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6ºAula Considerações sobre textos: elementos estruturais Caro(a) aluno(a), Estamos em nossa sexta aula e a partir de agora nos dedicaremos mais a um assunto de grande interesse para todos nós: trataremos sobre as noções acerca do texto e também veremos como proceder para elaborar textos claros e coesos. Ademais, abordaremos questões referentes à organização textual e aos mecanismos de leitura contidos na compreensão e na interpretação de textos. Assim, desejo que tenhamos uma grande ascensão teórica em relação aos temas abordados. Bom trabalho! Bons estudos! Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, você será capaz de: • identificar e conceituar, a partir das teorias textuais, um texto e suas particularidades linguísticas referentes à estrutura; • entender como acontece o processo de compreensão e de interpretação textuais. • compreender a estrutura e a expressão textuais; • entender e reconhecer e empregar com precisão a coesão e a coerência textuais. 161 Linguagem e Argumentação 42 1 - Noções de texto 2 - Compreensão e interpretação textual 3 - Estrutura, conteúdo e expressão 4 - Coerência e coesão textual Seções de estudo 1 - Noções de texto Esta aula foi preparada para que você não encontre grandes di culdades. Contudo, podem surgir dúvidas no decorrer dos estudos! Quando isso acontecer, acesse a plataforma e utilize as ferramentas “Quadro de avisos” ou “Fórum” para interagir com seus colegas de curso ou com seu tutor. Sua participação é muito importante e estamos preparados para ensinar e aprender com seus avanços. Lembre-se, ainda, de ler e re etir sobre os objetivos de aprendizagem e as Seções de Estudo da Aula 6. A nal, você é o protagonista de sua aprendizagem! Contamos com a sua participação! Na sua opinião, o texto tem segredos? Que tal desvendarmos! Pois bem, a palavra texto aparece com alta frequência no linguajar cotidiano, tanto no interior da escola quanto fora de seus limites. Não são estranhas a ninguém expressões como: “redija um texto”, “texto bem elaborado”, “o texto construído não está suficientemente claro”, “os atores da peça são bons, mas o texto é ruim”, “o redator produziu um bom texto etc. Por causa, exatamente, dessa alta frequência de uso, todo estudante tem algumas noções sobre o que significa texto. Dentre essas noções, algumas ganham importância especial para esta e as próximas aulas, que se propõem a orientar a leitura e a escrituração de textos. Nesta aula introdutória, vamos fazer duas considerações fundamentais sobre a natureza do texto, Platão & Fiorin (2002) nos sugerem as que seguem: 1.1 - Primeira consideração: O texto não é um aglomerado de frases A revista Veja de 1º de junho de 1988, em matéria publicada nas páginas 90 e 91, traz uma reportagem sobre um caso de corrupção que envolvia, como suspeitos, membros ligados à administração do governo do Estado de São Paulo e dois cidadãos portugueses dispostos a lançar um novo tipo de jogo lotérico, designado pelo nome de “Raspadinha”. Entre os suspeitos figurava o nome de Otávio Ceccato, que, no momento, ocupava o cargo de secretário de Indústria e Comércio e que negava sua participação na negociata. O fragmento a seguir foi extraído da parte final da referida reportagem, relata a resposta de Ceccato aos jornalistas nos seguintes termos: Na sua posse como secretário de Indústria e Comércio, Ceccato, nervoso, foi infeliz ao rebater as denúncias: “Como São Pedro, nego, nego, nego”, disse a um grupo de repórteres, referindo-se à conhecida passagem em que São Pedro negou conhecer Jesus Cristo três vezes na mesma noite. Esqueceu-se de que São Pedro, naquele episódio, disse talvez a única mentira de sua vida (VEJA, Ano 20, pp. 22:91). Note que a defesa do secretário foi infeliz e desastrosa, produzindo efeito contrário ao que ele tinha em mente: ao invés de inocentá-lo, acabou por comprometê-lo! Sob o ponto de vista da análise do texto, qual teria sido a razão do equívoco lamentável cometido pelo secretário? Uma resposta adequada pode ser que ao citar a passagem bíblica, o acusado esqueceu-se de que ela faz parte de um texto e, em qualquer texto, o significado das frases não é autônomo. (http://xantipaemarx.blogspot.com.br/2014/06/conceito- de-texto.html) Desse modo, não se pode isolar frase alguma do texto e tentar conferir-lhe o significado que se deseja. Como bem observou o repórter, no episódio bíblico citado pelo secretário, São Pedro, enquanto Cristo estava preso, foi reconhecido como um de seus companheiros e, ao ser indagado pelo soldado, negou três vezes seguidas conhecer aquele homem. Segundo a mesma Bíblia, posteriormente, Pedro arrependeu- se da mentira e chorou copiosamente. Esse relato serve para demonstrar de maneira simples e clara que uma mesma frase pode ter significados distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserida. O grande equívoco do secretário, para sua infelicidade, foi o de desprezar o texto de onde ele extraiu a frase, sem se dar conta de que, no texto, o significado das partes dependem das correlações que elas mantêm entre si. Para entender qualquer passagem de um texto, é necessário confrontá- la com as demais partes que o compõem, sob pena de dar- lhe um signi cado oposto ao que ela de fato tem. Em outros termos, é necessário considerar que para fazer uma boa leitura, deve-se sempre levar em conta o contexto em que está inserida a passagem a ser lida. Entende-se por contexto uma unidade linguística maior em que se encaixa uma unidade linguística menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa- se no contexto do capítulo e o capítulo encaixa-se no contexto da obra toda. Uma observação importante a fazer é que nem sempre o contexto vem explicitado linguisticamente. O texto mais amplo dentro do qual se encaixa uma passagem menor pode vir implícito: os elementos da situação em que se produz o texto podem dispensar maiores esclarecimentos e dar como pressuposto o contexto em que ele se situa. Para exemplificar o que acaba de ser afirmado, observe o exemplo a seguir: 162 43 Exemplo com erro: Queremos, neste momento, observar que o aceite àquela condição não deve ser entendido como uma aprovação à mesma, não no que diz respeito ao valor, que, apesar de ter ultrapassado a importância de R$ 350,00, que achávamos justa, dela não se afastou em demasia, mas, sim, quanto ao prazo de reajuste, qual seja, semestral, contrariando o relacionamento comercial passado, calcado no prazo de um ano, não nos dando sequer a chance de contra-argumentação. Exemplo corrigido: Porém, gostaríamos de registrar nossa insatisfação com a mudança do prazo de reajuste que, ao se tornar semestral, sem a possibilidade de negociação, contraria nosso relacionamento comercial passado, calcado no prazo de um ano. Fonte: http://kerllyherenio.blogspot.com.br/2013/03/a-redacao- empresarial. html Toda leitura, para não ser equivocada, precisa, necessariamente, levar em conta o contexto que envolve a passagem que está sendo lida, lembrando que esse contexto pode vir manifestado explicitamente por palavras ou pode estar implícito na situação concreta em que é produzido. Assim, podemos observar dois pontos de contradição para a escrita do texto no exemplo acima. a) A forma com que o autor desenvolve seu texto nos deixa confuso como se somente, houvesse um amontoado de palavras e se apresenta muito confuso para o entendimento; b) Ao expressar-se sobre sua indignação sobre o prazo de reajuste semestral, o uso formal e de poucas palavras pode elevar o nível de compreensão por meio desse comunicado. Assim, podemos notar o quão importante é sabermos ler e escrever de fato! 1.2 - Segunda consideração: Todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala mais ampla Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o produziu. De uma forma ou de outra, constrói-se um texto para, por meio dele, marcaruma posição ou participar de um debate de escala mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma simples notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre alguma intenção por trás, ou seja, nenhum texto é desprovido de ideologia. Assim, quando finalizarmos o estudo desta aula é fundamental estarmos seguros sobre as seguintes questões: a. Uma boa leitura nunca pode basear-se em fragmentos isolados do texto, já que o significado das partes sempre é determinado pelo contexto dentro do qual se encaixam. b. Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o pronunciamento contido por trás do texto, já que sempre se produz um texto para marcar posição frente a uma questão qualquer. Agora, para ampliar seus conhecimentos, sugerimos que exercite sua leitura e a produção textual. Para tanto leia atentamente as instruções abaixo: a. Para que você continue praticando a leitura e a escrituração de textos, sua atividade de hoje será a de redigir um texto dissertativo, ou seja, deverá expor, defender e argumentar suas ideias sobre um dos temas abaixo relacionados, lembrando que neste tipo de texto não deve fazer uso da primeira pessoa do singular (eu), nem conjugar verbos nesta pessoa (acredito). b. Lembre-se de que leituras deverão ser feitas sobre o tema escolhido para que tenha argumentos para defender o que pensa. Não deixe para fazer este texto na última hora, como alguns fazem, vez que, sem tempo para reflexões, não poderá desenvolver uma boa atividade e, consequentemente, será prejudicado! c. Seu texto terá que ter, no mínimo, 20 linhas e, no máximo, 28 linhas. Não escreva um texto com menos de quatro parágrafos. d. A atividade é individual e não precisa ser encaminhada no ambiente virtual, uma vez que se trata de uma auto avaliação de sua aprendizagem. Temas sugeridos: • A leitura e o seu poder transformador. • O desafio de conviver com as diferenças. • A escrita como transmissão de conhecimento no meio empresarial. • Viver em rede no século 21: propostas e desafios. Conhecer o repertório de estratégias de aprendizagem e os seus hábitos de estudo constitui um passo fundamental para que você enriqueça sua capacidade de aprender, previna di culdades de aprendizagem e avance no desenvolvimento de seu desempenho acadêmico. Para tanto, ao iniciar os estudos da Seção 2, aproveite a oportunidade para posicionar-se criticamente diante dos conteúdos e das estratégias didáticas propostas. 2 - Compreensão e interpretação textual Segundo Oliveira (2008), [...] é a partir da leitura que o aluno pode compreender e entender a realidade em que está inserida e chegar a importantes conclusões sobre o mundo em que vive e os aspectos que o compõem. A habilidade de leitura é essencial e da suporte para o estudo de outras áreas do conhecimento, essas habilidades ultrapassam a uma simples decodi cação, na verdade, vão além da própria compreensão do que foi lido. A leitura é um processo no qual o “Leitor” é um sujeito ativo que processa o texto e este lhe proporciona seus conhecimentos, o próprio leitor constrói o sentido do texto. Complementando este ponto de vista, Orlandi (2006, p.38) afirma que “o leitor não apreende meramente um sentido que está lá; o leitor atribui sentido ao texto... E isto lhe traz informações, conhecimentos etc”. Dessa forma, o texto tem seu sentido, e, a “cada leitura é uma transação que ocorre entre o leitor e o texto em um determinado momento e lugar. (...) O sentido não está pronto nem dentro do texto nem dentro do leitor, mas surge durante 163 Linguagem e Argumentação 44 3 - Estrutura, conteúdo e expressão a transação”. (ROSENBLATT, 2004, p. 1369 apud Leffa, 2010, p.3). Vejamos o esquema a seguir, o qual ponta alguns dos tipos de conhecimentos que incidem na compreensão de texto: Figura 6.1 Compreensão textual. FONTE: NEHEMIAS SLIDESHARE. Compreensão e interpretação textual. Disponível em: <http://www.slideshare.net/nehemiasj/compreenso-e-interpretao-textual>. Acesso em: 3 maio 2014. Nesse contexto, podemos dizer que um texto é uma ocorrência linguística, na modalidade escrita, de qualquer extensão, dotada de significação, ou seja, apresentam unidade semântica e formal. Para ser compreendido e interpretado, o texto exige conhecimentos de várias naturezas, conforme a figura 6.1 demonstra. Ainda, temos outros aspectos que devem ser levado em consideração nesse contexto de compreensão e interpretação, como representado na Figura 6.2: Figura 6.2 Elementos de compreensão e de interpretação. FONTE: NEHEMIAS SLIDESHARE. Compreensão e interpretação textual. Disponível em: <http://www.slideshare.net/nehemiasj/compreenso-e- interpretao-textual>. Acesso em: 3 maio 2014. A partir destes elementos podemos construir inferências que nos darão condições de chegar ao real sentido do texto, ou seja, conseguiremos compreender e interpretar de forma que os níveis de processamento de sentido sejam contemplados. Seguindo de um esquema das características do moderno texto empresarial (Gold, 2010, p.8): CONHECIMENTO DO CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO- CULTURAL CONHECIMENTO DO SISTEMA LINGUISTICO CONHECIMENTO DOS MECANISMOS DE PRODUÇÃO DE SENTIDO COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL TEXTO LITERAIS EXPLÍCITOS NÃO- LITERAIS MECANISMOS DE PRODUÇÃO DE SENTIDO CONTEXTO LINGUISTICO VOCABULÁRIO E COMBINAÇÕES IMPLÍCITOS CORREÇÃO GRAMATICAL LINGUAGEM ADEQUADA TEXTO EMPRESARIAL MODERNO OBJETIVIDADE CONCISÃO CLAREZA COERÊNCIA Saber Mais Para ampliar seus conhecimentos, é importante que leia o texto referenciado a seguir: RIBEIRO, José Roberto Boelter. Por um nível metaplícito na construção do sentido textual. Disponível em: <http:// andreboelter.blogspot.com.br/2009/07/por-um-nivel-metaplicito-na- construcao.html>. Acesso em: 3 maio 2014. Mas o que são estes níveis? Segundo Poersch (1991), o primeiro nível é o explícito que corresponde àquelas informações que estão expressas na superfície textual. A compreensão desse nível depende meramente de uma atividade de decodificação. O segundo nível é o implícito, em que não estão escritas no texto, devendo a recuperação ocorrer a partir daquilo que é apresentado pelo autor. Embora faça parte do texto, as informações implícitas não são expressas porque o emissor julgou desnecessário, ou seja, considerou que, a partir daquilo que escreveu, o leitor terá condições de inferir as informações não ditas. Já o terceiro nível é o metaplícito, o qual está relacionado às circunstâncias de produção e veiculação do texto. Assim, para construir esse nível, o leitor precisa possuir informações que estão fora do texto: dados relativos ao autor, ao destinatário, à relação entre autor e destinatário, ao contexto histórico, geográfico, social e cultural. É importante salientar que o sentido metaplícito constitui o modo como o texto deve ser lido, o que exige do leitor a consideração dos elementos situacionais da comunicação. Assim consolida-se o processo de compreensão e interpretação textual. Passemos, agora, ao estudo da seção 3, na qual estudaremos sobre a estrutura, o conteúdo e a expressão de um texto. 3.1 - Estrutura textual A estrutura compreende a unidade, organicidade e forma. Vamos conhecer cada uma: a. Unidade: a redação constitui-se de um só assunto; deve-se organizar em função de um só núcleo temático. Ter unidade é fazer com que o texto siga um “único” fio condutor de ideias, desenvolver a ideia que deseja. b. Organicidade: as partes da redação (introdução, desenvolvimento e conclusão) devem ser organizadas como um todo e articuladas de forma coerente e lógica. Quando as partes de um texto se encaixam, a leitura do texto flui de maneira clara. c. Forma: é a maneira de se apresentar o conteúdo. O tema poderá ser abordado de forma descritiva, narrativa ou dissertativa. Quando solicitar ao aluno uma descrição, evidentemente não se pode admitir a forma dissertativa, se a solicitação for uma carta comercial,não cabe ao aluno escrever um poema, um conto ou um texto narrativo/descritivo. Cada forma textual deve ser adequada ao que está sendo solicitado. Agora, vejamos o que cabe ao conteúdo! 3.2 - Conteúdo textual Quanto ao conteúdo, ele exige coerência e clareza e significa a própria mensagem a ser transmitida. Vejamos, então, de forma sucinta, a coerência, pois ela será novamente abordada nesta aula com mais clareza. 164 45 3.2.1 - Coerência A redação deve apresentar um conteúdo em que haja ideias fundamentais e pertinentes ao tema proposto. As ideias devem ser elaboradas segundo critérios que possibilitem perfeita relação, visando ao entendimento entre emissor e receptor. Nesse item, a principal observação a ser feita é que não pode haver fuga ao tema proposto, nem inclusão de citações ou informações que não sejam pertinentes ao desenvolvimento do assunto. Um texto coerente é aquele que tem significado, tem sentido para o leitor. Por exemplo, segundo Gold (2010, p.99): CONEXÃO ENTRE AS ORAÇÕES CARACTERÍSTICAS DA COERÊNCIA CONEXÃO ENTRE AS PALAVRAS CONEXÃO ENTRE OS PARAGRAFOS FRASES: CURTAS CARACTERÍSTICAS DA CLAREZA PALAVRAS: SIMPLES E ADEQUADAS PROBLEMAS DE LINGUAGEM: POSICIONAMENTO E AMBIGUIDADE ELIMINAÇÃO DE CLICHÊS CARACTERÍSTICAS DA CONCISÃO MÁXIMO DE INFORMAÇÕES COM MÍNIMO DE PALAVRAS ELIMINAÇÃO DAS REDUNDÂNCIAS E IDEIAS EXCESSIVAS Assim, podemos identificar que essas características fazem com que a harmonia de um texto aconteça coerentemente. Sendo que, a conexão das palavras faz-se sobre a significação dos elementos; a conexão das orações eleva o elo entre as frases; e por fim, a conexão dos parágrafos traz a sequência e organização de todo o texto. 3.2.2 - Clareza A clareza é consequência da coerência. A falta de contato com o tema, a abordagem tangencial ou fragmentada afetam a clareza por apresentar o conteúdo sem contornos definidos, diluídos ao longo da redação. Outro obstáculo à clareza é a frase mal estruturada ou ambígua que dificulta a compreensão e distorce o sentido. Quanto à clareza, convém evitar o uso de palavras ou expressões vagas, o pleonasmo (tautologia), ou seja, a repetição da mesma ideia e o uso de palavras ou expressões ambíguas. Assim, pode-se dizer que a clareza traz algumas características relevantes: As palavras bem usadas podem estabelecer um significado coerente para o receptor da mensagem, mas se não tiver uma clareza pode ser distorcida e mal interpretada. Dessa maneira, a utilização de palavras simples e adequadas viabiliza maior entendimento, evite termos técnicos, além de frases curtas e sempre evitando a ambiguidade das palavras. A clareza refere-se ao domínio do léxico e estrutura da língua. Para se conseguir boa expressão é fundamental a leitura de bons escritores e o manuseio habitual do dicionário. Atenção Para assegurar a concisão de um texto é fundamental que faça correções, ou seja, procure rever se utilizou formas adequadas, do ponto de vista da gramática normativa e do dicionário. 3.2.3 - Criatividade Criatividade diz respeito à originalidade. Consiste em saber apresentar uma positiva contribuição pessoal, seja variando expressões comuns, seja concorrendo para a renovação de formas antigas. O trabalho usado mediante a sua criatividade pode levar o emissor ao sucesso de sua mensagem. Há de se evitar o uso de chavões, clichês estilísticos, chapas, lugares comuns etc. 3.2.4 - Propriedade A propriedade diz respeito ao uso de palavras ou expressões adequadas ao assunto. Evitem os casos de impropriedade vocabular, tais como: O paralítico andava sobre cadeira de rodas. A exuberante alta dos preços. O ser humano nasce cru. Sendo de extrema importância a organização e o uso das palavras em seu contexto. 3.2.5 - Concisão Consiste em exprimir apenas o necessário, em oposição à prolixidade (verbosidade, verborreia). Para se conseguir tal síntese de pensamento, observe o seguinte: a) Eliminar o supérfluo, ou seja, formas redundantes. b) Eliminar o uso excessivo dos indefinidos em e uma. c) Evitar o emprego do pronome pessoal sujeito, obrigatório apenas nos casos de ênfase ou antítese. d) Eliminar pormenores desnecessários. Por exemplo, observemos as características de concisão para a organização das ideias: Assim, percebe-se que o texto deve elencar seus objetivos e somente informar o mínimo de informações que vão ser relevantes, para que o receptor possa obter maior compreensão. E as normas gramaticais para essa redundâncias nas ideias são de extrema importância. Agora, passemos ao estudo sobre coerência e coesão! 4 - Coerência e coesão textual. Coerência deve ser entendida como unidade de texto. Um texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, 165 Linguagem e Argumentação 46 1 - COERÊNCIA NARRATIVA 3 - COERÊNCIA ARGUMENTATIVA 2 - COERÊNCIA FIGURATIVA nada desconexo. Como afirma Gold (2010, p.97): Coerência é a harmonia entre uma série de situações ou ideias. Um texto é coerente quando existe harmonia entre as palavras, isto é, quando elas apresentam vínculos adequados de sentido, e quando a mensagem organiza-se de forma sequenciada, com início, meio e m. As ideias expressas devem corresponder às ideias pensadas. Entretanto, para que haja essa conexão entre palavras, é necessário conhecer bem o signi cado delas, assim como possuir um amplo repertório de vocábulos para que se possa encontrar o mais exato para exprimir aquilo que se deseja. Com isso o que podemos observar é que a coerência está relacionada como um todo ao significado das palavras, por meio da leitura. E somente tendo ideias bem pensadas e expressadas que será transmitido com as devidas significações. Seguindo com Platão e Fiorin (2002), que pontuam três principais níveis em que a coerência precisa ser observada: Vamos partir de exemplos de incoerências mais simples de perceber para mostrar o que é coerência. 4.1 - Coerência narrativa É incoerente narrar uma história em que alguém está descendo uma ladeira num carro sem freios, que para imediatamente, depois de ter brecado, quando uma criança lhe corta a frente, certo? Isto porque a preocupação com a coerência e a unidade As incoerências podem ser utilizadas para mostrar a dupla face de um mesmo personagem, mas esse expediente precisa car esclarecido de algum modo no decorrer do texto. 4.2 - Coerência figurativa Suponhamos que se deseje figurativizar (dispor figuras) o tema “despreocupação”. Pode-se usar figuras como “pessoas deitadas à beira de uma piscina”, “drinques gelados”, “passeios pelos shoppings”. Vale salientar que não caberia, no entanto, na figurativização desse tema, a utilização de figuras como “pessoas indo apressadas para o trabalho “ou fábricas funcionando a pleno vapor”, pois seria incoerente essa última escolha”. Assim: Figura 6.3 Coerência gurativa. do texto pressupõe que se conjuguem apropriadamente esses elementos. Se na narrativa aparecem indicadores de que um personagem é tímido, frágil e introvertido, seria incoerente atribuir a esse mesmo personagem o papel de líder e agitador dos foliões por ocasião de uma festa pública. Obviamente, a incoerência deixaria de existir se algum dado novo justificasse a transformação do referido personagem. Uma bebedeira, por exemplo, poderia desencadear essa mudança. Muitos outros casos de incoerência desse tipo podem ser apontados. Dizer, por exemplo, que um personagem foi a uma partida de futebol, sem nenhum entusiasmo, pois já esperava ver um mau jogo, e, posteriormente, afirmar que esse mesmo personagem saiu do estádio decepcionado com o mau futebol apresentado é incoerente. Quem não espera nada não pode decepcionar-se. Não é verdade? COERENTE COERENTE COERENTE INCOERENTE FONTE: ABRE. Homepage. Disponível em: <http://www.abrequipamentosdeseguranca.com.br/>. Acesso em: 3 maio 2014166 47 Por coerência figurativa entende-se, então, a articulação harmônica das figuras do texto, com base na relação de significado que mantêm entre si. As várias figuras que ocorrem num texto devem articular-se de maneira coerente para constituir um único bloco temático. Note que a ruptura dessa coerência pode produzir efeitos desconcertantes. Todas as figuras que pertencem ao mesmo tema devem pertencer ao mesmo universo de significado. 4.3 - Coerência argumentativa Quando se defende o ponto de vista de que o homem deve buscar o amor e a amizade, não se pode dizer em seguida que não se deve confiar em ninguém e que por isso é melhor viver isolado. Num esquema de argumentação, joga-se com certos pressupostos ou certos dados e deles se fazem inferências ou se tiram conclusões que estejam verdadeiramente implicados nos elementos lançados como base do raciocínio que se quer montar. Se os pressupostos ou os dados de base não permitem tirar as conclusões que foram tiradas, comete-se a incoerência de nível argumentativo. Vale salientar que é incoerente defender ponto de vista contrário a qualquer tipo de violência e ser favorável à pena de morte, a não ser que não se considere a ação de matar como uma ação violenta. Além de salientarmos exemplo de incoerência ocorrido em um memorando, Gold, (2010, p.98): Exemplo incoerente: Informamos que deixamos de analisar a empresa Transbraçal Prestação de Serviços Industrial e Comércio LTDA., enviada através do memorando da referência, pois a mesma já foi avaliada com base nas Demonstrações Contábeis de 31/12/2003 e estas mesmas demonstrações, atualizadas pelos índices oficiais, não alteram a sua avaliação. Exemplo correto, com reformulações: Informamos que a empresa Transbraçal Prestação de Serviços Industrial e Comércio LTDA, já foram analisados com a base nas Demonstrações Contábeis de 31/12/2003, e estas atualizadas pelos índices, não alteram a sua avaliação. Com tudo, percebe-se que a incoerência se dá por meio do mal usa dos significados da organização das palavras em seu contexto. Assim, pode ser transmitida uma ideia que não foi a mensagem a ser transmitida inicialmente. Parabéns! Até aqui é provável que já tenha percebido o que vem a ser um texto coerente... Agora, convidamos a ampliar seus conhecimentos sobre o que vem a ser a coesão textual. 4.4 - Coesão textual O que é coesão textual Quando lemos com atenção um texto bem construído, não nos perdemos por entre os enunciados que o constituem, nem perdemos a noção e conjunto. Com efeito, é possível perceber a conexão existente entre os vários segmentos de um texto e compreender que todos estão interligados entre si. Dessa forma, são várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou de elemento de coesão: a. As preposições: a, de, para, com, por, etc.; b. As conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou, etc.; c. Os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc.; d. Os advérbios: aqui, aí, lá, assim etc. A título de exemplificação do que foi dito, observe o texto que vem a seguir, retirado do livro de Platão e Fiorin (2002, p. 39, grifo nosso): É sabido que o sistema do Império Romano dependia da escravidão, sobretudo para a produção agrícola. É sabido ainda que a população escrava era recrutada principalmente entre prisioneiros de guerra. Em vista disso, a paci cação das fronteiras fez diminuir consideravelmente a população escrava. Como o sistema não podia prescindir da mão de obra escrava, foi necessário encontrar outra forma de manter inalterada essa população. Como se pode observar, os enunciados desse texto não estão amontoados caoticamente, mas estritamente interligados entre si: ao se ler, percebe-se que há conexão entre cada uma das partes (ver palavras em negrito). À conexão interna entre os vários enunciados presentes no texto dá-se o nome de coesão. Diz-se, pois, que um texto tem coesão quando seus vários enunciados estão organicamente articulados entre si, quando há concatenação entre eles. Saber Mais Para saber mais sobre a coesão e lembrar os elementos coesivos de um texto, sugerimos que acesse o material referenciado a seguir: PORTAL CP2. Elementos coesivos e articuladores de argumentos. Disponível em: <http://portalcp2. les.wordpress.com/2010/09/ elementos_coesivos_e_ articuladores_de_argumentos.pdf>. Acesso em: 3 maio 2014. A coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados obviamente não é fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem entre eles. Essas relações de sentido são manifestadas, sobretudo por certa categoria de palavras, as quais são chamadas conectivos ou elementos de coesão. Sua função no texto é exatamente a de pôr em evidência as várias relações de sentido que existem entre os enunciados. O uso adequado desses elementos de coesão confere unidade ao texto e contribui consideravelmente para a expressão clara das ideias. O uso inadequado sempre tem efeitos perturbadores, tornando certas passagens incompreensíveis. Retomando a aula Chegamos, assim, ao nal da sexta aula. Esperamos tenha compreendido as engrenagens que cercam a construção de um texto, bem como seus elementos. Para sedimentar nossa aprendizagem, vamos relembrar o que estudamos! 167 Linguagem e Argumentação 48 1 - Noções de texto. Na primeira seção vimos que para entender qualquer passagem de um texto, é necessário confrontá-la com as demais partes que o compõem, sob pena de dar-lhe um significado oposto ao que ela de fato tem. 2 - Compreensão e interpretação textual. Prosseguindo, a seção 2, foi uma oportunidade de ampliar nossos conhecimentos sobre a compreensão de qualquer texto é feita a partir da conjugação de informações apresentados nos níveis explícito, implícito e metaplícito, havendo sempre manifestação e imbricação dos três em todo texto. 3 - Estrutura, conteúdo e expressão. Já na seção 3, estudamos a estrutura de um texto que compreende a unidade, organicidade e forma. Vimos também que o conteúdo exige coerência e clareza e significa a própria mensagem a ser transmitida. Finalmente, quanto à expressão, esta se refere ao domínio do léxico e estrutura da língua. Para se conseguir boa expressão é fundamental a leitura de bons escritores e o manuseio constante, habitual, do dicionário. 4 - Coerência e coesão textual. Podemos dizer que a coerência e a coesão colaboram para conferir textualidade a um conjunto de frases. Assim, a coerência, manifestada em grande parte no nível chamado macrotextual (global), é o resultado da possibilidade de se estabelecer alguma forma de unidade de sentido ou relação entre os elementos do texto. Já a coesão é manifestada no nível microtextual (parte interna do texto) e se refere ao modo como os vocábulos se ligam dentro de uma sequência. Vale a pena CITELLI, A. O texto argumentativo. São Paulo: Scipione, 1994. FÁVERO, Leonor. L. Coesão e coerência textuais. 3. ed. São Paulo: Editora Ática: 1995. KATO, M. A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática, 1986. _____. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1995. KLEIMAN, A. Oficina de Leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, Unicamp, 1993. KOCH, Ingedore G. Villaça; Travaglia, Luiz Carlos. A coerência textual. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2001. POERSCH, J. M.; AMARAL, M. P. Como as categorias textuais se relacionam com a compreensão de leitura. Veritas. v.35, n Vale a pena ler ABRE. Homepage. Disponível em: <http://www. abrequipamentosdeseguranca.com.br/>. Acesso em: 3 maio 2014. BRASIL ESCOLA. Exercícios sobre coesão e coerência. Disponível em: <http://exercicios.brasilescola.com/ redacao/exercicios-sobre-coesao-coerencia.htm>. Acesso em: 3 maio 2014. MUNDO EDUCAÇÃO. Coesão. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/redacao/coesao- coerencia.htm>. Acesso em: 3 maio 2014. PORTAL CP2. Elementos coesivos e articuladores de argumentos. Disponívelem: <http://portalcp2.files.wordpress. com/2010/09/elementos_coesivos_e_articuladores_de_ argumentos.pdf>. Acesso em: 3 maio 2014. RIBEIRO, José Roberto Boelter. Por um nível metaplícito na construção do sentido textual. Disponível em: <http:// andreboelter.blogspot.com.br/2009/07/por-um-nivel- metaplicito-na-construcao.html>. Acesso em: 3 maio 2014. SLIDESHARE. Compreensão e 'interpretação textual. 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