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954 (Decreto n. 4.246, de 22/05/02) e a já citada Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia de 1961 (Decreto n. 8.501, de 18/08/15). • Por sua vez, mais recentemente, a Lei de Migração (Lei n. 13.445, de 24/05/17), em seu art. 1º, § 1º, assim definiu o apátrida: VI - apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 14 Apatridia • Para diminuir os casos de apatridia no país a Lei de Migração prevê processo simplificado de naturalização específico para o apátrida (Art. 26, caput), caso lhe seja de interesse, estendendo-lhe, durante o curso do processo de reconhecimento da situação de apatridia, todas as garantias e mecanismos protetivos de inclusão social previstas nos Decretos n. 4.246/02 e 50.215/61, respectivamente, Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1961 e Convenção relativa ao Estatuto de Refugiados de Genebra de 1951, bem como na Lei n. 9.474/97 (Estatuto dos Refugiados). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 15 13 14 15 09/10/2022 6 Apatridia • Uma vez reconhecida a situação formal de apatridia são estendidos ao apátrida todos os direitos previstos na Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1961 (Decreto n. 4.246/02), dentre outros direitos e garantias endossados pelo Brasil (aplicação do § 4º, do art. 26, da Lei de Migração). • Ao apátrida residente, o § 3º, do art. 26, da Lei de Migração reserva a extensão de todos os direitos atribuídos ao migrante no art. 4º da referida lei, verbis: Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 16 Apatridia • LEI 13.445/17 Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como são assegurados: I - direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos; II - direito à liberdade de circulação em território nacional; III - direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e dependentes; IV - medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos; V - direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro país, observada a legislação aplicável; Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 17 Apatridia VI - direito de reunião para fins pacíficos; VII - direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos; VIII - acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; IX - amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; X - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XI - garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XII - isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência econômica, na forma de regulamento; Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 18 16 17 18 09/10/2022 7 Apatridia XIII - direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados pessoais do migrante, nos termos da Lei no 12.527, de 18 de novembro de 2011; XIV - direito a abertura de conta bancária; XV - direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência; e XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização migratória. § 1o Os direitos e as garantias previstos nesta Lei serão exercidos em observância ao disposto na Constituição Federal, independentemente da situação migratória, observado o disposto no § 4o deste artigo, e não excluem outros decorrentes de tratado de que o Brasil seja parte. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 19 Apatridia • Em todo caso, não interessando ao apátrida a naturalização brasileira, ainda assim lhe será facilitado o domicílio permanente, por aplicação do §8º, do Art. 26, da Lei de Migração. • Já no caso da situação de apatridia não ser reconhecida, a Lei de Migração faculta recurso ao pretende (§ 9º, do Art. 26). Subsistindo o não reconhecimento, de todo modo “é vedada a devolução do indivíduo para o país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam em risco.” (§ 10, Art. 26). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 20 Polipatria/polipatridia • Assim como não é rara a ocorrência de indivíduos sem nacionalidade, não é incomum existirem polipátridas. Por exemplo: a) alguém que nasça em um Estado que adote o critério de obtenção de nacionalidade jus soli, mas que seja filho de pais nacionais de Estados que preservam o jus sanguinis. (Franco-brasileiros, ítalo- brasileiros, etc.) b) por casamento; c) por imposição de lei estrangeira a brasileiros para permanência em seu território ou exercício de direitos civis. (CF/88, Art. 12, 2b, § 4º). • Filhos de diplomatas são imunes à aplicação do critério jus soli. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 21 19 20 21 09/10/2022 8 Conflito de nacionalidades • Para fins de solução de conflitos de nacionalidade, a Convenção de Haia sobre Conflitos de Leis sobre Nacionalidade de 1930 (Dec. 21.798/32) estipula que: “Art. 4. Um Estado não pode exercer proteção diplomática em benefício de um de seus nacionais contra um Estado de onde ele também seja nacional.” (Tradução livre) • Já frente a terceiro Estado, o art. 5º da mesma Convenção estipula, com base no princípio da nacionalidade efetiva, que a pessoa deve ser protegida pela nação em que mantenha residência habitual ou principal, isto é, sendo-lhe reconhecida a nacionalidade que, de acordo com as circunstâncias, pareça-lhe mais estreitamente vinculada. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 22 A nacionalidade no Brasil • Cada Estado é soberano para dispor sobre regras da nacionalidade. • No Brasil, tais regras estão dispostas no Capítulo III, da CF/88, art. 12, o qual estabelece duas categorias de nacionais, os natos e os naturalizados, verbis: Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 23 A nacionalidade no Brasil Art.12 - São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Redação da EC 54/07). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 24 22 23 24 09/10/2022 9 A nacionalidade no Brasil Observação 1: • Segundo estabelece a Lei de Migração (Lei n. 14.445, de 24 de maio de 2017), em seu art. 63: Art. 63. O filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha sido registrado em repartição consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de nacionalidade. • Parágrafo único. O órgão de registro deve informar periodicamente à autoridade competente os dadosrelativos à opção de nacionalidade, conforme regulamento. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 25 A nacionalidade no Brasil Observação 2: • Por força do que dispõe a CF/88, prepondera, no Brasil, o critério “jus soli” para definição da nacionalidade. Porém, como visto acima, o Estado brasileiro também aceita, excepcionalmente, o critério “jus sanguinis” para sua definição. • Por isso, apesar de opiniões contrárias, o falecido jurista Celso Albuquerque Mello (V. 2, p.995) já afirmava que com “tantas exceções a favor do jus sanguinis adotamos um sistema misto”. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 26 A nacionalidade no Brasil Observação 3: • Segundo o STF, a opção de que trata a alínea c, do inciso I, do art. 12 da CF/88 pode ser efetuada a qualquer tempo, desde que o filho de pais brasileiros nascido no exterior venha a residir no Brasil e tenha alcançado a maioridade. Vindo aquele a residir no Brasil antes da maioridade, será tomado como brasileiro nato, mas sua nacionalidade sujeitar-se-á a confirmação tão logo alcance a maioridade, pois, a partir desta data, a opção passa a constituir-se como condição suspensiva da nacionalidade brasileira. Essa opção, apesar de potestativa (depender apenas da vontade do interessado) deve fazer-se em juízo, em jurisdição voluntária. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 27 25 26 27 09/10/2022 10 A nacionalidade no Brasil II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. * (Redação EC/Revisão, 3/94). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 28 A nacionalidade no Brasil Observação: • A naturalização do estrangeiro não implica em aquisição da nacionalidade brasileira a outros membros da família (cônjuges e filhos), nem lhes autoriza ou obriga a entrar ou radicar-se no Brasil. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 29 A nacionalidade no Brasil II - naturalizados: (...) § 1º - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. * (Redação EC/Revisão, 3/94). § 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 30 28 29 30 09/10/2022 11 A nacionalidade no Brasil • A Lei de Migração (Lei 13.445/17) destina o Capítulo VI para tratar da opção de nacionalidade e da naturalização. Prescrevendo sobre as formas de naturalização, o art. 64 normaliza: Art. 64. A naturalização pode ser: a) ordinária; b) extraordinária, c) especial; ou d) provisória. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 31 A nacionalidade no Brasil • A naturalização ordinária (Art. 65 da Lei de Migração) será concedida ao estrangeiro que possua capacidade civil de acordo com a lei brasileira, tenha residência no país no prazo mínimo de 4 anos, possua domínio da comunicação em português, e não tenha condenação penal ou já esteja reabilitado. • O prazo de 4 anos será reduzido para 1 ano, se o estrangeiro preencher uma das condições: tiver filho brasileiro; possuir cônjuge ou companheiro brasileiro, não estando separado deste, legalmente ou de fato, na ocasião da naturalização; houver prestado ou poder prestar serviço relevante ao país; tiver naturalização recomendada em razão de sua capacidade profissional, científica ou artística. (Art. 66 da Lei de Migração) Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 32 A nacionalidade no Brasil • A naturalização extraordinária (Art.67 da Lei de Migração) será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade fixada no país há mais de 15 anos ininterruptos, sem condenação penal, desde que a requeira. • A naturalização especial (Art. 68 da Lei de Migração) poderá ser concedida ao estrangeiro nas seguintes condições: se ele for cônjuge ou companheiro, há mais de 5 anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do país no exterior; ou se tiver sido empregado em missão diplomática ou repartição consular do Brasil por mais de 10 anos ininterruptos. • Para a concessão da naturalização especial o estrangeiro deve possuir capacidade civil segundo a lei nacional, comunicar-se em português, além de não ter condenação penal ou já estar reabilitado, nos termos da lei. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 33 31 32 33 09/10/2022 12 A nacionalidade no Brasil • Por fim, a naturalização provisória (Art. 69 da Lei da Migração) será concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência no país antes de completar 10 anos de idade, devendo ser requerida pelo representante legal. • A naturalização será convertida em definitiva se, dentro do prazo de dois anos após atingida a maioridade, o naturalizando assim o requerer expressamente (Art.70, parágrafo único, da Lei de Migração). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 34 A nacionalidade no Brasil • Segundo o art. 75 da Lei de Migração: "Art. 75. O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de condenação transitada em julgado por atividade nociva ao interesse nacional, nos termos do inciso I do § 4º do Art. 12 da Constituição Federal". • Porém, dispõe o parágrafo único do Art. 75: “Parágrafo único. O risco de geração de situação de apatridia será levado em consideração antes da efetivação da perda da nacionalidade”. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 35 A nacionalidade no Brasil • A Constituição estabelece no § 2º do Art. 12 que: “§ 2º. A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição”. • Com efeito, prevê no parágrafo seguinte: “§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa”. * (Redação da EC. 23/99) Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 36 34 35 36 09/10/2022 13 A nacionalidade no Brasil Observação 1: • Importante ressaltar que, apesar de ser cobrada nacionalidade brasileira para os membros da carreira diplomática e para diversas outras pessoas eventualmente aptas a representar a política exterior brasileira, a CF/88 não exige nacionalidade de brasileiro nato, sequer de brasileiro naturalizado, para Ministro das Relações Exteriores. Curioso já que o cargo de embaixador (mesmo por comissão) é privativo de brasileiro nato devido compor o quadro diplomático do país (Ministro de 1ª Classe). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 37 A nacionalidade no Brasil Observação 2: • No Brasil, os direitos políticos são vedados aos estrangeiros, salvo se houver regras de reciprocidade (p. Ex., o mencionado Tratado da Amizade entre Brasil e Portugal). • Estes, contudo, uma vez naturalizados, passam a gozar de tais direitos, mas não em relação aos cargos privativos a brasileiros natos. • Poderão, outrossim, votar para todos os cargos, ser votados para cargos não privativos de brasileiros natos, pertencer a partidos políticos (§§ 2º e 3º do Art. 14 da CF), ser servidor público, alistar-se nas forças armadas sem assumir condição de oficial, etc. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 38 A nacionalidadeno Brasil Observação 3: • A Constituição prevê outras distinções entre natos e naturalizados: só os natos maiores de 35 anos podem participar do Conselho da República (art. 89, VI); por outro lado, os naturalizados só podem ser proprietários de empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens após 10 anos de naturalização (art.222); os naturalizados podem ser extraditados se o fato motivador da extradição ocorreu antes da naturalização ou se comprovado envolvimento em tráfico de entorpecentes e drogas afim (ar. 5º, LI), situação impossível, em qualquer circunstância, ao brasileiro nato. Também é impossível ao nato a perda da nacionalidade por sentença judicial, situação possível ao naturalizado (art. 12, § 4º). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 39 37 38 39 09/10/2022 14 A nacionalidade no Brasil § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para exercício de direitos civis. * (Redação da EC/Revisão, 3/94). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 40 A nacionalidade no Brasil Observação: • O direito à renúncia da nacionalidade brasileira não é acolhido por se tratar de hipótese não consagrada na CF/88 (assim como as situações de perda da nacionalidade). • Para a literatura, quando quis falar sobre perda de nacionalidade, a CF/88 expressou todas hipóteses possíveis. Se silenciou, é porque não quis admitir outras hipóteses. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 41 A nacionalidade no Brasil • A perda da nacionalidade é individual e não se transfere a conjugues, filhos, etc. Quanto à perda de nacionalidade por aquisição voluntária de outra nacionalidade, a reaquisição dependerá de decreto do presidente da República e o solicitante deverá residir no país. No caso de perda de naturalização em virtude de prática de ato nocivo, a nacionalidade somente poderá ser readquirida por decisão transitada em julgada de ação rescisória. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 42 40 41 42 09/10/2022 15 A nacionalidade no Brasil • A Lei de Migração (Lei 13.445/17), na Seção V do capítulo reportado à opção de nacionalidade e à naturalização, ao dispor sobre a reaquisição da nacionalidade brasileira, prescreveu: “Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo”. • Portanto, a reaquisição da nacionalidade gerará efeitos ex nunc e o status da nacionalidade readquirida conservará a natureza da nacionalidade inicialmente existente, nata ou naturalizada. • Obs. O STF já indeferiu extradição de requerente que havia perdido a nacionalidade brasileira nata por opção, mas que veio a readquiri-la, considerando o efeito nato da reaquisição. (Extradição nº 441-7, DJU 10.06.88) BIBLIOGRAFIA • ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. Ed. Saraiva. • AKEHURST, Michael. Introdução ao Direito Internacional. Ed. Coimbra. • BROWNLIE, Ian. Principles of Public International Law. Ed. Oxford. • Carta da OEA (Dec. 30.544/52). In: https://www.oas.org/dil/port/tratados_A- 41_Carta_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_d os_Estados_Americanos.htm • Carta da ONU (Dec. 19.841/45). In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decret o/1930-1949/d19841.htm • Convenção de Haia sobre Conflitos de Leis sobre Nacionalidade de 1930 (Dec. 21.798/32). In: http://legis.senado.leg.br/legislacao/Publica caoSigen.action?id=441685&tipoDocument o=DEC-n&tipoTexto=PUB Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa BIBLIOGRAFIA • Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia, de Nova Iorque, de 1961 (Decreto 8.501/15). 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