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TEORIA E CRÍTICA LITERÁRIA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Angela Maria Fernandes Pimenta 
 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta etapa, falaremos sobre os Estudos Culturais que desenvolveram-
se na Europa e nos Estados Unidos, nas décadas de 1960 e 1970. 
Os Estudos Culturais propõem que a teoria afaste-se da pura abstração e 
configure-se como uma prática política, além de que pretendem transpor os 
limites entre a arte e a sociedade, em uma perspectiva interdisciplinar. 
Os Estudos Culturais ampliam ainda o corpus dos pesquisadores de 
Literatura, englobando também as telenovelas, o cordel, as histórias em 
quadrinhos e as obras feministas. 
A fim de compreendermos o processo de desenvolvimento dos Estudos 
Culturais, exploraremos a chamada virada linguística, também chamada de giro 
linguístico, importante movimento filosófico do século XX cujo principal objetivo 
é estabelecer uma discussão sobre a relação entre filosofia e linguagem. A 
linguagem passa a ser vista como algo autônomo e que permitiria a 
compreensão da realidade. 
Falar na virada linguística nos levará a tratarmos sobre os estudos de 
Richard Rorty, a partir de cuja obra o termo ganhou maior notoriedade. 
Além da questão da “virada linguística”, discutiremos sobre a crítica pós-
colonial, ou seja, os estudos da diversidade de práticas culturais que se 
desenvolvem nas sociedades colonizadas pelos europeus. 
Exploraremos também sobre a crítica feminista, um amplo e heterogêneo 
campo de estudos na literatura. Sobre a questão da crítica feminista, 
abordaremos ainda os 3 grandes momentos do movimento feminista, ou seja, as 
grandes “ondas” do movimento. 
Após o advento dos Estudos Culturais, ocorre uma grande crítica ao 
processo de formação do cânone literário e um caminho no sentido da 
valorização das obras ditas “marginais”, ou seja, aquelas escritas por não-
brancos, não-europeus, pelas mulheres e pelos negros. 
A fim de melhor organizarmos seu estudo e suas consultas futuras ao 
material, ele estará dividido em cinco seções, a saber: 
1. Estudos culturais e estudos literários. 
2. Cânone e anti-cânone. 
3. Crítica feminista. 
4. A critica pós-colonial. 
 
 
3 
5. Balanço final: os estudos culturais hoje. 
Após as temáticas, você será convidado a refletir sobre questões 
abordadas e aplicá-las em situações atuais, na seção “Na prática”. 
Bom estudo. 
TEMA 1 – ESTUDOS CULTURAIS E ESTUDOS LITERÁRIOS 
Compreendermos o surgimento dos Estudos Culturais implica tratarmos 
da chamada virada linguística, movimento que pretende recaracterizar a 
estrutura e a natureza da linguagem, interpretando as práticas concretas de 
linguagem. 
Sobre essa nova configuração para o fenômeno da linguagem, White 
(1994) define: 
[...] a linguagem nunca é um conjunto de ‘formas’ vazias esperando 
para serem preenchidas com um “conteúdo” factual e conceitual ou 
para serem conectadas a referentes pré-existenciais no mundo, mas 
está ela própria no mundo como uma ‘coisa’ entre outras [...]. (White, 
1994, p. 27) 
O termo virada linguística é uma importante metáfora para compreender 
o fenômeno da linguagem. Com ele, recusa-se a inclinação científica da Filosofia 
e aponta que os problemas filosóficos são problemas de linguagem. A partir do 
século XX, a linguagem passa a ocupar um lugar central em diferentes 
disciplinas. 
A expressão é definida por Gracia (2004, p. 19) como a mudança que 
ocorreu na Filosofia e em outras ciências humanas, dando maior atenção ao 
papel da linguagem no projeto das disciplinas e nos fenômenos que elas 
estudam. 
O termo foi criado por Gustav Bergman, mas popularizou-se a partir da 
obra The Linguistic Turn, de Richard Rorty, em 1967. 
A linguagem passa a ser vista como uma espécie de interação capaz de 
construir o mundo e as realidades. Sendo assim, a linguagem não é algo 
transparente e sim, polissêmica, podendo inclusive ser uma fonte de equívocos 
e ilusões. 
A linguagem, portanto, é mais do que um”meio”: é um modo de relação 
com o outro, uma atividade mental que vai muito além de um mero instrumento 
de comunicação. 
 
 
4 
A grande mudança trazida pela “virada linguística” diz respeito à 
compreensão do fenômeno da literariedade, o qual não estaria mais nas relações 
entre o texto e a sociedade, mas na própria organização da linguagem. A forma, 
portanto, passa a ser uma entidade autônoma, pois como tudo é linguagem, não 
haveria nada além dela. A partir da “virada linguística”, a linguagem passa a ser 
encarada como uma questão central para a Filosofia, o que representa uma 
verdadeira revolução filosófica que traz em seu íntimo uma nova visão de mundo. 
TEMA 2 – CÂNONE E ANTI-CÂNONE 
A palavra “cânone” deriva do grego kanon e refere-se a um sistema de 
valores, regras ou modelos a partir dos quais uma obra é julgada ou avaliada, 
“uma norma pela qual todas as coisas são julgadas e avaliadas” (McDonald, 
1996, p. 13) 
Em suas primeiras utilizações, a palavra “cânone” referia-se à lista de 
livros sagrados que a igreja considerava como verdadeiros transmissores da 
palavra de Deus e que, portanto, deveriam ser lidos pelos fiéis a fim de que nele 
espelhassem seus comportamentos. 
Quando pensamos no cânone literário, podemos defini-lo como o conjunto 
de obras e autores considerados “grandes”, “geniais” ou “clássicos”. Tais obras 
e autores, por transmitirem valores humanos essenciais, seriam dignas de serem 
lidas, estudadas e transmitidas de geração em geração. 
Para Bloom (1994, p. 35), o cânone representaria “um exercício de 
memória, sem a qual o conhecimento não é possível”. Para o crítico, o cânone 
é a “verdadeira arte da memória, a autêntica fundação do pensamento cultural”. 
(Bloom, 1994, p. 35) 
O cânone também contribui para a definição de uma identidade nacional, 
uma vez que as obras consideradas canônicas tornam a identidade nacional algo 
quase palpável e homogêneo. 
É importante destacarmos que, qualquer que seja o significado com que 
o vocábulo é usado, ele sempre se refere a um discurso normativo e dominante 
em um determinado contexto, o que caracteriza um processo de exclusão. 
Portanto, não se pode pensar que o cânone seja construido meramente a partir 
de critérios estéticos. Seria uma grande ingenuidade, uma vez que a percepção 
do valor de uma obra é condicionada por diferentes fatores. 
 
 
5 
Para os Estudos Culturais, a noção de cânone deve ser relativizada a fim 
de que sejam valorizadas obras de segmentoa marginalizados da sociedade. 
Souza (2005) assim nos apresenta a relação entre os Estudos Culturais e o 
cânone: 
A agenda culturalista denuncia a arbitrariedade e o caráter contingente 
dos critérios que presidiram à constituição dos cânones, assinalando 
sua feição elitista e homogeneizante, e a partir daí reivindicar posições 
de relevo para a produção de segmentos tidos como marginalizados 
ou subalternos, como aqueles constituídos por mulheres e por 
representantes de etnias política e socialmente minoritárias. (Souza, 
2005, p. 65) 
Kermode (1993, p. 26) nos traz uma nova visão sobre o cânone literário. 
Tal visão é adotada como base para os Estudos Culturais. Para ele: “o cânone 
é feito de obras escritas por machos brancos, e deveria portanto ser odioso a 
todos que se preocupam com as privações até agora impostas às mulheres e às 
minorias étnicas”. 
Para Kermode e para os defensores dos Estudos Culturais, o cânone está 
em constante movimento e não é único, portanto não haveria um único cânone, 
mas “cânones” plurais, sendo “diálogo” e “movimento” as palavras-chave para 
entendê-lo. 
Os Estudos Culturais procuram dessacralizar a Literatura, ampliando as 
possibilidades de leitura do fenômeno literário, uma vez que, conforme afirma 
Coutinho (1996, p. 72), é urgente que sejam resgatadas as produções culturais 
que, por muito tempo, foram colocadas em segundo plano pela tradição. 
TEMA 3 – CRÍTICA FEMINISTAAcostumamo-nos a ler, em obras canônicas, uma história de submissão 
da mulher na sociedade. O modelo patriarcal manteve a inferioridade feminina 
em suas representações artísticas e isso, por muito tempo, não foi motivo de 
preocupação. 
Com o advento dos Estudos Culturais, a crítica feminista consolida-se nos 
anos 1980 como um movimento cultural que visa à igualdade de gênero. 
Segundo Lisboa e Santos (2015): 
Os Estudos Culturais a partir da vertente feminista introduzem novas 
variáveis referentes ao debate acerca da formação das identidades. 
Questionam-se os aspectos da cotidianidade dos sujeitos, até então, 
 
 
6 
aparentemente, ancoradas com bases sólidas e padronizadas. 
(Lisboa; Santos, 2015, p. 237) 
 
Considera-se que existam duas modalidades de desenvolvimento da 
crítica feminista: a primeira atuaria no sentido de resgatar as obras escritas por 
mulheres e que, ao longo de tempo, passaram a ser desvalorizadas; a segunda, 
teria como meta fazer releituras de obras literárias (femininas ou não) sob a 
perspectiva da mulher, a fim de elencar as diferentes vozes presentes no texto, 
a importância da voz feminina e os traços de patriarcalismo presentes na obra. 
O movimento feminista atuou no mundo em três grandes momentos ou 
“ondas” nos quais a militância se deu em termos literários, culturais e políticos. 
A primeira “onda” corresponde aos anos finais do século XIX e aos anos 
iniciais do século XX, quando eram expressivas as lutas pelos direitos humanos. 
Nessa época, destaca-se a produção literária e ensaística de Virgínia Woolf, 
destacando-se a obra “Um teto todo seu” (1929), na qual Woolf discute a 
necessidade de as escritoras mulheres conquistarem seu espaço em um mundo 
dominado por homens. 
Resumidamente, pode-se dizer que, neste primeiro momento o 
movimento se organizou contra as diferenças salariais entre homens e mulheres, 
a questão da propriedade e os direitos de escolha, como o voto. 
A segunda onda teve início com a publicação da obra “O segundo sexo”, 
de Simone de Beauvoir, em 1949. Nessa obra, a autora discute a condição da 
mulher sob diferentes pontos de vista: biológico, psicanalítico, histórico, a fim de 
demonstrar que o estatuto feminino é sempre uma conquista. Nessa obra, está 
a célebre frase: “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” (Beauvoir, 1980, p. 9). 
Para Beauvoir, a existência feminina é construída e determinada pela 
sociedade: “Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que 
a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que 
elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam 
de feminino. (Beauvoir, 1980, p. 99). 
A terceira onda feminista surgiu nos Estados Unidos nos anos 1990 e 
representa uma pauta mais ampla de reivindicações, englobando a teoria queer, 
o movimento negro, o pós-colonialismo, o transnacionalismo, dentre outros. Um 
aspecto que se pode destacar nessa terceira onda é que a sexualidade é vista 
como uma modalidade de poder. 
 
 
7 
Os estudos queer surgiram a partir do encontro entre os Estudos Culturais 
e o pós-estruturalismo francês, problematizando questões como sujeito, 
identidade e identificação. 
Os estudos de Jacques Derrida (2004) foram essenciais para o 
desenvolvimento da teoria queer. Segundo ele, nossa linguagem opera sempre 
por relações binárias, de modo que o hegemônico se impõe sobre o subordinado. 
Uma das principais pensadoras acerca das questões de gênero e da 
teoria queer é Judith Butler (1999), com suas discussões acerca das relações 
de poder entre homens e mulheres e entre homossexualidade e 
heterossexualidade. 
Para Butler, a heterossexualidade compulsória ou heteronormatividade é 
uma conceito construído culturalmente e é urgente rompermos com tais 
paradigmas a fim de caminharmos para uma aceitação de diferentes identidades 
de gênero e sexuais. 
TEMA 4 – A CRÍTICA PÓS-COLONIAL 
Os estudos pós-coloniais ganham força nos anos de 1990 e 2000 e trazem 
outras palavras para a cena dos discursos acadêmicos: transculturalismo, 
multiculturalismo , hibridismo e diáspora. Tais vocábulos pretendem substituir o 
discurso anterior que falava sobre colonialismo, dominação, imperialismo e 
dependência. Essa mudança de vocabulário reflete a nova posição do sujeito: 
descentrado e com uma identidade em constante transformação. 
Segundo Hall (2003): 
O termo não se restringe a descrever uma determinada sociedade ou 
época. Ele relê a colonização como parte de um processo global 
essencialmente transnacional e transcultural e produz uma reescrita 
descentrada, diaspórica ou global das grandes narrativas imperiais do 
passado, centradas na nação. (Hall, 2003, p. 109) 
A crítica pós-colonial contesta as narrativas hegemônicas e legitimadoras 
da modernidade, relendo os discursos históricos e culturais. Influenciados pela 
leitura de Derrida, os teóricos pós-colonialistas distinguem o período colonial dos 
período pós-colonial. 
Enquanto o período colonial era marcado pelas diferenças e binarismo, o 
pós-colonialismo seria marcado pelas distintas temporalidades e pela questão 
da diferença. 
 
 
8 
A crítica pós-colonial dá voz e vez para os países, comunidades e 
minorias periféricas, dialogando assim com uma abordagem mais ampla dos 
Estudos Culturais e permitindo uma reflexão mais significativa sobre a situação 
global contemporânea. Sob essa perspectiva, o ponto de partida dos estudos 
pós-coloniais é a representação dos sujeitos em países periféricos e excluídos 
dos grupos hegemônicos. 
A crítica pós-colonial permite que sejam problematizadas questões 
relacionadas às identidades, fronteiras, alteridades, relações de poder entre 
colonizadores e colonizados. Isso porque, mesmo que o colonialismo formal não 
seja mais uma realidade na maior parte do mundo, ainda podem ser percebidos 
grandes diferenças de poder econômico e ideológico, afetando a forma como as 
sociedades e os indivíduos constroem suas relações. 
Grande parte dos estudos pós-coloniais voltam-se para o campo literário, 
para a análise de narrativas que constroem uma visão subalterna do outro na 
perspectiva pós-colonial e também para a análise de obras de autores 
pertencentes aos grupos colonizados, como um grito de resistência. 
Preciado (2007) estabelece uma relação entre os estudos pós-coloniais e 
outras abordagens dos Estudos Culturais, ao afirmar que : 
A crítica pós-colonial e queer responde, em certo sentido, à 
impossibilidade do sujeito subalterno articular sua própria posição 
dentro da análise da história do marxismo clássico. O lócus da 
construção da subjetividade política parece ter se deslocado das 
categorias tradicionais de classe, trabalho e da divisão sexual do 
trabalho para outras constelações transversais como podem ser o 
corpo, a sexualidade, a raça, mas também a nacionalidade, a língua, o 
estilo ou, inclusive, a linguagem. (Preciado, 2007, p. 343) 
Por muitos anos, essa ponte entre teóricos queer e pós-coloniais, 
apontada por preciado (2007) pareceu impossível, mas há tentativas recentes 
de conectá-los a partir da percepção de que a diferença além de plural é 
conceituável de diversas formas, as quais se relacionam, por sua vez, a fontes 
teórico-metodológicas particulares. 
TEMA 5 – BALANÇO FINAL: OS ESTUDOS CULTURAIS HOJE 
A existência de múltiplas culturas determina uma alteração radical no 
campo dos estudos literários. Surgem, assim, os Estudos Culturais, para os 
 
 
9 
quais o objeto deve ser estudado juntamente com a sua interface social, a fim de 
compreender como as identidades culturais são construídas e organizadas. 
Os Estudos Culturais permitem que um objeto artístico seja analisado por 
diferentes perspectivas multidisciplinares e possibilitam que se investiguem as 
manifestações literárias ditas “marginais”, tais como as obras de autoria 
feminina, as das chamadas minorias étnicas ou sexuaise as obras de caráter 
popular. 
O sociólogo Renato Ortiz (2004, p. 23) afirma que os “Estudos Culturais 
caracterizam-se por sua dimensão multidisciplinar, a quebra das fronteiras 
tradicionalmente estabelecidas nos departamentos e nas universidades”. 
A ampliação da noção de obra de arte promovida pelos Estudos Culturais 
garante uma maior visibilidade para as manifestações populares e não 
canônicas, que passam a ser objetos de pesquisas e de atuação da crítica 
literária. 
Os Estudos Culturais criam e expõem diferentes individualidades e 
identidades, uma vez que que nem o sujeito e nem a comunidade são instâncias 
neutras. 
Dos Estudos Culturais surge o conceito de “multiculturalismo” que 
significa reconhecer que nenhuma cultura é um todo único, mas um conjunto 
autônomo de manifestações culturais. 
Enquanto os estudos literários clássicos excluem as manifestações 
diversas do cânone, os Estudos Culturais incluem e permitem que sejam 
construídas relações entre textos de naturezas distintas, canônicos ou não, pois 
todos são produtores de significação, pois “o valor de um objeto cultural depende 
também do sentido que se lhe dá a partir de uma nova leitura, sobretudo se esta 
desconstrói leituras alicerçadas no solo do preconceito” (Santiago, 2004, p. 133). 
É fundamental para os Estudos Culturais a obra de Stuart Hall, um dos 
mais conhecidos analistas contemporâneos de cultura. 
Para Hall, os textos culturais são locais onde o significado é negociado e 
fixado, sendo que as lutas pelo poder são cada vez mais simbólicas e mediadas 
pela linguagem. Na perspectiva de Hall (1997), a cultura é um dos elementos 
mais dinâmicos e imprevisíveis da mudança histórica. A cultura é vista por Hall 
como um conjunto de significados partilhados. 
Stuart Hall (2006) explora a questão da identidade cultural. Para ele, o 
sujeito na pós-modernidade não possui mais uma identidade fixa ou permanente, 
 
 
10 
mas uma identidade moldada e transformada continuamente, sendo definida do 
ponto de vista histórico e não biológico: 
[...]o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, 
identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. 
Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes 
direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo 
continuamente deslocadas [...]. A identidade plenamente unificada, 
completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida 
que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, 
somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e 
cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais 
poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente. (Hall, 2006, 
p. 13) 
A questão da identidade é urgente também na obra de Zygmunt Bauman. 
Segundo o sociólogo, a identidade não é um conceito definitivo, mas é mutável 
na sociedade líquida que Bauman nos apresenta. Para Bauman (2005), mesmo 
as identidades aparentemente sólidas (raça, classe social) são questionáveis e 
passíveis de serem revistas. Para Bauman, as identidades fixas são, aos poucos, 
substituídas por identidades em movimento, de modo que estamos 
constantemente “lutando para nos juntarmos aos grupos igualmente móveis e 
velozes que procuramos, construímos e tentamos manter vivos por um momento, 
mas não por muito tempo” (Bauman, 2005, p. 32). 
Diferentes tradições dos Estudos Culturais se desenvolveram a fim de 
compreender a construção política, social e cultural que caracterizam cada 
sociedade, tais como: a industrialização, a comunicação de massa, o pós-
colonialismo, a globalização, os nacionalismo e as hostilidades raciais e 
religiosas. 
Na América Latina, os Estudos Culturais, com autores como Nestor 
Garcia Canclini, tratam a cultura latino-americana como um fenômeno em 
constante transformação. Destaca-se, em Canclini, ainda, a ideia de que todas 
as culturas possuem uma organização própria e, portanto, devem ser 
respeitadas. 
Hall (2010) esclarece que os Estudos Culturais não devem ser entendidos 
com uma disciplina separada, mas sim como uma área do conhecimento que 
agrega diversas disciplinas que tem por finalidade estudar os aspectos culturais 
da sociedade. 
 
 
 
11 
NA PRÁTICA 
Agora, convidamos você a realizar uma atividade na qual você deverá 
pensar um pouco sobre a questão da identidade cultural do nosso país e do 
nosso povo. Vamos lá? 
A. Aponte 3 adjetivos que caracterizem o que é “ser brasileiro” para você: 
B. O que nos faz ser reconhecidos como brasileiros, especialmente quando 
somos vistos pelo olhar de fora, pelo olhar estrangeiro? 
C. Agora, pense na região geográfica onde você mora. Que adjetivos 
caracterizariam sua região ou seu estado? 
D. Ampliemos a discussão: esses valores que você apontou nas duas 
questões anteriores, estão em você? Fazem parte de sua identidade? 
Procure lembrar de seu período como estudante na Educação Básica: 
A. Quais os produtos culturais sobre os quais as aulas eram construídas 
(filmes, livros, obras de arte)? 
B. Em que medida eles constroem uma narrativa sobre quem você é e a 
cultura na qual está inserido? 
Pensar nessas questões implica reconhecermos que o Brasil é um país 
rico em pluralidade cultural e a mesma colabora para a construção da identidade 
existente em cada um de nós. 
Saber lidar com essa diversidade é imprescindível na construção do 
respeito, da aceitação social e da dignidade humana, pois consideramos que 
nenhuma cultura é superior ou inferior às demais e sim “diferente”. 
FINALIZANDO 
Os Estudos Culturais investigam a produção, a circulação e o consumo 
de artes das mais diversas áreas, em seus respectivos contextos. Ao verem a 
realidade como uma construção social e heterogênea, ampliam a visão de 
“cultura”, não mais diferenciando as culturas elitistas e eruditas das culturas ditas 
“menores” ou populares. 
A questão do termo cultura é ampliada dentro da perspectiva dos estudos 
culturais. Com a extensão do significado de cultura de textos e representações 
para práticas vividas, considera-se em foco toda produção de sentido. O ponto 
de partida é a atenção sobre as estruturas sociais (poder) e o contexto histórico 
 
 
12 
como fatores essenciais para a compreensão da ação dos meios massivos, 
assim como, o desprendimento do sentido de cultura da sua tradição elitista para 
as práticas cotidianas (Ecosteguy, 1998, p. 90). 
Os Estudos Culturais indicam que comportamentos sociais são moldados 
por variáveis como gênero, classe social e raça. Sua análise não prioriza as 
instituições, mas os comportamentos subjetivos, ou seja, a cultura 
como uma prática de produzir significado e sentido. 
Essa abertura crítica proposta pelos Estudos Culturais possibilita um 
diálogo transcultural que se sustenta pelo reconhecimento das diferenças e das 
pluralidades da sociedade. 
Para Hall (2010), os Estudos Culturais constituíram um projeto político de 
oposição e suas discussões e estudos partindo sempre de alguma inquietude 
diante de aspectos culturais da sociedade, promovendo bastante discussão e 
instabilidade. 
As principais tendências dos Estudos Culturais são o estudo das culturas 
populares e a relativização do cânone, as questões de gênero e etnias, a crítica 
feminista e a literatura pós-colonial. 
No que se refere, especialmente à crítica feminista, vale lembrarmos que 
ela não se configura como um corpo homogêneo de conceitos, mas sim como 
um amplo conjunto de temáticas e ideologias, sempre destacando-se a 
impossibilidade de se pensar no texto literário como algo desvinculado de seu 
contexto de produção e de leitura. Para a critica feminista, a perspectiva de 
análise é interdisciplinar e todo texto deve ser lido vinculado à sociedade e à 
historicidade. 
Os Estudos Culturais têm proposto uma crítica à questão da 
representatividade do cânone, como fator de exclusão, uma vez que qualquerque seja a obra canônica em questão, ela deriva de um padrão eurocêntrico 
(homens brancos e mortos). Esse padrão, ao ser valorizado e endossado, 
discrimina todas as demais produções artísticas. 
 A rediscussão e o questionamento do “cânone” e das verdades absolutas 
exige que sejam consideradas as relações de poder, sem classificações binárias 
e reducionistas do que seria “alta” ou “baixa” literatura. 
Redimensionar o cânone, no entanto, não é tarefa simples: enquanto 
determinadas obras e autores possuem aceitação quase unânime entre os 
leitores, outras podem dividir opiniões e mesmo estando no rol das obras 
 
 
13 
canônicas, podem ter seu pertencimento questionado. Afinal, vivemos uma 
época de permanente desintegração e mudança. 
Os Estudos Culturais não mais aceitam que se fale em discursos e 
verdades universais, bem como em sujeitos únicos, pois o mundo em que 
vivemos, repleto de discursos e práticas culturais plurais, tende a formar sujeitos 
cada vez mais plurais. 
 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 
BLOOM, H. O Cânone Ocidental: Os livros e a Escola do Tempo. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 1994 
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. 4 ed. Trad. Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira, 1980. 
BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do "sexo". In: 
LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado. Pedagogias da Sexualidade. Belo 
Horizonte: Autêntica, 1999 
COUTINHO, E. Literatura comparada, literaturas nacionais e o questionamento 
do cânone. Revista Brasileira de Literatura Comparada. Rio de Janeiro: 
Abralic. n.3, 1996. 
DERRIDA, J. Gramatologia. São Paulo, Perspectiva, 2004 
ESCOSTEGUY, A. C. D. Uma introdução aos Estudos Culturais. Revista 
FAMECOS, Porto Alegre, n. 9, dez. 1998, p. 87-97. 
GRACIA, T, I. O giro linguístico. In: INIGUEL, l. Manual de Análise do Discurso 
em Ciências Sociais. Tradução Vera Lucia Joscelyne. Rio de Janeiro: Vozes, 
2004 
HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso 
tempo. In: Educação & Realidade. jul/dez. 1997. p. 15-46. 
_____. Da diáspora - identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora 
UFMG, 2003 
_____. Estudios culturales y sus legados teóricos. Sin garantías: 
Trayectorias y problemáticas en estudios culturales. Eduardo Restrepo, 
Catherine Walsh e Víctor Vich (editores), 1 ed., Lima - Peru, Instituto de Estudios 
Peruanos, 2010. 
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