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ISBN 978-65-5821-077-1
9 786558 210771
Código Logístico
59763
MÁRCIO JÚLIO DA SILVA MATTOS
MÁRCIO JÚLIO DA SILVA MATTOS
PSICOLOGIA SOCIAL APLICADA À SEGURANÇA
 Psicologia social 
aplicada à segurança 
Márcio Júlio da Silva Mattos 
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: wenny chiang/ Darko-HD Photography/ BABAROGA /Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M392p
Mattos, Márcio Júlio da Silva
Psicologia social aplicada à segurança / Márcio Júlio da Silva Mattos. - 
1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2021.
150 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-077-1
1. Psicologia social. 2. Personalidade. 3. Agressividade (Psicologia). 4. 
Conduta criminosa. 5. Prevenção de crimes. I. Título.
21-73112 CDD: 302
CDU: 159.9.019.4
Márcio Júlio da 
Silva Mattos
Doutor em Sociologia, mestre em Sociologia e 
especialista em Segurança Pública e Cidadania 
pela Universidade de Brasília (UnB). Visiting scholar 
(Fulbright Fellow) pela Universidade de Massachusetts 
Boston (UMass-Boston). Especialista em Gestão de 
Segurança Pública pelo Instituto Superior de Ciências 
Policiais (ISCP). Graduado em Relações Internacionais 
pela UnB e em Ciências Policiais pelo Instituto Superior 
de Ciências Policiais (ISCP). Professor no ensino 
superior, ministrando as disciplinas de Criminologia, 
Teoria do Crime, Sociologia da Violência, Métodos de 
Pesquisa e Polícia Comunitária. Consultor em segurança 
pública, avaliador do ensino superior pelo Instituto 
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio 
Teixeira (Inep) e conteudista da Secretaria Nacional de 
Segurança Pública (Senasp). 
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
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SUMÁRIO
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1 Fundamentos de psicologia social 9
1.1 Histórico 10
1.2 Definições e conceitos 22
1.3 Métodos de pesquisa 30
2 Personalidade, agressões e violências 37
2.1 Agressões e violência: definições e conceitos 37
2.2 Teorias sobre agressões 40
2.3 Compreendendo o comportamento agressivo 49
2.4 O Modelo Geral de Agressão (MGA) 59
3 Psicologia social e justiça criminal 64
3.1 Abordagens psicossociais em justiça criminal 65
3.2 Punição, crime e recuperação: a visão da psicologia social 75
3.3 Psicologia social em depoimentos e testemunhos 77
3.4 Fatores psicológicos na atuação policial 84
3.5 Fatores psicológicos no processo de justiça e no tribunal do 
 júri 87
4 Psicologia social e crime 94
4.1 Contextualização 94
4.2 Teoria da ação racional 100
4.3 Teoria do comportamento planejado – comportamento 
 criminoso 104
4.4 Teoria das atividades rotineiras 108
4.5 Explicando o comportamento criminoso 113
5 Psicologia social e prevenção criminal 119
5.1 Prevenção criminal e comportamento humano 119
5.2 Prevenção situacional do crime 125
5.3 Teoria das janelas quebradas 128
5.4 Teoria dos espaços defensáveis 131
5.5 Prevenção criminal pelo design do ambiente (CPTED) 133
6 Resolução das atividades 141
A psicologia social é uma área de estudos fascinante, e 
os avanços realizados nos últimos anos têm aproximado a 
densidade teórica da sua aplicação no cotidianos das pessoas. 
Esta obra tem um duplo objetivo: em primeiro lugar, 
apresentar alguns dos conceitos fundamentais da produção 
científica no campo da psicologia social, utilizando uma 
linguagem clara e objetiva para facilitar a compreensão de 
conceitos, por vezes, complexos e densos; em segundo lugar, 
utilizar referências daquilo que denominamos de psicologia 
policial, uma subárea da psicologia profissional, na aplicação 
dos conceitos psicológicos à segurança. Por isso, esperamos 
que o interesse incipiente por essa área de estudos seja 
estimulado com esta obra introdutória.
O primeiro capítulo apresenta o histórico de surgimento da 
psicologia social como área do conhecimento, discutindo os 
processos de desenvolvimento e separação de outras áreas e 
analisando definições consagradas na literatura especializada 
como forma de situar os seus conceitos fundamentais e os 
métodos empregados em suas análises.
O segundo capítulo discute os comportamentos agressivos 
e suas principais motivações à luz da psicologia social. Com 
especial atenção, analisa as evidências que relacionam 
os comportamentos agressivos à exposição aos meios de 
comunicação. Além disso, apresenta os conceitos de agressão, 
agressividade e violência. Algumas teorias sobre agressões são 
investigadas, enfatizando as diferenças entre as abordagens 
biológicas e psicológicas. Assim, a relação entre frustração e 
agressões e o aprendizado social são analisados.
O terceiro capítulo analisa as principais abordagens da 
psicologia social aplicadas à justiça criminal e os processos 
psicológicos importantes, como o self, as crenças, os valores, 
as normas sociais, as atitudes e os comportamentos, além de 
discutir a relação entre esses conceitos. De maneira aplicada, 
avalia subsídios da psicologia social aplicados a depoimentos, 
APRESENTAÇÃOVídeo
8 Psicologia social aplicada à segurança
testemunhos e confissões. Por fim, discute aspectos relacionados à atuação 
policial.
O quarto capítulo traz algumas das teorias psicológicas mais relevantes 
para a análise dos comportamentos criminosos: a teoria da ação racional, a 
teoria do comportamento planejado e a teoria das atividades rotineiras. De 
modo acessível, trata dos principais conceitos dessas abordagens utilizando 
exemplos que contextualizam o seu histórico de surgimento e as suas 
principais aplicações ao longo do tempo, assim como analisa a perspectiva 
histórica da psicologia social aplicada à segurança com base em três principais 
linhas argumentativas: os estudos de psicanálise, os estudos com base em 
inteligência e os estudos de personalidade.
O quinto capítulo dedica-se à prevenção criminal. Com efeito, analisa como 
os conceitos da psicologia social informam os modos de compreensão dos 
comportamentos criminosos e apresenta algumas perspectivas importantes 
sobre a prevenção criminal. Além disso, discute a definição de prevenção e 
seus diferentes níveis. Por fim, apresenta e analisa três abordagens teóricas: a 
teoria das janelas quebradas, a teoria dos espaços defensáveis e a prevenção 
criminal pelo design do ambiente (CPTED).
Bons estudos!
Fundamentos de psicologia social 9
1
Fundamentos de 
psicologia social
A psicologia social lida com temas comuns ao nosso cotidiano. 
Agressões, preconceito, conflitos, obediência, altruísmo são exem-
plos de fenômenos abordados pelas lentes dessa área.
 Neste capítulo, analisaremos o histórico de surgimento da psi-
cologia social. Vamos discutir as imbricadas relações com as demais 
ciências sociais, particularmente a sociologia. Em seguida, o seu 
desenvolvimento será discutido por meio de quatro fases que, com 
efeitos didáticos, oferecem umacronologia a respeito dos principais 
autores e seus conceitos ao longo do tempo.
Também trataremos das principais definições e conceitos que 
marcam o conhecimento em psicologia social. A diversidade dos fe-
nômenos estudados reflete a complexidade dos conceitos elabora-
dos ao longo do tempo. Nesse sentido, destacaremos três conceitos 
distintos que reúnem as principais características desse campo de 
estudos. Vamos abordar, ainda, as relações entre o senso comum 
e conhecimento científico em psicologia social, distinguindo suas di-
mensões aplicadas.
Por fim, analisaremos os caminhos metodológicos do fazer cien-
tífico em psicologia social, destacando três perspectivas principais: 
a observacional, que privilegia o contato direto com os indivíduos e 
a observação direta dos fenômenos estudados; a correlacional, que 
possibilita o estabelecimento de relações de predição; e a experi-
mental, que simula em laboratório as condições naturais de realiza-
ção dos fenômenos estudados.
10 Psicologia social aplicada à segurança
1.1 Histórico 
Vídeo A psicologia social está presente em diferentes momentos de 
nossa vida cotidiana. Somos lembrados acerca da complexidade 
das relações sociais e do comportamento humano diante de situa-
ções traumáticas, como guerras e ataques terroristas, ou de ações 
altruísticas e heroicas, caso de pessoas que arriscam suas vidas 
para salvar outras pessoas, por exemplo.
A mobilização de esforços coletivos, as relações de atração e 
repulsa, os comportamentos criminosos e as formas de evitá-los 
também ilustram o alcance da análise sociopsicológica. O interesse 
em compreender processos como esses, distinguindo-os de outros 
fenômenos, não é novo, apesar de o status científico de seu estudo 
ser, de fato, muito recente.
De modo geral, o interesse em mensurar processos relacionados 
aos pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos 
é fundante para a psicologia social. A diferenciação da disciplina 
tanto em relação à psicologia quanto à sociologia pode ser traçada 
desde a segunda metade do século XIX (ÁLVARO; GARRIDO, 2007). 
As relações entre os indivíduos e a sociedade foram analisadas por 
diferentes autores ao longo desse século, sendo que os limites en-
tre as diferentes áreas ainda não eram bem definidos.
Assim, muitas foram as contribuições analíticas de filósofos, 
economistas, sociólogos e antropólogos para o campo da psico-
logia social. Segundo Álvaro e Garrido (2007), é possível distin-
guir pelo menos duas subáreas na disciplina: a psicologia social 
psicológica e a psicologia social sociológica (Figura 1). A primeira 
diz respeito aos estudos que enfatizam os processos intraindivi-
duais, sendo marcante na tradição acadêmica dos Estados Unidos, 
enquanto a segunda privilegia a análise das experiências sociais e 
o papel das coletividades, sendo relacionada à tradição europeia 
(FERREIRA, 2011).
Conhecer o histórico de 
surgimento da psicologia 
social, destacando alguns 
dos seus principais auto-
res e suas contribuições 
para o desenvolvimento 
desse campo de estudos.
Objetivo de aprendizagem
Fundamentos de psicologia social 11
Figura 1
Psicologia social como interseção disciplinar
Psicologia 
social
PsicologiaSociologia
Psicologia 
social 
psicológica
Psicologia 
social 
sociológica
Fonte: Adaptada de Estramiana et al. 2007, p. 23.
Assim, ao falarmos em psicologia social, é necessário situar suas ori-
gens com base em perspectivas distintas que contribuíram para infor-
mar o desenvolvimento de seus principais conceitos. Em uma lógica de 
mútua interação, os estudos foram buscando se diferenciar de outras 
abordagens e foram adquirindo características e contornos próprios. 
Ao longo do tempo, é possível distinguir como a psicologia social se 
desenvolveu com base nas contribuições de autores importantes. Con-
forme Kassin, Fein e Markus (2017), vamos destacar quatro períodos:
Os anos iniciais (década de 1880 até os anos 1920).
O período de expansão e questionamentos (década de 1960 até 1975).
A influência da Segunda Guerra Mundial (décadas de 1930 a 1950).
A era dos pluralismos (de 1975 até o século XXI). 
Vejamos a caracterização de cada um desses períodos nas subse-
ções a seguir.
12 Psicologia social aplicada à segurança
1.1.1 Os anos iniciais (1880-1920)
Para muitos autores (KASSIN; FEIN; MARKUS, 2017), o primeiro ex-
perimento em psicologia social foi realizado pelo psicólogo Norman 
Triplett (1861-1934), da Universidade de Indiana, em 1898. Após ob-
servar que ciclistas apresentavam uma performance melhor quando 
disputavam contra outros ciclistas em comparação com quando treina-
vam sozinhos, Triplett desenvolveu um experimento para compreen-
der esse fenômeno. O estudo consistiu na observação de crianças 
na realização de uma tarefa simples: enrolar um anzol o mais rápido 
possível em uma espécie de molinete de pesca.
Essa atividade foi repetida por crianças sozinhas e em grupos. Ao 
final do experimento, o pesquisador argumentou que, de fato, ocorria 
uma melhoria na performance na execução da tarefa quando realizada 
na presença de outras pessoas (TRIPLETT, 1898). Entre outras implica-
ções, esse estudo motivou pesquisas sobre o fenômeno que ficou co-
nhecido como facilitação social. Ainda hoje, é um dos temas analisados 
por psicólogos sociais em diferentes contextos.
O experimento de Triplett destacou-se pela inovação em propor a 
investigação dos efeitos do contexto social sobre o comportamento 
dos indivíduos e o fez de maneira sistemática. Como veremos, os expe-
rimentos sociais são um dos recursos de pesquisas mais importantes 
na psicologia social. Outros autores também são citados em estudos 
analisando fenômenos com base em uma perspectiva psicossociológi-
ca incipiente, como é o caso do francês Max Ringelmann (1861-1931), 
em 1913 (ESTRAMIANA et al., 2007).
Entretanto, o estabelecimento da psicologia social como um cam-
po de estudo é comumente atribuído à publicação de três importantes 
obras. Duas delas foram publicadas nos Estados Unidos, em 1908, mar-
cando um período de crescimento do interesse na disciplina naquele 
país. A primeira obra foi Uma introdução à Psicologia Social, do psicólogo 
britânico William McDougall (1871-1938).
Na obra, o autor desenvolveu uma teoria do comportamento huma-
no com base na percepção de estímulos por meio de características he-
reditárias (instinto) em busca de resultados. Sob influência de Charles 
Darwin (1809-1882), McDougall argumentava que o comportamento 
molinete: peça metálica 
composta de carretel com 
manivela em que se co-
loca vara de pescar, para 
enrolar a linha de náilon e 
tirar rapidamente o anzol 
lançado à água.
Glossário
Fundamentos de psicologia social 13
instintivo era composto de três elementos: a percepção, o comporta-
mento e a emoção (ÁLVARO; GARRIDO, 2007).
Os indivíduos seriam predispostos a focar estímulos importantes 
para os seus objetivos. A busca por satisfazer a necessidades, como 
comer quando se tem fome, motiva a ação humana de maneira ins-
tintiva. Ao longo do tempo, o autor categorizou 18 tipos de instintos, 
como fome, rejeição de substâncias, curiosidade, fuga, submissão, en-
tre outros.
A segunda obra foi Psicologia Social: um esboço e um livro de refe-
rência (tradução livre do original: Social Psychology: an outline and a 
source book), do sociólogo norte-americano, Edward Alsworth Ross 
(1866-1951).
Como sua formação sugere, o autor enfatizava a dimensão social da 
existência humana, situando a psicologia social como uma especialida-
de da sociologia dedicada ao estudo do que denominou uniformidades 
motivadas pela vida em sociedade (ÁLVARO; GARRIDO, 2007). Assim, a 
análise seria dedicada às uniformidades resultantes da associação en-
tre as pessoas.
Para o autor, duas subáreas eram delineadas: a ascendência social, 
relacionada à influência da sociedade sobre os indivíduos, com temas 
como costumes e convenções e a ascendência individual, que dizia res-
peito à análise da liderança, da invençãoe do papel do ser humano. 
Assim, podemos perceber que a dimensão inata do instinto na moti-
vação social, como defendido por McDougall, fica em segundo plano, 
sendo substituída por conceitos como invenção, sugestão e imitação.
Em 1924, a publicação de Psicologia Social, de Floyd Henry Allport 
(1890-1979), é reconhecida por sua contribuição metodológica à con-
solidação da disciplina. O autor é considerado um dos fundadores da 
psicologia social experimental. Sob influência do pensamento behavio-
rista, Allport avançava na distinção entre comportamento e consciência, 
argumentando que a personalidade seria a forma como os indivíduos 
reagem aos estímulos sociais.
Para o autor, os hábitos, pensamentos e reações emocionais eram 
mecanismos psicológicos herdados e modificados ao longo do tempo 
(ÁLVARO; GARRIDO, 2007). Em conjunto, os três autores são conside-
rados expoentes do surgimento e da consolidação do campo de es-
O vídeo Use Social Facilita-
tion To Get Ahead, do canal 
CNA Insider, apresenta 
uma ilustração dos estu-
dos feitos por Norman 
Triplett que influenciaram 
o desenvolvimento da 
psicologia do esporte, 
uma área de pesquisa 
dedicada à análise de 
aspectos do comporta-
mento que influenciam 
e são influenciados pelo 
desempenho no esporte. 
Antes da realização do 
experimento com as 
crianças, Triplett analisou 
o comportamento de 
ciclistas e o efeito da pre-
sença de outras pessoas 
no rendimento.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=d1_
zr4nGzQE. Acesso em: 5 jul.. 2021.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=d1_zr4nGzQE
https://www.youtube.com/watch?v=d1_zr4nGzQE
https://www.youtube.com/watch?v=d1_zr4nGzQE
14 Psicologia social aplicada à segurança
tudos de psicologia social, sendo influentes na perspectiva conhecida 
como behaviorismo. Essa escola argumenta que a compreensão do 
comportamento humano deve enfatizar a observação de proprieda-
des de reforços do ambiente, como as recompensas (atenção, pra-
zer, satisfação etc.) ou as punições (dor e perda) (ARONSON; WILSON; 
AKERT, 2018).
1.1.2 A influência da 
Segunda Guerra Mundial (1930-1950)
A Segunda Guerra Mundial influenciou o desenvolvimento da psi-
cologia social. Com a ascensão do regime nazista liderado por Adolf 
Hitler, na Alemanha, muitas pessoas passaram a se questionar so-
bre as motivações de comportamentos violentos, preconceituosos e 
sádicos. Alguns conceitos importantes na psicologia social foram im-
pulsionados com os esforços em compreender o funcionamento da 
sociedade alemã à época da ascensão totalitarista, como conformida-
de e obediência.
Por exemplo, o sociólogo Everett Hughes (18875-1957) analisou a in-
serção social dos agentes do regime nazista que atuavam nos campos 
de concentração. Suas perguntas de pesquisa incluíam: como eles con-
seguem desempenhar tais funções? Como os demais os viam na sociedade? 
Inicialmente, o autor argumentou que essas funções eram vistas como 
desprezíveis, mas necessárias. Sua definição para esse fenômeno foi o 
conceito de trabalho sujo. Ainda assim, o trabalho era visto de modo 
diferente daqueles que o executavam. As atividades eram delegadas 
a grupos que agiam em nome da coletividade e que, por conseguinte, 
eram estigmatizados pelo aspecto degradante ou sujo de seu trabalho. 
Assim, os trabalhadores sujos eram espécies de párias sociais em virtu-
de dos ofícios que desempenham (HUGHES, 1962).
Outra consequência da Segunda Guerra Mundial foi a imigração de 
pesquisadores da Europa para os Estados Unidos. Esse movimento foi 
compartilhado por milhões de outras pessoas que buscavam escapar 
do conflito e de suas consequências. No caso dos psicólogos sociais, 
esse fluxo de profissionais contribuiu para o desenvolvimento do cam-
po de estudos (KASSIN; FEIN; MARKUS, 2017). A influência europeia 
contrastaria com a percepção dominante do período anterior sobre 
Fundamentos de psicologia social 15
a pesquisa sociopsicológica. Autores como Kurt Lewin (1890-1947) e 
Solomon Asch (1907-1996) argumentavam que o comportamento hu-
mano seria mais bem compreendido em função da interação entre os 
indivíduos e o ambiente, ou seja, na conformação de um todo com ca-
racterísticas distintas da soma das partes.
Em outras palavras, se alguns autores, como Ross, Allport e McDou-
gall, analisavam o comportamento com base em recompensas ou 
punições e viam o grupo e o contexto social como mais uma variável in-
fluenciando os comportamentos, a nova perspectiva enfatizava a dinâ-
mica entre elementos internos e externos ao indivíduo, entendendo o 
grupo social como um agente dotado de dinâmicas próprias. Em outras 
palavras, o funcionamento do grupo social não poderia ser reduzido ao 
somatório das partes, devendo ser compreendido com base em suas 
especificidades e características próprias.
Essa perspectiva ficou conhecida como gestaltismo, uma escola 
do pensamento que argumentava em favor da importância de com-
preender a maneira subjetiva como as pessoas percebem o mundo ao 
seu redor, em detrimento dos atributos físicos e tangíveis dos objetos 
(ARONSON; WILSON; AKERT, 2018).
O psicólogo alemão Kurt Lewin imigrou para os Estados Unidos em 
1933 e ficou conhecido, entre outras contribuições, pela ênfase na in-
terdependência entre o indivíduo e o grupo em que está inserido, uma 
das bases da denominada teoria do campo.
Para o autor, o campo seria o conjunto de fatos coexistentes e inter-
dependentes que se sobrepunha aos indivíduos, influenciando-os. O 
campo permite compreender a conduta humana, enfatizando aspectos 
psicológicos e não físicos; o todo e não as partes; e a dimensão his-
tórica e não pontual do comportamento humano (ÁLVARO; GARRIDO, 
2007). Lewin argumentava que a psicologia deveria seguir o caminho 
das ciências naturais, como a física e a biologia, buscando formular leis 
gerais fundamentadas na frequência dos fenômenos.
Entre seus objetos de pesquisa, Lewin se notabilizou em temas 
como clima de grupo, estilos de liderança, influência social e produtivi-
dade de grupo. Por exemplo, o autor argumentava que o líder desem-
penhava função decisiva no funcionamento do grupo, impactando a 
produtividade e a agressividade. Assim, três tipos de lideranças foram 
caracterizados e estudados pelo autor e seus colaboradores:
16 Psicologia social aplicada à segurança
Liderança autoritária: o foco está na realização das tarefas, e não nas relações 
humanas, sendo que o chefe determina as diretrizes sem participação do grupo.
Liderança delegativa: a execução das tarefas não depende de orientação, sendo 
que o grupo se organiza de modo natural. 
Liderança democrática: foca as relações interpessoais e seu papel está fundado na 
credibilidade que o grupo lhe atribui, sendo que a participação 
do grupo contribui para a tomada de decisão.
Como conclusão, o autor acreditava que o estilo democrático de li-
derança estava associado a processos e resultados melhores.
Já o psicólogo social polonês Solomon Asch publicou trabalhos se-
minais sobre a percepção social e a formação de impressões. Em um 
de seus experimentos sociais, Asch analisou o efeito primazia com a 
apresentação de duas frases para grupos distintos de estudantes uni-
versitários. A primeira dizia que um indivíduo era inteligente, traba-
lhador, impulsivo, crítico, teimoso e invejoso. A segunda apresentava 
essas características, mas na ordem inversa: iniciando por invejoso e 
terminando com inteligente.
Como resultado, os alunos que leram a primeira frase classificaram 
o indivíduo descrito de modo mais positivo do que aqueles que leram 
a segunda frase. A explicação de Asch e seus colaboradores foi que 
informações apresentadas no início são mais persuasivas, ou seja, 
as primeiras impressões são importantes na percepção das pessoas 
(ASCH, 1961).
Em outro experimento, Asch analisou a percepção de traços de 
personalidade. Foram novamente apresentadas descrições de um 
indivíduo a dois grupos de pessoas. O primeiro grupo recebeu uma 
descrição com característicascomo inteligente, habilidoso, trabalha-
dor, caloroso, determinado, prático e cauteloso. O segundo recebeu 
a mesma descrição, mas com uma diferença: em vez de caloroso, o 
indivíduo foi descrito como frio. Mesmo com apenas essa diferença, 
os dois grupos descreveram impressões bastante distintas sobre o 
mesmo indivíduo.
Fundamentos de psicologia social 17
Os participantes inferiram que, além de mais caloroso, o indivíduo 
também era mais feliz, mais generoso e mais bem-humorado do que a 
pessoa fria. Ou seja, com apenas uma característica diferente, outros 
traços de personalidade foram associados de modo diferente. Quan-
do os pesquisadores modificaram outros pares de elementos dessas 
descrições, as alterações não foram tão pronunciadas. Para Asch e 
seus colaboradores, os traços caloroso e frio são considerados traços 
centrais de personalidade, o que significa que eles sugerem a presen-
ça de outros traços de personalidade, exercendo influência sobre as 
impressões que formamos sobre outras pessoas (ASCH, 1961).
Em conjunto, esses dois experimentos ilustram a perspectiva analí-
tica de Asch. Para ele, as impressões são formadas mesmo quando as 
informações são escassas e a fazemos de maneira inter-relacionada. 
O indivíduo é percebido em uma tentativa de fazer sentido e, comu-
mente, essa operação cognitiva é realizada para tornar o mundo mais 
previsível. Novamente, é enfatizado o grupo social como um elemento 
central na psicologia social, em que as impressões são formadas com 
base em características que constituem um todo organizado, e não 
apenas um somatório de partes. O autor também se notabilizou por 
meio de estudos de conformidade social.
1.1.3 Expansão e questionamentos (1960-1975)
A importância da psicologia social consolidou-se ao longo da década 
de 1960. Se as fases anteriores foram marcadas respectivamente pela 
diferenciação da disciplina em relação às demais e por definições con-
ceituais e metodológicas básicas, a partir dos anos 1960, a psicologia 
social vivenciou um período de expansão e questionamentos (KASSIN; 
FEIN; MARKUS, 2017). Com relação à expansão, os estudos passaram a 
ser utilizados em diferentes áreas e a se associarem a dimensões apli-
cadas da vida cotidiana, como em comunicação e marketing, consumo, 
administração, entre outros.
Uma das pesquisas mais influentes em psicologia social foi condu-
zida por Stanley Milgram (1933-1984), entre 1963 e 1974. O objetivo 
geral era compreender os mecanismos de comportamentos relaciona-
dos à obediência. O experimento foi pensado como uma tentativa de 
compreender a ascensão da liderança nazista na Alemanha. Apesar de 
complexo e com nuances metodológicas, o experimento consistia em 
18 Psicologia social aplicada à segurança
simular a administração de choques elétricos a outra pessoa caso ela 
errasse respostas a perguntas simples relacionadas à memorização. Os 
participantes do experimento chegavam ao laboratório da Universida-
de de Yale e conheciam duas pessoas: um cientista e outro homem.
O participante seria designado como professor em um estudo que 
seria sobre aprendizado por meio de punições. Colocado em uma sala 
reservada, o participante era informado que seriam aplicados choques 
elétricos em casos de erros e lhe era apresentada a máquina com 30 
níveis que variavam de 15 volts até 450 volts por choque. O participante 
deveria ler questões e as opções de resposta. Em caso de erros, opções 
de choque deveriam ser aplicadas.
Na verdade, os choques não eram aplicados de fato e o objetivo do 
estudo era compreender os limites e as condicionantes da obediência, 
mesmo quando implicasse dor. Após cada resposta errada e o choque, 
o participante ouvia áudios com reações do outro participante: na me-
dida em que a descarga elétrica aumentava, ouviam-se gritos de dor, 
reclamações, pedidos para interromper o experimento, e assim por 
diante.
No limite, acima de 330 volts, não havia mais gritos, como se o ou-
tro participante não conseguisse mais responder. Muitos participantes 
consultavam o cientista sobre a necessidade de continuar ou se de-
veriam checar se o outro participante estava bem. As respostas eram 
gravadas e sempre indicavam para a continuidade do estudo.
Ao longo das diferentes fases do estudo, Milgram e seus colabora-
dores obtiveram o resultado de que, em média, 65% dos participantes 
aplicaram a punição máxima de 450 volts. As interpretações a respeito 
do experimento são diversas e ainda ensejam discussões na literatura 
especializada. De modo geral, as condições desses experimentos são 
reveladoras sobre a obediência à autoridade. Muitos participantes se 
sentiram mal com a experiência, mas ainda assim continuaram cum-
prindo o que era solicitado. Existem condicionantes que favorecem a 
obediência, como características de personalidade.
Contudo, as circunstâncias contextuais, ou seja, as situações em 
que as pessoas se encontram desempenham um papel importante. 
Por exemplo, quando o experimento foi realizado fora da universidade, 
em um bairro comercial de Connecticut, o nível de obediência reduziu. 
Além disso, quando a autoridade (no caso o cientista) estava presente, 
A pesquisa do professor 
de Yale inspirou o filme O 
Experimento de Milgram, 
em que, são retratadas 
as diferentes fases da 
pesquisa, assim como as-
pectos da vida do próprio 
Stanley Milgram.
ALMEREYDA, M. EUA: Universal 
Studios, 2015.
Filme
Fundamentos de psicologia social 19
a obediência tendia a aumentar, assim como a distância em relação à 
vítima também afetava positivamente a obediência (MILGRAM, 1974). 
Uma das conclusões dos autores diz respeito à obediência diante de 
líderes com capacidade de persuasão, sugerindo os impactos do con-
texto no comportamento das pessoas.
Outro estudo bastante conhecido foi liderado em 1971 por Philip 
Zimbardo (1933-). Chamado de experimento da prisão de Stanford, o es-
tudo reuniu 24 alunos universitários que foram voluntários a atuarem 
como guardas ou prisioneiros de uma prisão simulada em um labora-
tório do Departamento de Psicologia da Universidade de Stanford. O 
objetivo do experimento era investigar as implicações de papéis sociais 
no comportamento humano.
Er
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ik
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 C
om
m
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Placa fixada no local onde foi 
realizado o famoso experimento 
de Stanford, no qual alguns 
estudantes foram designados para 
interpretar o papel de guardas e 
outros ficaram com o papel de 
prisioneiros. Após algum tempo, 
eles acabaram estabelecendo 
rotinas cruéis e degradantes, 
gerando rebeliões e apatia.
A metade dos alunos foi sorteada para serem os guardas, tendo 
recebido equipamentos como apitos e cassetetes. A outra metade dos 
alunos foi colocada em celas e receberam trajes semelhantes a roupas 
de hospitais. Os guardas receberam orientações para manter a ordem 
e as regras, enquanto os prisioneiros foram colocados em situações 
de submissão. Com o passar do tempo, os guardas passaram a sub-
meter os prisioneiros a rotinas degradantes, inclusive com traços de 
crueldade.
Por sua vez, os prisioneiros apresentaram reações diversas, 
sendo alguns apáticos, outros rebeldes e a maioria submissa. 
Percebia-se uma crescente confusão entre o papel desempenhado e a 
própria identidade, chegando a limites que fizeram com que o estudo 
fosse interrompido após duas semanas de duração.
Nas décadas de 1960 e 1970, houve questionamentos quanto aos 
métodos utilizados na psicologia social. O crescente emprego de expe-
rimentos simulados em laboratórios passou a ser criticado por alguns 
pesquisadores. As críticas diziam respeito às limitações de reprodução 
Na obra O efeito Lúcifer: 
como pessoas boas 
se tornam más, Philip 
Zimbardo detalha o 
famoso experimento de 
Stanford. No livro, o autor 
apresenta a preparação, 
o desenvolvimento e as 
análises conduzidas após 
o estudo. Além do livro, o 
experimento foi adaptado 
para o cinema pelo dire-
tor Kyle Patrick Alvarez, 
em 2015.
ZIMBARDO, P. 4 ed. Rio de Janeiro: 
Record, 2012.
Livro20 Psicologia social aplicada à segurança
das condições sociais em ambientes controlados, como os laborató-
rios. Em última medida, argumentava-se que as conclusões poderiam 
ser comprometidas pelo design do estudo e não revelar aspectos dos 
fenômenos estudados.
Além disso, os limites éticos dos estudos foram problematizados. 
Por exemplo, o experimento de Milgram suscitou discussões sobre a 
potencial exposição dos participantes a danos psicológicos. Em geral, 
os questionamentos revelavam o próprio desenvolvimento do campo 
de estudo, em que a diversidade de fenômenos estudados, as aborda-
gens analíticas e o aumento do interesse favoreciam posicionamentos 
mais críticos. Entretanto, os questionamentos foram superados por 
meio de um direcionamento crescente da atenção dos pesquisadores 
a problemas concretos da sociedade.
Por exemplo, como destacam Hewstone, Stroebe e Jonas (2016), a 
psicologia da saúde é um desdobramento da psicologia social. Entre as 
suas contribuições, como ilustração, está a busca em compreender as 
motivações de comportamentos relacionados à saúde (fumar, comer 
ou beber em demasia etc.) e no desenvolvimento de intervenções para 
modificá-los.
1.1.4 Era de pluralismos (1975-anos 2000)
O período seguinte está relacionado a avanços metodológicos e 
éticos e à inclusão de novos objetos e perspectivas. Inicialmente, os 
avanços metodológicos e éticos dizem respeito a modificações nas es-
tratégias de pesquisa. Como veremos nas seções seguintes, os méto-
dos de pesquisa em psicologia social envolvem riscos aos envolvidos.
O aperfeiçoamento dos limites de procedimentos busca garantir 
a segurança física e psicológica, sem comprometer o rigor científico. 
Como argumentam Hewstone, Stroebe e Jonas (2016), os laboratórios 
continuaram a ser utilizados, mas outras técnicas foram incorporadas, 
em especial aquelas que se beneficiam de recursos tecnológicos e in-
formacionais na condução de experimentos sociais.
Com relação aos novos objetos e perspectivas analíticas, dois aspec-
tos são importantes. Primeiro, a psicologia social passou a ser compar-
tilhada por pesquisadores de diferentes partes do mundo. A influência 
de aspectos culturais na produção científica sociopsicológica pode ser 
Fundamentos de psicologia social 21
percebida pela diversidade de fenômenos estudados em contextos di-
ferentes. Na América Latina, por exemplo, a psicologia social foi forte-
mente influenciada pela escola estadunidense até a década de 1970 
(FERREIRA, 2011).
No período seguinte, a produção local passou a ser orientada para 
as questões políticas e sociais do continente, que passava pelos pe-
ríodos dos regimes militares. Essa contextualização da produção aca-
dêmica repercutiu, no caso latino-americano, em uma escola própria, 
denominada psicologia social crítica (ÁLVARO; GARRIDO, 2007), que pri-
vilegiava técnicas como a análise do discurso.
Em segundo lugar, as diferentes tendências na psicologia social con-
vivem em um campo também cada vez mais diverso. Nesse sentido, o 
surgimento de novos objetos e abordagens acompanha o desenvolvi-
mento social de uma maneira mais geral. Por exemplo, os avanços em 
pesquisas biológicas têm revelado o potencial do campo de estudos 
que investiga os impactos dos genes nos comportamentos (KASSIN; 
FEIN; MARKUS, 2017).
Diferentes abordagens analisam, de maneira multidisciplinar, possí-
veis efeitos de características biológicas sobre identidades, por exem-
plo. Por outro lado, os avanços nas tecnologias de comunicação têm 
possibilitado a análise de fenômenos sob uma perspectiva cultural. 
Grosso modo, quando nos referimos à cultura, estamos falando de sig-
nificados, valores, práticas, tradições e hábitos que são compartilhados 
por determinado grupo de pessoas e transmitidos ao longo do tem-
po. Os fenômenos sociais são influenciados por elementos culturais, 
ou seja, as maneiras como nos portamos, reagimos e pensamos indivi-
dualmente estão relacionadas aos grupos em que nos inserimos.
Muitos psicólogos sociais têm se dedicado a entender as diferenças 
nos comportamentos com base na perspectiva cultural, privilegiando 
aspectos do contexto social e histórico. Assim, as teorias podem ser 
testadas em contextos sociais diferentes daqueles em que foram de-
senvolvidas. A possibilidade de generalização dessas teorias é colocada 
à prova, possibilitando o seu aperfeiçoamento e sua modificação.
Além disso, não são apenas as fronteiras de países que estão sendo 
transpostas. As fronteiras de disciplinas também estão sendo testadas 
por meio de abordagens multidisciplinares, que envolvem elementos 
22 Psicologia social aplicada à segurança
de diferentes perspectivas científicas. Por exemplo, os estudos sobre 
comportamentos econômicos ou políticos incorporam pressupostos 
de áreas distintas (como a psicologia social, a economia e a política) 
para compreender fenômenos estudados de modo isolado anterior-
mente. Existem estudos que analisam a tomada de decisão em ques-
tões econômicas com base em conceitos da psicologia social, chegando 
a resultados que questionam os estudos anteriores (KASSIN; FEIN; 
MARKUS, 2017).
Outro exemplo é a neurociência social, ou seja, o estudo dos 
aspectos neurológicos de fenômenos sociopsicológicos. Utilizando 
técnicas que permitem o estudo do funcionamento do cérebro por 
meio de imagens, essa área de estudo analisa o comportamento 
neurológico enquanto os indivíduos processam informações sociais 
(RAINE, 2015).
1.2 Definições e conceitos 
Vídeo A psicologia social é uma fascinante área de estudos. Os seus princi-
pais conceitos e definições estão relacionados à diversidade dos fenô-
menos estudados. As possibilidades de análises sobre como os nossos 
comportamentos são influenciados por outras pessoas ou pelo con-
texto em que nos inserimos são inúmeras. As aplicações desse conhe-
cimento à área de segurança são igualmente profícuas e extensas. Em 
um esforço de situarmos as bases para as discussões futuras, imagine 
algumas situações, que para muitos são corriqueiras:
1
Logo cedo, José e Capitu acordam e vão 
juntos comprar o café da manhã. Chegando 
à padaria, o casal reconhece o seu vizinho 
Antônio e se aproxima para cumprimentá-lo. 
Enquanto conversavam, uma mulher jovem 
se aproximou de Antônio e disse estar pronta 
para irem embora. Ao se despedirem, Capitu 
e José comentaram que o vizinho não estava 
usando a aliança de seu casamento com Ísis, 
colega de infância de Capitu. No caminho 
para casa, o assunto no carro foi a possível 
separação de Antônio e Ísis.
Ge
or
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y/
Sh
ut
te
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ck
Conhecer as principais 
definições sobre psico-
logia social, destacando 
aspectos centrais em sua 
diferenciação com outras 
áreas de estudo.
Objetivo de aprendizagem
Fundamentos de psicologia social 23
2
Carlos tinha 15 anos quando se matriculou na 
academia de musculação próxima à sua casa 
com um grupo de colegas da escola. Apesar 
de não gostar de se exercitar, ele dizia que 
ganhar massa muscular facilitaria sua vida na 
escola. Sua mãe insistia para que ele se dedi-
casse aos estudos e para a prova do vestibu-
lar que se aproximava. Contudo, ele parecia 
ter outros interesses que incluíam assistir a 
vídeos e ler fanfics na internet. 
Le
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Sh
ut
te
rs
to
ck
Essas situações não são reais. Mesmo assim, elas retratam intera-
ções comuns no cotidiano de algumas pessoas e ilustram, entre tantos 
outros, fenômenos estudados pela psicologia social. Uma das defini-
ções mais conhecidas argumenta que a psicologia social compreende o 
“estudo científico de como as pessoas pensam, influenciam e se relacio-
nam umas com as outras” (MYERS, 2014, p. 28). Diferentes aspectos das 
situações citadas ilustram os interesses analíticos da psicologia social. 
Por exemplo, José e Capitu pensaram que Antônio estava em outro 
relacionamento ao vê-lo sem aliança e com outra mulher. É possível 
que essa situação os tenha levado a pensar sobre o seu próprio rela-
cionamento. Talvez tenham sesentido mal pelo término da relação do 
casal de amigos. 
A decisão de Carlos em se matricular na academia foi influenciada 
pelo convívio na escola. Sabemos como a vida no ensino médio pode 
ser difícil e as relações entre adolescentes são vivenciadas e sentidas 
de maneira muito intensa. O argumento de facilitar a sua vida na escola 
pode estar associado à intenção de se encaixar em um padrão estético, 
ou seja, uma pressão para se conformar àquela realidade mediante a 
influência dos demais.
Muitas outras interpretações poderiam ser feitas com base nessas 
situações. Pode ser que a jovem que se aproximou de Antônio seja uma 
sobrinha e que sua aliança tenha sido levada para polir, assim como o 
comportamento de Carlos pode ter sido motivado pelo interesse em 
melhorar suas notas de Educação Física ou mesmo sua disposição para 
estudar. Enfim, existem diversas abordagens para interpretar as situa-
ções que vivenciamos cotidianamente. Esse tipo de análise pode ser 
conduzido em quase todas essas situações.
24 Psicologia social aplicada à segurança
Os processos associados a como pensamos (percepções, atitudes, 
julgamentos, crenças), a como nos relacionamos (preconceito, agres-
são, atração, ajuda) e a como influenciamos uns aos outros (cultura, 
persuasão, conformidade) são objetos comuns da análise científica 
conduzida sob as lentes da psicologia social (MYERS, 2014), conforme 
mostra a figura a seguir.
Figura 2
Áreas de estudo da psicologia social
Fonte: Adaptada de Heinzen; Goodfriend, 2018.
Pensamento 
social
Comportamento 
social
Influência 
social
Dimensões 
aplicadas 
de estudo
Outro conceito notabilizado sobre a psicologia social foi apresen-
tado por Gordon Allport (1897-1967), em 1954. Para o autor estadu-
nidense, a psicologia social é “o estudo científico da forma como os 
pensamentos, sentimentos e comportamentos das pessoas são in-
fluenciados pela presença real, imaginada ou assumida de outras pes-
soas” (ALLPORT, 1985 apud ARONSON; WILSON; AKERT, 2018, p. 23). 
Em outras palavras, o autor destaca como o interesse analítico sobre 
como o comportamento individual é influenciado pelo ambiente social 
em que se insere.
A utilização dos termos pensamentos, sentimentos e comportamentos 
não é casual, diz respeito à aplicação do método científico na análise de 
características observáveis empiricamente. Não apenas a observação 
sistemática, mas a descrição e a mensuração das formas como pensa-
mos, sentimos e agimos em diferentes contextos sociais caracterizam 
a abordagem científica da psicologia social.
Em um breve exercício, imagine como você agiria em uma situação 
qualquer se estivesse sozinho, se houvesse outras pessoas no mesmo 
ambiente ou, ainda, se essas pessoas fossem seus amigos. Suas rea-
ções seriam diferentes? Comparando os três cenários, você deve ter 
Na obra O que é psicologia 
social, a professora da 
PUC-SP, Silvia Lane, apre-
senta de maneira didática 
e objetiva os conceitos 
mais importantes da 
psicologia social. A obra 
introdutória articula 
noções caras a esse 
campo do conhecimento, 
como identidade social, 
consciência, grupo social 
e linguagem, por meio de 
exemplos que ilustram 
sua extensão analítica. A 
autora é uma referência 
obrigatória nas disciplinas 
que tratam de psicologia 
social, sendo conhecida 
por sua contribuição para 
a dimensão aplicada da 
disciplina.
LANE, S. T. M. 22. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 2017.
Livro
Fundamentos de psicologia social 25
percebido como as pessoas exercem influência sobre como pensamos, 
sentimos e nos comportamos. Além disso, a definição de Allport salien-
ta que a influência social ocorre mesmo quando outras pessoas não 
estão fisicamente presentes, ou seja, mesmo sozinhos os indivíduos 
são influenciados, por exemplo, por normas culturais internalizadas.
Já para Lane, no clássico livro de 1981 (O que é psicologia social), a 
psicologia social “estuda a relação essencial entre o indivíduo e a so-
ciedade, esta entendida historicamente, desde como seus membros se 
organizam para garantir sua sobrevivência até seus costumes, valores 
e instituições” (2017, p. 10). A definição da autora enfatiza a dimensão 
sócio-histórica da relação entre o indivíduo e a sociedade, com profun-
das implicações sobre os mecanismos de influência social. Para Lane, 
a dimensão aplicada da produção científica possibilita relações mútuas 
entre os indivíduos e o contexto como agentes de transformação social 
ou, em suas palavras, como “agentes da história” (LANE, 2017, p. 10).
Em conjunto, essas definições enfatizam características como:
utilização do 
método científico 
para o estudo de 
processos cognitivos 
relacionados ao 
pensamento social, à 
influência social e às 
relações sociais;
relevância do papel 
das normas culturais 
na influência social;
ênfase nas 
formas como o 
comportamento 
individual é 
influenciado pelo 
ambiente social em 
que se insere;
dimensão aplicada da 
produção científica 
na compreensão 
do indivíduo como 
agente da história.
Assim, as áreas de estudo da psicologia social podem ser reunidas 
em três principais grupos: pensamento social, influência social e relações 
sociais. Em seguida, veremos como a psicologia social se relaciona com 
o senso comum e outras disciplinas.
1.2.1 Psicologia social e senso comum
O senso comum é uma espécie de conhecimento que se fundamen-
ta na experiência prática transmitida em diferentes formas de socia-
lização. São conhecimentos orientados para atividades práticas, logo, 
dirigidos a ações. O senso comum é tipicamente um raciocínio popular, 
dirigido a fazer sentido no cotidiano das pessoas. Por vezes, é associa-
do à intuição das pessoas, por exemplo, quando falamos que comer 
manga com leite faz mal ou que deixar um sapato com a sola virada 
para cima traz azar ou, ainda, que andar descalço durante o frio faz mal 
à saúde. São expressões típicas do senso comum e que, caso sejam 
submetidas à análise científica, podem inclusive estar corretas. Não pa-
rece ser o caso de nenhum desses exemplos.
No caso da psicologia social, não é diferente. Os fenômenos estu-
dados estão à nossa volta e compõem a rotina das pessoas. Por vezes, 
os resultados de pesquisas complexas serão coincidentes com os co-
nhecimentos populares. Em muitos outros casos, os resultados serão 
distintos. Nem toda descoberta científica será revolucionária, muitas 
de fato não são. O que de modo algum implica menor validade do co-
nhecimento científico. De antemão, não são os resultados em si que 
distinguem o senso comum e o pensamento científico, mas o caminho 
percorrido para alcançá-los e as formas de interpretá-los.
A respeito dos caminhos, a utilização do método sistemático, com 
controle de variáveis, replicável e falseável é um ponto importante 
de distinção.
Já as formas de interpretar os fenômenos mobilizam outros as-
pectos, cujos mecanismos são estudados, inclusive, pela própria psi-
cologia social.
A noção de viés de retrospectiva diz respeito aos erros ao julgar a 
previsibilidade do futuro com base nos conhecimentos prévios (MYERS, 
2014). Assim, por exemplo, é comum que quando ocorre um evento 
inesperado busquemos explicações com base em nossas próprias ex-
 Kumpanat Phewphong/Shutterstock
2626 Psicologia social aplicada à segurança Psicologia social aplicada à segurança
INTUIÇÃOLÓGICA
Fundamentos de psicologia social 27
periências. São mecanismos para tornar organizado o mundo ao nosso 
redor, facilitando a sua compreensão.
Normalmente, o viés de retrospectiva é generalizado, ou seja, ocorre 
com todas as pessoas em diferentes momentos. Myers (2014, p. 36) 
propõe o seguinte exercício para demonstrar esse conceito: componha 
dois grupos de pessoas, podem ser amigos, colegas, parentes. Depois, 
informe dois resultados contraditórios de pesquisas psicológicas para 
cada grupo. Ao primeiro, diga que:
Psicólogos sociais descobriram que somos atraídos por pessoas cujas 
características sejam diferentes das nossas. Isso vale quando escolhemosamigos ou nos apaixonamos.
Para o segundo grupo, diga que:
Psicólogos sociais descobriram que somos atraídos por pessoas cujas ca-
racterísticas sejam semelhantes às nossas. Isso vale quando escolhemos 
amigos ou nos apaixonamos.
Em seguida, pergunte o que as pessoas acharam desses resultados. 
Questione, ainda, se acharam o resultado surpreendente ou não. Mui-
to provavelmente, as pessoas encontrarão boas razões, alguns até com 
exemplos pessoais ou que ouviram falar, para justificar as máximas: os 
opostos se atraem, do primeiro caso, ou diga-me com quem andas e direi 
quem tu és, do segundo caso.
Esse é um exercício simples, porém revelador de como buscamos 
fazer sentido o mundo ao nosso redor. O conhecimento popular está 
pronto ao nosso alcance e é comumente utilizado. No entanto, ele 
ocorre após o fato, ou seja, não oferece condições de predição do que 
ocorrerá no futuro e isso a pesquisa científica busca oferecer. Não há 
nada de errado com a utilização do senso comum, muito pelo contrá-
rio, fazemos isso o tempo todo.
Contudo, a pesquisa científica é um poderoso recurso para nos auxi-
liar cotidianamente, inclusive avaliando se a sabedoria popular é válida 
ou não. De outra forma, o senso comum é uma espécie de engenheiro 
de obra pronta ou apenas o “eu já sabia” do nosso exemplo anterior, 
com limitadas possibilidades de predição dos fenômenos futuros e de 
suas circunstâncias.
para cima traz azar ou, ainda, que andar descalço durante o frio faz mal 
à saúde. São expressões típicas do senso comum e que, caso sejam 
submetidas à análise científica, podem inclusive estar corretas. Não pa-
rece ser o caso de nenhum desses exemplos.
No caso da psicologia social, não é diferente. Os fenômenos estu-
dados estão à nossa volta e compõem a rotina das pessoas. Por vezes, 
os resultados de pesquisas complexas serão coincidentes com os co-
nhecimentos populares. Em muitos outros casos, os resultados serão 
distintos. Nem toda descoberta científica será revolucionária, muitas 
de fato não são. O que de modo algum implica menor validade do co-
nhecimento científico. De antemão, não são os resultados em si que 
distinguem o senso comum e o pensamento científico, mas o caminho 
percorrido para alcançá-los e as formas de interpretá-los.
A respeito dos caminhos, a utilização do método sistemático, com 
controle de variáveis, replicável e falseável é um ponto importante 
de distinção.
Já as formas de interpretar os fenômenos mobilizam outros as-
pectos, cujos mecanismos são estudados, inclusive, pela própria psi-
cologia social.
A noção de viés de retrospectiva diz respeito aos erros ao julgar a 
previsibilidade do futuro com base nos conhecimentos prévios (MYERS, 
2014). Assim, por exemplo, é comum que quando ocorre um evento 
inesperado busquemos explicações com base em nossas próprias ex-
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2626 Psicologia social aplicada à segurança Psicologia social aplicada à segurança
INTUIÇÃOLÓGICA
28 Psicologia social aplicada à segurança
1.2.2 Interseções analíticas
A psicologia social é uma área ainda pouco conhecida da psicologia 
pela maioria das pessoas. Não raro, os psicólogos sociais são associa-
dos às atividades típicas dos psicólogos clínicos, por exemplo. Antes 
de iniciar a leitura deste capítulo, qual foi a sua primeira impressão 
sobre o que iria encontrar? Ao comentar com colegas ou familiares que 
está estudando sobre psicologia social, quais foram as reações deles? 
Não seria surpreendente se alguém lhe pedisse ajuda para analisar 
alguém ou alguma situação. Talvez você também esperasse encontrar 
elementos típicos da psicologia clínica. Em comum, essas impressões 
estão relacionadas à forma como o senso comum associa a psicologia 
ao tratamento de desordens ou transtornos sob o ponto de vista clí-
nico. Entretanto, a psicologia é muito ampla e diversa, com interesses 
e metodologias distintas entre suas áreas de especialização, como a 
psicologia social.
Por exemplo, enquanto a psicologia clínica enfatiza a compreensão 
e o tratamento de condições comportamentais, como os transtornos, 
a psicologia social analisa as formas mais comuns que as pessoas uti-
lizam para pensar, sentir, relacionar-se e influenciar-se mutuamente 
(ARONSON; WILSON; AKERT, 2018). Na análise da personalidade, os psi-
cólogos clínicos enfatizam as diferenças entre os indivíduos, enquanto 
os psicólogos sociais se dedicam a compreender como fatores e ele-
mentos sociais impactam os indivíduos apesar de seus traços de per-
sonalidade. De toda forma, é comum que as explicações entre as áreas 
da psicologia colaborem entre si.
A psicologia social está inserida no contexto da psicologia. Como 
tal, compartilha conceitos, objetos, preocupações e perspectivas com 
outras áreas da psicologia. A psicologia clínica dedica-se, por exemplo, 
ao cuidado e ao tratamento de pessoas com pensamentos ou compor-
tamentos que possam comprometer a sua saúde. O psicólogo social, 
por sua vez, ocupa-se com a dimensão relacional e típica de comporta-
mentos, pensamentos e sentimentos.
De modo geral, a psicologia social aproxima os interesses da psi-
cologia, com foco no comportamento individual e seus processos, 
àqueles da sociologia, com foco nas estruturas sociais e nos processos 
coletivos. A psicologia social enfatiza a natureza social dos indivíduos. 
Fundamentos de psicologia social 29
Esse enfoque propicia intersecções com outras áreas de estudo, como 
a sociologia. São muitos os interesses comuns entre a sociologia e a 
psicologia social, não sendo raras trajetórias de pesquisadores com in-
fluências de ambas as áreas. Contudo, são abordagens distintas, com 
características e interesses próprios.
De maneira geral, a sociologia tende a privilegiar a análise de cate-
gorias como classe, instituições e estrutura sobre fenômenos sociais. 
Naturalmente, o indivíduo faz parte do conjunto analítico mobilizado 
por sociólogos, mas, diferentemente da psicologia social, as explica-
ções consideram aspectos relacionados à estrutura social, ao grupo, às 
instituições ou até mesmo à sociedade de modo geral.
Com isso, as unidades de análise da explicação sociológica tendem 
a incluir grupos, bairros, vizinhanças, cidades etc., enfatizando carac-
terísticas sociais e demográficas, como gênero, classe social, faixa etá-
ria, raça, entre outras. Já a psicologia social analisa características dos 
indivíduos, utilizando categorias como atitudes, percepções, valores e 
motivação. Nesse caso, a unidade de análise é o indivíduo em um dado 
contexto social, tendo como objetivo identificar características indivi-
duais que estejam relacionadas com a influência social.
Essa distinção pode ser mais bem explorada por meio da análise 
da violência. Na qualidade de fenômeno, a violência pode ser descri-
ta por diferentes variáveis, por exemplo, a incidência de homicídios. 
Sociólogos e psicólogos sociais, ao analisarem aspectos relacionados 
à violência, enfatizam aspectos distintos do mesmo fenômeno e, por 
vezes, oferecem explicações complementares. Assim, é comum que 
psicólogos sociais busquem compreender as causas de comportamen-
tos agressivos ou preconceituosos que podem resultar em homicídios, 
por exemplo.
Para tanto, são mobilizados conceitos como aprendizado, reforço, 
frustração, autocontrole, entre outros. Já os sociólogos tendem a ana-
lisar características sociais que possam influenciar a incidência criminal, 
como condições de renda, faixa etária, raça, até infraestrutura urbana e 
tendências demográficas. Com isso, até mesmo as perguntas de pesqui-
sa comumente são diferentes nesses casos: enquanto o sociólogo ques-
tionaria “como as características das vizinhanças impactam a incidência 
criminal?”, o psicólogo social estaria interessado em questionar: “como 
processos de aprendizagem influenciam comportamentos agressivos?”.
1.3 Métodos de pesquisa 
Vídeo As relações entre o indivíduo e a sociedade são complexas. Por um 
lado, os indivíduos exercem influência entre si, impactandopessoas 
próximas, como amigos e familiares, e até desconhecidos. As dinâmicas 
de comunicação no meio digital têm agregado novas condicionantes e 
modificado o alcance dessas influências. Por outro lado, os indivíduos 
são influenciados pelos demais, refletindo nos comportamentos, sen-
timentos e atitudes. Em ambos os sentidos, a psicologia social busca 
analisar diferentes objetos com base em diversos métodos e técnicas 
de pesquisa.
Os métodos de pesquisa em psicologia social são variados e, comu-
mente, são utilizados de modo complementar em uma mesma pes-
quisa. Essa é a noção de abordagem multimétodos, segundo a qual 
são reconhecidas as vantagens e as desvantagens de abordagens iso-
ladamente, o que é mitigado com a utilização de mais de um método 
para estudar o mesmo fenômeno (GÜNTHER, 2011). Em última medi-
da, particularmente nas ciências sociais, as incertezas são muitas e a 
abordagem multimétodos melhora a qualidade dos resultados. A esse 
respeito, Sommer e Sommer (2002) sugerem a seguinte distinção entre 
os métodos de pesquisa em ciências sociais:
Apresentar os principais 
métodos utilizados em 
pesquisas no campo de 
psicologia social.
Objetivo de aprendizagem
PESQ
UISA
Base d
e dado
s
Anális
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ck
3030 Psicologia social aplicada à segurança Psicologia social aplicada à segurança
Fundamentos de psicologia social 31
1.3 Métodos de pesquisa 
Vídeo As relações entre o indivíduo e a sociedade são complexas. Por um 
lado, os indivíduos exercem influência entre si, impactando pessoas 
próximas, como amigos e familiares, e até desconhecidos. As dinâmicas 
de comunicação no meio digital têm agregado novas condicionantes e 
modificado o alcance dessas influências. Por outro lado, os indivíduos 
são influenciados pelos demais, refletindo nos comportamentos, sen-
timentos e atitudes. Em ambos os sentidos, a psicologia social busca 
analisar diferentes objetos com base em diversos métodos e técnicas 
de pesquisa.
Os métodos de pesquisa em psicologia social são variados e, comu-
mente, são utilizados de modo complementar em uma mesma pes-
quisa. Essa é a noção de abordagem multimétodos, segundo a qual 
são reconhecidas as vantagens e as desvantagens de abordagens iso-
ladamente, o que é mitigado com a utilização de mais de um método 
para estudar o mesmo fenômeno (GÜNTHER, 2011). Em última medi-
da, particularmente nas ciências sociais, as incertezas são muitas e a 
abordagem multimétodos melhora a qualidade dos resultados. A esse 
respeito, Sommer e Sommer (2002) sugerem a seguinte distinção entre 
os métodos de pesquisa em ciências sociais:
Apresentar os principais 
métodos utilizados em 
pesquisas no campo de 
psicologia social.
Objetivo de aprendizagem
PESQ
UISA
Base d
e dado
s
Anális
e
teste
Ra
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3030 Psicologia social aplicada à segurança Psicologia social aplicada à segurança
Quadro 1
Exemplos de pesquisa social
Tema Abordagem Técnicas de pesquisa
Comportamento em ambiente público Observar os indivíduos Observação direta
Comportamento em ambiente privado Registrar eventos em um diário Documentos
Pensamentos, ideias, convicções Perguntar aos indivíduos Entrevistas, questionários
Traços de personalidade ou habilidades mentais Utilizar testes padronizados Testes psicológicos
Padrões (materiais escritos ou visuais) Tabular as respostas a testes Análise de conteúdo
Experiências anteriores Avaliar documentos Pesquisa documental
Fonte: Sommer; Sommer, 2002, p. 6 apud Gunther, 2011, p. 57.
Entre as diferentes abordagens, destacaremos as perspectivas ob-
servacional, correlacional e experimental (ARONSON; WILSON; AKERT, 
2018). Vejamos mais sobre cada uma delas.
1.3.1 Perspectiva observacional
A perspectiva observacional privilegia a descrição do comportamen-
to humano por meio da observação dos indivíduos e do registro de 
características que permitam distinguir padrões e diferenças. Essa es-
tratégia pode assumir diferentes formas e ser realizada por meio de 
técnicas que dependem das circunstâncias e das características da pes-
quisa e de seus objetivos, bem como dos fenômenos observados.
Um exemplo é quando um pesquisador acompanha a rotina de alu-
nos em uma sala de aula para compreender comportamentos altruís-
tas entre eles. Essa é uma situação em que a observação dos diferentes 
aspectos dos alunos, naquele contexto, permite compreender elemen-
tos que dificilmente seriam perceptíveis por meio de questionários.
A observação comumente não requer equipamentos tecnológicos, 
mas demanda tempo para sua realização. Por vezes, os pesquisadores 
permanecem dias, semanas e até meses observando seus sujeitos de 
pesquisa. Entre os procedimentos adotados pelos pesquisadores, es-
tão o registro em cadernos de campo ou em gravações de áudio dos 
aspectos observados, além da categorização em termos de frequência, 
intensidade, características e outros elementos importantes do contex-
to observado (LAVILLE; DIONNE, 1999).
Outra técnica de pesquisa observacional são as entrevistas quali-
tativas. De modo semelhante a outras áreas do conhecimento, as en-
Victor FlowerFly/Shutterstock
3232 Psicologia social aplicada à segurança Psicologia social aplicada à segurança
trevistas são técnicas de pesquisa que permitem o contato direto do 
pesquisador com os seus interlocutores. Normalmente, os pesquisa-
dores apresentam os objetivos das entrevistas, informam sobre as con-
dições de confidencialidade e, caso desejem gravar a conversa, pedem 
o consentimento do entrevistado. As entrevistas geralmente são orga-
nizadas por meio de roteiros semiestruturados ou estruturados que 
contemplam os principais aspectos da interação. Espera-se que nas en-
trevistas o indivíduo tenha oportunidade de apresentar o seu ponto de 
vista a respeito dos temas, cabendo ao pesquisador explorar aspectos 
que lhe sejam interessantes.
Por fim, destacamos a análise de conteúdo. Nesse caso, o pesqui-
sador busca descrever e sistematizar o conteúdo da comunicação, seja 
ela por escrita, verbal ou por imagens (GÜNTHER, 2011). Os procedi-
mentos da análise de conteúdo envolvem a análise de textos, trans-
crições de entrevistas ou imagens a respeito do fenômeno estudado. 
Por exemplo, a análise de posts em redes sociais pode revelar aspectos 
sobre comportamentos antissociais. Nesse caso, os objetos analisados 
seriam tanto os textos quanto os vídeos e as fotos postadas. Entre os 
diferentes procedimentos analíticos, existem softwares que auxiliam 
os pesquisadores na análise de conteúdo e nas entrevistas, como o 
NVivo, o AtlasTI e o MAXqda.
1.3.2 Perspectiva correlacional
A perspectiva correlacional busca predizer o comportamento so-
cial por meio da análise das relações entre variáveis. Para tanto, essas 
Fundamentos de psicologia social 33
variáveis são exaustivamente observadas, medidas e analisadas. Com 
isso, passa a ser possível predizer uma variável com base em outra. 
Por exemplo: qual é a relação entre o acesso a filmes violentos com a 
agressividade? Existe uma relação entre ser vítima de violências sexuais 
quando criança e cometer essas violências quando adulto? Para res-
ponder a essas questões, a perspectiva correlacional pode ser utilizada.
As pesquisas correlacionais não oferecem conclusões sobre causa 
e efeito, ou seja, não permitem afirmar que a variável A é a causa da 
variável B. De outra forma, esse tipo de pesquisa não permite concluir 
que a mudança em uma variável altere outra variável (MYERS, 2014).
Com relação ao exemplo anterior, esse tipo de pesquisa permite 
prever a probabilidade de que o acesso a filmes com conteúdo violen-
to influencie comportamentos agressivos. Por outro lado, não permite 
dizer se a mudança de uma variável (assistir a filmes violentos) causará 
alterações em outras (comportamentos agressivos). Essa probabilida-
de é expressa por meio de um coeficiente de correlação (conhecido 
como r), que quantifica o grau de relacionamento entre dois fatores.
Essecoeficiente varia entre -1 e +1, assim como afirmamos que dois 
fatores têm coeficiente de correlação de -0.5, isso quer dizer que a rela-
ção é negativa entre eles. Isso significa que o aumento do valor de uma 
variável está associado à redução do valor de outra.
As pesquisas correlacionais normalmente utilizam os dados coleta-
dos em surveys ou questionários. Esses instrumentos são aplicados em 
amostras representativas e aleatórias 1 da população, consistindo em 
perguntas sobre atitudes ou comportamentos (ARONSON; WILSON; 
AKERT, 2018). Uma das vantagens dos surveys é a possibilidade de ana-
lisar variáveis que dificilmente seriam observadas em outros contextos, 
por exemplo, sexo, etnia e status social.
1.3.3 Perspectiva experimental
A perspectiva experimental reúne estratégias de pesquisa que per-
mitem estabelecer relações de causa e efeito. A observação dos fe-
nômenos e a constatação de correlações não permitem discernir os 
mecanismos de causa e efeito entre as diferentes variáveis. Para tanto, 
os psicólogos sociais simulam em laboratório situações que permitem 
observar aspectos dos fenômenos estudados. A simulação de situa-
ções sociais consiste na reprodução de condicionantes importantes de 
nossas vidas.
Amostras aleatórias são 
amostras em que todos 
aqueles que integram a 
população estudada pos-
suem as mesmas chances 
de serem selecionados.
1
34 Psicologia social aplicada à segurança
Grosso modo, são importantes os seguintes conceitos: variáveis in-
dependentes, variáveis dependentes e designação aleatória. As variá-
veis sobre as quais o pesquisador tem controle no experimento são 
denominadas independentes. A variável que expressa o fenômeno es-
tudado é a variável dependente. Já a designação aleatória é a condi-
ção segundo a qual os sujeitos de pesquisa apresentam as mesmas 
condições de serem selecionados para integrarem os grupos de con-
trole (aquele que não sofrerá efeitos de alteração das variáveis) e ex-
perimental (aquele que será submetido a variações). Vamos utilizar um 
exemplo para ilustrar a perspectiva experimental e seus conceitos.
Imaginemos que estamos estudando os efeitos de assistir a progra-
mas violentos com comportamentos agressivos. Será que as crianças 
aprendem e repetem os comportamentos a que assistem na televisão? 
Para tanto, pesquisadores conduziram um experimento em que crian-
ças do ensino fundamental eram aleatoriamente divididas em dois 
grupos: controle e tratamento. Para o primeiro grupo, foram exibidos 
episódios sem violência e para o segundo, episódios com violência.
Logo após o episódio, as crianças foram observadas e aquelas que 
viram o episódio violento cometeram sete vezes mais atos agressivos 
por intervalos de dois minutos do que aquelas que não viram o mes-
mo conteúdo. Em conjunto, esses experimentos indicam que assistir a 
programas violentos pode ser uma causa do comportamento agressivo 
observado naquelas crianças (BOYATZIS et al., 1995 apud MYERS, 2014).
Com base nesse exemplo, identificamos que a variável dependente 
é o comportamento agressivo das crianças. A variável independente é 
a exposição ou não a episódios violentos. O grupo de controle assistiu 
aos episódios sem violência e o grupo experimental, com violência. É 
importante destacar que os alunos foram designados de maneira alea-
tória para cada um dos grupos.
Alguns aspectos são importantes na perspectiva experimental. Primei-
ro, o design de pesquisa parece ser relativamente simples, mas na prática 
não é. As medidas que o pesquisador deve adotar para garantir as condi-
ções do experimento são, por vezes, difíceis de serem alcançadas, exigin-
do a repetição de várias etapas do experimento. Segundo, a designação 
aleatória ou randomizada é central para a perspectiva experimental.
Ao garantir que os participantes apresentam as mesmas chances de 
serem designados para qualquer grupo do experimento, o pesquisador 
Fundamentos de psicologia social 35
pode assumir com alguma certeza que as diferenças nas características 
dos participantes (condições socioeconômicas, atitudes, personalida-
de) são distribuídas igualmente entre os grupos analisados. Com isso, 
as diferenças nas variáveis de interesse podem ser atribuídas às modi-
ficações promovidas pelo próprio pesquisador.
Por fim, as condições éticas de realização de experimentos nem 
sempre são inofensivas para os participantes. Os cuidados na realiza-
ção de pesquisas com seres humanos exigem medidas, como a sub-
missão dos projetos de pesquisa aos comitês de ética em pesquisa, 
órgãos com responsabilidade sobre a avaliação e a autorização de pes-
quisas em alguns contextos.
Em suma, não existe uma estratégia essencialmente melhor do que 
a outra. Todas apresentam pontos positivos e negativos. A adequação 
de cada estratégia está relacionada aos objetivos de pesquisa e às con-
dicionantes para sua realização. Assim, a escolha do pesquisador de-
pende do caso concreto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicologia social oferece abordagens muito particulares sobre a vida 
em sociedade. São lentes que permitem compreender as relações sociais 
de maneiras diferentes. Os conceitos e as definições propostas por psicó-
logos sociais são instrumentos para lidar com a complexidade da vida em 
sociedade. Desde comportamentos agressivos até relações de afeto, os 
objetos de estudo da psicologia social são diversos.
As conclusões de estudos nessa área têm sido utilizadas como subsí-
dios para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Essa é uma das 
características do desenvolvimento dessa área de estudos: sua dimensão 
aplicada. Suas implicações em áreas como a segurança vão desde a com-
preensão de comportamentos agressivos e criminosos até estratégias de 
prevenção criminal.
ATIVIDADES
Atividade 1
Explique a influência da Segunda Guerra Mundial no desenvolvimen-
to dos estudos em psicologia social.
36 Psicologia social aplicada à segurança
Atividade 2
Defina a psicologia social (segundo David Myers) e apresente as princi-
pais características do campo de estudos.
Atividade 3
Enumere e caracterize as três perspectivas analíticas da psicologia 
social.
REFERÊNCIAS
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Personalidade, agressões e violências 37
2
Personalidade, 
agressões e violências
Os fenômenos relacionados à agressividade são estudados por pes-
quisadores em diferentes áreas do conhecimento, como a psicologia, a 
sociologia, a ciência política, a filosofia, entre outras. Na psicologia social, o 
conhecimento acumulado ao longo do tempo permite compreender me-
lhor a agressividade e suas motivações. 
Neste capítulo, analisaremos os diferentes tipos de comportamentos 
agressivos e discutiremos, à luz da psicologia social, as motivações mais 
frequentes para agressões e violências. Além disso, apresentaremos as re-
lações entre a violência e a mídia, salientando suas principais implicações.
2.1 Agressões e violência: definições e conceitos 
Vídeo Para iniciarmos nossos estudos sobre agressões e violência, leia a 
seguinte notícia:
Apresentar as definições e 
os conceitos relacionados 
a agressões e a violências, 
diferenciando as suas 
principais características.
Objetivos de aprendizagem No dia 9 de junho de 2021, Lázaro Sousa tornou-se conheci-
do em todo o país. O homem de 32 anos invadiu uma chácara 
na zona rural de Ceilândia, no Distrito Federal (DF), e matou 
três pessoas de uma mesma família, sendo o pai, Cláudio Vidal 
(48 anos), e dois filhos, Carlos Vidal (15 anos) e Gustavo Vidal 
(21 anos). O corpo da mãe, Cleonice Marques (43 anos), foi en-
contrado três dias depois em um córrego próximo à fazenda. 
Lázaro já era foragido da justiça por crimes cometidos em 2011, 
2018 e 2020, entre eles um homicídio em Barra do Mendes, 
Bahia, sua cidade natal. Após os homicídios no DF, uma grande 
operação policial foi montada para perseguir o criminoso. Mais 
Estudo de caso
(Continua)
38 Psicologia social aplicada à segurança
de 200 policiais de diferentes órgãos estaduais, distritais e fede-
rais foram mobilizados na busca de Lázaro no entorno do DF. A 
notícia foi acompanhada em todo o país pela televisão, geran-
do apreensão até mesmo em quem estava longe. Escondido na 
área rural, o criminoso deixou um rastro de crimes e destruição 
por onde passou ao longo dos 20 dias. Foram carros roubados, 
trocas de tiro, reféns, carros e casas queimadas. 
Fonte: Adaptado de Galvão e Puljiz, 2021. 
Ao longo desses 20 dias, muitas pessoas se fizeram perguntas sobre 
as motivações de Lázaro para crimes tão bárbaros. As respostas mais 
comuns nas redes sociais atribuíam esses comportamentos a proble-
mas de criação, leniência da justiça e até causas sobrenaturais. Na ver-
dade, os comportamentos agressivos mobilizam a atenção das pessoas 
há bastante tempo.
As agressões são fenômenos diversos e que assumem muitas for-
mas. Não é simples estabelecer uma definição única que reúna toda 
essa diversidade. O que existe de comum entre o comportamento de 
uma criança que intencionalmente puxa o cabelo de outra para ficar 
com um brinquedo e o comportamento de um criminoso que, com um 
golpe de faca, atinge uma pessoa para roubá-la? São situações que se 
colocam em extremos opostos quanto à intensidade e às suas conse-
quências. Ainda assim, ambas podem ser definidas como agressões. A 
literatura psicológica apresenta relativo consenso sobre a definição de 
agressão como sendo “aqueles comportamentos físicos ou verbais diri-
gidos a causar danos em outras pessoas” (MYERS, 2014). Essa definição 
apresenta dois pontos principais:
É enfatizada a intenção de causar danos. Logo, 
eventuais danos involuntários ou colaterais são 
excluídos. Por exemplo, imagine que uma pessoa 
se distraia no trânsito e cause um acidente. 
Por não existir a intenção de provocar o dano, 
a literatura psicológica não interpreta essa 
situação como sendo uma agressão. Os danos 
à propriedade e à imagem tanto de pessoas 
quanto de empresas podem ser considerados 
comportamentos agressivos quando existir o 
objetivo de causar prejuízo. 
Os comportamentos 
agressivos podem ser 
tanto físicos, como 
socos e chutes, quanto 
verbais, como ameaças e 
insultos. 
Personalidade, agressões e violências 39
Outros pesquisadores destacam aspectos adicionais na definição 
de agressões. Para Allen e Anderson (2017), as agressões são dirigidas 
a pessoas motivadas a evitar esses danos. Segundo essa definição, 
descartam-se fenômenos como o masoquismo, em que as pessoas 
sentem prazer pela dor, e o suicídio. Além disso, esses autores sa-
lientam que as agressões são comportamentos observáveis (não po-
dendo ser pensamentos ou sentimentos), intencionais e dirigidos a 
pessoas (não podendo ser contra objetos).
Existe, ainda, uma subdivisão no conceito: a agressividade hostil 
e a agressividade instrumental (MYERS, 2014). No primeiro caso, a 
motivação é um sentimento intenso, como a raiva, e seu objetivo é 
causar dano, machucar ou ferir. Por exemplo, algumas das violên-
cias comuns nos noticiários, como brigas, discussões e homicídios, 
são comumente agressividades hostis por terem no dano causado 
o seu objetivo. Contudo, existem casos em que as agressões são 
meios para alcançarem outros fins, ou seja, por meio dos danos ou-
tros objetivos são alcançados. 
Nesses casos, a agressividade é do tipo instrumental. Por exem-
plo, as guerras e os ataques terroristas normalmente se valem de 
ações violentas para alcançarem outros objetivos, como a sujeição 
dos demais a seus propósitos políticos ou a demonstração de su-
perioridade étnico-religiosa (MYERS, 2014). No campo de estudos 
sobre agressões, existem outras subdivisões conhecidas, conforme 
descrito no quadro a seguir:
Quadro 1
Tipologia de comportamentos agressivos
Modalidade de resposta
Verbal – por exemplo: xingamentos.
Física – por exemplo: socos e chutes.
Postura – por exemplo: gestos ameaçadores.
Relacional – por exemplo: deixar de falar com alguém.
Proximidade
Direta – por exemplo: um murro no rosto de outra pessoa.
Indireta – por exemplo: espalhar rumores de outras pessoas sem que elas saibam.
Qualidade da resposta
Agir – por exemplo: obrigar alguém a ter relações sexuais.
Deixar de agir – por exemplo: deixar de prestar informações importantes para um 
colega no trabalho.
(Continua)
40 Psicologia social aplicada à segurança
Visibilidade
Aberto – por exemplo: humilhar alguém na frente de outras pessoas.
Disfarçado – por exemplo: enviar mensagens de texto ameaçadoras para um co-
lega de sala.
Instigação
Proativo (não provocado) – por exemplo: pegar um brinquedo de outra criança.
Reativo (provocado) – por exemplo: gritar com alguém após ser atacado fisicamente.
Direcionamento
Hostil – por exemplo: bater em alguém por raiva ou frustração.
Instrumental – por exemplo: fazer um refém e exigir o resgate.
Tipo de dano
Físico – por exemplo: ossos quebrados.
Psicológico – por exemplo: pesadelos
Duração dos efeitos
Passageiro – por exemplo: pequenos arranhões.
Duradouro – por exemplo: inabilidade permanente para estabelecer relações.
Unidades sociais 
envolvidas
Indivíduos – por exemplo: violências conjugais.
Grupos – por exemplo: guerras e protestos.
Fonte: Adaptado de Krahé, 2013.
É comum que as pessoas confundam agressões com violências. 
Tecnicamente, contudo, há diferenças. Em termos conceituais, a psi-
cologia social interpreta a violência como sendo um subconjunto de 
agressões (ALLEN; ANDERSON, 2017). Assim, a violência é uma forma 
grave de agressão que tem como objetivo agressões físicas severas. 
De maneira semelhante à agressão, o resultado de uma violência pode 
não existir e ainda assim ser considerado um comportamento violento. 
Quando, por exemplo, uma pessoa atira com uma arma de fogo contra 
outra e erra o disparo, mesmo tendo errado, o comportamento é consi-
derado violento. Portanto, a violência está em um extremo oposto a um 
puxão de cabelo (utilizando o nosso exemplo anterior) em uma escala de 
severidade de agressões. Todos os atos violentos são consideradosagres-
sivos, mas nem todas as agressões são definidas como violentas. 
2.2 Teorias sobre agressões 
Vídeo Os comportamentos agressivos são fenômenos relevantes em nos-
sa sociedade. Suas consequências incluem dor e sofrimento, além de 
elevados custos materiais. Diferentes teorias foram desenvolvidas com 
o objetivo de compreender e prevenir tais comportamentos. Nesta se-
ção, vamos discutir suas abordagens: as biológicas e as psicológicas. 
• Conhecer as principais 
abordagens biológicas 
e psicológicas sobre a 
agressividade.
• Compreender como a 
agressividade tem sido 
discutida na literatura 
especializada em psico-
logia social.
Objetivos de aprendizagem
Personalidade, agressões e violências 41
2.2.1 Abordagens biológicas
As abordagens biológicas analisam os comportamentos agressivos 
por meio do funcionamento do organismo humano, enfatizando pro-
cessos evolutivos, genéticos e hormonais. Uma das primeiras teorias 
foi proposta por Konrad Lorenz (1903-1989) em 1966. A teoria etológi-
ca das agressões tem base em estudos comparativos entre o compor-
tamento humano e de outros animais. 
Uma questão fundamental para Lorenz era compreender como a 
energia agressiva se desenvolvia e era liberada. Para o autor, essa ener-
gia é produzida de modo natural e contínuo pelo organismo, sendo li-
berada de acordo com estímulos externos (KRAHÉ, 2013). Por exemplo, 
o surgimento de um adversário na disputa por território pode ser um 
estímulo para a agressão. 
A teoria de Lorenz ficou conhecida com a proposição de um modelo 
hidráulico, em que dois fatores são considerados: o nível de energia 
agressiva produzida no organismo em um dado momento e a inten-
sidade dos estímulos externos. Além disso, o autor considera que a 
liberação de energia agressiva é uma consequência natural da produ-
ção do organismo, sendo possível o seu controle no convívio social. 
Por exemplo, durante a prática de esportes, essa energia seria liberada 
de maneira contida e não prejudicial. Essa abordagem foi amplamente 
criticada ao longo do tempo, tendo pouco respaldo na literatura espe-
cializada. Ainda assim, a noção da agressão como algo inato biologica-
mente continua sendo mobilizada pelo senso comum.
Outra explicação é oferecida pela sociobiologia evolucionista. 
Essa linha de pesquisa é influenciada pelas ideias evolucionistas de 
Charles Darwin (1809-1882). Para os autores dessa linha, a agressão 
é uma forma de comportamento “que evoluiu em animais e humanos 
em virtude de seu potencial de aumentar as chances de sucesso na re-
produção dos indivíduos, facilitando a transmissão de genes agressivos 
às gerações futuras” (KRAHÉ, 2013, p. 47). 
Portanto, a agressão seria uma espécie de adaptação em dispu-
tas por sobrevivência, particularmente na reprodução, contribuindo 
para que os mais agressivos sejam mais bem-sucedidos na evolução 
das espécies. As pesquisas realizadas com base nessa perspectiva tor-
naram-se mais conhecidas com a análise de agressões sexuais. Em 
É comum que as pessoas confundam agressões com violências. 
Tecnicamente, contudo, há diferenças. Em termos conceituais, a psi-
cologia social interpreta a violência como sendo um subconjunto de 
agressões (ALLEN; ANDERSON, 2017). Assim, a violência é uma forma 
grave de agressão que tem como objetivo agressões físicas severas. 
De maneira semelhante à agressão, o resultado de uma violência pode 
não existir e ainda assim ser considerado um comportamento violento. 
Quando, por exemplo, uma pessoa atira com uma arma de fogo contra 
outra e erra o disparo, mesmo tendo errado, o comportamento é consi-
derado violento. Portanto, a violência está em um extremo oposto a um 
puxão de cabelo (utilizando o nosso exemplo anterior) em uma escala de 
severidade de agressões. Todos os atos violentos são considerados agres-
sivos, mas nem todas as agressões são definidas como violentas. 
2.2 Teorias sobre agressões 
Vídeo Os comportamentos agressivos são fenômenos relevantes em nos-
sa sociedade. Suas consequências incluem dor e sofrimento, além de 
elevados custos materiais. Diferentes teorias foram desenvolvidas com 
o objetivo de compreender e prevenir tais comportamentos. Nesta se-
ção, vamos discutir suas abordagens: as biológicas e as psicológicas. 
• Conhecer as principais 
abordagens biológicas 
e psicológicas sobre a 
agressividade.
• Compreender como a 
agressividade tem sido 
discutida na literatura 
especializada em psico-
logia social.
Objetivos de aprendizagem
4242 Psicologia social aplicada à segurançaPsicologia social aplicada à segurança
termos gerais, os pesquisadores argumentam que o cometimento 
de estupros, por exemplo, pode ser associado com heranças evolu-
tivas de todos os homens. Esses argumentos são controversos e se 
baseiam em dados comparativos com outras espécies e no perfil de 
homens que cometeram tais crimes.
Em grande medida, a hipótese de herança genética assume que a 
agressividade é uma forma instrumental de adaptação evolutiva. É cen-
tral a essa linha de raciocínio a ideia de que a inclinação para comporta-
mentos agressivos faz parte de sua constituição genética (KASSIN; FEIN; 
MARKUS, 2017). Pesquisadores dessa área têm buscado demonstrar 
que indivíduos geneticamente relacionados (como irmãos) possuem 
mais semelhanças em relação à agressividade do que quando compa-
rados com pessoas que não possuem relacionamento genético. 
Alguns estudos são desenvolvidos para diferenciar os comporta-
mentos de crianças adotadas daquelas que são criadas com seus pais 
biológicos, separando a influência de fatores genéticos e contextuais. 
Assim, caso os comportamentos das crianças sejam mais próximos dos 
seus pais biológicos, seria uma indicação de que a influência genética 
seria mais preponderante. No caso contrário, se os comportamentos 
das crianças fossem mais próximos dos pais adotivos, a influência do 
contexto de criança seria o fator mais importante. 
Como destaca Khahé (2013), essa metodologia de pesquisa tem sido 
utilizada com outros estudos que analisam, por exemplo, os compor-
tamentos de irmãos gêmeos idênticos (monozigóticos) e não idênticos 
(dizigóticos). Nesse caso, por compartilharem praticamente todos os 
genes, as diferenças comportamentais entre gêmeos idênticos seriam 
causadas pelas influências do ambiente (RHEE; 
WALDMAN, 2002). 
Outra linha de pesquisa na perspec-
tiva biológica investiga a influência de 
hormônios sobre os comportamentos 
agressivos (ARCHER, 1991). As diferen-
ças de comportamentos agressivos 
entre homens e mulheres levantaram 
questões sobre a participação de hor-
mônios como a testosterona. Apesar 
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Personalidade, agressões e violênciasPersonalidade, agressões e violências 4343
de ambos possuírem o hormônio, os homens concentram quantidades 
mais elevadas. Diante disso, alguns estudos analisaram os comporta-
mentos agressivos de mulheres, comparando os níveis de testosterona 
delas, indicando uma relação positiva entre competitividade e maiores 
quantidades de testosterona (CASHDAN, 2003). 
Apesar de não serem conclusivos, estudos como esse sugerem a 
possibilidade de que as relações entre hormônios e comportamentos 
agressivos podem persistir em diferentes grupos sociais. Outros estu-
dos analisaram a hipótese de que o desequilíbrio entre os níveis de cor-
tisol e testosterona pode predizer agressões (MONTOYA et al., 2012). 
Uma alta proporção de testosterona em relação à quantidade de 
cortisol predispõe comportamentos socialmente agressivos. Além 
disso, a serotonina tem sido explorada como fator para diferenciar 
a agressão impulsiva e a instrumental, também explicando diferen-
ças comportamentais com base em elementos biológicos (PAVLOV; 
CHISTIAKOV; CHEKHONIN, 2012).
2.2.2 Abordagens psicológicas
Diferentemente das abordagens anteriores, a perspectiva psicológi-
ca enfatiza os mecanismos psicológicos, e não os elementos biológicos 
na compreensão da agressão. Dois modelos explicativos merecem des-taque: o da hipótese frustração-agressão e o aprendizado social. 
A relação entre frustração e agressão
A relação entre frustração e agressão não é recente na teoria psi-
cológica. O livro Frustração e agressão, publicado por John Dollard 
e seus colaboradores em 1939, tornou-se 
uma referência nessa área de estudo. 
Em termos gerais, os autores argumen-
tavam que toda frustração levava a al-
guma forma de agressão e que esta 
seria causada por um tipo de frustração 
(DOLLARD et al., 1939). Ou seja, a frustra-
ção era um fator necessário e suficiente 
44 Psicologia social aplicada à segurança
para uma agressão. Assim, a frustração era definida como sendo o blo-
queio de comportamentos ou esforços para alcançar um objetivo. 
Os motivos para agredir seriam, para os autores, semelhantes àque-
les de reações fisiológicas como a fome ou o sono. Trata-se de uma 
necessidade que deve ser satisfeita, ou seja, assim como a ausência de 
comida gera impulsos de fome ou a ausência de sono gera impulsos de 
repouso, a frustração geraria incentivos à agressão. Portanto, a agres-
são é um fenômeno de catarse, ou seja, de liberação dessa energia con-
tida. Imaginemos a seguinte situação: você está em uma fila esperando 
a sua vez de ser atendido em um banco. Em seguida, alguém surge e 
passa na sua frente e é atendido antes de você. 
Como você se sentiria? Qual seria a sua reação?
O fato de estar em uma fila sugere que se trata de uma atividade 
orientada a um objetivo (como pagar conta ou sacar dinheiro). A pessoa 
passar na sua frente seria uma frustração, pois retardaria ou bloquea-
ria o seu objetivo. Com isso, a energia resultante seria do tipo agressiva, 
com o objetivo de restaurar o estado original (por exemplo, empurrar a 
pessoa ou discutir com ela para que siga para o final da fila). 
Alguns anos depois, a teoria foi revista por Miller (1941), passando 
a propor que nem sempre as frustrações geram respostas agressivas, 
além de que nem toda agressão é oriunda de uma frustração. Vamos 
pensar que uma pessoa frustrada pode ficar chateada e não agir con-
tra o motivo de sua frustração ou, ainda, uma pessoa pode decidir fur-
tar um objeto (ou seja, uma agressão) de maneira instrumental para 
conseguir dinheiro. 
Em ambos os casos são ilustradas situações em que a relação 
entre frustração e agressão não é necessária, tampouco suficien-
te. Assim, a revisão proposta por Miller (1941) sugere uma relação 
probabilística (e não determinística) entre agressão e frustração 
(KRISTENSEN et al., 2003). Assim, o modelo revisto da hipótese 
frustração-agressão pode ser descrito da seguinte forma:
Personalidade, agressões e violências 45
Frustração
Outras respostas.
Por exemplo: ressentimento.
Agressão a si próprio.
Por exemplo: automutilação 
ou suicídio.
Redirecionada 
Estímulo à agressão 
Agressão a outros 
Direta
Fonte: Adaptada de Myers, 2014; Miller, 1941.
Figura 1
Modelo teórico da hipótese frustração-agressão
Como observamos na Figura 1, a frustração não resulta necessa-
riamente em comportamentos agressivos. Outras respostas, como o 
ressentimento ou o retraimento, são frequentes. Além disso, mesmo 
que as agressões decorram de frustrações, elas podem ser direciona-
das ao próprio indivíduo, como nos casos de automutilação e suicídio. 
Por sua vez, as agressões podem ser redirecionadas para outras pes-
soas ou para outros motivos. Em nossa suposição anterior, digamos 
que você não tome atitude alguma contra a pessoa que furou a fila, 
mas desconte em outras pessoas sendo mal-humorado, usando xin-
gamentos. Esse seria um exemplo de redirecionamento que pode ser 
motivado por várias razões, como o receio de exposição, de ser punido 
ou desaprovado.
Leonard Berkowitz (1926-2016) foi outro autor que contribuiu com 
essa área de pesquisa. O psicólogo da Universidade de Wisconsin-Ma-
dison conduziu experimentos que sugeriram uma relação diferente en-
tre frustração e agressão. Para o autor, a frustração é uma experiência, 
entre tantas outras, que pode levar a comportamentos agressivos por 
meio de sentimentos negativos ou desconfortáveis (BERKOWITZ, 1989). 
Isto é, são esses sentimentos negativos (ou afetos negativos) que po-
dem levar a agressões, mas nem sempre isso ocorre. 
A agressão tende a ser relacionada à intensidade do afeto negativo e 
não à frustração em si. Em outras palavras, Berkowitz se preocupou em 
entender quando as pessoas escolhem as respostas agressivas e não 
46 Psicologia social aplicada à segurança
outras possibilidades de respostas. Uma das explicações é o conceito 
de gatilhos agressivos (do inglês aggressive cues), ou seja, estímulos com 
um sentido agressivo, que aumentam a importância de pensamentos 
agressivos, como a presença de armas de fogo. Assim, por exemplo, 
diante de uma provocação, sugere-se que o indivíduo estaria mais su-
jeito a optar por respostas agressivas (KRISTENSEN et al., 2003). 
Um dos experimentos conduzidos por Berkowitz e LePage (1967) 
analisou as diferenças de comportamento de pessoas diante de gati-
lhos agressivos e neutros. No estudo, os participantes foram divididos 
em grupos, em que alguns deles foram propositalmente ofendidos 
após a realização de algumas atividades. Um dos grupos estava em 
uma sala que tinha armas de fogo à mostra sobre uma mesa, e ou-
tro grupo em uma sala sem armas. Em seguida, os participantes rece-
beram instruções para aplicar choques elétricos após a avaliação dos 
resultados de outros colegas do estudo. Eles não souberam, mas os 
choques não foram efetivamente aplicados. 
Entre os resultados demonstrados no Gráfico 1, os participantes 
das salas com armas de fogo demonstraram sistematicamente mais 
comportamentos agressivos (no caso, por meio de choques elétricos) 
do que aqueles que tinham objetos neutros. Os participantes que não 
receberam críticas e estavam em salas com objetos neutros foram 
aqueles que apresentaram menos comportamentos agressivos. Como 
argumentam os autores, “o dedo puxa o gatilho, mas o gatilho também 
pode estar puxando o dedo” (BERKOWITZ; LEPAGE, 1967, p. 22), em re-
ferência à relação entre os estímulos e os comportamentos violentos.
Ofendidos
Não ofendidos
Armas à mostra
0
3
6
1
4
7
2
5
Sem armas
M
éd
ia
 d
os
 c
ho
qu
es
 a
dm
in
is
tr
ad
os
Gráfico 1
Média do número de choques por tipo de situação
Fonte: Adaptado de Berkowitz; LePage, 1967.
Lançado em 1993, o filme 
Um dia de fúria, de Joel 
Schumacher, estrelado 
por Michael Douglas, 
retrata a história de um 
homem que passa por 
dificuldades no emprego 
e em seu casamento. Um 
dia, quando o seu carro 
para de funcionar em 
uma rua de Los Angeles, 
ele fica enfurecido e inicia 
uma série de reações 
violentas.
Direção: Joel Schumcher. 
EUA: Le Studio Canal +, 1993.
Filme
Personalidade, agressões e violências 47
Esse modelo teórico é denominado de cognitivo neoassociacionista, 
sendo que a agressão é interpretada como um tipo de comportamento 
e não como uma característica do comportamento humano. Para tan-
to, o processamento cognitivo das experiências negativas é central em 
toda a explicação. São configurados dois sistemas de comportamentos 
agressivos: um afetivo e outro instrumental (KRISTENSEN et al., 2003). 
No primeiro caso, a reação agressiva é causada de modo impulsi-
vo em reação a estímulos aversivos. A raiva desempenha um papel de 
mediação entre a frustração e a agressão. Esse é o principal mecanis-
mo cognitivo associado à agressão. No segundo sistema, o comporta-
mento agressivo é apreendido com objetivos específicos, como evitar 
punições ou conseguir recompensas. Para o autor, o segundo sistema 
deriva do primeiro ao longo do tempo. 
O modelo de Berkowitz é descrito a seguir:
Frustração Afeto negativo
Comportamento 
agressivo 
MedoTendência de fuga 
(ou escape)
Inclinações agressivas
Figura 2
Modelo neoassociacionista simplificado
Fonte: Adaptado de Berkowitz, 2011.
Em suma, o modelo enfatiza a possibilidade de que comportamen-
tos agressivos sejam originadosem situações de frustração. Contudo, 
a relação não é direta, tampouco necessária. A mediação dos afetos 
negativos desempenha um papel central no modelo, tendo em vista a 
diversidade de estímulos e reações a eles. Ao longo do tempo, esse mo-
delo vem sendo aperfeiçoado, e novas dimensões do comportamento 
agressivo incluídas. Ainda hoje, trata-se de um dos modelos mais refe-
renciado nesse campo de estudos.
A agressão como aprendizado
Nas seções anteriores, vimos como a agressão é percebida com 
base em características biológicas e reação a estímulos externos. 
Pesquisadores argumentam que fatores adicionais podem explicar a 
48 Psicologia social aplicada à segurança
agressão como resultado de processos de aprendizado (BANDURA; 
MCCLELLAND, 1977). Dessa forma, as experiências sociais são coloca-
das em primeiro plano, apoiadas em sua importância no desenvolvi-
mento de comportamentos agressivos.
Um dos autores mais relevantes nessa área de pesquisa é 
Albert Bandura (1925-), psicólogo canadense da Universidade de 
Stanford. Para o autor, o aprendizado é a mudança de comportamento 
mediante uma experiência, sendo que os mecanismos de funcionamen-
to ocorrem tanto por intermédio da observação de comportamentos 
dos outros e suas consequências (reforços vicários) quanto por expe-
riências próprias (reforços diretos). Logo, são especialmente relevantes 
os contextos de socialização em que as nossas interações são conduzi-
das, sendo que, para o autor, o ambiente familiar e o acesso aos meios 
de comunicação de massa são contextos de interesse para o estudo 
das agressões (BANDURA, 2011).
Um dos experimentos de Bandura se tornou bastante conhecido: 
o paradigma do João Bobo. De modo simplificado, Bandura, Ross e 
Ross (1961) mostraram para grupos de crianças em idade pré-escolar 
alguns adultos agindo de modo agressivo e não agressivo diante de um 
palhaço inflável, o Bobo. 
Em seguida, as crianças seguiam para outra sala e começavam a 
brincar com alguns brinquedos. Logo depois, elas são avisadas de 
que deveriam mudar de sala e parar de brincar, pois aqueles brin-
quedos seriam utilizados por outras crianças. Frustradas, são leva-
das à nova sala, tendo a oportunidade de brincar com o palhaço 
inflável, o Bobo, e os resultados foram instigantes: as crianças que 
assistiram a comportamentos agressivos tenderam a repetir esses 
comportamentos, ao passo que as demais não o fizeram, agiram 
com calma, apesar da frustração. 
Interpretando os resultados, os autores sugerem que a obser-
vação de modelos agressivos pode levar à aquisição desses com-
portamentos. Em estudos posteriores, os autores encontraram 
evidências de que as consequências positivas de comportamen-
tos agressivos (por exemplo, com recompensas como elogios ou 
mesmo a falta de punição) estão relacionadas com mais chances 
de aprendizado por imitação. Esses estudos foram sintetizados no 
modelo apresentado na figura a seguir. 
Personalidade, agressões e violências 49
P = fatores pessoais 
(por exemplo: conhecimento, 
atitudes, expectativas).
E = fatores ambientais 
(por exemplo: normas sociais, 
influência social).
B = fatores comportamentais 
(por exemplo: aptidões, 
experiências).
Fonte: Adaptada de Bandura, 2011.
Figura 3
Modelo simplificado da teoria do aprendizado social
Entre as implicações do paradigma do João Bobo está o in-
teresse em analisar o contexto familiar quanto ao aprendizado 
de comportamentos agressivos. Algumas pesquisas indicaram 
relações entre pais fisicamente punitivos e filhos agressivos 
(O’LEARY; TINTLE; BROMET, 2014) e abusivos (PERKINS et al., 2014). 
Além disso, a ausência de modelos parentais também tem sido ana-
lisada. Por exemplo, existem estudos que relacionam níveis mais 
elevados de violências em famílias monoparentais ou com pais au-
sentes (CHERLIN; CHASE-LANSDALE; MCRAE, 1998). 
De maneira semelhante, existem estudos que consideram as in-
fluências culturais, ou seja, do ambiente social, no aprendizado de 
comportamentos agressivos. Por exemplo, há evidências de que a 
transmissão e o reforço de técnicas para o cometimento de crimes são 
favorecidos em grupos como gangues, além de que a participação nes-
ses grupos é um importante preditor de comportamentos criminosos 
de natureza coletiva (WINFREE JR.; FRENG, 2015).
2.3 Compreendendo o 
comportamento agressivo Vídeo
Existem diferentes fatores que influenciam o comportamento 
agressivo. Os modelos teóricos estudados buscam compreender as 
agressões com base em uma perspectiva, contudo reconhecem as 
50 Psicologia social aplicada à segurança
influências de outros elementos. Nesta seção vamos discutir alguns 
desses elementos que influenciam a agressividade. Para tanto, as 
duas subseções seguintes estão organizadas entre as variáveis indivi-
duais e as situacionais. 
2.3.1 Variáveis individuais
Entre as variáveis individuais vamos destacar os fatores de perso-
nalidade. Para tanto, utilizaremos dois instrumentos: os cinco grandes 
fatores de personalidade e o questionário de Buss-Perry.
Os cinco grandes fatores de personalidade
Como vimos, os comportamentos agressivos podem estar re-
lacionados a muitas variáveis. Nesta subseção, veremos como as 
diferenças entre as personalidades das pessoas podem influen-
ciar seus comportamentos. Algumas variáveis denominadas si-
tuacionais são explicações importantes. Por exemplo, agressões 
na infância são preditoras de agressões na adolescência e na vida 
adulta (KASSIN; FEIN; MARKUS, 2017). Mesmo que essa relação se 
modifique de acordo com as circunstâncias do desenvolvimento in-
dividual e social das crianças, as condições externas aos indivíduos 
são relevantes na compreensão dos comportamentos agressivos. 
Mas existem características típicas dos indivíduos que também 
merecem nossa atenção, uma das perspectivas é oferecida pelos 
estudos de personalidades.
Os cinco grandes fatores de personalidade (ou big five) represen-
tam dimensões da personalidade humana. Trata-se de uma con-
ceituação acerca da personalidade construída, ao longo do tempo, 
com base na aplicação de diferentes questionários e inventários 
de avaliação de personalidade. Por meio de técnicas estatísticas, 
como a análise fatorial, os resultados são consolidados em torno 
de cinco grandes dimensões (HUTZ et al., 1998). 
Essas dimensões têm sido replicadas e amplamente utilizadas 
em diferentes áreas da psicologia, como avaliações psicológicas, 
psicoterapia, psicologia da saúde, entre outras. As dimensões são: 
• Conhecer instrumentos 
utilizados na psicologia 
para compreender 
os comportamentos 
agressivos.
• Compreender as 
relações entre variáveis 
individuais e os com-
portamentos agressivos 
segundo a psicologia 
social.
• Compreender as 
relações de variáveis 
situacionais e os com-
portamentos agressivos 
segundo a psicologia 
social.
Objetivos de aprendizagem
Personalidade, agressões e violências 51
extroversão, abertura a experiências, neuroticismo, amabilidade e 
conscienciosidade (PASSOS; LAROS, 2015). Apesar de existirem di-
vergências nas traduções e denominações das dimensões (ANDRA-
DE, 2008), suas descrições podem ser resumidas da seguinte forma:
Extroversão
O fator está relacionado à disposição da pessoa em receber es-
tímulos externos (como a atenção de outras pessoas) e estabelecer 
interações sociais de maneira dinâmica (PASSOS; LAROS, 2015). 
Escore elevado
Facilidade em se comunicar.
Relacionamentos sociais amplos e diversos.
Procura conhecer novas pessoas.
Tende a ser mais assertivo.
Escore baixo
Prefere a discrição.
Relacionamentos sociais limitados.
Tende a ser mais reservado.
Tende a ser introspectivo e tímido.
Abertura a experiências
O fator está relacionado à abertura para considerar novas 
ideias. Retrata a tendência das pessoas pensarem de maneira abs-
trata, sendo comuns descrições como criatividade, curiosidade e 
intelectualidade (HUTZ et al., 1998). É também descrito como inte-
lecto ou imaginação.
Escore elevado
Tende a ser curioso e criativo.Intelectualidade.
Imaginativo.
Pensamento abstrato.
Escore baixo
Tradicional e convencional.
Praticidade e conformismo.
Foco em atividades conhecidas ou familiares.
Pensamento concreto.
Neuroticismo
O fator está relacionado à reação das pessoas diante de situa-
ções negativas, sendo também denominado de estabilidade emo-
cional. As emoções negativas, como a vergonha, o medo, a culpa, a 
ansiedade e a tristeza, revelam formas de reagir em condições de 
estresse (HUTZ et al., 1998). 
52 Psicologia social aplicada à segurança
Escore elevado
Tende a ser reativo e nervoso.
Ansioso.
Inseguro.
Tende a ser tenso.
Escore baixo
Resiliente.
Autoconfiante.
Calmo.
Tende a ser estável e seguro.
Amabilidade
O fator está relacionado à forma como as pessoas estabelecem rela-
ções sociais agradáveis e de maneira harmoniosa (LORR; STRACK, 1993). 
É também traduzida como socialização na literatura brasileira. 
Escore elevado
Educado em interações/empático.
Tende a ser altruísta e gentil.
Tende a ser cooperativo e confiável.
Escore baixo
Tende a ser frio e crítico.
Cético em relações interpessoais.
Tende a ser competitivo e confrontador.
Conscienciosidade
O fator está relacionado à tendência de as pessoas serem focadas e 
com elevado autocontrole diante de situações sociais. 
Escore elevado
Tende a ser diligente e organizado.
Persistente.
Tende a ser cuidadoso e disciplinado.
Maior controle sobre impulsos.
Escore baixo
Tende a ser impulsivo e distraído.
Espontâneo
Tende a ser desorganizado.
Descuidado.
Os estudos de personalidade fazem parte de uma das áreas mais 
interessantes de pesquisa em psicologia social. O desenvolvimento 
de testes com a finalidade de explicar e prever comportamentos com 
base em traços da personalidade tem sido amplamente discutido na 
literatura especializada. As utilizações desses testes são amplas, alcan-
çando desde diagnósticos clínicos até processos de seleção e recruta-
mento. No Brasil, diferentes testes são utilizados com aprovação do 
Conselho Federal de Psicologia, como a bateria fatorial de personalida-
de (NUNES; HUTZ; NUNES, 2010) e o inventário de personalidade NEO 
revisado (FLORES-MENDONZA, 2007). 
Algumas características dos traços de personalidade devem ser des-
tacadas, como (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002): 
Personalidade, agressões e violências 53
 • são exclusivos, mas gradientes, que se alteram em um mesmo 
indivíduo de acordo com as condicionantes sociais; 
 • possuem relacionamentos entre si, ou seja, interagem em situa-
ções concretas; 
 • estão relacionados a comportamentos, ou seja, os implicam; 
 • não são rótulos, mas sim dimensões que todos os indivíduos 
apresentam em suas personalidades.
Assim, como resultado de um teste com base nos cinco grandes tra-
ços de personalidade, uma pessoa obterá valores para cada dimensão. 
Entre os traços de personalidade, um dos principais preditores de 
agressões é um escore baixo em amabilidade. Esse fator está associado 
às necessidades dos outros, como altruísmo e honestidade, e ao estabe-
lecimento de relações interpessoais saudáveis. Logo, espera-se que pes-
soas com pouca amabilidade acessem emoções e atitudes relacionadas 
a comportamentos agressivos (CAVALCANTI; PIMENTEL, 2016). Além dis-
so, escores baixos em abertura a experiências são associados a atitudes 
agressivas e comportamentos violentos (BARLETT; ANDERSON, 2012). 
Questionário de Buss-Perry
Outro recurso utilizado na mensuração da agressividade foi de-
senvolvido em 1992 por Arnold H. Buss e Mark Perry, professores da 
Universidade do Texas. Aperfeiçoado ao longo do tempo, o questionário 
de agressão é um instrumento para mensurar as diferenças individuais 
no traço de agressividade. Originalmente, o questionário contava com 52 
itens, os quais foram reduzidos para 29 e, mais recentemente, para 12 
(PAIVA et al., 2020). A sua versão em português está descrita no Quadro 2. 
Quadro 2
Questionário de Agressão de Buss-Perry versão reduzida (QA-R)
Itens
Escala de resposta
1 2 3 4 5 6
Não é extrema-
mente minha 
característica
   
É extrema-
mente minha 
característica
1
Existem pessoas que me enfrentaram 
e chegamos às vias de fato.
           
2
Se eu for provocado o suficiente, posso 
bater em outra pessoa.
           
Se você ficou curioso 
para saber um pouco 
mais dos seus traços de 
personalidade, acesse o 
site Big Fivelink e realize o 
teste que tem como base 
os cinco grandes fatores 
de personalidade de 
modo gratuito. Lembre-se 
de que não existem res-
postas certas ou erradas 
para as questões.
Disponível em: https://bigfive-
test.com/pt/test. Acesso em: 11 
ago. 2021. 
Site
(Continua)
54 Psicologia social aplicada à segurança
Itens
Escala de resposta
1 2 3 4 5 6
Não é extrema-
mente minha 
característica
   
É extrema-
mente minha 
característica
3 Eu já ameacei pessoas que conheço.            
4
Não posso deixar de entrar em dis-
cussões quando as pessoas não con-
cordam comigo.
           
5
Meus amigos dizem que sou um tanto 
argumentativo.
           
6 Muitas vezes eu discordo das pessoas.            
7
Eu me pergunto por que às vezes me 
sinto tão amargo sobre certas coisas.
8
Outras pessoas sempre parecem levar 
vantagem sobre mim.
9
Algumas vezes eu sinto que sou trata-
do injustamente na vida.
10
Eu fico irritado rapidamente, mas tam-
bém supero isso rapidamente.
11
Às vezes, eu perco a razão sem ne-
nhum motivo.
12
Tenho dificuldades em controlar meu 
temperamento.
Fonte: Adaptado de Paiva et al., 2020.
Entre outros instrumentos elaborados com o objetivo de mensurar 
a agressividade, a escala de Buss-Perry tem sido amplamente utiliza-
da em diferentes países do mundo. A sua versão reduzida e traduzida 
para o português brasileiro tende a estimular a sua aplicação no Brasil. 
E você, ficou curioso para saber como o seu resultado poderia ser com-
parado com o de outras pessoas? 
2.3.2 Variáveis situacionais
Os estudos psicológicos evidenciam a influência de diversas variáveis 
situacionais em comportamentos agressivos. Por exemplo, as interpreta-
ções de características culturais, como orientações políticas e religiosas, 
são comuns em análises sociológicas, políticas e psicológicas de agres-
sões e violências. Nesta subseção, contudo, vamos destacar os estudos 
sobre o consumo de álcool e aqueles sobre a mídia e as agressões.
Personalidade, agressões e violências 55
M
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Consumo de álcool e agressões
O álcool é a substância psicoativa lícita mais consumida 
em todo o mundo. Está associado a mais mortes e con-
dições patológicas, impactando de maneira relevante os 
custos do sistema de saúde pública, mais do que qual-
quer outra droga lícita ou ilícita (DORTA et al., 2018). O 
caso brasileiro não é diferente de outros locais do mun-
do. De acordo com dados do governo federal, cerca de 
46 milhões de pessoas, com pelo menos 12 anos, utiliza-
ram bebida alcoólica no país em 2017 (BRASIL, 2017). 
Além disso, os dados indicam que cerca de 16,5 milhões de pessoas 
beberam pelo menos cinco doses em uma única ocasião, sugerindo o 
alcance e a intensidade do consumo de álcool no Brasil. Assim, o inte-
resse científico dos efeitos do álcool sobre comportamentos agressivos 
está relacionado tanto à prevalência do consumo quanto às conse-
quências do uso e do abuso de álcool.
A relação entre álcool e agressões faz parte do senso comum. 
É normal que as pessoas associem o consumo de álcool com as 
alterações cognitivas, entre elas a possibilidade de comportamen-
tos agressivos. As evidências de pesquisas psicológicas oferecem, 
em termos gerais, suporte para essa associação. As pesquisas 
demonstram que o álcool tem ação depressora sobre o sistema 
nervoso central, reduzindo a autoconsciência das pessoas e redi-
recionando a atenção para elementos periféricos, como a provoca-
ção (MYERS, 2014). Por exemplo, estudos indicam que o consumo 
de álcool está associado a comportamentos agressivos (DEWALL; 
ANDERSON; BUSHMAN,2011), como violências domésticas, abuso 
sexual e acidentes de trânsito (KRAHÉ, 2013).
Entretanto, a associação entre o consumo de álcool e a incidência 
de comportamentos agressores não indica necessariamente uma rela-
ção causal. Os estudos nessa área buscam investigar se, por exemplo, 
a tendência em consumir álcool e se comportar de maneira violenta 
não é causada por outras variáveis comuns, como a falta de controle. 
Ainda assim, as evidências indicam que a influência do álcool sobre os 
comportamentos agressivos é significativa (BUSHMAN; COOPER, 1990), 
tendo pelo menos quatro moderadores situacionais com destaque: 
56 Psicologia social aplicada à segurança
a provocação, a frustração, a atenção autofocada e a presença de gati-
lhos agressivos. Assim, as pesquisas têm indicado que:
 • Os efeitos do álcool sobre a agressão são mais pronunciados quan-
do os indivíduos são provocados. Segundo Gustafson (1994), tanto 
a frequência quanto a intensidade de reações agressivas foram 
maiores diante de agressões contra pessoas sob efeito do álcool.
 • As agressões em respostas a frustrações (interrupções de obje-
tivos específicos) foram mais intensas em pessoas sob efeito de 
álcool (ITO; MILLER; POLLOCK, 1996).
 • As pessoas sob efeito de álcool são menos capazes de se con-
centrar em si próprias e de monitorar seus comportamentos 
(ITO; MILLER; POLLOCK, 1996).
 • Os gatilhos agressivos são mais pronunciados no comportamen-
to de pessoas sob efeito de álcool, como na aplicação de choques 
elétricos em experimentos.
Em suma, as análises dos efeitos do álcool sobre comportamentos 
agressivos contemplam diferentes linhas de análises com variáveis 
diversas. Nesse sentido, duas abordagens se destacam: aquelas que 
investigam os efeitos farmacológicos do álcool (com interesse no pro-
cessamento neurológico do etanol) e aquelas que se dedicam aos me-
canismos psicológicos. Em diversos casos, os efeitos farmacológicos e 
psicológicos potencializam a relação entre álcool e agressões. 
Mídia e agressões
Os estudos da exposição à violência em meios de comunicação de 
massa e agressão são uma importante área de pesquisa na psicologia 
social. Em geral, essa abordagem reconhece que a mídia é um dos fato-
res situacionais, entre tantos outros, que influencia os comportamen-
tos agressivos. Assim, por exemplo, os roteiros violentos aprendidos 
em programas de televisão ou vídeos do YouTube podem ser exacerba-
dos pela ausência de supervisão de adultos, quando se trata de crian-
ças ou adolescentes, ou por experiências reais de violência (como no 
ambiente doméstico). 
A literatura tem se dedicado a esclarecer dois pontos importantes: 
a natureza dos conteúdos vistos e a frequência da exposição a eles. No 
primeiro caso, algumas pesquisas indicam que programas de televisão 
Personalidade, agressões e violências 57
expõem atos violentos de maneira frequente. Por exemplo, ao analisa-
rem alguns programas da televisão britânica, pesquisadores concluí-
ram que agressões verbais e xingamentos foram cometidos em uma 
razão de 42 casos por hora de programa (COYNE; ROBINSON; NELSON, 
2010). Além disso, foi analisada a diferença na frequência de agressões 
entre tipos de programas, concluindo que reality shows populares estão 
entre os mais violentos. 
No segundo caso, a frequência da exposição a conteúdos violentos 
tem sido estudada tanto em adultos quanto em crianças. Por exemplo, 
nos Estados Unidos, a televisão fica ligada 8 horas por dia, com cada 
morador assistindo a pelo menos 3 horas por dia (MYERS, 2014). Os da-
dos mais recentes de pesquisas semelhantes contemplam a exposição 
às telas de celulares se tornando cada vez mais comum. 
Segundo dados de 2009, um jovem norte-americano com 18 anos 
teria assistido em média a 200 mil atos de violência apenas na televisão 
(KASSIN; FEIN; MARKUS, 2017). Além disso, cerca de 97% dos adolescen-
tes com idades entre 12 e 17 anos afirmaram que jogam videogame, a 
maioria do tipo violento. Não apenas na televisão e nos videogames, 
mas também nas redes sociais, nas músicas e nos cinemas, o consumo 
de produtos com atos de violência é comum na sociedade moderna.
Os efeitos da exposição à violência em meios de comunicação são 
diversos. Existem pesquisas que associam uma espécie de dieta de 
videogames e vídeos ao cometimento de casos como os tiroteios em 
espaços públicos nos Estados Unidos. No caso brasileiro, pesquisas in-
dicam uma influência significativa no comportamento de meninos em 
função da exposição a filmes com lutas (GOMIDE, 2000) e com violên-
cias sexuais (GOMIDE; SPERANCETTA, 2002). 
As evidências são diversas e, em conjunto, indicam que a exposi-
ção à violência na mídia aumenta as chances de comportamentos 
agressivos e violentos tanto a curto quanto a longo prazo (BUSHMAN; 
 ANDERSON, 2002). Existem, ainda, estudos que analisam os efeitos da 
exposição à pornografia sobre violências sexuais, os quais, em geral, 
indicam relações significativas (KRAHÉ, 2013).
Com relação à exposição a videogames, as pesquisas indicam pelo 
menos cinco efeitos sobre a agressão ao longo do tempo. São eles: 
crenças e atitudes agressivas, percepções agressivas, expectativas 
O documentário Tiros em 
Columbine, de Michael 
Moore, analisa aspectos 
da tragédia ocorrida em 
uma escola em Columbine, 
Colorado, em 1999. 
Dois alunos mataram 13 
 pessoas e feriram outras 
21. O documentário reflete 
sobre gatilhos agressivos, 
como a exposição à violên-
cia na mídia, e o acesso a 
armas de fogo.
Direção: Michael Moore. 
Alemanha: Alliance Atlantis 
Communications; Dog Eat Dog 
Productions, 2002.
Documentário
58 Psicologia social aplicada à segurança
agressivas, roteiros de comportamento agressivos e dessensibiliza-
ção agressiva (MYERS, 2014), conforme figura a seguir:
Crenças e atitudes Expectativas
Personalidade agressiva
Percepções
Roteiros de 
comportamentos
Dessensibilização+ ++ +
Figura 4 
Personalidade agressiva
Entre as evidências destacadas na literatura sobre jogar videogames 
violentos com frequência estão as seguintes:
 • aumenta o pensamento agressivo, como supor comportamentos 
agressivos no trânsito (BUSHMAN; ANDERSON, 2002);
 • aumenta os sentimentos agressivos, como frustração e hostilida-
de (MYERS, 2014);
 • aumenta os comportamentos agressivos, como discussões com 
pais, professores e colegas de escola, inclusive agressões físicas 
(BUCKLEY; ANDERSON, 2006);
 • diminui os comportamentos pró-sociais, como ajudar pessoas 
em necessidade (MYERS, 2014);
 • diminui a sensibilidade à violência, como se a atividade cere-
bral tivesse se “acostumado” e reagisse de modo menos intenso 
( CARNAGEY; ANDERSON; BARTHOLOW, 2007).
Diante das evidências, torna-se ainda mais importante a supervisão 
de crianças e adolescentes em seus hábitos relacionados ao tempo de 
telas, incluindo videogames e celulares. Os estímulos externos relacio-
nados à agressão podem contribuir para o desenvolvimento de sérios 
problemas de saúde.
Personalidade, agressões e violências 59
2.4 O Modelo Geral de Agressão (MGA) 
Vídeo Alguns autores buscaram propor um modelo que considerasse as-
pectos de várias das teorias anteriores que citamos neste capítulo. Entre 
eles, o Modelo Geral de Agressão (MGA) proposto por Anderson, Ander-
son e Deuser (1996) se tornou especialmente influente. Os autores consi-
deram que diversas experiências de aversão (como a frustração), gatilhos 
situacionais (como armas de fogo) e diferenças individuais (como fatores 
de personalidade) podem motivar afetos negativos ou pensamentos 
agressivos, sendo que todos podem levar a comportamentos agressivos. 
Além disso, a concretização do comportamento agressivo depende 
do raciocínio em sentido amplo do indivíduo, o qual pode tanto inibir 
(por exemplo, reconhecendo riscos) quanto incentivar a sua realização 
(por exemplo, diante de uma provocação moral). Esse modelo busca 
explicar tanto episódios isolados de agressões quanto os ocorridos ao 
longo do tempo. 
A Figura 5 apresentauma versão simplificada do MGA. Como per-
cebemos, o ponto de partida de uma interação agressiva está nas 
disposições individuais e nos estímulos externos. Os traços de perso-
nalidade relacionados à raiva ou à hostilidade são comumente ana-
lisados nessa fase. Além disso, os estímulos externos, como gatilhos 
agressivos e provocações, são variáveis relevantes. Em seguida, os 
estados internos mobilizam cognições, sentimentos e excitação. Por 
exemplo, uma pessoa que facilmente perde a razão ou sai do sério 
em suas relações diárias provavelmente será mais propensa à agres-
são diante de provocações. 
Assim, pensamentos agressivos (“esta pessoa é estúpida!”), senti-
mentos agressivos (“esta pessoa me faz mal”) e expressões corporais 
(aumento da sudorese, por exemplo) são manifestações do proces-
samento de uma provocação nas pessoas. O estágio da reavaliação é 
iniciado de maneira controlada, podendo gerar respostas e comporta-
mentos agressivos (“vou retaliar a provocação”) ou não (“vou me acal-
mar e não revidar”). A resposta contrária pode, dependendo do caso, 
inclusive iniciar um novo episódio escalando o conflito.
Compreender o uso 
do Modelo Geral de 
Agressão.
Objetivos de aprendizagem
60 Psicologia social aplicada à segurança
Figura 5
Modelo Geral de Agressão
Diferenças individuais 
• Traços de personalidade.
• Atitudes, valores e crenças sobre 
agressões.
• História de vida (modelos violentos) 
e aprendizado social.
 Cognições acessíveis
• Pensamentos 
agressivos. 
• Roteiros de 
comportamento 
agressivos.
Reavaliação 
controlada
(por exemplo, vingança 
ou retaliação)
 Afetos agressivo
• Sentimentos 
agressivos.
• Respostas motores 
de expressão
Comportamento 
(por exemplo, 
xingamento)
Avaliação automática 
Interpretação de uma situação (por exemplo, ameaças e riscos)
Estado interno atual
Excitação
• Fisiológica.
• Percebida.
Resposta contrária
(por exemplo, agressão 
física)
Variáveis situacionais 
• Gatilhos agressivos (por exemplo, 
armas).
• Provocações: exposição à violência 
na mídia.
• Consumo de álcool.
Fonte: Adaptada de Anderson; Dill, 2000.
Resultado
Processos 
cognitivos de 
avaliação
Trajetórias
Variáveis iniciais 
ou de entrada
Assim, percebemos que o MGA incorpora elementos de várias 
abordagens teóricas, como as relações entre frustração e agressão, 
o aprendizado social, os fatores de personalidade e as variáveis si-
tuacionais. A estrutura do modelo possibilita a compreensão de pro-
cessos complexos por meio dos quais os comportamentos agressivos 
são resultantes. Desde os estímulos externos, como a exposição à 
Personalidade, agressões e violências 61
 violência na mídia, a características individuais, como a trajetória de 
vida e a exposição à violência no ambiente familiar, são considerados 
no modelo. A relevância e a utilidade desse modelo estão na versatili-
dade e no alcance de suas explicações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicologia social oferece subsídios para a compreensão da agressão 
de diferentes formas. Como objeto de estudo, a agressão está relaciona-
da a comportamentos, crenças e atitudes, percepções e expectativas. As 
evidências apresentadas neste capítulo sugerem novas formas de pensar 
e agir a respeito de nossas interações. 
A agressão e as violências são parte de nossas rotinas, mas não devem 
ser naturalizadas. Existem medidas simples, como a supervisão de crian-
ças e adolescentes e o monitoramento da dieta de exposição a conteúdos 
violentos, que contribuem para relações sociais e desenvolvimentos indi-
viduais mais saudáveis. 
As evidências dos estudos de psicologia social são importantes para 
as nossas rotinas diárias em diferentes áreas, entre elas as análises de 
agressões e violências. Compartilhe essas informações!
ATIVIDADES
Atividade 1
Apresente a definição de agressão e a sua diferença em relação ao 
conceito de violência.
Atividade 2
Apresente as principais diferenças entre as explicações sobre a hipóte-
se frustração-agressão para Dollard, Miller e Berkowitz.
Atividade 3
Relacione pelo menos três evidências de estudos da psicologia social 
sobre a relação entre o consumo de álcool e as agressões.
62 Psicologia social aplicada à segurança
Atividade 4
Relacione pelo menos três evidências de estudos da psicologia social 
sobre a relação entre a exposição prolongada aos videogames e as 
agressões.
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64 Psicologia social aplicada à segurança
3
Psicologia social e 
justiça criminal
Em julho de 2021, acompanhamos os 20 dias de busca que cul-
minaram na morte de Lázaro Barbosa de Souza, criminoso que ficou 
conhecido após matar toda uma família de chacareiros no Distrito 
Federal. Esse caso influenciou inúmeros fenômenos psicossociais na 
população da região por onde Lázaro teria se escondido, como medo 
de ser a próxima vítima, desejo de prisão e morte do criminoso e até 
mesmo denúncias inverídicas de pessoas que supostamente o teriam 
visto. Certamente essas denúncias não eram todas falsas, mas por que 
não seriam ilusões causadas pelo medo?
Se o desfecho do caso tivesse sido diferente, como seria o julga-
mento de Lázaro? Será que o júri o enxergaria como cidadão dissocia-
do de seus crimes no momento do seu julgamento? Será que outros 
crimes associados a ele iriam surgir? Será que o medo dessa figura tão 
emblemática acabou após a sua morte? Realmente são questões bas-
tante intrigantes que nos levam a uma reflexão sobre vários aspectos 
psicológicos que influenciam nossa vida em sociedade.
Já aprendemos que a psicologia social é o estudo científico de como 
as pessoas pensam, influenciam-se e relacionam-se (MYERS, 2014), 
portanto não resta dúvida de que esse conhecimento é bastante útil 
para um melhor entendimento da justiça criminal. Existem fatores psi-
cológicos que podem influenciar o cometimento de crimes? Como fun-
ciona o processo psicológico em um julgamento? Haveria possibilidade 
de influência social no testemunho ocular de crimes?
Essas e outras questões, sobre as quais muitas vezes não paramos 
para refletir, foram estudadas por abordagens psicológicas ao longo 
dos anos e tiveram impacto significativo no sistema de justiça criminal 
brasileiro e de diversos países do mundo. Neste capítulo, vamos abor-
dar teorias e casos concretos que nos ajudarão a entender melhor 
essa sistemática.
Psicologia social e justiça criminal 65
3.1 Abordagens psicossociais 
em justiça criminal Vídeo
Praticamente todas as temáticas estudadas em psicologia social 
têm relação com o direito e a justiça criminal. Você já parou para pen-
sar quantas coisas diferentes podem influenciar um comportamento 
criminoso, a ação policial para seu impedimento ou investigação e o 
processo penal e seu julgamento? Por isso é tão relevante conhecer-
mos bem os processos psicológicos relacionados ao meio social.
3.1.1 Self
O self é o processador de informações do eu que cada indivíduo 
possui, armazenando dados e dando ao sujeito a capacidade de au-
toconsciência, autorreflexão e identidade. Uma das características 
mais importantes do self é o aspecto interpessoal de seu funciona-
mento, pois trabalha na criação e manutenção dos relacionamentos, 
no desempenho de papéis sociais e na conservação da posição do 
sujeito no sistema social (ARONSON; WILSON; AKERT, 2018). Assim, 
muitas vezes, uma pessoa, por diversos fatores – como a criação 
familiar, o meio social em que passa a infância e a juventude e até 
mesmo a sua própria predisposição individual –, identifica seu papel 
social como de criminoso. O quão difícil seria mudar essa maneira 
de enxergar a si mesmo?
Pense, por exemplo, em um garoto chamado Adriano que nasceu em uma famí-
lia na qual o pai estava preso e a mãe trabalhava muito para sustentar os filhos. 
Ele mora em uma comunidade dominada por uma grande facção criminosa. Ao 
longo da sua vida, desde a infância, ocupou diversos papéis relacionados ao 
tráfico de drogas, desde “aviãozinho” (no jargão policial, trata-se da pessoa que 
leva substâncias tóxicas para um comprador e volta com o dinheiro para o dono 
da droga) até “braço direito” do chefe do tráfico.
Com base na situação apresentada, imaginemos que Adriano, já 
adulto, tenha sido preso. O quão difícil seria reintegrá-lo à sociedade, 
abandonando completamentequalquer tipo de comportamento crimi-
noso? Tudo isso é estudado pela psicologia social.
Conhecer os conceitos da 
psicologia social aplicados 
à justiça criminal.
Objetivos de aprendizagem
66 Psicologia social aplicada à segurança
3.1.2 Crenças e valores
Dois conceitos podem nos ajudar a entender o desenvolvimento de 
Adriano – o garoto citado no exemplo anterior, que cresceu em meio à 
criminalidade –, as crenças e os valores. Quando recebemos informa-
ções do mundo que nos cerca, nós as interpretamos e vamos grada-
tivamente as integrando às informações que já possuímos. Durante 
o nosso desenvolvimento, graças à interação com o meio, formamos 
crenças acerca do que nos rodeia. Assim, uma crença desenvolve-se 
na infância por meio da interação com pessoas significativas e por 
um conjunto de acontecimentos que vai confrontando e comprovan-
do uma ideia inicial.
As crenças são, por conseguinte, universais e estáveis, produzindo, 
desse modo, pensamentos automáticos apreciados como “verdades 
absolutas”. As situações com que nos defrontamos são, então, ava-
liadas com base nessas crenças centrais, por isso alguns indivíduos 
supervalorizam informações congruentes com essas crenças e me-
nosprezam as que lhes são opostas. Talvez por essa razão Adriano 
tenha sido influenciado (inclusive em suas crenças) a respeito do tipo 
de vida que pretendia ter. Essa relação está longe de ser necessária, 
ou seja, não há uma relação de causa e efeito entre ser criado em de-
terminado ambiente e compartilhar das mesmas crenças. Contudo, o 
conhecimento psicológico sugere que as influências sociais impactam 
o comportamento das pessoas.
Da mesma forma, essas crenças são estabelecidas como valo-
res pessoais, ou seja, orientam a atitude e o comportamento das 
pessoas. Trata-se de julgamentos sobre a melhor forma de se viver 
e de organizar suas prioridades. Os valores transcendem situações e 
ações específicas, guiando a seleção e a avaliação de ações, políticas, 
pessoas e eventos, bem como são ordenados pela importância re-
lativa aos demais (ALVES, 2018; SCHWARTZ, 1992). Os valores orien-
tam as atividades e os anseios das pessoas, tendo, portanto, função 
fundamental em suas vidas.
Os valores humanos são formados por meio de experiências positivas 
ou negativas com relação a experiências vividas, as quais estão relacio-
nadas ao estabelecimento e à organização das crenças que levam a con-
formidades relativamente estáveis, que são os valores (ROKEACH, 1973). 
Psicologia social e justiça criminal 67
Logo, quando recorremos ao exemplo de Adriano, que cresceu em 
meio à marginalidade, fica claro quais valores ele terá como base para 
suas atitudes, os quais, inevitavelmente, orientarão grande parte de 
seus comportamentos.
Assim, existe uma realidade objetiva no mundo exterior, mas sem-
pre a enxergamos pelas lentes de nossas crenças e nossos valores, 
que, ao longo do tempo, confrontamos constantemente com os fatos, 
de modo a compreendê-los melhor, verificando e restringindo nossos 
pontos de vista. A observação e a experimentação sistemáticas das 
nossas crenças e valores nos ajudam a ajustar o foco pelo qual inter-
pretamos o mundo real, ou seja, enxergamos nossos mundos sociais 
por meio dos óculos de crenças, atitudes e valores (MYERS, 2014).
Por essas razões, consideramos que as crenças e os valores 
são importantes, já que moldam nossa interpretação a respeito de 
nossas interações, afetando significativamente o nosso modo de 
construir mentalmente os fatos. Como regra geral, obtemos mui-
tos benefícios de nossas pressuposições, da mesma forma que, por 
exemplo, a ciência beneficia-se com a criação de teorias que orien-
tam a percepção e a interpretação do mundo. Todavia, muitas ve-
zes nos tornamos prisioneiros de nossos padrões de pensamento. 
Como afirma um antigo ditado chinês: 
“Dois terços do que vemos está atrás de nossos olhos”.
O ditado fala sobre a sabedoria milenar oriental que sugere a in-
fluência de nossos valores e crenças na interpretação de diferentes 
estímulos em nossas rotinas diárias. Dessa forma, as crenças e os 
valores estão relacionados a dois temas que discutiremos adiante: 
as atitudes e os comportamentos. Existe uma relação próxima entre 
valores, crenças e atitudes, estando interligados no sistema cognitivo 
do indivíduo. Os dois primeiros constituem-se na disposição de uma 
pessoa e auxiliam no estabelecimento de atitudes e avaliações acerca 
de tudo que compõe o mundo.
As crenças e os valores, tanto pessoais quanto culturais, parecem 
estar vinculados de maneira direta e indireta a diferentes aspectos 
68 Psicologia social aplicada à segurança
do comportamento humano, podendo, portanto, influenciar atitudes, 
decisões e comportamentos (TORRES et al., 2015).
3.1.3 Norma social
Antes de tratarmos de atitudes e comportamentos, outro conceito 
relevante e aplicável ao exemplo de Adriano é o de norma social. Ela é 
composta de costumes habituais exibidos por um grupo, por servirem 
para alcançar suas necessidades básicas. Trata-se de um modelo de se 
comportar relativo a um grupo social em uma sociedade, que, se não 
respeitado, gera uma sanção.
Norma social é uma regra explícita ou implícita que propõe um com-
portamento valorizado pela sociedade (SHERIF, 1936). Logo, normas 
são padrões para comportamentos aceitos e esperados pela maioria 
das pessoas, sendo normais para determinado grupo (MYERS, 2014), 
como podemos ver na figura a seguir:
Figura 1
Exemplo de norma social
M
yv
is
ua
ls
/S
hu
tte
rs
to
ck
O uso do véu (hijab) por mulheres muçulmanas é um exemplo de norma social.
Por exemplo, uma forma particularmente eficiente de aprender as 
normas de nosso grupo ou cultura é visitar outra cultura e ver que para 
algumas pessoas uma norma social pode parecer absurda, enquanto 
para outras é algo comum, corriqueiro.
Psicologia social e justiça criminal 69
3.1.4 Atitudes e comportamentos
Outra teoria da psicologia social de grande relevância para as fa-
ses de aplicação da justiça criminal é a teoria de atitudes. Ao con-
trário do que o senso comum sugere, a atitude não é uma ação, mas 
sim uma avaliação. Atitudes são orientações valorativas a respeito 
do mundo, de qualquer componente do ambiente que possa ser 
representado psicologicamente. Isto é, são parâmetros avaliativos 
sobre um objeto, seja ele físico ou social.
Quando os psicólogos sociais tratam da atitude de uma pes-
soa, estão se referindo a valores, crenças e sentimentos avaliativos 
relacionados a algo (pessoa, fato ou objeto) e à sua consequente 
tendência de comportamento. Consideradas em conjunto, as rea-
ções avaliativas favoráveis ou desfavoráveis a algo – muitas vezes 
enraizadas em crenças e exibidas em sentimentos e inclinações para 
agir – definem a atitude de uma pessoa (ARONSON; WILSON; AKERT, 
2018; MYERS, 2014).
Nesse sentido, acreditamos que as atitudes possuem três 
componentes:
Afetivo ou avaliativo: reflete o fato de a pessoa 
gostar ou não do objeto ou da situação avaliados.
Cognitivo: consiste nas crenças que as pessoas 
têm sobre o que estão avaliando.
Comportamental: representa as tendências 
comportamentais.
Para a psicologia social, a ação – exteriorização de uma atitude – é 
o comportamento, ou seja, a maneira como a pessoa se comporta e 
reage no meio em que vive diante de situações e estímulos recebidos; 
podemos dizer, então, que a ação é o modo de agir do ser humano 
perante o seu ambiente.
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70 Psicologia social aplicada à segurança
Algumas pesquisas já demonstraram possibilidades de influência das 
atitudes em comportamentos, principalmente em circunstâncias como:
Quando as atitudes são baseadas em experiências diretas.
Quando a pessoa avalia os componentes da intenção comportamental (crença que 
tem com relação ao que os outros acham que ela deve ou não fazer).
Quando o comportamento tem consequências relevantes para a pessoa.
Quando a percepção da pessoa se dá com relação aoseu controle comportamental, 
em uma teoria dominada pelo comportamento planejado (que será mais 
aprofundado adiante).
Ainda recorrendo ao exemplo de Adriano, para facilitar a compreen-
são do conceito, percebemos a forma e a estrutura de suas crenças e 
seus valores ao longo de sua vida, que vão orientar suas atitudes, sua 
avaliação de tudo que o cerca e, de alguma forma, seu comportamento.
Nesse contexto, o sujeito pode vir, por exemplo, a ter atitudes 
positivas ou negativas com relação a drogas e armas, o que, por sua 
vez, pode influenciá-lo a aceitar convites e a se envolver em situa-
ções delitivas que envolvam esses artifícios. Portanto, a influência 
das atitudes nos comportamentos e na sua capacidade preditiva 
pode variar de acordo com as variantes individuais, as normas, a 
influência social, entre outros.
Sendo assim, entendemos que crenças, valores e atitudes in-
fluenciam comportamentos delitivos. Mas essas teorias têm somen-
te papel nesse recorte da justiça criminal? Naturalmente não, pois 
da mesma forma que esses fenômenos da psicologia social são a 
base de comportamentos delitivos, também influenciam todos os 
indivíduos envolvidos no processo criminal, desde o policial que está 
lidando diariamente com a criminalidade, passando pelos advoga-
dos que buscam subsídios para defender seus clientes, chegando 
aos promotores de justiça e juízes que vão julgar os acusados. Todas 
essas pessoas têm seus comportamentos embasados nesses impor-
tantes fenômenos da psicologia social.
Em suma, a Figura 2 sintetiza o processo delitivo de um criminoso. 
Comumente, não são comportamentos isolados e espontâneos, sem 
Psicologia social e justiça criminal 71
base individual e social, e sim construções ao longo da vida relaciona-
das ao meio social em que o indivíduo está incluído.
Figura 2
Processo delitivo de um criminoso
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Crenças: conjunto de ideias formadas, 
estruturadas e estabelecidas por uma 
pessoa como pensamentos automáticos 
apreciados como verdades.
Valores: crenças relativamente 
estáveis, ligadas à emoção, que geram 
sentimentos; constructo motivacional que 
orienta as atitudes das pessoas.
Normas sociais: costumes habituais 
exibidos por um grupo; regras de 
comportamento social, explícitas ou 
implícitas, que propõem um comportamento 
valorizado pela sociedade.
Atitudes: orientações valorativas a respeito 
do mundo e de qualquer componente 
do ambiente que possa ser representado 
psicologicamente; parâmetros avaliativos de 
um objeto, seja ele físico ou social.
Comportamentos: respostas observáveis 
de uma pessoa por meio da exteriorização 
de suas atitudes; maneira como uma 
pessoa se comporta e reage perante o 
meio em que vive, diante de uma situação 
e dos estímulos recebidos.
Fonte: Adaptada de Aronson; Wilson; Akert, 2018.
Portanto, as relações entre atitudes e comportamentos são dinâ-
micas. Mesmo em nível abstrato, os conceitos são complementares. 
Ao tratarmos de crenças, valores, normas sociais, atitudes e com-
portamentos, referimo-nos a uma proposição conceitual da análise 
psicológica de nossas interações. Vamos trabalhar com esses ele-
mentos ao longo do capítulo.
3.1.5 Teoria do comportamento planejado – 
atitude e comportamento
Essa teoria analisa a relação entre atitudes e comportamentos 
(AJZEN, 1991). Um conceito importante é a noção de controle com-
portamental percebido, que se refere à percepção do indivíduo 
quanto ao grau de dificuldade ou facilidade de engajamento em de-
terminado comportamento.
72 Psicologia social aplicada à segurança
Por exemplo, caso um indivíduo queira praticar um roubo, mas veja que há 
muitos policiais próximos ao local escolhido, certamente entenderá que 
não é o momento adequado, deixando para externalizar esse comporta-
mento em outra oportunidade no mesmo local ou em um destino diferente, 
ou simplesmente desistindo daquela conduta. Esse é o seu controle perce-
bido de comportamentos.
Assim, a teoria do comportamento planejado sugere que uma ati-
tude delituosa (a avaliação positiva da pessoa com relação à prática 
de crimes) somada às normas subjetivas em que está inserida, que re-
forçam a normalidade desse tipo de conduta e a crença individual do 
quanto é fácil ou difícil de se engajar em determinado comportamen-
to delituoso (controle comportamental percebido), levam-nos ao caso 
de Adriano, que estamos usando como exemplo, para que possamos 
avaliar o quanto ele deverá se esforçar para desempenhar um compor-
tamento criminal, culminando na sua transição para a ação, ou seja, 
o crime cometido. Para facilitar nosso entendimento, a Figura 3 traz a 
representação gráfica dessa teoria:
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Figura 3
Versão simplificada da teoria do comportamento planejado
Comportamento delituoso
Intenção comportamental: 
pretensão, desejo de se 
comportar de determinada 
maneira.
Atitude
Norma subjetiva: 
modelo de comportamento 
relativo a um grupo social em uma 
sociedade, que, se não respeitado, 
gera uma sanção.
Controle comportamental 
percebido: percepção do 
indivíduo quanto ao grau de 
dificuldade ou facilidade de 
engajamento em determinado 
comportamento.
Fonte: Adaptada de Ajzen, 1991.
Psicologia social e justiça criminal 73
Imagine outra situação em que um indivíduo tenha sido criado em um am-
biente no qual a violência física fosse recorrente. É possível que as normas 
subjetivas daquele contexto familiar sugerissem ao indivíduo que a violên-
cia é algo normal e positivo. Em certo dia, após se envolver em um conflito 
na escola, ele resolve responder a alguém com agressão física. Assim, suas 
normas, bem como suas atitudes e seu controle comportamental apresen-
tados, sugerem que a repetição desse comportamento pode se estabelecer. 
Digamos que ele retornasse para casa sem que houvesse represálias e o 
conflito com aquele indivíduo não tivesse acontecido, essa decisão passa-
ria a ser incentivada.
A teoria do comportamento planejado oferece um modelo analíti-
co para analisarmos a relação entre atitudes e comportamentos. Por 
meio dela, os comportamentos podem ser interpretados com base 
em conceitos úteis e objetivos.
3.1.6 Influência social
Mesmo conhecendo o caminho que leva uma pessoa a estabele-
cer crenças, valores e atitudes (fenômenos psicológicos que possuem 
grande relevância na predição de comportamentos), muitas vezes 
existem situações que levam a comportarmos diversos a essa estru-
tura estabelecida. Denominamos esse fenômeno de influência social 
ou influência do grupo, que se refere à indução do comportamento por 
algum tipo de pressão social.
Com relação à justiça criminal, destacamos a importância de en-
tender o fenômeno da conformidade, que é uma alteração de com-
portamentos ou crenças como resultado da pressão do grupo (duas 
ou mais pessoas que, por mais de alguns instantes, interagem e in-
fluenciam-se mutuamente, percebendo-se como “nós”).
Portanto, no caso de Adriano, mesmo que ele muitas vezes pu-
desse entender inicialmente alguns comportamentos delitivos como 
errados, acabava se conformando em praticá-los, devido à influência 
do grupo no qual estava inserido. Essa influência pode ser normativa, 
quando a conformação está embasada no desejo de uma pessoa de 
satisfazer às expectativas dos outros para obter aceitação (quem não 
quer ser aceito? Com Adriano não é diferente), ou informativa, quan-
74 Psicologia social aplicada à segurança
do as pessoas aceitam evidências da realidade fornecidas por outras 
pessoas porque têm o desejo de estarem certas.
Um exemplo comum de influência do grupo é o fenômeno da de-
sindividualização, ou seja, a perda da autoconsciência e do receio de 
avaliação que ocorre em situações que promovem a capacidade de 
resposta às normas do grupo, sejam elas boas ou más. Nesses casos, 
muitas vezes as pessoas se comportam conforme o grupo, sem nem 
ao menos pensar nas consequências daqueles atos, apenas seguindo 
o fluxo, poisdeixam de ser uma pessoa independente para ser inter-
dependente, apenas um membro de um grupo.
Figura 4
Exemplo de desindividualização em manifestações
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A desindividualização é muito comum em grandes grupos, como gangues, manifestantes e 
torcidas organizadas.
Esse é um típico caso de influência normativa, pois está fortemen-
te ligado ao anseio de satisfazer às expectativas dos outros para a 
aceitação de sua imagem social, sendo muitas vezes influenciados, 
sem sua consciência, por regras implícitas ou explícitas de um grupo, 
mesmo sem a aceitação privada (ARONSON; WILSON; AKERT, 2018; 
MYERS, 2014).
Psicologia social e justiça criminal 75
3.2 Punição, crime e recuperação: a 
visão da psicologia social Vídeo
Discutimos como as crenças, os valores, as normas e as atitu-
des podem influenciar os comportamentos, assim como a influência 
social daqueles que fazem parte do grupo no qual alguém está in-
serido. Todavia, mudar comportamentos também é uma estratégia 
relevante para a mudança de atitudes.
Assim, é importante ressaltarmos que o caminho em que com-
portamentos influenciam a mudança de atitudes existe, principal-
mente porque o próprio funcionamento do self leva as pessoas a 
alinharem seus comportamentos e suas atitudes, buscando o ge-
renciamento de impressão (necessidade de se apresentar de modo 
consistente). Nós também buscamos evitar a dissonância cogniti-
va (desconforto causado pela discrepância entre comportamentos 
e cognições), pois, para reduzir o desconforto, justificamos nossas 
ações para nós mesmos.
Ademais, de acordo com a teoria da autopercepção, nossas ações 
são autorreveladoras, ou seja, quando não temos certeza sobre 
nossos sentimentos ou crenças, buscamos pistas observando nos-
so comportamento passado e, dessa forma, passamos a acreditar 
naquilo que defendemos (MYERS, 2014). Assim, todas essas teorias 
apresentadas explicam que uma mudança de comportamento pode 
ser de grande relevância na mudança de atitudes de uma pessoa.
Nesse sentido, um exemplo bastante conhecido na literatura é 
o role playing, ou seja, o desenvolvimento de um papel social que 
se refere a um conjunto de normas que define como as pessoas 
em dada posição social devem se comportar. Uma pesquisa clássi-
ca nessa temática é o estudo de prisão simulada desenvolvido por 
Philip Zimbardo (1971) com estudantes universitários do departa-
mento de psicologia da Universidade Stanford.
Os estudos de Stanford apresentaram como resultado uma mis-
tura de realidade e ilusão, desempenho de papéis e identidade pró-
pria, ou seja, os comportamentos estabelecidos influenciaram as 
Conhecer as teorias da 
psicologia social sobre pu-
nição, crime e recuperação.
Objetivos de aprendizagem
76 Psicologia social aplicada à segurança
atitudes dos alunos e, consequentemente, os seus comportamentos 
futuros.
Outro exemplo importante de que um comportamento pode in-
fluenciar atitudes é a prática do dizer para acreditar, pois muitas ve-
zes as pessoas ajustam o que dizem para agradar os que as cercam 
e, quando influenciadas a defender alguma coisa da qual discordam 
(regra geral), sentem-se mal com isso. Todavia, se o fazem primei-
ramente de maneira verbal ou por escrito e mantêm esse compor-
tamento, começam a acreditar naquilo, desde que não tenham sido 
subornadas ou coagidas.
Por exemplo, alguns pesquisadores (HIGGINS; MCCANN, 1984; 
HIGGINS; RHOLES, 1978) ilustraram essa funcionalidade em uma 
pesquisa com universitários que deveriam ler uma descrição da 
personalidade de uma pessoa e depois a resumir a um terceiro 
participante. Eles acabaram escrevendo e dizendo descrições mais 
positivas quando sabiam que o destinatário gostava da pessoa e, 
dessa forma, em um momento posterior, demostraram que também 
passaram a gostar mais daquela pessoa. Algum tempo depois, soli-
citados a recordar do que tinham lido, lembraram de uma descrição 
mais positiva do que havia ocorrido de fato. Ou seja, nós tendemos 
a adaptar nossas mensagens para os ouvintes, e isso pode fazer com 
que adaptemos nossas atitudes a isso.
O entendimento da reprovabilidade de condutas delitivas é um 
dos caminhos principais para que esses tipos de práticas sejam de-
sencorajadas. Contudo, pelos próprios conceitos discutidos, não 
adianta somente focar a mudança de comportamento sem atuar 
também nas crenças, nos valores, nas normas e nas atitudes dos 
indivíduos.
O impacto torna-se reduzido quando, após o cumprimento de 
pena, o indivíduo retorna para um local em que as influências nor-
mativas e sociais favorecem a criminalidade como algo positivo. É 
preciso tentar mudar suas atitudes e, mesmo não sendo tão fácil 
assim, suas crenças e seus valores, de modo que possa entender e 
lutar contra a tendência de praticar novos crimes quando voltar à 
condição de liberdade plena.
O filme O segredo: ouse 
sonhar, produzido com 
base no livro homônimo, 
aborda a lei da atração e 
como a vida pode ser me-
lhor se as pessoas agirem 
de modo positivo diante 
das situações cotidianas.
Direção: Andy Tennant. EUA: 
Lionsgate; Roadside Atractions; 
Gravitas, 2020.
Filme
Psicologia social e justiça criminal 77
Nesse ponto, há outros conceitos da psicologia social relevan-
tes na busca de mudanças de comportamentos delituosos, como o 
excesso de justificação e as motivações intrínsecas. De acordo com 
Pansera et al. (2016), o menor incentivo que fará as pessoas fazerem 
alguma coisa, geralmente, é o mais efetivo para fazê-las gostarem 
da atividade e continuarem executando-a, ao contrário de grandes 
recompensas. Ou seja, oferecer dinheiro para uma criança gostar 
de ler (grande recompensa) pode ter efeito menos relevante do que 
ensinar a importância da leitura, oferecer o carinho para isso e o 
reconhecimento quando ela pratica essa atividade.
Buscar a motivação intrínseca reforça, portanto, que quando as 
pessoas fazem alguma coisa que gostam de fazer, sem recompensa 
ou coação, atribuem seu comportamento ao seu amor pela ativida-
de. Recompensas externas minam a motivação intrínseca, levando 
as pessoas a atribuírem seu comportamento ao incentivo.
Segundo a psicologia social, a mudança de valores e atitudes 
favorece a redução da criminalidade por meio da modificação de 
comportamentos. Assim, a disponibilização de oportunidades de 
mudanças em condições de socialização reduz comportamentos 
criminosos, ou seja, faz com que a mudança de atitudes, crenças 
e valores fortaleça sua tendência de se motivar intrinsecamente a 
buscar outro caminho.
3.3 Psicologia social em depoimentos 
e testemunhos Vídeo
Abordadas as principais teorias relativas às influências que po-
dem levar pessoas à prática de comportamentos delituosos, vamos 
passar aos fenômenos psicológicos sociais relacionados ao ordena-
mento jurídico, de maneira um pouco mais ampla que o crime, sua 
ocorrência e seu processo de evitação. Para tanto, utilizaremos um 
caso real para a análise das próximas temáticas, com base na repor-
tagem a seguir:
78 Psicologia social aplicada à segurança
Charles Ray Finch foi acusado de assassinar o dono de um posto de gasolina, 
Richard Holloman, na Carolina do Norte em 1976. Finch sempre negou o crime, 
mas, mesmo com provas de que estava em outro local quando o caso ocorreu 
(estava jogando pôquer com amigos), foi identificado como o autor por um fun-
cionário do estabelecimento, Lester Floyd Jones, o qual afirmava que os agresso-
res eram três homens negros, um deles vestindo um casaco comprido e portando 
uma espingarda de cano serrado, com a qual atirou na vítima.
Depois desse relato, policiais abordaram o acusado e revistaram seu carro, no 
qual encontraram um cartucho de espingarda. Finch, ordenado a vestir um casaco 
longo, foi colocado ao lado de outros homens negros, que vestiam roupas dife-
rentes, para identificação. Então, Jones o identificou como o criminoso. Durante o 
julgamento, a acusação alegou que o cartucho pertencia à arma de Finch, e a au-
tópsia afirmou que os ferimentosda vítima foram feitos com tiros de espingarda.
Décadas depois, o caso de Finch foi revisado, graças aos trabalhos de um grupo 
de estudantes de Direito da universidade Duke, sendo atestado que a arma dos 
disparos foi uma pistola, garantindo, assim, a liberdade de Finch depois de 43 
anos preso injustamente.
Fonte: Adaptado de Corrêa, 2019.
Estudo de caso
• Conhecer a aplicação de 
conceitos da psicologia 
social em depoimentos e 
confissões.
• Discutir os processos 
psicológicos aplicados à 
justiça criminal.
Objetivos de aprendizagem
Por mais que o erro testemunhal não tenha sido o único equívo-
co no caso da condenação injusta de Finch, por que frequentemente 
ocorrem erros desse tipo? Esses erros levaram à criação de um pro-
grama denominado de Projeto Inocência, que já identificou mais de 250 
casos de pessoas que foram inocentadas de crimes por meio de provas 
de DNA ou acusadas injustamente, na maioria dos casos, por identifica-
ções equivocadas de testemunhas e confissões forçadas. Naturalmen-
te, um tema de tamanha relevância é estudado pela psicologia social.
3.3.1 Depoimentos de testemunhas oculares
Diversas pesquisas demonstram que histórias vividas e testemu-
nhos pessoais podem ser poderosamente persuasivos, particular-
mente em comparação com informações abstratas, ou seja, dizer 
que viu algo mesmo sem a certeza disso pode ter um poder de con-
vencimento elevado (WELLS, 2005). Mesmo com tamanha importân-
cia, ainda é muito comum ocorrerem erros de testemunhas oculares 
de crimes. E por que isso acontece? Vamos tentar entender um pou-
co melhor agora.
Os erros estão presentes em nossas percepções e memórias por-
que nossas mentes não são precisas como máquinas fotográficas 
O vídeo Projeto Inocência: 
jovem passa dois anos 
preso por crimes que não 
cometeu mostra a realida-
de de um homem preso 
injustamente e reforça a 
importância de julgamen-
tos que sejam apurados 
de modo adequado para 
que não aconteçam 
injustiças a vulneráveis. 
Nesse sentido, o Projeto 
Inocência mostra-se 
muito importante.
Disponível em: https://globoplay.
globo.com/v/9427974/. Acesso em: 
10 ago. 2021.
Vídeo
https://globoplay.globo.com/v/9427974/
https://globoplay.globo.com/v/9427974/
Psicologia social e justiça criminal 79
com uma grande memória, nas quais podemos gravar com precisão 
e detalhe cada um dos eventos vivenciados e depois buscá-los com 
acurácia e precisão de detalhes. Pesquisas mostram que somos 
bons em reconhecer um rosto retratado quando mais tarde é mos-
trado o mesmo retrato ao lado de um novo rosto; por outro lado, 
nossa visão tem dificuldade de lidar com diferenças sutis nas pers-
pectivas, nas expressões e na iluminação, pois construímos nossas 
memórias parte com base no que percebemos no momento que es-
tamos tentando lembrar e parte em nossas expectativas, crenças e 
conhecimento atual.
Por isso, não fica difícil entender a razão de Lester ter confundi-
do Finch como o autor do crime de homicídio com base nas poucas 
características recordadas. Somado a isso, fortes emoções comumente 
presentes em quem vivenciou um crime podem afetar memórias de 
testemunhas oculares. Por exemplo, em uma pesquisa de 2009, visitan-
tes do The London Dungeon (O Calabouço de Londres) – uma atração 
turística localizada em Londres, Inglaterra, que recria vários eventos 
históricos macabros, oferecendo uma experiência de terror com ato-
res, efeitos especiais e passeios – foram monitorados em suas fre-
quências cardíacas, e os resultados demostraram que os que tiveram 
maior emoção posteriormente cometeram mais erros na identificação 
de alguém que eles tinham encontrado durante a visita (VALENTINE; 
MESOUT, 2009).
Figura 6
London Dungeon
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Visitantes entrando no London Dungeon.
80 Psicologia social aplicada à segurança
Além disso, memórias falsas podem acabar se transformando em 
memórias reais e serem tão persuasivas quanto se fossem verdadei-
ras. Por exemplo, em um estudo, pesquisadores passaram dez se-
manas dizendo a crianças “reflita profundamente e me diga se isso já 
aconteceu com você”: “você se lembra de ter ido ao hospital com uma 
ratoeira presa em seu dedo?”. Quando entrevistadas posteriormente 
por um novo adulto e feita a mesma pergunta, 58% das crianças em 
idade pré-escolar produziram histórias falsas e frequentemente deta-
lhadas do evento fictício (CECI; BRUCK, 1993a, 1993b, 1995).
Isso também ocorre com adultos. Por exemplo, em um estudo com 
estudantes universitários norte-americanos e britânicos, foi solicitado 
que os participantes lembrassem de eventos de sua infância, como 
quebrar uma janela com a mão ou uma enfermeira retirar uma amos-
tra de sangue. Como resultado, cerca de 25% dos participantes apre-
sentaram memórias falsas (MAZZONI; MEMOM, 2003). Esse fenômeno 
ocorre porque, ao buscarmos na memória e tentarmos visualizar algu-
ma coisa ativa, o cérebro tem boas chances de construir a cena como 
se de fato a tivéssemos vivenciado (GONSALVES et al., 2004).
Detalhando esse fenômeno, testemunhas oculares frequente-
mente estão equivocadas porque, para ser precisa na identificação 
do evento, uma pessoa deve completar em plenitude três fases do 
processamento da memória.
1ª
A fase de aquisição é quando notamos todas as informações 
do ambiente que nos cerca e prestamos atenção a elas, o que é 
impossível para a nossa capacidade humana. Por essa razão, acabamos 
selecionando algumas informações.
Nessa fase, o recebimento de informações é limitado por di-
versos fatores, como o tempo de observação da cena, a natureza 
das condições de visibilidade, o estresse, entre outros. No caso do 
crime na Carolina do Norte, certamente Lester atentou a somente 
alguns detalhes dos possíveis autores e o restante foi uma constru-
ção com base nas próprias perguntas feitas pelos policiais e pelas 
informações posteriores ao crime, as quais lhe fizeram criar uma 
imagem-expectativa do possível assassino.
Mais especificamente com relação a essa etapa, geralmente eventos 
criminosos são justamente recheados desses obstáculos de aquisições 
Psicologia social e justiça criminal 81
de informações, pois, em geral, ocorrem em condições de precariedade 
da visão, cheios de estresse e de maneira inesperada e rápida. Quando 
são praticados com o uso de armamento, frequentemente as testemu-
nhas atentam mais às características da arma do que às peculiaridades 
do autor do crime, como seus traços e detalhes das vestimentas.
Um fenômeno bastante comum nessa etapa é o viés da própria 
raça. Pesquisadores demonstraram que pessoas reconhecem melhor 
detalhes das faces e especificidades de pessoas da própria raça, pois 
os indivíduos comumente têm mais contato com pessoas da própria 
raça, o que permite que aprendam a distinguir melhor um sujeito de 
outro, ao passo que com pessoas de outras raças a tendência é apenas 
de focar as diferenças (BRIGHAM; MEISSNER, 2001). Esse pode ter sido 
mais um motivo do erro de identificação testemunhal no caso de Finch.
2ª
A fase de armazenamento é o processo em que alguém guarda na 
memória os detalhes selecionados da cena e do fato vivenciado. Nesse 
caso, diversos fatores podem influenciar a maneira como a informação 
é armazenada e posteriormente buscada.
Em algumas pessoas, que têm a capacidade de memória quase foto-
gráfica, esse pedaço de lembrança guardada na memória permanecerá 
inalterado ao longo do tempo. Porém, a maioria das pessoas armazena 
memórias como se fossem fotografias impressas, que se desgastam 
com o tempo, e isso pode gerar diversos vieses na recordação, causan-
do, no tema em estudo, vários erros testemunhais.
3ª
A fase de recuperação é quando buscamos de volta as lembranças 
armazenadas em nossa memória, parte também influenciada por vários 
fenômenos, como o da memória reconstrutiva, quando informações 
posteriores ao evento acabam influenciando e distorcendo a 
lembrança original, ou o da monitoração da fonte, causada por 
perguntasenganosas que acabam nos levando a identificar a fonte de 
nossas memórias e frequentemente a relatar coisas que na verdade 
não estavam presentes no momento do fato.
Há também o efeito do melhor palpite, que ocorre quando, por 
exemplo, mesmo sem ter a certeza do autor do crime de fato, a teste-
munha aponta o que mais se parece com o que ela lembra. Certamente 
esses também foram problemas encontrados no caso da falsa acusa-
82 Psicologia social aplicada à segurança
ção e condenação de Finch. Para facilitar o entendimento das fases es-
tudadas, a Figura 7 representa melhor como o processo ocorre.
Figura 7
Processo de compreensão das memórias
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Fase 2
Armazenamento: 
aquilo que a 
testemunha guarda 
na memória.
Fase 1
Aquisição:
o que é percebido 
pela testemunha.
Fase 3
Recuperação:
o que a testemunha 
lembra de fato.
Fato
Fonte: Adaptada de Aronson; Wilson; Akert, 2018.
Observando essa figura, somada ao que apresentamos anterior-
mente, fica claro o porquê de existirem tantos erros na identificação 
realizada por testemunhas oculares, uma vez que entre o evento real 
e a narrativa dos fatos por parte da testemunha muitas informações 
são perdidas ao longo do caminho, bem como há a influência de di-
versos fatores supervenientes que afetam nossas memórias. Esse é o 
caso não só de Finch, mas de vários outros que já ocorreram ou ainda 
ocorrerão no processo jurídico no Brasil e no mundo.
3.3.2 Processos psicológicos em confissões
As confissões, da mesma forma que os testemunhos oculares, 
também podem conter fatores que devem ser observados, pois nem 
sempre são o que parecem. Um evento bastante conhecido foi o cri-
me da mulher estuprada e brutalmente espancada enquanto corria no 
Central Park, em Nova York, em 1989.
Dada a situação, ela acabou desmaiando e, quando acordou, 
não lembrava de nada do ataque. Todavia, cinco adolescentes 
afro-americanos e hispânicos que estiveram no parque naquela noi-
te acabaram presos e confessaram o crime, fornecendo, inclusive, 
detalhes sinistros do ocorrido (CENTRAL..., 2019).
Psicologia social e justiça criminal 83
Quatro das confissões foram gravadas em vídeo e reproduzidas no 
julgamento e, em grande parte com base nelas, todos os adolescen-
tes foram condenados e receberam longas penas de prisão. Porém, 13 
anos depois, outro homem confessou esse e outros crimes que sem-
pre praticava sozinho, sendo os rapazes considerados inocentes, pois 
as amostras de DNA correspondentes, recuperadas da vítima, não eram 
compatíveis com nenhum deles e sim com o homem. Mas, se desde o 
princípio eram inocentes, por que os adolescentes confessaram o crime?
O primeiro motivo é o próprio processo de interrogatório policial, 
pois muitas vezes os investigadores já estão convictos de que o sus-
peito é culpado, e essa crença influencia a maneira que eles conduzem 
o interrogatório e até mesmo a lembrança dos interrogados (como vi-
mos anteriormente sobre testemunhas oculares). Esses procedimen-
tos recheados de perguntas importantes, isolamento dos suspeitos e 
estresse podem influenciar sobremaneira as declarações, gerando, in-
clusive, confissões falsas, como nesse caso.
Esse é mais um fenômeno psicológico social aplicado ao crime e à 
justiça criminal, mas que tem a ver com todas as temáticas estudadas 
até agora, pois até mesmo pessoas inocentes são capazes de mudar 
atitudes e comportamentos com relação a um evento passado em que 
elas não tiveram qualquer participação.
Nesse contexto é importante tratar de um fenômeno bastante conhe-
cido: o viés da perspectiva de câmera. Em alguns experimentos, os par-
ticipantes precisavam assistir a um vídeo de um suspeito confessando 
um crime durante o interrogatório policial. Quando a perspectiva da 
confissão estava focada no suspeito, os participantes percebiam a con-
fissão como genuína, porém quando a câmera estava voltada para o in-
vestigador, identificavam-na mais como coação (LASSITER; IRVINE, 1986; 
LASSITER; MUNHALL, 2001; LASSITER et al., 2005). 
Durante muitos anos nos EUA, por exemplo, grande parte dos vídeos 
de confissão eram voltados ao rosto do confessor, o que gerava uma 
altíssima taxa de condenações baseada nesse fator. Como consequência 
dessas pesquisas, a Nova Zelândia instituiu uma política nacional con-
tendo protocolos para que os interrogatórios policiais fossem filmados 
com foco tanto nos policiais quanto nos depoentes, o que tornou seus 
processos mais justos.
A série Olhos que conde-
nam foi inspirada no caso 
emblemático envolvendo 
os cinco adolescentes 
negros condenados pela 
acusação de estupro 
de uma mulher branca. 
A produção mostra os 
erros graves que ocorre-
ram na investigação e os 
danos causados aos jo-
vens que permaneceram 
presos injustamente, le-
vantando questionamen-
tos sobre os conceitos de 
verdade e justiça.
Direção: Ava DuVernay. EUA: Harpo 
Films; Tribeca Productions; Array; 
Participant Media, 2019.
Série
84 Psicologia social aplicada à segurança
Fica claro, portanto, pelas pesquisas e pelos casos estudados, que 
a submissão de uma testemunha ou um acusado a muitas horas de in-
terrogatório prolongado causa cansaço psicológico. Isso pode os levar, 
inclusive, a criar memórias inexistentes, ao extremo de até pessoas ino-
centes se tornarem tão fatigadas mentalmente que acreditam serem 
culpadas de algo que não fizeram.
Mas como resolver esse problema? Seria possível acabar com esse 
tipo de erro procedimental? Realmente é bastante complicado acabar 
totalmente com essa situação, pois muitas variáveis estão envolvidas. 
Nas próximas seções entenderemos melhor práticas institucionais que 
podem ajudar muito nesses casos, principalmente com relação às atua-
ções policial e jurídica.
3.4 Fatores psicológicos na atuação policial 
Vídeo
Os fatores psicológicos desempenham funções relevantes na atua-
ção de profissionais de segurança pública. A aplicabilidade de aspectos 
relacionados aos conceitos da psicologia social é um recurso da gestão 
dos serviços de segurança pública. A capacitação desses profissionais 
e a realização de pesquisas sobre temas relacionados à segurança são 
dimensões necessárias às políticas públicas de segurança.
Assim, saber que os valores, as crenças e as atitudes podem influen-
ciar seus comportamentos na atuação policial e entender os diversos 
processos psicológicos presentes na influência social e nas normas gru-
pais em que estão inseridos, as possíveis falhas na identificações de cri-
minosos, as melhores práticas de prevenção criminal e policiamento 
comunitário ao longo do mundo, entre outros temas, deve sempre ser 
estudado pelos policiais não só no início de suas carreiras, mas também 
em cursos de especialização e aperfeiçoamento.
3.4.1 Atuação policial na prevenção 
imediata da criminalidade
Quando temos a atuação policial na fase preventiva (policiamento os-
tensivo; oficiais reconhecidos pela farda/armamento) ou na fase de re-
pressão imediata, logo após a ocorrência de um crime, é importante que 
os policiais tenham alguns cuidados na identificação de possíveis infra-
tores da lei ou em como utilizar as informações passadas pelas vítimas 
• Conhecer os fatores 
psicológicos aplicados à 
atividade policial.
• Analisar os aspectos do 
treinamento policial por 
meio de conceitos da 
psicologia social.
Objetivos de aprendizagem
Psicologia social e justiça criminal 85
ou testemunhas oculares de crimes na busca do suspeito. É importante 
lembrar sempre, pelo que estudamos, que não podemos confiar no tes-
temunho ocular, pois muitas vezes erros de identificação são cometidos.
Portanto, ao prender um suspeito, é primordial que os policiais 
em operação busquem também outras provas criminais: o que o pos-
sível infrator está portando; quais os produtos do crime; pedir que as 
testemunhas reconheçam não somente o acusado, mas também as 
características gerais que informem aspectos específicos de sua aparên-
cia (o viés da própria raça) e até mesmo da arma utilizada(muitas vezes 
as vítimas ou as testemunhas focam mais a arma do que o autor).
Além disso, é preciso que o policiamento em nível preventivo esteja 
sempre ligado à comunidade, tendo-a como parceira e buscando uma 
base no policiamento comunitário. É importante lembrarmos também 
que características do ambiente influenciam sobremaneira as práticas 
delituosas, e a ocupação de espaços públicos pela própria comunidade 
e seu adequado cuidado contribuem muito com a redução criminal e 
a sensação de segurança, conforme apresentam as diversas pesquisas 
no âmbito da prevenção criminal por meio do design ambiental (CPTED, 
sigla do inglês Criminal Prevention Through Environmental Design.
3.4.2 Treinamento de policiais investigadores e a 
redução de vieses na identificação de suspeitos
No âmbito do processo de investigação, diversas ações podem ser 
desenvolvidas para torná-lo mais justo. Como estudamos até agora, um 
dos principais problemas encontrados está na identificação de acusados 
por meio de testemunhas oculares. Dadas essas tendências, quais reco-
mendações poderiam ser dadas para aumentar a precisão nesses casos? 
Uma resposta geral seria sempre manter treinados e capacitados os poli-
ciais para atuarem na busca de provas durante a investigação.
Por exemplo, inúmeras pesquisas de psicólogos sociais identifica-
ram que a precisão do depoimento da testemunha ocular pode ser 
prejudicada pela construção das memórias das testemunhas, das ví-
timas e até dos acusados. Portanto, é fundamental, em primeiro lu-
gar, deixar a testemunha contar do que se lembra sem interrupção e 
encorajá-la a visualizar a cena do incidente e o seu estado emocional 
quando ocorreu. Isso é importante porque o olho humano não é uma 
câmera de vídeo, e diferenças de luz e ângulo, ocorrência de estresse, 
86 Psicologia social aplicada à segurança
viés de raça, foco na arma, entre outros fatores, prejudicam o reconhe-
cimento de um rosto.
Por isso, não sobrecarregar o entrevistado de perguntas durante o in-
terrogatório é primordial, pois quando informações são dadas para uma 
testemunha, o seu efeito pode resultar na crença de que a informação é 
verdadeira, mesmo sem ser algumas vezes. Vemos isso, inclusive, em ca-
sos de confissões de crimes não cometidos, pois a sequência de eventos 
em um crime foi relatada repetidamente aos acusados, que acabaram 
confessando e até inventando detalhes de algo que não ocorreu.
Outro ponto relevante é com relação à utilização de fotografias, pois 
a literatura demonstra que usar inúmeros retratos de rostos também re-
duz a precisão na posterior identificação do culpado, já que, em geral, as 
testemunhas necessitam parar, pensar e comparar rostos de modo ana-
lítico. Por exemplo, testemunhas que ajudam a fazer um retrato falado 
posteriormente têm mais dificuldade para identificar o rosto verdadeiro 
em uma fileira de suspeitos (WELLS, 2005).
A identificação precisa ser automática e com pouco esforço mental. 
Pesquisas demonstraram, por exemplo, que testemunhas oculares que 
fizeram suas identificações em menos de 10 a 12 segundos estavam 
quase 90% corretas; aquelas que levavam mais tempo estavam apenas 
aproximadamente 50% corretas. Embora outros estudos contestem 
uma regra pura de 10 a 12 segundos, eles confirmam que identificações 
mais rápidas são geralmente mais precisas (DUNNING; PERRETTA, 2002; 
WEBER et al., 2004).
Nesse sentido, é importante não cansar demais os depoentes, pois, 
ao estarem psicologicamente fatigados, podem relatar informações 
incorretas ou falsas, mesmo sendo interrogados por investigadores 
experientes. Por isso, além dessas técnicas de entrevistas, atualmente 
devemos contar com o apoio de ferramentas tecnológicas: provas de 
DNA; depoimentos registrados eletronicamente e com foco tanto no 
suspeito quanto no investigador; polígrafos 1 ; entre outras técnicas mais 
modernas, que devem sempre estar à disposição dos policiais no proces-
so de investigação.
Outro ponto importante estudado pela psicologia social nas investiga-
ções é o processo de identificação de autores criminais em filas – aqueles 
procedimentos aos quais já assistimos em filmes, em que os suspeitos 
ficam em filas e as testemunhas, em outra sala, protegidas por um vidro 
Um polígrafo, popular-
mente conhecido como 
detector de mentiras, é um 
dispositivo ou proce-
dimento que mede e 
registra vários indicadores 
fisiológicos, como pressão 
arterial, pulso, respiração 
e condutividade da pele, 
enquanto uma pessoa é 
questionada e responde a 
uma série de perguntas.
1
Psicologia social e justiça criminal 87
espelhado, tentam identificar o possível autor. O tema é tão relevante 
que gerou até recomendações na literatura (ARONSON; WILSON; AKERT, 
2018; MYERS, 2014). Nesse sentido, aconselhamos, entre outras coisas:
que seja dito às testemunhas que o suspeito pode ou não estar no grupo;
que o organizador da fila não saiba quem é o suspeito; 
que todos na fila se assemelhem à descrição do suspeito;
que ao utilizar fotografias, estas sejam apresentadas sequencialmente e não 
simultaneamente;
que sejam separadas amostras de rosto, corpo e voz para a identificação das 
testemunhas oculares, pois pesquisas demonstraram que a maioria foi precisa na 
identificação do suspeito por rosto, corpo e voz.
Assim, mesmo sabendo que ainda diversas inovações podem surgir 
no processo investigativo, o importante é sempre dispor aos policiais e 
seus membros ferramentas tecnológicas e capacitação adequada além 
de, é claro, condições dignas de trabalho para que possam obter resulta-
dos mais precisos e justos relacionados ao cometimento, à prevenção e 
à investigação de crimes.
3.5 Fatores psicológicos no processo 
de justiça e no tribunal do júri Vídeo
Por fim, após abordados os processos da psicologia social desde a 
fase preliminar até a ocorrência dos crimes, com os fenômenos que co-
laboram com a ocorrência de comportamentos delituosos, assim como 
as influências no processo de identificação e investigação após a ocor-
rência de crimes, passaremos a tratar da fase jurídica. Sabemos que no 
Brasil e no mundo há diferenças no ordenamento e no processo judi-
cial, mas buscaremos trazer fenômenos relevantes, que possam redu-
zir a ocorrência de injustiças nessas fases, pois, por mais que a justiça 
se cumpra sempre, condenar um inocente pode gerar consequências 
muito mais graves do que não punir o verdadeiro culpado.
Conhecer os fatores 
psicológicos aplicados ao 
processo criminal.
Objetivos de aprendizagem
88 Psicologia social aplicada à segurança
Nesse sentido, um tribunal não deixa de ser uma amostra do mun-
do social, no qual estão presentes os diversos processos sociais coti-
dianos, com consequências importantes para os envolvidos. Em casos 
criminais, os fatores psicológicos estudados no capítulo estão presen-
tes em todos aqueles que vão participar do processo de julgamento, 
desde o acusado, passando pelas vítimas e testemunhas, chegando 
aos jurados (se for o caso), promotores e juízes. Sendo assim, apenas 
reforçamos que a construção de valores, crenças e normas sociais 
dos membros do Poder Judiciário está presente nessa equação e, por-
tanto, deve ser utilizada com correção para não gerar prejuízos injus-
tos às partes envolvidas.
A primeira ideia é justamente que, assim como recomendamos para 
o caso dos policiais, as carreiras jurídicas tenham em algum momento 
da sua formação – seja nas faculdades jurídicas, seja nos concursos, 
seja nos cursos de carreira jurídica – a temática da psicologia social. 
Dessa maneira, já temos o alcance de um objetivo, que é o conheci-
mento das influências de crenças, valores, atitudes e normas sociais, de 
modo que elas sejam utilizadas em favor da justiça, e não enviesadas 
no processo de julgamento. Ou seja, é importante que não só os advo-
gados, mas principalmente os promotores e juízes deixem de lado suas 
preconcepções de vítimas, criminosos e policiais para avaliar os casos 
em julgamento da maneira mais plena possível.Para que isso aconte-
ça, é necessário que conheçam minimamente como os processos psi-
cológicos sociais acontecem.
Por sua vez, no caso dos processos relativos ao tribunal do júri, há 
ainda um aditivo, que é a participação de pessoas da comunidade com 
o poder de condenar ou absolver acusados. Em alguns países do mun-
do, o júri julga outros tipos de crime, mas no Brasil somente os cri-
mes dolosos contra a vida são julgados. Independentemente do tipo 
de crime julgado, diversos processos psicológicos sociais são passíveis 
de identificação no tribunal do júri. O primeiro deles é o de persuasão, 
pois durante aquele processo de julgamento, em que pese existirem 
provas, testemunhos e linhas de pensamento, não há dúvida de que o 
papel persuasivo dos acusadores (no Brasil, a promotoria) e defensores 
(advogados de defesa) é de grande relevância no convencimento dos 
jurados a acreditar nas provas oferecidas.
Nesse sentido, de maneira bem resumida, a persuasão, que é um 
tipo de influência social, pode ser definida como o processo pelo qual 
Psicologia social e justiça criminal 89
uma mensagem induz a mudança de crenças, atitudes ou comporta-
mentos. Os caminhos que levam à persuasão são principalmente a 
remoção de obstáculos, pois, basicamente, o comunicador persuasivo 
no tribunal precisa fazer seus ouvintes prestarem atenção nele e na 
mensagem que está passando, compreenderem-na, acreditarem nela, 
lembrarem-se dela posteriormente na hora de votar a respeito da cul-
pa ou inocência de alguém e comportarem-se de acordo com o que foi 
convencido pelo comunicador, seja ele de acusação ou defesa.
Existem diversas teorias sobre persuasão disponíveis na literatura, 
mas vamos apenas examinar as que estão mais relacionadas ao pro-
cesso do júri. Antes disso, é importante entendermos que os elementos 
da persuasão são:
Comunicador:
quem passa a 
mensagem.
Canal de comunicação:
como é dito.
Mensagem:
conteúdo que se 
quer informar.
Público:
para quem se diz (os 
jurados).
Assim, os comunicadores são mais persuasivos se parecerem 
verossímeis e atraentes, mas não somente eles, pois o mesmo se aplica 
aos acusados de crimes.
Por exemplo, pesquisas demonstraram que estudantes com uma 
descrição de um caso criminal com fotografias de réus atraentes ou 
Fi
re
of
he
ar
t/
Tu
ka
ng
 D
es
ai
n/
Sh
ut
te
rs
to
ck
90 Psicologia social aplicada à segurança
não para eles acabaram por julgar o mais atraente menos culpado 
e condenar o outro a uma pena menor (EFRAN, 1974). Em outro ex-
perimento, participantes foram solicitados que julgassem a culpa de 
réus com rostos de características infantis e outros com rostos mais 
maduros. Os adultos com rostos infantis (pessoas com olhos grandes 
e redondos e queixos pequenos) pareciam mais inocentes e foram 
considerados culpados com mais frequência por crimes de mera ne-
gligência, mas com menor frequência por atos criminosos intencionais 
(ZEBROWITZ-MCARTHUR, 1988).
Outro fator bastante relevante também relacionado ao processo 
de persuasão é a semelhança com os jurados, pois isso leva a sermos 
mais simpáticos para com um réu com o qual podemos nos identificar, 
uma vez que, se pensarmos que não cometeríamos aquele ato crimino-
so, podemos supor que é improvável que alguém como nós o fizesse.
Alguns experimentos demonstraram, por exemplo, que quando 
participantes exercem o papel de jurados, demonstram ser mais sim-
páticos a um réu com quem compartilha atitudes, religião, raça, gêne-
ro, posição política e até língua. O viés racial do jurado é geralmente 
pequeno, mas é constatada uma tendência a tratar grupos raciais di-
ferentes do seu de modo menos favorável (SELBY; CALHOUN; BROCK, 
1977). Além disso, em casos de agressão sexual, também foi observada 
a tendência a tratar pessoas de gênero diferente do jurado de maneira 
menos favorável (TOWSON; ZANNA, 1983).
Com base nessas pesquisas, é natural que a escolha dos jurados 
em países em que essa atribuição cabe à defesa e à acusação (como 
vemos nos filmes) ou sua dispensa (como acontece no Brasil) pode 
ser um processo muito mais científico do que intuitivo. Em diversos 
julgamentos, pesquisadores prestam consultoria na “seleção científi-
ca do júri” para ajudar advogados a eliminar aqueles propensos a não 
serem simpáticos. Também muitos deles têm se apoiado nessas téc-
nicas para identificar as perguntas que podem ser usadas para excluir 
aqueles com tendência a ser contra seus clientes, e a maioria relata 
satisfação com os resultados.
Mas não é somente isso, outros fenômenos também estão pre-
sentes, como o da reatância psicológica, que ocorre quando alguém 
ameaça nossa liberdade de ação. As reações tendem a ser negativas 
Psicologia social e justiça criminal 91
quando existem imposições contra a liberdade de escolha e a auto-
nomia. Por exemplo, durante um tribunal do júri, uma ordem do juiz 
para ignorar um depoimento ou uma afirmação do advogado de de-
fesa para que o passado do réu seja completamente desconsiderado 
pode ter um efeito oposto, aumentando o impacto daquela prova, em 
especial se a fala for de caráter emocional, como a descrição deta-
lhada de um crime anterior com crueldade. Por mais que os jurados 
tendam a afirmar que respeitam o devido processo legal e não consi-
deram a prova juridicamente descartada em sua decisão, as pesqui-
sas demonstram que essas informações são levadas em consideração 
pelos jurados, mesmo que implicitamente.
Além dessas questões individuais, não podemos descartar a in-
fluência do grupo no processo de decisão do jurado. Um caso mui-
to comum de influência social que ocorre em discussões comuns 
e acaba sendo transportado também para o júri é o fenômeno da 
polarização, na qual ocorre o aumento das tendências preexisten-
tes dos membros produzidas pelo grupo após a discussão de ideias. 
Ou seja, caso um jurado queira convencer outro a mudar de ideia, 
pode ocorrer o contrário e só reforçar sua posição inicial. Por outro 
lado, um fenômeno grupal comum na psicologia social é a influência 
da minoria, que, sendo consistente e persistente em seus pontos 
de vista, acaba transmitindo uma autoconfiança tão forte que causa 
deserções da maioria e, consequentemente, mudanças de atitudes 
com relação ao acusado.
Por fim, outro fenômeno psicológico social identificado em pes-
quisas envolvendo jurados é o da indulgência, que ocorre, em espe-
cial, quando, após as deliberações, as evidências não são altamente 
incriminadoras ou o crime não é tão grave. Com isso, geralmente os 
jurados tenderam a ser mais benevolentes em seus julgamentos dos 
acusados do que eram originalmente.
deserção: desistência 
tácita ou presumida de 
um recurso por uma das 
partes de um litígio.
indulgência: clemência, 
tolerância e perdão; ato 
de absolver alguém de um 
castigo ou uma punição.
Glossário
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicologia social é relevante em diversos processos do ordenamento 
jurídico. Desde o entendimento inicial do crime até os processos policial e 
legal, inúmeras são as ferramentas que essa área pode fornecer para um 
alcance mais palpável da justiça, seja na redução dos crimes, seja na ade-
quabilidade das decisões investigativas e judiciais. Ao longo do capítulo, 
estudamos diversos fenômenos, mesmo que sem tanto aprofundamento, 
92 Psicologia social aplicada à segurança
que certamente podem ser muito úteis aos operadores do direito. As di-
versas pesquisas realizadas ao longo dos anos foram fundamentais para 
a melhor compreensão de fenômenos relacionados ao ordenamento ju-
rídico, mas, logicamente, há ainda muito espaço para outras que possam 
ampliar o escopo da literatura dessas duas áreas tão importantes que são 
a psicologia social e o Direito.
ATIVIDADES
Atividade 1
Dê os conceitos de crenças, valores, normas sociais, atitudes e com-
portamentos segundo a psicologia social.
Atividade 2
Descreva as fases de processamento da memória.
Atividade 3
Descreva o fenômeno da reatância psicológica aplicada ao contexto 
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94 Psicologia social aplicada à segurança
4
Psicologia social e crime
O conhecimento psicológico é uma das áreas que contribuem para 
a compreensão das causas e consequências do crime. Assim como a 
Psicologia, campos de estudo como a sociologia, a antropologia, a econo-
mia, o Direito, a ciência política, a biologia e até a filosofia demonstraram 
esforços para compreender o comportamento criminoso e suas condi-
cionantes. Ao longo do tempo, uma área específica foi sendo consolidada 
com metodologias, teorias e conceitos próprios: a criminologia. Dessa for-
ma, a criminologia aproxima saberes de diferentes áreas de estudo com 
o objetivo de explicar, analisar e responder ao comportamento criminoso, 
às suas causas e às suas consequências.
Neste capítulo, analisaremos algumas teorias sobre os comportamen-
tos criminosos. Serão destacadas as primeiras formulações analíticas 
apresentadas pelos autores positivistas. Em seguida, discutiremos três 
teorias especialmente influentes: a teoria da ação racional, a teoria do 
comportamento planejado e a teoria das atividades rotineiras. Em todos 
esses casos, analisaremos exemplos de sua aplicação em casos concre-
tos, enfatizando os subsídios para a formulação de políticas públicas na 
área de segurança.
4.1 Contextualização 
Vídeo Os comportamentos criminosos mobilizam o interesse analítico dos 
pesquisadores. Ao longo do tempo, diferentes abordagens teóricas bus-
caram explicar o crime, bem como suas causas e consequências. Os 
conceitos utilizados variam de acordo com a disciplina e a perspectiva 
teórica utilizada. Assim, por exemplo, sociólogos comumente se baseiam 
em categorias como estrutura social, anomia e cultura. Já economistas 
enfatizam os processos envolvidos na tomada de decisão dos indivíduos, 
em que estímulos e incentivos são elementos importantes. Por sua vez, 
psicólogos mobilizam diferentes conceitos, como personalidade, inteli-
gência, influência social, dentre outros. Em última medida, as abordagens 
são distintas, mas o objetivo comum é compreender o comportamento 
criminoso para, por vezes, oferecer possibilidades de intervenção.
anomia: trata-se de um 
fenômeno socialcarac-
terizado pelo enfraqueci-
mento dos laços sociais e, 
com isso, pela redução da 
capacidade de regulação 
dos comportamentos dos 
indivíduos. É um conceito 
formulado pelo sociólogo 
francês Émile Durkheim.
Glossário
Psicologia social e crime 95
Ainda no século XIX, os primeiros autores que buscaram analisar o 
comportamento criminoso por meio das lentes da psicologia foram in-
fluenciados pelas ideias iluministas. Assim como na criminologia, a psi-
cologia inicialmente procurou analisar o indivíduo criminoso, buscando 
as causas para esse comportamento. À época, as condicionantes do 
crime eram associadas a fatores alheios à vontade das pessoas, como 
condicionantes hereditárias que impactavam os comportamentos. Por 
exemplo, um conceito importante na época foi a noção de insanida-
de moral, conforme argumentava o psicólogo britânico James Prichard 
(1786-1848). Para o autor, esse conceito descrevia um estado de de-
sarranjo mental que permitia ao indivíduo manter suas faculdades in-
telectuais, mas não seus princípios morais, que estariam pervertidos e 
depravados. A esse respeito, o autor argumenta que:
a capacidade de se orientar está perdida ou seriamente compro-
metida; o indivíduo é considerado incapaz, não de conversar ou 
raciocinar sobre qualquer assunto que lhe é proposto, para isso 
ele comumente atuará com grande astúcia e versatilidade, mas 
para se comportar com decência e de maneira adequada nas 
rotinas diárias. Seus desejos e inclinações, suas conexões, seus 
gostos e desgostos terão passado por uma mudança mórbida, e 
essa mudança parece ser a causa originária ou estar na fundação 
de qualquer distúrbio. (PRICHARD, 1837, p. 4)
Como podemos perceber, a explicação de Prichard para os compor-
tamentos criminosos é baseada em uma espécie de deficit de sentimen-
tos morais básicos. Além disso, acreditava-se que a transmissão dessa 
condição seria realizada de maneira hereditária. Com o passar do tem-
po, outras explicações foram sendo desenvolvidas, aperfeiçoando-se 
a abordagem psicológica sobre o comportamento criminoso. De um 
modo geral, três principais linhas argumentativas podem ser destaca-
das: os estudos de psicanálise, os estudos baseados em inteligência e 
os estudos sobre personalidade (SHOEMAKER, 2018).
4.1.1 Abordagem psicanalítica
Uma das principais abordagens sobre o crime na psicologia foi 
elaborada por Sigmund Freud (1856-1939), que ficou conhecido pela 
abordagem psicanalítica. Como ponto de partida, o psiquiatra austría-
co categorizou a mente humana em três dimensões: o id, o ego e o 
superego. A primeira é a dimensão egoística, responsável pelos ins-
Conhecer as principais 
linhas argumentativas da 
abordagem psicológica 
sobre comportamentos 
criminosos.
Objetivos de aprendizagem
96 Psicologia social aplicada à segurança
tintos mais básicos e primitivos do ser humano, que atua de modo 
inconsciente. Um dos exemplos utilizados de maneira recorrente por 
Freud era a libido, um impulso relacionado à sexualidade. Já o ego é 
o componente racional da mente humana, tendo como uma de suas 
funções a regulação dos impulsos do id. Para o autor, o ego atua com 
base nas convenções e regras sociais. Por fim, o superego representa a 
consciência individual, a qual é derivada da convivência social, também 
conhecida como o aspecto moral da personalidade.
Id
Eg
o
Superego
Consciente 
Pré-consciente 
Inconsciente 
Fonte: Adaptada de Siegel; Welsh, 2018, p. 109.
Figura 1
Estrutura da mente humana
Uma das características da abordagem psicanalítica é ser incremen-
tal, ou seja, o indivíduo é descrito como alguém que se desenvolve em 
estágios. Para o autor, tais estágios são comumente teorizados com base 
no desenvolvimento sexual. Assim, a personalidade seria desenvolvida 
de acordo com as etapas e os estágios com o crescimento sexual. Por 
exemplo, para o autor, é esperado que uma criança desenvolva atração 
pelo pai ou pela mãe do sexo oposto. Caso um dos genitores seja visto 
como uma ameaça à busca pela atenção do outro, podem ser desenvol-
vidos complexos, como o de Édipo, para os meninos, e o de Electra, para 
as meninas (FREUD, 1989).
Além disso, a teoria freudiana enfatiza que os conflitos entre o id, 
o ego e o superego podem estar dentre as causas de transtornos de 
comportamento. Apesar de não ter empregado esses conceitos para 
analisar crimes, a influência de Freud foi relevante para essa área de 
Psicologia social e crime 97
estudo. Por exemplo, Hewitt e Jenkins (1946) propuseram uma tipolo-
gia de personalidades associadas a jovens delinquentes com base nas 
ideias de Freud:
Quadro 1
Tipologia de personalidades
Tipologia Característica
Superinibida
Proeminência do superego, resultando em caracterís-
ticas como timidez e introspecção.
Agressiva não socializada
Superego fraco, resultando em uma personalidade 
marcada por agressividade e impulsividade.
Delinquente socializado
Personalidade híbrida, cujo superego seria normal na 
presença de seu grupo social, mas fraco em outros 
contextos. Com isso, a agressividade e a impulsivida-
de emergiriam em situações específicas.
Fonte: Adaptado de Hewitt; Jenkins, 1946.
De maneira geral, a abordagem psicanalítica foi utilizada ao longo 
do tempo enfatizando dois aspectos principais. Em primeiro lugar, 
está a dimensão conflitiva entre as dimensões da personalidade. O 
surgimento de características psicológicas associadas a comporta-
mentos antissociais e criminosos demonstraria os conflitos entre 
as dimensões da personalidade e os limites sociais. Tais conflitos 
se desenvolvem por estágios ao longo do tempo na vida dos indi-
víduos, sendo a infância e a adolescência períodos que requerem 
maior cuidado por parte dos responsáveis (SHOEMAKER, 2010). Em 
segundo lugar, os conflitos são comparados a doenças e, como tal, 
necessitam de tratamento, sob pena de se tornarem mais graves ao 
longo do tempo.
4.1.2 Abordagem sobre inteligência
A abordagem sobre inteligência está relacionada à ideia de que 
o comportamento criminoso pode estar associado aos deficit de 
inteligência. Assim como outros elementos da mente humana, a 
inteligência era originalmente considerada como sendo herdada ge-
neticamente (TREADWELL, 2012). Essa abordagem foi especialmente 
influente no início do século XX, tornando-se mais popular com o de-
senvolvimento dos testes de quociente de inteligência (testes de QI).
De maneira geral, os testes de QI surgiram como auxílio às ati-
vidades escolares. O primeiro formato foi apresentado por Alfred 
O histórico de surgimento 
e utilização dos testes de 
QI é o tema da palestra 
do psicólogo Stefan 
Dombrowski. No Ted Talk 
de abril de 2020, o pro-
fessor recupera aspectos 
importantes sobre esses 
instrumentos psicológicos 
e reflete sobre como sua 
utilização aconteceu ao 
longo do tempo.
Disponível em: https://www.ted.
com/talks/stefan_c_dombrowski_
the_dark_history_of_iq_
tests?language=pt-br. Acesso em: 
17 ago. 2021.
Vídeo
https://www.ted.com/talks/stefan_c_dombrowski_the_dark_history_of_iq_tests?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/stefan_c_dombrowski_the_dark_history_of_iq_tests?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/stefan_c_dombrowski_the_dark_history_of_iq_tests?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/stefan_c_dombrowski_the_dark_history_of_iq_tests?language=pt-br
98 Psicologia social aplicada à segurança
Binet e Théodore Simon, em 1905. Logo que seu uso se tornou po-
pular, diferentes pesquisadores buscaram analisar as possíveis rela-
ções entre os deficit de inteligência e o cometimento de crimes.
Um desses autores foi o psicólogo americano Henry Goddard 
(1866-1957). Em 1920, o autor realizou pesquisas com jovens inter-
nados em reformatórios nos Estados Unidos. Dentre os resultados, 
o autor classificou como mentalmente defeituosos aqueles que obti-
veram um escore inferior a 75 pontos em testes de QI.
Como conclusão, o autor sugere que os deficit de inteligência 
eram condições inatas, determinadas geneticamente, que estariam 
relacionadasa dificuldades de controlar impulsos e de julgar situa-
ções corriqueiras do dia a dia (SHOEMAKER, 2010). Essa perspectiva 
ficou conhecida como teoria naturalista, tendo em vista sua inclina-
ção pela predisposição genética.
Outros autores utilizaram essa abordagem ao longo do tem-
po. Por exemplo, Healy e Bronner analisaram jovens de Chicago e 
Boston, nos EUA, em 1926. De modo similar a Goddard, os autores 
concluíram que os jovens que cometiam crimes tinham entre 5 e 
10 vezes mais chances de serem mentalmente defeituosos (HEALY; 
BRONNER, 1926).
Em estudos recentes, essa abordagem foi retomada com argu-
mentos diferentes. Por exemplo, evidências das análises de Hirschi 
e Hindelang (1977) indicaram que os testes de QI são, de fato, predi-
tores adequados de inteligência e que, como tal, permitem predizer 
comportamentos delinquentes. Para os autores, os escores reduzi-
dos de QI impactam o desempenho escolar, o que está associado a 
comportamentos antissociais (HIRSCHI; HINDELANG, 1977).
A relação entre QI e crime é controversa, em especial a aborda-
gem determinística proposta originalmente por Goddard e outros 
autores. Ao longo do tempo, outros estudos enfatizaram a dimensão 
social da inteligência. Ou seja, a inteligência não seria uma condição 
hereditária, mas um resultado dos estímulos dos pais, da escola, da 
família e de outros atores que interagem com as crianças e os ado-
lescentes (EELLS et al., 1951). Essa perspectiva ficou conhecida como 
teoria do estímulo e desafiou a perspectiva anterior, que relacionava 
QI e criminalidade (SUTHERLAND, 1973).
Psicologia social e crime 99
4.1.3 Abordagem sobre personalidade
O desenvolvimento científico da psicologia passou por uma mudança 
de foco no fim do século XIX, quando começou a priorizar os comporta-
mentos observados como objeto de estudo, deixando o mundo interior, 
ou aquilo que não era observável, em segundo plano (HOLLIN, 2007). Tra-
ta-se da ascensão da tradição behaviorista ou comportamental na psicolo-
gia. Sendo assim, a relação entre crime e características de personalidade 
passou a ser um tema de interesse de diferentes pesquisadores.
Em termos gerais, a personalidade pode ser considerada como 
sendo os padrões de comportamento que, incluindo pensamentos e 
emoções, distinguem os indivíduos (SIEGEL; WELSH, 2018). Com isso, 
uma abordagem utilizada nos primeiros estudos foi buscar característi-
cas dominantes na personalidade de criminosos. Por exemplo, Eleanor 
Glueck e Sheldon Glueck conduziram um amplo estudo com mil jovens 
em Boston, tendo como resultado a diferença estatisticamente signi-
ficativa para traços de personalidade, como hostilidade, suspeição, 
desconfiança, ambivalência, sadismo, narcisismo, associados à delin-
quência (GLUECK; GLUECK, 1950).
Outro autor que se destacou nessa área de pesquisa foi Hans 
Eysenck. Ele era um psicólogo alemão que construiu sua carreira aca-
dêmica na Inglaterra. Em sua obra, Crime e Personalidade, o autor ar-
gumenta que a personalidade é determinada biologicamente, tendo 
como componentes principais a extroversão, o neuroticismo (desajus-
tamento e instabilidade emocional) e o psicoticismo (intensidade em 
conflitos emocionais). Tais traços de personalidade, quando exagera-
dos, estariam associados a chances maiores de se desenvolver com-
portamentos antissociais.
O argumento teórico de Eysenck se baseia em uma estreita relação 
entre fatores biológicos, sociais e individuais. Apesar disso, a transmis-
são genética de determinados elementos estaria associada ao mau fun-
cionamento do cérebro e do sistema nervoso, o que comprometeria a 
habilidade de aprender por meio do contexto social (EYSENCK, 1964). 
Por exemplo, durante a infância, as crianças aprendem diferentes com-
portamentos por meio da socialização, o que para o pesquisador repre-
sentaria o desenvolvimento de uma consciência. Entretanto, nos casos 
de condicionantes genéticas, alguns indivíduos não desempenhariam o 
controle de comportamentos de maneira adequada.
supeição: característica 
emocional relacionada à 
desconfiança em relação 
aos outros.
Glossário
100 Psicologia social aplicada à segurança
Os traços de personalidade são interpretados como escalas que va-
riam do ponto inferior (baixo) até o superior (alto). Para cada traço, existe 
uma avaliação própria, sendo que a associação entre os diferentes esco-
res desses traços estaria associada, segundo Eysenck, aos comporta-
mentos. Assim, por exemplo, indivíduos com escores elevados nos três 
traços de personalidade apresentariam fortes tendências antissociais, 
com características associadas à impulsividade (elevada extroversão), 
ansiedade (elevado neuroticismo) e agressividade (elevado psicoticis-
mo) (EYSENCK, 1979).
Em estudos recentes tem sido relatada a relação entre transtor-
nos de personalidade e comportamentos criminosos. Um desses 
casos é o transtorno de personalidade antissocial (TPAS). Em 
termos clínicos, esse transtorno é caracterizado por com-
portamentos reiterados de descaso com as consequên-
cias e os direitos dos outros (BLACKBURN, 2007). 
Trata-se de um transtorno mais frequente 
em homens e pessoas jovens, sendo que 
sua apresentação pode vir acompanhada 
por outras comorbidades, como abuso de 
drogas e transtornos de deficit de atenção. Por exemplo, pessoas 
com esse tipo de transtorno são comumente indiferentes às conse-
quências de seus atos em relação a outras pessoas, tendem a culpar 
as vítimas pelo crime cometido ou racionalizar o seu comportamento, 
responsabilizando outros que não ele (BLACKBURN, 2007).
4.2 Teoria da ação racional 
Vídeo A teoria da ação racional ou teoria da ação refletida (tradução li-
vre do original Reasoned Action Theory) é um modelo explicativo sobre 
comportamentos. É uma abordagem conhecida por sua objetividade 
e aplicabilidade a diferentes contextos. Sua formulação original foi 
apresentada por Martin Fishbein (1936-2009), em 1963, um psicólogo 
da Universidade da Pensilvânia. Ao longo do tempo, novos conceitos e 
formulações foram sendo incorporados, com destaque para a contri-
buição de Icek Ajzen (1942-), em 1975, um psicólogo da Universidade 
de Massachusetts Amherst. Originalmente a teoria da ação racional 
buscou explicar o comportamento com base na identificação de seus 
principais determinantes, dentre eles as atitudes.
Complexidade do 
comportamento humano
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• Conhecer os concei-
tos da teoria da ação 
racional.
• Refletir sobre a utiliza-
ção da teoria da ação 
racional na compreen-
são de comportamen-
tos criminosos.
Objetivos de aprendizagem
Na época em que a teoria foi desenvolvida, as discussões aca-
dêmicas sobre atitudes apresentavam poucos consensos. Desde o 
início do século XX, as atitudes eram definidas como tendências 
para agir (ALLPORT, 1985), ou seja, indicando sua capacidade de 
predizer comportamentos. Entretanto, com o passar do tempo, 
diferentes estudos questionaram essa relação, indicando inclusi-
ve inconsistências nas medidas utilizadas para ambas as variáveis 
(WICKER, 1969). Esse contexto de discussões é relevante para si-
tuar a teoria da ação racional. 
Para Fishbein (1967), a relação entre atitudes e comportamen-
tos seria melhor teorizada se a própria definição de atitude fosse 
aperfeiçoada, ou seja, para o autor, essa definição se refere a um 
“conceito unidimensional que revela a quantidade de afeto favorá-
vel ou contrário a um objeto psicossocial” (FISHBEIN, 1967, p. 478). 
Com isso, o autor propõe a separação entre atitudes e outros 
conceitos, como crenças e valores. Uma das razões é de natureza 
metodológica, ou seja, atitudes não são observáveis diretamente 
porque são variáveis hipotéticas ou latentes.
Assim, por exemplo, se uma pessoa comumente assiste a cor-
ridas de Fórmula 1, esse é um tipo de comportamento que, ao 
ser reiterado ao longo do tempo, torna possível inferir que essa 
pessoa gosta de esporte a motor. O resultado dessa inferência é 
a atitude, e a estabilidade ao longo do tempo permitesupor que 
existe uma tendência em gostar ou não de es-
porte a motor, o que revela um pro-
cesso psicológico (favorável) 
acerca do objeto (o esporte 
a motor).
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Psicologia social e crimePsicologia social e crime 101101
102 Psicologia social aplicada à segurança
Fishbein e Ajzen (2015) propuseram três princípios para 
possibilitar a distinção entre as variáveis (crenças, atitudes e 
comportamentos):
 • A predição de comportamentos é mais precisa do que a de cate-
gorias comportamentais ou objetivos. Por exemplo, jogar futebol 
é um comportamento que faz parte da categoria fazer exercícios, 
a qual pode ter como objetivo a perda de peso. Assim, para ava-
liar o comportamento de uma pessoa, é mais interessante inves-
tigar se ela pratica futebol, e não se ela tem o objetivo de perder 
peso. Esse é um princípio metodológico que reduz imprecisões, 
pois a pessoa pode alcançar o objetivo de perder peso por outros 
caminhos além dos apresentados.
 • A predição de comportamentos específicos é mais precisa do que 
a de comportamentos em geral. Apesar de parecer óbvio, esse 
princípio revela a distinção entre os diferentes tipos de compor-
tamentos e as formas de acessá-los. Retomando o exemplo an-
terior, pode ser que a pessoa tenha como objetivo a perda de 
peso e, para tanto, pratique futebol. Ainda assim, a forma de rea-
lizar tal comportamento (objetivo de perder peso) pode ser muito 
diversa.
 • A predição de comportamentos é mais precisa quando realizada 
no mesmo nível de especificidade das crenças, atitudes e inten-
ções. Esse é o princípio da compatibilidade, que está relacionado 
ao princípio anterior. Para tanto, os autores propõem a distinção 
de quatro componentes comportamentais: a ação envolvida, o 
objetivo a ser alcançado, o contexto em que ocorre e o período. 
Logo, jogar futebol (ação) pode ser realizado duas vezes por se-
mana (período), em campo sintético (contexto), com duração de 
45 minutos e sem substituição (objetivo).
Em outras palavras, quando falamos em jogar futebol, diferen-
tes pessoas podem imaginar distintas maneiras de executar essa 
ação. De acordo com o princípio da compatibilidade, a medição des-
se comportamento deve ser específica e realizada de acordo com o 
mesmo nível de abstração das atitudes, crenças e intenções.
Para darmos outro exemplo desse princípio, digamos então que 
o tema estudado seja a utilização de tecnologias. Como argumenta 
Sarayut Sridee/Shutterstock
Psicologia social e crime 103
Ajzen (2020, p. 2), o nível de análise pode ser muito específico, como 
questionar sobre “a instalação (ação) de uma webcam (objetivo) em 
casa (contexto) nos próximos três meses (período)”. Por outro lado, 
o objetivo do pesquisador pode ser mais amplo, por exemplo: “com-
prar (ação) um dispositivo conectado à internet (objetivo) nos próxi-
mos três meses” (AJZEN, 2020, p. 2). Nesse caso, não se trata apenas 
de um objeto (webcam), e o contexto não é especificado.
Com isso, a teoria da ação racional pode ser representada da se-
guinte maneira:
Figura 2
Modelo simplificado da teoria da ação racional 
Fatores contextuais: 
• individuais (personalidade, 
emoções e comportamentos 
anteriores);
• sociais (educação, idade, 
gênero, renda e raça);
• informações (conhecimento e 
mídia).
Crenças Atitudes Comporta-
-mentos
Intenções
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Fonte: Adaptada de Fishbein; Ajzen, 2015, p. 22.
Desse modo, os autores argumentam que os comportamentos 
ocorrem de maneira espontânea, com base nas informações e nas 
crenças que cada pessoa possui a respeito do objeto a que se re-
fere. Muitas são as maneiras de se obter informações ou formar 
crenças a respeito de situações ou objetos. As características indi-
viduais e as experiências desempenham papel importante, assim 
como condições de socialização, educação, grupos sociais e acesso 
a informações.
Mesmo as características de personalidade influenciam na for-
mação de crenças a respeito do mundo. Em última medida, para 
Fishbein e Ajzen (2015), não importa como essas crenças foram for-
madas, mas sim como elas guiam a decisão de adotar certo compor-
tamento. Assim, por exemplo, uma pessoa pode ter várias crenças 
sobre exercícios físicos: que são entediantes, uma perda de tempo 
e até mesmo despropositados. Em conjunto, essas crenças podem 
104 Psicologia social aplicada à segurança
fazer com que a pessoa desenvolva atitudes negativas em relação 
ao exercício físico, o que pode levar a intenções também negativas, 
conduzindo assim a ações (comportamentos) negativas, como evitar 
o esforço físico, as atividades ao ar livre, dentre outras.
Uma das características do modelo da ação racional é argumen-
tar que uma atitude pode indicar uma tendência à ação, mas não 
necessariamente um comportamento. Para Fishbein e Ajzen (2015), 
outros elementos devem ser levados em consideração, por exem-
plo, a pressão social.
No modelo teórico dos autores, a pressão social foi incorporada 
como norma social subjetiva, designando a relevância do contexto 
social e das relações sociais na definição dos comportamentos. Em 
suma, a teoria da ação racional representou uma formulação inicial 
de um novo modelo teórico, que foi logo aperfeiçoado para incluir 
novos elementos. Esse modelo ficou conhecido como teoria do com-
portamento planejado.
4.3 Teoria do comportamento planejado 
– comportamento criminoso Vídeo
A teoria do comportamento planejado incorporou um elemento 
novo à teoria da ação racional: o controle comportamental perce-
bido. Esse processo se refere à crença do indivíduo em realizar o 
comportamento, ou seja, a sua experiência anterior e a sua capaci-
dade de superar obstáculos que irão impedir ou dificultar sua ação 
(FISHBEIN; AJZEN, 2015). Assim, quanto mais elevado for o contro-
le comportamental percebido, maiores serão as chances de que o 
comportamento seja de fato realizado. Além disso, os autores ela-
boraram os demais elementos detalhadamente, diferenciando as 
características específicas dos seus processos.
O modelo da teoria do comportamento planejado é demonstrado 
na figura a seguir.
• Conhecer os conceitos 
da teoria do comporta-
mento planejado.
• Relacionar as teorias da 
ação racional e do com-
portamento planejado.
Objetivos de aprendizagem
Psicologia social e crime 105
Figura 3
Esquema da teoria do comportamento planejado
Fatores contextuais: 
• individuais (personalidade, 
emoções e comportamentos 
anteriores); 
• sociais (educação, idade, 
gênero, renda e raça); 
• informações (conhecimento 
e mídia).
Controle atual: 
habilidade, aptidões, 
fatores contextuais).
Crenças 
comporta-
mentais 
Crenças 
normativas
Crenças de 
controle
Atitudes 
sobre o 
comporta-
mento
Norma 
percebida
Comporta-
mentos
Controle 
compor-
tamental 
percebido
Intenções
rikkyall/Shutterstock
Fonte: Adaptada de Fishbein; Ajzen, 2015, p. 22.
Como podemos perceber, três tipos de crenças foram diferen-
ciados no modelo do comportamento planejado. As crenças com-
portamentais se referem à expectativa sobre as consequências 
positivas ou negativas, caso o comportamento seja realizado. Assim, 
as crenças comportamentais influenciam as atitudes, positivas ou 
negativas, sobre o comportamento. Por exemplo, no caso da crença 
positiva sobre praticar exercício físico, pode ser esperada uma me-
lhor qualidade de vida. Já a crença normativa diz respeito às crenças 
formadas com base na aprovação ou desaprovação do comporta-
mento em questão por pessoas importantes para aquele indivíduo.
Logo, é possível que a crença normativa de um indivíduo seja fa-
vorável à prática de exercício físico caso um amigo muito próximo 
também pratique esportes, levando à norma percebida, ou pressão 
social, de se engajar naquele comportamento. As crenças de controle 
são relacionadas à percepção de fatores individuais ou ambientais, 
que podem facilitar ou impedir a realização de um comportamento. 
Ou, ainda, pode ser queuma pessoa de estatura baixa deixe de jogar 
basquete por acreditar que isso dificulta a prática desse esporte. 
Esse tipo de crença está associado ao controle comportamental per-
cebido ou à autoeficácia (BANDURA, 1977).
Em suma, Fishbein e Ajzen (2015) argumentam que, quanto mais 
favoráveis forem as atitudes e as normas percebidas, e quanto maior 
for o controle comportamental percebido, mais intensa será a intenção 
da pessoa em realizar um determinado comportamento.
Na tese Em briga de marido e mulher mete-se a colher sim! Uma tríplice aliança 
entre a Teoria do Comportamento Planejado, a Teoria da Intervenção do Especta-
dor e técnicas de influência social como forma de combate ao feminicídio, Cintia 
Loss Pinto utiliza a teoria do comportamento planejado para a criação de 
campanhas úteis ao combate à violência contra as mulheres.
Acesso em: 24 ago. 2021.
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/37646
Artigo
Mas como esse modelo tem sido utilizado para explicar o crime? Na 
verdade, a teoria do comportamento planejado tem sido empregada 
para explicar diferentes tipos de comportamentos, como comporta-
mento de consumo, atividades físicas, abuso de substâncias psicoati-
vas e utilização de tecnologias (AJZEN, 2020). A teoria tem sido utilizada, 
por exemplo, para explicar o comportamento das pessoas em relação 
às denúncias de crimes.
Em 2015, Keller e Miller (2015) analisaram as respostas de mais de 
880 pessoas sobre sua disposição em denunciar crimes. Os resultados 
demonstraram que as normas sociais, como ser encorajado por um 
amigo, foram as variáveis com maior capacidade explicativa. Dentre 
as implicações para a polícia, os autores sugerem que, com base nes-
ses resultados, sejam realizadas campanhas 
educativas incentivando a denúncia de 
crimes.
Por sua vez, Tim Hope (1995) 
argumenta que a prevenção 
comunitária do crime é uma 
106106 Psicologia social aplicada à segurançaPsicologia social aplicada à segurança
Vasin Lee/Shutterstock
Elementos 
de segurança 
ambiental.
Psicologia social e crime 107
estratégia de controle por meio da modificação das condições sociais 
que sustentam o crime nas comunidades locais. O autor sugere que 
medidas como engajamento de lideranças, alterações na infraestru-
tura de ruas e residências, além de melhoria na iluminação, exercem 
impacto no controle comportamental percebido de moradores, parti-
cularmente de adolescentes.
Um argumento semelhante é defendido por Senna, Vasconcelos e Igle-
sias (2021) ao destacarem o fortalecimento da vinculação das pessoas às 
vizinhanças, por meio de conceitos como territorialidade (apropriação dos 
espaços por usuários legítimos), vigilância natural (oportunidades de ver 
e ser visto) e controle de acesso. Tais conceitos reforçam a noção de que 
o controle comportamental percebido das pessoas tende a ser reforçado, 
repercutindo na redução do medo do crime, por meio da estratégia de 
prevenção criminal pelo design do ambiente (CPTED).
Outro ponto analisado com base na teoria do comportamento pla-
nejado foi a violência contra mulheres. Segundo Tolman, Edleson e 
Fendrich (1996), a intenção de homens abusadores, e o seu comporta-
mento propriamente dito, é determinada pela avaliação sobre os possí-
veis resultados, pelo quanto eles acreditam que podem controlar seus 
comportamentos e pela percepção daqueles à sua volta sobre violên-
cia. Entre essas variáveis, a segunda demonstrou maior capacidade de 
explicação tanto das intenções quanto dos comportamentos violentos 
contra mulheres. Além disso, pesquisadores da Nova Zelândia testaram 
a capacidade de dissuasão (tentativa de fazer com que alguém mude 
de ideia/opinião/ponto de vista) de medidas punitivas sobre indivíduos 
com intenções criminosas.
Segundo Wright et al. (2004), quanto maior o risco percebido de pu-
nição, menor é a intenção de cometer crimes, sendo que esse resultado 
foi mais pronunciado entre aqueles que se disseram inclinados a fazê-
-lo. Ou seja, em comparação aos demais respondentes, aqueles que já 
possuíam essas intenções mudariam o comportamento com base na 
avaliação do risco envolvido. Esse resultado enfatiza a relevância dos 
elementos contextuais na tomada de decisão, colocando em segundo 
plano a noção de inclinações criminosas determinísticas ou condicio-
nantes do comportamento.
No vídeo O Animal Social, 
o jornalista David Brooks 
apresenta alguns dos 
argumentos do seu livro 
que leva o mesmo nome 
do vídeo. De maneira ins-
tigante e reflexiva, o autor 
discute a natureza huma-
na com base nas ciências 
cognitivas. Os insights do 
autor levam à discussão 
sobre a oposição entre 
indivíduo e sociedade e 
sobre os processos de 
tomada de decisão e suas 
interpretações. 
Disponível em: https://www.ted.
com/talks/david_brooks_the_
social_animal. Acesso em: 23 
ago. 2021.
Vídeo
https://www.ted.com/talks/david_brooks_the_social_animal
https://www.ted.com/talks/david_brooks_the_social_animal
https://www.ted.com/talks/david_brooks_the_social_animal
4.4 Teoria das atividades rotineiras 
Vídeo A teoria das atividades rotineiras é uma das teorias criminológicas 
mais influentes do século XX. Os responsáveis pela sua formulação ori-
ginal foram os sociólogos Marcus Felson e Lawrence Cohen em 1979. 
O modelo é baseado na perspectiva clássica da escolha racional, em 
que os criminosos realizam cálculos sobre suas atividades (BECCARIA, 
2008). Assim, os benefícios e os potenciais riscos são levados em consi-
deração na tomada de decisão dos criminosos.
Tendo essa perspectiva como pano de fundo, Felson e Cohen enfa-
tizaram o crime, e não a criminalidade. Na década de 1970, a produção 
criminológica buscava explicar a etiologia do crime, ou seja, as causas 
e as características que levavam o criminoso a delinquir. Os autores 
tomaram o crime como um fato e procuraram compreender suas con-
dições de realização. A esse respeito, os autores argumentam que:
Diferentemente de muitas pesquisas criminológicas, nós não 
examinamos porque indivíduos ou grupos são inclinados a delin-
quir, mas, em vez disso, nós consideramos a disposição criminal 
como um fato e examinamos as formas como a organização 
espaço-temporal das atividades sociais contribuem para que in-
divíduos transformem suas inclinações em crimes. (COHEN; 
FELSON, 1979, p. 589)
O contexto social dos Estados Unidos era peculiar nesse período. 
Desde a década de 1940, o país assistia a um aumento dos crimes de 
oportunidade, ou seja, aqueles crimes associados a ações nos quais 
os criminosos buscam levar vantagem sobre a situação ou sobre 
a vítima para delinquir. Segundo os autores, são exemplos crimes 
como furtos em residências, em que comumente não há o empre-
go de violência e os seus autores não são persistentes.
Enquanto muitos pesquisadores explica-
vam esse aumento com base no argumen-
to de que o número de criminosos havia 
aumentado nesse período, Felson e Cohen 
(1979) apresentaram outro argumento. 
Para eles, as rotinas das pessoas mudaram 
com o tempo, com isso as condições de pro-
teção reduziram e as vítimas aumentaram.
• Conhecer os conceitos 
da teoria das atividades 
rotineiras.
• Interpretar os elemen-
tos do crime em casos 
concretos.
Objetivos de aprendizagem
108 Psicologia social aplicada à segurançaPsicologia social aplicada à segurança
Krakenimages.com/Shutterstock
Psicologia social e crime 109
No período entre 1947 e 1974, os autores analisaram as tendências 
das estatísticas criminais e destacaram que o estilo de vida das pessoas 
havia mudado. Por exemplo, a crescente participação das mulheres no 
mercado de trabalho, segundo os autores, permitiu que as residências 
se tornassem alvos fáceis para criminosos oportunistas por estarem 
vazias durante parte do dia. Em 1970, cerca de 40% dos lares pesquisa-
dos pelos autores não eram ocupados por pessoas maiores de 14 anos 
entre 8 da manhã e 3 da tarde (COHEN; FELSON, 1979).
Além disso, o padrão de consumo mudou nas décadas de 1960 e 
1970. Osavanços tecnológicos e o crescimento da renda familiar permi-
tiram que as pessoas adquirissem móveis, além de produtos e artigos 
cada vez mais valiosos. Essa tendência tornava, segundo os autores, 
as residências mais atrativas a ações de criminosos oportunistas. Por 
outro lado, os hábitos de lazer envolviam saídas para clubes, viagens e 
outros espaços privados. Portanto, todas essas mudanças no estilo de 
vida tornavam as residências mais atrativas e menos protegidas das 
ações criminosas (FELSON, 2013).
Um aspecto que favoreceu a difusão da teoria das atividades roti-
neiras é sua objetividade e clareza. Esse é um modelo de compreensão 
rápida, com diversas possibilidades de aplicação. Em termos gerais, o 
modelo propõe que a ocorrência de um crime depende da convergên-
cia de três elementos no tempo e no espaço:
A existência de um ofensor motivado. 
A presença de uma vítima.
A ausência de guardiões capazes. 
Esses elementos representam condições necessárias para que os 
crimes ocorram, sendo que sua distribuição é desigual no tempo e no 
espaço, o que, segundo Cohen e Felson (1979), explica a concentração 
de crimes em determinados grupos populacionais e regiões. Os ele-
mentos podem ser descritos da seguinte forma:
110 Psicologia social aplicada à segurança
Elemento Ofensor motivado Vítima ou alvo Ausência de guardiões capazes
Descrição
Atores racionais, ou seja, ao 
decidirem cometer um crime 
realizam cálculos do tipo 
custo-benefício.
Alvo (pessoa ou pro-
priedade) que influen-
cia a ação do ofensor.
Proteção em relação à ação 
do ofensor (individual e 
ambiental – local). Pode ser 
um equipamento de segu-
rança, presença de pessoas, 
a polícia ou a atitude da 
própria vítima.
Foco
Racionalidade do ofensor 
diante da oportunidade para 
o crime, ou seja, considera os 
demais elementos.
Enquadrados no 
cálculo racional da 
oportunidade por se 
tornarem mais ou 
menos atrativos.
Relacionada ao local e às 
condições de proteção 
do alvo. Circunstâncias e 
características que facilitam 
ou dificultam crimes.
Fonte: Adaptado de Mattos, 2021, p. 87.
Quadro 2
Descrição dos elementos do crime
Como destacam os autores, esses elementos fazem parte da di-
nâmica criminal. A inovação teórica está na convergência entre esses 
elementos no tempo e no espaço, tornando a tomada de decisão por 
parte dos criminosos mais fácil. Desde o seu surgimento, a teoria tem 
sido utilizada para analisar o comportamento das vítimas, suas rotinas 
e estilos de vida, para assim explicar os crimes. Com o passar do tem-
po, o modelo começou a ser utilizado para compreender as motivações 
dos criminosos em diferentes tipos de crimes.
De modo geral, o foco inicial está nas vítimas (ou alvos), em suas 
características, objetos ou posses que podem despertar a atenção dos 
ofensores. Mas, conforme apontam Cohen e Felson (1979), as vítimas 
também podem ser residências, automóveis etc., por isso a denomina-
ção utilizada é alvo. A vítima/alvo é o primeiro elemento da teoria e seu 
estado de proteção/vulnerabilidade leva em consideração as condições 
ambientais, como iluminação, facilidade de acesso, rotas de fuga, den-
tre outros.
O segundo elemento é o ofensor motivado, essa denominação indi-
ca que o criminoso é um ser racional, que realiza um cálculo sobre os 
comportamentos a serem realizados. São considerados outros elemen-
tos, como as condições da vítima e a ausência de guardiões capazes, 
além dos benefícios que ele espera obter do crime, o que pode incluir 
a satisfação de interesses econômicos ou sociais, como o sentimento 
de aceitação ou pertencimento a um grupo (no caso de gangues, por 
exemplo).
Psicologia social e crime 111
Já o terceiro elemento é a ausência de guardiões capazes, os quais de-
signam a existência de proteção contra a ação de criminosos (MARCUS; 
LAWRENCE, 1980). Não necessariamente se trata de uma pessoa, de 
um objeto ou da polícia, pois esse elemento se refere à capacidade de 
evitar crimes, o que pode designar a existência de equipamentos de 
segurança, o fato de uma pessoa andar acompanhada ou a arquitetura 
de sua casa, que são características que inibem a ação criminosa.
Os autores destacam que a convergência entre esses três elementos 
é uma condição para a concretização de um crime. Existem autores que 
argumentam que a rotina espaço-temporal é um quarto elemento na 
dinâmica criminal (WILCOX; MADENSEN; TILLYER, 2007). Assim, a rotina 
dos elementos envolvidos é o que possibilita a ocorrência do crime. 
Essa perspectiva reconhece que a teoria das atividades rotineiras não é 
focada apenas nos indivíduos, mas na dinâmica entre os elementos. As 
características contextuais são elementos importantes nesse modelo 
teórico e, ao longo do tempo, ganharam cada vez mais destaque na 
área de estudos da criminologia ambiental. Assim, o modelo original de 
Cohen e Felson tem sido descrito como o triângulo do crime, conforme 
a imagem a seguir.
Figura 4
Elementos do crime
Of
en
so
r m
ot
iva
do
CRIME
Alvo/vítima 
Local 
Fonte: Elaborada com base em THE PROBLEM..., 2021.
Ao longo do tempo, diferentes autores colaboraram com essa teo-
ria. Uma das contribuições mais influentes foi proposta por John Eck, da 
Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos. Em 1994, o autor pro-
pôs a inclusão de novos elementos no triângulo do crime: os guardiões, 
os responsáveis e os controladores (ECK, 1994). De maneira geral, esses 
elementos estão relacionados às rotinas dos envolvidos e ao contexto 
em que os encontros podem vir a ocorrer, operando como potenciais 
controles para diminuir as chances de vitimização (ECK, 2003).
112 Psicologia social aplicada à segurança
Assim, os controladores (tradução livre de handlers) estão relaciona-
dos aos ofensores e utilizam laços sociais e emocionais para evitar que 
os ofensores se coloquem em situações criminais. Por exemplo, amigos 
ou parentes podem exercer a função de controladores, evitando que, 
por receio de perderem o respeito ou de estarem sujeitos à ruptura de 
relações, os potenciais ofensores cometam crimes. Já os guardiões estão 
relacionados às vítimas e aos alvos, atuando como fatores de proteção, 
como vizinhos ou a polícia. Por fim, os responsáveis são os controlado-
res, que atuam no ambiente e representam fatores de proteção contex-
tuais, como a presença de câmeras (SAMPSON; ECK; DUNHAM, 2010). A 
figura a seguir representa o modelo proposto por Eck.
Co
nt
ro
la
do
re
s 
Of
en
so
r m
ot
iva
do
CRIME
Alvo/vítima 
Guardiões
Local 
Responsáveis 
Figura 5
Elementos do crime com os controladores
Fonte: Elaborada com base em THE PROBLEM..., 2021; Eck, 2003.
Como podemos perceber, a inclusão de novos elementos no triân-
gulo do crime buscou tornar a teoria mais robusta. Particularmen-
te os guardiões têm sido explorados pela criminologia para explicar 
comportamentos criminosos e propor estratégias de prevenção. Por 
exemplo, Hollis-Peel et al. (2011) revisaram outros relatórios de pesqui-
sa e evidenciaram pelo menos cinco recursos utilizados na proteção de 
vítimas/alvo, a saber: segurança privada, patrulhas de moradores, tra-
balhadores locais, monitoramento por circuitos de segurança fechada 
e redes de vizinhos. Para os autores, o monitoramento por câmeras e 
as redes de vizinhos se mostraram promissores na prevenção criminal, 
enfatizando como a participação dos moradores por meio de recursos 
informais de controle pode contribuir para a segurança local (HOLLIS-
-PEEL et al., 2011).
4.5 Explicando o comportamento criminoso 
Vídeo Ao longo deste capítulo, analisamos diferentes abordagens sobre o 
comportamento criminoso. Diversas perspectivas enfatizam determina-
dos aspectos em detrimento de outros, de acordo com os pressupostos 
teóricos que as orientam. Esse é o caso da teoria do comportamento 
planejado ao focar as crenças e as atitudes para explicar comportamen-
tos pró e antissociais ou da teoria das atividades rotineiras, que parte 
da natureza racional datomada de decisão dos indivíduos, focando as 
oportunidades existentes para o cometimento de crimes.
Normalmente as explicações teóricas tendem a privilegiar determi-
nados aspectos do fenômeno estudado, já que essa é uma estratégia 
tanto metodológica quanto conceitual. Fenômenos como o crime são 
complexos e ensejam diferentes abordagens. Contudo, mesmo com a 
ausência de uma teoria geral que reúna as diferentes abordagens de 
campos diversos do conhecimento, o acúmulo de conhecimento ao lon-
go do tempo permite conhecer melhor e lidar de modo mais adequado 
com a diversidade de comportamentos que recebem o rótulo de crime.
Nesse sentido, a noção de fatores de risco parece especialmente útil 
para consolidar as evidências científicas produzidas ao longo do tempo 
sobre o comportamento criminoso. De modo geral, os fatores de risco 
são características que antecedem e favorecem as chances de que re-
sultados negativos ocorram, podendo ser psicológicas, ambientais, bio-
lógicas, culturais ou sociais (APA, 2021). 
De maneira semelhante, os fatores de proteção são características 
que reduzem as chances de resultados negativos acontecerem. Assim, 
tendo em vista as diferentes teorias sobre o comportamento crimino-
so, sugere-se que existem fatores de risco associados à incidência cri-
minal. O quadro a seguir reúne as principais evidências.
• Compreender como os 
conceitos psicológicos 
são aplicados para a 
análise do comporta-
mento criminoso.
• Refletir sobre a aplica-
ção da psicologia social 
na explicação do com-
portamento criminoso.
Objetivos de aprendizagem
An
dr
ii 
Ya
la
ns
ky
i/S
hu
tte
rs
to
ck
Fatores de risco a 
partir da dimensão 
familiar. 
Psicologia social e crime 113
4.5 Explicando o comportamento criminoso 
Vídeo Ao longo deste capítulo, analisamos diferentes abordagens sobre o 
comportamento criminoso. Diversas perspectivas enfatizam determina-
dos aspectos em detrimento de outros, de acordo com os pressupostos 
teóricos que as orientam. Esse é o caso da teoria do comportamento 
planejado ao focar as crenças e as atitudes para explicar comportamen-
tos pró e antissociais ou da teoria das atividades rotineiras, que parte 
da natureza racional da tomada de decisão dos indivíduos, focando as 
oportunidades existentes para o cometimento de crimes.
Normalmente as explicações teóricas tendem a privilegiar determi-
nados aspectos do fenômeno estudado, já que essa é uma estratégia 
tanto metodológica quanto conceitual. Fenômenos como o crime são 
complexos e ensejam diferentes abordagens. Contudo, mesmo com a 
ausência de uma teoria geral que reúna as diferentes abordagens de 
campos diversos do conhecimento, o acúmulo de conhecimento ao lon-
go do tempo permite conhecer melhor e lidar de modo mais adequado 
com a diversidade de comportamentos que recebem o rótulo de crime.
Nesse sentido, a noção de fatores de risco parece especialmente útil 
para consolidar as evidências científicas produzidas ao longo do tempo 
sobre o comportamento criminoso. De modo geral, os fatores de risco 
são características que antecedem e favorecem as chances de que re-
sultados negativos ocorram, podendo ser psicológicas, ambientais, bio-
lógicas, culturais ou sociais (APA, 2021). 
De maneira semelhante, os fatores de proteção são características 
que reduzem as chances de resultados negativos acontecerem. Assim, 
tendo em vista as diferentes teorias sobre o comportamento crimino-
so, sugere-se que existem fatores de risco associados à incidência cri-
minal. O quadro a seguir reúne as principais evidências.
• Compreender como os 
conceitos psicológicos 
são aplicados para a 
análise do comporta-
mento criminoso.
• Refletir sobre a aplica-
ção da psicologia social 
na explicação do com-
portamento criminoso.
Objetivos de aprendizagem
An
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Ya
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Fatores de risco a 
partir da dimensão 
familiar. 
114 Psicologia social aplicada à segurança
Quadro 3
Exemplos de fatores de risco para comportamentos criminosos
Fatores 
de risco
Dimensão 
social
Descrição
Rejeição por pares na infância.
Associação com indivíduos que possuem comportamentos antissociais.
Cuidados inadequados na escola.
Exposição à precariedade em infraestrutura.
Ausência de serviços públicos básicos (saúde, educação, assistência social, 
transporte e segurança).
Exposição a desordens e comportamentos antissociais.
Dimensão 
familiar/ 
parental
Exposição à violência doméstica.
Exposição à violência em geral.
Exposição a indivíduos com patologias psicológicas.
Falta de supervisão de crianças e adolescentes.
Exposição ao abuso de substâncias psicoativas.
Dimensão 
psicológica
Falta de empatia.
Ausência de autocontrole.
Crueldade com animais.
Deficit cognitivos e de linguagem.
Baixo escore em testes de inteligência.
Transtorno do deficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Transtornos de Conduta (TC).
Transtorno Opositor Desafiador (TOD).
Dimensão 
biológica/
constitutiva
Alterações no gene associado às monoaminas oxidases (MAO-A e MAO-B), que 
são enzimas presentes nas membranas celulares neurais, possuindo a função de 
degradarem aminas.
Exposição a álcool na gestação (Síndrome do Alcoolismo Fetal). 
Exposição à nicotina na gestação.
Exposição a manganês, cadmio, mercúrio ou chumbo na infância ou gestação.
Desnutrição pré-natal.
Traumas cerebrais na gestação ou na infância.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bartol; Bartol, 2017.
Psicologia social e crime 115
Os fatores de risco destacados anteriormente representam exem-
plos de evidências de pesquisas produzidas em diferentes áreas. Apesar 
de serem listados, tais fatores não são determinantes nos comporta-
mentos criminosos. Essa é uma dimensão fundamental de todos os es-
tudos que evidenciaram as associações entre as variáveis estudadas. 
Não há relação de causa e efeito, mas relações que mudam de acordo 
com outras variáveis. Assim, nem todos os indivíduos que vierem a ser 
expostos à nicotina durante a gestação apresentarão comportamentos 
criminosos, tampouco apresentar tais comportamentos sugere que hou-
ve algum tipo de exposição. Contudo, de acordo com pesquisas, a expo-
sição à nicotina aumenta as chances de transtornos de condutas 
relacionadas à agressividade, o que pode levar a comportamentos antis-
sociais e criminosos (RAINE, 2015) . Em outras palavras, os fatores de 
risco não são determinantes, mas podem interferir nos resultados.
As evidências indicam que os comportamentos criminosos estão 
relacionados a diferentes fatores. Como podemos perceber, existem 
fatores de risco em diferentes dimensões, como as dimensões social 
ou estrutural, familiar, psicológica e biológica. Desse modo, são fe-
nômenos complexos, que envolvem condicionantes analisadas por 
diferentes campos do conhecimento. Por vezes, a conduta pode ser 
determinada como intencionalmente orientada pelos valores e pelas 
crenças dos indivíduos.
Em outros casos, existem condicionantes que interferem na to-
mada de decisão, como no exemplo das características neurológi-
cas. Em conjunto, essas evidências ajudam a compor um 
campo de estudo marcado por pequenos avanços na 
compreensão do crime. É provável que as próxi-
mas descobertas venham a ser obtidas com base 
na intersecção entre as diferentes abordagens 
existentes e outras que forem desenvolvidas, uma vez 
que a produção científica nessa área é um recurso im-
portante para a maneira como lidamos com o crime em 
nossa sociedade.
Complexidade psicossocial.
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mo
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Shutterstock
116 Psicologia social aplicada à segurança
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As abordagens psicológicas sobre o comportamento criminoso e suas 
consequências são diversas. Muitos pesquisadores e parte do senso co-
mum associam comportamentos como homicídios, roubos e agressões 
sexuais a problemas de natureza psicológica. Essa perspectiva não é re-
cente e propiciou diferentes análises ao longo do tempo.
Os processos psicológicos associados a comportamentoscriminosos 
têm sido abordados com base na sua relação com a personalidade, a in-
teligência e a psicanálise. Por vezes, são utilizadas evidências obtidas por 
meio de pesquisas com pessoas presas.
Essas perspectivas, fundamentadas em diferentes pontos de partida, 
investigam a relação entre processos psicológicos e comportamentos an-
tissociais, possibilitando a compreensão de situações que muitas vezes 
parecem nos escapar. As ferramentas analíticas, oferecidas pelo conhe-
cimento psicológico, permitem a ampliação do conhecimento acumulado 
sobre o crime e suas consequências, antecipando possibilidades de inter-
venção e prevenção criminal. Logo, a composição de abordagens multi-
disciplinares deve ser incentivada ao tentar se compreender fenômenos 
complexos como o crime.
ATIVIDADES
Atividade 1
Enumere e descreva as principais abordagens psicológicas sobre o 
crime.
Atividade 2
Descreva o argumento principal da teoria da ação racional.
Atividade 3
Enumere e descreva os elementos do crime segundo a teoria das 
atividades rotineiras.
Psicologia social e crime 117
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Psicologia social e prevenção criminal 119
5
Psicologia social e 
prevenção criminal
A relação entre teoria e prática é de mútua implicação, uma vez que 
a proposição de argumentos teóricos robustos encontra na realidade 
subsídios que servem de base para a sua construção e compreensão. 
Teorias consolidadas trazem consigo os contornos e as marcas do es-
forço empírico do pesquisador. Essa perspectiva é especialmente im-
portante no campo de políticas públicas, pois a prestação de serviços 
públicos e a regulação de comportamentos são dimensões centrais da 
vida em sociedade.
Neste capítulo, vamos discutir como alguns conceitos da ciência 
psicológica são utilizados na prevenção criminal, longe de exaurir essa 
vasta área de pesquisa, analisando a mobilização de recursos teóricos da 
psicologia social na compreensão de comportamentos criminosos. Assim, 
vamos debater a definição de prevenção criminal tendo como ponto de 
partida sua distinção em três níveis. Em seguida, vamos analisar três pers-
pectivas teóricas: a teoria das janelas quebradas, a teoria dos espaços 
defensáveis e a prevenção criminal pelo design do ambiente (CPTED).
5.1 Prevenção criminal e 
comportamento humano Vídeo
A prevenção criminal representa a consolidaçãode estratégias 
advindas de diferentes campos do conhecimento. De modo geral, a 
organicidade de diferentes contribuições é oferecida pela perspecti-
va da saúde pública. Ou seja, a noção de que existem fatores de ris-
co e de proteção passou a orientar a formulação de estratégias para 
a prevenção criminal. Nesse sentido, o Conselho Econômico e Social 
da Organização das Nações Unidas (ONU, 2002, p. 3, tradução nossa) 
oferece a seguinte definição: “prevenção criminal envolve estratégias e 
medidas que buscam reduzir os riscos de ocorrências de crimes, além 
de seus possíveis efeitos sobre indivíduos e a sociedade, incluindo o 
medo do crime, por meio da intervenção em suas múltiplas causas”.
Logo, a ênfase nas causas e consequências dos crimes revela o sen-
tido das estratégias de prevenção criminal. A diversidade de fatores 
que contribuem para a ocorrência de um crime exige que essas es-
tratégias sejam diversificadas e conectadas entre si. Nesse sentido, a 
Organização das Nações Unidas (ONU, 2002) sugere que os princípios 
de prevenção criminal incluam:
o desenvolvimento socioeconômico de maneira inclusiva; 
a liderança governamental;
a cooperação entre atores públicos e privados; 
a sustentabilidade e a transparência nas iniciativas; 
a utilização de evidências científicas obtidas por meio da experimentação, além da 
diferenciação de estratégias de acordo com o perfil dos sujeitos.
Em última medida, essa perspectiva proporciona a articulação entre 
medidas em diferentes níveis de análise, desde as intervenções estru-
turais até as ações com indivíduos e grupos populacionais.
 5.1.1 Níveis de prevenção
Diante da diversidade de estratégias, dois pesquisa-
dores propuseram um modelo conceitual de preven-
ção criminal. Em 1976, Paul Brantingham e Frederic 
Faust argumentaram, em um trabalho seminal na 
área, que a prevenção criminal deve ser orientada 
com base em três níveis: prevenção primária, se-
cundária e terciária. Assim, a prevenção primá-
ria está embasada em medidas ou profilaxias 
(medicina preventiva de preservação à saúde) 
gerais que têm como foco principal a remo-
ção de fatores que possam criar condições 
para o crime (BRANTINGHAM; FAUST, 1976).
• Conhecer o conceito de 
prevenção criminal.
• Analisar as relações 
entre o conhecimento 
sociopsicológico e as 
estratégias de preven-
ção criminal.
• Conhecer os níveis de 
prevenção.
Objetivos de aprendizagem
120120 Psicologia social aplicada à segurançaPsicologia social aplicada à segurança
Fonte: Adaptada de Silva, 2019.
Figura 1
Rede de Vizinhos Protegidos no Distrito Federal 
Exemplo de prevenção criminal primária.
Psicologia social e prevenção criminal 121
Se formos pensar em saúde pública, por exemplo, haveria preven-
ção em nível primário com uma campanha de vacinação infantil ou com 
a promoção de melhorias de condições de saneamento básico e quali-
dade de vida da população, principalmente a mais pobre. Com relação 
ao crime, as medidas profiláticas seriam voltadas para afastar crianças 
e jovens do ambiente criminal, impedindo a estruturação de crenças, 
valores e atitudes voltados ao crime, em programas como o Programa 
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) ou outros 
projetos sociais.
No caso da prevenção secundária, para que seja efetiva, devem ha-
ver medidas voltadas para indivíduos, grupos e situações de risco. Por 
exemplo, no campo da saúde, os cuidados com grupos considerados de 
risco com relação à covid-19, como idosos e pessoas com comorbida-
des (associação entre duas ou mais doenças, ao mesmo tempo, em um 
paciente), que tiveram prioridade no programa de vacinação de 2021, 
apoio financeiro e incentivo ao isolamento. Ou seja, as ações do governo 
devem se concentrar em grupos que vivem situações específicas de risco 
e têm consequências mais graves ao se contaminar com o coronavírus.
Na prevenção criminal secundária, temos ações bem semelhantes à 
prevenção primária, pois as medidas profiláticas são direcionadas, por 
exemplo, a grupos de risco que tenham maiores chances de engajamento 
em comportamentos criminais, como adolescentes com pais encarcera-
dos, escolas com episódios de bullying, regiões com abandono, vandalis-
mo e uso frequente de drogas, entre outras desordens físicas e sociais.
Por fim, a prevenção terciária no âmbito da saúde pública é voltada 
ao restabelecimento de pessoas que se encontram hospitalizadas ou de 
recém-egressos de uma internação, como no caso de eventuais gastos 
governamentais para aprimorar hospitais e leitos voltados aos pacientes 
com casos mais graves de covid-19 ou do acompanhamento dos recupe-
rados algum tempo após a sua recuperação hospitalar.
Por sua vez, no âmbito da prevenção criminal, o nível terciário diz 
respeito às ações direcionadas a presos, egressos ou indivíduos com 
histórico recente de detenção. Ou seja, o foco principal está direciona-
do a evitar a reincidência de comportamentos criminosos, como proje-
tos ou programas voltados à educação, formação técnico-profissional e 
recuperação da dependência química.
Bpec
.p5/Wikimedia Commons
O Proerd é a adaptação 
brasileira do progra-
ma norte-americano 
Drug Abuse Resistance 
Program (Dare). Desde 
1992, no Brasil, o Proerd 
está presente na maioria 
das unidades da federação, 
incluindo o Distrito Federal. 
A realização de suas ativi-
dades é feita pelas polícias 
militares e envolve crianças 
do ensino fundamental I e 
II (6 a 14 anos).
Você já ouviu falar do 
Proerd em sua cidade? 
Conheça mais no site do 
programa no link a seguir. 
Disponível em: https://www.po-
liciamilitar.mg.gov.br/portal-pm/
externo/principal.action. Acesso 
em: 3 set. 2021.
Site
122 Psicologia social aplicada à segurança
Outra forma de classificar a prevenção criminal é proposta pela 
Comissão de Padrões Profissionais de Aplicação da lei da Virgínia 
(VIRGÍNIA, 1993), que faz a seguinte divisão:
Primeiro nível
Segundo nível
Terceiro nível
Seria a prevenção criminal punitiva, implicando o controle social 
formalmente aplicado pelo Estado. Ou seja, a previsão de encarce-
ramento, entre outros tipos de punição amparados no ordenamento 
jurídico, sistema de justiça criminal e atuação policial ostensiva.
Prevenção criminal corretiva, relacionada à modificação de variáveis 
socioambientais que, geralmente, são fatores associados a compor-
tamentos criminosos, como pobreza, baixa escolaridade, falta de 
infraestrutura básica, problemas familiares, abuso de álcool etc.
Também conhecido como prevenção criminal protetiva, está voltado 
a uma abordagem situacional ou microssocial, diferentemente dos 
anteriores, que estão em um nível de análise macrossocial. Assim, o 
nível protetivo está mais relacionado ao controle social informal por 
meio da interação das diversas entidades estatais com a sociedade 
em geral, principalmente no nível local, mais bairrista. Podemos citar 
como exemplos fatores que geram oportunidades para a prática 
criminal, como manchas criminais, análise criminal, união de mora-
dores, conselhos comunitários de segurança, entre outros projetos 
e programas que focam a parceria entre Estado e sociedade, poder 
público e comunidade.
An
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ck
Portanto, por mais que existam diferentes formas de seccionar as 
ações voltadas à prevenção criminal, há de certa forma um consen-
so científico acerca da importância de considerar a prevenção crimi-
nal com base em ações estatais aliadas à sociedade civil, compondo 
um imperativo na consciência coletiva. Certamente, é melhor prevenir 
o crime do que o reprimir; por essa razão é fundamental buscar os 
conhecimentos científico, teórico e empírico para alcançar resultados 
realmente efetivos na caminhada por uma sociedade mais justa e com 
mais qualidade de vida. Em suma, as ações de prevenção criminal de-
vem focar diferentes níveis (estrutural, organizacional, comunitário e 
individual), exigindo iniciativas multidisciplinares.
5.1.2 Pressupostos de prevençãocriminal
As estratégias de prevenção criminal são diversas e advindas de 
evidências distintas. Os pressupostos para a sua formulação estão 
mancha criminal: na 
criminologia, indica a 
concentração de crimes 
nos espaços físicos, como 
cidades, bairros, vizinhan-
ças, ruas etc.
Glossário
Psicologia social e prevenção criminal 123
associados a percepções da própria natureza humana. Sendo assim, 
Treadwell (2012) elenca quatro principais abordagens: a dissuasão, 
a incapacitação, a retribuição e a reabilitação.
Dissuasão
Tem como base os estudos clássicos de criminologia, nos quais os 
indivíduos são considerados atores racionais que realizam cálculos de 
custo-benefício. Ou seja, o livre-arbítrio dos indivíduos orienta suas de-
cisões em busca da satisfação de suas necessidades, que podem ser 
desde a reparação de um insulto à honra, auferir estima e prestígio so-
cial ou mesmo a ostentação perante pares (TREADWELL, 2012). Sendo 
assim, os indivíduos analisam os riscos envolvidos nos comportamen-
tos criminosos para então tomarem uma decisão.
Campanha realizada em 
2019 pela Prefeitura de 
Diadema-SP com o objetivo 
de refrear os vândalos que 
estavam destruindo as 
lixeiras da cidade.
Fonte: Adaptada de Balacci, 2019.
Figura 2 
Exemplo de dissuasão 
O efeito direto dessa perspectiva é que as consequências dos com-
portamentos criminosos são assumidas pelos indivíduos, isto é, a pu-
nição é vista como uma resposta da sociedade ao comportamento que 
afronta os seus valores. Logo, a dissuasão busca modificar o compor-
tamento dos indivíduos com base na aplicação de sanções diretas aos 
crimes e seu efeito sobre o restante da sociedade.
Entre as funções da punição, com base na perspectiva dissuasória, 
está a reparação do mal causado à sociedade, além do efeito de inibir 
eventuais novos comportamentos criminosos. Essa é uma perspectiva 
124 Psicologia social aplicada à segurança
utilitária que situa a punição na lógica do cálculo racional. Com isso, a 
punição deve ser certa e esperada, sua extensão claramente definida e 
sua intensidade estipulada de acordo com a gravidade da conduta. 
Essa perspectiva foi influenciada por autores clássicos, como Cesare 
Beccaria (1738-1794), e mantém-se influente na criminologia e na 
psicologia social. As diferentes ações de dissuasão de crimes impactam 
especialmente o funcionamento das agências de justiça criminal, como 
polícias, tribunais e prisões.
Incapacitação
Apesar de estar relacionada à dissuasão, o seu argumento ten-
de a enfatizar a reincidência como aspecto central. A reinci-
dência é compreendida como a reiteração do cometimento de 
crimes por um mesmo indivíduo.
Como exemplo, o Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada (IPEA, 2016) conduziu um levantamento em 2016, 
concluindo que cerca de um em cada quatro presos voltava 
a ser condenado no prazo de cinco anos. Sob a perspectiva 
da incapacitação, não se pretende influenciar a mudança de 
comportamento do indivíduo por meio da punição; pelo con-
trário, o pressuposto é que o distanciamento entre o indivíduo 
e as condições de cometimento de crimes teria como resultado 
a redução da incidência criminal. Entre os exemplos de incapa-
citações estão as penas de regime fechado, as penas de morte e 
as mutilações físicas.
Retribuição
Abordagem que enfatiza como as punições exercem uma função 
social de controle. Assim como a dissuasão, essa perspectiva assume 
que o comportamento criminoso é tomado em bases racionais e con-
siderando um cálculo de custos e benefícios. Contudo, a retribuição 
enfatiza que a principal função da punição é a reparação do mal cau-
sado à sociedade. Assim, o comportamento do indivíduo é uma ofensa 
à coletividade, e a resposta deve ser proporcional a essa ofensa. Em 
termos práticos, a perspectiva da retribuição tende a ser mais valorati-
va do que as demais, situando a punição de acordo com os limites dos 
direitos individuais e coletivos de uma sociedade e opondo-se à severi-
dade das punições e à ampliação do encarceramento.
LightField Studios/Shutterstock
Psicologia social e prevenção criminal 125
Reabilitação
O indivíduo adota comportamentos em virtude de condições es-
truturais, sociais e individuais, o que não se trata de uma tomada de 
decisão inserida no modelo racional, mas sim da consideração de 
que existem condicionantes que influenciam os comportamentos 
(TREADWELL, 2012). Por exemplo, são destacadas condições sociais, 
como moradia, educação e infraestrutura; familiares, como frequência 
na supervisão de comportamentos e famílias monoparentais; e comu-
nitárias, como influência de grupos sociais.
Em grande medida, os fatores de risco são colocados em primeiro 
plano na interpretação dos comportamentos criminosos e, com isso, 
na aplicação de punições. Logo, as punições são vistas como medidas 
que integram um conjunto de estratégias que deve lidar com as causas 
profundas dos comportamentos. Assim, são exemplos de medidas que 
permitam a integração do indivíduo à sociedade treinamentos, capacita-
ções, acompanhamento sociopsicológico, entre outras iniciativas.
A reinserção de egressos 
do sistema penitenciário 
tem sido um desafio para 
o poder público. No texto 
O desafio da reintegração 
social do preso: uma pes-
quisa em estabelecimentos 
prisionais, produzido por 
técnicos do Ipea, diferen-
tes aspectos da reinser-
ção social são discutidos, 
incluindo a perspectiva 
de detentos. Confira mais 
no link a seguir.
Disponível em: http://
repositorio.ipea.gov.br/
bitstream/11058/4375/1/td_2095.
pdf. Acesso em: 2 set. 2021.
Leitura
5.2 Prevenção situacional do crime 
Vídeo Por vezes, pensar que o ambiente que nos cerca pode ter influência 
na prevenção criminal pode até parecer estranho. Mas imagine como 
você se sentiria em um bairro com ruas cheias de pichações, casas 
e apartamentos abandonados e diversas janelas quebradas. Agora 
pense se não se sentiria mais seguro em um bairro com casas arruma-
das, prédios bem cuidados, grama cortada e caminhos bem definidos?
A ideia de que o crime pode ser causado por fatores ambientais 
possui longa tradição de pesquisa. Na Europa, ainda no século XIX, 
eram utilizados mapas para analisar a distribuição do crime nas cida-
des. As principais hipóteses, à época, estavam centradas nos seguintes 
fatores: pobreza, ignorância e densidade populacional.
Essa influência ficou conhecida nos EUA como Escola Cartográfica 
e desenvolveu-se com o advento da Escola de Chicago, embasada nas 
condições de intensa industrialização, como o mercado automobilís-
tico, os processos de urbanização com a transição do campo para a 
cidade e o consequente crescimento populacional da cidade e região 
Compreender o conceito 
e o histórico de surgi-
mento da prevenção 
situacional do crime.
Objetivo de aprendizagem
126 Psicologia social aplicada à segurança
suburbana de Chicago (MATTOS, 2019). Mais especificamente, no sé-
culo XIX, os processos de mudanças econômicas traziam novas con-
dições sociais à cidade norte-americana, como a habilidade de reunir 
empreendedores, capital financeiro, muitos trabalhadores, técnicas de 
produção e inovações na área de transportes.
Os investimentos foram concentrados nas áreas de infraestru-
tura, como portos, asfaltamento, saneamento, transporte público e 
metrô, e, além dos campos econômico e social, geraram importantes 
reflexos na ciência, como a fundação da Universidade de Chicago em 
1895. Isso trouxe benefícios, pois houve estímulo à diversificação 
de técnicas de pesquisa qualitativa e quantitativa em complemen-
taridade, principalmente influenciada pela grande disponibilidade 
de dados referentes às questões problemáticas da cidade, como o 
crime e as desordens físicas e sociais. Isso foi fundamental para a 
elaboração de conceitos, teorias e abordagens que, mais do que es-
pecular, estabeleceram uma base sólida para o desenvolvimento de 
diversas outras teorias nas décadas seguintes.
Logo, com o passar dos anos, alguns pressupostos principais foram 
estabelecidoscom relação à influência do ambiente na prevenção cri-
minal. Por exemplo, ao longo dos anos, foram testadas teorias relacio-
nadas à delinquência ser causada principalmente por fatores sociais e 
as instituições possuírem falhas em seu funcionamento, o que geraria 
uma desuniformidade ao longo dos territórios e causaria certa desor-
ganização. Com isso, muitas pessoas tornam-se suscetíveis a compor-
tamentos delinquentes, principalmente quando a estrutura social é 
desorganizada, e isso produz consequências de degradação na estru-
tura social, principalmente nas classes mais baixas.
A prevenção situacional do crime é uma das áreas de pesquisa apli-
cada mais influente na psicologia do crime. De modo geral, esse é um 
campo do conhecimento que busca encontrar formas de reduzir a in-
cidência criminal particularmente por meio de ações que reduzam as 
oportunidades para a ocorrência de crimes. Um dos principais auto-
res dessa área é o professor britânico Ronald Clarke, da Universidade 
Rutgers-Newark. Para o pesquisador a prevenção situacional do crime 
envolve medidas que reduzem a oportunidade:
(1) dirigidas a formas muito específicas de crimes;
(2) envolvem o gerenciamento, design ou a manipulação de ambien-
tes próximos de forma o tão sistemática e permanente possível;
(3) tornam o crime mais difícil e mais arriscado ou mesmo com 
menos justificativas e recompensas a partir do ponto de vista da 
maior parte dos ofensores. (CLARKE, 1997, p. 4)
Alguns elementos são importantes nessa definição. Em primeiro lu-
gar está a objetividade e o alcance da prevenção situacional do crime. 
Não se trata de medidas aleatórias e aplicáveis a todos os contextos 
indistintamente, mas sim de ações dirigidas a contextos criminais espe-
cíficos, que são elaboradas com base em premissas de planejamento, 
acompanhamento e avaliação desenvolvidas de maneira única.
Por exemplo, em vez de focar medidas de prevenção para todos os 
crimes contra o patrimônio em dada região, as ações orientadas pela 
prevenção situacional do crime enfatizam especificidades de tipos cri-
minais, como o roubo de residências em condomínios no período da 
noite ou durante o fim de semana. Assim, as ações podem focar mu-
danças de hábitos dos moradores (que, por exemplo, podem estar au-
sentes nesses dias e horários em atividades de lazer), mitigando 
oportunidades criminais.
Em segundo lugar, a relação entre as medidas e as causas são dire-
tas e próximas. A prevenção situacional do crime não se dirige às con-
dicionantes amplas, como desigualdade social, infraestrutura urbana 
ou condições de educação. Pelo contrário, são medidas exequíveis a 
curto e médio prazo e que estão diretamente relacionadas à incidência 
criminal, objeto do conjunto de ações.
A terceira característica central para a prevenção situacional do cri-
me é o seu mecanismo de funcionamento. As medidas a serem 
adotadas buscam aumentar os custos ou os riscos para o 
comportamento criminoso ou mesmo a mitigação de pos-
síveis recompensas. Por exemplo, a adoção de medidas 
de proteção em caixas eletrônicos que inviabilizam cédu-
las tende a reduzir o interesse de possíveis criminosos. 
Da mesma forma, a utilização de dispositivos de segu-
rança que emitem sinais sonoros na saída de roupas de 
lojas de departamento tende a aumentar os riscos de 
quem as queira furtar.
Com base em várias dessas premissas, mas prin-
cipalmente na importância da estrutura ambiental 
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 Psicologia social e prevenção criminal Psicologia social e prevenção criminal 127127
organizada, algumas teorias relacionadas à prevenção criminal emer-
giram. A primeira delas a ser analisada a seguir é a teoria das janelas 
quebradas.
5.3 Teoria das janelas quebradas 
Vídeo A relevância do contexto na incidência criminal é uma tradição de 
pesquisa com embasamento na criminologia e na psicologia social. A 
formulação original da teoria das janelas quebradas foi proposta por 
George Kelling e James Wilson em 1982. Em um texto de cunho jorna-
lístico, publicado na revista The Atlantic, os autores argumentam que os 
sinais de desordem, mesmo que simples, quando não são resolvidos 
podem ensejar um ambiente permissivo para comportamentos antisso-
ciais (KELLING; WILSON, 1982).
Como em uma espiral, haveria um ponto em que os sinais de 
desordem e os crimes deixariam de ser notados até se tornarem, 
segundo os pesquisadores, difíceis de serem controlados. Logo, pe-
quenas desordens físicas podem ser incentivos para outras maiores 
porque refletem certa apatia pública e cívica e a tolerância com de-
sarranjos sociais mais complexos e graves, atraindo diversos tipos 
de criminosos para a área.
Nesse sentido, os professores propuseram que vândalos repetida-
mente praticam seus crimes em imóveis e equipamentos públicos com 
sinais de depredação e abandono e que a reparação imediata de ele-
mentos danificados poderia minimizar esse tipo de ocorrência no futuro.
Um dos experimentos realizados foi deixar dois carros idênticos 
em bairros diferentes. O primeiro foi largado em um bairro pobre 
Conhecer e compreender 
os fundamentos da teoria 
das janelas quebradas.
Objetivo de aprendizagem
Marina N. Makarova/Shutterstock
128128 Psicologia social aplicada à segurançaPsicologia social aplicada à segurança
de Nova York, com o capô aberto, sem placas e vidros 
quebrados, e acabou totalmente destruído em apenas 
24 horas. O segundo, sem nenhum dano inicial, foi dei-
xado em um bairro de classe média da mesma cidade 
e permaneceu assim por duas semanas. Todavia, pos-
teriormente, um dos pesquisadores quebrou algumas 
janelas e partes do automóvel e, daí em diante, o car-
ro foi totalmente destruído em alguns dias (KELLING; 
WILSON, 1982).
Psicologia social e prevenção criminal 129
Logo, a teoria das janelas quebradas argumenta que desordens físi-
cas e sociais em determinada comunidade podem promover a quebra 
do controle social informal, gerando como consequência um aumen-
to de diversos tipos crimes na região. Exemplos de desordens físicas 
e ambientais são lotes vazios descuidados, com mato alto e bichos, 
muros e prédios pichados e sem manutenção, veículos abandonados, 
além das próprias janelas quebradas.
Também existem as desordens sociais, como prostituição, gan-
gues, locais de comércio ilegal de drogas, jogos de azar contravento-
res, entre outros desarranjos sociais (excesso de consumo de álcool, 
pessoas em situação de rua etc.). Essas questões são elementos que 
influenciam o crime, por exemplo, no conceito de normas subjetiva, 
como vimos anteriormente.
O principal mecanismo para a redução da incidência criminal com 
base na teoria das janelas quebradas é reduzir as recompensas dos 
comportamentos criminosos. Isso seria possível com a sinalização da 
presença de moradores, transeuntes e agentes públicos interagindo 
com o ambiente e mantendo visível a participação comunitária nas vi-
zinhanças. De modo geral, a teoria das janelas quebradas enfatiza a 
capacidade de realização de controle social por meio de sinais físicos 
(como no cuidado com os espaços públicos) e sociais (como na presen-
ça de pessoas nos espaços públicos).
A figura a seguir ilustra essa teoria:
Figura 3
Modelo simplificado da teoria das janelas quebradas
Fonte: Elaborada pelo autor.
Sinais de 
desordem 
sem 
tratamento
Menor 
capacidade 
de controle 
social (real e 
percebida) 
Aumento da 
presença de 
criminosos na 
vizinhança 
Aumento 
de crimes e 
desordens
Aumento 
do medo do 
crime
Afastamento 
da vida 
comunitária
130 Psicologia social aplicada à segurança
A teoria das janelas quebradas enfatiza a relação entre condicio-
nantes ambientais e comportamentos criminosos. Por meio do con-
trole de sinais de desordens físicas e sociais, os crimes de menor 
relevância deixam de ser incentivados, fortalecendo a capacidade de 
controle social informal das comunidades locais. Em termos teóricos, 
três elementos da psicologia social são enfatizados:
o fortalecimento denormas sociais e mecanismos de conformidade;
o fortalecimento do monitoramento de comportamentos;
os sinais sociais.
Em última análise, os três elementos citados estão relacionados e 
indicam a capacidade de controle social. O fortalecimento das normas 
sociais está associado ao mecanismo de conformidade nos comporta-
mentos. Por sua vez, o monitoramento de comportamentos é um ele-
mento de influência do grupo, que impacta intenções e atitudes, assim 
como os comportamentos propriamente ditos. Por fim, os sinais sociais 
são elementos simbólicos dos itens anteriores.
O argumento da teoria das janelas quebradas tornou-se especial-
mente influente na produção científica e conhecido na opinião públi-
ca. Diversas políticas públicas foram influenciadas por interpretações 
desse modelo teórico. Por vezes, não havia relação entre as ações 
implementadas e o modelo teórico das janelas quebradas. A política 
pública de tolerância zero foi a experiência mais conhecida com base 
nesse modelo. Em 1990, a prefeitura de Nova York adotou estratégias 
de redução de crimes com base na saturação do policiamento nos bair-
ros que mais concentravam crimes, assim como foram realizados gran-
des investimentos na revitalização de espaços públicos e na instalação 
de equipamentos de videomonitoramento.
Sob o governo do prefeito Rudolph Giuliani (de 1994 a 2001) e do 
comissário de polícia William Bratton, essas medidas foram incenti-
vadas e a atuação policial foi dirigida para crimes de menor potencial 
ofensivo. Por exemplo, pessoas eram presas por pichações, venda de 
cigarros em público, consumo de drogas, entre outros crimes. Nas dé-
cadas de 1980 e 2000, os indicadores criminais da cidade apresentaram 
acentuado declínio, fazendo com que o modelo fosse utilizado em ou-
tras cidades dos EUA e do mundo.
A política de tolerância zero 
sofreu críticas ao longo 
do tempo. No documen-
tário Zero tolerance (school 
shooter documentary) | 
Real stories, as medidas de 
redução de desordens são 
criticadas com base no 
ambiente escolar. Em uma 
interpretação questioná-
vel dos argumentos dos 
autores da teoria, algumas 
agências policiais são cri-
ticadas por integrantes da 
comunidade escolar. Com 
isso, é possível problema-
tizar a utilização da teoria 
das janelas quebradas ao 
longo do tempo.
Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=EWWeysV6CC8. 
Acesso em: 3 set. 2021.
Documentário
Psicologia social e prevenção criminal 131
Apesar disso, não há consenso sobre a relação entre essas me-
didas e a queda dos crimes, e diversos pesquisadores apresentam 
argumentos com base em pesquisas empíricas, indicando outros fa-
tores como os principais responsáveis (HARCOURT, 2009; SHARKEY, 
2018). Outros autores argumentam que houve um desvirtuamento 
da teoria das janelas quebradas para enfatizar a criminalização de 
alguns grupos sociais e as ações truculentas em vizinhanças perifé-
ricas (FAGAN; DAVIES, 2000).
5.4 Teoria dos espaços defensáveis 
Vídeo A teoria dos espaços defensáveis é uma abordagem teórica que re-
laciona a incidência criminal com as características contextuais, e origi-
nalmente sua construção foi dirigida para ambientes residenciais.
No livro Espaços defensáveis: prevenção criminal pelo design urbano, 
publicado em 1973, o arquiteto Oscar Newman apresenta o resultado 
do trabalho de pesquisa que realizou em meados da década de 1960. O 
autor acompanhou o desenvolvimento de um complexo social de casas 
públicas comunitárias no condado de San Louis, no estado do Missouri. 
Tratava-se de um projeto governamental que tinha como objetivo abri-
gar famílias de baixa renda para diminuir a formação de guetos e zo-
nas de segregação social na região. Todavia, pouco mais de dez anos 
depois da instalação do complexo, a taxa de criminalidade voltou a au-
mentar, tornando o local inabitável, sendo posteriormente demolido.
De acordo com evidências da pesquisa (NEWMAN, 1972), os princi-
pais fatores que causaram a derrocada do projeto foram a falta de cui-
dado governamental na manutenção do local e o design do ambiente, 
que favorecia o desenvolvimento de crimes como vandalismo, venda e 
uso de drogas ilícitas e roubos (como pudemos entender na teoria das 
janelas quebradas). Ou seja, para o autor, as desordens físicas acaba-
ram por favorecer as desordens sociais.
Além disso, Newman (1973) identificou outros problemas: o 
excesso de famílias que ocupavam os corredores do complexo habi-
tacional (mais de 20 famílias diferentes) e os elevadores, assim como 
as escadas, que eram compartilhados por mais de 150 pessoas. Essa 
alta densidade fazia com que os moradores não tivessem nenhum 
afeto e apego com o local onde residiam, e isso gerava, além da to-
• Conhecer o modelo 
da teoria dos espaços 
defensáveis.
• Compreender a utili-
zação dos elementos 
teóricos em pesquisas 
aplicadas.
Objetivos de aprendizagem
132 Psicologia social aplicada à segurança
tal falta de cuidado, a impossibilidade de diferenciar moradores de 
intrusos (NEWMAN, 1972).
Ademais, as ruas não possuíam a vigilância necessária, bem como 
o planejamento dos prédios atrapalhava sobremaneira a vigilância na-
tural dos moradores com relação à movimentação de seus vizinhos 
e convidados ou até mesmo de intrusos. Por fim, por serem prédios 
muito altos e largos, o envolvimento comunitário era dificultado, o que 
gerou baixo índice de engajamento entre eles (MATSUNAGA, 2016).
O modelo teórico de Newman foi elaborado com base em uma 
perspectiva da arquitetura, buscando aliar conceitos da ciência social 
e da psicologia. A influência de Jane Jacobs é marcante no trabalho do 
autor. Para Newman (1973, p. 50), um espaço defensável é “um am-
biente residencial cujas características físicas, leiaute de construção e 
planejamento, funcionem para permitir que os moradores se tornem 
agentes de sua própria segurança”.
Ou seja, o autor destaca tanto elementos arquitetônicos quanto in-
dividuais com a segurança. Logo, outras áreas, como vizinhanças, ca-
sas, parques etc., podem se tornar espaços defensáveis se possuírem 
características que proporcionem pertencimento e permitam vigilância 
fácil e frequente. Esses elementos possibilitam que o controle social 
seja realizado pelos moradores. Os principais itens desse modelo teó-
rico são (NEWMAN, 1973):
 refere-se ao cuidado, ao apego e à identidade com um lugar específico.
refere-se à estruturação do ambiente de modo que quem esteja nele tenha a 
perfeita percepção de que está sendo observado a todo momento, ou seja, 
caso pense em cometer alguma infração, sabe que está sendo observado.
refere-se à possibilidade de os espaços influenciarem a segurança em suas 
adjacências e vice-versa, como um órgão público próximo a uma região resi-
dencial poder contribuir conjuntamente na segurança de ambos.
refere-se à noção de que ambientes que aparentam estar sendo cuidados 
possuem menos chances de serem depredados ou invadidos por assegu-
rarem que há alguém sempre atento responsável por aquele local.
Territori-
alidade
Vigilância 
natural
Justaposição 
geográfica
Manutenção 
do espaço
An
dr
ew
 K
ra
so
vit
ck
ii/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Psicologia social e prevenção criminal 133
Em conjunto, esses elementos são categorias que permitem ava-
liar a estrutura de um ambiente, com implicações para a segurança. 
O modelo teórico de Newman tornou-se influente nos anos seguin-
tes, tendo sido utilizado para diferentes projetos, como a organiza-
ção e o desenho das locações das Olimpíadas de Sydney e Londres 
(COZENS; LOVE, 2015).
Algumas ações voltadas às definições claras do que é público e 
privado podem impedir que transgressores cometam crimes nos lo-
cais (COSTA, 2017; MATSUNAGA, 2016). Elas podem ser:
 • barreiras simbólicas ou físicas (por exemplo, portões de acesso a 
becos entre residências ou muretas);
 • elaboração do design do ambiente, favorecendo a vigilância na-
tural dos moradores para com seus vizinhos, sem a sobreposi-
ção de elementos que impeçam a visualização davizinhança (por 
exemplo, portões que garantam a visibilidade);
 • manutenção do local para deixá-lo ordenado e limpo, a fim de 
demonstrar que ele não está abandonado. 
Em suma, a teoria está relacionada a princípios de intervenções 
diretas no ambiente com o objetivo de produzir um impacto positivo 
na segurança de toda uma comunidade. 
5.5 Prevenção criminal pelo design 
do ambiente (CPTED) Vídeo
O modelo da CPTED (tradução livre do inglês Crime Prevention Through 
Environmental Design) foi elaborado com base no argumento dos espaços 
defensáveis (COZENS; LOVE, 2015). Segundo o criminologista Timothy 
Crowe (2000, p. 46), esse modelo está relacionado ao “design adequado 
e uso efetivo dos ambientes construídos que podem levar à redução do 
medo e da incidência do crime, além de melhorar a qualidade de vida”. 
Ou seja, a CPTED não se relaciona apenas ao crime, mas às suas conse-
quências sobre indivíduos, grupos sociais e coletividade de modo geral. 
A origem do termo é associada a Clarence Ray Jeffery, cuja produção 
nessa área de pesquisa ainda é influente.
O desenvolvimento teórico da CPTED demonstrou a relevância da 
relação entre ambiente e comportamento. As formas como as pessoas 
percebem e interpretam os sinais do ambiente em que estão influen-
• Conhecer os conceitos 
da CPTED.
• Compreender a utiliza-
ção dos conceitos da 
CPTED para a preven-
ção criminal.
Objetivos de aprendizagem
134 Psicologia social aplicada à segurança
ciam os seus comportamentos. A CPTED começou a ser estruturada 
com base nas teorias que relacionavam a prevenção criminal ao am-
biente em meados dos anos 1960 nos Estados Unidos, associando 
comportamentos de pessoas individual ou coletivamente e a configura-
ção do local em que estavam inseridas, mesmo que transitoriamente.
Sendo assim, a CPTED estabelece que projetos arquitetônicos e co-
munitários podem influenciar a redução da criminalidade com base nos 
princípios dos espaços defensáveis, além de criar locais que encorajem 
o uso ativo do espaço comunitário de modo a garantir que a ocupação 
das pessoas que por lá residem pode afastar eventuais transgressores 
(COZENS; LOVE, 2015).
Portanto, não apenas os indivíduos, mas também o ambiente cons-
tituem importantes variáveis a serem consideradas em matéria de pre-
venção criminal e redução do medo do crime ou aumento da sensação 
de segurança. Assim, por mais que não seja a solução definitiva para 
acabar com o crime em determinado local, a reorganização inteligente 
do ambiente, por meio de intervenções em seu design com base nos 
conceitos da CPTED, pode trazer inúmeros benefícios, como diversas 
pesquisas têm demonstrado (COSTA, 2017; MATSUNAGA, 2016).
A figura a seguir apresenta a estruturação da CPTED:
Figura 4
Princípios da CPTED
Fonte: Adaptada de Cozens; Love, 2015.
CPTED
Territorialidade
Vigilância 
natural
Controle 
natural de 
acesso
Reforço do alvo
Manutenção 
da imagem
Suporte de 
atividades
Justaposição 
geográfica
Na obra A prevenção do 
crime através do desenho 
urbano, Roberson Luiz 
Bondaruk analisa a in-
fluência do ambiente na 
incidência criminal. Com 
base em pesquisas con-
duzidas em Curitiba, no 
Paraná, o autor propõe 
estratégias de interven-
ção no ambiente para a 
redução das oportu-
nidades de comporta-
mentos criminosos.
3. ed. Curitiba: Edição do autor, 2007.
Livro Inicialmente a teoria da CPTED foi baseada em três elementos 
estratégicos relacionados à prevenção criminal e influenciados pela 
noção de espaços defensáveis. São eles:
I. Controle natural de acesso: existência de obstáculos naturais 
(árvores ou arbustos) que demonstrem restrições ao acesso 
de espaços, com o objetivo de negar o alcance do local por um 
eventual agressor, bem como criar neste a percepção dos riscos 
a que se submete ao tentar superá-los.
II. Vigilância natural: tem o objetivo de permitir que as pessoas 
vejam e sejam vistas, criando em um potencial invasor a 
nítida percepção de que está sempre sob vigilância, o que 
aumenta o risco no caso de uma tentativa de invasão ou 
cometimento criminal. Ela pode ser classificada como 
organizada (patrulhas e vistorias constantes), mecânica 
(iluminação e câmeras) ou natural (janelas, portões e 
espaços não isolados da visão do público).
III. Controle de acesso ou reforço territorial: está relacionado 
à ocupação e ao controle das pessoas que por ali residem, 
das áreas próximas à sua moradia, do comércio, dos locais de 
lazer e de trânsito, por exemplo. O reforço territorial também 
se relaciona à designação clara dos ambientes de modo que 
seu design reforce seus usos legítimos e afaste indivíduos que 
possam lhe dar destinação ilegítima. Um exemplo pode ser a 
ocupação da comunidade nos parquinhos, pontos de encontro 
e áreas públicas de musculação, o que acaba afastando 
Figura 5
Exemplo de vigilância natural
yoshi0511/Shutterstocka
As câmeras de segurança 
presentes nos ambientes 
internos e externos são um 
exemplo de vigilância natural.
Psicologia social e prevenção criminalPsicologia social e prevenção criminal 135135
Figura 6
Exemplo de reforço territorial
ci
fo
ta
rt/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Exemplo de reforço territorial (pessoas fazendo 
exercício em áreas públicas).
Inicialmente a teoria da CPTED foi baseada em três elementos 
estratégicos relacionados à prevenção criminal e influenciados pela 
noção de espaços defensáveis. São eles:
I. Controle natural de acesso: existência de obstáculos naturais 
(árvores ou arbustos) que demonstrem restrições ao acesso 
de espaços, com o objetivo de negar o alcance do local por um 
eventual agressor, bem como criar neste a percepção dos riscos 
a que se submete ao tentar superá-los.
II. Vigilância natural: tem o objetivo de permitir que as pessoas 
vejam e sejam vistas, criando em um potencial invasor a 
nítida percepção de que está sempre sob vigilância, o que 
aumenta o risco no caso de uma tentativa de invasão ou 
cometimento criminal. Ela pode ser classificada como 
organizada (patrulhas e vistorias constantes), mecânica 
(iluminação e câmeras) ou natural (janelas, portões e 
espaços não isolados da visão do público).
III. Controle de acesso ou reforço territorial: está relacionado 
à ocupação e ao controle das pessoas que por ali residem, 
das áreas próximas à sua moradia, do comércio, dos locais de 
lazer e de trânsito, por exemplo. O reforço territorial também 
se relaciona à designação clara dos ambientes de modo que 
seu design reforce seus usos legítimos e afaste indivíduos que 
possam lhe dar destinação ilegítima. Um exemplo pode ser a 
ocupação da comunidade nos parquinhos, pontos de encontro 
e áreas públicas de musculação, o que acaba afastando 
Figura 5
Exemplo de vigilância natural
yoshi0511/Shutterstocka
As câmeras de segurança 
presentes nos ambientes 
internos e externos são um 
exemplo de vigilância natural.
Psicologia social e prevenção criminalPsicologia social e prevenção criminal 135135
Figura 6
Exemplo de reforço territorial
ci
fo
ta
rt/
Sh
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Exemplo de reforço territorial (pessoas fazendo 
exercício em áreas públicas).
136 Psicologia social aplicada à segurança
usuários de drogas, já que o espaço não estaria livre para esse 
tipo de comportamento.
Com o passar dos anos e o advento de novas teorias, outros ele-
mentos foram incorporados (COZENS, 2008), como a imagem e a 
manutenção, que se relacionam ao argumento da teoria das janelas 
quebradas. Essa categoria indica a importância de manter um cuida-
do adequado e a conservação contínua dos ambientes, pois espaços 
descuidados transmitem a mensagem de que estão desocupados, 
tendendo a se tornarem terra devastada, abrindo espaço, dessa for-
ma, para práticas criminais.
Uma casa com aparência descuidada, sem manutenção aparente e presença de moradores, pode ser alvo de práticas 
criminosas.
Th
om
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Ph
ot
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Figura 7
Exemplo de imagem e manutenção
Outro elemento é o reforço do alvo, que se trata de uma suplemen-
tação do controle de acesso,com reforço embasado em elementos 
que podem aumentar o controle daquele local por meio de estratégias 
como o uso de meios mecânicos (grades, cancelas e portões), pessoal 
especializado em segurança formal, mensagens e câmeras informando 
sobre a segurança, entre outros artefatos que possam levar à restrição 
do acesso a possíveis alvos.
Psicologia social e prevenção criminal 137
Figura 8
Exemplo de reforço do alvo
As placas de aviso que 
existem câmeras no local 
ajudam a inibir a ação de 
possíveis criminosos. 
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di
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SORRIA
VOCÊ ESTÁ SENDO 
FILMADO
Temos, ainda, o suporte de atividades, que envolve o uso de 
design e sinalização para encorajar os padrões pretendidos no uso do 
espaço público, como direcionar atividades inerentemente inseguras 
(por exemplo, movimentações após sacar dinheiro) para locais com 
melhores níveis de segurança (por exemplo, lugares com altos níveis 
de atividade e oportunidades de vigilância). Outro exemplo é minimi-
zar as rotas de fuga de eventuais infratores. Por fim, destacamos a 
utilização do conceito de justaposição geográfica, conforme a teoria 
dos espaços defensáveis, ou seja, a possibilidade de que os espaços 
influenciem a própria segurança do local.
Ao longo do tempo, o modelo teórico da CPTED desenvolveu-se e 
assumiu novas características. Por exemplo, os modelos conhecidos 
como de segunda geração passaram a incluir elementos como coesão 
social, cultura comunitária, participação de moradores, laços sociais, 
inclusão, entre outros elementos (COZENS; LOVE, 2015). Em grande 
medida, a expansão do modelo tem sido impulsionada por sua obje-
tividade e facilidade na aplicação, conectando áreas do conhecimento 
distintas.
Diversas cidades do mundo e do Brasil têm utilizado essa teoria 
como uma ferramenta para a prevenção criminal, alcançando re-
sultados satisfatórios. Nesse sentido, os estudos em CPTED têm se 
mostrado consistentes, com significativas reduções de criminalida-
de em países de intervenção, como EUA, Japão, França, Alemanha, 
Inglaterra e Brasil. Atualmente, existe, inclusive, uma associação in-
ternacional de pesquisadores que busca aprimorar e ampliar o em-
prego dessa teoria, a The International Crime Prevention Through 
Environmental Design Association (ICPTEDA).
138 Psicologia social aplicada à segurança
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicologia social tem impactado diversos processos de prevenção 
criminal. Sabemos que, para alcançar resultados favoráveis, diversas 
ciências podem e devem ser fonte de subsídios para estratégias com 
o objetivo de frear a atividade criminosa. Nesse sentido, como vimos, 
diversas teorias psicológicas, tanto em nível individual quanto social, são 
de relevância acadêmica e prática.
A relação entre crenças, valores, atitudes e normas informa diferentes 
modelos teóricos. Com isso, percebemos que a mudança de comporta-
mentos, tanto da vítima quanto do ofensor, depende de seus mecanis-
mos. Portanto, entender as crenças, os valores, as atitudes e as normas 
que geram influência social é primordial para alcançar resultados satisfa-
tórios na mudança comportamental.
Por exemplo, não parece razoável obrigar uma possível vítima a se 
comportar de maneira mais segura por meio de placas ou panfletos. 
Recomendamos que a pessoa entenda que ao buscar ter atitudes e 
comportamentos voltados à própria segurança (como compreender os 
riscos de chegar em casa sozinho à noite, de sacar quantias elevadas 
do banco e sair despretensiosamente, de andar olhando o celular com 
falta de atenção ao redor etc.) pode aumentar a chance de não ser alvo 
de um criminoso.
Logo, ao entender isso (mudança de crenças, valores e atitudes), é 
possível que comportamentos mais cuidadosos evitem situações de 
exposição ao risco. Por outro lado, as formas de lidar com o comporta-
mento criminoso possuem vinculações teóricas com diferentes áreas do 
conhecimento. A dissuasão, a incapacitação, a retribuição e a reabilitação 
ilustram os pressupostos que orientam diferentes estratégias das agên-
cias do sistema de justiça criminal.
Por fim, se observarmos o ambiente ou a guarda (ausência de guar-
dião), naturalmente entenderemos que estratégias ambientais podem di-
minuir muito a tendência criminal em determinados locais. Um propenso 
ofensor avalia bem a maneira de sua atuação criminal, e não simplesmen-
te comete um crime. Portanto, zelar pelo ambiente em que está inserido 
e dar mais atenção a ele é fundamental nessa estratégia de prevenção 
criminal. Enfim, a busca ainda é longa, mas a ciência psicológica social 
pode ajudar muito nessa caminhada.
Psicologia social e prevenção criminal 139
ATIVIDADES
Atividade 1
Enumere e descreva os níveis de prevenção segundo 
Brantingham e Faust (1976).
Atividade 2
Apresente a definição e as principais características da prevenção 
situacional do crime.
Atividade 3
Descreva o argumento da teoria das janelas quebradas.
Atividade 4
Enumere e descreva pelo menos três elementos da CPTED.
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Resolução das atividades 141
Resolução das atividades 
1 Fundamentos de psicologia social
1. Explique a influência da Segunda Guerra Mundial no 
desenvolvimento dos estudos em psicologia social.
Com a ascensão do regime nazista liderado por Adolf Hitler na 
Alemanha, muitas pessoas passaram a se questionar sobre as 
motivações de comportamentos violentos, preconceituosos e sádicos. 
Alguns conceitos importantes na psicologia social foram impulsionados 
com os esforços em compreender o funcionamento da sociedade 
alemã à época da ascensão totalitarista, como conformidade e 
obediência. Além disso, muitos pesquisadores europeus imigraram 
para os Estados Unidos em virtude da guerra. Com isso, contribuíram 
para o desenvolvimento de pesquisas sobre novos objetos a partir de 
perspectivas inovadoras para o contexto norte-americano, como o 
gestaltismo.
2. Defina a psicologia social (segundo David Myers) e apresente as 
principais características do campo de estudos.
A psicologia social compreende o estudo científico de como as pessoas 
pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras. Dentre as 
características, destacam-se: a utilização do método científico para o 
estudo de processos cognitivos relacionados ao pensamento social, 
à influência social e às relações sociais; a ênfase nas formas como 
o comportamento individual é influenciada pelo ambiente social em 
que se insere; a relevância do papel das normas culturais na influência 
social; e a dimensão aplicada da produção científica na compreensão 
do indivíduo como agente da história.
3. Enumere e caracterize as três perspectivas analíticas da psicologia 
social.
A perspectiva observacional privilegia a descrição do comportamento 
humano por meio da observação dos indivíduos e do registro de 
características que permitam distinguir padrões e diferenças. Essa 
estratégia pode assumir diferentes formas e ser realizada por meio 
de técnicas que dependem das circunstâncias e das características da 
pesquisa e de seus objetivos, bem como dos fenômenos observados. 
A perspectiva correlacional busca predizer o comportamento social 
por meio da análise das relações entre variáveis. As pesquisas 
correlacionais não oferecem conclusões sobre causa e efeito, ou 
142 Psicologia social aplicada à segurança
seja, não permitem afirmar que a variável A é a causa da variável B. A 
perspectiva experimental inclui estratégias de pesquisa que permitem 
estabelecer relações de causa e efeito. Para tanto, os psicólogos sociais 
simulam em laboratório situações que permitem observar aspectos 
dos fenômenos estudados. A simulação de situações sociais consiste 
na reprodução de condicionantes importantes de nossas vidas. 
São importantes os seguintes conceitos: variáveis independentes, 
variáveis dependentes, designação aleatória.
2 Personalidade, agressões e violências
1. Apresente a definição de agressão e a sua diferença em relação ao 
conceito de violência.
A literatura psicológica apresenta relativo consenso sobre a definição 
de agressão como sendo aqueles comportamentos físicos ou verbais 
dirigidos a causar danos em outras pessoas. Em termos conceituais, 
a psicologia social interpreta a violência como um subconjunto de 
agressões (ALLEN; ANDERSON, 2017). Assim, a violência é uma forma 
severa de agressão que tem como objetivo agressões físicas severas.
2. Apresente as principais diferenças entre as explicações sobre a 
hipótese frustração-agressão para Dollard, Miller e Berkowitz.
Para Dollard, toda frustração leva a alguma forma de agressão e toda 
agressão é causada por um tipo de frustração. Ou seja, a frustração 
é um fator necessário e suficiente para uma agressão. Os motivos 
para agredir seriam, para o autor, semelhantes àqueles de reações 
fisiológicas como a fome ou o sono. Trata-se de uma necessidade que 
deve ser satisfeita, ou seja, assim como a ausência de comida gera 
impulsos de fome ou a ausência de sono gera impulsos de repouso, a 
frustração geraria incentivos à agressão.
Já Miller argumenta que nem sempre as frustrações geram respostas 
agressivas, além de que nem toda agressão é oriunda de uma 
frustração. A revisão proposta por Miller (1941) sugere uma relação 
probabilística (e não determinística) entre agressão e frustração.
Berkowitz argumenta que a frustração é uma experiência, entre 
tantas outras, que pode levar a comportamentos agressivos por 
meio de sentimentos negativos ou desconfortáveis. Ou seja, são 
esses sentimentos negativos (ou afetos negativos) que podem levar 
a agressões, mas nem sempre isso ocorre. A agressão tende a ser 
relacionada à intensidade do afeto negativo e não à frustração em si.
Resolução das atividades 143
3. Relacione pelo menos três evidências de estudos da psicologia 
social sobre a relação entre o consumo de álcool e as agressões.
a) Os efeitos do álcool sobre a agressão são mais pronunciados 
quando os indivíduos são provocados. Segundo Gustafson 
(1994), tanto a frequência quanto a intensidade de reações 
agressivas foram maiores diante de agressões contra 
pessoas sob efeito de álcool.
b) As agressões em respostas a frustrações (interrupções de 
objetivos específicos) foram mais intensas em pessoas sob 
efeito de álcool (ITO; MILLER; POLLOCK, 1996).
c) As pessoas sob efeito de álcool são menos capazes 
de se concentrar em si próprias e de monitorar seus 
comportamentos (ITO; MILLER; POLLOCK, 1996).
d) Os gatilhos agressivos são mais pronunciados no 
comportamento de pessoas sob efeito de álcool, como na 
aplicação de choques elétricos em experimentos.
4. Relacione pelo menos três evidências de estudos da psicologia social 
sobre a relação entre a exposição prolongada aos videogames e às 
agressões.
a) Aumenta o pensamento agressivo, como supor 
comportamentos agressivos no trânsito (BUSHMAN; 
ANDERSON, 2002).
b) Aumenta sentimentos agressivos, como frustração e 
hostilidade (MYERS, 2014).
c) Aumenta comportamentos agressivos, como discussões com 
pais, professores e colegas de escola, inclusive agressões 
físicas (BUCKLEY; ANDERSON, 2006).
d) Diminui comportamentos pró-sociais, como ajudar pessoas 
em necessidade (MYERS, 2014).
e) Diminui a sensibilidade à violência, como se a atividade 
cerebral tivesse se “acostumado” e reagisse de maneira 
menos intensa (CARNAGEY; ANDERSON; BARTHOLOW, 
2007).
144 Psicologia social aplicada à segurança
3 Psicologia social e justiça criminal
1. Dê os conceitos de crenças, valores, normas sociais, atitudes e 
comportamentos segundo a psicologia social.
Crenças: conjunto de ideias formadas, estruturadas e estabelecidas 
por uma pessoa como pensamentos automáticos que são apreciados 
como verdades.
Valores: crenças relativamente estáveis, ligadas à emoção, que 
geram sentimentos; um constructo motivacional que orienta as 
atitudes das pessoas.
Normas sociais: costumes habituais exibidos por um grupo; regras 
de comportamento social, explícitas ou implícitas, que propõem um 
comportamento valorizado pela sociedade.
Atitudes: orientações valorativas a respeito do mundo e de 
qualquer componente do ambiente que possa ser representado 
psicologicamente; parâmetros avaliativos de um objeto, seja ele 
físico ou social.
Comportamentos: respostas observáveis de umapessoa por meio 
da exteriorização de suas atitudes; maneira como uma pessoa se 
comporta e reage no meio em que vive diante de uma situação e dos 
estímulos recebidos.
2. Descreva as fases de processamento da memória.
A primeira fase é de aquisição, quando notamos todas as 
informações do ambiente que nos cerca e prestamos atenção nelas, 
o que é impossível para nossa capacidade humana, já que acabamos 
selecionando algumas informações.
A segunda fase é de armazenamento, processo em que alguém guarda 
na memória os detalhes selecionados da cena e do fato vivenciado. 
Nesse caso, diversos fatores podem influenciar a maneira como a 
informação é armazenada e posteriormente buscada.
A terceira fase é de recuperação, quando buscamos de volta as 
lembranças armazenadas em nossa memória, parte também 
influenciada por vários fenômenos, como o da memória reconstrutiva, 
quando informações posteriores ao evento acabam influenciando 
e distorcendo a lembrança original, ou o da monitoração da fonte, 
causada por perguntas enganosas que acabam nos levando a 
identificar a fonte de nossas memórias e frequentemente a relatar 
coisas que na verdade não estavam presentes no momento do fato.
Resolução das atividades 145
3. Descreva o fenômeno da reatância psicológica aplicada ao contexto 
judicial.
Ocorre quando a liberdade de ação do indivíduo é ameaçada. As 
reações tendem a ser negativas quando existem imposições contra 
a liberdade de escolha e a autonomia. Por exemplo, durante um 
tribunal do júri, uma ordem do juiz para ignorar um depoimento ou 
uma afirmação do advogado de defesa para que o passado do réu 
seja completamente desconsiderado podem ter um efeito oposto, 
aumentando o impacto daquela prova, em especial se a fala for 
de caráter emocional, como a descrição detalhada de um crime 
anterior com crueldade. Por mais que os jurados tendam a afirmar 
que respeitam o devido processo legal e não consideram a prova 
juridicamente descartada em sua decisão, as pesquisas demonstram 
que essas informações são levadas em consideração pelos jurados, 
mesmo que implicitamente.
4 Psicologia social e crime
1. Enumere e descreva as principais abordagens psicológicas sobre 
o crime.
A primeira é a abordagem psicanalítica, ela enfatiza a dimensão 
conflitiva entre as dimensões da personalidade. O surgimento de 
características psicológicas associadas a comportamentos antissociais 
e criminosos demonstraria os conflitos entre as dimensões da 
personalidade e os limites sociais. Além disso, os conflitos são 
comparados a doenças e, como tal, requerem tratamento, sob pena 
de se tornarem mais graves ao longo do tempo.
A segunda abordagem é sobre a relação entre crimes e deficit de 
inteligência. Essa abordagem enfatiza que a inteligência pode ser 
determinada hereditariamente ou por meio de influência social. Em 
ambos os casos, o deficit de inteligência está associado à dificuldade 
de controlar impulsos e de julgar situações corriqueiras do dia a dia, 
além de comprometer o desempenho escolar.
A terceira abordagem é sobre a personalidade. Essa abordagem 
procura estabelecer traços de personalidade que estejam associados 
a comportamentos criminosos, como hostilidade, suspeição, 
desconfiança, ambivalência, sadismo e narcisismo.
146 Psicologia social aplicada à segurança
2. Descreva o argumento principal da teoria da ação racional.
Essa teoria foi proposta por Fishbein e Ajzen. Os autores argumentam 
que os comportamentos ocorrem de modo espontâneo, com base 
nas informações e nas crenças que o indivíduo possui a respeito do 
objeto a que se refere. Muitas são as maneiras de obter informações ou 
formar crenças a respeito de situações ou objetos. As características 
individuais e as experiências desempenham papel importante, assim 
como condições de socialização, educação, grupos sociais e acesso à 
informação; mesmo as características de personalidade influenciam 
a formação de crenças a respeito do mundo. Em última medida, 
para Fishbein e Ajzen (2015), não importa como essas crenças foram 
formadas, mas sim como elas guiam a decisão de adotar certo 
comportamento. Uma das características do modelo da ação racional 
é a argumentação de que uma atitude pode indicar uma tendência à 
ação, mas não necessariamente um comportamento. Para os autores, 
outros elementos devem ser levados em consideração, por exemplo, 
a pressão social.
3. Enumere e descreva os elementos do crime segundo a teoria das 
atividades rotineiras.
Os elementos são: ofensor motivado, vítima ou alvo e ausência de 
guardiões capazes. O ofensor motivado é definido como um ator 
racional, ou seja, ao decidir cometer um crime, realiza cálculos do tipo 
custo-benefício. A vítima, ou o alvo, influencia a ação do ofensor. Suas 
características, seus objetos ou suas posses despertam a atenção 
dos ofensores. Segundo os autores, as vítimas podem ser tanto 
pessoas quanto residências, automóveis etc. Já o terceiro elemento é 
a ausência de guardiões capazes, referindo-se à proteção em relação 
à ação do ofensor (individual e ambiental). Pode ser um equipamento 
de segurança, presença de pessoas, a polícia ou a atitude da 
própria vítima. Em grande medida, é a convergência entre esses três 
elementos o que possibilita a concretização de um crime, ou seja, as 
características contextuais são elementos importantes nesse modelo 
teórico.
5 Psicologia social e prevenção criminal 
1. Enumere e descreva os níveis de prevenção segundo Brantingham e 
Faust (1976).
A prevenção primária está baseada em medidas ou profilaxias 
gerais que têm como foco principal a remoção de fatores que 
possam criar condições para o crime. Com relação ao crime, as 
Resolução das atividades 147
medidas profiláticas são voltadas a afastar crianças e jovens do 
ambiente criminal, impedindo a estruturação de crenças, valores 
e atitudes voltados ao crime, em programas como o Proerd ou 
outros projetos sociais.
A prevenção secundária é dirigida a indivíduos, grupos ou situações de 
risco, que tenham mais chances de engajamento em comportamentos 
criminais, como adolescentes com pais encarcerados, escolas com 
episódios de bullying, regiões com abandono, vandalismo e uso 
frequente de drogas, entre outras desordens físicas e sociais.
Já a prevenção terciária está relacionada às ações direcionadas a 
presos, egressos ou indivíduos com histórico recente de detenção. 
Ou seja, o foco principal está direcionado a evitar a reincidência 
de comportamentos criminosos, como projetos ou programas 
voltados à educação, formação técnico-profissional e recuperação 
da dependência química.
2. Apresente a definição e as principais características da prevenção 
situacional do crime.
De modo geral, esse é um campo do conhecimento que busca encontrar 
formas de reduzir a incidência criminal particularmente por meio de 
ações que reduzam as oportunidades para a ocorrência de crimes. 
Em primeiro lugar estão a objetividade e o alcance da prevenção 
situacional do crime. Não se trata de medidas aleatórias e aplicáveis 
a todos os contextos indistintamente. São ações dirigidas a 
contextos criminais específicos, que são elaboradas com base 
em premissas de planejamento, acompanhamento e avaliação 
desenvolvidas de maneira única.
Em segundo lugar, a relação entre as medidas e as causas são 
diretas e próximas. Assim, a prevenção situacional do crime não 
se dirige às condicionantes amplas, como desigualdade social, 
infraestrutura urbana ou condições de educação. Pelo contrário, são 
medidas exequíveis a curto e médio prazo e que estão diretamente 
relacionadas à incidência criminal, objeto do conjunto de ações.
Por fim, a terceira característica central para a prevenção 
situacional do crime é o seu mecanismo de funcionamento. As 
medidas a serem adotadas buscam aumentar os custos ou os 
riscos para o comportamento criminoso ou mesmo a mitigação de 
possíveis recompensas.
3. Descreva o argumento da teoria das janelas quebradas.
Segundo Kelling e Wilson (1982), os sinais de desordem,mesmo 
que simples, quando não são resolvidos podem ensejar um 
ambiente permissivo para comportamentos antissociais. Como em 
148 Psicologia social aplicada à segurança
uma espiral, haveria um ponto em que os sinais de desordem e 
os crimes deixariam de ser notados até se tornarem, segundo os 
autores, difíceis de serem controlados.
Logo, pequenas desordens físicas podem ser incentivos para outras 
maiores porque refletem certa apatia pública e cívica e tolerância 
com desarranjos sociais mais complexos e graves, atraindo diversos 
tipos de criminosos para a área.
Assim, o principal mecanismo para a redução da incidência 
criminal com base nessa teoria é reduzir as recompensas dos 
comportamentos criminosos. Isso é possível com a sinalização 
da presença de moradores, transeuntes e agentes públicos 
interagindo com o ambiente e mantendo visíveis a participação 
comunitária nas vizinhanças.
4. Enumere e descreva pelo menos três elementos da CPTED.
I. Controle natural de acesso: existência de obstáculos naturais 
(árvores ou arbustos) que demonstrem restrições ao acesso 
de espaços, com o objetivo de negar o alcance do local por um 
eventual agressor, bem como criar neste a percepção dos riscos 
a que se submete ao tentar superá-los.
II. Vigilância natural: tem o objetivo de permitir que as pessoas 
vejam e sejam vistas, criando em um potencial invasor a nítida 
percepção de que está sempre sob vigilância, o que aumenta o 
risco no caso de uma tentativa de invasão ou cometimento criminal.
III. Controle de acesso ou reforço territorial: está relacionado 
à ocupação e ao controle das pessoas que por ali residem, das 
áreas próximas à sua moradia, do comércio, dos locais de lazer e 
de trânsito, por exemplo.
IV. Imagem e manutenção: indica a importância de manter um 
cuidado adequado e a conservação contínua dos ambientes, 
pois espaços descuidados transmitem a mensagem de que estão 
desocupados, tendendo a se tornarem terra devastada, abrindo 
espaço, dessa forma, para práticas criminais.
V. Reforço do alvo: trata-se de uma suplementação do controle 
de acesso, com reforço embasado em elementos que podem 
aumentar o controle daquele local por meio de estratégias como 
o uso de meios mecânicos (grades, cancelas e portões), pessoal 
especializado em segurança formal, mensagens e câmeras 
informando sobre a segurança do local, entre outros artefatos 
que possam levar à restrição do acesso a possíveis alvos.
VI. Suporte de atividades: envolve o uso de design e sinalização 
para encorajar os padrões pretendidos no uso do espaço público, 
como direcionar atividades inerentemente inseguras (por 
exemplo, movimentações após sacar dinheiro) para locais com 
Resolução das atividades 149
melhores níveis de segurança (por exemplo, lugares com altos 
níveis de atividade e oportunidades de vigilância).
VII. Justaposição geográfica: refere-se à possibilidade de os espaços 
influenciarem a segurança em suas adjacências e vice-versa, como 
um órgão público próximo a uma região residencial poder contribuir 
conjuntamente na segurança de ambos.
ISBN 978-65-5821-077-1
9 786558 210771
Código Logístico
59763
MÁRCIO JÚLIO DA SILVA MATTOS
MÁRCIO JÚLIO DA SILVA MATTOS
PSICOLOGIA SOCIAL APLICADA À SEGURANÇA

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