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HISTÓRIA DE ISRAEL AULA 3 Prof. Roberto Rohregger 2 CONVERSA INICIAL Israel havia conquistado a terra prometida. Não apenas conquistado, mas também havia conseguido estabelecer-se, e após Davi ter ampliado e consolidado o reinado, ela deixará de ser um ajuntamento de tribos, constituindo- se como uma grande nação. Com Salomão, Israel conheceu seu ápice, com a ampliação de seu comércio exterior e a realização de alianças com várias nações ao seu redor. Porém, a situação interna não era das melhores, pois havia uma grande diferença econômica entre as grandes cidades, principalmente com relação a Jerusalém e as cidades menores, com economia agrícola. Além disso, a manutenção de Jerusalém, do Templo e do palácio real era extremamente dispendiosa. Agrega-se a isso o descontentamento religioso com algumas ações de Salomão, que não observava as instruções das Escrituras. Suas alianças e acordos comerciais geralmente eram firmados por meio de casamentos, formando uma grande influência religiosa em razão de suas esposas, que traziam seus costumes e deuses de outros locais. O já desgastado império de Salomão somente piorou com a sua morte e a disputa pelo trono. As consequências para o reino foram terríveis, em pouco tempo todo o trabalho de consolidação das tribos voltou a apresentar suas brechas e, consequentemente, a divisão do país, levando a uma crise interna, com disputas e guerras entre um povo agora dividido. Aliado a isso, o cenário mundial também vinha sofrendo modificações e grandes impérios com sede de poder estavam se fortalecendo. Aproveitando que o próprio Egito não tinha mais fôlego para sua expansão, lançaram os olhos para o território judeu, que dividido e fragilizado procurou alianças que não se mostraram tão amigas, ao contrário, aproveitam-se dessas dificuldades para dominar a região. A nação judaica agora fragmentada experimentou a destruição, o exílio e levou séculos para se reerguer, e nunca, considerando o período histórico da Antiguidade, voltou a ser uma nação independente e com a grandiosidade da época de Davi e Salomão. TEMA 1 – DIVISÃO DO REINO Com a morte de Salomão, a crise em Israel acabou se aprofundando. De certa forma, já há algum tempo ela estava dividida entre Israel e Judá. A dificuldade de união estava arraigada em problemas muito antigos e também relacionada à estrutura de poder com o advento da monarquia. 3 Assim que Salomão morreu, a estrutura por Davi levantada desabou principalmente, sendo substituída por dois Estados rivais de importância secundário. Estes Estados viveram lado a lado, às vezes em guerra entre si, outras vezes em amigável aliança até que o Estado do norte foi destruído pelos assírios, precisamente duzentos anos mais tarde. (Bright, 1978, p. 302) • Reino de Israel, ao norte: o reino do norte era o mais densamente habitado, com cerca de 800 mil habitantes. Sua capital foi Siquém e, depois, Samaria. • Reino de Judá, ao sul: o reino do sul era significativamente menor, com cerca de 200 mil habitantes, mas a sua capital era a cidade mais importante, Jerusalém. Figura 1 – Reinos de Israel e Judá Crédito: João Miguel. 4 A divisão representou um duro golpe na nação de Israel. Todo o trabalho na conquista da terra, na fixação do povo e no estabelecimento de uma monarquia que poderia unir as tribos teve um resultado decepcionante; agora havia duas nações, o Reino de Israel e o Reino de Judá. Esse reino dividido não viveu em paz; eles entraram em guerra entre si, e o pior, reinos ao redor que haviam se fortalecido entenderam a divisão de Israel como uma oportunidade de ampliação de seus territórios. Não demorou muito para que esses reinos entrassem em ação. TEMA 2 – RAÍZES DA DIVISÃO Salomão foi um rei de obras grandiosas, gerando também grandes despesas, cujo pagamento exigiu do povo arcar com mais impostos. A morte de Salomão abriu caminho para um dos mais traumáticos e decisivos acontecimento da longa história de Israel – a formal e permanente divisão do reino entre as dez tribos do norte, que doravante passariam a se chamar Israel ou Efraim, e a tribo de Judá, ao sul. Embora tenha abalado a nação psicologicamente, a divisão não deve ter causado surpresa ao povo esclarecido, porque as raízes políticas e teológicas do cisma eram profundas no passado de Israel. (Merrill, 2001, p. 336) Apesar do desejo da grande maioria, a monarquia nunca foi totalmente aceita, pois havia os que a entendiam como uma rebelião contra o governo divino (cf. Bíblia. 1 Salomão, 1982, 8: 12), e também há a questão política, pois principalmente o norte tinha profundas dificuldades em aceitar uma sucessão dinástica e se opunham às aspirações da Casa de Davi de reinar perpetuamente. (Bright, 1978, p. 300). Após oitenta anos de construção e estabelecimento do reino, sob Davi e Salomão, ele foi dividido definitivamente em dois reinos logo depois da morte deste último. Dez tribos reuniram-se sob Jeroboão e as duas restante sob Roboão, com o nome de Israel e Judá. (Na realidade grande parte das tribos de Simeão e Levi também uniram-se a Judá). (Ellisen, 1991, p. 108) São os três principais motivos da divisão de Israel: • espiritual – a idolatria de Salomão desestabilizou o sistema religioso que unia as tribos; • econômico – a carga dos altos impostos não estava mais sendo suportada pelo povo; • política – havia uma antiga rivalidade entre Judá e Efraim. 5 O povo se dirigiu ao sucessor Roboão pedindo a redução dos pesados encargos. Este, ao contrário, os ameaçou com encargos mais altos. QUANDO O FILHO DE SALOMÃO, ROBOÃO, AMEAÇOU COLOCAR FARDOS MAIS PESADOS SOBRE O POVO, SUA IMPRUDENTE TEIMOSIA SÓ FEZ ACRESCENTAR COMBUSTÍVEL À FOGUEIRA, QUE SE VINHA FORMANDO E ARDENDO POR QUASE TREZENTOS ANOS, DEDE O TEMPO DOS JUÍZES. VEIO LOGO A REVOLTA DAS DEZ TRIBOS (1 REIS, 12: 17). ESSA CRISE LEVOU à INDICAÇÃO DE JEROBOÃO COMO REI DA PARTE NORTE (VERSÍCULO 20) […] Um novo nome de grande importância surge nas páginas desta história: Jeroboão. Era um jovem de origem humilde, mas tinha conquistado notoriedade por causa dos seus fiéis serviços e realizações. Aías, o profeta fez a Jeroboão uma surpreendente revelação. Usando uma fantasia oriental, tirou a capa nova que vestia e, rasgando-a em doze pedaços, disse a Jeroboão: Toma dez pedaços, porque assim diz o senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão e a ti darei dez tribos. (1 Reis 11:31) (Mears, 1982, p. 127) Jeroboão era um homem proeminente da tribo de Efraim que chegou a ser supervisor de todo o trabalho forçado, indicado pelo próprio Salomão. Após a morte de Salomão, ele foi indicado pelas lideranças de Israel como porta-voz das negociações para que Roboão tivesse o apoio do norte. Depois da morte de Salomão, Jeroboão se uniu a outros representantes das tribos do Norte, que pediram a Roboão a severa política dos trabalhos forçados de seu pai (1 Reis, 12: 1-24). Depois de três dias de discussão, Roboão recusou o pedido e insensatamente ameaçou seus trabalhadores com condições ainda piores. Como Resultado, Jeroboão liderou uma rebelião contar a casa de Davi e tornou-se rei sobre as dez tribos do Norte. (Gardener, 1999, p. 323) As dez tribos do Norte se levantaram com o rei de Israel, Jeroboão, ficando sob as ordens de Roboão apenas a tribo de Judá e Benjamim (Bíblia. 1 Reis, 1982, 12). TEMA 3 – CONQUISTADORES A divisão de Israel enfraqueceu a nação: além de disputas internas, agora havia dois reinos que tinham inimigos externos. Essa foi uma grande oportunidade para as nações ao redor ampliarem suas fronteiras e avançarem sobre um reino dividido. As guerras entre Israel e Judá acabaram envolvendo outras nações, possibilitando a conquista de Israel e posteriormente de Judá. Vejamos como se desenrolou a história da fragmentaçãode Israel pela divisão do reino. 6 3.1 Reino do norte (Israel): capital Samaria, 10 tribos, conquistada pelos assírios (740 a.C.) O reino do norte lutou em várias ocasiões contra o domínio assírio, fazendo alianças com outros reinos, por exemplo, o Egito, e formando uma liga de cidades que enfrentavam essa potência. Em 723 a.C., os líderes do norte tentaram de algum modo forçar o reino de Judá a participar de acordos e alianças contra a Assíria. Acaz (732-716), governante de Judá naquela ocasião, pediu auxílio à Assíria contra essa intervenção vinda do reino do norte, a qual partiu para a dominação da região, aproveitando-se da fragilidade de Israel Ascenção de Damasco cessou abruptamente quando Adad-Nitari III (811-784) assumiu o poder da Assíria. Retomando a política agressiva de Salmanasar III, ele fez várias campanhas contra os estados arameus, durante os quais (aproximadamente 802) a cidade de Damasco foi esmagada, seu poder aniquilado e seu rei Denadad II […] ficou sujeito a onerosos tributos. E Israel também não escapou, pois Adad-Nirati nos diz que ele também recebeu tributos de Israel, juntamente com tributos de Tiro, Sidon, Edom e outras regiões. Mas isto representava apenas um símbolo nominal de submissão em vez de uma conquista permanente; o golpe que feriu Damasco não atingiu Israel com tanta violência. (Bright, 1978, p. 341) Em 732, a cidade de Damasco e a Galileia foram sitiadas, restando ao reino de Israel submeter-se ao controle estrangeiro. A perda, nessa ocasião, de cerca de dois terços de seu território fez com que restasse apenas ao povo do reino do norte aproximadamente as montanhas de Efraim, com a capital Samaria. Israel estava nas mãos da Assíria, não haveria mais o que fazer. Após 256 anos, o povo foi levado cativo pelo rei da Assíria (2 Reis, 17). Muitos dos profetas de Israel tinham advertido o povo quanto ao cativeiro, mas eles não quiseram voltar-se da idolatria para Jeová. Os assírios eram guerreiros fortes e cruéis. Construíram seu reino com a pilhagem de outras nações. Esfolavam pessoas vivas, cortavam-lhes a língua, arrancavam-lhes os olhos, desmembravam os corpos e depois para infundir terror, levantavam montes de crânios humanos. Por 300 anos a Assíria foi um império mundial. (Mears, 1982, p. 129) Em 722, o Reino do Norte foi definitivamente conquistado por Salmanaser V (726-722 a.C.), ocorrendo a consolidação assíria com Sargão II (722-705 a.C.). Samaria foi repovoada por colonos estrangeiros e a população deportada por todo o império assírio. 7 3.2 Reino do sul (Judá): capital Jerusalém, 2 tribos, conquistado pela Babilônia (607 a.C.) Apesar das várias tentativas por parte de Judá de conquistar Israel, aqueles apenas obtiveram um grande fracasso, abrindo espaço para que nações estrangeiras, como a Assíria, consolidassem seu poder. O Reino do Sul tentou conquistar o do Norte. Durante oitenta anos houve guerra contínua entre eles. Mas fracassaram no seu propósito. Veio então um período de oitenta anos de paz entre os dois reinos, depois do casamento do filho de Josafá (Reino do Sul) com a filha de Acabe (Reino do Norte). Finalmente houve um período de cinquenta anos durante o qual se guerrearam, de tempos em tempos, até o cativeiro. (Mears, 1982, p. 129-130) O reino do sul persistiu por mais de um século e meio depois da destruição de Israel. Porém, depois de algumas incursões, em 586 a.C. a Babilônia, com Nabucodonosor, dominou a região e levou cativos boa parte da população e os principais do povo. Cerca de 136 anos depois de a Assíria ter levado cativo o Reino do Norte, o Reino do Sul foi levado em cativeiro por Nabucodonosor, rei da Babilônia. Jerusalém foi destruída, o templo queimado e os príncipes levados presos. O povo esquecera-se de Deus e se recusara a ouvir as advertências dos profetas. (Mears, 1982, p. 130) O exílio marcou profundamente o povo de Israel, embora sua duração tenha sido relativamente curta, de 587 a 538 a.C. Os escritos que surgiram em Judá no período do exílio – os livros de Lamentações, Jeremias e Abdias – revelam a intensidade do sofrimento e da desolação que o povo viveu. TEMA 4 – PERÍODO DO CATIVEIRO Com o domínio babilônico, o rei foi levado à prisão (Bíblia. 2 Reis, 1982, 25: 27ss) e uma parcela significativa do povo foi assentada em Quebar e Tel Abib junto dos rios da Babilônia. O regime em que viviam era de semiescravidão. A realidade desse povo que estava na Babilônia estava completamente transformada, sua nação já não existia mais, o templo estava destruído, não era mais possível realizar os sacrifícios. Estando longe do templo de Jerusalém, não podiam fazer sacrifícios. A fé em Javé se tornou a força aglutinadora. A deportação, as fugas e as mortes 8 reduziram Judá pela metade. Sobrou uma população estimada de 100.000 habitantes. O exílio foi um período de trevas. O capítulo 25 de Jeremias retrata o cenário desse tempo e descreve o que Deus faria com Judá: ele usaria Nabucodonosor, rei da Babilônia, a quem chama de “meu servo” (Jr 25.9), para disciplinar seu povo. Na descrição dos versículos 9-14, o profeta anuncia o julgamento de Deus e o modo como Deus procederia: 1. Destruição total – “[…] os destruirei totalmente… e de ruínas perpétuas”. 2. Vergonha pública – “[…] os porei por objeto de espanto e de assobio”. 3. Depressão espiritual – “Farei cessar entre eles a voz de folguedo e a de alegria, a voz do noivo e a da noiva, e o som das mós, e a luz do candeeiro”. 4. Perda da terra e destruição das propriedades – “Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto […]”. 5. Escravização do povo – “[…] estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta anos”. O contexto na Babilônia foi de pressão cultural e religiosa, houve grande tristeza e depressão. (Ultimato, 2012) Aos poucos, a Babilônia os abandonou à sua própria sorte. O povo viveu sem governo, de forma tribal, sem capital, sem templo. Com o passar do tempo, aqueles que foram deportados para a Babilônia começaram a refazer a sua vida, e de modo geral a vida em comunidade. Aos poucos, foram reestabelecendo a vida de acordo com a lembrança da que tinham de Israel, revivendo as tradições culturais e religiosas. Boa parte dessa população dedicou-se à agricultura e ao comércio, integrando-se à sociedade local. Os judeus na Babilônia não tinham todos os privilégios dos cidadãos livres, mas podiam exercer suas profissões e adquirir bens. No início se dedicaram à agricultura e ao pastoreio. Mas, aos poucos, eles foram chegando às cidades e praticando o comércio ou fazendo carreira de administração até que alguns se tornaram ricos (Ed, 2: 65). Os exilados permaneceram agrupados em famílias (Ed, 2; Ne, 7) nas colônias sob a autoridade espiritual dos anciãos de Israel (Jr, 29,1; Ez, 8,1; 14,1; 20,1). Estes anciãos, juntamente com os sacerdotes eram os responsáveis, na comunidade judaica exilada, por atualizar as listas de legítimos pertencentes a esta comunidade (Ed ,1: 6; 2: 6ss)”. (Santos, 2011, p. 9) De forma geral, a vida na Babilônia não era de todo desagradável, e o povo acabou ajustando-se a essa nova realidade. As evidências históricas não apontam para alguma evidência de antissemitismo entre os babilônicos e estes desfrutavam do bem-estar econômico, inclusive muitos assumiram cargos políticos (Merrill, 2001, p. 498). Apesar de essa integração possibilitar uma vida melhor para os judeus, também representava a convivência e a adaptação a uma cultura muito diferente da sua e a possibilidade de, aos poucos, perderem a essência da cultura judaica, sendo absorvidos pela sociedade babilônica. Isso se refletiu quando da volta do cativeiro, quando muitos optaram por permanecer 9 na Babilônia, onde já tinham uma vida estabelecida, a arriscar um empreendimento na reconstrução de Jerusalém. 4.1 Surgimento da sinagoga Nesse ponto, é importante compreendermoso surgimento de uma instituição que se tornou fundamental para a manutenção da cultura judaica no exílio, a qual séculos mais tarde possibilitou que os judeus da diáspora conseguissem manter a religião judaica. É depois do regresso do exílio na Babilônia que o judaísmo começou a se desenvolver, com o culto centrando-se na sinagoga, um hábito adquirido na Babilônia em razão da inexistência de um templo. [...] Enfim, o período do cativeiro na Babilônia foi um episódio na trajetória histórica da civilização judaica que marcou profundamente a estrutura de sua religião. A destruição do Templo inaugurado pelo rei Salomão e a transferência forçada do rei Joaquim para a corte de Nabucodonosor II, aliadas à profunda crença monoteísta estabelecida no povo hebreu desde a doutrina do Patriarca Moisés após o Êxodo do Egito, proporcionou à classe sacerdotal judaica cativa no império babilônico fundamentar as bases do culto a Iahweh po meio do sacerdócio nos templos locais conhecidos hoje como Sinagogas. (Cavadas; Neto, 2020, p. 2) O conceito de sinagoga nasce desse contexto em que Israel não tem mais um templo para adoração. A comunidade judaica, agora no exílio, começa a reunir-se em pequenos grupos, em casas, para estudar os escritos sagrados. A sinagoga passou a funcionar como um ponto de encontro dos judeus para as orações e a leitura das escrituras. O culto sacrifical não era possível de ser realizado na Babilônia (Cf: Ez, 4: 13). Sendo assim, duas as atitudes religiosas mantiveram vivos os sinais da aliança entre YHWH e o povo judeu: o descanso sabático (Ez, 20: 12ss; 22: 8-26; 23: 28) e a circuncisão (Gn, 2: 1-4 a P e c. 17P). Já ao que diz respeito ao culto da palavra, que acabará por resultar no posterior surgimento das sinagogas, existem duas posições sobre o assunto: a de Gunneweg, que, baseado nas camadas mais antigas das obras de Dêutero-Isaías e de Ezequiel, acredita que, tanto na Babilônia quanto na Palestina, tenham se desenvolvido no período certas formas novas de celebração da Palavra; e a de Liverani e Donner que afirmam no período babilônico não houve formação, sequer germinal, de sinagogas devido ao peso simbólico do templo de Jerusalém e porque os exilados esperavam um retorno breve para a pátria. (Santos, 2011, p. 10) Sinagoga é um termo transladado do grego que tem como significado “trazer”; com isso, é relacionada com a definição mais clara de assembleia, lugar em que se fazem reuniões ou em que se congrega. Pode-se então definir a 10 sinagoga como o local de congregação, no qual normalmente se estudava ou realizava-se a leitura e a interpretação de textos das escrituras. A recitação da Shema e as bênçãos que eram proferidas em seguida formavam a porção central do culto mais simples da sinagoga, do qual poderiam fazer parte um mínimo de dez homens judeus, devidamente inscritos. Fazia parte das tradições orais a ideia de que esse culto de oração, que frisava o monoteísmo de Yaweh, foi instituído pelo próprio Moisés. (Champlin, 1991, p. 220) O archisynagogo era o líder espiritual e o mestre principal (Bíblia. Atos, 1982, 13: 15; 18: 17). Um representante executivo cuidava dos negócios seculares da comunidade; seus membros eram chamados de anciões ou como os magistrados principais de uma cidade grega de arcontes. Havia também um secretário que cuidava dos arquivos e entregava a correspondência. Um assistente cuidava do edifício, mantinha a ordem durante o serviço religioso, fazia comunicados e conduzia as preces quando necessário, bem como ministrava punição corporal de acordo com a lei. 11 Figura 2 – Modelo de uma sinagoga do século I Crédito: Elias Aleixo. Em cidades maiores, havia várias sinagogas (Roma, por exemplo, tinha pelo menos onze). A sinagoga era o local de oração, em que a congregação se reunia no Sabbath e em dias santos. Era também escola, na qual se estudava a Torah, e era um centro da comunidade, em que membros podiam se reunir por razões específicas como assar pão sem fermento ou para fins gerais de sociabilidade. Portanto, a sinagoga fortalecia de várias formas o sentimento que tinham os judeus de serem especiais e separados (Champlin, 1991, p. 219-220). A sinagoga tornou-se um referencial da religião judaica. Ela foi um dos pilares para a manutenção da cultura e religião judaica durante o exílio babilônico e o elo de agregação dos judeus após a diáspora no governo romano; depois do século I, o templo, e tampouco a nação judaica, existiam mais. 12 TEMA 5 – EXÍLIO E RETORNO Em 562, com a morte do rei Nabucodonosor, o império babilônico começou a enfraquecer e abriu a possibilidade do avanço dos persas sob o comando de Ciro. Como grande estrategista, Ciro, aproveitando a ausência do rei Nabonido na cidade, cercou a Babilônia e a tomou praticamente sem grande resistência em 539. Após dominá-la, ele iniciou uma política beneficente, acenando com a permissão a todos os exilados o retorno para suas terras. Os judeus viram nessa ação o comprimento da palavra de Deus, visto que para eles esse ato tinha o mesmo sentido da libertação do Egito, sob a liderança de Moises. Apesar de continuarem sob o domínio de um governo estrangeiro, agora os persas, poderiam voltar para reconstruir Jerusalém e restabelecer sua nação (Merrill, 2001, p. 502). Após um decreto do rei Ciro, cerca de cinquenta mil judeus partiram pela primeira vez em direção à terra de Israel, liderados por Zorobabel. Os judeus foram levados cativos, primeiro pela Assíria (2 Reis, 17) e depois pela Babilônia (2 Reis, 25). Foram restaurados à sua terra sob o império persa. Os Babilônios tinham sido conquistados pelos medos e persas. As dez tribos do norte, levadas para a Assíria nunca regressaram. Em 537 a.C. os primeiros judeus regressaram da Babilônia para Jerusalém. Em 516 a. C o templo foi restaurado. Em 479 a. C. Ester tornou-se rainha da Pérsia. Ela foi esposa de Xerxes. Em 458 a. C Esdras conduziu a segunda expedição da Babilônia. Em 445 a. C Neemias construí os muros de Jerusalém. (Mears, 1982, p. 134) Menos de um século depois, o segundo retorno foi liderado por Esdras, o Escriba, cuja repatriação dos judeus foi inspirada por sua liderança. A construção do Segundo Templo no local do Primeiro Templo e a fortificação das muralhas de Jerusalém, marcaram o retorno. De acordo com Esdras, Ciro não apenas deu permissão para os judeus retornarem para sua terra, como também estipulou que fossem assistidos em tudo pelos povos que os cercavam (1: 3,4). Além disso, os tesouros roubados por Nabucodonosor do templo de Jerusalém e postos nos santuários pagãos tiveram de ser devolvidos a Sesbassar, o príncipe de Judá. (Merrill, 2001, p. 523) É provável que se tenha passado muito tempo até o retorno ser organizado e toda a jornada ser completa, isso em torno de 537, perto de um ano após o decreto de Ciro. Quando o povo judeu (israelitas) regressou à terra de Judá, encontrou uma mescla de povos, os samaritanos – que praticavam uma religião com alguns pontos comuns com a religião do antigo Israel. De imediato, 13 começou-se a reconstrução do templo que estava totalmente em ruínas, com materiais vindos de Tiro e Sido, sendo os alicerces levantados, em 536, com todo o trabalho supervisionado pelos sacerdotes. O templo foi concluído em 515, vinte anos após os fundamentos serem lançados (Merrill, 2001, p. 521,525). Ainda nesse período, as muralhas de Jerusalém foram restabelecidas. Nesse tempo, hostilidades cresceram entre os judeus que regressavam e os samaritanos, uma divisão religiosa que permanece. [...] Seus vizinhos, especialmente a aristocracia de Samaria que considerava Judá como parte de seu território e ressentia-se com qualquer limitação de suas prerrogativas lá, lhes eram abertamente hostis. Não se pode dizer como nem quando essa hostilidade se expressou pela primeira vez, mas certamenteela existiu desde o começo. Tampouco era provável que os judeus residentes na terra sempre receberam bem e com entusiasmo o fluxo de imigrantes. Eles tinham considerado a terra como sua propriedade (Ez, 33: 24) e ainda a consideravam. Com certeza teriam dificuldade em dar lugar aos recém-vindos e em concordar com suas pretensões às propriedades ancestrais. (Bright, 1978, p. 495) Havia muitos outros opositores, além dos samaritanos, que se opunham à construção das muralhas. Neemias é obrigado a dividir os homens em dois grupos, um responsável pela construção dos muros e outro para vigiar quanto a possíveis ataques. Porém, após muitos esforços, o muro é levantado possibilitando maior segurança para Jerusalém. NA PRÁTICA A história de Israel mostrou como uma nação forte e poderosa pode conhecer a sua ruína quando não consegue equacionar suas dificuldades internas. Não podemos esquecer que, apesar de Israel ter optado pelo governo monárquico, o conceito de aliança com Deus era essencial para o bom funcionamento do reino. Quando essa aliança era quebrada, o monarca era visto como alguém que não estava obedecendo aos preceitos divinos e isso acarretava sérios problemas para o rei. Teologicamente, a divisão de Israel, bem como o cativeiro são entendidas como consequência da desobediência, do povo e do monarca. FINALIZANDO Israel passou de um reino poderoso para uma nação frágil e dividida, em decorrência de desmandos do rei Salomão e, em consequência, das disputas 14 pelo trono, somados à falta de habilidade em conduzir os problemas do reino. A nação constituída em um longo período é dividida em dois reinos, Israel e Judá, antes um povo, agora dois reinos inimigos. A tentativa de um reino de dominar o outro acarretou um longo período de guerras e alianças equivocadas, que os enfraqueceu ainda mais. O exílio foi uma experiência marcante para o povo judeu, inclusive teologicamente, em que, afastados da sinagoga, tiveram que adaptar uma nova estrutura para manter viva a fé em Deus, e compreender o que os levou a esse possível castigo. Porém, nesse período, o povo acabou adaptando-se, e convivendo com a cultura babilônica. Além disso, vários profetas se levantam, tanto para apontar os erros do povo quanto para dar esperança ao retorno à terra prometida. Isso acontece com a queda do império babilônico e a conquista de Ciro, que possibilita esse retorno, feito de forma lenta, em algumas levas. A situação que Jerusalém se encontra é muito desalentadora, é precioso reconstruir tanto o templo quanto as estruturas básicas da cidade para manter a segurança da cidade, e isso começa a ser realizado quando os primeiros exilados retornam. As dificuldades persistem, muitos são os desafios para reconstruir a nação, porém, a esperança se restabelece. Apesar de ainda estarem sob o domínio de um governo estrangeiro, eles podem voltar a habitar na terra que Deus lhes havia prometido. 15 REFERÊNCIAS BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de Centro Bíblico Católico. 34. ed. rev. São Paulo: Ave Maria, 1982. BRIGHT, J. História de Israel. 6. ed. São Paulo: Paulus, 1978. CAVADAS, D. A.; NETO, M. C. N. F. Marcas indeléveis: considerações sobre o cativeiro judeu na babilônia à luz das ciências da religião, história política e direito. Jus.com.br, jan. 2020. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/79130/marcas- indeleveis-consideracoes-sobre-o-cativeiro-judeu-na-babilonia-a-luz-das-ciencias -da-religiao-historia-politica-e-direito>. Acesso em: 18 jul. 2021. CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. São Paulo: Hgnos, 1991. CONTAMINAÇÃO, nem pensar: o cativeiro da Babilônia. Ultimato, 2012. Disponível em: <https://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/con taminacao-nem-pensar-o-cativeiro-da-babilonia/>. Acesso em: 18 jul. 2021. ELLISEN, S. A. Conhecer melhor o Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 1991. GARDENER, P. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Vida, 1999. MEARS, H. C. Estudo panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida, 1982. MERRILL, E. H. História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: CPAD, 2001. SANTOS, M. A. dos. Junto aos rios da Babilônia: um estudo acerca da história de Israel. Relatório de Pesquisa de Iniciação Científica (Graduação em Teologia) – Departamento de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo 2011/Resumos/CTCH/TEO/TEO-MichelAlvesdosSantos.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2021.
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