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3ºAula Ao final desta aula, vocês serão capazes de: • compreender a amplitude do conceito e da aplicação da linguagem, da língua e da fala; • entender e reconhecer a importância dos níveis de linguagem em diversos contextos de uso. Objetivos de aprendizagem Caro(a) aluno(a), Estamos iniciando a nossa terceira aula e nela trataremos sobre a tríade que constituí a comunicação: Linguagem, Língua e fala. Em outras palavras, quando se fala em linguagem, estamos nos referindo, diretamente, à capacidade humana formada por leis combinatórias e signos linguísticos materializados pela mensagem. Assim, de modo a tornar efetiva a linguagem verbalizada, essa se condiciona a dois fatores: à língua e à fala. A língua é fator resultante da organização de palavras, segundo regras específicas e utilizadas por uma coletividade. E a fala cabe à concretização da língua que cada indivíduo, de uma dada comunidade, irá proferir. Iniciemos, então, nossa aula! Que tal!? Disposto a começar? Comecemos, então, analisando os objetivos e verificando as seções que serão desenvolvidas ao longo desta aula. Bom trabalho! Bons estudos! Linguagem, língua e fala 143 Linguagem e Argumentação 24 1 - Linguagem, língua e fala 2 - Níveis de linguagem Seções de estudo 1 - Linguagem, língua e fala Eis uma tríade cuja materialização vincula-se a todo e qualquer processo comunicativo. Embora os concebamos como elementos utilizados para designar a mesma realidade, em se tratando do ponto de vista linguístico, os mesmos não devem ser confundidos, talvez até como termos sinônimos (MUNDO EDUCAÇÃO, 2014). Arquitetamos na consciência, uma espécie de “biblioteca” onde assentamos tudo o que é ouvido e entendido. Guardamos ideias, significados, expressões e com essa “base de dados” nos anunciamos verbalmente, seja pela fala ou pela escrita. Note que seria como se escolhêssemos, buscando na prateleira da biblioteca, palavra por palavra, criando estruturas de entendimento para a comunicação. Isso é quase parecido com uma receita de bolo: você + é + muito + legal, resultando naquilo que queremos dizer pelo que estamos sentindo ou sobre algo ou alguém. Vamos pensar um pouquinho mais? Vamos nos re etir sobre algumas importantes questões: Por que falamos? Por que não fazemos uso dos sinais ou uso de símbolos, como nas primeiras descobertas do uso da linguagem feitas pelo homem? Por que o homem, diferente dos outros animais, fala? Por que somente nós temos essa faculdade e, até onde se sabe, já impressa em nossa consciência? Poucas pessoas, cremos, tenham parado para ponderar ou interrogar sobre essas questões. Pesquisas e trabalhos realizados nesse sentido procuram, ainda, respostas precisas para a pergunta “por que o homem fala”. Segundo Bottéro (1997), o homem, na Mesopotâmia antiga, berço da civilização, percebeu a necessidade de comunicar-se e começou a criar possibilidade de entendimento entre si e os outros. Usou sinais e mensagens, expostas na aba de vasos. Seguindo o raciocínio de Bottéro (1997), a questão é que se tratava apenas de uma escrita de coisas: os significados diretos destes caracteres não eram as palavras de uma língua mas, em primeiro lugar e de modo imediato, as realidades expressas por estas palavras. Assim, levando-se em conta tais informações, podemos inferir que em um determinado momento da humanidade, o homem teve a necessidade de comunicar-se de algum modo, assim como em um determinado momento, passou a falar. É interessante pensar nessas questões porque refletimos e nos perguntamos a partir de quê ou do quê, o homem descobriu que possuía, além das existentes, a faculdade da linguagem. Ao acompanharmos o crescimento de uma criança, cada vez mais notamos como a necessidade de falar é presente na vida humana... Ademais, percebemos o quanto o ato de falar faz de nós mais parte do mundo, não é mesmo? É importante saber que algumas pesquisas na área da linguagem humana mostram que, no caso da criança, a primeira palavra murmurada já representa sua admissão no universo da linguagem e o abandono do estado da natureza ( estado primeiro/ primitivo). Assim, pode-se dizer que é a linguagem que autoriza a tomada de consciência do indivíduo como entidade distinta. Considerando que fazemos uso da linguagem, da língua que nos é ensinada e, consequentemente, falamos. Só não sabemos, por que, justamente pela fala, que comunicamo-nos uns com os outros. Outro assunto que intriga o pensamento e os mistérios da vida, ou melhor, reflete sobre a existência da comunicação falada entre os homens é por que falar, viver em sociedade com seres falantes, é quase uma necessidade de sobrevivência? Já pensou sobre isso? Idealizemos a seguinte situação: se eu, você, todos nós, ficássemos sem trocar uma palavra sequer com qualquer pessoa que fosse durante toda a vida! Possivelmente morreríamos de angústia...de solidão...não é verdade? Claro que, se nunca tivéssemos tido contato com a fala, com o som emitido pelos falantes ao falarem, com a língua , essa realidade –de falar -não existiria... Mas, pensemos mais um pouquinho! Aguentaríamos ficar um dia inteiro que fosse sem falar? Sem falar nada, categoricamente nada? Não aguentaríamos. Não é mesmo? Mas, o fato é que falamos! Para alguns teóricos que tratam sobre os estudos da linguagem, a língua se constitui nos primeiros indícios de identificação da humanidade no homem. A partir do uso da língua, é que foi possível ao homem sair de seu estado primário natural e chegar ao estado mais avançado, ou seja, ao estado cultural (oriundo da organização social). Inúmeros estudos feitos por pesquisadores preocupados em descobrir o porquê de o homem ter essa necessidade do uso da linguagem, o porquê da fala, vêm nos mostrar que isso é, definitivamente, uma faculdade humana. Algo que somente o homem tem como característica e que o difere dos outros animais. Vejamos: Saussure (2002, p. 17), o pai da LINGUÍSTICA , em seu texto Curso de Linguística Geral, vai definir a língua como objeto de estudo e diferenciar a língua da fala. Para Saussure: A língua é o produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social, para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está 144 25 2 - Níveis de linguagem Curiosidade O que estudando, nos ajudam a entender e a respeitar a existência dos sotaques regionais, as gírias e a forma que cada indivíduo tem de usar a língua. completa em ninguém, e só na massa ela existe. A fala, ao contrário da língua, para Saussure (2002, p. 22) é algo puramente individual. “São as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir seu pensamento pessoa [...]”. É a maneira individual e particular que cada ser faz do uso da língua predominante em uma sociedade. Somos educados a partir da teoria que o homem é uma animal racional, isto é, pensa, sente, julga as coisas, possui uma inteligência e, por isso, temos dois mundos distintos: o mundo dos homens e dos animais. Saber mais Para ampliar seus conhecimentos sobre as diferenças entre a linguagem comum e a linguagem cientí ca formal, própria dos textos acadêmicos/universitários, sugerimos que leia o artigo: MORTIMER, E. F.; CHAGAS, A. N.; ALVARENGA, V. T. Linguagem cientí ca versus linguagem comum nas respostas escritas de vestibulandos. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol3/n1/v3_ n1_a1.htm>. Acesso em: 3 maio 2014. A linguística, partindo desse conceito de língua e fala, não pode, então, considerar que alguns “falam corretamente” e outros “falam erradamente”. O conceito de certo e errado deixa de existir por ser a língua, a mesma para todosos indivíduos de uma sociedade e algo já impresso na mente (conceitos e imagens acústicas) de todos os seres de um determinado tempo e espaço. Do ponto de vista científico, tudo o que consideramos “erro” ao “falar errado” é, na verdade, algum fenômeno ou acontecimento que pode e deve analisado por estudos linguísticos. Aqui interessante mostrar que na escrita há a possibilidade de uso dos conceitos de certo e errado, ao passo que na fala apenas podemos suar os conceitos de adequado ou inadequado dependendo da situação de uso. Ainda relembrando a teoria de Saussure , temos a linguagem exposta no nível do universal, a língua fazendo parte do nível do social e a fala fazendo parte do nível do individual. Em ARQUIVOS você encontrara um texto “SAUSSURE E A DEFINIÇÃO DA LÍNGUA COMO OBJETO DE ESTUDOS” não é um texto simples, mas importante para você. Sossegados até aqui? Ok, então vamos em frente, pois a próxima seção traz uma discussão acerca da adequação da linguagem em uso efetivo. Como podemos perceber, a linguagem tem regras, princípios que precisam ser obedecidos. Geralmente, achamos que essas regras dizem respeito apenas à gramática normativa. Para a grande maioria das pessoas, expressar-se perfeitamente em língua portuguesa significa não cometer erros de ortografia, concordância verbal, acentuação etc. Há, no entanto, outro erro, mais comprometedor do que o gramatical, que é o de inconformidade da linguagem ao contexto. Em casa ou com amigos, nós empregamos uma linguagem mais informal do que nas provas da faculdade ou em uma entrevista para emprego, por exemplo. Ao conversar com os avós, não convém usar algumas gírias, pois eles poderiam ter dificuldades em nos compreender. Em um trabalho/atividade que vamos elaborar no curso superior, precisamos empregar um vocabulário mais formal. Esses fatos nos levam a concluir que existem níveis de linguagens nos textos, dependendo do contexto de uso. Além disso, devemos observar que esse leitor, por mais inteligente que possa aparentar, necessita de uma atenção para decodificar as palavras, reconhecer seus sentidos e identificar quais são as ideias existentes no texto. Assim, torna-se evidente que quanto menor o esforço para decodificar o texto, mais o leitor aprenderá sobre a mensagem. Por exemplo, podemos observar sobre o viés empresarial: Ao escrever a clientes, responder a solicitações, passar informações sobre diversos assuntos, subsidiar informações para a tomada de decisões, o texto deve apresentar frases curtas com um vocabulário simples e formal. Nem o vocabulário sofisticado nem as frases longas e rebuscadas contribuem para um rápido entendimento da mensagem, levando o leitor a um desperdício de tempo, quando não a uma desmotivação progressiva que acarretará, inconscientemente, a rejeição da mensagem. Não devemos nos esquecer que a mudança cultural imposta na linguagem das correspondências reflete também um estilo da vida moderna, em que a informação valorizada é aquela de mais fácil digestão — haja vista a grande influencia dos meios de comunicação em massa (FIRMINO, 2014, s/p). Veja o esquema abaixo e perceba como os níveis da linguagem se organizam: Linguagem Formal, culta ou padrão Linguagem coloquial ou popular Linguagem pro ssional ou técnica Linguagem artística ou literária Faz uso das normas gramaticais UtilizaGírias, Regionalismos etc. Técnica ou cientí ca. É uma linguagem Literária ou poética. Vejamos, então, alguns níveis de linguagem: a) Nível formal, culto ou padrão: trata-se de uma linguagem mais formal, que segue os princípios da gramática normativa. É empregada na escola, no trabalho, nos jornais e nos livros em geral. Observe esse trecho de jornal: A polêmica não é nova, nem deve extinguir-se tão cedo. A nal qual a legitimidade e o limite do uso de recursos públicos para salvaguardar 145 Linguagem e Argumentação 26 a integridade do sistema nanceiro? (...) (Folha de São Paulo, 14 de março de 1996, Editorial). b) Nível coloquial, popular: é a linguagem empregada no cotidiano. Geralmente é informal, incorpora gírias e expressões populares e não obedece às regras da gramática normativa. Veja os exemplos abaixo: “Sei lá! Acho que tudo vai ficar legal. Prá que então ficar esquentando muito? Me parece que as coisas no fim sempre dão certo”. Estou preocupado (norma culta). Tô preocupado (língua popular). Tô grilado (gíria, limite da língua popular). c) Nível profissional ou técnico: é a linguagem que alguns profissionais, como advogados, economistas, médicos, dentistas etc. utilizam no exercício de suas atividades. d) Nível artístico ou literário: é a utilização da linguagem com finalidade expressiva pelos artistas da palavra ( poetas e romancistas, por exemplo) alguns gramáticos já incluem este item na linguagem culta ou padrão. Assim, dominar uma língua não significa apenas conhecer normas gramaticais, mas, sobretudo, empregar adequadamente essa língua em várias situações do cotidiano, tais como na faculdade, no trabalho, com os amigos, em um exame de seleção, no trabalho etc. Como também é importante assegurar algumas características mediante as normas gramaticais e mais alguns níveis de linguagens em outras profissões, como: marketing, administração, contabilidade. Segundo Firmino (2014), concisão significa expressar o máximo de informações sem repetições e excesso de ideias. Assim, para cumprir esse objetivo, é preciso determinar com precisão as informações realmente relevantes, bem como avaliar o significado das palavras e expressões utilizadas, sendo conciso, mas que contem uma ideia significativa. A objetividade refere-se a toda a ideia apresentada que direta ou indiretamente levam a informação a ser transmitida. Entretanto, é importante que se apresente os pontos principais com precisão. Outro ponto fundamental é Clareza, contendo uma organização das ideias e transmitir com êxito ao seu interlocutor. Característica que sepode dizer ser a mais difícil de se executar, por exigir do emissor uma elaboração com que possa pensar em como essa mensagem chegará ao seu leitor, e se as palavras elaboradas está sendo compreendidas com sucesso. Um exemplo do que estamos dizendo são as famosas brincadeiras verbais, muitas delas usadas como apelo de marketing, do tipo: Cachorro faz mal à moça! Na verdade, é um sanduiche cachorro-quente. Pedro e Paulo vão se separar. Eles não são casados entre si. Cada um vai separar-se de sua respectiva mulher E assim, pode se pensar que a coerência e a conexão de todas as palavras e ideias a ser apresentadas fazem-se necessárias, para que se tenha uma lógica em seu contexto, seja qual for sua área ou público. Nesse sentido, nossa língua escrita tem uma disciplina maior do que a língua falada, e a relação de sentido se faz extremamente fundamental ao seu sentido e articulação das ideias ao seu receptor. Imagino que você tenha relembrado os conhecimentos que acabamos de estudar! Contudo, caso tenha alguma dúvida, é importante que releia a aula e escreva-a no quadro de avisos que terei muito prazer em saná-la. Ah, não se esqueça de realizar as atividades propostas para a Aula 3! Retomando a aula Retomar conhecimentos é fundamental para sedimentar o processo de aprendizagem. Assim, convidamos você a relembrar os estudos realizados na aula 3! 1 - Linguagem, língua e fala. Na primeira seção vimos que a linguagem é todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. Pode ser verbal (aquela cujos sinais são as palavras) e não verbal (aquela que utiliza outros sinais que não as palavras. Os sinais empregados pelos surdos-mudos, o conjunto dos sinais de trânsito, mímica, etc., constituem tipos de linguagem não verbal). Ademais, reconhecemos que a língua é um tipo de linguagem; é a única modalidade de linguagem baseada em palavras. O alemão e o português, por exemplo, são línguas diferentes. No entanto, alíngua é a linguagem verbal utilizada por um grupo de indivíduos que constitui uma comunidade. Finalmente, reconhecemos que a fala é a realização concreta da língua, feita por um indivíduo da comunidade num determinado momento. É um ato individual que cada membro pode efetuar com o uso da linguagem. 2 - Níveis de linguagem. Já na segunda seção pudemos construir, dentre outros, conhecimentos sobre a importância de utilizar, para cada contexto e/ou situação comunicativa, uma linguagem adequada, uma vez que os níveis de linguagem dizem respeito ao uso da fala e escrita em uma determinada situação comunicativa. A linguagem se estabelece além de somente normas gramaticais. O emissor e o receptor devem estar em concordância para que haja entendimento. ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1996. Vale a pena ler Vale a pena 146 27 ECO, Umberto; ANGONESE, Antonio (Tradutores). A busca da língua perfeita. Bauru: EDUSC, 2002. KOCH, Ingedore G. Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos (Colaboradores). A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2001. BLOG SEMIÓTICA. Como se definem os signos. Disponível em: <http://semioticacom102.blogspot.com/2008/10/ como- se-definem-os-signos-2-signo.html>. Acesso em: 3 maio 2014. MORTIMER, E. F.; CHAGAS, A. N.; ALVARENGA, V. T. Linguagem científica versus linguagem comum nas respostas escritas de vestibulandos. Disponível em: <http://www.if.ufrgs. br/public/ ensino/vol3/n1/v3_n1_a1.htm>. Acesso em: 3 maio 2014. MUNDO EDUCAÇÃO. Linguagem, língua e fala. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/ gramatica/ linguagem-lingua-fala.htm>. Disponível em: 3 maio 2014. PARTES. Teoria, signos e reflexão. Disponível em: <http:// www.partes.com.br/ed39/teoriasignosreflexaoed39.htm>. Acesso em: 3 maio 2014. UNISUL. Linguagem. Disponível em: <http://www3. unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0102/05.htm>. Acesso em: 3 maio 2014. Vale a pena acessar O Clube de Leitura de Jane Austen Vale a pena assistir Minhas anotações 147
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