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APOSTILA FILOSOFIA PROFESSOR PODDIS

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APOSTILA FILOSOFIA 
2010 
 
 
 
 
 
Professor Poddis 
 
 
 
1) Filosofia pré-socrática 
 
 O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela passagem da cosmogonia 
para a cosmologia. A cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e 
explica como do caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses, identificados 
às forças da natureza. Na cosmologia, as explicações rompem com a religiosidade: 
a arché (principio) não se encontra mais na ordem do tempo mítico, mas significa 
princípio teórico, enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a diversidade de 
escolas filosóficas, dando origem a fundamentações conceituais (e portanto 
abstratas) muito diferentes entre si. 
 Vamos destacar apenas dois, dentre os pré-socráticos: Heráclito e 
Parmênides. Relembramos também que o tempo destruiu grande parte da obra dos 
primeiros filósofos, deles nos restando apenas fragmentos e os comentários sobre 
seus textos feitos pelos filósofos do período clássico. 
 
Heráclito: tudo flui 
 
 Heráclito (544-484 a.C.) nasceu em Efeso, na Jônia (atual Turquia). Tal como 
seus contemporâneos pré-socráticos, busca compreender a multiplicidade do real. 
Mas, ao contrário deles, não rejeita as contradições e quer apreender a realidade 
na sua mudança, no seu devir. Todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos 
diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será 
depois: "Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio", pois na segunda vez não 
somos os mesmos, e também o rio mudou. 
 Portanto não há ser estático, e o dinamismo pode bem ser representado pela 
metáfora do fogo, forma visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do 
devir, "o fogo eterno e vivo, que ora se acende e ora se apaga". 
 Para Heráclito o ser é o múltiplo. Não no sentido apenas de que existe a 
multiplicidade das coisas, mas de que o ser é múltiplo por estar constituído de 
oposições internas. O que mantém o fluxo do movimento não é o simples aparecer 
de novos seres, mas a luta dos contrários, pois "a guerra é pai de todos, rei de 
todos". E é da luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários. 
 Pode-se dizer que Heráclito teve a intuição da lógica dialética, a ser elaborada 
por Hegel e depois Marx, no século XIX. 
 
Parmênides: o ser é imóvel 
 
 Parmênides (c.540-c.470 a.C.) viveu em Eléia, cidade do sul da Magna Grécia 
(atual Itália) e é o principal expoente da chamada escola eleática. Elaborou 
importantíssima teoria filosófica na medida em que influenciou de forma decisiva o 
pensamento ocidental. Ocupou-se longamente em criticar a filosofia heraclitiana: ao 
"tudo flui" (panta rei) de Heráclito, contrapôs a imobilidade do ser. 
 Para Parmênides é absurdo e impensável considerar que uma coisa pode ser e 
não ser ao mesmo tempo. A contradição opõe o principio segundo o qual "o ser é" e 
o "não ser não é". Mais tarde, os lógicos chamarão a isto princípio de identidade, 
base de toda construção metafísica posterior. 
 Por raciocínios que não cabe examinar neste pequeno espaço, Parmênides 
conclui, a partir do princípio estabelecido, que o ser é único, imutável, infinito e 
imóvel. Não há, entretanto, como negar a existência do movimento no mundo que 
percebemos, onde as coisas nascem e morrem, mudam de lugar e se expõem em 
infinita multiplicidade. Para Parmênides, o movimento existe apenas no mundo 
sensível, e a percepção levada a efeito pelos sentidos é ilusória. Só o mundo 
inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao principio que hoje chamamos de 
identidade e de não-contradição. 
 Uma das conseqüências dessa teoria é a identidade entre o ser e o pensar. Ou 
seja, as coisas que existem fora de mim são idênticas ao meu pensamento, e o 
que eu não conseguir pensar não pode ser na realidade. 
 
 
2) Os sofistas 
 
 O século de Péricles (V a.C.) constitui o período áureo da cultura grega, 
quando a democrática Atenas desenvolve intensa vida cultural e artística. Os 
pensadores do período clássico, embora ainda discutam questões referentes à 
natureza, desenvolvem o enfoque antropológico, abrangendo a moral e a política. 
 Os sofistas vivem nessa época, e alguns deles são interlocutores de Sócrates. 
Os mais famosos sofistas foram: Protágoras, de Abdera (485-411 a.C.); Górgias, 
de Leôncio, na Sicília (485-380 a.C.); Híppias, de Elis; e ainda Trasimaco, Pródico, 
Hipódamos, entre outros. Tal como ocorreu com os pré-socráticos, dos sofistas só 
nos restam fragmentos de suas obras, além das referências - muitas vezes 
tendenciosas - feitas por filósofos posteriores. 
 A palavra sofista, etimologicamente, vem de sophos, que significa "sábio", ou 
melhor, "professor de sabedoria". Posteriormente adquiriu o sentido pejorativo de 
"homem que emprega sofismas", ou seja, alguém que usa de raciocínio capcioso, 
de má-fé, com intenção de enganar. Sóphisrna significa "sutileza de sofista". 
 Os sofistas sempre foram mal interpretados devido às criticas que sobre eles 
fizeram Sócrates e Platão. A imagem de certa forma caricatural da sofística tem 
sido reelaborada no sentido de procurar resgatar a verdadeira importância do seu 
pensamento. Desde que os sofistas foram reabilitados por Hegel no século XIX, o 
período por eles iniciado passou a ser denominado Aujklãrung grega (imitando a 
expressão alemã que designa o iluminismo europeu do século XVIII). 
 São muitos os motivos que levaram à visão deturpada dos sofistas que a 
tradição nos oferece. Em primeiro lugar, há enorme diversidade teórica entre os 
pensadores reunidos sob a designação de sofista. Talvez o que possa identificá-los 
é o fato de serem considerados sábios e pedagogos. Vindos de todas as partes do 
mundo grego, desenvolvem um ensino itinerante pelos locais em que passam, mas 
não se fixam em lugar algum. Deve-se a isso o gosto pela crítica, o exercício do 
pensar resultante da circulação de idéias diferentes. 
 Segundo Jaeger, historiador da filosofia, os sofistas exercem influência muito 
forte, vinculando-se à tradição educativa dos poetas Homero e Hesíodo. Os sofistas 
deram importante contribuição para a sistematização do ensino. Formaram um 
currículo de estudos: gramática (da qual foram os iniciadores), retórica e dialética; 
por influência dos pitagóricos, desenvolveram a aritmética, a geometria, a 
astronomia e a música. Essa divisão será retomada no ensino medieval, 
constituindo o triviam (referente aos três primeiros) e o quadrivium (referente aos 
quatro últimos). Para escândalo de seus contemporâneos, costumavam cobrar 
pelas aulas e por esse motivo Sócrates os acusava de prostituição. Cabe aqui um 
reparo: na Grécia Antiga, apenas os nobres se ocupavam com o trabalho 
intelectual, pois gozavam do ócio, ou seja, da disponibilidade de tempo decorrente 
do fato de que o trabalho manual, de subsistência, era ocupação de escravos. Ora, 
os sofistas, geralmente homens saídos da classe média, faziam das aulas seu ofício, 
já que não eram suficientemente ricos para filosofarem descompromissadamente. 
Se alguns sofistas de menor valor podiam ser chamados de mercenários do saber, 
isso na verdade era acidental. (Será que essas observações podem nos servir ainda 
hoje?). 
 Os sofistas elaboram o ideal teórico da democracia, valorizada pelos 
comerciantes em ascensão, cujos interesses se contrapõem aos da aristocracia 
rural. A exigência que os sofistas vêm satisfazer é de ordem essencialmente 
prática, voltada para a vida: iniciam os jovens na arte da retórica, instrumento 
indispensável na assembléia democrática, e os deslumbram com o brilhantismo da 
participação no debate público. 
 Se foram acusados pelos seus detratores de pronunciarem discursos vazios, 
essa fama se deve à excessiva atenção dada por alguns deles ao aspecto formal da 
exposição e da defesa das idéias,pois se achavam preocupados com a persuasão, 
instrumento por excelência do cidadão na cidade democrática. Os melhores deles, 
no entanto, buscaram aperfeiçoar os instrumentos da razão, ou seja, a coerência e 
o rigor da argumentação, porque não basta dizer o que se considera verdadeiro, é 
preciso demonstrá-lo pelo raciocínio. Pode-se dizer que aí se encontra o embrião 
da lógica, mais tarde desenvolvida por Aristóteles. 
 Quando Protágoras, um dos mais importantes sofistas, diz que "o homem é a 
medida de todas as coisas", esse fragmento deve ser entendido não como 
expressão do relativismo do conhecimento, mas enquanto exaltação da capacidade 
de construir a verdade: o logos não mais é divino, mas decorre do exercício técnico 
da razão humana. 
 
 
3) Sócrates 
 
Sócrates (c.470-399 a.C.) nada deixou escrito, e teve suas idéias divulgadas 
por dois de seus principais discípulos, Xenofonte e Platão. Evidentemente, devido 
ao brilho deles, é de se supor que nem sempre fossem realmente fiéis ao 
pensamento do mestre. Nos diálogos que Platão escreveu, Sócrates figura sempre 
como o principal interlocutor. 
Mesmo tendo sido incluído muitas vezes entre os sofistas, Sócrates recusava 
tal classificação, e opunha-se a eles de forma crítica. Sócrates se indispôs com os 
poderosos do seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses da cidade e 
corromper a mocidade. Por isso foi condenado e morto. 
 Costumava conversar com todos, fossem velhos ou moços, nobres ou 
escravos, preocupado com o método do conhecimento. Socrates parte do 
pressuposto "só sei que nada sei", que consiste justamente na sabedoria de 
reconhecer a própria ignorância, ponto de partida para a procura do saber. Por isso 
seu método começa pela parte considerada "destrutiva", chamada ironia (em 
grego, perguntar"). Nas discussões afirma inicialmente nada saber, diante do 
oponente que se diz conhecedor de determinado assunto. Com hábeis perguntas, 
desmonta as certezas até o outro reconhecer a ignorância. Parte então para a 
segunda etapa do método, a tnaiêutica (em grego, "parto"). Dá esse nome em 
homenagem a sua mãe, que era parteira, acrescentando que, se ela fazia parto de 
corpos, ele "dava à luz" idéias novas. 
 Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-
lo na procura da definição do conceito. Esse processo aparece bem ilustrado nos 
diálogos relatados por Platão, e é bom lembrar que, no final, nem sempre Sócrates 
tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às vezes as discussões 
não chegam a conclusões definitivas. 
 As questões que Sócrates privilegia são as referentes à moral, daí perguntar 
em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante. 
Diante de diversas manifestações de coragem, quer saber o que é a "coragem em 
si", o universal que a representa. Ora, enquanto a filosofia ainda é nascente, 
precisa inventar palavras novas, ou usar as antigas dandolhes sentido diferente. 
Por isso Sócrates utiliza o termo logos, que na linguagem comum significava 
"palavra", "conversa", e que no sentido filosófico passa a significar "a razão que se 
dá de algo", ou mais propriamente, conceito. 
 Assim explica García Morente: "O que os geômetras dizem de uma figura, do 
circulo, por exemplo, para defini-lo, é o logos do circulo, é a razão dada do círculo. 
Do mesmo modo, o que Sócrates pede com afã aos cidadãos de Atenas é que lhes 
dêem o logos da justiça, o logos da coragem. (...) Pois que é este logos senão o 
que hoje denominamos conceito"? Quando Sócrates pede o logos, quando pede que 
indiquem qual é o logos da justiça, que é a justiça, o que pede é o conceito da 
justiça, a definição da justiça". 
 
 
4) Platão 
 
 Platão (428-347 a.C.) viveu em Atenas, onde fundou uma escola denominada 
Academia. Para melhor sintetizar as idéias de Platão, recorremos ao livro VII de A 
República, onde seu pensamento é ilustrado pelo famoso "mito da caverna". Platão 
imagina uma caverna onde estão acorrentados os homens desde a infância, de tal 
forma que, não podendo se voltar para a entrada, apenas enxergam o fundo da 
caverna. Aí são projetadas as sombras das coisas que passam às suas costas, onde 
há uma fogueira. Se um desses homens conseguisse se soltar das correntes para 
contemplar à luz do dia os verdadeiros objetos, quando regressasse, relatando o 
que viu aos seus antigos companheiros, esses o tomariam por louco, não 
acreditando em suas palavras. 
 A análise do mito pode ser feita pelo menos sob dois pontos de vista: o 
epistemológico (relativo ao conhecimento) e o político (relativo ao poder). 
Segundo a dimensão epistemológica, o mito da caverna é uma alegoria a respeito 
das duas principais formas de conhecimento: na teoria das idéias, Platão distingue 
o mundo sensível, dos fenômenos, e o mundo inteligível, das idéias. 
 O mundo sensível, acessível aos sentidos, é o mundo da multiplicidade, do 
movimento, e é ilusório, pura sombra do verdadeiro mundo. Assim, mesmo se 
percebemos inumeras abelhas dos mais variados tipos, a idéia de abelha deve ser 
una, imutável, a verdadeira realidade. Com isto Platão se aproxima do instrumental 
teórico de Parmênides e, aliando-o aos ensinamentos de Sócrates, elabora uma 
teoria original. 
 Do seu mestre aproveita a noção nova de logos, e continuando o processo de 
compreensão do real, cria a palavra idéia (eidos), para referir-se à intuição 
intelectual, distinta da intuição sensível. 
 Portanto, acima do ilusório mundo sensível, há o mundo das idéias gerais, das 
essências imutáveis que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos 
enganos dos sentidos. 
 Sendo as idéias a única verdade, o mundo dos fenômenos só existe na 
medida em que participa do mundo das idéias, do qual é apenas sombra ou cópia. 
Por exemplo, um cavalo só é cavalo enquanto participa da idéia de "cavalo em si". 
Trata-se da teoria da participação, mais tarde duramente criticada por Aristóteles. 
 Para Platão há uma dialética que fará a alma elevar-se das coisas múltiplas e 
mutáveis ás idéias unas e imutáveis. As idéias gerais são hierarquizadas, e no topo 
delas está a idéia do Bem, a mais alta em perfeição e a mais geral de todas: os 
seres e as coisas não existem senão enquanto participam do Bem. E o Bem 
supremo é também a Suprema Beleza. É o Deus de Platão. Se lembrarmos dos pré-
socráticos, podemos verificar que Platão tenta superar a oposição instalada pelo 
pensamento de Heráclito, que afirmava a mutabilidade essencial do ser, e a posição 
de Parmênides, para o qual o ser é imóvel. Platão resolve o problema: o mundo das 
idéias se refere ao ser parmenideo, e o mundo dos fenômenos ao devir heraclitiano. 
 Mas como é possível aos homens ultrapassarem o mundo das aparências 
ilusórias? Platão supôe que os homens já teriam vivido como puro espírito quando 
contemplaram o mundo das idéias. Mas tudo esquecem quando se degradam ao se 
tornarem prisioneiros do corpo, que é considerado o "túmulo da alma". Pela teoria 
da reminiscência, Platão explica como os sentidos se constituem apenas na ocasião 
para despertar nas almas as lembranças adormecidas. Em outras palavras, 
conhecer é lembrar. No diálogo Menon, Platão descreve como um escravo, ao 
examinar figuras sensíveis que lhe são oferecidas, é induzido a "lembrar-se" das 
idéias e descobre uma verdade geométrica. 
 Voltando ao mito da caverna: o filósofo (aquele que se libertou das 
correntes), ao contemplar a verdadeira realidade e ter passado da opinião (doxa) à 
ciência (episteme), deve retornar ao meio dos homens para orientá-los. 
 Eis assim a segunda dimensão do mito, a política, surgida da pergunta: como 
influenciar os homens que não vêem? Cabe ao sábio ensinar e governar. Trata-se 
da necessidade da ação política, da transformação dos homens e dasociedade, 
desde que essa ação seja dirigida pelo modelo ideal contemplado. 
 
Idealismo ou realismo das idéias? 
 
 Alguns teóricos tendem a interpretar pensamento de Parmênides e de Platão 
com representantes do idealismo. Como veremos adiante, o idealismo é uma 
expressão do pensameto moderno, no momento em que a teoria do conhecimento 
se torna reflexão autônoma. 
 Segundo Garcia Morente, o eleatismo não é idealismo, mas realismo. Quando 
Parmênides identifica ser e pensar, não se pode concluir que ele reduz o ser das 
coisas ao pensamento, pois em nenhum momento é negada a existência autônoma 
das coisas reais. Aliás, toda filosofia tiga é "ingênua" no sentido de aceitar o 
pressuposto de que "as coisas são reais". 
 O que se deve levar em conta é que naquele momento a filosofia está no seu 
berso e Parmênides leva até as últimas conseqüências o poder recém-descoberto 
da razão de procurar entender o mistério do mundo. 
 Como vimos, Platão rejeita como enganosa a multiplicidade do mundo e 
privilegia as idéias como essências existentes das coisas do mundo sensível. Ou 
seja, a cada "sombra do mundo dos fenômenos corresponderia uma essência 
imutável no mundo das idéias. Platão confere às idéias uma existência real; 
portanto, trata-se menos de uma teoria idealista e mais propriamente de um 
realismo das idéias. Ou ainda, segundo outros, de um idealismo objetivo. 
 
 
5) Aristóteles 
 
 Arístóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagíra, na Calcídica (região 
dependente da Macedônia). Seu pai era médico de Filipe, rei da Macedônia. Mais 
tarde. Alexandre, filho de Felipe, foi discípulo de Aristóteles até o moento em que 
precisou assumir precocemente poder e continuar a expansão do império. 
 Freqüentou a Academia de Platão e a fidelidade ao mestre foi entremeada por 
críticas que mais tarde justificaria dizendo: "Sou amigo de Plarão, mas mais amigo 
da verdade". Sua extensa obra forma um dos grandes sistemas filosóficos cuja 
importância se encontra tanto na abrangência dos assuntos abordados como na 
interligação rigorosa enas partes constitutivas. Em 340 a.C. funda em Atenas o 
Liceu, assim chamado por ser vizinho do templo de Apolo Lício. 
 
A nova concepção do devir 
 
Aristóteles retoma a problemática do conhecimento e se preocupa em definir 
a ciência como conhecimento verdadeiro, conhecimento pelas causas, capaz de 
superar enganos da opinião e de compreender a natureza do devir. Mas ao analisar 
a oposição entre o mundo sensível e o inteligível segundo a tradição de Heráclito, 
Parmênides e Platão, Aristóteles recusa as soluções apresentadas e critica 
pormenorizadamente o mundo "separado" das idéias platônicas. 
 A teoria aristotélica se baseia em três distinções fundamentais, que passamos 
a descrever simplificadamente: suhstãncia-essência-acidenpe-potencia; forma-
matéria, que por sua vez desembocam na teoria das quatro causas. Aristóteles 
"traz as idéias do céu à terra": o mundo das idéias de Platão, fundindo o mundo 
sensível e o inteligível no conceito da substância, enquanto "aquilo que é em si 
mesmo, ou enquanto suporte dos atributos. Ora, quando dizemos algo de uma 
substância podemos nos referir a atributos que lhe convém de tal forma que, se 
lhe faltassem, a substância não seria o que é. Designamos esses atributos de 
essência propriamente dita, e chamamos de acidente o atributo que a substância 
pode ter ou não, sem deixar de ser o que é. intão, a substância individual "este 
homem" tem como características essenciais os atributos pelos quais este homem é 
homem (Aristóteles diria, a essência do homem é a racionalidade) e outros, 
acidentais (como ser gordo, velho ou belo), atributos esses que não mudam o ser 
do homem em si. 
 No entanto, o problema das transformações dos seres ainda não se resolve 
com os conceitos de essência e acidente, e por isso Aristóteles recorre às noções 
forma e matéria. Matéria é o princípio indeterminado de que o mundo físico é 
composto, é "aquilo de que é feito algo", o que não coincide exatamente com o que 
nós entendemos por matéria, na física, por se caracterizar pela indeterminação. 
Forma é "aquilo que faz com que uma coisa seja o que é". 
 Todo ser é constituído de matéria e forma, princípios indissociáveis. Enquanto 
a forma é o princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma 
espécie, pela qual todos são o que são, a matéria é pura passividade, contendo a 
forma em potência. Numa estátua, por exemplo, a matéria (que nesse caso é a 
matéria segunda, pois já tem alguma determinação) é o mármore; a forma é a 
idéia que o escultor realiza na estátua. 
 É através da noção de matéria e forma que se explica o devir. Todo ser tende 
a tornar atual a forma que tem em si como potência. Assim, a semente, quando 
enterrada, tende a se desenvolver e se transformar no carvalho que era em 
potência. 
 Percebe-se aí o recurso aos dois outros conceitos, de ato e potência, que 
explicam como dois seres diferentes podem entrar em relação, agindo um sobre o 
outro. O conceito de potência não deve ser confundido com força, mas sim com a 
ausência de perfeição em um ser capaz de vir a possuí-la, Pois uma potência é a 
capacidade de tornar-se alguma coisa e, para tal, é preciso que sofra a ação de 
outro ser já em ato. A semente que contém o carvalho em potência foi gerada por 
um carvalho em ato. 
 O movimento é, pois, a passagem da potência para o ato. O movimento é "o 
ato de um ser em potência enquanto tal", é a potência se atualizando. Tais 
considerações levam à distinção dos diversos tipos de movimento e às causas do 
movimento ou teoria das quatro causas: as mudanças derivam da causa material, 
da causa formal, da causa eficiente e da causa final. 
 Mesmo ainda considerando o postulado parmenídeo de que o ser é idêntico ao 
pensar, Aristóteles pôde superar Parmênides e Platão ao usar os conceitos acima 
expostos, pelos quais se compreende a imutabilidade e a mudança, o acidental e o 
essencial, o individual e o universal. Se conhecer é lidar com conceitos universais, é 
também aplicar esses conceitos a cada coisa individual. Com isso, nem é preciso 
justificar a imobilidade do ser, nem criar o mundo das essências imutáveis, 
 
 
Deus, Ato Puro 
 
 Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca na teologia. A 
descrição das relações entre as coisas leva ao reconhecimento da existência de um 
ser superior e necessário, ou seja, Deus. Isso porque, se as coisas são 
contingentes, já que não têm em si mesmas a razão de sua existência, é preciso 
concluir que são produzidas por causas a elas exteriores. Assim, todo ser 
contingente foi produzido por outro ser, que também é contingente e assim por 
diante. Para não ir ao infinito na seqüência de causas, é preciso admitir uma 
primeira causa, por sua vez incausada, um ser necessário (e não contingente). Esse 
Primeiro Motor (imóvel, por não ser movido por nenhum outro) é também um puro 
ato (sem nenhuma potência). Chamamos Deus ao Primeiro Motor Imóvel, Ato Puro, 
Ser Necessário, Causa Primeira de todo existente. 
 
 
 
A metafísica 
 
 Vimos como a filosofia grega, desde o momento em que se destaca do 
pensamento mítico, elabora conceitos para instrumentalizar a razão no esforço de 
compreensão do real. 
 Entre as diversas e importantes contribuições do pensamento grego, destaca-
se o caminho percorrido por Parmênides, Platão e Aristóteles na busca dos 
conceitos que explicassem o ser em geral e que hoje reconhecemos como sendo o 
assunto tratado pela parte da filosofia denominada metafísica. 
 Há uma curiosidade em torno da origem do nome metafísica. Embora sempre 
façamos referência à metafísica de Aristóteles, ele próprio usava a denominação 
filosofia primeira. O termo metafísica surgiu no século 1 a.C., quando Andronico deRodes, ao classificar as obras de Aristóteles, colocou a Filosofia primeira depois das 
obras de Física, Meta Física, ou seja, "depois da Física". 
 De qualquer forma, nada impediu que esse "depois", puramente espacial, 
fosse considerado "além", no sentido de tratar de assuntos que transcendem a 
física, que estão além dela porque ultrapassam as questões postas a partir do 
conhecimento do mundo sensível. Portanto, no sentido pelo qual o conhecemos 
hoje. o termo só começou a ser aplicado a partir do século V da nossa era. 
 A filosofia primeira não é primeira na ordem no conhecer, já que partimos do 
conhecimento sensível, mas a que busca as causas mais universais (e portanto as 
mais distantes dos sentidos) e que são as mais fundamentais na ordem real. Trata-
se da parte nuclear da filosofia, onde se estuda "o ser enquanto ser isto é, o ser 
independentemente de suas determinações particulares. É a metafísica que 
fornece a todas as outras ciências o fundamento comum, o objeto ao qual todas se 
referem e os princípios dos quais dependem. Ou seja, todas a ciências se 
referem continuamente ao ser e a diversos conceitos ligados diretamente a ele, tais 
como quantidade, oposição, diferença, gênero, espécie, todo, parte, perfeição, 
unidade, necessidade, possibilidade, realidade etc. Mas nenhuma ciência examina 
tais conceitos. E nesse sentido que consideramos que o objeto da metafísica 
consiste em examinar o ser e suas propriedades.

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