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PEDIATRIA - CICLO I Febre sem sinais flogístico Definição Febre: ● Temperatura retal = ou > 38°C ● Temperatura axilar = > 37,5ºC Hiperpirexia: ● Temperatura > 40º Temperatura corporal normal ● 36,6 - 37,9° C (região retal) ● Ponto mais alto: início da noite ○ Ritmo circadiano ● Ponto mais baixo: ao amanhecer Qual o melhor método para aferição de temperatura? ● Retal: mais precisa, principalmente em bebês. ● Axilar: tempo e posição correta ○ Ter certeza de que o bulbo do termômetro está no centro da axila e em contato direto com a pele ○ Ideal é ficar 3 min com o termômetro (mesmo após o sinal sonoro) ○ Pedir ajuda para mãe segurar o braço da criança cuidadosamente ● Infravermelho: distância de no mínimo 5 cm da pessoa, apontado em paralelo para a região frontal. ○ Não pode ter angulação = paralelo a região frontal ● Termômetro de leitura intra-auricular: aferição da temperatura através da membrana timpânico ○ Temperatura mais elevada que a externa ○ Até 37,9º não se considera febre (equivalente a T retal) ● Aparelho previamente configurado Quando medicar com antitérmico? ● Depende do quadro clínico da criança, estado de saúde. ● Objetivo da febre: desnaturar invasor e criar memória imunológica ● Febre + sintomas ○ Se criança gemente, prostada, pouca reação -> dar o antitérmico por causa do mal estar ○ Se criança ativa -> não é necessário medicar com anti térmico, geralmente a noite em que a febre aumenta ou na hora de dormir pode medicar para passar noite tranquila ● Medicamentos permitidos para criança: ○ Dipirona ○ Paracetamol ○ Ibuprofeno Temperatura axilar Febre de Origem Indeterminada (FOI) Definição ● Foi definida como: temperatura > 38ºC com duração superior a 8 dias, sem identificação de causa após avaliação (anamnese, exame físico e avaliação laboratorial). ● Doenças infeciosas = FOI em crianças, ● Doenças reumatológicas. ● Doenças neoplásicas: menos comuns e com outras manifestações associadas. Epidemiologia ● Na maior parte dos casos: ○ Manifestação rara de uma patologia comum. ● A incidência tem diminuído pela maior eficácia de exames complementares de diagnóstico. ○ Acesso à recursos diagnósticos acessórios laboratoriais e de imagem -> menor a chance de diagnóstico de febre de origem indeterminada História Clínica Anamnese ● A história clínica detalhada é essencial para o diagnóstico. ● Caracterização da febre ○ Método de medição ■ Ao toque com a mão (não confiar) -> sempre colocar termômetro ○ Temperatura máxima ○ Intervalos de apirexia ■ intervalo entre pico febril e outro. ● Importante verificar se: ○ Existe pródromo antes da subida térmica -> paciente tem tremores, calafrios, hipotermia, cianose de extremidades e de boca antes do quadro febril (não é incomum em crianças) ■ Pródromo com hipotermia precedendo a hipertermia é mais comum de ocorrer em doenças bacterianas Sintomas associados ● A criança fica com ar doente durante o período febril; ○ Avaliar se criança está prostrada e abatida ou se está bem mesmo com febre ● A febre resolve com antipirético; ● É acompanhada de outros sintomas constitucionais; ● Existe sudorese associada. Os sintomas acompanhantes podem apontar para o diagnóstico: ● Respiratórios: infecção da via aérea superior, pneumonia, tuberculose; ● Gastrointestinais: Leptospirose, salmonelose, doença inflamatória intestinal, abscesso intra-abdominal; ● Genitourinários: infecção urinária, pielonefrite; ○ Crianças pequenas não costumam apresentar desconfortos urinários com o quadro de pielonefrite, apenas a febre ○ Criança com febre -> pedir exame de urina ● Osteoarticulares: osteomielite, artrite séptica, leucemia / linfoma. História patológica pregressa (HPP) ● Investigar o uso de fármacos, antecedentes pessoais e familiares bem como a presença de sintomatologia semelhante no agregado familiar ou na escola/ infantário. PEDIATRIA - CICLO I ● Em casos de FOI a história de ○ Viagens recentes, ○ Ingestão de alimentos contaminados ○ Contato com animais devem ser questionados: ■ Leite não pasteurizado -> Brucelose; ■ Contato com gatos -> Doença da arranhadura de gato, toxoplasmose; ■ Água / solo contaminado (fezes / urina) -> Leptospirose, toxoplasmose; ■ Ovos caseiros -> Salmonelose; ● Nem toda salmonelose provoca diarreia ■ Viagens para zonas endêmicas -> Malária, tuberculose, febre tifóide, dengue; ■ Picada de mosquito -> Malária, tularemia, dengue. Exame físico ● Mais detalhado possível!! Os sinais clínicos podem levar a um diagnóstico etiológico: ● Perda de peso: patologia oncológica, doença inflamatória intestinal, diabetes insipidus; ● Baixa estatura: doença inflamatória intestinal, patologia endocrinológica; ● Conjuntivite bulbar: leptospirose, doença de Kawasaki; ● Úlceras orais: febre periódica com estomatite aftosa, faringite e adenite (PFAPA); ● Adenopatias cervicais: toxoplasmose, doença da arranhadura de gato; ● Exantema: endocardite infecciosa, meningococcemia; ● Exantema papular: doença da arranhadura de gato; ○ Adenomegalia associada ● Eritema malar: lúpus eritematoso sistémico; ● Exantema urticariforme: doença soro-like; ● Porta de entrada: doença arranhadura de gato, febre escaro nodular (Tache noire), tularemia; ● Sopro cardíaco: endocardite bacteriana aguda; ● Hepatoesplenomegalia: doença da arranhadura de gato, mononucleose infecciosa, malária, síndrome hemofagocíticoa, salmonelose, doença de Kawasaki, abscesso hepático, leucemia/linfoma; ● Envolvimento articular: artrite séptica, artrite idiopática juvenil, doença soro-like. Diagnóstico Diferencial 4 grandes grupos de patologias: 1. Patologia infecciosa (mais frequente) ● Bacteriana: pneumonia (pode ser silenciosa, sem grandes sintomas respiratórios associados), infecção urinária, endocardite bacteriana, doença arranhadura de gato, brucelose, febre escaronodular, leptospirose, abscesso hepático, osteomielite, artrite séptica, salmonelose, tuberculose; ● Vírica: citomegalovírus, vírus Epstein Barr, hepatites víricas, vírus de imunodeficiência humana; ○ Febre prolongada sem focos delimitados ● Outras: malária, toxoplasmose, histoplasmose. 2. Patologia reumatológica ● Artrite idiopática juvenil; ● Lupus eritematoso sistémico; ● Vasculite. 3. Patologia hemato-oncológica ● Linfoma de Hodgkin; ● Leucemia / linfoma; ● Neuroblastoma. 4. Outras ● Diabetes insípida central; ● Sarcoidose; ● Febre medicamentosa: a tomada de antipiréticos ou outros fármacos pode ser a causa da febre (desaparece 48-72 horas após a suspensão); ● Doença de Kawasaki; ● Imunodeficiências; ● Doença soro-like; ● Disautonomia familiar; ● Febre periódica: febre mediterrânea familiar, PFAPA, neutropenia cíclica; ● Tireotoxicose; ● Doença inflamatória intestinal; ● Síndrome hemofagocítico; ● Disfunção do sistema nervoso central: alteração da termorregulação. ○ Neuropata -> pode ser febre de origem indeterminada sem outros sintomas associados Abordagem: ● FOI = temperatura > 38º por mais de 8 dias, sem causas associados Exames auxiliares de primeira linha ● Exames a realizar em todos os doentes: ● Hemoleucograma com esfregaço de sangue periférico; ● Reagentes de fase aguda: proteína C reativa, pró-calcitonina, velocidade de sedimentação; ● Hemocultura; ● Sedimento urinário, urocultura; ● Radiografia de tórax; ● Ionograma, ureia, creatinina e transaminases; ● Prova de tuberculina ou IGRA; Restantes exames complementares de diagnóstico: ● Mediante o quadro clínico e etiologia provável: ● Infeciosa: repetir culturas, punção lombar, proteína C reativa e velocidade de sedimentação. ○ Ponderar pesquisa de vírus nas fezes, coprocultura e parasitológico. ○ Inflamação no trato digestivo pode estar causando a febre ● Oncológica: ácido úrico, desidrogenase lática, ferritina. ● Autoimune / reumatológica: anticorpos antinucleares, fator reumatoide, fatores de complemento, função tiroideia, marcadores inflamatórios (ferritina, velocidade de sedimentação). ● Imunodeficiência: imunoglobulinas, marcadores linfocitários. ○ Ver se a FOI é por problema imunológico Tratamento Algoritmo clínico/terapêutico ● A maioria dos casos resolve espontaneamente, sem diagnóstico estabelecido ou terapêutica específica. ● A terapêutica farmacológica deve ser revista com a suspensão dos fármacos não essenciais, incluindo antipiréticos. ○ Uso excessivo de anti-inflamatório e antipirético pode provocar FOI -> não super medicar a criança! ○ Suspender medicações e observar (pode ser efeito adverso da medicação) ● A antibioticoterapia empírica só deve ser iniciada perante uma criança com ar séptico ou forte suspeita de etiologia bacteriana. PEDIATRIA - CICLO I ● OBS.: na vigência de um quadro infeccioso, há uma janela imunológica aberta e pode pegar outro quadro, como um bacteriano 1-Conduta por faixa etária Até 30 dias de vida ● Internação!! ● Solicitar: hemograma, VHS, PCR, Urina I, Urocultura, Hemocultura, líquor, radiografia de tórax. ● A associação ampicilina e cefotaxima deve ser indicada para contemplar estreptococo do grupo B e germes gram-negativos. ○ Não esperar resultado dos exames para antibioterapia!! ○ Criança muito pequena tem sepsemia com facilidade Lactentes de 2 a 3 meses ● Solicitar: hemograma, VHS, PCR, hemocultura, Urina I, Urocultura, Liquor, ● Raio-X de tórax. ● Se exames alterados iniciar antibiótico endovenoso com ceftriaxone, pensando nos agentes mais freqüentes: pneumococo, meningococo e hemófilo ○ Pedir exames -> se alterados ATB endovenoso Crianças de 3 a 36 meses ● Solicitar os mesmos exames acima e aguardar os resultados ○ Se exames normais -> reavaliação em 24 horas. ○ Se alterados iniciar ceftriaxone endovenoso mesmo se não localizar o foco Crianças maio ● Se sinais de toxemia: iniciar penicilina cristalina ou ampicilina endovenosa. ○ Suspeita de estreptococos Controvérsias Primeiro pico febril ● História de apenas um pico febril, sem toxemia, geralmente tem melhor valor preditivo negativo. ● Exames laboratoriais e de imagem alteram-se no decorrer do tempo. ○ O primeiro exame pode estar normal e não será identificado o foco ○ Hemograma no primeiro momento se pedido pode atrapalhar ■ Se vier com leucocitose importante com 70% de segmentados = doença bacteriana ● Em crianças, mesmo em doenças virais, no primeiro momento, pode ter comportamento bacteriano (leucocitose e segmentados aumentados) -> depois linfócitos aumentam = confirma doença viral ● Criança com febre -> mais chorosa, irritada, com aumento da FC e FR , hiperemia de mucosas. ○ Medicar, aguardar temperatura abaixar e reexaminar. ■ Pode levar a crer que a hiperemia de mucosas é o motivo da febre ● Falsa hiperemia de mucosas durante a febre. Grau de Temperatura ● Tanto patologias de etiologia viral como bacteriana, podem ter os mais variados graus de temperatura e intervalos entre picos febris. ● A resposta a antitérmicos também não diferencia a gravidade ou etiologia do quadro. ● Evento bastante frequente dos 6 aos 24 meses de idade. ○ 75% das procuras de pronto atendimento são por febre ● Nos atendimentos de rotina e de urgência deve-se esclarecer e orientar os pais sobre febre, medicação, convulsão febril, evolução das doenças como um processo com diferentes fases de evolução. ○ Convulsão febril não tem relação com a temperatura alta -> relacionado a liberação de íons e processo inflamatório que provoca descarga elétrica no cérebro = sensibilidade individual ○ Geralmente ocorre uma única vez na vida ○ Raramente ocorre 2 vezes, muito raramente 3 vezes ○ É uma condição benigna, não tem comprometimento. ○ Pode deixar sequelas ● Realização de compressa de água fria ou banho fresco (emergir a criança em água morna) ○ Localização das compressas: pescoço, axilas e virilhas -> locais em que os grandes vasos passam superficialmente ○ Não deve colocar álcool nas compressas de crianças -> absorção de álcool transdérmico é alta. ○ Não é descrito como regra de prática, mas é uma cultura conhecida e utilizada. ● OBS.: Intermação = criança com febre devido ao excesso de roupas
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