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DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Valéria Becher Trentin Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: T795d Trentin, Valéria Becher Diagnóstico e intervenção no transtorno do espectro autista. / Valéria Becher Trentin. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 135 p.; il. ISBN 978-65-5646-142-7 ISBN Digital 978-65-5646-143-4 1. Educação inclusiva. – Brasil. 2. Inclusão em educação. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.9 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Diagnóstico ........7 CAPÍTULO 2 Intervenção e o TEA: Possibilidades de Interação e Aprendizagem ............................................................................55 CAPÍTULO 3 Inclusão e o Papel do Professor .............................................97 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, Neste livro daremos continuidade à trajetória de estudos, tendo como foco o Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista. O conteúdo aqui apresentado visa subsidiar a construção de conhecimentos sobre o diagnóstico e a intervenção no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com base nesta abordagem, o livro está organizado em três capítulos. No Capítulo 1, você compreenderá o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA), o qual, segundo a DSM-5, abarca limitações específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas a prejuízos em habilidades sociais. Após esta compreensão você identificará os critérios de diagnóstico, os instrumentos e escalas de avaliação/diagnóstico para o TEA. No Capítulo 2, você compreenderá a importância das interações para o desenvolvimento do indivíduo com TEA. A partir desta compreensão você identificará os métodos e programas de intervenção para o TEA, analisando os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do indivíduo com TEA. No Capítulo 3, você conhecerá o papel do professor regente e professor de apoio frente às interações e à aprendizagem e por meio deste conhecimento você analisará os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Excelente estudo! CAPÍTULO 1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender o conceito do termo e os critérios diagnósticos que envolvem o TEA. • Conhecer o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA). • Identifi car quais são os critérios de diagnóstico para o TEA. • Conhecer os instrumentos e as escalas de avaliação/diagnóstico para o TEA. 8 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 9 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo aprenderemos o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois torna-se fundamental termos conhecimentos científi cos e informações claras sobre as patologias que acometem o desenvolvimento humano. Assim, para compreendermos este transtorno, a base de nossos estudos e refl exões será o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- 5), onde se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais. Vale destacar que este Manual serve como ferramenta para compreender os padrões de doenças mentais, sendo utilizado em avaliações diagnósticas realizadas pelos profi ssionais da saúde (APA, 2014). Vamos nos aventurar? Desejamos a você um excelente estudo! 2 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO Iniciaremos este capítulo buscando compreender o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), o qual se apresenta como um dos principais sistemas de classifi cação. O referido manual, desde a sua primeira publicação, em 1952, passou por cinco grandes revisões, resultando no DSM-5, elaborado pela American Psychiatry Association (APA, 2014). FIGURA 1 – DSM-5 – MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS FONTE: <https://www.saraiva.com.br/manual-diagnostico-e-estatistico-de- transtornos-mentais-dsm-v-5-ed-2014-7536763/p>. Acesso em: 15 fev. 2020. 10 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista O DSM é regulado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Nele se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais (APA, 2014). Conforme Figura 1, recentemente, uma nova atualização do Manual foi feita, denominada como DSM-5 e, provavelmente, os novos documentos que tratam dos transtornos mentais seguirão esse novo parâmetro. As avaliações diagnósticas realizadas pelos profi ssionais da saúde são pautadas em pelo menos duas grandes referências, a CID-10 e o DSM-5. O DSM, de tempos em tempos, passa por um processo de revisão, sendo defendido por alguns órgãos e questionado por outros devido a sua forma de classifi cação e categorização. O DSM-5 foi publicado em 18 de maio de 2013, tornando-se um dos principais sistemas de classifi cação. Este Manual resultou das pesquisas de profi ssionais de diferentes áreas, os quais trabalharam intensamente revisando evidências sobre a validade dos critérios diagnósticos, tornando-se o DSM-5 “uma fonte segura e cientifi camente embasada para a aplicação em pesquisas e na prática clínica” (ARAÚJO; LOTUFO NETO, 2014, p. 68). Após a compreensão sobre o DSM, elucidaremos a CID-10. FIGURA 2 – CID-10 – CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO FONTE: <https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/RBES/user/ getInterests?rcs0as-cid10=171191&term=11z>. Acesso em: 15 fev. 2020. A CID-10 signifi ca Classifi cação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classifi cação Internacional de Doenças – CID-10) e foi publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 11 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 DSM-IV DSM-5 -Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou na ado- lescência. -Delirium, Demência, Transtorno Amnésti- co e outros Transtornos Cognitivos. -Transtornos Mentais causados por uma condição médica geral não classifi cados em outro local. -Transtornos relacionados a substâncias. -Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos -Transtornos do Humor. -Transtornos de Ansiedade. -Transtornos Somatoformes. -Transtornos Factícios. -Transtornos Dissociativos. -Transtornos Sexuais e da Identidade de Gênero. -Transtornos da Alimentação. -Transtornos do Sono. -Transtornos do Controle dos Impulsos não Classifi cados em Outro Local. -Transtornos da Adaptação. -Transtornos da Personalidade. Outras Condições quem podem ser foco de Atenção Clínica -Transtorno do Neurodesenvolvimento. -Espectro da Esquizofrenia e outros Transtor- nos Psicóticos. -Transtorno Bipolar e Transtornos Relaciona- dos. -Transtornos Depressivos. -Transtornos de Ansiedade. -Transtorno Obsessivo-Compulsivo. -Transtornos relacionados ao traumae ao estresse. -Transtornos Dissociativos. -Sintomas Somáticos e outros Transtornos Relacionados. -Transtornos Alimentares. -Transtornos de Eliminação. -Transtornos Sono-Vigília. -Disfunções Sexuais. -Disforia de Gênero. -Transtorno Disruptivo, do Controle dos Im- pulsos e de Conduta. -Transtornos Aditivos e Relacionados a Sub- stâncias. -Transtornos Neurocognitivos. -Transtornos de Personalidade. -Transtornos Parafílicos. -Outros Transtornos Mentais. -Distúrbio do Movimento Induzido por Me- dicamentos e outros Efeitos Adversos. -Outras condições que podem ser foco de Atenção Clínica. A partir do exposto, cabe evidenciar o Quadro 1, o qual apresenta os capítulos e as reformulações para as várias doenças do DSM-IV para o DSM-5. QUADRO 1 – REFORMULAÇÕES PARA AS VÁRIAS DOENÇAS DO DSM-IV PARA O DSM-5 FONTE: A autora 12 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Fisiopatologia: “estuda os distúrbios funcionais e signifi cado clínico. A natureza das alterações morfológicas e sua distribuição nos diferentes tecidos infl uenciam o funcionamento normal e determinam as características clínicas, o curso e também o prognóstico da doença” (ANDRADE, 2017, p. 10). Características fenotípicas: “características no organismo decorrentes da relação entre seus genes e o ambiente” (ANDRADE, 2017, p. 15). Podemos observar no Quadro 1, que os Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência, os quais fazem parte do DSM IV, foram substituídos por Transtornos do Neurodesenvolvimento no DSM-5. Segundo Rutter, Le Couteur e Lord (2003), os Transtornos do Neurodesenvolvimento são apoiados por características fi siopatológicas, as quais são caracterizadas por um atraso ou desvio no desenvolvimento do cérebro, infl uenciando características fenotípicas. Para Rutter, Le Couteur e Lord (2003), emerge um questionamento: “O que signifi ca Transtornos do Neurodesenvolvimento?”. Os Transtornos do Neurodesenvolvimento, segundo o DSM-5, são um conjunto de condições que se inicia no período de desenvolvimento do sujeito, geralmente antes do ingresso na escola. Assim, vale destacarmos que os défi cits característicos desses transtornos vão de limitações específi cas na aprendizagem ou no controle de funções executivas a prejuízos em habilidades sociais ou, até mesmo, Defi ciência Intelectual, Transtornos da Comunicação, Transtorno do Espectro Autista, Transtorno de Défi cit de Atenção/Hiperatividade, Transtorno Específi co da Aprendizagem, Transtornos Motores e outros Transtornos do Neurodesenvolvimento (APA, 2014). No Quadro 2, ressalta-se os transtornos que compõem o capítulo do DSM-5 sobre Transtornos do Neurodesenvolvimento. 13 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 QUADRO 2 – TRANSTORNOS QUE COMPÕEM O CAPÍTULO DO DSM- 5 SOBRE TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO DSM-5 Defi ciência Intelectual Transtornos de Comunicação Transtorno do Espectro Autista Transtorno de Défi cit de Atenção/Hiperatividade Transtorno Específi co da Aprendizagem Transtornos Motores Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento FONTE: Adaptado de APA (2014) Ao se observar o Quadro 2, compreendemos que a nova classifi cação do DSM-5 estabelece algumas mudanças, como a exclusão do capítulo “Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência”. A partir desta exclusão, parte dos diagnósticos pertencentes a este capítulo passaram a serem compreendidos como Transtornos do Neurodesenvolvimento (APA, 2014). Iniciaremos, agora, discussões sobre o objeto de nosso estudo, ou seja, o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o qual, de acordo com o DSM-5 (Quadro 2), se classifi ca dentro do Transtorno do Neurodesenvolvimento. 2.1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA FIGURA 3 – TEA – TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA FONTE: <https://soumamae.com.br/tudo-saber-sobre- criancas-autistas/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 14 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Podemos iniciar discussões destacando que nos Transtornos Mentais que compõem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), apresenta-se o Transtorno Autista (TA), a Síndrome de Asperger (AS) e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especifi cação (TGDSOE) (APA, 2014). FIGURA 4 – AUTISMO E AS CLASSIFICAÇÕES FONTE: <https://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_ EV073_MD1_SA10_ID2139_11092017002357.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Podemos observar na Figura 4 a diferença existente entre o DSM IV e o DSM- 5 no que tange ao autismo. A versão do DSM IV apresenta cinco tipos clínicos na categoria TID: “transtorno autista, transtorno de Rett, transtorno desintegrativo da infância, transtorno de Asperger e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especifi cação” (BRITO, 2017, p. 11). Assim, apreendemos que a nova versão do DSM-5 reuniu todos os transtornos em um só diagnóstico: o TEA. A partir do DSM-5 e da junção dos transtornos em um só diagnóstico, este passou a constar na nova Classifi cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11 (Quadro 3), lançada no dia 18 de junho de 2018 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 15 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 QUADRO 3 – AUTISMO NA CID-10 E CID-11 AUTISMO NA CID-10 AUTISMO NA CID-11 F84 – Transtornos globais do desen- volvimento (TGD) F84.0 – Autismo infantil. F84.1 – Autismo atípico. F84.2 – Síndrome de Rett. F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância. F84.4 – Transtorno com hipercinesia as- sociada a retardo mental e a movimentos estereotipados. F84.5 – Síndrome de Asperger. F84.8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento. F84.9 – Transtornos globais não especifi ca- dos do desenvolvimento. 6A02 – Transtorno do Espectro do Autis- mo (TEA) 6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autis- mo sem Defi ciência Intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da lin- guagem funcional. 6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autis- mo com Defi ciência Intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da lin- guagem funcional. 6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autis- mo sem Defi ciência Intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada. 6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autis- mo com Defi ciência Intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada. 6A02.4 – Transtorno do Espectro do Autis- mo sem Defi ciência Intelectual (DI) e com ausência de linguagem. 6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autis- mo com Defi ciência Intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional. 6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Autismo especifi cado. 6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autis- mo, não especifi cado. FONTE: <https://tismoo.us/saude/diagnostico/nova-classifi cacao-de-doencas-cid- 11-unifi ca-transtorno-do-espectro-do-autismo-6a02/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 16 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Para conhecer mais sobre o Autismo na CID-11, assista ao vídeo: O nome no laudo do meu fi lho mudou? Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=MJbR0UwZB08. A partir deste entendimento, o primeiro passo é começarmos a entender o que são os Transtornos do Espectro Autista. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma nova categoria do DSM-5, em que foi introduzida o conceito de “espectro” para reforçar a dimensão que o envolve. Espectro (spectrum) envolve situações diferentes em níveis de gravidade, que vai da mais leve à mais grave. No entanto, independente do grau, estas estão relacionadas com difi culdades de comunicação e relacionamento social. FONTE: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/tea- transtorno-do-espectro-autista-ii/>. Acesso em: 15 fev. 2020. Mediante a compreensão aqui elucidada sobre o quesignifi ca o DSM-5 e o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA), iniciaremos discussões sobre os critérios de diagnóstico. 3 DIAGNÓSTICO E O TEA: QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS, SEGUNDO O DSM-5? O diagnóstico do TEA é clínico e baseia-se na presença de determinados padrões de comportamento. De acordo com o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), para o diagnóstico do TEA, o paciente deve preencher alguns critérios, sendo eles: défi cits de comunicação social, interação social e comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos (APA, 2014). 17 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Sobre os défi cits de comunicação social e interação social, a DSM-5, em seu texto, destaca alguns exemplos, sendo eles: • Défi cits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e difi culdade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a difi culdade para iniciar ou responder a interações sociais. • Défi cits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou défi cits na compreensão e uso de gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. • Défi cits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de difi culdade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a difi culdade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares (APA, 2014, p. 94). Frente aos exemplos expostos que envolvem os défi cits de comunicação social e interação social, o DSM-5 ainda destaca exemplos que envolvem o comportamento, os interesses e as atividades restritos e repetitivos, sendo eles: • Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). • Insistência nas mesmas coisas, adesão infl exível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo com relação a pequenas mudanças, difi culdades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). • Interesses fi xos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). • Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente à dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específi cas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luz e/ou movimento) (APA, 2014, p. 94). 18 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista A ecolalia na fala da criança ou jovem com TEA é um fenômeno persistente que se caracteriza como um distúrbio de linguagem, defi nida como a repetição em eco da fala do outro (OLIVEIRA, 2003). Idiossincrática é o uso estereotipado da linguagem. FONTE: <http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/ tesesabertas/0710434_09_cap_03.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Para conhecer mais sobre o diagnóstico de TEA, assista ao vídeo “15 sinais de autismo leve”, disponível no seguinte link: https:// www.youtube.com/watch?v=9-vdD-3-nA4. Alguns critérios de diagnóstico para o TEA, evidenciados no DSM-5, podem ser visualizados na Figura 5. 19 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 FIGURA 5 – CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO PARA O TEA, EVIDENCIADOS NO DSM-5 FONTE: <http://entendendoautismo.com.br/wp-content/uploads/2016/09/ criterios-de-diagnostico-797x1024.jpg>. Acesso em: 15 fev. 2020. 20 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Alguns aspectos descritos anteriormente podem ser visualizados na Figura 6. FIGURA 6 – ALGUNS SINAIS DO TEA FONTE: <https://consultoriadeinclusao.wordpress.com/2014/11/27/ alguns-sinais-do-autismo/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 21 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Frente às fi guras apresentadas, cabe evidenciarmos que, segundo a APA (2014), a gravidade do TEA baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento, dividindo-se em três níveis, conforme consta no Quadro 4. QUADRO 4 – NÍVEIS DE GRAVIDADE PARA TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) NÍVEL DE GRAVIDADE COMUNICAÇÃO SOCIAL COMPORTAMENTOS RES- TRITOS E REPETITIVOS Nível 3 “Exigindo apoio muito substancial” Défi cits graves nas habilidades de comunicação social, verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que rara- mente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns apenas para satis- fazer a necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas. Infl exibilidade de comporta- mento, extrema difi culdade em lidar com a mudança ou outros comportamentos re- stritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcio- namento em todas as es- feras. Grande sofrimento/ difi culdade para mudar o foco ou as ações. Nível 2 “Exigindo apoio substan- cial” Défi cits graves nas habilidades de comunicação social, verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar in- ício a interações sociais e re- sposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases sim- ples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha. Infl exibilidade do comporta- mento, difi culdade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/ repetitivos aparecem com frequência sufi ciente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcio- namento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ ou difi culdade de mudar o foco ou as ações. 22 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Nível 1 “Exigindo apoio” Na ausência de apoio, défi cits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Difi culdade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respos- tas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer apresentar inter- esse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pes- soa que consegue falar frases completas e envolver-se na co- municação, embora apresente falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas. Infl exibilidade de comporta- mento causa interferência signifi cativa no funcionamen- to em um ou mais contextos. Difi culdade em trocar de ativ- idade. Problemas para orga- nização e planejamento são obstáculos à inde- pendência. FONTE: Adaptado de APA (2014) A partir dos níveis apresentados no Quadro 4, ressaltamos que evidências científi cas mostram que entender algumas características comuns às pessoas com Autismo/Transtorno do Espectro do Autismo, pode auxiliar muito a agir em diferentes situações (na escola, em casa, na terapia). No entanto, torna-se pertinente lembrarmos que cada pessoa é única e precisa ter suas particularidades (idade, escolaridade, aspectos sociais, linguísticos, cognitivos, motores, familiares e socioculturais, grau de autismo, síndromes ou transtornos associados etc.), aspectos estes que necessitam ser levados em consideração. Frente a este entendimento,vamos aprofundar nossos conhecimentos? 23 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 1 Leia com atenção o relato de caso a seguir e depois responda à questão. RELATO DE CASO Pedro tem 10 anos e apresenta laudo com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mediante este laudo podemos inferir que segundo o DSM-5, Pedro pode apresentar domínios de sintomas principais, sendo eles: défi cits de comunicação social e interação social e comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos (APA, 2014). Agora que compreendemos o TEA, segue sugestão de fi lme: Rain Main (1998). O fi lme apresenta a história de Raymond, um autista, e seu irmão em uma relação cheia de desafi os, conquistas e aprendizado. Vale a pena assistir! Para complementarmos nossos estudos, segue sugestão de Livro: BRITO, M. C. Estratégias de Intervenção nos Transtornos do Espectro Autista. [s.L.]: Instituto Nacional Saber Autismo, 2017. E-book (32 p.). 24 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Descreva o que envolve comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos: R.:____________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________. Você respondeu à atividade de estudo e descobriu respostas para as inquietações que envolvem o TEA. A partir destas descobertas estudaremos na próxima seção o desenvolvimento e o curso do TEA. 3.1 DESENVOLVIMENTO E CURSO DO TEA, SEGUNDO O DSM-5 Segundo a APA (2014), os sintomas costumam ser reconhecidos durante o segundo ano de vida (12 a 36 meses), embora possam ser vistos antes dos 12 meses de idade se os atrasos do desenvolvimento forem graves. No entanto, podem ser percebidos após os 24 meses se os sinais forem mais sutis (APA, 2014). 25 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Assim, tornam-se sinais sugestivos no primeiro ano de vida: • perder habilidades já adquiridas, como balbucio ou gesto de contato ocular ou sorriso social; • não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente; • não apresentar sorriso social; • baixo contato ocular e defi ciência no olhar sustentado; • baixa atenção à face humana (preferência por objetos); • demonstrar maior interesse por objetos do que por pessoas; • não seguir objetos e pessoas próximos em movimento; • apresentar pouca ou nenhuma vocalização; • não aceitar o toque; • não responder ao nome; • imitação pobre; • baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem como restrito engajamento social (pouca iniciativa e baixa disponibilidade de resposta); FIGURA 7 – SINAIS DO TEA DURANTE O SEGUNDO ANO DE VIDA (12 A 36 MESES) FONTE: <https://pt.slideshare.net/amorimjuvenal/perturbacoes- do-espectro-do-autismo>. Acesso em: 15 fev. 2020. 26 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista • incômodo incomum com sons altos; • distúrbio de sono moderado ou grave; • irritabilidade no colo e pouca responsividade no momento da amamentação. FONTE: <https://www.sbp.com.br/fi leadmin/user_upload/Ped._ Desenvolvimento_-_21775b-MO_-_Transtorno_do_Espectro_do_ Autismo.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Com base no exposto, podemos destacar que os primeiros sintomas do transtorno do espectro autista frequentemente envolvem atraso no desenvolvimento da linguagem, em geral, acompanhado por ausência de interesse social ou interações sociais incomuns, como puxar as pessoas pela mão sem nenhuma tentativa de olhar para elas; surgem também padrões estranhos de brincadeiras (carregar brinquedos, mas nunca brincar com eles), e padrões incomuns de comunicação (conhecer o alfabeto, mas não responder ao próprio nome) (APA, 2014). Outro aspecto a ser evidenciado é o de que o transtorno do espectro autista não é um transtorno degenerativo, sendo comum que a aprendizagem continue ao longo da vida. Os sintomas são frequentemente mais acentuados na primeira infância e nos primeiros anos da vida escolar com ganhos no desenvolvimento, sendo frequentes no fi m da infância, pelo menos em certas áreas, por exemplo: aumento no interesse por interações sociais (APA, 2014). Assim, em geral, indivíduos com níveis de prejuízo menores podem ter maior independência. No entanto, esses indivíduos podem continuar socialmente ingênuos e vulneráveis, com difi culdades para organizar as demandas práticas sem ajuda, estando mais propensos à ansiedade e à depressão (APA, 2014). FIGURA 8 – FIQUE ATENTO FONTE: <http://www.sjp.pr.gov.br/semana-municipal-da-conscientizacao-sobre-o- transtorno-do-espectro-autista-tera-caminhada-no-sabado-7/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 27 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Segundo a APA (2014), vale ressaltar que diversos estudos científi cos mostram que quanto mais precocemente a criança com TEA for avaliada de forma adequada, melhores poderão ser suas oportunidades de intervenção e de desenvolvimento. A intervenção precoce torna-se fundamental na evolução de crianças com TEA. Portanto, quanto mais precoce a intervenção, melhores os resultados para a criança e para sua família (BRITO, 2017). Agora, apresentaremos na Figura 9 um breve resumo do que aprendemos sobre o TEA, de acordo com a DSM-5. FIGURA 9 – O QUE É O AUTISMO? FONTE: <http://www.sjp.pr.gov.br/semana-municipal-da-conscientizacao-sobre-o- transtorno-do-espectro-autista-tera-caminhada-no-sabado-7/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 28 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Assim, compreendemos que a partir da identifi cação de sinais, do diagnóstico estabelecido, pode-se iniciar o processo de intervenção propriamente dito. Podemos inferir ainda que a partir da identifi cação de sinais a criança deve ser encaminhada para avaliação e acompanhamento com médico especializado em desenvolvimento neuropsicomotor, com avaliação formal para TEA com o Psiquiatra Infantil ou o Neuropediatra (BRITO, 2017). Agora que apreendemos o desenvolvimento e o curso do TEA, segundo o DSM-5, investigaremos os instrumentos e escalas que abarcam o diagnóstico. 4 INSTRUMENTOS E ESCALAS PARA O TEA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE Aprendemos na seção anterior que os critérios de diagnóstico do TEA, segundo o DSM-5, envolvem domínios de sintomas principais, sendo eles: os défi cits de comunicação social e interação social e o comportamento, interesses e atividades restritas e repetitivas. Mediante este aprendizado, vale ressaltarmos que os instrumentos para avaliação do TEA devem ser utilizados em conjunto com as observações clínicas, levando-se em consideração os critérios diagnósticos do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) (APA, 2014) e a Classifi cação Internacional de Doenças (CID-10). Vale destacar que no Brasil, o sistema classifi catório ofi cial é a CID (PEREIRA, 2007). Destacamos ainda que a identifi cação dos sinais do TEA torna-se possível muitas vezes antes dos 36 meses de idade, o que oportuniza a intervenção precoce (PEREIRA, 2007). Segundo a American Academy of Pediatrics (APA), o rastreamento dos sinais do TEA deve ser realizado entre os 18-24 meses de idade por meio de instrumentos padronizados para tal fi nalidade. Caso a criança seja identifi cada com sinais de risco de TEA, ela deverá ser encaminhada para uma avaliação mais abrangente, de modo a confi rmar o diagnóstico. Essa confi rmação torna-se possível no fi nal do segundo ano de vida da criança, embora a idade média de diagnósticoseja de cinco anos (PEREIRA, 2007). Assim, podemos inferir que se considera adequadamente diagnosticado com TEA o paciente que recebeu o diagnóstico baseado em instrumentos 29 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 válidos de avaliação. O principal instrumento de avaliação utilizado é a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), complementado com a aplicação de escalas diagnósticas válidas no Brasil (APA, 2014). No Brasil, segundo Bosa (2013), os instrumentos traduzidos e adaptados para o português brasileiro são: ATA (Scale of Autistic Traits), M-CHAT (Modifi ed- Checklist for Autism in Toddlers), ASQ (Autism Screening Questionary), ABC (Autism Behavior Checklist), CARS (Childhood Autism Rating Scale), ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised) e ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule). Compreenderemos estes instrumentos nas próximas subseções. Vamos lá? 4.1 ADI-R (AUTISM DIAGNOSTIC INTERVIEW-REVISED) No ano de 1989, o instrumento ADI (Autism Diagnostic Interview), foi criado a partir dos critérios diagnósticos do DSM-III-R e da CID, focando em três áreas principais, sendo elas: • qualidade da interação social recíproca; • comunicação e linguagem; • comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados (LE COUTEUR et al., 1989). Além das três principais áreas, Le Couteur et al. (1989) ainda destacam a entrevista, a qual também envolve uma série de comportamentos que, embora não sejam cruciais para o diagnóstico, são importantes no planejamento terapêutico. Mediante o destacado, podemos evidenciar que em 1994, a ADI foi modifi cada para ADI-R. A versão tornou-se ligeiramente mais curta que a original para tornar a entrevista mais apropriada para uso clínico e em pesquisa (LORD; RUTTER; LE COUTEUR, 1994). A ADI-R apresenta 93 itens, divididos em seis seções. • A primeira seção é constituída por questões abertas, na qual são colhidas informações gerais sobre o paciente e sua família, tais como 30 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista histórico do processo diagnóstico e escolaridade. O objetivo é auxiliar o entrevistador a formular melhor as questões que virão posteriormente, bem como facilitar a lembrança dos pais acerca da época de emergência dos problemas de desenvolvimento do fi lho. • A segunda seção investiga o desenvolvimento precoce e os marcos do desenvolvimento. • A terceira, a quarta e a quinta seções são formadas por perguntas sobre as três principais áreas de manifestações clínicas do autismo: défi cits de comunicação; défi cits de interação social; comportamento repetitivo e estereotipado. • A sexta e última seção é composta por um número menor de perguntas, que tratam de problemas gerais de comportamento (SOUSA FILHO, 2014). Mediante as seções que compõem a entrevista, podemos inferir que a ADI-R é uma entrevista padronizada, semiestruturada, administrada aos pais ou cuidadores de crianças com suspeita de TEA. Possui 93 itens que investigam os comprometimentos sociocomunicativos e a presença de comportamentos repetitivos e estereotipados. “As informações fornecidas pelos pais ou cuidadores devem, então, ser codifi cadas em escores de 0 a 2, ou 0 a 3, dependendo do item, sendo que 0 implica um comportamento menos comprometido e 2 ou 3 a comportamentos mais atípicos” (SOUSA FILHO, 2014, p. 90). Podemos evidenciar, ainda, que o protocolo da entrevista é preenchido pelo profi ssional com a descrição do comportamento e a escolha do código que melhor o descreva, para cada item. Assim, torna-se responsabilidade do entrevistador obter e registrar exemplos sufi cientes de comportamentos reais antes de escolher o código de resposta do item (RUTTER; LE COUTEUR; LORD, 2003). Portanto, torna-se pertinente destacar que o tempo previsto para a realização da entrevista é de aproximadamente 1,5 a 2,5 horas, sendo o tempo um pouco maior para crianças maiores e adultos (LE COUTEUR et al., 1989; RUTTER; LE COUTEUR; LORD, 2003). Destacamos, ainda, que a ADI-R é considerada um instrumento padrão- ouro para o diagnóstico de TEA, sendo que o entrevistador deve passar por um treinamento prévio que o habilitará a administrá-la e a codifi car seus resultados. Cabe destacar que o instrumento fornece três diagnósticos, sendo eles: paciente com TEA; sinais de TEA sem a forma clássica da doença e paciente sem TEA (SOUSA FILHO, 2014). As entrevistas são instrumentos cruciais para o diagnóstico do TEA, uma 31 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 vez que conseguem, por meio dos relatos dos pais e/ou cuidadores, buscar relevantes informações relativas tanto a manifestações comportamentais muito precoces quanto as que surgiram ao longo do desenvolvimento até as exibidas no momento do tratamento (LE COUTEUR et al., 1989). Em continuidade às refl exões e às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, discorreremos sobre a ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule). 4.2 ADOS (AUTISM DIAGNOSTIC OBSERVATION SCHEDULE) A ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule) consiste em um protocolo de observação comportamental desenvolvido para avaliação de crianças, adolescentes e adultos com suspeita de Transtorno do Espectro Autista com nível de linguagem de, no mínimo, três anos. “Em 1995, foi publicada a PL-ADOS (Pre-Linguistic Autism Diagnostic Observation Schedule), versão direcionada a crianças com uso limitado ou ausência de linguagem” (SOUSA FILHO, 2014, p. 88). A ADOS-2, publicada em 2012, foi modifi cada a partir da ADOS para avaliar crianças a partir de 12 meses até indivíduos adultos (SOUSA FILHO, 2014). Assim, podemos destacar que a ADOS-2 é um instrumento padronizado e semiestruturado de observação que busca verifi car especifi camente as habilidades de interação social, comunicação, brincadeiras e uso imaginativo de materiais pelas crianças com suspeita de TEA. É composto por quatro módulos que variam conforme os diferentes níveis de linguagem expressiva da criança. A escala deve ser aplicada por profi ssionais certifi cados, que receberam treinamento prévio adequado (SOUSA FILHO, 2014). A ADOS e a ADI-R são consideradas, pela literatura, instrumentos padrão- ouro para o diagnóstico de Transtornos do Espectro Autista (GRAY; TONGE; SWEENEY, 2008). Para conhecer mais sobre a escala ADOS e ADI-R, assista ao vídeo disponível no seguinte link: https://www.youtube.com/ watch?v=dep7xGbemWg. 32 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Em continuidade às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, abordaremos a ATA (Escala de Traços Autísticos). Vamos lá? 4.3 ATA (ESCALA DE TRAÇOS AUTÍSTICOS) A escala de traços autísticos (ATA), é um instrumento de fácil aplicação. No entanto, ela deve ser aplicada por profi ssional conhecedor do TEA, sendo ele o responsável pela avaliação das respostas dadas em função de cada item (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). Esse instrumento não se evidencia como entrevista diagnóstica, mas sim na observação, o que permite fazer segmentos longitudinais da evolução, tendo por base a sintomatologia, auxiliando também na elaboração de um diagnóstico confi ável. A escala deve ser administrada após informação detalhada dos dados clínicos e evolutivos da criança, podendo auxiliar no processo terapêutico (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). A escala é composta por 23 subescalas, cada uma é dividida em diferentes itens, que pode ser aplicada em crianças acima de dois anos. Baseada em diferentes aspectos diagnósticos, tem a fi nalidade de triagem de casos suspeitos de autismo e fundamenta-se na observação (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). A escala se pontua com base nos seguintes critérios: • cada subescala da prova tem um valor de 0 a 2; • pontua-se a escala positiva no momento emque um dos itens for positivo; • a pontuação global da escala se faz a partir da soma aritmética de todos os valores positivos da subescala. As escalas de avaliação permitem mensurar as condutas apresentadas de maneira a se estabelecer um diagnóstico de maior confi abilidade. 33 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 SUBESCALAS ITENS DAS SUBESCALAS I DIFICULDADE NA INTERAÇÃO SOCIAL - O desvio da sociabilidade pode oscilar entre formas leves, como um certo negativ- ismo e a não aceitação do contato ocular, até formas mais graves, como um intenso isolamento. 1. Não sorri. 2. Ausência de aproximações es- pontâneas. 3. Não busca companhia. 4. Busca constantemente seu can- tinho (esconderijo). 5. Evita pessoas. 6. É incapaz de manter um inter- câmbio social. 7. Isolamento intenso. II MANIPULAÇÃO DO AMBIENTE - O prob- lema da manipulação do ambiente pode apresentar-se a nível mais ou menos grave, como não responder às solicitações e man- ter-se indiferente ao ambiente. O fato mais comum é a manifestação brusca de crises de birra passageira, risos incontroláveis e sem motivo, tudo isso com o fi m de conse- guir ser o centro da atenção. 1. Não responde às solicitações. 2. Mudança repentina de humor. 3. Mantém-se indiferente, sem ex- pressão. 4. Risos compulsivos. 5. Birra e raiva passageira. 6. Excitação motora ou verbal (ir de um lugar a outro, falar sem parar). III UTILIZAÇÃO DAS PESSOAS A SEU RE- DOR - A relação que mantém com o adulto quase nunca é interativa, dado que nor- malmente utiliza-se do adulto como o meio para conseguir o que deseja. 1. Utiliza-se do adulto como um ob- jeto, levando-o até aquilo que ele deseja. 2. O adulto lhe serve como apo- io para conseguir o que deseja (p. ex.: utiliza o adulto como apoio para pegar bolacha). 3. O adulto é o meio para suprir uma necessidade que não é capaz de realizar só (p. ex.: amarrar sap- atos). 4. Se o adulto não responde as suas demandas, atua interferindo na conduta desse adulto. QUADRO 5 – SUBESCALAS DA ATA (ESCALA DE TRAÇOS AUTÍSTICOS) 34 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista IV RESISTÊNCIA À MUDANÇA - A resistên- cia à mudança pode variar da irritabilidade até a franca recusa. 1. Insistente em manter a rotina. 2. Grande difi culdade em aceit- ar fatos que alteram sua rotina, tais como mudanças de lugar, de vestuário e na alimentação. 3. Apresenta resistência a mu- danças, persistindo na mesma res- posta ou atividade. V BUSCA DE UMA ORDEM RÍGIDA - Man- ifesta tendência a ordenar tudo, podendo chegar a uma conduta de ordem obses- siva, sem a qual não consegue desenvolv- er nenhuma atividade. 1. Ordenação dos objetos de acor- do com critérios próprios e preesta- belecidos. 2. Prende-se a uma ordenação es- pacial (cada coisa sempre em seu lugar). 3. Prende-se a uma sequência tem- poral (cada coisa em seu tempo). 4. Prende-se a uma correspondên- cia pessoa-lugar (cada pessoa sempre no lugar determinado). VI FALTA DE CONTATO VISUAL. OLHAR INDEFENIDO - A falta de contato pode vari- ar desde um olhar estranho até o constante evitar dos estímulos visuais. 1. Desvia os olhares diretos, não ol- hando nos olhos. 2. Volta a cabeça ou o olhar quando é chamado (olhar para fora). 3. Expressão do olhar vazio e sem vida. 4. Quando segue os estímulos com os olhos, somente o faz de maneira intermitente. 5. Fixa os objetos com uma olhada periférica, não central. 6. Dá a sensação de que não olha. 35 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 VII MÍMICA INEXPRESSIVA - A inexpressivi- dade mímica revela a carência da comuni- cação não verbal. Pode apresentar desde uma certa expressividade até uma ausên- cia total de resposta. 1. Se fala, não utiliza a expressão facial, gestual ou vocal com a fre- quência esperada. 2. Não mostra uma reação anteci- patória. 3. Não expressa através da mímica ou olhar aquilo que quer ou o que sente. 4. Imobilidade facial. VIII DISTÚRBIOS DE SONO - Quando pequeno dorme muitas horas e, quando maior, dorme poucas horas, se compara- do ao padrão esperado para a idade. Esta conduta pode ser constante ou não. 1. Não quer ir dormir. 2. Se levanta muito cedo. 3. Sono irregular (em intervalos). 4. Troca o dia pela noite. 5. Dorme poucas horas. IX ALTERAÇÃO NA ALIMENTAÇÃO - Pode ser quantitativa e/ou qualitativa. Pode in- cluir situações, desde aquela em que a cri- ança deixa de se alimentar até aquela em que se opõe ativamente. 1. Seletividade alimentar rígida (ex.: come o mesmo tipo de alimento sempre). 2. Come outras coisas além de ali- mentos (papel, insetos). 3. Quando pequeno não mastigava. 4. Apresenta uma atividade rumi- nante. 5. Vômitos. 6. Come grosseiramente, esparra- ma a comida ou a atira. 7. Rituais (esfarela alimentos antes da ingestão). 8. Ausência de paladar (falta de sensibilidade gustativa). 36 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista X DIFICULDADE NO CONTROLE DOS ES- FÍNCTERES - O controle dos esfíncteres pode existir, porém a sua utilização pode ser uma forma de manipular ou chamar a atenção do adulto. 1. Medo de sentar-se no vaso san- itário. 2. Utiliza os esfíncteres para manip- ular o adulto. 3. Utiliza os esfíncteres como estim- ulação corporal, para obtenção de prazer. 4. Tem controle diurno, porém o no- turno é tardio ou ausente. XI EXPLORAÇÃO DOS OBJETOS (APAL- PAR, CHUPAR) - Analisa os objetos sen- sorialmente, requisitando mais os outros órgãos dos sentidos em detrimento da visão, porém sem uma fi nalidade especí- fi ca. 1. Morde e engole objetos não ali- mentares. 2. Chupa e coloca as coisas na boca. 3. Cheira tudo. 4. Apalpa tudo. Examina as super- fícies com os dedos de uma manei- ra minuciosa. XII USO INAPROPRIADO DOS OBJETOS - Não utiliza os objetos de modo funcional, mas sim de uma forma bizarra. 1. Ignora os objetos ou mostra um interesse momentâneo. 2. Pega, golpeia ou simplesmente os atira no chão. 3. Conduta atípica com os objetos (segura indiferentemente nas mãos ou gira). 4. Carrega insistentemente consigo determinado objeto. 5. Se interessa somente por uma parte do objeto ou do brinquedo. 6. Coleciona objetos estranhos. 7. Utiliza os objetos de forma partic- ular e inadequada. 37 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 XIII FALTA DE ATENÇÃO - Difi culdades na fi xação e concentração. Às vezes, fi xa a atenção em suas próprias produções sono- ras ou motoras, dando a sensação de que se encontra ausente. 1. Quando realiza uma atividade, fi xa a atenção por curto espaço de tempo ou é incapaz de fi xá-la. 2. Age como se fosse surdo. 3. Tempo de latência de resposta aumentado. 4. Entende as instruções com difi - culdade (quando não lhe interessa, não as entende). 5. Resposta retardada. 6. Muitas vezes dá a sensação de ausência. XIV AUSÊNCIA DE INTERESSE PELA APRENDIZAGEM - Não tem nenhum inter- esse por aprender, buscando solução nos demais. Aprender representa um esforço de atenção e de intercâmbio pessoal, é uma ruptura em sua rotina. 1. Não quer aprender. 2. Se cansa muito depressa, ainda que em atividade que goste. 3. Esquece rapidamente. 4. Insiste em ser ajudado, ainda que saiba fazer. 5. Insiste constantemente em mu- dar de atividade. XV FALTA DE INICIATIVA - Busca constan- temente a comodidade e espera que lhe deem tudo pronto. Não realiza nenhuma atividade funcional por iniciativa própria. 1. É incapaz de ter iniciativa própria. 2. Busca a comodidade. 3. Passividade, falta de interesse. 4. Lentidão. 5. Prefere que outro faça o trabalho para ele. 38 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista XVI ALTERAÇÃO DE LINGUAGEM E COMU- NICAÇÃO - É uma característicafunda- mental do autismo, que pode variar desde um atraso de linguagem até formas mais severas, com uso exclusivo de fala partic- ular e estranha. 1. Mutismo. 2. Estereotipias vocais. 3. Entonação incorreta. 4. Ecolalia imediata e/ou retardada. 5. Repetição de palavras ou frases que podem ou não ter valor comu- nicativo. 6. Emite sons estereotipados quan- do está agitado e em outras oca- siões, sem nenhuma razão apar- ente. 7. Não se comunica por gestos. 8. As interações com adulto não são nunca um diálogo. XVII NÃO MANIFESTA HABILIDADES E CON- HECIMENTOS - Nunca manifesta tudo aq- uilo que é capaz de fazer ou agir, no que faz referência a seus conhecimentos e habilidades, difi cultando a avaliação dos profi ssionais. 1. Ainda que saiba fazer uma coisa, não a realiza, se não quiser. 2. Não demonstra o que sabe até que tenha uma necessidade primária ou um interesse iminente- mente específi co. 3. Aprende coisas, porém somente a demonstra em determinados lug- ares e com determinadas pessoas. 4. Às vezes surpreende por suas habilidades inesperadas. XVIII REAÇÕES INAPROPRIADAS ANTE A FRUSTRAÇÃO - Manifesta desde o abor- recimento à reação de cólera, ante a frus- tração. 1. Reações de desagrado caso seja esquecida alguma coisa. 2. Reações de desagrado caso seja interrompida alguma atividade que goste. 3. Desgostoso quando os desejos e as expectativas não se cumprem. 4. Reações de birra. 39 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 XIX NÃO ASSUME RESPONSABILIDADES - Por princípio, é incapaz de fazer-se re- sponsável, necessitando de ordens suces- sivas para realizar algo. 1. Não assume nenhuma respons- abilidade, por menor que seja. 2. Para chegar a fazer alguma coi- sa, há que se repetir muitas vezes ou elevar o tom de voz. XX HIPERATIVIDADE/ HIPOATIVIDADE - A criança pode apresentar desde agitação, excitação desordenada e incontrolada, até grande passividade, com ausência total de resposta. Estes comportamentos não têm nenhuma fi nalidade. 1. A criança está constantemente em movimento. 2. Mesmo estimulada, não se move. 3. Barulhento. Dá a sensação de que é obrigado a fazer ruído/barul- ho. 4. Vai de um lugar a outro, sem parar. 5. Fica pulando (saltando) no mes- mo lugar. 6. Não se move nunca do lugar onde está sentado. XXI MOVIMENTOS ESTEREOTIPADOS E REPETITIVOS - Ocorrem em situações de repouso ou atividade, com início repentino. 1. Balanceia-se. 2. Olha e brinca com as mãos e os dedos. 3. Tapa os olhos e as orelhas. 4. Dá pontapés. 5. Faz caretas e movimentos estra- nhos com a face. 6. Roda objetos ou sobre si mesmo. 7. Caminha na ponta dos pés ou saltando, arrasta os pés, anda fa- zendo movimentos estranhos. 8. Torce o corpo, mantém uma postura desequilibrada, pernas do- bradas, cabeça recolhida aos pés, extensões violentas do corpo. 40 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista XXII IGNORA O PERIGO - Expõe-se sem ter consciência do perigo. 1. Não se dá conta do perigo. 2. Sobe em todos os lugares. 3. Parece insensível à dor. XXIII APARECIMENTO ANTES DOS 36 MESES (DSM-IV) FONTE: Adaptado de Assumpção Jr. et al. (1999) ATA é um instrumento de fácil aplicação, acessível a profi ssionais que têm contato direto com a população autista, por exemplo, professores, bem como pais (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). Agora que já compreendemos o que signifi ca a ATA (Escala de Traços Autísticos), vamos investigar outro instrumento? 4.4 CARS (CHILDHOOD AUTISM RATING SCALE) A CARS (Childhood Autism Rating Scale) foi traduzida e validada para o português em 2008. É uma escala de avaliação comportamental de 15 itens aplicados a pais e/ou cuidadores e a crianças com dois ou mais anos de idade. Para cada um dos 15 itens, aplica-se uma escala de 7 pontos, que permite classifi car formas leves, moderadas e graves de autismo. Sua aplicação é rápida (de 30 a 45 minutos), seus escores são objetivos e quantifi cáveis. De uma pontuação de 15 a 60, o ponto de corte para a presença de autismo é 30 (SANTOS et al., 2012). A CARS é efi caz na distinção de casos de autismo leve, moderado e grave, além de discriminar crianças autistas daquelas com défi cit intelectual. É apropriada para uso em qualquer criança acima de dois anos de idade. Para a defi nição das estratégias terapêuticas, é fundamental a identifi cação de condições associadas, como epilepsia, défi cit intelectual, paralisia cerebral, doenças genéticas e metabólicas, entre outras (SANTOS et al., 2012). A escala é um instrumento para observações comportamentais, sendo administrada na primeira sessão de diagnóstico. É composta por 15 itens, 41 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 sendo que cada um deles é pontuado num “continuum”, variando do normal para gravemente anormal, todos contribuindo igualmente para a pontuação total (SANTOS et al., 2012). De acordo com o manual da CARS, o autismo é caracterizado por um resultado de 30 pontos, em uma escala que varia de 15 a 60 pontos, sendo que o intervalo entre 30 e 36,5 é defi nido como característico de autismo moderado. O que se apresenta entre 37-60 pontos é defi nido como autismo grave (SANTOS et al., 2012). A CARS é considerada a mais forte escala para comportamentos associados com o autismo. A escala já foi traduzida para diversas línguas, pois o autismo é um transtorno que ocorre no mundo todo. QUADRO 6 – 15 ITENS CARS (CHILDHOOD AUTISM RATING SCALE) 1 Relações Pes- soais Prejuízo nesta área é considerado uma das características primárias do autismo incluída em todas as descrições do tran- storno. 2 Imitação Este item foi incluído em função da relação existente entre difi culdades graves de linguagem e problemas na imitação motora e verbal. A capacidade de imitar é considerada uma importante base para o desenvolvimento da fala, além de ser uma habilidade altamente relevante no tratamento e edu- cação destas crianças. 3 Resposta Emo- cional O autismo foi, primeiramente, considerado um distúrbio no contato afetivo e este item segue sendo um dos mais impor- tantes, tendo como característica central a impossibilidade de compreensão do estado mental das demais pessoas, a chamada falha na teoria da mente. 4 Uso Corporal Movimentos corporais peculiares e especialmente estereoti- pias têm sido amplamente observados por clínicos e pesqui- sadores. 5 Uso de Objetos O uso inapropriado de brinquedos ou de outros objetos está intimamente relacionado a relações inadequadas com pes- soas. 6 Resposta a Mu- danças Difi culdade em alterar rotinas ou padrões preestabelecidos ou difi culdade para mudar de uma atividade para outra. 7 Resposta Visual Classifi ca os padrões incomuns de atenção visual observados em muitas crianças autistas. 8 Resposta Auditiva Inclui a reação da criança a vozes humanas ou outros tipos de sons e qual o interesse da criança por sons variados. 42 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 9 Resposta e uso do paladar, olfato e tato As crianças autistas respondem de forma incomum a estímu- los sensoriais. Gosto e cheiro são elementos críticos para o comportamento alimentar e a difi culdade de identifi cá-los pode contribuir para as elevadas taxas de recusa alimentar e seletividade relatadas nestas crianças. Este item inclui, tam- bém, a forma como estas crianças respondem à dor. 10 Medo ou nervo- sismo Este item classifi ca o medo incomum ou inexplicado e inclui, também, a ausência de medo em situações nas quais uma criança normal, no mesmo nível de desenvolvimento, apre- sentaria medo ou receio. 11 Comunicação verbal Classifi ca todas as facetas do uso da linguagem. Avalia não somente a presença ou a ausência de fala, mas também suas peculiaridades, uso de elementos inapropriados, jargões e palavras bizarras. Portanto, quandoqualquer tipo de lingua- gem está presente, avalia o vocabulário, a estrutura da frase, a entonação da voz e o volume e a adequação do conteúdo. 12 Comunicação não verbal É a avaliação da comunicação não verbal da criança através do uso da expressão facial, postura, gestos e movimento cor- poral e inclui a sua resposta à comunicação não verbal das outras pessoas. 13 Nível de atividade Refere-se a quanto a criança move-se em situações lim- itantes ou não. 14 Nível e consistên- cia da resposta intelectual Considera o nível geral de funcionamento intelectual e a consistência deste funcionamento. 15 Impressões gerais Impressão subjetiva a partir da observação da criança aval- iada. FONTE: Adaptado de Pereira (2007) Após a apresentação dos 15 itens que compõem a CARS (Childhood Autism Rating Scale), destacamos, na Figura 10, um exemplo da referida escala. 43 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 FONTE: <https://irp-cdn.multiscreensite.com/a12de2b1//fi les/ uploaded/ESCALACARSIP.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. FIGURA 10 – EXEMPLO ESCALA CARS Com base na Figura 10, podemos destacar que após observar a criança e examinar as informações relevantes dos pais, o examinador classifi ca a criança em cada item. Usando uma escala de 7 pontos, que varia de 1 a 4 com valores intermediários de meio ponto (1; 1,5; 2; 2,5; 3; 3,5), o examinador indica o grau no qual o comportamento da criança afasta-se daquele esperado para uma criança normal na mesma idade. A pontuação varia de 15 a 60, o ponto de corte para autismo é 30, escores entre 30 e 36 indicam sintomas leves a moderados e, acima de 37, graves (SOUSA FILHO, 2014). 44 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Já foi demonstrado, em diversos estudos, que a CARS possui um grau elevado de consistência interna e confi abilidade teste-reteste, assim como elevados valores de validade (PEREIRA, 2007). Ufa! Quantas descobertas! Vamos investigar outro instrumento? 4.5 ASQ (AUTISM SCREENING QUESTIONNAIRE) O Autism Screening Questionnaire (ASQ) foi construído com base na seleção de questões da ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised). Também conhecido como Social Communication Questionnaire (SCQ), o ASQ é um instrumento de 40 questões baseadas na ADI-R, aplicadas aos pais e/ou cuidadores de pessoas com possível Transtorno do Espectro Autista (SOUSA FILHO, 2014). O ASQ avalia a interação social recíproca, a linguagem, a comunicação e os padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, apresentando, ainda, uma questão que investiga o comportamento autolesivo e outra que avalia a linguagem funcional atual do sujeito (BERUMENT et al., 1999). Embora o ASQ tenha sido desenvolvido a partir da ADI-R, ele foi modifi cado de modo a ser mais facilmente compreensível pelos pais e a dispensar explicações adicionais, como frequentemente ocorre na ADI-R. Cada questão do instrumento recebe a pontuação 0 para a ausência de anormalidade ou 1 para a existência do comportamento indicativo de características do espectro do autismo (SOUSA FILHO, 2014). A pontuação varia de 0 a 39 para indivíduos verbais (o item que avalia o nível de linguagem atual não entra no escore fi nal) e 0 a 34 para indivíduos não verbais. Dezenove itens avaliam o comportamento atual, ao passo que vinte itens avaliam comportamentos exibidos entre 4 e 5 anos de idade (SOUSA FILHO, 2014). O ASQ teve a sua tradução, retroversão, adaptação e validação para o português brasileiro conduzidas por Sato (2008), em um trabalho colaborativo entre pesquisadores da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e Universidade de São Paulo. 45 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Em continuidade às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, abordaremos a M-CHAT (Modifi ed Checklist for Autism in Toddlers). 4.6 M-CHAT (MODIFIED CHECKLIST FOR AUTISM IN TODDLERS) A M-CHAT (Modifi ed Checklist for Autism in Toddlers) é um instrumento de triagem para TEA. Trata-se de um instrumento de fácil aplicação, simples, utilizado para triagem precoce do TEA, podendo ser aplicado por pediatras, professores e outros profi ssionais da saúde, visando identifi car indícios de TEA em crianças entre 18 e 24 meses (SOUSA FILHO, 2014). Assim, podemos inferir que a M-CHAT é uma escala de rastreamento que pode ser utilizada em todas as crianças durante visitas pediátricas, com o objetivo de identifi car traços de autismo em crianças de idade precoce (LOSAPIO; PONDÉ, 2008). A M-CHAT é extremamente simples e a resposta aos itens da escala leva em conta as observações dos pais com relação ao comportamento da criança. Essa escala consiste em 23 questões do tipo sim/não, que deve ser autopreenchida por pais de crianças de 18 a 24 meses de idade, que sejam alfabetizados e estejam acompanhando o fi lho em consulta pediátrica (LOSAPIO; PONDÉ, 2008). A escala a ser preenchida será observada na Figura 11. As respostas da M-CHAT auxiliarão na avaliação clínica feita pelo profi ssional especializado na identifi cação do TEA. 46 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 11 – ESCALA M-CHAT FONTE: <http://www.sopape.com.br/data/conteudo/arquivos/ MCHATESCALA.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Para aprimorar seus conhecimentos sobre a escala M-CHAT, assista ao vídeo M-CHAT: um instrumento de Triagem para o TEA. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yf_DbmFnT1U. Em continuidade às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, abordaremos o Autism Behavior Checklist / Inventário de Comportamentos Autísticos (ABC/ICA). Vamos lá? 47 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 4.7 AUTISM BEHAVIOR CHECKLIST / INVENTÁRIO DE COMPORTAMENTOS AUTÍSTICOS (ABC/ICA) O Autism Behavior Checklist (ABC) trata-se de uma escala de comportamentos não adaptativos, criada para triagem sobre a probabilidade de diagnóstico de autismo. Foi validada no Brasil e tem sido amplamente utilizada em contextos acadêmicos e institucionais. Assim, podemos considerar que o ABC/ICA é um instrumento amplamente utilizado para triagem de crianças e adolescentes com desenvolvimento atípico ou atraso no desenvolvimento, em que um diagnóstico de algum Transtorno do Espectro do Autismo possa ser considerado (SOUSA FILHO, 2014). O ABC/ICA é composto por uma lista de 57 comportamentos não adaptativos, que permitem a descrição detalhada das características comportamentais atípicas de cada indivíduo, organizados em cinco áreas: sentidos (estímulos sensoriais), relações, uso do corpo e objetos, linguagem e interação social (SOUSA FILHO, 2014). Embora tenha sido projetado para aplicar em crianças em idade escolar, essa lista pode ser utilizada na fase pré-escolar. Utilizado na forma de entrevista clínica, o ABC/ICA é direcionado a qualquer pessoa que conheça bem o indivíduo investigado (pais, cuidadores, professores). O instrumento tem pontuação balanceada (1 a 4), de acordo com a ocorrência no TEA, sendo 4 a de correlação mais forte com TEA (SOUSA FILHO, 2014). A partir da somatória, traça-se um perfi l comportamental que permite a análise da severidade: a pontuação entre 47 e 53 indica baixa probabilidade de ocorrência de TEA; entre 54 e 67, moderada; a partir de 68, alta probabilidade. A versão brasileira, além de modifi car a nota de corte de 69 para 49 pontos, procedeu à tradução de determinadas questões revisadas para uma linguagem mais informal, em virtude da difi culdade de seu entendimento por pais e cuidadores durante o processo de validação (SOUSA FILHO, 2014). Na Figura 12, destacaremos um exemplo da escala Autism Behavior Checklist (ABC/ICA), para melhor compreensão sobrea escala. 48 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 12 – EXEMPLO ESCALA AUTISM BEHAVIOR CHECKLIST (ABC/ICA) FONTE: <https://mestrado-saude-meio-ambiente.unimes.br/documentos/ dissertacao-barbosa-marinilza.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2020. 49 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 1 Para ilustrarmos a importância do professor no contexto que envolve a detecção do TEA, leia o caso a seguir e responda à questão. RELATO DE CASO Ana é professora e observou que em sua sala tem um aluno de cinco anos que apresenta: • Isolamento social. • Contato visual pobre. • Ausência de resposta ao chamado. • Difi culdade em participar de atividades em grupo. • Resistência à mudança de rotina ou ambiente: recusa a ambientes novos. • Comportamento restrito, limitado a um objeto, ou a uma atividade (fi car somente com aquele objeto). Mediante essa observação, o que a professora deve fazer? R.:________________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________. A partir dos instrumentos de diagnóstico apresentados para o TEA, destacamos a importância destes, pois a identifi cação precoce e as intervenções realizadas em crianças com TEA podem determinar o prognóstico, incluindo maior rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando a chance de inserção em diferentes âmbitos sociais (ARAÚJO; SCHWARTZMAN, 2011). Agora que já conhecemos alguns instrumentos para diagnóstico do TEA, vale destacarmos que, cabe ao professor estar preparado para detectar as difi culdades de seus alunos e encaminhá-los junto à família para profi ssionais especializados e responsáveis pelo diagnóstico. No entanto, o professor não é o profi ssional apto a diagnosticar o Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois o diagnóstico implica no conhecimento ampliado sobre a origem de determinada doença ou manifestação de seu sintoma. 50 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste primeiro capítulo, compreendemos o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA) tendo como base o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), em que se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais. Por meio de refl exões sobre o DSM-5, aprendemos que o TEA abarca limitações específi cas na aprendizagem ou no controle de funções executivas a prejuízos em habilidades sociais. Compreendemos, ainda, que o principal instrumento de avaliação utilizado é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), complementado com a aplicação de escalas diagnósticas válidas no Brasil. Aprendemos, também, que os instrumentos e escalas diagnósticas do TEA traduzidos e adaptados para o português brasileiro são: ATA (Scale of Autistic Traits), M-CHAT (Modifi ed- Checklist for Autism in Toddlers), ASQ (Autism Screening Questionary), ABC (Autism Behavior Checklist), CARS (Childhood Autism Rating Scale), ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised) e ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule). A partir dos instrumentos de diagnóstico apresentados nesse capítulo, destacamos a importância destes, pois a identifi cação precoce e as intervenções realizadas em crianças com TEA podem determinar o prognóstico, incluindo maior rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando a chance de inserção em diferentes âmbitos sociais. Frente às refl exões realizadas, no próximo capítulo, estabeleceremos discussões sobre a Intervenção no TEA e as Possibilidades de Interação e Aprendizagem. REFERÊNCIAS ANDRADE, L. B. Psicopedagogia e distúrbios de aprendizagem: uma visão diagnóstica. Encontro: revista de psicologia, v. 13, n. 19, 2017. APA, American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders - DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2014. 51 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 APA, American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. revisada (DSM-IV-TR). Porto Alegre: Artmed, 2002. ARAÚJO, A. C.; LOTUFO NETO, F. A nova classifi cação americana para os Transtornos Mentais - o DSM-5. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 16, n. 1, abr. 2014. ARAÚJO, C. A. de; SCHWARTZMAN, J. S. Transtorno do espectro do autismo. São Paulo: Memnon, 2011. ASSUMPÇÃO JR., F. B. et al. Escala de Avaliação de Traços Autísticos (ATA): validade e confi abilidade de uma escala para a detecção de condutas autísticas. 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Evidências de validade convergente para a versão em português da Autism Diagnostic Interview - Revised e o Inventário de Comportamentos Autísticos em uma amostra de crianças e adolescentes de São Paulo. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2014. 54 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista CAPÍTULO 2 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender a importância das interações para o desenvolvimento do indivíduo com TEA e quais são os métodos e programas de intervenção. • Identifi car os métodos e os programas de intervenção para o TEA, analisando os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do indivíduo com TEA. • Conhecer a importância das interações para o desenvolvimento no TEA. 56 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 57 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Em continuidade aos nossos estudos, neste capítulo compreenderemos a importância das intervenções terapêuticas e educacionais para pessoas com TEA, pois estas poderão ajudar a desenvolver interesses e competências que permitam a independência na vida adulta. Assim, destacaremos diferentes abordagens que podem ser utilizadas nas intervenções para pessoas com TEA, as quais necessitam ser defi nidas pela equipe multidisciplinar, seguindo as práticas baseadas em evidências, sendo fundamentadas em pesquisas científi cas, na expertise profi ssional e na singularidade da pessoa a ser atendida, descaracterizando-se a aplicação do senso comum na abordagem terapêutica e educacional da pessoa com TEA (BRITO, 2017). No contexto que envolve as intervenções, sejam terapêuticas ou escolares, apreenderemos que estas necessitam possibilitar estratégias que valorizem a interação, a coletividade, a vivência/experiência, pois auxiliarão no desenvolvimento das potencialidades de pessoas com TEA. Vamos nos aventurar? Desejamos a você um excelente estudo! 2 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Neste capítulo, compreenderemos que a intervenção no TEA é um assunto complexo, pois envolve vários fatores. Assim, não há respostas absolutamente prontas e corretas para todo e qualquer caso, pois cada caso é único e deve ter suas particularidades respeitadas (BRITO, 2017). Frente a este contexto, iniciaremos refl exões destacando que estudos internacionais apontam que as intervenções no TEA necessitam iniciar precocemente, ou seja, antes dos dois anos de idade para as crianças com indicativos do transtorno (HAASE; LACERDA, 2004). 58 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Essa importância é evidenciada devido ao fato de que as intervenções de estimulação precoce têm seus fundamentos na neuroplasticidade, a qual pode ser defi nida como a capacidade de reorganização do mapeamento cerebral em resposta ao uso e à experiência. A neuroplasticidade ou plasticidade neural é defi nida como a capacidade do sistema nervoso de modifi car sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiência (HAASE; LACERDA, 2004). A neuroplasticidade, apesar de permanecer por toda a vida do indivíduo, é mais expressiva durante o desenvolvimento cerebral infantil, ou seja, quando os neurônios estão mais aptos a formarem novas conexões a partir da experiência e do aprendizado (BRITO, 2017). Assim, podemos destacar que os primeiros dois anos de vida da criança são marcados por rápidas mudanças e pelo surgimento de habilidades sociais, cognitivas e de linguagem, o que torna este período especialmente importante para a intervenção. Este fato reforça a necessidade de atenção para os sinais de risco para o TEA e a importância da detecção precoce (KASARI; FREEMAN; PAPARELLA, 2006). Portanto, podemos inferir que a detecção precoce dos sinais do TEA torna- se fundamental, pois quanto antes a intervenção for iniciada, melhores serão os resultados em termos de desenvolvimento cognitivo, linguagem e habilidades sociais (KASARI; FREEMAN; PAPARELLA, 2006). A intervenção precoce é fator fundamental na evolução de crianças com TEA. Este fato está diretamente relacionado à neuroplasticidade ao longo da primeira infância. Portanto, quanto mais precoce a intervenção, melhores os resultados para a criança e para sua família (KASARI; FREEMAN; PAPARELLA, 2006). 59 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 FIGURA 1 – INTERVENÇÃO PRECOCE FONTE: <https://www.bonde.com.br/comportamento/noticias/veja-4-mitos-que- atrapalham-o-tratamento-do-autismo-493855.html>. Acesso em: 18 mar. 2020. Mediante a importância da detecção e intervenção, ressaltamos que a literatura científi ca nacional e internacional destaca a importância do respaldo de uma abordagem interdisciplinar colaborativa, que envolva uma equipe de profi ssionais, tais como fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais (BRITO, 2017). No entanto, vale destacarmos que a intervenção no TEA geralmente é realizada por equipe multiprofi ssional, que pode atuar em abordagens multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar (BRASIL, 2015). Vamos descobrir o que signifi cam essas abordagens? A abordagem multidisciplinar caracteriza-se por profi ssionais de várias especialidades que atuam de forma independente em todos os aspectos relacionados à reabilitação (FIGUEREDO, 2014). A abordagem interdisciplinar confi gura-se por profi ssionais de diferentes especialidades que compartilham as tomadas de decisões com relação ao tratamento, embora o tratamento em si, bem como a sua evolução, seja conduzido de forma independente (FIGUEREDO, 2014). A abordagem transdisciplinar é delineada por profi ssionais de distintas especialidades que compartilham não somente as tomadas de decisões, mas o 60 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 1 Com base no que estudamos, explique o que é intervenção precoce. R.:_______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ ______________________________________________.. planejamento e a execução do tratamento (FIGUEREDO, 2014). Frente às abordagens apresentadas, salientamos a importância da atuação voltada às pessoas com TEA por meio de equipe multiprofi ssional com abordagens inter e transdisciplinares, pois tendo-se em vista as características do TEA, propõe-se uma equipe multiprofi ssional constituída por profi ssionais da Educação Especial, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Pedagogia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional, em atendimentos de estimulação precoce e reabilitação (BRASIL, 2015). Neste contexto, destacamos ainda a importância das intervenções
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