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Av3 - Intervenção em saúde

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● Refletir sobre as repercussões do diagnóstico e tratamento: (Ana Sérgia)
L., 48 anos, foi diagnosticado em dezembro de 2011 portador do vírus HIV
durante internação por dezenove dias em um hospital da rede pública de Belo
Horizonte devido a uma pneumocistose, infecção oportunística, a qual é um
acometimento frequente em pacientes imunodeprimidos. A admissão nesse hospital
ocorreu devido a uma hepatopatia aguda, cuja internação durou 38 dias. Após esse
período, L. foi transferido para outro hospital para realização de exames específicos.
O serviço de Psicologia é acionado após vinte e oito dias de internação de L. por via
do chamado da Enfermagem devido à sua aparente tristeza.
Durante os quatro atendimentos realizados pela Psicologia – curto tempo de
atendimento e característica inerente ao processo de inserção clínica da escuta
profissional em um hospital de urgência e emergência – L. mostra-se verborreico,
com a produção da fala refletindo a presença dos processos de angústia. Esse trabalho
tenta apontar como a doença ainda está associada ao sofrimento psíquico e aos afetos
desorganizadores ligados à simbolização sobre a morte, despertando no processo de
tratamento do paciente inúmeras representações sobre a ameaça de aniquilamento do
próprio eu. Nesse sentido, destaca-se como a vivência da angústia de morte é uma
característica relevante neste processo de sofrimento psíquico associado à doença
● Refletir sobre as dificuldades apresentadas: (Jade)
L., enfrenta dilemas sociais e morais acerca de sua doença e o fato da chegada
silenciosa dela o pegou de surpresa para tal diagnóstico. Além da angústia da morte,
por ser uma doença letal, L. se depara com o caráter tridimensional da AIDS, ou seja,
trata-se de uma doença que tangencia o corpo biológico, o corpo social e o corpo
simbólico, entrelaçando, portanto, questões paradoxais de vida, sexo e morte.
Além disso, L. teve que sair de sua cidade natal, do interior do estado, para se
mudar para a capital para continuar seu tratamento, e isso o deixa angustiado porque
não tem contato com familiares, em especial a mãe. L. mostra uma forte angústia
sobre a morte, vivenciando isso em sonhos e também relembrando suas fantasias
enquanto criança.
● Refletir sobre a área de atuação (psicólogo) - Alexandre
- Entender o caráter tridimensional do Binômio HIV/AIDS: biológico,
simbólico/social e imaginário.
- “caráter tridimensional da AIDS”. Ou seja, trata-se de uma doença que
tangencia o corpo biológico, o corpo social e o corpo simbólico,
entrelaçando, portanto, questões paradoxais de vida, sexo e morte.
- caráter social: exclusão afetiva, material e simbólica, vilipendiamento de
direitos sociais, um tratamento ainda moral para a discussão do tema.
- caráter imaginário: diagnóstico durante muito tempo foi preponderante em
jovens: juventude enquanto fase de projetos, sonhos, permissibilidade,
infinitude vs. imaginário de morte, adoecimento, invisibilidade afetiva.
- caso Paciente L: perda de peso, dificuldade de alimentação, ócio, fragilidade
do corpo, perca de autonomia
- afetividade: trabalho com os sentimentos de angústia e desamparo que podem
estar envolvidos nesse processo principalmente na descoberta do diagnóstico.
Essa é uma experiência de desamparo absoluto à medida que as
representações de morte associadas a uma doença grave impõem para o
sujeito toda sorte de experiências equivalentes ao despedaçamento e à
ameaça de fragmentação dos contornos simbólicos do envoltório corporal,
colocando um abalo narcísico originário.
- Escuta qualificada e condizente com a possibilidade, potencialidades e limites do
trabalho do psicólogo na instituição e do seu lugar institucional.
“a posição de analista na instituição é aquela de construir o caso clínico”
(VIGANÓ, 1999) a partir de muitos elementos da escuta, tais como fragmentos da
história do indivíduo, do romance familiar, da passagem em outras instituições, dos
atendimentos assistenciais com outros profissionais da equipe, das intervenções do
Outro, das sessões clínicas de discussão, da construção da escuta no espaço de
supervisão clínica (SILVA, 2012). Assim, reúne-se toda sorte de dispositivos capazes
de balizar a experiência subjetiva.
- dificulade de dormir, ansiedade e aparente tristeza do paciente L. perca de
peso
● Refletir sobre os aspectos psicológicos do paciente, da família e da equipe
(Mirella)
- O serviço de Psicologia é acionado após vinte e oito dias de internação de L. por via
do chamado da Enfermagem devido à sua aparente tristeza. Em discussão do
caso com um técnico de enfermagem, foi possível obter também informações
referentes à dificuldade para dormir e à ansiedade relatada pelo paciente em
função do ócio imposto pela hospitalização.Nas informações consultadas no
prontuário, a equipe de Nutrição relatava a perda de peso do paciente bem como a
redução da ingestão alimentar.
- Durante os quatro atendimentos realizados pela Psicologia L. mostra-se
verborreico (pessoa que tem falas em excesso, dizer coisas ‘’insignificantes’’), com
a produção da fala refletindo a presença dos processos de angústia. Os
atendimentos tiveram duração média de uma hora, dada à demanda de
escoamento da angústia do paciente e a sua disponibilidade física e psíquica para
colocar Os encontros foram realizados ora na enfermaria, no leito do paciente, ora
na sala da Psicologia, de acordo com a disponibilidade física e psíquica de L.
para deslocar se do leito. Todas as sessões foram em seguida discutidas em supervisão
clínica com um psicólogo da equipe de psicologia para definição de condutas,
intervenções e para construção de uma direção de tratamento.
- Desde o primeiro contato, L. faz uso da escuta para escoar o afeto desprazeroso. diz
do seu sofrimento psíquico decorrente de privações ocasionadas pela preservação do
corpo, tais como a perda da autonomia para ir e vir, da atividade laboral e do contato
social em função do embotamento voluntário. L. conta que morava no interior do
estado, mas, desde que fora ativado com HIV positivo, precisou mudar-se para Belo
Horizonte em função da debilidade da sua saúde. Com isso, passou a ver com menor
frequência de figuras familiares, em especial a sua mãe. A angústia de morte é
expressa por L. entrelaçada ao desejo de reviver experiências que remetem à sensação
de potência, ilustradas por memórias de quando era criança. O paciente se lembra de
momentos de sua infância,vivida no interior;
● Refletir sobre as intervenções realizadas e estratégias utilizadas
O Analista na Instituição, onde o setting terapêutico passa a ser o leito do hospital, o
corpo numa cama, frágil e o sujeito que fala e se escuta, nos remonta uma forma possível de
levar a Psicanálise à Instituição. O caso construído, onde o processo ocorre através de uma
equipe multiprofissional. Aliado a isso, o diagnóstico “Dinâmica defensiva da neurose
traumática”, caracterizada pela dificuldade em elaborar o diagnóstico e assim elaborar o
trauma, de forma a fortalecer o ego, ora em estado de fragmentação, vitimização,
convalescença, tristeza. O paciente percebe-se com o corpo frágil e a sua psiqué, o
inconsciente resiste a momento, combate e nega, revelando através de sonhos com família e
de pessoas falecidas. Para Freud, o inconsciente não morre, não aceita ideias de finitude, daí a
importância da análise para integralizar a história do sujeito, pois com o ego fortalecido,
compreendendo a sua trajetória, poderá aceitar e conviver com o diagnóstico, elaborar sobre a
finitude, revelando-se a necessidade de psicoterapia para percorrer o tratamento.
A estratégia utilizada de forma multiprofissional de estar com o paciente, o prontuário
eletrônico, oferecendo o suporte diante de seu desamparo, traz a vantagem de aquietar as suas
emoções, diminuindo a ansiedade e melhorando o sono.
O espaço de escuta de um paciente, a partir de um diagnóstico severo, carregado por
questões culturais negativas exigirá de profissionais estratégias portas-fora do hospital,
realizado contato com a família, fortalecendo espaçosde vínculos e afetos.
Outro aspecto da intervenção é a tentativa de articular a teoria com a práxis
psicanalítica “ a clínica é ensinamento que se faz no leito, diante do corpo do paciente, com a
presença do sujeito”, trazendo o real e não a clínica do imaginário, através de uma
metapsicologia.

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