Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Condução de Calor em uma Barra I Separação de variáveis 1. Equações diferenciais parciais A forma geral de uma equação diferencial parcial de segunda ordem linear em duas variáveis independentes é: A ∂2u ∂x2 +B ∂2u ∂x∂y + C ∂2u ∂y2 +D ∂u ∂x + E ∂u ∂y + Fu = G, (1) onde A,B, ..., G são funções de x e y. Quando G(x, y) = 0, a equação diz-se homogênea, em caso contrário, é não-homogênea. Uma solução de (1) é uma função u(x, y) que possui todas as derivadas parciais presentes na equação e que satisfaz a equação em alguma região do plano xy. A equação (1) é classificada como (a) hiperbólica, se B2 − 4AC > 0, (b) parabólica, se B2 − 4AC = 0, (c) eĺıptica, se B2 − 4AC < 0. Exerćıcio: Clasśıfique as equações (a) equação do calor: ut − kuxx = 0, (b) equação da onda: utt − k2uxx = 0, (c) equação de Laplace: uxx + uyy = 0. 2. Método da separação de variáveis A ideia é procurar uma solução particular da forma u(x, y) = X(x)Y (y), ou seja, u é o produto de duas funções, uma de x e outra de y. Em alguns casos, aplicando este método, é posśıvel reduzir uma equação de derivadas parciais em duas equações ordinárias. Para tanto, note que ∂u ∂x = X ′Y, ∂u ∂y = XY ′, e ∂2u ∂x2 = X ′′Y, ∂2u ∂y2 = XY ′′. 1 II Condução do calor 1. Equação do calor Procuramos por uma função de duas variáveis u(x, t) que descreva a distribuição de temperatura na posição x, no instante t, numa barra horizontal de comprimento L (pensada sobre o eixo −−→ OX) com extremidades mantidas a uma temperatura constante para todo t > 0. Se a difusividade térmica da barra é constante k > 0 e a distribuição de temperatura no instante t = 0 em cada ponto 0 6 x 6 L é f(x), a edp (equação diferencial parcial) que modela o problema, chamada equação do calor, juntamente com a condição de contorno (ou de fronteira) e a condição inicial, são descritos por: ut = kuxx, (edp) u(0, t) = u(L, t) = 0, t > 0 (condição de contorno − tipo Dirichlet) u(x,0) = f(x), 0 666 x 666 L. (condição inicial) (2) No problema de valor inicial e de fronteira (2), abreviadamente (pvif), denotamos ut = ∂u ∂t , uxx = ∂2u ∂x2 e k ∈ R é uma constante. 2. Separação de variáveis Suponha que u(x, t) é uma solução de (2) e que as variáveis estejam separadas, i.e., suponha u(x, t) = X(x)T (t). Calculando uxx e ut, obtemos uxx(x, t) = X ′′(x)T (t) ut(x, t) = X(x)T ′(t), o que, substitúıdo em (2), produz X ′′(x)T (t) = k X(x)T ′(t), ou seja, X ′′(x) X(x) = 1 k T ′(t) T (t) . Esta última relação implica que os valores de uma função dependendo apenas de x são iguais aos de uma função dependendo apenas de t; a única possibilidade para tanto é que a função seja constante. Logo: X ′′(x) X(x) = 1 k T ′(t) T (t) = −λ, (para algum λ ∈ R), e assim X ′′(x) + λX(x) = 0 (3) T ′(t) + λk T (t) = 0. (4) 2 Da condição de fronteira obtemos 0 = u(0, t) = X(0)T (t), ∀t > 0 =⇒ caso contrário u≡0 X(0) = 0, (5) 0 = u(L, t) = X(L)T (t), ∀t > 0 =⇒ caso contrário u≡0 X(L) = 0 (6) Precisamos encontrar os valores de λ ∈ R para os quais o problema de valor de fronteira{ X ′′(x) + λX(x) = 0 X(0) = 0 = X(L). (7) possua solução X 6≡ 0. Caso 1: λ = 0. Por (7) temos: X ′′(x) = 0 ⇒ X ′(x) = c ⇒ X(x) = cx+ d, com c, d ∈ R. Também temos: 0 = X(0) = c 0 + d ⇒ d = 0 e 0 = X(L) = cL ⇒ c = 0. Logo X(x) = 0, ∀x ∈ R, o que implica u(x, t) = 0 ∀(x, t) ∈ [0, L]× (0,∞), a qual é a solução nula da edp em (2) mas que só satisfaz o (pvif) (2) se f ≡ 0. Portanto devemos analisar outros casos. Caso 2: λ < 0. Escrevemos λ = −α2, com α 6= 0, e por (7) temos a edo X ′′(x)− α2X(x) = 0 cuja solução geral é: X(x) = c1 cosh (αx) + c2 senh (αx) (c1, c2 ∈ R). Ainda: 0 = X(0) = c1 cosh (0) = c1 ⇒ c1 = 0 e 0 = X(L) = c2 senh (αL) ⇒ c2 = 0. Ou seja, X ≡ 0 o que produz u ≡ 0, que não resolve (2) em geral. Resta um caso a analisar. Caso 3: λ > 0. Escrevemos λ = α2 (α 6= 0) e por (7) obtemos a edo X ′′(x) + α2X(x) = 0 cuja solução geral é: X(x) = c1cos (αx) + c2sen (αx) (c1, c2 ∈ R). Novamente por (7), 0 = X(0) = c1 cos (0) + c2 sen (0) = c1 ⇒ c1 = 0 0 = X(L) = c2 sen (αL). 3 Esta última relação é satisfeita sem que necessariamente c2 = 0, contanto que sen (αL) = 0 ⇐⇒ α = nπ L (n = ±1, ±2, ±3, · · · ) Logo, para λ = n2π2 L2 , encontramos as soluções de (7) Xn(x) = Cn sen (nπ L x ) , (8) com n = 1, 2, 3, · · · , e Cn ∈ R constantes arbitrárias. Precisamos agora resolver (4) para os λ′s tais que (3), (5) e (6) possuam solução, isto é, para λn = n2π2 L2 . (n = 1, 2, 3, · · · ) Esses números são chamados autovalores e as funções Xn em (8) a eles associadas são chamadas autofunções. Reescrevendo a edo linear de 1a ordem (4) utilizando os λn ′s chegamos a T ′n(t) + n2π2k L2 Tn(t) = 0 cuja solução geral é Tn(t) = Bn e −n 2π2k L2 t (Bn ∈ R arbitrário, n > 1). (9) Podemos então considerar as funções (8) e (9) para definir un(x, t) = Xn(x)Tn(t) (n > 1) e, por superposição, temos a candidata a solução de (2) u(x, t) = ∞∑ n=1 An sen (nπ L x ) e− n2π2k L2 t (An ∈ R). Resta apenas determinar as contantes An e para isto utilizamos a condição inicial em (2): f(x) = u(x, 0) = ∞∑ n=1 An sen (nπ L x ) , x ∈ [0, L], o que equivale a expressar f em série de senos no intervalo [0, L]. Como vimos em aulas ante- riores, os coeficientes da série em senos de Fourier de f são dados por: An = 2 L ∫ L 0 f(x) sen (nπ L x ) dx, ∀n > 1. 4 Em suma, podemos concluir que a solução de (2) é u(x, t) = ∞∑ n=1 An sen (nπ L x ) e− n2π2k L2 t em que os coeficientes são dados por An = 2 L ∫ L 0 f(x) sen (nπ L x ) dx, ∀n > 1. Note que, como f é limitada, segue que os coeficientes An também são limitados. Em con- sequência, a presença dor termo exponencial com potência negativa em cada termo da série garante que lim t→∞ u(x, t) = 0 para todo x, independente da condição inicial. 3. Exemplo Determinar a temperatura em qualquer instante t > 0 numa barra de metal de 50 cm de comprimento, isolada nos lados e com extremidades mantidas a 0◦ C para todo t > 0, a uma temperatura uniforme inicialmente de 20◦ C. Solução: A temperatura u(x, t) em cada ponto x ∈ [0, 50] e instante t > 0 satisfaz o problema de valor inicial e de fronteira (2), sob condição de fronteira de Dirichlet, com L = 50 e f(x) = 20 para 0 < x < 50. Conforme deduzimos acima, u(x, t) = ∞∑ n=1 An sen (nπ 50 x ) e− n2π2k 2500 t com An = 2 50 ∫ 50 0 20 sen (nπ 50 x ) dx = 4 5 ∫ 50 0 sen (nπ 50 x ) dx = 40 nπ ( 1− cos (nπ) ) Assim An = 80 nπ se n é ı́mpar, 0 se n é par. Substituindo na expressão que define u obtemos u(x, t) = 80 nπ ∞∑ n=1,3,5,··· 1 n e− n2π2k 2500 tsen (nπ 50 x ) , ∀(x, t) ∈ [0, 50]× (0,∞), é a temperatura procurada. � 5 III Condições de contorno não homogêneas 1. Condução do calor com condições de contorno não homogêneas. Considere o (pvif) envolvendo a equação do calor e condições de contorno não homogêneas T1, T2 ∈ R, dado por ut = k uxx, 0 < x < L, t > 0; u(0, t) = T1, u(L, t) = T2, t > 0, u(x, 0) = f(x) 0 6 x 6 L. (10) Em muitos problemas observa-se que a solução, após grande intervalo de tempo, alcança um estado estacionário. No caso do (pvif) (10) ocorre que a solução se aproxima, quando t→∞, de uma solução estacionária v(x), que não depende do tempo e das condições iniciais, ou seja, satisfaz a equação do calor e as condições de contorno em (10). Como v(x) não depende de t, segue que vt = 0, e portanto { v′′(x) = 0, 0 < x < L, v(0) = T1, v(L) = T2. (11) Para resolver o problema , note que v′′(x) = 0 implica que v(x) = ax+ b, a, b constantes reais. De v(0) = T1 temos que b = T1, e v(L) = T2 implica que aL+ T1 = T2, ou seja v(x) = (T2 − T1) x L + T1. Vamos tentar expressar u(x, t) como u(x, t) = v(x) + w(x, t) (12) sendo w(x, t) um estado transiente. Para determinar w, noteque wt = ut − vt = ut = kuxx = kuxx − kvxx = kwxx, e w(0, t) = u(0, t)− v(0) = T1 − T1 = 0, w(L, t) = u(L, t)− v(L) = T2 − T2 = 0. Logo w satisfaz o (pvif) wt = k wxx, 0 < x < L, t > 0; w(0, t) = 0 = w(L, t) t > 0, w(x, 0) =f(x)− v(x) 0 6 x 6 L. (13) Portanto solução de (10) é: 6 u(x, t) = (T2 − T1) x L + T1 + ∞∑ n=1 An sen (nπ L x ) e− n2π2k L2 t sendo An os coeficientes da série de Fourier em senos de f(x)− v(x). Ou seja An = 2 L ∫ L 0 [ f(x)− (T2 − T1) x L − T1 ] sen (nπ L x ) dx, ∀n > 1. Note que lim t→∞ u(x, t) = (T2 − T1) x L + T1 para todo x. Ou seja, a solução u(x, t) tende ao estado estacionário v(x). 2. Exemplo Considere uma barra com 30 cm de comprimento para a qual k = 1. Suponha que a distribuição de inicial de temperatura é dada por u(x, 0) = x(60 − x)/30 e qua as condições de contorno são u(0, t) = 30 e u(30, t) = 0. Encontre a temperatura na barra em função da posição e do tempo. Solução: O problema pode ser formulado em termos da equação ut = uxx, 0 < x < 30, t > 0, u(0, t) = 30, u(30, t) = 0, t > 0, u(x, 0) = x(60− x)/30, 0 < x < 30. Podemos escrever u(x, t) = v(x) + w(x, t), onde v(x) = 30− x e w satisfaz a equação wt = wxx, 0 < x < 30, t > 0, w(0, t) = 0, w(30, t) = 0, t > 0, w(x, 0) = x(60− x)/30− 30 + x, 0 < x < 30. Segue que w(x, t) = ∑ n≥1 Ane −n2π2t/900 sin nπx 30 , onde An = 2 30 ∫ 30 0 [x(60− x)/30− 30 + x] sin nπx 30 dx = 60 2(1− cosnπ)− n2π2(1 + cosnπ) n3π3 . Portanto u(x, t) = 30− x+ 60 π3 ∑ n≥1 2(1− cosnπ)− n2π2(1 + cosnπ) n3 e−n 2π2t/900 sin nπx 30 . 7
Compartilhar