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LIVRO HISTÓRIA CULTURAL

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HISTÓRIA CULTURAL
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
 Autores: Marcelo Gonzalez Brasil Fagundes
 Daniela Fernanda Sbravati
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
 
Revisão de Conteúdo: Prof. Evandro André de Souza 
Revisão Gramatical: Profa. Marli Helena Faust 
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
 306.09
 F156h Fagundes, Marcelo Gonzalez Brasil.
 História Cultural / Marcelo Gonzalez Brasil Fagundes 
 [e] Daniela Fernanda Sbravati.Centro Universitário 
 Leonardo. da Vinci – Indaial:Grupo UNIASSELVI, 
 2009.x ; 91 p.: il.
 
 Inclui bibliografia. 
 ISBN 978-85-7830-222-1
 1. História 2. História Social e Cultural 3. Cultura 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
Copyright © UNIASSELVI 2009
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Marcelo Gonzalez Brasil Fagundes
Graduado em História pela UDESC 
(Universidade do Estado de Santa Catarina) e 
graduado em Ciências Sociais e mestre em História 
Cultural pela UFSC (Universidade Federal de Santa 
Catarina), cursando atualmente especialização em 
História do Mundo Hispânico pela Universitat Jaume I 
da Espanha. Possuí experiência na área de História do 
Brasil Colonial e História da América Latina. Entre as 
principais publicações está um capítulo no livro dedicado 
à História de Santa Catarina, intitulado “Pelas veredas 
do paraíso: Hans Staden e a expedição Sanabria”, 
além de comunicações sobre a vida e a obra do 
escritor cubano Alejo Carpentier.
Daniela Fernanda Sbravati
Graduada em História pela UDESC 
(Universidade do Estado de Santa Catarina) e 
mestre em História Cultural pela UFSC (Universidade 
Federal de Santa Catarina). Atualmente é professora 
de História do Ensino Fundamental do Colégio de 
Aplicação, da UFSC (Universidade Federal de Santa 
Catarina). Tem experiência na área de História do Brasil 
Colonial e Imperial. Entre as principais produções, consta 
o livro Dialogando com a História, destinado ao sexto ano 
do Ensino Fundamental (SBRAVATI, D. F., DANTAS, J. 
Dialogando com a História. Florianópolis: Sophos, 
2009, v.1)
Sumário
APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7
CAPÍTULO 1
Origens da História Cultural ............................................... 9
CAPÍTULO 2
Estudos Culturais e a Escrita da História ...................... 33
CAPÍTULO 3
A Nova História Cultural ..................................................... 57
CAPÍTULO 4
História Cultural no Brasil ................................................ 79
APRESENTAÇÃO
Prezado pós-graduando, é com muita satisfação que apresentamos a você 
este caderno de estudos. É um material constituído a partir da tentativa de definir 
o que é História Cultural e seus principais autores e temas.
Compreendemos ser a História Cultural uma área do conhecimento que 
cada vez mais ganha espaço no Brasil e no mundo. Por essa razão, para tratar 
da temática, fizemos uma viagem no tempo e no espaço, contextualizando seu 
surgimento, seu desenvolvimento, processo de transformação até chegar a suas 
produções e discussões atuais.
No primeiro capítulo apresentamos uma linha de desenvolvimento dos 
debates que definiram, em termos gerais, os campos de atuação da história 
cultural, tratando a historicidade dos conceitos de “cultura”, “tradição” e “popular”. 
O segundo capítulo inicia com uma discussão acerca da Antropologia 
cultural, seus principais autores e fases, considerando sua contribuição para os 
estudos culturais na área da História. A antropologia contribuiu inclusive para a 
constituição do que conhecemos como Annales, assunto abordado posteriormente 
nesse mesmo capítulo. Seguimos com uma discussão sobre micro-história, uma 
metodologia adotada pela história cultural que dá ênfase ao micro, ou seja, a 
história das pessoas comuns. Finalizamos o capítulo com uma discussão sobre 
os estudos pós-coloniais na perspectiva cultural, objetivando uma reflexão acerca 
da história das populações colonizadas.
No terceiro capítulo observamos a grande renovação da História Cultural ocorrida 
no final da década de 1980, quando houve questionamento dos pressupostos teóricos 
predominantes na historiografia da cultura. Essa renovação resultou na reflexão 
acerca de alguns conceitos presentes em nossa sociedade, com conotação 
política e social. Trata-se das discussões acerca da identidade, etnicidade e 
diversidade étnica. Finalizamos esse capítulo fazendo um breve apontamento 
sobre o papel da escola, da educação nas questões da diversidade cultural.
No quarto e último capítulo apresentamos os caminhos da História Cultural 
no Brasil em suas dimensões históricas e contemporâneas. Analisamos alguns 
autores e temas de modo especial, por compreendermos serem fundamentais 
para a forma como olhamos e pensamos a sociedade brasileira.
Esperamos que você embarque nessa viagem e que, ao final dela, traga em 
sua bagagem conhecimento teórico e prático que possa ser aplicado em seus 
estudos presentes e futuros. Bons estudos para você!
Os autores.
CAPÍTULO 1
Origens da História Cultural
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Identificar os debates que forjaram o desenvolvimento da história cultural. 
 3 Definir o significado dos conceitos de cultura popular, tradição e cultura e sua 
relação com o processo de construção do conhecimento histórico. 
 3 Analisar a aplicação dos termos de “cultura popular” e “tradição” em reflexões 
sobre o seu cotidiano. 
 3 Debater o significado da “cultura” no saber historiográfico e sua aplicação 
no ambiente escolar, com o intuito de valorizar os saberes dos alunos. 
10
 História Cultural
11
Origens da História Cultural Capítulo 1 
Contextualização
A história cultural é entendida muitas vezes como uma ramificação do estudo 
da História. No entanto, ela engloba uma grande variedade de temas e métodos, 
não existindo um consenso entre os historiadores sobre os seus limites e suas 
fronteiras. Como afirma o historiador britânico Peter Burke, definir 
a história cultural é “como tentar prender uma nuvem em uma rede 
de caçar borboletas” (BURKE, 2000, p. 233.). A história cultural não 
deve ser vista como mais uma entre as diversas disciplinas históricas 
especializadas. O cultural constitui um campo multidisciplinar capaz de 
articular temas e questões mais ou menos dispersos pelas disciplinas 
especializadas. Há os que definem a história cultural como algo que 
pode estar relacionado entre o econômico, o mental e o social. Dessa 
forma, a história cultural não deve ser vista como uma denominação 
ou campo da história, mas percebida como constituinte de diversas 
dimensões do saber historiográfico.
Apresentaremos neste capítulo uma linha de desenvolvimento dos debates 
que definiram, em termos gerais, os campos de atuação da história cultural. 
Apesar das dificuldades, podemos enfrentar o problema de caracterizar o 
estudo da cultura na História e ampliar nossas ferramentas pedagógicas para a 
transmissão de um conhecimento histórico que seja amplo e plural. 
Nosso primeiro passo nesse caminho será o de definir os conceitos básicos 
que envolvem o estudo da cultura na História. Os problemas encontradospelos 
historiadores para delimitar a história cultural estão, principalmente, na amplitude 
do atual conceito de “cultura” adotado pela historiografia. Contudo, para traçar 
linhas gerais dos estudos que englobam a história cultural se torna necessário 
observar a historicidade dos conceitos adotados por ela, como “cultura”, “tradição” 
e “popular”. 
 
A Historicidade do Conceito de 
Cultura
A grande dificuldade de definir a história cultural deriva das diversas 
denominações dadas ao termo “cultura”. Muitas vezes não conseguimos 
ter precisão no significado dessa palavra aparentemente tão simples. 
Habitualmente no senso comum a palavra cultura está associada à ideia de 
educação formal ou conhecimento, a atividade intelectual de um indivíduo. 
“Aquela pessoa tem cultura”, ou seja, aquela pessoa teve uma boa formação 
educacional.
A história cultural 
não deve ser 
vista como uma 
denominação ou 
campo da história, 
mas percebida 
como constituinte 
de diversas 
dimensões 
do saber 
historiográfico.
12
 História Cultural
Segundo Alfredo Bosi, a palavra “Cultura” deriva do verbo 
latino colo, que significa ocupar a terra, cultivar o campo. O 
vocábulo cultus, de onde vem cultura, está associado ao campo 
já ocupado e plantado por gerações de lavradores. (BOSI, 1992, 
p. 11 – 16.) A partir do século XVIII, com a revolução iluminista, 
começou a se configurar a ideia moderna de cultura, e esta passa 
a designar o “estado do espírito cultivado pela instrução, estado 
do indivíduo que tem cultura”. Dessa forma, “cultura” se opunha a 
“natureza” e se aproximava da ideia de “progresso” e “civilização”. 
Somente com o desenvolvimento das ciências sociais no século 
XIX e XX é que “cultura” começa a ser empregada como o conjunto 
de práticas e símbolos de determinada sociedade. (CUCHE, 2002, 
p. 18 – 19).
Como vimos na definição de Alfredo Bosi, originalmente cultura estava 
relacionada à ação de cultivar o campo, ou seja, da atividade agrícola. Se 
prestarmos atenção à historicidade do significado de cultura, podemos 
perceber que essas mudanças são frutos das crenças correntes em 
determinado tempo histórico. As palavras têm história. Dessa forma, 
ao estudar o desenvolvimento da história cultural, notamos que 
a noção de cultura responde a certos problemas e reflexões de 
determinada sociedade em determinado tempo histórico. Assim, 
para entender as origens da história cultural é necessário observar 
o contexto em que se forma e o significado assumido pela palavra 
“cultura”. 
Atualmente existem ideias diferentes sobre o que constitui a “cultura”. A 
ampliação do interesse dado pelos historiadores a essa temática diversificou as 
noções e suas aplicações no entendimento das práticas sociais. 
No século XIX, período de “surgimento” da história cultural, o termo referia-
se a arte, literatura ou manifestações da ciência e da filosofia. Hoje, no entanto, 
influenciados pelos estudos antropológicos, os historiadores utilizam o termo de 
forma mais ampla, associando-o a qualquer manifestação social. 
Poderíamos perceber também a utilização de duas visões gerais sobre 
cultura que distinguem os princípios da história cultural dos novos debates 
historiográficos. Nas origens da história cultural o conceito de “cultura” 
carregava um forte teor etnocentrista que relacionava a cultura à ideia de 
Para entender 
as origens da 
história cultural 
é necessário 
observar o 
contexto em 
que se forma 
e o significado 
assumido pela 
palavra “cultura”. 
13
Origens da História Cultural Capítulo 1 
civilização. Nessa visão, a cultura apresentava-se como algo unitário, ou seja, 
a civilização referia-se ao modelo europeu Ocidental. De outra forma, com a 
aproximação da história aos estudos antropológicos, houve o desenvolvimento 
de uma noção mais ampla do conceito. As “culturas” eram pensadas agora no 
plural.
A noção difundida nos círculos intelectuais europeus em fins do século XVIII 
e primeira metade do século XIX estiveram intimamente ligadas à concepção 
adotada pelos primeiros historiadores culturais. Durante o movimento iluminista 
francês, no século XVIII, a palavra “cultura” ganha um sentido figurado. Ela vinha 
normalmente acompanhada de adjetivos como “cultura das letras”, do “espírito”, 
das “artes” e das “ciências”. 
A partir desse momento o significado se afasta da ideia de “ação de cultivar 
o intelecto” e se aproxima da noção moderna de “estado do intelecto cultivado”, 
ou seja, do “indivíduo que tem cultura”. A disseminação dessa concepção através 
da Europa Ocidental se insere no contexto do surgimento da ideia de progresso, 
evolução, educação e razão. Cultura, escrita no singular, reflete a ideologia do 
iluminismo.
Na França a palavra se aproximou da ideia de civilização, entendida 
como o refinamento dos costumes que retira a humanidade da ignorância 
e da irracionalidade. No entanto, a civilização não se estende a todos os 
povos da humanidade. Existem sociedades mais avançadas, que podem ser 
consideradas “civilizadas”, e outros povos, “selvagens”, em estágios inferiores de 
desenvolvimento cultural. 
Ainda no século XVIII, nos territórios que virão a configurar o Estado alemão, 
a palavra Kultur assumiu uma denominação bastante similar à adotada na 
França. No entanto, na Alemanha, no decorrer dos séculos XVIII e XIX, a “cultura 
– civilização” perdeu sua conotação aristocrática e se converteu em símbolo de 
distinção das diferenças nacionais. A “cultura” se aproxima da noção de “nação”. 
Segundo Cuche:
O conceito francês continua marcado pela ideia de unidade do 
gênero humano. Entre os séculos XVIII e XIX na França, há 
uma continuidade do pensamento universalista. A cultura, no 
sentido coletivo, é antes de tudo a “cultura da humanidade”. 
Apesar da influência alemã, a ideia de unidade suplanta a 
consciência da diversidade: além das diferenças que se pode 
observar entre a “cultura alemã” e a “cultura francesa”, há a 
unidade da “cultura humana”. [...] No século XX, a rivalidade 
dos nacionalismos francês e alemão e seu enfrentamento 
brutal na guerra de 1914 – 1918 vão exacerbar o debate 
ideológico entre as duas concepções de cultura. As palavras 
tornam-se slogans utilizados como armas. [...] O debate 
14
 História Cultural
franco-alemão do século XVIII ao século XIX é arquetípico 
das duas concepções de cultura, uma particularista, a outra 
universalista, que estão na base das duas maneiras de definir 
o conceito de cultura nas ciências sociais contemporâneas 
(CUCHE, 2002, p. 30).
Através do debate franco-alemão em torno do conceito de cultura podemos 
observar que a definição e a utilização de determinada noção possui uma 
forte conexão com a conjuntura histórica. É importante destacar essa relação 
para compreendermos as concepções adotadas pela historiografia durante o 
desenvolvimento da história cultural.
Destacamos que durante um primeiro momento de surgimento da 
problemática cultural no estudo da história, o conceito de cultura traz uma forte 
carga ideológica que distingue as civilizações de cultura avançadas, das culturas 
primitivas em estágios inferiores de cultura. 
A ciência que estuda a cultura, a antropologia, desenvolveu no século XIX 
teorias para embasar o estudo das sociedades humanas. As primeiras correntes 
antropológicas, qualificadas de evolucionistas, observavam que o homem possuía 
uma unidade bio-psicológica, que o faz responder igualmente aos mesmos 
desafios. A diferença é explicada através de um eixo temporal, ou seja, através 
de estágios de evolução da cultura. A cultura é uma só, a do homem civilizado 
do século XIX. O restante eram estágios inferiores de civilização. Para os 
evolucionistas, assim como para os primeiros historiadores culturais, a “cultura” 
está associada ao progresso e ao desenvolvimento tecnológico. Devemos 
observar que essas ideias se vinculam ao momento do expansionismo e 
colonialismo europeu na África e Ásia do século XIX.
 
Inserido nesse contextoestá o etnólogo inglês Edward Tylor, que, em 1871, 
disse sobre a cultura: “tomado em seu amplo sentido etnográfico, é este todo 
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou 
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de 
uma sociedade” (TYLOR, 1975, p. 29). Na definição de Tylor, cultura assumia uma 
dimensão ampla de todas as possibilidades de realizações humanas, fossem elas 
materiais ou mentais.
O texto completo de Edward Tylor (1832 – 1917), em espanhol, 
pode ser baixando na página virtual da Universidade de Guadalajara 
do México – TYLOR, Edward. B. La ciencia de la cultura. In: Kahn, 
J. S. (Comp.), El concepto de cultura. Barcelona: Anagrama, 1975. 
(p. 29-46). Disponível em: <http://mail.udgvirtual.udg.mx/biblioteca/
handle/20050101/890?mode=simple>. Acesso em: 30 abr. 2009. 
15
Origens da História Cultural Capítulo 1 
Em fins do século XIX, uma das primeiras críticas aos métodos evolucionistas 
de análise da cultura veio do alemão Franz Boas (1858 – 1942). Para Boas, o 
método comparativo adotado por Tylor pecava na tentativa de estabelecer leis 
de evolução histórica da cultura. Segundo ele, “o objetivo de nossa investigação 
é descobrir processos pelos quais certos estágios culturais se desenvolveram. 
Os costumes e as crenças, em si mesmos, não constituem a finalidade última da 
pesquisa. Queremos saber as razões pelas quais tais costumes e crenças existem 
– em outras palavras, desejamos descobrir a história de seu desenvolvimento” 
(BOAS, 2004, p. 33).
No entanto, a aproximação entre a antropologia e a história só ocorreu, 
mais intimamente, a partir da década de 1960, com a influência mais direta de 
antropólogos como Bronislaw Malinowiski, Marcel Mauss, Claude Levi-Strauss e 
Cliffort Geerts, para referir-nos somente aos mais destacados. A “nova história 
cultural” surgida dessa aproximação revisitou os historiadores culturais “clássicos” 
para abandonar as concepções reducionistas de “cultura”.
Embora busquemos algumas definições a respeito do conceito de cultura, 
não é nosso objetivo engessá-la num significado fechado, colocando-a a como 
uma categoria de análise histórica imutável. Considerando que para a história os 
conceitos são elásticos e podem se transformar de acordo com a conjuntura 
da qual fazem parte, não nos interessa tanto definir com exatidão o conceito de 
cultura, mas sim compreender as diferentes formas pelas quais foi apropriado 
e as implicações sociais em decorrência disso. Ou ainda compreender de 
que maneira os contextos sociais possibilitaram a mudança da concepção de 
cultura em nossa sociedade. Afinal, o conceito ou a categoria de análise estão 
diretamente relacionados às demandas de um tempo histórico, você não acha?
Para saber mais sobre as categorias de análise da história, ver: 
THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da Teoria ou um planetário 
de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
16
 História Cultural
Atividade de Estudos: 
Caro pós-graduando,
Algumas das atividades propostas ao longo dos capítulos 
deste caderno deverão ser realizadas por você, com a possibilidade 
de serem aplicadas, em sala de aula, aos seus alunos. Ao fazer a 
atividade o professor poderá analisar as dificuldades práticas de sua 
aplicabilidade e, se necessário, implementar alterações ou reconstruí-
la, tendo como base o objetivo de proporcionar uma compreensão 
menos teórica do tema discutido.
Nessa direção, propomos:
1) ____________________________________________________
Elabore um texto discutindo o conceito de cultura a partir do 
tema: “O (des)encontro entre indígenas e europeus no Brasil no 
século XVI”. Escreva a partir de dois enfoques diferentes, um 
deles aproximando o conceito de cultura da ideia de civilidade, o 
outro, da perspectiva da cultura constituída a partir de diferentes 
manifestações sociais.
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
A História Cultural “Clássica”
É importante notar que o desenvolvimento da história cultural foi influenciado 
em grande medida pelos debates que ocorriam em outras ciências, como a 
antropologia e a sociologia. O termo “cultura” começou a ser empregado no estudo 
da história a partir do século XIX. Nesse momento, o termo carregava ainda uma 
noção pejorativa de povos em estágios “inferiores” de desenvolvimento.
No século XIX, a historiografia entendia cultura como as expressões 
17
Origens da História Cultural Capítulo 1 
da arte, da literatura e das ideias filosóficas. Assim, os primeiros 
historiadores culturais viam nas culturas grega e romana a evolução 
de uma expressão artística e filosófica “superiores” a outros povos da 
antiguidade.
Na história da história cultural, Burke aponta que o período 
entre 1800 e 1950 é uma fase que pode ser chamada de “clássica”. 
Nesse contexto, dois autores se destacam: o historiador suíço Jacob 
Burckhardt, que escreveu A cultura do Renascimento na Itália (1860); e 
o historiador holandês Johan Huizinga, com O declínio da Idade Média 
(1919). Para esses autores, a preocupação central da história cultural 
residia em estabelecer um retrato de uma época através do estudo de 
diferentes manifestações artísticas.
Burckhardt elaborou uma história da cultura em que a obra de 
arte ocupava lugar essencial no seio dos diferentes componentes da 
civilização. Para ele, a civilização é considerada como um todo que se 
encontra dividido em elementos ou, como denomina ele, “potências”. 
Em sua principal obra, A cultura do Renascimento na Itália (1860), Burckhardt 
“descreveu o que chamou de individualismo, competitividade, autoconsciência e 
modernidade na arte, na filosofia e até na política da Itália renascentista” (BURKE, 
2008, p. 18.). 
Para saber mais sobre as contribuições de Jacob Burckhardt 
para a história da cultura, leia: 
FERNADES, Cássio da Silva. Jacob Burckhardt e a preparação 
para a cultura do Renascimento na Itália. In: Fênix - Revista de 
História e Estudos Culturais. Uberlândia, Vol. 3, Ano III, no. 
3, Jul/ago/set – 2006. Disponível em: <www.revistafenix.pro.br/
PDF8/ARTIGO2-Cassioda.Silva.Fernandes.pdf>. Acesso em: 20 
mai. 2009. 
FERNADES, Cássio da Silva. As contribuições de Jacob Burckhardt 
ao Manual de História da Arte de Franz Kugler (1848). Revista 
Brasileira de História. São Paulo, v. 25, nº 49, p. 99-124 – 2005. 
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbh/v25n49/a06v2549.pdf>. 
Acesso em: 20 mai. 2009. 
Para melhor compreendermos as idéias de Burckhardt, podemos retomar 
É importante 
notar que o 
desenvolvimento 
da história cultural 
foi influenciado 
em grande medida 
pelos debates 
que ocorriam 
em outras 
ciências, como 
a antropologia e 
a sociologia. O 
termo “cultura” 
começou a ser 
empregado no 
estudo da história 
a partir do século 
XIX.
18
 História Cultural
suas Reflexões sobre a História, em que ele aponta para o estudo das “três 
potências” que compõem a civilização: o Estado, a religião e a cultura. Nesse 
contexto, cultura, para Burckhardt, incluía 
todas as congregações, artes, técnica, expressões literárias e 
ciências. Ela constitui o mundo de tudo o que é dinâmico, livre, 
não sendo necessariamente universal e nunca impondo pela 
força a sua aceitação. [...] Chamamos de cultura a soma total 
de criações espontâneas do espírito.
Dessa forma, a cultura se contrapunha a um estado de barbárie em que 
viviam determinadas sociedades. Ela constituía:
O processo pelo qual se transformava as ações espontâneas 
e instintivas de uma determinada raça num conhecimento 
inteligente, conduzindo-a, no seu verdadeiro e mais elevado 
estágio, à ciência e particularmenteà filosofia e à reflexão 
pura. Sua forma global externa, porém relacionada com o 
Estado e a Religião, constitui a sociedade em seu sentido 
mais amplo. (BURCKHARDT, 1961, p. 62 – 63.)
Burckhardt utilizou a ideia de “cultura” superior para diferenciar estágios de 
desenvolvimento das ideias filosóficas. Em suas preocupações estavam temas 
como a cultura grega, o pensamento cristão medieval e o renascimento italiano, 
mostrando uma preocupação de traçar uma linha evolutiva do pensamento dito 
“universal”. Como afirma ele: 
ao considerarmos agora a cultura do século XIX como uma 
cultura universal, verificamos que ela possui as tradições de 
todos os tempos e culturas, do mesmo modo que a literatura 
do nosso tempo é uma literatura eminentemente cosmopolita, 
universal. (BURCKHARDT, 1961, p. 73).
Já em princípios do século XX, outro historiador assumiu um papel de 
destaque no que se refere à história cultural. Johan Huizinga estudou sobre a 
Índia antiga, a França medieval e a cultura holandesa do renascimento, tendo, em 
alguns aspectos, proximidades e divergências com Jacob Burckhardt. Em 1929, 
em ensaio intitulado A tarefa da história cultural, “retratava que o principal objetivo 
do historiador cultural era de retratar padrões de cultura, em outras palavras, 
descrever os pensamentos e sentimentos característicos de uma época e suas 
expressões ou incorporações nas obras de literatura e arte” (BURKE, 2008, p. 
19).
Sua principal obra, O declínio da Idade Média, trazia no original um subtítulo 
que expressava sua concepção de cultura: um estudo sobre as formas de vida, 
pensamento e arte na França e na Holanda no século XIV e XV. De forma geral, 
o livro tratava do simbolismo e ritualização da arte em fins do período medieval.
19
Origens da História Cultural Capítulo 1 
Está claro que, dado o desenvolvimento que o estudo da cultura havia 
assumido nas primeiras décadas do século XX, as concepções de Huizinga 
se aproximavam mais da noção plural adotada na antropologia. Em 1938, ele 
publicou um livro intitulado Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura, no 
qual afirma que “o jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em 
suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana”. E 
mais adiante prossegue:
O fato de apontarmos a presença de um elemento lúdico na 
cultura não quer dizer que atribuamos aos jogos um lugar de 
primeiro plano, entre as diversas atividades da vida civilizada. 
[...] Não queremos dizer que o jogo se transforma em cultura, 
e sim que em suas faces mais primitivas da cultura possuí um 
caráter lúdico. (HUIZINGA, 1993, p. 53.)
Nessa obra, Huizinga utiliza os estudos dos antropólogos Marcel Mauss e 
Bronislaw Malinowiski, trazendo uma reflexão sobre “cultura” através de suas 
dimensões simbólicas. No entanto, persistem as distinções entre o que ele 
qualifica de “a vida civilizada” e as “faces mais primitivas da cultura”. 
 
Para saber mais sobre Huizinga, leia:
PAULA, João Antônio. Para lembrar Huizinga: 1872 – 1945. In: Nova 
Economia: revista do departamento de economia da UFMG. Belo 
Horizonte: n. 15 (1) janeiro-abril de 2005. p. 141-148. Disponível em: 
<www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/v15n1/150106.pdf>. 
Acesso em: 30 abr. 2009.
 
 
Atividade de Estudos: 
1) Caro(a) pós-graduando(a), reflita sobre as origens da História 
Cultural e desenvolva uma síntese da concepção de “cultura” para 
Jacob Burkhardt e Johann Huizinga:
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20
 História Cultural
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A Cultura Popular e a Invenção da 
Tradição
Apesar de trilharem caminhos distintos, uma ideia que acompanhou o 
desenvolvimento da história cultural foi o conceito de cultura popular. Segundo 
Burke,
 
a idéia de “cultura popular” ou Volkskultur se originou no 
mesmo lugar e momento que a “história cultural”: na Alemanha 
do final do século XVIII. Canções e contos populares, danças, 
rituais, artes e ofício foram descobertos pelos intelectuais de 
classe média. (BURKE, 2008, 29.). 
No entanto, esse conceito foi abandonado pelos historiadores pelo menos 
até a década de 1960, sendo utilizado somente por folcloristas e antropólogos.
Uma dos primeiros estudos historiográficos que tiveram uma preocupação 
mais direta com a ideia de cultura popular foi a obra do historiador inglês Edward 
Thompson, A formação da classe operária inglesa (1963). Neste livro, Thompson 
analisa a formação de uma consciência de “classe” através da continuidade de 
certas “tradições populares” do século XVIII. O impacto da obra de Thompson se 
estendeu para além das fronteiras da Grã-Bretanha, levando-o a ser considerado 
como uma das principais referências da história das classes populares.
Outra obra que teve grande impacto sobre os historiadores foi A cultura 
popular na Idade Média e no Renascimento (1965), do teórico cultural russo 
Mikhail Bakthin. Analisando a literatura do escritor francês François Rebelais e 
outras “fontes populares”, o autor propõe desvendar a “cultura popular” cômica 
europeia em fins do período medieval. Em conceitos como o de “carnavalização”, 
Bakthin aborda as interações e transgressões dos limites entre a “cultura da elite” 
e as “culturas do povo”. Seguindo a mesma linha, Peter Burke escreveu, em 
1978, A cultura popular na Idade Moderna. Ao abordar “o problema do ‘popular’”, 
Burke prefere utilizar o conceito no plural em virtude de sua heterogeneidade ou 
“substituí-la por “a cultura das classes populares”” (BURKE, 1989, p. 17). 
21
Origens da História Cultural Capítulo 1 
Para ambos os autores, existe uma ambiguidade que divide 
de forma fluída a “cultura popular” da “cultura da elite”. Apesar das 
precauções dos autores Bakthin e Burke em qualificar a “cultura 
popular” como heterogênea, suas visões são criticadas por Roger 
Chartier.
[...] Peter Burke assim descreve os dois 
movimentos que desenraizam a cultura popular 
tradicional: de um lado, o esforço sistemático das 
elites e particularmente dos cleros protestantes 
e católicos, “para mudar as atitudes e valores do 
resto da população” e “para suprimir, ou ao menos 
purificar, vários elementos da cultura tradicional”; 
de outro, o abandono, pelas classes superiores, 
de uma cultura até então comum a todos. O 
resultado é claro: “Em 1500, a cultura popular era 
a cultura de todo mundo; uma segunda cultura 
para os instruídos e a única para os demais”. 
 
Existem várias razões para só se retomar com 
mais prudência essa periodização e esse diagnóstico que 
concluem pela desqualificação da cultura popular ou pelo seu 
desaparecimento. (CHARTIER, 1995, p. 181.)
Para Chartier, o conceito de “cultura popular” é uma categoria erudita, que 
ora é qualificada como um sistema simbólico e autônomo, funcionando de maneira 
alheia à cultura letrada, ora é percebida em sua dependência e carência em 
relação à cultura das elites. Essas distinções têm sido utilizadas por historiadores 
para criar modelos cronológicos, tal como Peter Burke, para uma suposta idade do 
ouro da cultura popular. Assim, teríamos duas teses sobre a cultura popular: uma 
que estabelece sua marginalidade ante a cultura letrada; outra que lhe concede 
uma imagem mítica, quase que de oposição à cultura dominante. Essas visões 
podem, às vezes, estar presentes em uma mesma análise, ou obra historiográfica.
Para saber mais sobre o conceito de “cultura popular”, leia:
CHARTIER, Roger. Cultura Popular: revisitando um conceito 
historiográfico. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro. v. 8, n. 16, 
1995, p. 179-192. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/172.
pdf>. Acesso em: 22 mai. 2009.
Um dos problemas que derivam dessas distinções entre a cultura popular 
e da elite é o estabelecimento de um limite entreelas. O que é povo? Em geral, 
Duas teses 
sobre a cultura 
popular: uma que 
estabelece sua 
marginalidade 
ante a cultura 
letrada; outra que 
lhe concede uma 
imagem mítica, 
quase que de 
oposição à cultura 
dominante. Essas 
visões podem, 
às vezes, estar 
presentes em 
uma mesma 
análise, ou obra 
historiográfica.
22
 História Cultural
como nos alerta Burke, é designar o popular por aquilo que não é a elite, ou seja, o 
emprego de uma “categoria residual” que em muitos casos enrijece esses termos 
e perde a abrangência das manifestações culturais. Em estudos historiográficos 
mais recentes esses termos são já utilizados de forma mais ampla e plural.
Através dessas duas diferentes concepções de cultura popular podemos 
observar diferentes formas de compreender a transmissão da “tradição”. Tal 
como afirma Martha Abreu, a variedade de concepções dadas ao conceito 
de “cultura popular”, quase sempre imbuídas de juízos de valor, idealizações, 
homogeneizações e disputas teóricas e políticas, equivale, para alguns, ao 
“folclore” (folk, em inglês, significa pessoas, povo) entendido como o conjunto 
das “tradições culturais”. O estudo da “cultura” se vincula à ideia da “tradição”, 
entendida como conhecimentos e habilidades transmitidas de geração para 
geração. A “cultura” unitária dos princípios da história cultural pode conter diversas 
manifestações da “tradição”. (ABREU, 2003, p. 83). 
Dessa forma, assim como observado na análise de Edward Thompson sobre 
as classes populares inglesas, a “tradição” é um elemento constituinte da cultura 
popular. A ideia da tradição esteve presente, mesmo que de forma indireta, nas 
reflexões dos historiadores culturais “clássicos” e persistiu nas análises de muitos 
historiadores que se seguiram a eles. A ideia essencial na história positivista era 
a noção de tradição e seu oposto complementar de “recepção” (como legado, 
herança). Esta concepção de tradição acarretava o problema de determinação 
do padrão cultural que persiste e do que se inova. Assim, como na discussão 
acerca da circularidade entre a “cultura popular” e a “cultura da elite”, torna-se 
difícil diferenciar aquilo que é “tradicional” do que é uma “inovação”. 
Seguindo essa linha, a ideia de tradição sofreu uma crítica mais enfática 
de Eric Hobsbawn e Terence Ranger, com A Invenção da tradição. A adoção 
do termo “invenção” vinha com o intuito de demonstrar que as tradições 
eram deliberadamente construídas e formalmente institucionalizadas. Uma 
característica inerente à tradição é que, embasada no passado real ou forjado, ela 
é invariável, fixa. Para os autores:
Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, 
normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente 
aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam 
inculcar certos valores e normas de comportamento através da 
repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade 
em relação ao passado. (HOBSBAWN; RANGER, 1997, p. 9).
 
Peter Burke defende o estudo da tradição, mas alerta que deve ser 
redefinida, levando em consideração a teoria da recepção cultural, a 
adaptação e o reconhecimento. Dessa forma, o questionamento dos 
23
Origens da História Cultural Capítulo 1 
conceitos amplamente utilizados em nosso cotidiano nos serve para 
perceber as invenções intencionais ou não do que se entende como 
“cultura”. A cultura legitimada normalmente recebe o crivo de “tradição” 
como aquilo que deve ser preservado e transmitido.
Atividades de Estudos: 
Sobre os assuntos desenvolvidos neste tópico responda:
1) Qual foi a polêmica estabelecida pelos historiadores Peter Burke e 
Roger Chartier sobre a ideia de “cultura popular”?
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2) Como a noção de “tradição” foi vista pelos historiadores da cultura?
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A História Cultural e sua Aplicação
no Ambiente Escolar
O ofício do historiador é uma atividade eminentemente política. Em sua 
atividade de pesquisa ou na transmissão do conhecimento em sala de aula o 
historiador reconstrói a vida coletiva, estabelece conexões entre o passado e o 
presente e busca compreender os processos de desenvolvimento das sociedades 
humanas. Através da eleição consciente ou inconsciente de determinados 
conteúdos e métodos de compreensão do conhecimento histórico estamos agindo 
politicamente.
24
 História Cultural
Há muitas décadas que o ensino da História se pautou na exaltação dos 
grandes personagens históricos, em geral, os heróis nacionais. A visão positivista 
de uma verdade formada no encadeamento cronológico dos fatos históricos 
era a forma de transmitir o conhecimento. Segundo os defensores dessa ideia, 
existiria uma noção de evolução dos acontecimentos que só pode ser entendida 
através da ordenação cronológica do conteúdo. Essa forma de ensinar a história 
provocou um distanciamento com a realidade do aluno, causando desinteresse 
e incompreensão por parte destes. Ela impede os educandos de perceber 
semelhanças e diferenças, permanências e rupturas dos processos históricos.
A partir das últimas décadas, no entanto, observou-se uma transformação 
nas metodologias da pesquisa histórica e consequentemente no ensino da 
história. Mais recentemente ainda, pela percepção da ineficácia e limitação do 
método tradicional, novas perspectivas educacionais foram adotadas. A adoção 
de materiais didático-pedagógicos alinhados a essas novas perspectivas 
inseriu o trabalho com diferentes fontes e documentos históricos (imagens, 
documentos escritos, objetos, etc.) relativos aos conteúdos propostos. Além 
disso, a multiplicação e a fragmentação das pesquisas históricas provocaram uma 
diversificação, tornando mais complexo o ensino da História.
A diluição das fronteiras entre os campos de interpretação histórica 
(economia, sociedade, cultura) tornou imprescindível a utilização de ferramentas 
interdisciplinares. Frente a esses enormes e complexos desafios o historiador se 
encontrou desabilitado e despreparado para trabalhar essas novas perspectivas. A 
utilização dos conceitos é feita, muitas vezes, nos livros e pelos professores, sem 
nenhum critério. Tradição, mentalidades, cultura e representação são concepções 
amplamente difundidas nos livros didáticos, mas como devemos trabalhar esses 
conceitos em sala de aula? 
O desenvolvimento da história cultural proporcionou uma ampliação 
das reflexões sobre a nossa realidade imediata e a possibilidade de 
utilização de novas ferramentas que aproximem o universo do aluno 
da compreensão dos processos históricos. Para tanto, partimos da 
perspectiva da história como interpretação, possibilitando ao aluno 
contato com as várias construções existentes em torno dos processos 
históricos, sem desconsiderar sua própria realidade. Com uma proposta 
metodológica baseada nos acontecimentos do dia a dia, abordando 
temas como saúde, moradia, sexualidade, relações interétnicas, ou 
seja, a vida cotidiana, é possível mostrar que a história é feita por todos 
os homens e em todos os momentos de sua vida. Através da vida 
das pessoas comuns ou de grupos é possível compreender algumas 
situações vividas pela sociedade (até mesmo relacionadas à economia 
e à política). 
O desenvolvi-
mento da história 
cultural proporcio-
nou uma amplia-
ção das reflexões 
sobre a nossa 
realidade imediata 
e a possibilidade 
de utilização de 
novas ferramentas 
que aproximem o 
universo do aluno 
da compreensão 
dos processos 
históricos. 
25
Origensda História Cultural Capítulo 1 
Ao lembrarmos nossos alunos de que somos sujeitos históricos, reforçamos 
a ideia de que a história não se constrói somente a partir dos grandes feitos e 
grandes homens, fatos e datas, mas sim do cotidiano das pessoas comuns como 
nós. Pessoas que se vestiam, moravam, relacionavam-se umas com as outras... 
Compreender como isso acontecia em diferentes grupos sociais nos permite fazer 
comparações e aproximações com nossa realidade atual.
A lei de diretrizes e bases para a educação nacional, elaborada em 1996, 
trata de questões acerca da utilização de debates sobre a cultura na educação 
fundamental e média. Vejamos o que diz a lei:
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se 
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, 
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos 
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e 
nas manifestações culturais. [...]
Art. 26º. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter 
uma base nacional comum, a ser complementada, em 
cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por 
uma parte diversificada, exigida pelas características 
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e 
da clientela. [...]
§ 4º. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições 
das diferentes culturas e etnias para a formação do povo 
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e 
europeia. [...]
Brasília, 20 de dezembro de 1996.
As perspectivas educacionais da lei preveem a adoção de um ensino 
diversificado e que leve em consideração a variedade da vida social. Como no 
26
 História Cultural
parágrafo 4o do artigo 26, a História do Brasil deve levar “em conta a contribuição 
de diferentes culturas e etnias [...] especialmente das matrizes indígenas, africana 
e europeia” (BRASIL, 1996). Dessa definição podemos observar que a noção 
adotada de cultura leva em consideração a existência de diferentes grupos. No 
entanto, ela é reducionista quando delimita e enrijece as culturas e etnias em 
“indígena”, “africana” e “europeia”. Dessa forma, podemos perceber as limitações 
acerca da noção de cultura nas leis e diretrizes da educação nacional, bem como 
nos livros didáticos utilizados nas escolas brasileiras.
Ainda que se tenha avançado nas discussões acerca da diversidade cultural 
em nosso país, e a legislação vigente é um exemplo disso, é necessário um olhar 
mais atento para os estereótipos criados em torno de determinados grupos. Na 
intenção de firmar uma identidade a fim de conquistar um espaço, esquecemos 
que uma mesma etnia contempla diferenças em termos culturais, relacionadas 
ao seu tempo e contexto. Trata-se de analisar determinados aspectos culturais 
a partir de especificidades decorrentes da história do indivíduo. As pessoas se 
apropriam e absorvem a cultura de modo diferente, resultando em múltiplas 
experiências de vida.
A disciplina de história é fundamental para trabalhar a questão da diversidade 
cultural na escola, partindo do pressuposto de que devemos questionar certas 
concepções tradicionais que privilegiavam alguns povos em detrimento de outros. 
Possibilitar ao aluno a percepção de que sua história de vida, seu cotidiano, 
seus hábitos e seus costumes são tão importantes quanto o de qualquer outra 
pessoa em qualquer tempo e espaço é nosso trabalho. Partindo disso, damos um 
grande passo em direção a uma história composta por sujeitos conscientes de 
sua atuação e participação social.
Você já parou para pensar no quanto os conteúdos presentes nos livros 
didáticos apontam para uma mudança cultural no modo de vida das populações 
indígenas, a partir do contato com os europeus? O contrário também ocorre?
Para nos auxiliar nessa reflexão recorremos a um conceito 
elaborado pela antropologia, o de aculturação. Esse termo foi criado 
aproximadamente em 1880 por J. W. Powell, antropólogo americano, 
e era utilizado para denominar “a transformação dos modos de 
vida e de pensamento dos imigrantes ao contato com a sociedade 
americana”. Ainda que estudos mais recentes procurem imprimir um 
caráter dinâmico a esse conceito, a expressão por vezes é utilizada 
no senso comum de modo negativo, ressaltando a ideia de uma perda 
irreparável. Ou seja, no contato de dois grupos com culturas diferentes, 
27
Origens da História Cultural Capítulo 1 
uma prevalece sobre a outra e para o indivíduo ou sociedade aculturada 
há uma conversão à outra cultura.
Na história do Brasil, de modo específico, esse termo foi 
utilizado em favor da cultura europeia, desconsiderando o fato 
de que através do contato com os indígenas o modo de vida dos 
portugueses também se transformou. Utilizamos aqui a concepção 
de Serge Gruzinski, quando, em sua obra “O pensamento mestiço”, 
destaca que do encontro de duas culturas diferentes surge uma 
terceira cultura, que é resultado da mestiçagem. Nem mesmo a 
violência com a qual foram tratadas as populações indígenas seria 
capaz de anular seus traços culturais.
Sobre aculturação, leia a obra de: CUCHE, Denys. A noção de 
cultura nas ciências sociais. 2a ed. Bauru: EDUSC, 2002.
Sobre “O pensamento mestiço”, leia a obra de: GRUZINSKI, 
Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 
2001. 
É importante lembrar que, embora nos utilizemos dos termos índios ou 
indígenas, há que se considerar que essa foi uma denominação dada pelos 
europeus a esses povos e deve ser questionada. Essas populações são 
compostas por diferentes grupos étnicos. São eles: Guarani, Kaigang, Xokleng, 
Caiapó, Carajá, Tupinambá, Ianomâmi, Pataxó, etc.
Uma das grandes contribuições do ensino de história focado na concepção 
cultural é procurar compreender o outro a partir do seu tempo e do seu 
contexto. Embora seja difícil nos desprendermos de nosso modo de pensar 
e agir hoje, é necessário tentarmos nos colocar no lugar do outro, isentos 
de julgamentos ou valores de nosso tempo. Para Ruth Benedict, “a cultura 
é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” (LARAIA, 1999, 
p. 69) e não é incomum estranharmos o que desconhecemos. Problemático é 
quando nos utilizamos como parâmetro, acreditando que nosso modo de vida é 
mais correto e natural, sem a compreensão de que, para o outro, o mesmo outro 
sou eu. 
28
 História Cultural
Atividades de Estudos: 
Para trabalhar a concepção de estranhamento, propomos a 
seguinte atividade (esta é uma sugestão de atividade que pode ser 
feita em sala de aula com seus alunos):
• Dividir os alunos em duplas.
• Pedir que se identifiquem como seres de outro planeta, que 
desconhecem a existência dos humanos – portanto o aluno terá a 
sua frente algo que nuca viu.
• Solicitar que as duplas se olhem atentamente, prestando atenção 
em cada detalhe do outro.
• Descrever por escrito o que viu, na condição de que é algo 
desconhecido.
• Socializar e discutir sobre o que foi realizado, como os alunos se 
sentiram ao serem descritos e ao descreverem o outro. 
Para finalizar este capítulo, propomos uma atividade de leitura de 
imagens que possibilitem pensar um pouco mais sobre o conceito de 
cultura. Analise atentamente essas imagens e responda às questões 
que seguem:
Figura 1 - Primeira Missa no Brasil de Victor Meirelles
 
Fonte: Disponível em: <www.moderna.com.br/.../datas/
images/indio1.jpg>. Acesso em: 18 out. 2009.
 
29
Origens da História Cultural Capítulo 1 
Figura 2 - Theodoro De Bry. Hans Staden assiste à preparação 
do corpo. Ameriacae Tertia Pars, gravura 1592.
Fonte: Disponível em: <www.scielo.br/img/revistas/his/
v25n2/01f4.gif>. Acesso em: 18 out. 2009.
1) Descreva detalhadamente o que você vê em cada uma das 
imagens.
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2) Quais símbolos são utilizados pelo artista para identificar um 
personagem do outro?
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3) Qual era a visão dos europeus sobre o “novo mundo” a partir do 
que as imagens representam?
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4) De qual concepção de cultura essas representações se aproximam?
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30
 História Cultural
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Algumas Considerações
Sendo a história a disciplina que estuda o processo, interessa-nos mais 
procurar identificar os caminhos que nos levam a determinadas concepções atuais 
do que sejam cultura e história cultural. Considerando a amplitude dos temas 
discutidos ao longo desse capítulo, nosso objetivo não é atingir uma verdade 
acerca dos conceitos e muito menos acomodar você, pós-graduando, com uma 
explicação reducionista de algo que é amplo e complexo.
Na esteira desse raciocínio, procuramos apresentar análises de diferentes 
autores, considerando o tempo e espaço em que construíram suas teorias, 
possibilitando uma reflexão sobre as transformações pelas quais passou e tem 
passado o conceito de cultura sem, no entanto, esgotar suas possibilidades de 
abordagem.
Para a história cultural o fato deixa de ser o foco central de análise, 
considerando que o político também está no âmbito do cotidiano, a partir do 
questionamento sobre as transformações da sociedade, o funcionamento da 
família, o papel da disciplina e das mulheres, o significado dos fatos, gestos e 
sentimentos. A busca por novas perspectivas para a História abriu também um 
campo mais amplo para a interdisciplinaridade. O diálogo com outras áreas do 
conhecimento, como a antropologia, por exemplo, favoreceu a ampliação das 
áreas de investigação histórica. A partir dessas novas perspectivas há uma 
reorientação do enfoque histórico, contrapondo a linearidade, a abordagem 
universalizante e uma história baseada no estudo das elites. 
 
 
Referências
ABREU, Martha. “Cultura Popular: um conceito e várias histórias”. In: Ensino de 
História: conceitos, temáticas e metodologias. Martha Abreu e Rachel Soihet 
(organizadores). Rio de Janeiro: FAPERJ. Casa da Palavra, 2003.
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Origens da História Cultural Capítulo 1 
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de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/
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BURKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. São 
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CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. (trad. 
port.) Lisboa: DIFEL, 1990.
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 História Cultural
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CAPÍTULO 2
Estudos Culturais e a Escrita 
da História 
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Apresentar as relações interdisciplinares da história com a antropologia. 
 3 Relatar a conjuntura histórica que propiciou a ampliação temática da história 
cultural. 
 3 Comparar a relação entre a natureza da investigação histórica e antropológica. 
 3 Articular reflexões interdisciplinares na transmissão do saber historiográfico 
relacionado à História cultural. 
 3 Apreender a importância de uma história micro para compreensão 
de contextos culturais. 
 3 Analisar o papel do contexto histórico na transformação do processo 
de escrita da história. 
34
 História Cultural
35
Estudos Culturais e a Escrita da História Capítulo 2 
Contextualização
Considerando que os estudos culturais se constituíram a partir de diferentes 
áreas do conhecimento, percebemos ser de fundamental importância situar o 
papel da Antropologia nesse contexto, bem como suas contribuições para o 
campo da história. Portanto, este capítulo se inicia com uma discussão acerca 
da Antropologia cultural, seus principais autores e fases. Esperamos que ao 
final dessa seção seja possível perceber o quanto os estudos antropológicos 
influenciaram a história cultural e a noção de cultura adotada pelos historiadores.
A antropologia contribuiu inclusive para a constituição do que conhecemos 
como Annales, assunto abordado posteriormente neste capítulo. É importante 
estudar os Annales, seu surgimento, principais autores e fases, para que 
compreendamos o papel desse movimento como uma das fases mais importante 
da historiografia cultural.
A seguir apresentamos uma discussão sobre micro-história, uma metodologia 
adotada pela história cultural, que dá ênfase ao micro, ou seja, a história das 
pessoas comuns, para então compreender o macro, o geral. Saímos do particular 
para compreender o contexto da sociedadeestudada. Ao adotar essa metodologia 
devemos ficar atentos aos mínimos detalhes, pois ali se concentra o universal.
Finalizamos o capítulo com uma discussão sobre os estudos pós-coloniais na 
perspectiva cultural, objetivando uma reflexão acerca da história das populações 
colonizadas, e a perspectiva de um reescrever a história a partir da crítica de um 
olhar puramente eurocêntrico.
Esperamos que os apontamentos presentes neste texto possibilitem a 
você, caro pós-graduando, apropriar-se das ferramentas da história cultural para 
interferência direta no seu cotidiano, percebendo que a sua história de vida pode 
dizer muito a respeito de um contexto mais amplo no qual você está inserido. 
Portanto, esperamos que você tenha na prática a confirmação de que todos 
somos e fazemos história.
36
 História Cultural
A Aproximação da Antropologia 
Cultural com Novas Possibilidades de 
Escrita da História
O que define o campo da Antropologia é o conceito de cultura, que pode 
ser compreendido como sendo um código simbólico, que possui uma dinâmica 
e uma coerência interna. É compartilhado pelos membros de uma determinada 
sociedade ou grupo social e, mediante um procedimento antropológico, pode 
ser decifrado e traduzido para membros que não pertencem a esse grupo. À 
antropologia, portanto, cabe a interpretação dos diferentes códigos simbólicos 
que constituem as diversas culturas. (THOMAZ, 1995, p. 427-428).
A palavra Antropologia é composta por dois vocábulos gregos: 
anthropos (que significa homem) e logos (que significa conhecimento, 
estudo). Portanto, a antropologia é a ciência que estuda o homem 
em seus aspectos gerais.
A fim de decifrar os significados atribuídos por diferentes sociedades ou 
agrupamentos humanos nas suas próprias ações, o antropólogo deve relativizar 
os seus próprios valores culturais, procurando fugir do etnocentrismo (THOMAZ, 
1995, p. 434). “A antropologia foi impossível enquanto as distinções entre nós 
próprios e o primitivo, nós próprios e o bárbaro, nós próprios e o pagão, nos 
dominaram o espírito” (BENEDICT, 1983, p. 16). 
A preocupação da Antropologia está centrada nos seres humanos como 
produtos da vida em sociedade. O que a diferencia das outras ciências sociais é a 
inclusão no seu campo de estudos de sociedades que não são a nossa sociedade. 
Interessam ao antropólogo os costumes existentes em culturas diferentes, e o 
seu objetivo é “compreender o modo como essas culturas se transformam e se 
diferenciam, as formas diferentes por que se exprimem, e a maneira como os 
costumes de quaisquer povos funcionam na vida dos indivíduos que os compõem”. 
37
Estudos Culturais e a Escrita da História Capítulo 2 
Caro pós-graduando, você sabe o que significa a palavra 
etnocentrismo? 
Partindo de uma definição mais geral, podemos considerar 
como sendo o termo que define uma visão de mundo em que nosso 
próprio grupo é o centro de todas as coisas e todos os outros grupos 
são medidos e avaliados em relação a ele (CUCHE, 2002, p. 46).
 
Atividade de Estudos: 
1) Ao refletir um pouco mais sobre a definição desta palavra, liste um 
ou mais processos que marcaram a história da humanidade por 
estarem carregados de valores etnocêntricos. Em seguida procure 
pensar em seu cotidiano e mais uma vez liste situações em que 
você percebe a aplicação do termo etnocentrismo.
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Você sabia?
“A antropologia nasceu no século XIX, sob a égide do 
evolucionismo cultural, que supunha a existência de uma única 
marcha no progresso da humanidade, à qual todos os povos estariam 
condenados. O final desta marcha seria, evidentemente, a civilização 
Ocidental”. (THOMAZ, 1995, p. 437).
Que tal fazer uma breve pesquisa sobre a origem da antropologia 
cultural? Procure fazer relações com o contexto vivido na época em 
que surgiu esse tipo de estudo.
38
 História Cultural
A Antropologia cultural recebeu maior ênfase e aprofundamento teórico nos 
Estados Unidos, talvez pelo contexto de diversidade cultural existente no país, 
oriundo da imigração. Aos sucessores do antropólogo Franz Boas (1858-1942) 
coube retomar a pesquisa sobre a dimensão histórica dos fenômenos culturais. 
Entre eles, Alfred Kroeber explica o processo de distribuição dos elementos 
culturais no espaço. 
A partir do estudo da repartição espacial dos traços culturais (definido 
pelos menores componentes de uma cultura) nas culturas próximas, analisa o 
processo de sua difusão - resultado dos contatos entre as diferentes culturas e 
da circulação dos traços culturais. Quando aparece uma grande convergência de 
traços semelhantes num mesmo espaço, define-se então uma área cultural. No 
entanto, o conceito de área cultural deve ser empregado de maneira flexível, já 
que, em muitas localidades, as áreas culturais só podem ser definidas de forma 
aproximada, não tendo limites precisos. (CUCHE, 2002, p. 68-69). Dessa corrente 
da antropologia surge o conceito de “modelo cultural”, que designa o conjunto 
estruturado dos mecanismos pelos quais uma cultura se adapta ao seu meio 
ambiente (Idem).
Conceituando etnografia: é uma metodologia qualitativa de 
pesquisa que se concentra nas descrições dos grupos culturais, 
podendo ser definida como o método utilizado na antropologia para a 
coleta de dados.
Para se aprofundar um pouco mais sobre esse conceito, acesse 
o site: http://www.antropologia.com.br/colu/colu10.html
Em reação à corrente antropológica “difusionista”, surgem os estudos do 
antropólogo Bronislaw Malinowski (1884 – 1942). Para ele, era preciso observar as 
culturas em seu estado presente, sem buscar o passado. Criticava principalmente 
a falta de compreensão por parte dos difusionistas, dos traços culturais ligados a 
um sistema global.
Para Malinowski, o importante era que os traços culturais exercessem, na 
totalidade de uma dada cultura, uma função precisa. 
Qualquer cultura deve ser analisada em uma perspectiva 
sincrônica, a partir unicamente da observação de seus 
dados contemporâneos. Contra o evolucionismo voltado 
para o futuro, contra o difusionismo voltado para o passado, 
39
Estudos Culturais e a Escrita da História Capítulo 2 
Malinowski propõe então o funcionalismo centrado no 
presente, único intervalo de tempo em que o antropólogo pode 
estudar objetivamente as sociedades humanas. (CUCHE, 
2002, p. 71-72).
Malinowski subestima as tendências à mudança interna própria de cada 
cultura ao dizer que constituem um todo coerente, sendo os elementos de um 
sistema cultural harmônicos, equilibrados e funcionais, tendendo as culturas, 
dessa forma, a se conservarem idênticas em si mesmas. Para ele, a mudança 
cultural vem do exterior, por contato cultural. “O grande mérito de Malinowski será, 
no entanto, demonstrar que não se pode estudar uma cultura analisando-a do 
exterior, e ainda menos a distância”. Propõe, assim, uma nova forma de etnografia, 
a da observação participante (CUCHE, 2002, p. 72-73).
A antropologia cultural americana não teve muitos adeptos na França, 
embora tenha sido retomado o tema da totalidade cultural pelo antropólogo 
Claude Lévi-Strauss na década de 1950. O pensamento de Strauss, embora 
influenciado pelo dos antropólogos americanos, diferencia-se deles ao 
ultrapassar a abordagem particularista das culturas. Além do estudo das 
variações culturais, pretende analisar a invariabilidade da cultura (CUCHE, 
2002, p. 97). Trata-se, portanto, de uma antropologia estrutural que procura 
localizar entre culturas o que é idêntico. “No ponto preciso em que a 
cultura substitui a Natureza, isto é, no nível das condições muito gerais de 
funcionamento da vida social, é possível encontrar regras universais que 
também são princípiosindispensáveis da vida em sociedade” (CUCHE, 2002, 
p. 98). 
Já para Clifford Geertz, um dos mais importantes antropólogos da segunda 
metade do século XX, o trabalho da antropologia é o de revelar as singularidades 
dos modos de vida de outros povos. Uma das maiores contribuições de Geertz foi 
reduzir a ideia de cultura a uma dimensão mais adequada do que aquela com a 
qual se vinha lidando desde os anos 1950. 
Ao retrocedermos ao início da Antropologia, um dos mais reconhecidos 
autores do século XIX, Edward B. Tylor (1832 – 1917), já citado no capítulo 1, 
definiu cultura como o “todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, 
moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo 
homem na condição de membro da sociedade”. Trata-se de uma definição 
descritiva que pouco fala dos processos pelos quais a cultura se produz, nem 
aponta para o que “singulariza” os homens que constituem diferentes culturas. 
Algumas mudanças ocorreram a partir do século XX no campo da Antropologia, 
entre elas o aumento do interesse por culturas particulares e a consolidação da 
noção de que somente a partir do estudo minucioso e presencial de um modo de 
vida era possível entender as grandes questões da humanidade. (TORRES, 2009, 
p. 62).
40
 História Cultural
Não somente na Antropologia, mas na Filosofia, Sociologia, Psicologia 
e História, as mudanças foram favoráveis a uma produção de conceitos que 
originaram uma concepção renovada de cultura. Geertz denominaria esse 
acontecimento como uma virada para o sentido que, segundo ele, modificou tanto 
o tema investigado quanto a posição do sujeito da investigação. Surgia então a 
preocupação com a “produção de sentido”. Essa antropologia foi chamada por 
Geertz de interpretativa (TORRES, 2009, p. 63). 
O estudo das culturas de outros povos implica “descrever o que 
eles pensam que são, o que pensam que estão fazendo e com que 
finalidade pensam o que estão fazendo” (GEERTZ, 2001, p. 26). Não 
se trata, entretanto, de sentir como os outros ou pensar como eles, 
pois isso seria impossível. O que é metodologicamente esperado do 
pesquisador de campo é que aprenda a viver com e não como as 
sociedades ou grupos de culturas diferentes. O que o antropólogo 
busca é a ação de se situar entre aqueles que são estranhos, é a 
possibilidade de conversar com eles. Visto sob esse ângulo, o objetivo 
da Antropologia é o alargamento do universo do discurso humano 
(GEERTZ, 1978, p.24).
Para Geertz, o conceito de cultura denota um padrão de 
significados transmitido historicamente, incorporado em símbolos. É um sistema 
de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio das quais 
os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas 
atividades em relação à vida (GEERTZ, 1978, p. 103). Como sistemas entrelaçados 
de símbolos, a cultura não é uma força que paira sobre os acontecimentos: é o 
contexto dentro do qual os signos podem ser descritos e interpretados de forma 
inteligível. Os antropólogos voltam seus olhares para as diferenças culturais a 
partir de posições particulares. Compreendem os modos de vida de outros povos 
considerando quem são ou aquilo em que se transformam. (TORRES, 2009, p. 
63).
Atividade de Estudos: 
1) Faça uma lista dos antropólogos que apareceram ao longo do 
texto, definindo suas perspectivas de estudos. Em seguida faça 
comparações, destacando as diferenças em relação à concepção 
de cada um deles.
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O estudo das 
culturas de outros 
povos implica 
“descrever o que 
eles pensam 
que são, o que 
pensam que estão 
fazendo e com 
que finalidade 
pensam o que 
estão fazendo” 
(GEERTZ, 2001, 
p. 26).
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Estudos Culturais e a Escrita da História Capítulo 2 
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Segundo Lynn Hunt, em se tratando da relação entre a Antropologia e a 
escrita da história cultural, Clifford Geertz é uma referência:
A modalidade antropológica de história parte da premissa de 
que a expressão individual ocorre no âmbito de um idioma 
geral. Sendo assim, trata-se de uma ciência interpretativa: 
seu objetivo é ler “em busca do significado – o significado 
inscrito pelos contemporâneos”. A decifração do significado, 
mais do que a interferência de leis causais de explicação, é 
assumida como tarefa fundamental da história cultural, da 
mesma maneira que para Geertz, era a tarefa fundamental da 
Antropologia cultural. (HUNT, 1992, p.16). 
Nesse sentido a Antropologia Cultural se faz presente em novas formas de 
escrita da história. Uma implicação da adaptação dos métodos antropológicos 
à pesquisa histórica é a junção da preocupação com a mudança ao longo do 
tempo e o surgimento de uma escolha por temáticas sincrônicas. Fortaleceu-se a 
tendência para examinar um pedacinho do tempo. A pequena história transformou-
se na base da análise da nova história cultural. Disseminaram-se produções 
baseadas num pequeno episódio. Assim, em vez da velha narrativa explicativa, 
preocupada com causas/origens e consequências, passou-se para uma nova 
narrativa, de curta duração, concentrada num evento que, se bem escolhido, 
oferece um quadro repleto de significados. 
A Escola Francesa dos Annales
A “Escola dos Annales” foi um movimento inovador que surgiu na 
França, no século XX, dando origem ao que conhecemos hoje como 
Nova História. Tudo começou diante das insatisfações que afligiam 
a história tradicional e com a criação da revista Annales d’historie 
économique et sociale, em 1929, pelas mãos de Lucien Febvre e Marc 
Bloch, historiadores e demais cientistas sociais que debatiam novas 
metodologias e abordagens. Embora tenha surgido na França, o 
movimento dos Annales, ao longo do século XX, expandiu-se por todo 
o mundo, conquistando adeptos que contribuíram para o crescimento 
dessa nova abordagem historiográfica. Em 1946 recebeu seu nome 
atual, Annales: Economies, Sociétés, Civilisations (HUNT, 1992, p. 3).
Uma das principais características dos Annales está na reflexão 
Uma das princi-
pais característi-
cas dos Annales 
está na reflexão 
dos historiadores 
em relação a sua 
área de estudos 
e suas formas 
de trabalho. 
Preocupa-se em 
tirar a história de 
seu isolamento 
disciplinar, bus-
cando formas de 
pensar abertas a 
problemáticas e a 
metodologias exis-
tentes em outras 
ciências sociais.
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 História Cultural
dos historiadores em relação a sua área de estudos e suas formas de trabalho. 
Preocupa-se em tirar a história de seu isolamento disciplinar, buscando formas de 
pensar abertas a problemáticas e a metodologias existentes em outras ciências 
sociais.
Entre as obras de maior destaque daqueles que compuseram 
o movimento dos Annales encontram-se os “Reis Taumaturgos”, 
de Marc Bloch, publicado em 1924, ou seja, antes da fundação da 
revista. Nessa obra o autor amplia o campo historiográfico sobre o 
estudo do mundo rural, fazendo comparações entre a França e a 
Inglaterra, algo novo do ponto de vista tradicional “acostumado” a 
escrever sobre temas mais restritos. 
BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos. São Paulo: Companhia das 
letras, 1993.
a) Primeira fase: oposição entre história tradicional, política e de eventos
De acordo com Peter Burke, os Annales foram um movimento dividido em três 
fases: a primeira apresenta a oposição entre a história tradicional, a história política 
e a história dos eventos. A contribuição historiográfica dos Annales nessa fase foi 
a possibilidade de um diálogo entre a história e as ciências sociais, rompendo uma 
barreira, legitimada por uma história tradicional, factual, excessivamente preocupada 
com os acontecimentos, advinda do séculoXIX (REIS, 2004). Essa nova perspectiva 
empreendida por Febvre e Bloch constrói o conhecimento em contraposição à história 
baseada nos grandes homens e fatos, que colocava à margem aspectos importantes 
das experiências humanas. Partindo do pressuposto de que toda vivência humana é 
portadora de uma história, os Annales construíram a “história total”. A primeira geração 
dos Annales foi o ponto de partida para as novas abordagens historiográficas, abrindo 
espaço para a história social e econômica. Em seu primeiro momento a revista dos 
Annales condensou os saberes e experiências de Bloch e Febvre, assim como suas 
críticas ao modelo tradicional baseado na história positivista.
43
Estudos Culturais e a Escrita da História Capítulo 2 
Você sabe qual era a perspectiva dos positivistas? Eles 
acreditavam que, se adotassem uma atitude de distanciamento 
de seu objeto, obteriam um conhecimento histórico objetivo, um 
reflexo fiel dos fatos do passado. O historiador, para eles, narra fatos 
realmente acontecidos e tal como eles se passaram. Em termos 
historiográficos o “cientista” positivista colhe provas de suas falas, 
fechando suas conclusões objetiva e comprovadamente. Ou seja, 
trabalha com a concepção de uma história verdade. 
b) Segunda fase: novos conceitos e métodos
Com a morte de Bloch e Febvre, Fernand Braudel (1946-1969) se tornou o 
sucessor dos Annales, que em sua segunda geração se aproxima de uma “escola”, 
com conceitos (estrutura e conjuntura) e novos métodos (história serial das mudanças 
na longa duração). Para Braudel, a contribuição especial do historiador às ciências 
sociais é a consciência de que todas as estruturas estão sujeitas a mudanças, 
mesmo que lentas. Foi também importante contribuição de Braudel a inovação do 
conceito de tempo, que para ele se distingue pela curta e longa duração, ou seja, os 
eventos históricos podem se dar por ampla ou restrita dimensão temporal. Para Peter 
Burke, Braudel realiza a combinação de um estudo de longa duração com o de uma 
complexa interação entre o meio, a economia, a sociedade, a política, a cultura e os 
acontecimentos (BURKE, 1997, p. 55).
Segundo Lynn Hunt, Braudel demonstra sua aproximação com o estruturalismo 
ao rebatizar a “geo-história” da primeira edição de sua obra “O Mediterrâneo” de 
“história estrutural”, como já aparece na segunda edição. Teoricamente, a relação 
estabelecida por Braudel entre longa e curta duração, entre “história estrutural” e 
“história política”, é a semelhante à relação estabelecida por Lévi-Strauss entre 
“ordem de estrutura” e “ordem de evento”.
Fernand Braudel e a tradição dos Annales
Para Braudel, a geografia possuía um papel muito importante no estudo do 
passado, pois é na relação do homem com o meio, tanto físico quanto social, 
que a história se move. Em sua obra “O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico 
na época de Felipe II”, valorizou as mudanças econômicas e sociais ocorridas 
em longo prazo, dialogando com a geografia. Postulou três níveis de análise que 
correspondiam a diferentes unidades de tempo: a estrutura ou longa duração, 
dominada pelo meio geográfico, e a conjuntura ou média duração, voltada para 
44
 História Cultural
a vida social e o evento efêmero, que incluía a política e tudo que dizia respeito 
ao indivíduo. A estrutura, ou longa duração tinha prioridade, enquanto os eventos 
eram equiparados à poeira ou à espuma do mar.
Fonte: BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico 
na época de Felipe II. São Paulo: Martins Fontes, 1983. p. 48.
Atividades de Estudos: 
1) Que tal refletir um pouco mais sobre as aproximações entre o 
estruturalismo, presente na antropologia cultural, e a segunda 
geração da escola dos Annales? 
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2) Veja a seguir uma passagem da aula inaugural do professor 
Fernand Braudel no Collège de France:
 
 A realidade do social, a realidade fundamental do homem revela-se 
inteiramente aos nossos olhos e, queiramos ou não, nosso velho 
ofício de historiador não cessa de brotar e de reflorir em nossas 
mãos... Sim, quantas mudanças! Todos os símbolos sociais, ou 
quase todos – e alguns pelos quais teríamos morrido ainda ontem, 
sem muita discussão - perderam o seu conteúdo ainda. (...) Todas 
as ciências sociais, inclusive a história, evoluíram, igualmente, de 
maneira espetacular, mas não menos decisiva. Um novo mundo; 
por que não uma nova história?
Fonte: MARQUES, Ademar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. 
História e Companhia. Belo Horizonte: Editora Lê, 1998, p. 24.
3) Como você interpreta esse trecho da fala de Braudel?
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Estudos Culturais e a Escrita da História Capítulo 2 
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c) Terceira fase: Nova História Cultural
A terceira fase dos Annales talvez seja a mais difícil de definir, pois não contou 
com a centralidade dos estudos de Bloch e Febvre ou Braudel. Por isso, chega-
se a dizer que nessa fase houve uma fragmentação. Exerceu grande influência 
sobre a historiografia e sobre o público leitor, em abordagens que comumente 
chamamos de Nova História ou História Cultural (BURKE, 1997).
Portanto a Nova História, oriunda da Escola dos Annales, 
pode ser definida em linhas gerais como uma ciência histórica 
inovada, regida pelos moldes das ciências sociais, voltada para a 
problemática do homem enquanto objeto social. Caracterizada por 
uma história-problema e utilizando-se da interdisciplinaridade para 
se constituir, valoriza os fatos recorrentes, ao lado dos singulares, 
trabalhando o cotidiano, ressignificando fatos e fontes históricas.
Sob essa perspectiva, a história sofreu uma mudança no campo 
das técnicas e dos métodos. Se antes a documentação era relativa 
ao evento e seu produtor, passa a ser relativa ao campo econômico-
social. “Os documentos se referem à vida cotidiana das massas 
anônimas, à sua vida produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, 
às suas crenças, às suas diversas formas de vida social” (REIS, 1994, p. 126). Os 
documentos podem ser arqueológicos, pictográficos, iconográficos, fotográficos, 
cinematográficos, numéricos, orais, enfim, de toda ordem. Todos os meios são 
tentados para vencer as lacunas e silêncios das fontes.
O documento, para Febvre, vai além de um simples papel, abrange 
desde pedaços de cerâmica a documentos escritos e o importante é que haja 
problematização em cima da fonte. Essas novas possibilidades deixaram 
de priorizar perguntas e respostas, dando espaço para a construção de 
questionamentos e hipóteses. Deram ao historiador liberdade de ação, tanto pela 
A Nova História, 
oriunda da Escola 
dos Annales, 
pode ser definida 
em linhas gerais 
como uma ciência 
histórica inovada, 
regida pelos mol-
des das ciências 
sociais, voltada 
para a problemá-
tica do homem 
enquanto objeto 
social.
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 História Cultural
ampliação dos fatos, como das fontes que deixaram de ser exclusivamente os 
documentos oficiais, abrangendo todos os vestígios deixados pelo homem social 
(FEBVRE, 1989).
Uma das mais importantes proposições da

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