Prévia do material em texto
Universidade do Sul de Santa Catarina Disciplina na modalidade a distância Palhoça UnisulVirtual 2013 Desenvolvimento Socioeconômico Créditos Reitor Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Sebastião Salésio Herdt Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Máximo Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento e Inovação Institucional Valter Alves Schmitz Neto Diretora do Campus Universitário de Tubarão Milene Pacheco Kindermann Diretor do Campus Universitário Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Moacir Heerdt Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Gerente de Administração Acadêmica Angelita Marçal Flores Secretária de Ensino a Distância Samara Josten Flores Gerente Administrativo e Financeiro Renato André Luz Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Coordenadora da Biblioteca Salete Cecília de Souza Gerente de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Márcia Loch Coordenadora do Desenho Educacional Cristina Klipp de Oliveira Campus Universitário UnisulVirtual Coordenadora da Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel Gerente de Logística Jeferson Cassiano Almeida da Costa Gerente de Marketing Eliza Bianchini Dallanhol Coordenadora do Portal e Comunicação Cátia Melissa Silveira Rodrigues Gerente de Produção Arthur Emmanuel F. Silveira Coordenador do Design Gráfico Pedro Paulo Teixeira Coordenador do Laboratório Multimídia Sérgio Giron Coordenador de Produção Industrial Marcelo Bitencourt Coordenadora de Webconferência Carla Feltrin Raimundo Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Maria Isabel Aragon Assessor de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça Assessora para DAD - Disciplinas a Distância Patrícia da Silva Meneghel Assessora de Inovação e Qualidade da EaD Dênia Falcão de Bittencourt Assessoria de relação com Poder Público e Forças Armadas Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessor de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior Educação, Humanidades e Artes Marciel Evangelista Cataneo Articulador Graduação Jorge Alexandre Nogared Cardoso Pedagogia Marciel Evangelista Cataneo Filosofia Maria Cristina Schweitzer Veit Docência em Educação Infantil, Docência em Filosofia, Docência em Química, Docência em Sociologia Rose Clér Estivalete Beche Formação Pedagógica para Formadores de Educação Profissional Pós-graduação Daniela Ernani Monteiro Will Metodologia da Educação a Distância Docência em EAD Karla Leonora Dahse Nunes História Militar Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Roberto Iunskovski Articulador Graduação Aloísio José Rodrigues Serviços Penais Ana Paula Reusing Pacheco Administração Bernardino José da Silva Gestão Financeira Dilsa Mondardo Direito Itamar Pedro Bevilaqua Segurança Pública Janaína Baeta Neves Marketing José Onildo Truppel Filho Segurança no Trânsito Joseane Borges de Miranda Ciências Econômicas Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Turismo Maria da Graça Poyer Comércio Exterior Moacir Fogaça Logística Processos Gerenciais Nélio Herzmann Ciências Contábeis Onei Tadeu Dutra Gestão Pública Roberto Iunskovski Gestão de Cooperativas Pós-graduação Aloísio José Rodrigues Gestão de Segurança Pública Danielle Maria Espezim da Silva Direitos Difusos e Coletivos Giovani de Paula Segurança Letícia Cristina B. Barbosa Gestão de Cooperativas de Crédito Sidenir Niehuns Meurer Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública Thiago Coelho Soares Programa de Pós-Graduação em Gestão Empresarial Produção, Construção e Agroindústria Diva Marília Flemming Articulador Graduação Ana Luísa Mülbert Gestão da tecnologia da Informação Charles Odair Cesconetto da Silva Produção Multimídia Diva Marília Flemming Matemática Ivete de Fátima Rossato Gestão da Produção Industrial Jairo Afonso Henkes Gestão Ambiental José Carlos da Silva Júnior Ciências Aeronáuticas José Gabriel da Silva Agronegócios Mauro Faccioni Filho Sistemas para Internet Pós-graduação Luiz Otávio Botelho Lento Gestão da Segurança da Informação. Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Programa em Gestão de Tecnologia da Informação Unidades de Articulação Acadêmica (UnA) Livro didático Palhoça UnisulVirtual 2013 Design instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Desenvolvimento Socioeconômico João Antolino Monteiro Edição – Livro Didático Professor Conteudista João Antolino Monteiro Design Instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Marina Broering Righetto Revisão Diane Dal Mago ISBN 978-85-7817-547-4 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2012 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 330.981 M77 Monteiro, João Antolino Desenvolvimento socieconômico: livro didático / João Antolino Monteiro; design instrucional Marina Melhado Gomes da Silva. – Palhoça: UnisulVirtual, 2013. 131 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-547-4 1. Economia – Brasil. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Brasil – Condições econômicas. I. Silva, Marina Melhado Gomes da. II. Título. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 - Crescimento e desenvolvimento econômico . . . . . . . . . . . . . 17 UNIDADE 2 - Abordagem histórica do processo de desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 UNIDADE 3 - Teorias do crescimento econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 UNIDADE 4 - Desenvolvimento segundo a CEPAL e o desenvolvimento no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 129 Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 7 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Desenvolvimento Socioeconômico. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e eficaz. Lembre que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Nesse sentido, a “distância” fica caracterizada somente como a modalidade de ensino por que você optou para sua formação. É que, na relação de aprendizagem, professores e instituição estarão sempre conectados com você. Então, sempre que sentir necessidade, entre em contato. Você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso, tais como: telefone, e-mail e o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado, para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual Palavras do professor Prezado/a aluno/a, Seja bemvindo(a) à disciplina de Desenvolvimento Socioeconômico. O objetivo central é levar você ao encontro das teorias do crescimento e desenvolvimento econômico e ao conhecimento sobre a problemática do desenvolvimento econômico dentro de sua dimensão sociopolítica. Para tanto, são abordadas diferentes concepções acerca do fenômeno do desenvolvimento dentro de uma abordagem pluralista. Num primeiro momento, você estudará os conceitos de desenvolvimento e crescimento econômico, entendendo as principais diferenças entre crescimento e desenvolvimento e a teoria do subdesenvolvimento. Entenderá porque o desenvolvimento exige mudanças de estruturas econômicas, sociais e políticas. Na sequência, você estudará as principais teorias sobre crescimento e desenvolvimento econômico e como se dá esse processo, além das principais contribuições do pensamento econômico. Conhecerá também a contribuição da CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe - ao desenvolvimento latino-americano. Ressalto que não pretendemos esgotar a temática com esse livro, mas despertar você para os estudos dessa temática importante e ao mesmo tempo apaixonante, dentro das Ciências Econômicas. Bons estudos! Prof. João Antolino Monteiro Plano de estudo O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: � o livro didático; � o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA); � as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação); � o Sistema Tutorial. Ementa Conceitos de crescimento e desenvolvimento. Abordagem histórica do processo de desenvolvimento. Teorias de crescimento econômico. Etapas do crescimento econômico. Estratégias de desenvolvimento. Problemas que afetam o crescimento econômico. O desenvolvimento segundo a CEPAL. O caso brasileiro. 12 Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivos da disciplina Geral Conhecer o pensamento histórico econômico sobre o desenvolvimento por meio do estudo, da análise e da contextualização das teorias econômicas construídas nas sociedades, desde a história moderna até o momento contemporâneo. Específicos � Conhecer os conceitos de crescimento e desenvolvimento; � Conhecer uma abordagem histórica do processo de desenvolvimento; � Conhecer as teorias de crescimento econômico; � Conhecer a contribuição da CEPAL para o desenvolvimento econômico latino-americano. Carga horária A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula. Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 4 13 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 - Crescimento e desenvolvimento econômico Nesta unidade apresentamos uma análise conceitual e histórica sobre o tema crescimento e desenvolvimento econômico, bem como as suas diferentes abordagens nas Ciências Econômicas. Entre as questões que serão levantadas, destaca-se a diferença entre o crescimento e o desenvolvimento econômico, incluindo os indicadores utilizados para a mensuração de ambos, o conceito de desenvolvimento e as questões estruturais pertinentes ao tema. Fechamos o estudo com a temática do subdesenvolvimento. Unidade 2 - Abordagem histórica do processo de desenvolvimento Nesta unidade, apresentamos os principais fatores que contribuíram para desencadear o processo de desenvolvimento econômico, as contribuições marxista, keynesiana, schumpeteriana e de Kalecki, para o aprofundamento dos estudos dessa temática. Para entender o processo de desenvolvimento pelo qual passaram as diferentes nações, é importante olhar para trás, numa perspectiva histórica. Os avanços pelos quais a sociedade mundial passou a partir da Revolução Industrial são incontestáveis, o que nos permite dizer que, nessa perspectiva, pode-se dividir a humanidade em dois períodos: antes e depois da Revolução Industrial. Unidade 3 - Teorias do crescimento econômico Nesta unidade, você estudará o crescimento econômico como um dos grandes desafios que se apresentam na humanidade, dada a sua complexidade. Governos, pesquisadores e pensadores de diferentes áreas do conhecimento tem se debruçado sobre essa temática. Diversas estratégias têm sido criadas a partir dos estudos teóricos e empíricos que o tema vem permitindo. Nesse sentido, nesta unidade vamos nos debruçar sobre as principais teorias do crescimento econômico, conhecendo suas bases e seus principais pontos de convergência e divergência. Não temos o objetivo de esgotar o tema, mas apresentar os pressupostos fundamentais de cada teoria estudada e assim fomentar novos estudos e novas compreensões acerca do tema. 14 Universidade do Sul de Santa Catarina Unidade 4 - Desenvolvimento segundo a CEPAL e o desenvolvimento no Brasil Nesta unidade, você vai estudar que o desenvolvimento econômico é um tema efervescente nos estudos econômicos, sociológicos e da geografia. Tamanha a sua importância, formular políticas para o desenvolvimento corresponde a melhorar a vida da sociedade. Dessa forma, a partir do surgimento da ONU – Organização das Nações Unidas, esse tema ganhou destaque e gerou ações práticas, com o objetivo de compreender os motivos do atraso de determinados países em relação a outros. Nesse sentido, a ONU cria, no Chile, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), com o objetivo de compreender e desenvolver estratégias desenvolvimentistas na America Latina. Nesta unidade, vamos conhecer a CEPAL e as principais formulações desse órgão. Vamos, também, conhecer o processo de desenvolvimento brasileiro, suas dificuldades e avanços. 15 Desenvolvimento Socioeconômico Agenda de atividades/Cronograma � Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor. � Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. � Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) 1 Objetivos de aprendizagem � Aprofundar os conhecimentos sobre crescimento e desenvolvimento econômico, compreendendo a diferença entre esses dois conceitos. � Aprofundar os conhecimentos sobre subdesenvolvimento. Seções de estudo Seção 1 Conceitos de desenvolvimento econômico e crescimento econômico Seção 2 Crescimento versus desenvolvimento Seção 3 Desenvolvimento como mudança de estrutura UNIDADE 1 Crescimento e desenvolvimento econômico 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade, apresentamos uma análise conceitual e histórica sobre o tema crescimento e desenvolvimento econômico, bem como as suas diferentes abordagens nas Ciências Econômicas. Entre as questões que serão levantadas, destaca-se a diferença entre o crescimento e o desenvolvimento econômico, incluindo os indicadores utilizados para a mensuração de ambos, a abordagem do conceito de desenvolvimento e as questões estruturais pertinentes ao tema. Fechamos o estudo com a temática do subdesenvolvimento. Seção1 - Conceitos de desenvolvimento econômico e crescimento econômico O termo crescimento econômico é recorrente na literatura econômica e está entre as metas macroeconômicas, sendo assim, um dos fundamentos das políticas nessa área. Compreender a evolução conceitual e a importância dessa temática é fundamental. Segundo Garcia e Vasconcellos (2004, p. 87), as metas macroeconômicas são “alto nível de emprego, estabilidade de preços, distribuição da renda e crescimento econômico”, sendo esse uma meta de longo prazo, também chamada de estrutural, dado que para alcançá-lo, são necessárias mudanças nas estruturas do país. Independente da matriz ideológica dos governos, todos têm como estratégias e planos alcançar o crescimento econômico, condicionando, assim, as políticas do Estado para essa finalidade. Quanto ao termo desenvolvimento econômico, ainda que também recorrente na literatura econômica atual, é usado muitas vezes de forma equivocada. Assim, o que se define por desenvolvimento muitas vezes é, na verdade, crescimento econômico, dado que esse é uma variável quantitativa, enquanto desenvolvimento econômico é uma variável qualitativa. 19 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 1.1 O tema crescimento nas principais correntes do pensamento econômico Nesse primeiro momento, vamos apresentar o conceito de crescimento econômico nas principais correntes do pensamento econômico, tendo como objetivo entender as fontes e os principais elementos que poderiam desencadear o crescimento econômico de uma região ou nação. As primeiras discussões sobre o tema vão surgir durante a fase mercantilista, a partir daí tomam forma. Para os mercantilistas, esse crescimento estava associado ao acúmulo de riquezas em forma de metais preciosos, e para alcançá-lo um país deveria fomentar seu comércio internacional. Segundo Souza (1999), o acúmulo de metais preciosos alcançado com o comércio internacional deveria ser estimulado, fazendo, dessa forma, com que o país tivesse superávits na sua balança comercial. Seria esse o caminho natural para o crescimento econômico. No século XVIII, surgiram na Europa os fisiocratas. Contradizendo os mercantilistas, os fisiocratas defendiam que a riqueza de um país seria formada na agricultura, sendo outras atividades, como o comércio, estéreis, como afirma Quesnay (apud KUNTZ, 1984, p. 13): “É a agricultura que fornece a matéria para a manufatura e para o comércio e paga uma e outro; mas esses dois ramos restituem seus ganhos à agricultura, que renova as riquezas despendidas consumidas cada ano”. E a riqueza formada pela atividade agrícola vai gerar outras riquezas, como afirmam os autores abaixo: São estas primeiras riquezas, sempre renovadas, que sustentam todos os outros estados do reino, possibilitam a atividade de todas as outras profissões, fazem florescer o comércio, favorecem o povoamento, animam a indústria e mantêm a prosperidade da nação. (QUESNAY apud KUNTZ, 1984, p.13). 20 Universidade do Sul de Santa Catarina Fica evidente que, para esta escola, o crescimento econômico está associado ao desenvolvimento da agricultura, assim como um país, para crescer, precisa dar prioridade ao setor primário. Os economistas fisiocratas combatiam a doutrina mercantilista ao propor uma conduta liberal por parte do Estado e ao transferir a atenção da análise da órbita do comercio para a da produção. Segundo eles, a indústria e o comércio apenas transportam valores; o produto líquido somente é gerado na agricultura, por meio do fator terra, que é uma dádiva da natureza. (SOUZA, 1999, p. 91). Com o passar do tempo, podemos afirmar que a agricultura adquiriu importância no crescimento de um país, mas não elevou o nível da riqueza das sociedades como um todo, somente dos proprietários de terra. Dessa forma, constituiu-se como uma atividade que concentra renda, pois para gerar riqueza precisa ser desenvolvida de forma intensiva e em grandes propriedades. Já a indústria, ao contrário do que afirmavam os fisiocratas, é geradora de crescimento econômico ao distribuir a riqueza produzida. Na esteira dos fisiocratas, surge também no século XVIII, na Inglaterra, a Escola Clássica, protagonizada por Adam Smith e David Ricardo, principais expoentes que vão também contribuir para o desenvolvimento do conceito de crescimento econômico. Ao estimular a livre iniciativa, a Escola Clássica tira da responsabilidade do Estado o crescimento econômico. Segundo Adam Smith, ao buscar o benefício pessoal, o indivíduo colabora com toda a sociedade. Conforme afirma Napoleoni (2000, p. 41), “ocorrem à formação e o desenvolvimento da riqueza quando o indivíduo se esforça por conseguir a maior vantagem pessoal na troca, vai mais além da sua própria vontade, de tal sorte que seja máxima a disponibilidade de bens para todos”. Adam Smith (1983) ressalta a importância da vontade individual para estimular o crescimento econômico, uma vez que, na busca de vantagens pessoais, busca-se também alcançar o bem coletivo. 21 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 Outro elemento importante para o crescimento econômico é a divisão social do trabalho, como afirma Smith (1983, p. 35), “O trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens necessários e os confortos materiais que consistem sempre na produção imediata do referido trabalho ou naquilo que com essa produção é comprado de outras nações”. Dessa forma, a divisão social do trabalho passar a ser, na teoria smithiana, fundamental para o crescimento econômico. Como se pode ver na citação abaixo, a riqueza de uma nação está diretamente relacionada à produtividade do trabalho, e, dessa forma, também à divisão social do trabalho, que vão oportunizar o crescimento econômico. A riqueza das Nações determina-se, em primeiro lugar, pela produtividade do trabalho útil ou trabalho produtivo, em oposição ao trabalho improdutivo. O primeiro traduz-se por aquele trabalho que produz um excedente de valor sobre o seu custo de reprodução. Em segundo lugar, a riqueza deriva da quantidade de trabalho empregada no processo produtivo, em relação à população total. A função de produção de Adam Smith está sujeita a rendimentos crescentes, em virtude da expansão dos mercados, que permite maior grau de divisão do trabalho, o que aumenta a produtividade. O crescimento econômico cria um processo cumulativo, porque rendas maiores geram poupança e investimento em níveis ampliados. À medida que aumenta os gastos em educação e saúde e que se expande a dimensão dos mercados, aumenta a produtividade do trabalho, gerando maior taxa de crescimento econômico. O crescimento gera economias externas, responsáveis, como as economias de escala, pela redução dos custos médios de produção [...] (MEIER; BALDWIN, 1968, p. 41). A Escola Clássica, assim, muda o enfoque dado pelos mercantilistas e fisiocratas, ao trazer para a discussão a importância da livre iniciativa e reduzir o papel do Estado para o crescimento econômico. O crescimento econômico, para os clássicos, está associado ao pleno emprego dos fatores de produção, maximizando, dessa forma, a taxa de lucros, estimulando o aumento da poupança interna e os investimentos. 22 Universidade do Sul de Santa Catarina Para David Ricardo (1982), economista clássico contemporâneo de Adam Smith, a chave para o crescimento econômico estava na distribuição da riqueza produzida entre os trabalhadores, os capitalistas e os donos da terra, dessa forma a sociedade poderia usufruir de estágios significativos de desenvolvimento. Ainda para Ricardo, a agricultura era um entrave para o crescimento econômico, dada a sua baixa produtividade, além de o crescimento ser prejudicado pelo aumento dos salários dos trabalhadores na agricultura, tornando difícil a contratação de novos trabalhadores produtivos, a aquisição dos meios necessários para a produção, a elevação do nível do produto, tendo comoconsequência o surgimento do estado de estagnação. (SOUZA, 1999). Para Marx, o capitalismo era o responsável pelo não crescimento econômico, dado as suas crises, e a solução seria a economia centralizada, como afirma Filellini: No entender de Marx, o crescimento econômico existiria a partir do fim das crises cíclicas do modelo capitalista, se transformado em uma economia centralizada, com substituição direta do modelo de mercado, sem os malefícios do trabalho assalariado e com a implantação plena da igualdade de condições sociais e econômicas para todos. (FILELLINI, 1994, p.25). Por sua vez, os neoclássicos pensam o crescimento econômico como um ciclo virtuoso da economia, sendo a análise precedida por eles de curto prazo e focada nos aspectos microeconômicos. Assim: “(...) consideravam o desenvolvimento como um processo gradual, contínuo e harmonioso e mostravam-se, em geral, otimistas quanto às possibilidades de um progresso econômico contínuo”. (MEIER; BALDWIN, 1968, p. 09). Dessa forma, as diversas abordagens elencadas objetivaram apresentar como o crescimento econômico foi tratado pelos pensadores econômicos em destaque. Outros pensadores também se debruçaram sobre o tema, porém, entende-se que os citados acima deram maior expressão à temática. 23 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 Seção 2 - Crescimento versus desenvolvimento O crescimento econômico pode ser entendido como uma variável quantitativa, enquanto o desenvolvimento econômico como uma variável qualitativa. Durante algum tempo, os dois termos eram vistos com sentido único, e os acréscimos na riqueza produzida, mensurada pelo Produto Interno Bruto (PIB), era sinal de que um país estava se desenvolvendo. Segundo Souza (1993, p.27), Uma primeira corrente considera crescimento como sinônimo de desenvolvimento; para outros autores, o crescimento é condição indispensável para o desenvolvimento, mas não é condição suficiente. Enquadram-se nessa primeira corrente os modelos de crescimento de tradição neoclássica como o de Meade, ou pós-keynesiana como os de Harrod e Domar. Para os economistas da primeira corrente, um país é subdesenvolvido porque cresce menos do que os desenvolvidos, apesar de possuírem recursos ociosos, como, por exemplo, terra e mão,de,obra. O país mostra- se subdesenvolvido porque não utiliza integralmente os fatores de produção de que dispõe e sua economia cresce abaixo de suas possibilidades. Associados a essa noção, emergem modelos que enfatizam apenas a acumulação de capital, solução simplificadora da realidade, que coloca todos os países dentro da mesma problemática. Ao considerar crescimento e desenvolvimento econômico como o mesmo conceito, as ideias são resumidas em variáveis quantitativas, mensuradas por indicadores também quantitativos, que escondem, por exemplo, a má distribuição de renda. Quando utilizamos indicadores como o PIB e PIB per capita para mostrar o crescimento econômico e também o desenvolvimento econômico, não levamos em conta, por exemplo, a propriedade dos fatores, nem sua nacionalidade, o que pode significar que a riqueza produzida esteja sendo transferida para outros países, ou que os salários estejam muito baixos, entre outros problemas, como afirma Paz e Rodrigues (1972, p.2), apud Sandro Wollenhaupt (2003, p.4): 24 Universidade do Sul de Santa Catarina O desenvolvimento econômico não deve ser confundido com crescimento, porque os frutos dessa expansão podem não estar beneficiando a economia como um todo bem como sua população. Podem estar ocorrendo efeitos perversos, tais como: a) transferência do excedente para outros países; b) apropriação do excedente por poucas pessoas no próprio país; c) os salários continuam extremamente baixos; d) as empresas tradicionais não conseguem desenvolver-se pelo pouco dinamismo do mercado interno; Entendido o crescimento econômico como acréscimos no produto de um país, enquanto o desenvolvimento representa melhora na qualidade de vida da população, como afirma Vasconcelos e Garcia (2004, p.210): Crescimento e desenvolvimento econômico são dois conceitos diferentes. Crescimento Econômico é o crescimento contínuo da renda per capita ao longo do tempo. O Desenvolvimento Econômico é um conceito mais qualitativo, incluindo as alterações da composição do produto e alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, nutrição, educação e moradia). O crescimento tem como fontes (Vasconcelos e Garcia, 2004): o aumento da força de trabalho, do estoque de capital, a melhora na qualidade da mão de obra, nos aspectos tecnológicos e a eficiência organizacional. É a partir da análise desses fatores que se conhece as diferenças de desenvolvimento entre os diferentes países. O crescimento econômico é representado por acréscimos na produção e tem como indicador o aumento no Produto Interno Bruto. O desenvolvimento representa melhora nas condições de vida da população. 25 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 Para alcançar o desenvolvimento, um país precisa crescer, já que isso é condição para o desenvolvimento. Para isso, algumas condições são fundamentais. Entre elas, destaca-se a formação de poupança como forma de financiamento dos investimentos necessários. Na busca por recursos para investimento, um país pode tanto utilizar a poupança interna ou a estrangeira, por meio de empréstimos ou ajuda financeira. Fomentar a poupança interna deve ser prioridade quando se quer alcançar o crescimento, pois dessa forma o país terá recursos para satisfazer as suas necessidades de investimento. Se a poupança doméstica é o pré-requisito para a acumulação de capital, então, a atenção deve ficar voltada para as políticas que incentivem as pessoas a se absterem de parte do consumo presente. (VASCONCELOS; GARCIA, 2004). Outra condição apresentada por Vasconcelos e Garcia (2004), para alavancar o crescimento, é a existência de “um mercado financeiro e de capitais razoavelmente desenvolvidos, sendo assim fator importante na mobilização de recursos das famílias, via intermediários financeiros, para o investimento das empresas.” Nos países pobres, esbarra-se na renda baixa, impedindo que a maioria da população consiga fazer poupança, sendo, muitas vezes, a renda limitada, a qual permite apenas a subsistência. Quando não consegue fazer poupança interna que dê conta das necessidades de investimentos para fomentar o crescimento, o caminho é buscar poupança estrangeira, que pode ser alcançada de três maneiras (VASCONCELOS e GARCIA, 2004): a) Por meio de investimento direto; b) Por meio de empréstimos no mercado financeiro mundial ou nos bancos de fomento como o BIRD- Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento; c) Por meio de ajuda estrangeira de países industrializados. O quadro abaixo mostra uma das formas de atração de poupança estrangeira, que é pelos investimentos diretos: 26 Universidade do Sul de Santa Catarina Investimentos estrangeiros no Brasil atingem US$ 7,7 bilhões em outubro e batem recorde para o mês 22/11/2012 - 17h20 Wellton Máximo - Repórter da Agência Brasil Brasília – Os investimentos das empresas estrangeiras no Brasil bateram recorde em outubro. Segundo dados divulgados hoje (22/11/12), pelo Banco Central (BC), o montante que as empresas internacionais aplicaram no país somou US$ 7,73 bilhões no mês passado, o maior valor registrado para o mês. De acordo com o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, o comportamento dos investimentos estrangeiros diretos está estável em relação a 2011. De janeiro a outubro, as empresas multinacionais investiram US$ 55,306 bilhões no Brasil, praticamente o mesmo valor que os US$ 55,960 bilhões registrados em igual período do ano passado. O técnico do BC ressaltou que os investimentos estrangeirosdiretos estão compensando o rombo nas contas externas brasileiras, que acumula US$ 39,554 bilhões entre janeiro e outubro. “O nível dos investimentos estrangeiros diretos mostra que o financiamento do déficit em transações correntes está sendo feito com qualidade”, ressaltou. Formada pela soma dos saldos da balança comercial, de serviços, de rendas e das transferências unilaterais, a conta de transações correntes mede a dependência do país em relação aos capitais financeiros internacionais e aos investimentos estrangeiros diretos. Se não fossem os investimentos das empresas no Brasil, o país dependeria do capital especulativo de estrangeiros para cobrir o rombo nas contas externas. Rocha informou ainda que, depois do recorde em outubro, os investimentos estrangeiros diretos deverão recuar em novembro. Isso porque uma empresa estrangeira, que não teve o nome divulgado, vendeu a participação no país para um grupo nacional, o que impactou a conta de investimentos estrangeiros líquidos. O nome da empresa não foi revelado, mas o valor da operação foi estimado em US$ 1,5 bilhão. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, o saldo dos investimentos estrangeiros líquidos somou US$ 1 bilhão até o dia 20. Por causa da compra da empresa estrangeira pela brasileira, o BC estima que a conta fechará o mês com saldo positivo de US$ 3 bilhões. Fonte: Agência Brasil, 2012. 27 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 Ainda sobre os índices de desenvolvimento, o gráfico abaixo mostra os investimentos diretos no Brasil, fazendo um comparativo dos últimos quatro anos (2009-2012): Figura 1.1- Investimento estrangeiro direto acumulado no ano Fonte: ITAÚ, 2012. 2.1 Como países com renda per capita baixa podem fomentar a poupança? Essa questão se relaciona ao fato de baixos índices de desenvolvimento estarem associados a países de maioria pobre e de alta concentração de renda. Muitas vezes um país rico, mas que apresenta nível alto de concentração de renda, alcança crescimento econômico, condição para o desenvolvimento, não consegue se desenvolver, porque desenvolvimento não condiz com concentração de renda. Países onde o setor primário é predominante têm como característica forte crescimento econômico, porém, com baixo nível de desenvolvimento. Para identificar e analisar os níveis de desenvolvimento e concentração de renda, faz-se uso de indicadores como o IDH- Índice de desenvolvimento humano, e do Índice de Gini. 28 Universidade do Sul de Santa Catarina Sobre esse índice, ele pode ser conhecido no quadro abaixo, o qual mostra que quanto mais desenvolvido o país menor a concentração de renda. O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um (ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza. Na prática, o Índice de Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos. No Relatório de Desenvolvimento Humano 2004, elaborado pelo Pnud, o Brasil aparece com Índice de 0,591, quase no final da lista de 127 países. Apenas sete nações apresentam maior concentração de renda. (WOLFFENBÜTTEL, 2007). Quadro 1.1 – Exemplos do índice de Gini Posição ranking mundial País Índice 1 Hungria 0,244 2 Dinamarca 0,247 3 Japão 0,249 34 Índia 0,325 67 Portugal 0,385 76 EUA 0,408 90 China 0,447 93 Rússia 0,456 109 Argentina 0,522 112 México 0,546 118 Chile 0,571 119 Colômbia 0,576 120 Brasil 0,591 121 África do Sul 0,593 127 Namíbia 0,707 Fonte: IPEA, 2007. 29 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 Além dos elementos apresentados anteriormente como fundamentais para o desenvolvimento, os autores enfatizam dois fatores estratégicos para que um país alcance o desenvolvimento: o capital humano e o capital físico. O capital humano é o valor do ganho de renda potencial incorporado em cada indivíduo, ou seja, inclui a habilidade inerente à pessoa e seu talento, assim como a educação e as habilidades adquiridas; enquanto o capital físico está relacionado à presença notável de maquinário e de equipamentos sofisticados e abundantes em países ricos, e à sua escassez e ausência em países pobres. Investir na formação dos trabalhadores é um dos grandes diferenciais que os países que lograram alcançar níveis altos de desenvolvimento fizeram. Países como Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, estão entre aqueles que optaram pelo desenvolvimento a partir do fortalecimento do estoque de capital humano, representando acréscimos no estoque de capital físico. A questão do desenvolvimento também passa necessariamente pelas mudanças estruturais de um país. Pensar o desenvolvimento é pensar educação, saúde de qualidade, questões ambientais, infraestrutura, inovação tecnológica, segurança, entre outros pontos. Segundo Bresser Pereira (2008, p.15): O desenvolvimento econômico é um processo histórico deliberado de elevação dos padrões de vida que ocorre dentro de cada Estado-Nação. É o resultado de uma estratégia nacional que tem como líderes os governantes, como principais agentes os empresários e a burocracia do estado, e como forma de realização a acumulação de capital e a incorporação de conhecimento à produção. Em cada estado nacional sua liderança é exercida pelo governo, que age em estreita relação com os cidadãos e particularmente com os empresários no processo de definir políticas econômicas e instituições legais que promovam o investimento e o aumento da produtividade. Por mais que um país apresente crescimento econômico, representado por indicadores como PIB e PIB per capita, não necessariamente esse crescimento vai resultar em melhorias na 30 Universidade do Sul de Santa Catarina qualidade de vida. Ele poderá provocar concentração de renda e de recursos numa região específica do país, resultando em “ilhas de prosperidade”, rodeadas por “ilhas de pobreza e atraso”. 2.2 Subdesenvolvimento As relações econômicas entre os países favorecem, na sua grande maioria, o surgimento de dois tipos de nações: as desenvolvidas e as subdesenvolvidas. Mesmo com todo avanço tecnológico que a humanidade vem desfrutando nos últimos anos, os frutos desse avanço não de distribuem de maneira uniforme, como afirma Furtado (1992, p. 7): “os aumentos de produtividade e assimilação de novas técnicas não conduzem à homogeneização social, ainda que causem a elevação do nível de vida médio da população”. Nos países subdesenvolvidos essa condição é fortalecida pela sua estrutura econômica que, segundo Souza (1995, p.27), “encontra-se compartimentada em um setor de subsistência, um setor de mercado interno e um setor de mercado externo”, que se caracterizam por baixa produtividade, pouca diversidade nos produtos e direcionamento ao mercado externo. Mesmo evoluindo de forma significativa, a economia brasileira ainda é fortemente direcionada ao mercado externo, e tem a sua pauta de exportação baseada fortemente em produtos primários ou semimanufaturados. Quem acompanha o mercado acionário, suas altas e baixas, percebe a influência das commodities no desempenho dos pregões em todo o mundo. As notícias em jornaisou noticiários financeiros, normalmente, são compostas pelas frases: “Bolsas sobem com commodities” ou então, “Commodities derrubam as bolsas”. Por quê? Commodities em inglês significa mercadorias. No mercado financeiro, a palavra refere-se às transações de matéria- prima, agrícola ou mineral, de grande importância para toda a economia internacional. São exemplos de commodities: petróleo, minério de ferro, cobre, café, soja, entre outros. Seus preços são cotados em dólar e os contratos de compra e venda são negociados nas bolsas internacionais. Sendo assim, elas representam recursos fundamentais para a produção industrial e 31 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 para o consumo de qualquer economia, e a oscilação em sua cotação tem influência direta nos fluxos financeiros internacionais. (INVESTBOLSA, 2008). Veja o gráfico abaixo, que mostra as principais exportações brasileiras no período 2009-2010, focadas, principalmente, em commodities. Figura 1.2 – Valor e participação de algumas commodities na pauta de exportações 02 - c ar ne s 08 - f ru ta s 09 - c afé 10 - c er ea is 12 - s oja 15 - g or du ra s e ól eo s a nim ais e ve ge ta is 16 - p re pa ra çõ es de ca rn es 17 - a çú ca r 20 - p re pa ra çõ es de pr od ut os ho rtí co las 21 - p re pa ra çõ es al im en tíc ias di ve rsa s 23 - r es ídu os da s i nd ús tri as al im en ta res 24 - f um o 26 - m iné rio s, es có ria s e ci nz as 28 - p ro du to s q uím ico s i no rg ân ico s 47 - p ap el 52 - a lgo dã o 74 - c ob re 76 - a lum íni o Valor exportado (2009) Valor exportado (2010) Participação (2009) Participação (2010) US m ilh õe s 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Pa rti cip aç ão no to ta l e xp or ta do Fonte: IPEA, 2010. Nos países que têm importância forte o setor primário e grande parte da produção desse setor é direcionada à exportação, a pauta de importação está fortemente atrelada a produtos manufaturados de alto valor agregados, assim, corre-se o risco de que as relações de trocas fiquem deterioradas, pois é necessário vender muito para comprar uma quantidade pequena. Para explicar essa relação, Raul Prebisch cria a teoria das relações trocas deterioradas. 32 Universidade do Sul de Santa Catarina 2.2.1 Principais expoentes dos estudos sobre o subdesenvolvimento no Brasil Celso Furtado, economista brasileiro que figurou entre os grandes pensadores da CEPAL (Comissão Econômica para America Latina e Caribe), fez uma abordagem crítica em relação à temática do desenvolvimento e do subdesenvolvimento, conceitos que estão vinculados entre si. Nessa perspectiva, segundo Furtado (2009, p.30), “o desenvolvimento no mundo todo tende a criar desigualdades. É uma lei universal inerente ao processo de crescimento: a lei da concentração”. Celso Furtado parte da premissa levantada por Raul Prebisch, economista argentino e membro da Cepal, de que o capitalismo é “um processo de difusão do progresso técnico, difusão irregular, comandada pelos interesses das economias criadoras de novas técnicas”. (Furtado, 1992, p.5). Partindo dessa afirmação, pode-se entender o porquê dos desequilíbrios entre países e mesmo entre regiões, como no caso da América Latina e na sua relação com os países desenvolvidos. Mesmo internamente aos países, temos diferenças significativas, em que se observa o desenvolvimento e o subdesenvolvimento convivendo “pacificamente”, de forma que as diferenças parecem se atenuar à medida que se avança tecnologicamente. Dessa forma, a difusão da “riqueza” não se dá de maneira uniforme. Para Furtado (1992, p.8), “o subdesenvolvimento é um desequilíbrio na assimilação dos avanços tecnoló gicos produzidos pelo capitalismo industrial a favor das inovações que incidem dire tamente sobre o estilo de vida.” Para usufruir desses avanços, faz-se necessário uma forte dominação e estratificação pelas classes dominantes, como afirma Furtado (1992, p.9): A teoria do subdesenvolvimento, entre muitas coisas, mostra claramente que para manter o nível de consumo das classes mais ricas brasileiras, níveis e padrões de consumo que tendem a imitar os padrões de consumo das altas classes dos países centrais, há a necessidade de reforçar as estruturas de dominação e estratificação existentes. Com isso permite-se a uma privilegiada parcela da população, usufruir da maior parte do produto nacional, causando uma repartição extremamente perversa e desigual, porém necessária para a manutenção do status quo. 33 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 Sendo assim, tem-se claro que para vencer o subdesenvolvimento é necessária vontade política. O Estado deve assumir um papel fundamental no processo de superação do subdesenvolvimento, o que, para Furtado (1992), é possível, principalmente, por intermédio de ações referentes a políticas públicas e econômicas, direcionadas à superação do subdesenvolvimento. Ao elencar ações para a superação do subdesenvolvimento, Celso Furtado utiliza exemplos da Coreia do Sul e Taiwan, países que têm elevado nível de homogeneidade social: As experiências referidas nos ensinam que a homogeneização social é condição necessária, mas não suficiente para alcançar a superação do subdesenvolvimento. Segunda condição necessária é a criação de um sistema produtivo eficaz, dotado de relativa autonomia tecnológica, o que requer: (a) descentralização de decisões que somente os mercados asseguram; (b) ação orientadora do Estado dentro de uma estratégia adrede concebida; e (c) exposição à concorrência internacional. Também aprendemos que para vencer a barreira do subdesenvolvimento não se necessita alcançar os altos níveis de renda por pessoa dos atuais países desenvolvidos. (FURTADO, 1992, p.15). Para conhecer mais sobre a teoria de Celso Furtado, leia o artigo O subdesenvolvimento revisitado, na obra Economia e Sociedade, de 1992, indicado no Saiba Mais desta unidade. Outros pensadores também se debruçaram sobre o tema do subdesenvolvimento, como Raul Prebisch, ao apontar três questões importantes, como seguem: 1) Uma tal estrutura entorpece consideravelmente a mobilidade social, isto é, a origem e o crescimento dos elementos dinâmicos da sociedade, dos homens com iniciativa e energia, capazes de assumir riscos e responsabilidades, tanto na técnica e na economia quanto nos outros aspectos da vida coletiva; 34 Universidade do Sul de Santa Catarina 2) A estrutura social se caracteriza em grande parte pelo privilégio na distribuição da riqueza e, assim, da renda; o privilégio debilita ou elimina o incentivo à atividade econômica, em detrimento do emprego eficaz dos homens, das terras e das máquinas; 3) Esse privilégio distributivo não se traduz em forte ritmo de acumulação de capital, a não ser em formas exageradas do consumo nas camadas superiores da sociedade em contraste com a precária existência das massas populares. (PREBISCH, 1963, p. 12). Para Prebisch, a estrutura social predominante na América Latina, na sua condição periférica, apresenta forte entrave ao progresso técnico e ao desenvolvimento econômico e social. Outro pensador brasileiro que contribuiu de maneira importante para a discussão do subdesenvolvimento brasileiro foi Florestan Fernandes. Na sua relação econômica com outros países, especificamente os desenvolvidos, o Brasil assume um papel de produtor de excedentes, atuando de forma subsidiária. Conforme Fernandes (1968, p. 36-37), o Brasil se torna uma plataforma de produção de excedente econômico a ser apropriado por nações e capitais imperialistas: Trata-se de uma economia de mercado capitalista constituída para operar, estrutural e dinamicamente: como uma entidade especializada, ao nível da integração do mercado capitalista mundial; como uma entidade subsidiária e dependente, ao nível das aplicaçõesreprodutivas do excedente econômico das sociedades desenvolvidas; e como uma entidade tributária, ao nível do ciclo de apropriação capitalista internacional, no qual ela aparece como uma fonte de incrementação ou de multiplicação do excedente econômico das economias capitalistas hegemônica. Essa relação dependente é danosa para o país, pois impede, dessa forma, o desenvolvimento, condenando, assim, todos os esforços que são feitos no sentido de sair da condição de subdesenvolvido. 35 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 Nesse contexto, Florestan Fernandes (1981, p.16) inaugura a era da discussão sobre capitalismo dependente na América Latina. As influências externas atingiram todas as esferas da economia, da sociedade e da cultura, não apenas através de mecanismos indiretos do mercado mundial, mas também através de incorporação maciça e direta de algumas fases dos processos básicos de crescimento econômico e de desenvolvimento sociocultural. Assim, a dominação externa tornou-se imperialista, e o capitalismo dependente surgiu como uma realidade histórica na América Latina. A teoria do capitalismo dependente de Florestan e a teoria do subdesenvolvimento de Furtado são convergentes ao desacreditarem no subdesenvolvimento como condição preliminar para o desenvolvimento. Como Prebisch e outros pensadores cepalinos, Florestan Fernandes elenca elementos importantes para a condição dependente da América Latina, considerados por ele entraves permanentes ao desenvolvimento: Os países latino-americanos enfrentam duas realidades ásperas: 1) estruturas econômicas, socioculturais e políticas internas que podem absorver as transformações do capitalismo, mas que inibem a integração nacional e o desenvolvimento autônomo; 2) dominação externa que estimula a modernização e o crescimento, nos estágios mais avançados do capitalismo, mas que impede a revolução nacional e uma autonomia real. Os dois aspectos são faces opostas da mesma moeda (FERNANDES, [1973] 1981, p. 26). Resumindo, de acordo com Florestan, a situação política, social e econômica dos países da periferia tem como características a polarização social, a baixa autonomia, a dependência ao mercado externo e forte exportação de excedente, sendo resultado da crescente expansão internacional do capital para as regiões periféricas. Isto é de fato um fator sistêmico e determinante externo da dependência e do subdesenvolvimento. 36 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Nesta unidade, você estudou os conceitos de crescimento e desenvolvimento econômico em suas diferentes abordagens. Evidenciou-se a diferença entre o crescimento e desenvolvimento econômico, incluindo os indicadores utilizados para a mensuração de ambos, o conceito de desenvolvimento e as questões estruturais pertinentes ao tema. Estudamos também o subdesenvolvimento econômico e as suas diversas abordagens. Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) Sobre o desenvolvimento econômico e sua abordagem é incorreto afirmar que: a. ( ) É um processo histórico deliberado de elevação dos padrões de vida que ocorre dentro de cada Estado-Nação. b. ( ) Assume o mesmo conceito de crescimento econômico, pois as variáveis analisadas são as mesmas. c. ( ) A presença de crescimento econômico em um país não garante desenvolvimento econômico. d. ( ) Ao considerar crescimento e desenvolvimento econômico como o mesmo conceito, as ideias são resumidas em variáveis quantitativas, mensuradas por indicadores também quantitativos, que escondem, por exemplo, a má distribuição de renda. e. ( ) Uma das condições para que um país se desenvolva é a formação de poupança como forma de financiamento dos investimentos necessários. 37 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 1 2) Diferencie desenvolvimento econômico de crescimento econômico. 3) A partir dos elementos levantados por Florestan Fernandes, explique como pode ser caracterizado o desenvolvimento do Brasil e da América Latina. 38 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade ao consultar as seguintes referências: FILELLINI, Alfredo. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. São Paulo: EDUC, 1994. FURTADO, Celso. O subdesenvolvimento revisitado. Economia e Sociedade. No1. Agosto 1992. GARCIA, Manuel Enriquez; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Fundamentos de economia. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. KUNTZ, Rolf (ORG.). François Quesnay: economia. São Paulo: Ática, 1984. 192 p. KUNTZ, Rolf. Capitalismo e natureza: ensaio sobre os fundadores da economia política. São Paulo: Brasiliense, 1982. 139 p. MEIR, G. M.;BALDWIN, R. E. Desenvolvimento econômico. São Paulo: Mestre Jou, 1968. NAPOLEONI, C. Smith, Ricardo, Marx. 8 ed. Rio de Janeiro: Biblioteca de Economia, 2000. PAZ, Pedro, RODRIGUES, Octávio. Modelos de crescimento econômico. Rio de Janeiro: Forum, 1972. SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento econômico. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1999. VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, M. E. Fundamentos da economia. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 2 Objetivos de aprendizagem � Aprofundar os conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento. � Analisar a contribuição teórica das diferentes escolas do pensamento econômico e sociológico sobre o desenvolvimento econômico. Seções de estudo Seção 1 Fatores que desencadearam o processo de desenvolvimento Seção 2 Interpretação marxista do desenvolvimento Seção 3 Interpretação schumpeteriana do desenvolvimento Seção 4 Interpretação keynesiana do desenvolvimento UNIDADE 2 Abordagem histórica do processo de desenvolvimento 40 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade, apresentamos os principais fatores que contribuíram para desencadear o processo de desenvolvimento econômico, as contribuições marxista, keynesiana, schumpeteriana e de Kalecki para o aprofundamento dos estudos dessa temática. Para entender o processo de desenvolvimento pelo qual passaram as diferentes nações, é importante olhar para trás, numa perspectiva histórica. Os avanços pelos quais a sociedade mundial passou a partir da Revolução Industrial são incontestáveis, o que nos permite dizer que nessa perspectiva pode-se dividir a humanidade em dois períodos: antes e depois da Revolução Industrial. Seção 1 - Fatores que desencadearam o processo de desenvolvimento O processo de desenvolvimento se dá a partir das grandes navegações e do descobrimento de vários países, o que permitiu o surgimento de novos produtos e ao mesmo tempo ganhos econômicos, por meio do comércio que se desenvolveu. Alguns fatores foram importantes para fortalecer esse processo, como apresentamos abaixo. 1.1 O fim do feudalismo O primeiro fator que desencadeou o desenvolvimento certamente foi o fim do feudalismo, modo de organização social que, devido à ênfase nas relações de troca e na produção de subsistência e 41 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 ausência do comércio, impedia o desenvolvimento das forças produtivas e, dessa forma, o crescimento econômico. Segundo Souza (1995, p.33), “no interior dos feudos, o regime, ao mesmo tempo em que proporcionava estabilidade social, constituía-se em um imobilismo secular, prejudicial ao desenvolvimento das forças produtivas”. O comércio vai ser o elemento mais importante na derrocada do feudalismo e na passagem para novas fases, o renascimento e o mercantilismo que, segundo Souza (1995), permitiram alcançar novos horizontes e deram origem à uma modificação social na Europa. 1.2 A Revolução Industrial Inglesa O advento da Revolução Industrial Inglesa determinou o avanço na produção industrial e o surgimentode novas tecnologias, permitindo o incremento nos transportes e na atividade agrícola, tendo efeito direto sobre os custos de produção e o aumento da oferta de bens e serviços, que vão culminar na redução dos preços e no acesso de uma gama maior de bens e serviços pela população. Os principais fatores que permitiram o desenvolvimento da Revolução Industrial pela Inglaterra foram (SOUZA, 1995): � O comércio permitiu à Inglaterra o acúmulo de capitais, favorecido por um sistema de créditos originados com a fundação do Banco da Inglaterra, o que vai favorecer o aumento do comércio internacional; � A posse de propriedades rurais pelos capitalistas permitiu a expansão da atividade agrícola, o aumento da produtividade e ao mesmo tempo o êxodo rural; � O aumento da população, que vai se dar em função da melhora da atividade agrícola, gerou um aumento da produção de alimentos e melhoria na qualidade da produção agrícola; 42 Universidade do Sul de Santa Catarina � O comércio marítimo, dado a condição geográfica da Inglaterra; � A existência de grandes jazidas de carvão, que vão passar a ser utilizadas a partir do surgimento da máquina a vapor, permitiu a redução nos custos de transportes; � O uso do carvão nas siderúrgicas e na indústria permitiu o barateamento do processo produtivo do aço e o aumento da produtividade dos trabalhadores. Outros fatores ainda poderiam ser elencados, como o aumento da renda per capita e das taxas de lucros, o crescimento da população nas áreas urbanas, a abertura de novos mercados externos e a melhora nos processos produtivos no setor têxtil, como a introdução da fiandeira volante e da máquina de fiar, a produção em galpões, entre outros. Segundo Souza (1995, p.36), “O crescimento da renda estimulava o consumo, os investimentos e a adoção de inovações técnicas, fechando o círculo dinâmico do crescimento”. O Estado também foi fundamental para o desenvolvimento inglês, ao criar “regulamentação comercial, a proteção internacional de interesses privados ingleses, como a abertura e preservação de novos mercados; [..] evitar a queda da taxa de lucros e, então, do ritmo dos investimentos” (SOUZA, 1995, p.36). Aqui temos um grande paradoxo, pois no berço das teorias liberais da Escola Clássica, que defendia o Estado mínimo, e do capitalismo moderno, o Estado tem papel importante no fortalecimento da Revolução Industrial inglesa. 1.3 O surgimento dos EUA como nova potência industrial Alguns aspectos foram importantes para o declínio do papel da Inglaterra como potência industrial nessa época, principalmente o surgimento de concorrentes, destacando-se os Estados Unidos, acompanhados da Alemanha e do Japão, que começam a usufruir dos avanços proporcionados pela Revolução Industrial Inglesa, já difundidos para outros países. 43 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 Com a busca da Inglaterra por novas áreas para negócios e expansão econômica, forçada pelo seu crescimento demográfico, que demandava uma produção sempre maior de alimentos, as conquistas coloniais foram a saída encontrada para a necessidade de terra fértil e em grande quantidade. Nessa busca, os imigrantes ingleses encontram as terras americanas, férteis e em grande quantidade. Segundo Souza (1995), os imigrantes levavam, além da vontade de trabalhar, conhecimento e capital, fatores determinantes para a revolução industrial americana. Porque a colonização americana pelos ingleses oportunizou o desenvolvimento americano, ao contrário de outros países, como a Índia, que foi colonizada pelos ingleses e não alcançou o desenvolvimento? A diferença está na forma de colonização, pois enquanto nos Estados Unidos os ingleses foram para ficar, estabeleceram aí sua nova vida; na Índia, a colonização tinha como objetivo explorar os recursos produtivos e enviar para a metrópole, no caso, a Inglaterra. Os Estados Unidos, portanto, vão se beneficiar dos avanços tecnológicos criados na Inglaterra, e isso será fundamental no desenvolvimento americano, como afirma Tauile (2001, p.22): A revolução industrial, que surgiu e se desenvolveu inicialmente na Europa Setentrional, mais precisamente centrada na Inglaterra, foi um importante fator para trazer ao continente americano, em especial para os Estados Unidos, as “sementes” dessa nova revolução tecnológica. A colonização norte-americana foi condicionada por um conjunto de características que fizeram não apenas com que o desenvolvimento do capitalismo nos Estados Unidos se desse de maneira extremamente vigorosa - na virada para o século XX, a produção industrial americana já era maior do que a da Inglaterra -, como também que surgisse uma série de novas peculiaridades na dinâmica do capitalismo moderno. 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Esses avanços vão fazer com que os Estados Unidos sejam o destino de 27,8 milhões de pessoas no período de 50 anos, que vai de 1880 a 1930, impactando consideravelmente o desenvolvimento da Revolução Industrial Americana. São fatores determinantes da Revolução Industrial Americana (SOUZA, 1995, p.38): 1. As inovações tecnológicas: Fortes transformações vão se dar na agricultura, principalmente na produção de algodão, que vai alimentar de matérias primas o setor têxtil da Inglaterra, tornando-se o principal produto exportado pela economia americana. A inovação não fica restrita ao algodão, alcançando outros setores da atividade agrícola, como os secadores de cereais, os debulhadores de milho e os semeadores de trigo. 2. A introdução de métodos científicos no cultivo e na criação de animais. 3. A democratização do acesso à terra. Na questão da terra, o acesso foi democratizado por meio do Homestead Act de 1862. Conforme Veiga (1991, p. 60): A promulgação da famosa Homestead Law, que procurava facilitar a distribuição de lotes de 160 acres (64,75 ha), ocorreu em 1862, quando a rebelião do sul deu maioria no Congresso ao jovem partido Republicano, emanação dos meios industriais e financeiros do nordeste, francamente partidários da free land. A democratização do acesso a terra permitiu aos Estados Unidos ter uma base agrícola bem distribuída e de base familiar, o que lança as bases para um forte desenvolvimento, consolidando a revolução agrícola americana e permitindo o crescimento da renda dos agricultores. O crescimento da renda agrícola, devido aos assentamentos de colonos e às transformações da agricultura, assim como a expansão industrial urbana, fruto das inovações tecnológicas ocorridas na agricultura, favoreceu o setor de mercado interno (SOUZA, 1995, p.39) 45 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 Outros fatores ainda devem ser considerados, como a revolução nos transportes e o crescimento da renda agrícola, que vão influenciar o crescimento do mercado interno e irão acontecer de forma simultânea com o crescimento das exportações. Mesmo com todo o desenvolvimento que o Estados Unidos aufere, esse país não vai ficar imune às crises, como a Grande Depressão ocorrida nos anos 1930, que vai demonstrar o que Marx chama de contradições do capitalismo. A expansão súbita e intermitente da escala de produção é o pressuposto de sua contração súbita; a contração provoca novamente a expansão, mas essa é impossível sem material humano disponível, sem multiplicação dos trabalhadores independente do crescimento absoluto da população (MARX, 1984, p. 201). Devido às suas crises e aos aspectos inerentes ao seu desenvolvimento, vão se constituir nos Estados Unidos diferenças significativas entre as regiões. Assim, o Sul não teve acesso ao mesmo nível de desenvolvimento da média americana, sendo que alguns estados do Sul (SOUZA, 1995, p.41), “tinham renda per capta de 50% da renda do país.” 1.4 O Japão como modelo de desenvolvimento Quando se pensa em um país modelo de desenvolvimento geralmente se associa ao Japão essa qualidade. O primeiro passo para o desenvolvimento japonês foi o fim do Xogunato,também conhecido pelos governos militares, em 1986, como o movimento chamado Restauração Meiji. Segundo Brandão (1998, p. 28), as forças do “Xogum” eram compostas por 80.000 hatamotos (soldados fortemente armados) que serviam para estabelecer a “paz” interna a qualquer eventual conflito. Desse modo, o período Tokugawa corresponde ao fortalecimento da unidade nacional japonesa ao impor uma capital (Tóquio), que deveria abrigar a família de todos os Xoguns. A consequência foi a formação de um centro comercial e cultural “nacional”. 46 Universidade do Sul de Santa Catarina Ao mesmo tempo em que favorecia a unidade nacional, o Xogunato fechava o Japão às influências externas, mantinha a concentração de terra nas mãos da Familia Tokugawa, que exercia o Xogunato. (SOUZA,1995). A restauração Meiji vai permitir ao país a abertura ao ocidente, a abolição do sistema feudal, as mudanças na posse da terra e a contínua abertura dos portos. “A Restauração Meiji transformou em duas décadas o Japão num mais moderno” (JANEIRA, 1985, p. 34). A restauração Meiji A era Meiji (1868-1912) representa um dos períodos mais notáveis da história das nações. Sob o reinado do imperador Meiji, o Japão realizou, em apenas algumas décadas, o que levou séculos para se desenvolver no Ocidente - a criação de uma nação moderna, com indústrias modernas, instituições políticas modernas e um modelo moderno de sociedade. Nos primeiros anos de seu reinado, o imperador Meiji transferiu a capital imperial de Kyoto para Edo, sede do governo feudal anterior. A cidade foi rebatizada de Tóquio, que significa “Capital Oriental”. Foi promulgada uma Constituição, que estabelecia um gabinete e uma legislatura bicameral. Foram abolidas as velhas classes nas quais a sociedade havia sido dividida durante a era feudal. O país inteiro lançou-se, com energia e entusiasmo, ao estudo e à adoção da moderna civilização ocidental. A Restauração Meiji assemelhou-se ao rompimento de um dique atrás do qual haviam se acumulado as energias e forças de séculos. A onda e o fermento provocados pela súbita liberação dessas energias se fizeram sentir no exterior. Antes do final do século XIX, o país envolveu-se na Guerra Sino-Japonesa de 1894- 95, que terminou com a vitória do Japão. Uma das consequências da guerra, por parte do Japão, de Taiwan, na China. Dez anos depois, na Guerra Russo-Japonesa de 1904-05, o Japão saiu vitorioso mais uma vez, conquistando a ilha Sakalina do Sul, que havia sido cedida à Rússia em 1875, em troca das Ilhas Kurilas, e teve reconhecido seu interesse especial na Manchúria. Após ter excluído outras potências de exercer qualquer influência sobre a Coreia, o Japão, primeiramente, tornou-a seu protetorado, em 1905, e depois anexou-a em 1910. 47 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 Seção 2 - Interpretação marxista do desenvolvimento O ponto de partida para entender a teoria marxista do desenvolvimento econômico é o “materialismo dialético”. Para Marx, a história da humanidade se dá em função da forma como os indivíduos satisfazem suas necessidades materiais por meio do trabalho. Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo – braços e pernas, cabeça e mãos -, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo, modifica sua própria natureza. (MARX, [1988] 2002, p.211). Começa, assim, a construção da teoria do valor trabalho por Marx, a partir das premissas levantadas por Adam Smith, segundo ele,o valor de um bem dependia da quantidade de trabalho necessário para a sua produção, ou seja, “os bens contêm O imperador Meiji, cujo governo ilustrado e construtivo ajudou a conduzir a nação durante as décadas dinâmicas de transformação, morreu um 1912, antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial. No final dessa guerra, na qual o Japão entrou sob as cláusulas da Aliança Anglo-Japonesa de 1902, o país foi reconhecido como uma das grandes potências do mundo. O imperador Taisho, que sucedeu o imperador Meiji, foi sucedido, por seu turno, pelo imperador Hirohito, em 1926, e começou a era Showa. Fonte: HISTÓRIA. Embaixada do Japão no Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.rio.br.emb-japan.go.jp/caracteristicas/historia.htm>. Acesso em: 12 mar. 2013. http://www.rio.br.emb-japan.go.jp/caracteristicas/historia.htm 48 Universidade do Sul de Santa Catarina certa quantidade de trabalho que permutamos por aquilo que, na ocasião, supomos conter o valor de uma quantidade igual.” (SMITH, 1988, p.36). Ao diferenciar valor de uso do valor de troca, Marx reforça a importância das trocas para o desenvolvimento econômico, sendo que elas têm a “função de desafogar os estoques e dinamizar a produção.” (SOUZA, 1995, p.77). Assim, quanto maior forem as trocas na economia, maior tende a ser o nível de produção, que vai determinar de forma significativa a utilização dos fatores produtivos capital, trabalho, recursos naturais e de inovação. Marx vai chamar de relações de produção “ a interação entre as técnicas de produção e a organização socioeconômica da sociedade, que vão compreender a organização do trabalho, suas qualificações, conhecimento, processos e o estado geral da técnica” (SOUZA, 1995, p.77). Para isso, ele parte da ideia de que as relações entre capitalistas e trabalhadores caracterizam uma relação social, e que os antagonismos dessas duas classes emergem das contradições internas do sistema capitalista. O antagonismo existente entre trabalhadores e capitalistas vai determinar a organização e o fortalecimento da classe trabalhadora, visando a modificar a situação existente. Com o desenvolvimento da indústria, o proletariado não apenas se multiplica; concentra-se em massas cada vez maiores, sua força aumenta e ele sente mais tudo isso. Os interesses, as condições de existência no interior do proletariado igualam-se cada vez mais à medida que a maquinaria elimina todas as distinções de trabalho e reduz, quase por toda parte, os salários a um mesmo nível baixo. A crescente concorrência dos burgueses entre si e as crises comerciais que disso resultam tornamos salários dos operários cada vez mais instáveis; o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna as condições de vida do operário cada vez mais precárias; as colisões entre o operário singular e o burguês singular assumem cada vez mais o caráter de colisões entre duas classes. Os operários começam a formar coalizões contra os burgueses; reúnem-se para defender seus salários. Chegam até mesmo a fundar associações permanentes para estarem precavidos no caso de eventuais sublevações. Aqui e ali a luta explode em revoltas (MARX; ENGELS, 1998, p. 74). 49 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 A organização do proletariado vai ensejar uma resposta por parte dos capitalistas, que se manifesta na melhora das relações de trabalho e no acesso a direitos trabalhistas aos trabalhadores. Seção 3 - Interpretação schumpeteriana do desenvolvimento As transformações ocorridas na economia mundial, nas últimas décadas, trazem à tona as ideias de um economista que contribuiu de forma significativa para a temática do desenvolvimento: Joseph Alois Schumpeter. Schumpeter coloca em evidência na sua teoria o papel das inovações, resultado do incremento que a tecnologia vem desempenhando no processo de desenvolvimento econômico. Segundo ele, as inovações são determinadas a partir dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e são incorporadas pelos consumidores à medida que são ofertadas. As inovações no sistema econômico não aparecem, via de regra, de tal maneiraque primeiramente as novas necessidades surgem espontaneamente nos consumidores e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão. Não negamos a presença desse nexo. Entretanto, é o produtor que, igualmente, inicia a mudança econômica, e os consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar. Portanto, apesar de ser permissível, e até mesmo necessário, considerar as necessidades dos consumidores como uma força independente e, de fato, fundamental na teoria do fluxo circular, devemos tomar uma atitude diferente quando analisamos a mudança (SCHUMPETER, 1988, p. 48). Essas mudanças vão originar as inovações, que são características do “empresário inovador”, ou seja, daquele tipo de empresário que adota “novas cominações produtivas” e coloca-as em prática. 50 Universidade do Sul de Santa Catarina O empresário, nesse caso, seria a figura central no processo de dinamizar a economia e colocar para a sociedade as inovações, para que elas não fiquem ociosas, “pois se não forem postas em prática, permanecem economicamente relevantes” (SOUZA, 1995, p.113). Para definir o indivíduo que possui perfil de empresário, Possas (1987, p. 175) afirma que “o empresário não se confunde com o capitalista nem constitui uma classe, podendo exercer qualquer função numa firma. Não é necessariamente proprietário ou acionista, embora a classe capitalista seja nutrida por empresários bem-sucedidos”. E a sua função primordial seria colocar no mercado as inovações, assumindo, assim, o papel de líder econômico. Na visão de Schumpeter (1988, p. 48-49), as inovações podem ser definidas como: Introdução de um novo bem, ou seja, um bem com que os consumidores ainda não estejam familiarizados ou de uma nova qualidade de um bem. Introdução de um novo método de produção, ou seja, um método que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação, que, de modo algum, precisa ser baseado numa descoberta cientificamente nova, e pode consistir também em nova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria. Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha existido antes ou não. Conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vez independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada. Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio (por exemplo, pela trustificação) ou a fragmentação de uma posição de monopólio. Dessa forma, Schumpeter traz à tona a importância das inovações tecnológicas e do empresário para o processo de desenvolvimento econômico. 51 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 Ainda na perspectiva do desenvolvimento, outro elemento importante para que o empresário possa realizar as suas atividades, para Schumpeter, seria o crédito. Segundo Souza (1995, p.113), “conceder crédito ao empresário significa emitir uma ordem ao sistema econômico, em consonância com os anseios do empresário, no sentido de criar capacidade produtiva adicional”. O crédito assume, portanto, uma função importante na teoria schumpeteriana. O capital passa a ser um bem econômico especial, que necessita de um mercado definido. Surge, então, o mercado monetário ou de capitais, que além de ter um produto específico, também tem funções diferentes de outros mercados. (...) a função principal do mercado de monetário ou de capital é o comércio de crédito com o propósito de financiar o desenvolvimento. O desenvolvimento cria e alimenta esse mercado. No curso do desenvolvimento lhe é atribuída ainda uma outra, ou seja, terceira função: ele se torna mercado das próprias fontes de rendimentos (SCHUMPETER, 1988, p. 86). Outro aspecto importante elencado por Schumpeter que contribui para o desenvolvimento econômico de uma sociedade seria o processo de “destruição criadora”, que surge a partir da existência das inovações e tem como princípio a eliminação de empresas não inovadoras, que por serem ineficientes e crescerem a uma taxa menor, acabam desaparecendo do mercado. (SOUZA, 1995). O lucro do empresário assume um papel essencial dentro dinâmica do desenvolvimento econômico, como propulsor e motivador das inovações. E quando se leva em consideração o sistema capitalista, Sem o desenvolvimento não há nenhum lucro, sem lucro não há nenhum desenvolvimento. Para o sistema capitalista deve ser acrescentado ainda que sem lucro não haveria nenhuma acumulação de riqueza. Ao menos não haveria grande fenômeno social que temos em vista – este é certamente uma conseqüência do desenvolvimento e, de fato, do lucro (SCHUMPETER, 1988, p. 103). 52 Universidade do Sul de Santa Catarina O grande legado de Schumpeter foi o de definir a inovação como elemento fundamental para o desenvolvimento, e o empresário “empreendedor” como elemento importante na difusão das inovações geradas. Seção 4 - Interpretação keynesiana do desenvolvimento A abordagem keynesiana do desenvolvimento está centrada na macroeconomia do pleno emprego, nos fatores de crescimento do investimento e nos seus impactos sobre o emprego e a renda. A partir da crise de 1930, a teoria macroeconômica clássica, representada pela lei de Say, segundo a qual toda a oferta cria a sua demanda, cai por terra, dando lugar a uma ação mais efetiva do Estado nos rumos da economia. Para a economia sair da crise, fazia-se necessário a redução do nível de desemprego e o aumento da produção, e segundo Keynes (1982), isso só aconteceria a partir da ação do Estado, uma vez que o mercado seria incapaz de alcançar o pleno emprego. Um dos pontos importantes levantados por Keynes e não considerados pelos economistas clássicos foi o desemprego involuntário. Como as empresas não conseguem reduzir os salários, item importante nos seus custos, nos momentos de baixa demanda começam a fazer demissões para adequar a produção à demanda do mercado. Dessa forma, as demissões realizadas passam a ser um freio ao crescimento da demanda e à elevação dos preços. Assim, não se atinge o pleno emprego por insuficiência de demanda (SOUZA, 1995). 53 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 O tema central da análise keynesiana é o estudo das causas das flutuações da produção, da renda e do emprego. A seguir, apresentam-se elementos importantes pensados por Keynes, entre os quais se destaca: � A demanda efetiva: determina o volume de emprego na economia, diferentemente do apregoavam os clássicos. Para esses últimos, a oferta era o elemento dinâmico da economia, conforme a lei de Say. Keynes (1982, p.59) define o que vem a ser a demanda efetiva como “(...) simplesmente a renda agregada (ou produto) que os empresários esperam receber, incluídas de rendas que fazem passar às mãos dos outros fatores de produção, por meio do volume de emprego corrente que resolvem conceder”. � As expectativas dos agentes econômicos: por meio da política monetária e fiscal, o governo age sobre as expectativas dos agentes econômicos, influenciando diretamente o nível dos investimentos. � O grau de confiança: o grau de confiança dos empresários é uma componente psicológica importante apontada por Keynes, pois influencia as flutuações econômicas e, mais especificamente, o nível de emprego. � A propensão marginal a consumir: quanto melhor forem as expectativas dos agentes econômicos quanto ao futuro, maior tende a ser a propensão marginal a consumir, ou seja, o consumo é uma função crescente da renda. � Os investimentos: têm papel importante na economia keynesiana. Eles que dependem do crescimento da população, das inovações no processo produtivo e do incentivo a investir. Dessa forma, quanto maior aeficiência marginal do capital, maior tende a ser o nível de investimentos na economia por parte dos empresários. � Incerteza e risco: são dois componentes importantes na análise keynesiana, sendo que a estabilidade das instituições, o aumento da eficiência e a abertura de novos mercados reduzirá o grau de incerteza e risco e aumentará o nível de investimentos na economia. 54 Universidade do Sul de Santa Catarina Cabe destacar que a análise keynesiana é uma abordagem de curto prazo, não descrevendo a trajetória da economia no longo prazo, como a teoria do desenvolvimento exige. Nesse sentido, a abordagem pós-keynesiana vai se preocupar em analisar a economia no longo prazo. A abordagem pós-keynesiana, especificamente de Harrod e Domar, tinha como preocupação, segundo Souza (1995, p.101), “(...) saber como manter o crescimento persistente sem inflação ou deflação”. Objetiva, dessa forma, encontrar um nível de crescimento compatível com o pleno emprego, em uma economia em expansão. Segundo Bresser Pereira (1975, p. 9-10): O modelo Harrod-Domar foi o primeiro modelo específico de crescimento a ser elaborado. Sem dúvida, Ricardo, Marx e Schumpeter já haviam elaborado modelos de desenvolvimento. E na obra de outros economistas já estavam contidos modelos de desenvolvimento, mas nunca sob a forma explícita e precisa do modelo Harrod-Domar. Mais importante que essa prioridade no tempo, porém, este modelo apresenta uma característica que o torna notável: sua extrema simplicidade. Está baseado em dois conceitos básicos: do lado da oferta agregada, na relação marginal produto-capital, ou seja, em quanto aumenta a produção ou a oferta global, quando, através do investimento, aumenta de uma unidade o estoque de capital; e do lado da demanda, no propensão marginal a poupar, ou seja, em quanto aumenta a poupança, quando aumenta de uma unidade a renda ou demanda agregada. Ainda segundo o mesmo autor (1975, p.12) Este modelo extremamente simples está baseado em uma concepção de fio da navalha do crescimento. O processo de desenvolvimento, nesses termos, é eminentemente instável Existe apenas uma taxa de crescimento dos investimentos e da renda que assegura o equilíbrio, e, dentro de uma perspectiva tipicamente keynesiana, não há nenhum mecanismo automático que garanta o crescimento àquela taxa. 55 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 Harrod, em seu modelo, faz a distinção entre poupanças e investimentos planejados e poupanças e investimentos realizados, afirmando que a poupança realizada será igual ao investimento realizado e que ambas as poupanças, tanto a planejada como a realizada, são funções da renda. (SOUZA, 1995). Matematicamente, podemos dizer que poupança realizada (St) é igual ao investimento realizado (It). Dessa forma: St = It, em que a poupança (s) será uma função da renda (Y). Assim, St= f(Y). O ponto fundamental, segundo Harrod, é saber o que leva os empresários a investirem e quais as condições de realização do pleno emprego no longo prazo, uma vez que a poupança depende da renda e que os investimentos são uma proporção constante da variação da renda. Para Domar, também citado por Souza (1995), a questão se resume em determinar uma taxa de crescimento ideal do investimento que assegure crescimento com pleno emprego, de forma que a expansão da renda nacional dependa não do nível de investimento corrente, mas sim da variação desse investimento. Tanto Harrod quanto Domar chegam à conclusão que a propensão marginal a poupar é a variável que determina a taxa de crescimento da renda e a taxa dos investimentos, ou seja, para que a economia cresça, estabelecendo o pleno emprego, torna- se necessário que a renda nacional possa se expandir no mesmo ritmo da capacidade produtiva. (SOUZA, 1995). 4.1 A contribuição de outros autores para o desenvolvimento econômico Uma das contribuições importantes para o tema do desenvolvimento foi a ideia de financiamento do investimento dada por Kalecki (1983). Segundo Souza (1995 p.104), “o investimento, o consumo dos capitalistas, os gastos do governo e as exportações constituem as variáveis fundamentais na determinação no nível de atividade econômica”, ou seja, o princípio da demanda efetiva. 56 Universidade do Sul de Santa Catarina A variável investimento assume papel importante na teoria de Kalecki (1983, p.39), pois, O investimento, uma vez realizado, automaticamente fornece poupança necessária para financiá-lo. De fato, em nosso modelo simplificado, os lucros em um dado período constituem o resultado direto do consumo dos capitalistas e do investimento naquele período. Se o investimento aumenta em um certo valor, a poupança a partir dos lucros é, portanto, maior. Outros pensadores também deixaram sua contribuição para a temática do desenvolvimento além dos apresentados acima. Podemos destacar Malthus, que também contribuiu para a construção do princípio da demanda efetiva. Segundo Souza (1995 p.93), Malthus, apesar de reconhecer a importância da oferta na determinação do nível do produto, sustentava que a redução gradual dos salários reais deprime tanto a demanda como a oferta [...] e que os níveis de emprego e produto dependem da demanda agregada efetiva. Quando poder de compra da população se reduz, diminui a procura de bens e serviços e o nível da atividade econômica se contrai.! Malthus reforça a ideia de que não pode haver acumulação com a redução do consumo. Dessa forma, coloca na demanda a chave para o crescimento do produto. O que quero dizer é que nenhuma nação tem a possibilidade de enriquecer mediante uma acumulação de capital decorrente de uma redução permanente do consumo, porque se tal acumulação ultrapassa de muito o necessário para se obter uma demanda efetiva do produto, uma parte dela logo perde tanto o seu uso quanto o seu valor e deixa de ter o caráter de riqueza.” (MALTHUS, T. R., 1983, p. 198). Malthus afirma, então, que é inútil acumular se não há demanda adequada para os produtos desse capital. 57 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 Outro ponto importante foi a sua insistência na ineficiência da Lei de Say, parte do pensamento clássico. Sobre ela, Malthus (1983, p.194), afirma que ‘’é um erro muito grave considerar ponto pacífico que a humanidade produzirá e consumirá tudo o que produzir e consumir, e que nunca preferirá a indolência às recompensas do trabalho’’. Ainda na sua crítica aos clássicos, Malthus enfatiza que esses não levam em conta, na sua análise, as necessidades e os gostos dos consumidores, que seriam variáveis importantes na composição da demanda, mesmo sendo variáveis subjetivas. O preço de mercado, segundo ele, irá variar, independente dos custos de produção, bastando, para isso, ter situações de escassez ou excesso de produtos no mercado. Para Malthus, é um erro pensar a acumulação a partir da redução permanente do consumo, pois dessa forma a riqueza perderia seu valor e o equilíbrio seria desfeito. Não quero dizer que a parcimônia ou mesmo a diminuição temporária do consumo não seja útil, e, às vezes, mesmo absolutamente necessária ao desenvolvimento da riqueza. Tudo que pretendo, é que nenhuma nação jamais poderá tornar-se rica pela acumulação de um capital proveniente de uma diminuição permanente do consumo, porque uma tal acumulação de um capital, ultrapassando muito o que é necessário para satisfazer a demanda efetiva dos produtos, perderia logo uma parte de sua utilidade e seu valor e assim, o caráter da riqueza. (MALTHUS apud SOUZA, 1995 p.95). Dessa forma, afirma que, ao estimular a poupança visando a uma acumulação permanente, a economia correria o risco de desaquecimento, pois o consumo é fundamental para o crescimento econômico; e que variáveis como as necessidades e os gostos dos consumidores são importantes, apesar de sua subjetividade. 58 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Nesta unidade, você conheceu os principaisfatores que contribuíram para alavancar o processo de desenvolvimento econômico das diferentes economias, fatores como o fim do feudalismo e as Revoluções Industriais Inglesa e Americana, destacando-se também a Revolução Japonesa. Ainda para aprofundar esta temática, foram apresentadas as contribuições marxista, keynesiana, pós-keynesiana, schumpeteriana e de Kalecki, para o desenvolvimento econômico. Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) Sobre a Revolução Industrial Inglesa e os fatores determinantes para o seu surgimento, assinale a única alternativa incorreta. a) ( ) O acúmulo de capitais no comércio, favorecido por um sistema de créditos originados com a fundação do Banco da Inglaterra, o que vai estimular o comércio internacional; b) ( ) A manutenção do feudalismo, dadas as condições de estabilidade existentes em seu interior; c) ( ) A posse de propriedades rurais pelos capitalistas, que permitiu a expansão da atividade agrícola, o aumento da produtividade e ao mesmo tempo o êxodo rural. d) ( ) O comércio marítimo; e) ( ) A existência de grandes jazidas de carvão, que vão passar a ser utilizadas a partir do surgimento da máquina a vapor, permitiu a redução nos custos de transportes. 59 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 2 2) A Revolução Industrial Inglesa vai acontecer num período em que se desenvolviam as teorias liberais da escola clássica ,a partir de estudos de Adam Smith e David Ricardo, entre outros. Nesse sentido, explique qual a importância do Estado para o sucesso da Revolução Industrial na Inglaterra. 3) Na interpretação dos modelos de desenvolvimento, Schumpeter apresenta fatores determinantes para o desenvolvimento econômico. Entre as alternativas abaixo, é incorreto dizer, sobre a análise de Schumpeter: a) ( ) Ele coloca em evidência o papel das inovações; b) ( ) O empresário inovador é uma peça importante no processo de desenvolvimento; c) ( ) O crédito atua como elemento no financiamento do desenvolvimento; d) ( ) O lucro é o elemento que dinamiza o surgimento das inovações; e) ( ) O empresário age por impulso e, dessa forma, o desenvolvimento independe de sua ação. 60 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais Para aprofundar o tema da interpretação marxista do desenvolvimento, leia o capítulo 4 - Desenvolvimento segundo Karl Marx, do livro: SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento econômico. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2005. 3 Objetivos de aprendizagem � Aprofundar os conhecimentos sobre as teorias do crescimento econômico. � Conhecer as diferentes etapas do crescimento econômico. Seções de estudo Seção 1 Teorias do crescimento econômico Seção 2 Etapas do crescimento econômico Seção 3 Teoria evolucionária do desenvolvimento econômico UNIDADE 3 Teorias do crescimento econômico 62 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo O crescimento econômico é um dos grandes desafios que se apresentam à humanidade, dada a sua complexidade. Governos, pesquisadores e pensadores de diferentes áreas do conhecimento têm se debruçado sobre essa temática. Diversas estratégias são criadas a partir dos estudos teóricos e empíricos que o tema vem permitindo. Nesse sentido, nesta unidade vamos nos debruçar sobre as principais teorias do crescimento econômico, conhecendo suas bases e seus principais pontos de convergência e divergência. Não temos o objetivo de esgotar o tema, mas de apresentar os pressupostos fundamentais de cada teoria estudada e assim fomentar novos estudos e novas compreensões a cerca do tema. Uma boa leitura. Seção 1 - Teorias do crescimento econômico As teorias do crescimento econômico vêm atualmente contribuindo significativamente para identificar as causas que levam ao crescimento das economias. As diferenças entre os países, configuradas pela existência de países desenvolvidos em contraposição aos de baixo desenvolvimento, são fatores motivadores para busca de conhecer os fatores que interferem nessa conjuntura. Apresentar teorias e modelos que deem conta de explicar as causas e os fatores determinantes ao desenvolvimento econômico vem sendo o desafio enfrentado por diferentes pesquisadores dos ramos da economia. 63 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 Nesse intento, apresentaremos aqui as principais teorias e modelos de crescimento econômico mais recentes, começando pelo Modelo de Crescimento Neoclássico e seus principais expositores, especificamente o trabalho de James Meade. Os modelos apresentados a seguir surgem após o advento da Teoria Geral, protagonizada por Keynes. 1.1 O Modelo de Crescimento Neoclássico A busca pelo crescimento econômico sempre esteve entre os objetivos dos governos, independente das linhas políticas, visando a aumentar a renda e a redução da pobreza. O crescimento econômico passa a ser um desafio aos economistas, que se lançam no desenvolvimento de modelos e teorias, procurando identificar quais fatores seriam determinantes para que os países encontrassem o caminho do desenvolvimento. Os principais elementos do Modelo Neoclássico, segundo Paz e Rodrigues (1972, p. 107), são: � concorrência perfeita e pleno emprego em todos os mercados; � economia fechada e sem governo; � função de produção com rendimentos constantes à escala (quando variam simultaneamente todos os fatores) e rendimentos decrescentes quando se altera apenas um dos fatores; � economia produzindo um único bem com apenas três fatores: capital fixo (K), trabalho (L) e terra (N); � fatores de produção homogêneos, divisíveis e imperfeitamente substituíveis entre si. 64 Universidade do Sul de Santa Catarina 1.2 Modelo de Meade Esse é construído considerando o curto prazo, que, segundo Meade (apud HELLER, 2001, p.8), é definido como: “o período no qual a razão entre a produção de novos bens de capital e o estoque existente de bens de capital é pequeno, de modo que as alterações no estoque de bens de capital podem ser negligenciadas”. No modelo apresentado por Meade, as variações ocorridas no produto no período T vão ser iguais as variações dos fatores K e L, multiplicadas por suas produtividades marginais, mais uma variação residual atribuída ao progresso técnico. (PAZ E RODRIGUES, 1972, p. 117). O modelo apresenta várias hipóteses que para o crescimento em diferentes proporções, que levam em conta a existência ou não de progresso técnico, o crescimento demográfico positivo ou negativo. Além disso, essas hipóteses determinam, nas suas diferentes formulações, o nível de crescimento da economia, que vai depender das hipóteses que se fizer em torno das variáveis envolvidas. 1.2.1 Primeira hipótese Quando se consideram nulos o crescimento demográfico e o progresso técnico, o nível de crescimento da economia vai depender da produtividade marginal do capital e do ritmo de seu crescimento, bem como da propensão a poupar. (SOUZA, 2005). 1.2.2 Segunda hipótese Com a hipótese de crescimento demográfico positivo e progresso técnico nulo, a economia precisa crescer no mesmo ritmo do crescimento demográfico e da acumulação de capital para manter o crescimento equilibrado, isto é, sem desemprego ou hiperemprego (SOUZA, 2005). 65 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 Ainda segundo Souza (2005): � Se não houver progresso técnico, taxas de crescimento diferentes para o capital e para a população conduzem a variações tanto nas remunerações dos fatores capital e trabalho, como nas participações desses fatores na renda nacional. Logo, o crescimento equilibrado depende da igualdade entre essas taxas, pois capital e população crescendo na mesma proporção fazem com que o crescimento aconteça de forma equilibrada.� Maior crescimento demográfico requer acumulação de capital na mesma proporção, para manter no longo prazo o crescimento de Y, K e L em equilíbrio estável. � Crescimento demográfico menor aumenta os salários e reduz o crescimento econômico. Nesse caso, é necessário que o progresso técnico e o capital aumentem sua contribuição para o crescimento econômico. James E. Meade foi um economista keynesiano que ganhou, em 1977, o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas, junto com Bertil Ohlin, por sua pesquisa sobre o comércio internacional e dos movimentos de capitais internacionais. Meade analisou como as políticas governamentais afetaram o comércio e como as políticas de comércio têm afetado o bem-estar econômico. Por duas vezes ocupou cargos econômicos no governo britânico, onde pesquisou a política econômica na Grã-Bretanha, após a Segunda Guerra Mundial. Seu interesse principal era pesquisar sobre desemprego em massa. Meade ensinou Comércio na London School of Economics e Economia Política na Universidade de Cambridge. Ele também foi membro da Liga das Nações, na seção de economia. James Meade nasceu em 1907 e morreu em 1995. (MEADE, 2013). 66 Universidade do Sul de Santa Catarina 1.3 Modelo de Solow Em 1956, em uma publicação intitulada “A Contribuition to the Theory of Economic Grouth”, que o fez ganhar Prêmio Nobel de Economia em 1987, Robert Solow trabalhou os temas crescimento e desenvolvimento econômico. Na mesma perspectiva do modelo de Meade, modelo de Solow chega a conclusões usando relações per capita. Relacionando poupança, acumulação de capital e crescimento demográfico, ele procura explicar a variação do produto per capita. De acordo com Rodrigues (2004), o modelo de Solow defende a acumulação de capital como o principal instrumento para o crescimento econômico no curto prazo, sendo que o investimento, à medida que aumenta a capacidade produtiva, é fundamental para o crescimento econômico. (...) o investimento é financiado através da poupança, uma economia cuja taxa de poupança está a aumentar permanentemente experienciará crescimento econômico. Mas, como o impacto de uma unidade adicional de capital é cada vez menor, esta economia não poderá atingir sempre uma taxa de crescimento mais elevada, sendo que no longo prazo a taxa de crescimento econômico é antes determinada pelo progresso tecnológico. (RODRIGUES, 2004, p.202). No curto prazo, o investimento é fundamental para o crescimento econômico, o que não vai acontecer no longo prazo, dado que os acréscimos de investimento em capital não repercutirão da mesma forma no acréscimo do crescimento do produto. Dessa forma, Solow defende que, para manter o crescimento no longo prazo, os recursos devem ser canalizados para o progresso tecnológico, fomentando, assim, o surgimento de inovações. “Solow argumentava que no longo prazo a única fonte de crescimento possível é a mudança tecnológica” (EASTERLY, 2004, p.67). No modelo de crescimento econômico de Solow, sem progresso tecnológico, a taxa de crescimento do produto real da economia, no estado estacionário, é igual à taxa de crescimento da força de trabalho. 67 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 A não repercussão dos acréscimos de capital na mesma proporção do crescimento econômico vai se dar em função da Lei dos Rendimentos Decrescentes, segundo a qual o aumento de capital numa proporção, devido à existência de um fator constante, não resultará de incrementos na produção na mesma magnitude. Exemplificando: dado um conjunto fixo de trabalho e um conjunto fixo de capital, os incrementos de capital representarão aumentos do produto de forma decrescente, sendo que o produto marginal será decrescente. Segundo Souza (2005, p.6), (...) a contribuição neoclássica à teoria do crescimento econômico é inegável e continua muito atual. O modelo de Solow mostra a dinâmica de longo prazo de uma economia capitalista desenvolvida, que se dirige a um estado de equilíbrio estável. Nesse ponto, o crescimento demográfico e a tecnologia determinam o ritmo de crescimento equilibrado. No modelo de Solow, a tecnologia é um fator externo, como afirma (JONES, 2000, p. 30), o progresso tecnológico é exógeno: usando uma comparação comum, a tecnologia é como um maná que cai do céu, no sentido em que surge na economia automaticamente, sem levar em consideração outros acontecimentos que estejam afetando a economia. Pensando dessa forma, o modelo exclui o fator tecnologia no curto prazo, sendo essa uma variável que só cabe no modelo no longo prazo. Robert M. Solow é um economista americano e destinatário do prêmio John Bates Clark Medal (1961) e do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas (1987). Ele é mais conhecido por seus esforços sobre a teoria do crescimento econômico. Como um estudante em Harvard, ele se tornou assistente de pesquisa de Wassily Leontief, o economista que introduziu o método de análise de input-output em economia. A contribuição mais conhecida de Robert Solow foi o 68 Universidade do Sul de Santa Catarina modelo Solow-Swan, um modelo de crescimento exógeno segundo o qual Solow separa fatores de crescimento econômico em aumentos em insumos (incluindo trabalho e capital) e progresso técnico. Outras obras importantes incluem o modelo de Solow de crescimento econômico baseado em diferentes tipos de capital. Solow considerava o capital novo mais produtivo do que o velho capital. (CLARK, 2013, tradução nossa). 1.4 Teoria de crescimento endógeno Num primeiro momento, o crescimento econômico é explicado como dependente de uma variável externa (exógena), o progresso tecnológico, apresentado por Solow e Meade. Num segundo momento, acompanhando a evolução das pesquisas, surge o modelo focado em variáveis endógenas (internas). Variáveis endógenas: Determinadas pela solução dos modelos econômicos. Os modelos são construídos para estimar o valor dessas variáveis a partir de choques ou mudanças na economia. Variáveis exógenas: Variáveis determinantes dos modelos econômicos. Os modelos econômicos são construídos com base nessas variáveis, supondo-se que seus valores não serão afetados por outras variáveis do modelo. Um exemplo comum de variável exógena é o nível de um imposto qualquer cobrado pelo governo. O valor do imposto, digamos, 10% sobre o preço da gasolina, só seria alterado caso o governo resolvesse mudar seu valor. Portanto, outras variáveis do modelo não são capazes de afetar essa variável. Por outro lado, ela é importante para determinar outras variáveis econômicas do modelo, como o valor do imposto coletado, a quantidade vendida de gasolina, entre outras. Choques ou mudanças na economia são representados por alterações nas variáveis exógenas. A partir desses choques, o modelo é resolvido matematicamente de forma a determinar o valor das variáveis endógenas, que, no exemplo acima, seriam a quantidade vendida de gasolina e o valor coletado de imposto. (GLOSSÁRIO ICONE BRASIL, 2007). 69 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 Dado que o crescimento econômico não pode ser explicado apenas pelos fatores trabalho (L) e capital (K), faz-se necessário explicar o papel que a tecnologia tinha no crescimento. Segundo Souza (2005, p.3), A nova teoria que trata o progresso técnico como elemento ativo no processo de crescimento, afirma que ele exerce efeitos expansivos sobre o produto ao elevar a produtividade dos fatores e ao retransmitir esses efeitos entre as unidades produtivas. A teoria do crescimento com progresso técnico endógeno tomou impulso nos anos de 1980, por não haver uma tendência à convergência dos produtos per capita entre áreas com diferentes níveis de desenvolvimento iniciais. Pelo contrário, as desigualdades entre regiões ou países ricos e pobres tendem a aumentar. Na ausência de perfeita mobilidade dos fatores de produção K e L entre países ou regiões, as desigualdades aumentam. O crescimento do produto não se explicaapenas por K e L, permanecendo uma parte importante não explicada, atribuída no modelo neoclássico à tecnologia, A(t), a qual varia lentamente no tempo. O modelo do crescimento endógeno procurava, assim, encontrar internamente as fontes do crescimento econômico. 1.5 O modelo de Romer Na busca de entender o papel das inovações tecnológicas para o crescimento econômico, o modelo de Romer, segundo Oreiro (1999, p.58), “foi um dos primeiros modelos da nova teoria do crescimento a tratar o progresso tecnológico como o resultado da busca intencional de lucros por parte das firmas.” Além do capital e trabalho, que não explicam sozinhos o crescimento, segundo Souza (2005, p.7), “Outras fontes explicativas do crescimento econômico seriam investimentos em capacitação tecnológica e geração de conhecimento.” Dessa forma, o conhecimento passa a ter importância significativa, o que representa reconhecer a importância do capital humano. 70 Universidade do Sul de Santa Catarina Para o modelo de Romer, os produtos marginais do capital e do trabalho são constantes. Oreiro (1999, p. 58) apresenta os insumos básicos do modelo de Romer: No modelo em consideração existem quatro insumos básicos: capital físico, trabalho, capital humano e o conhecimento tecnológico. O trabalho é visto como aquelas faculdades possuídas por qualquer indivíduo em boas condições de saúde, como, por exemplo, a coordenação motora. O capital humano, por sua vez, é uma medida que o efeito cumulativo de atividades como a educação formal e o treinamento no trabalho tem sobre a produtividade dos trabalhadores. Ao investirem em pesquisa e desenvolvimento, as empresas estão disseminando conhecimento, que passa a ter um papel importante para o desenvolvimento econômico, por fazer aumentar a produtividade do fator trabalho. Estudando outras fontes de crescimento, além do capital e do trabalho, Langoni (1976) mostrou que a contribuição líquida da educação para o crescimento do PIB foi de 15,7% no Brasil (1960/1970), 23% nos EUA (1950/1962) e de 10% na França (1950/1962). Com relação ao Brasil, a contribuição do capital físico, entr1960/1970, foi de 32%, contra 47% do trabalho (incluído os 15,7% da educação), sendo de 21% a parcela do crescimento do PIB não explicada pelo capital, nem pelo trabalho, sendo atribuída ao progresso técnico (LANGONI apud SOUZA, 2005, p. 216). Como se pode constatar nesse estudo, o conhecimento passa a ser uma variável fundamental para entender o crescimento econômico. No modelo de Romer (OREIRO, 1999, p.59): A economia é composta por três setores: o setor de pesquisa e desenvolvimento, o setor de bens intermediários e o setor de bens finais. O setor de pesquisa e desenvolvimento utiliza capital humano e o estoque de conhecimento existente para produzir novos 71 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 projetos de bens de capital. Esses novos projetos são vendidos ao setor de produção de bens intermediários onde serão transformados em novos bens de capital. Esses, por sua vez, serão licenciados para o setor produtor de bens finais, que os combina com trabalho e capital humano para a produção dos referidos bens. A população e a força de trabalho permanecem constantes ao longo do tempo, assim como o estoque de capital humano. A produção de bens finais é uma função do volume empregado de trabalho, da fração do estoque de capital humano empregado nesse setor e da quantidade e da variedade de bens intermediários empregados para esse fim. Nesse contexto, o progresso tecnológico aumenta a produtividade do trabalho ao aumentar a variedade, e não a qualidade, dos bens intermediários utilizados na produção de bens finais. No modelo de Romer, a tecnologia é explicada como um bem não rival, mas excludente, ou seja, pode se apropriada por registro de patentes, tornando-se, assim, uma fonte de lucro para seus detentores, quando licenciadas a terceiros. A forma mais comum de remuneração da tecnologia são os royalties, cuja definição apresentamos a seguir. Royalties são o valor pago ao detentor de uma marca, patente industrial, processo de produção, produto ou obra literária original pelos direitos de sua exploração comercial. No caso do petróleo, por exemplo, são recursos financeiros provenientes da compensação financeira paga aos Estados e municípios pela exploração de petróleo ou gás natural em depósitos localizados na plataforma continental brasileira. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2004). Um exemplo de pagamento de royalties por uso da tecnologia de terceiros são os transgênicos. Veja reportagem que ilustra esse caso, que divide os deputados da Câmara: alguns defendem o patenteamento de produções transgênicas para incentivar pesquisas, enquanto outros querem proibi-lo para preservar espécies nativas. 72 Universidade do Sul de Santa Catarina Nesse contexto, o conhecimento passa a figurar como fator de produção, como o capital físico, o capital humano e a mão de obra, ou seja, nesse sentido tem-se claro que é preciso investir na produção de conhecimento, assim como se investe em capital fixo e na educação dos trabalhadores. Produtores reclamam que royalties reduzem lucros de produções transgênicas - 19/10/2012 No Brasil, desde o início da década de 90, são cultivadas variedades de soja, milho e algodão que sofreram modificações genéticas para ficarem resistentes a herbicidas e pragas. Apesar de a transgenia também ser capaz de criar plantas mais produtivas, os agricultores brasileiros atestam que não há diferença entre transgênicos e plantas convencionais. Agricultores economizam com agrotóxicos, mas têm de pagar royalties pelas sementes. Se por um lado o agricultor economiza em defensivos agrícolas quando cultiva transgênicos, por outro tem que pagar royalties à empresa que produz a semente modificada. O produtor paranaense Gilberto Pivoto explica que, no início, a empresa não cobrava royalties, isso tornava o produto transgênico mais lucrativo do que o convencional, por causa da facilidade no cultivo. Com a cobrança, no entanto, o agricultor afirma que a vantagem desapareceu. O agrônomo e assessor técnico da organização não governamental Agricultura Familiar e Agroecologia, Gabriel Biancone Fernandes, critica o patenteamento de sementes. “O interesse das empresas maior é vender as sementes transgênicas, porque elas são patenteadas e feitas para o uso casado com agrotóxicos. Com o passar do tempo, elas vão tirando do mercado, sobretudo de soja e de milho, as sementes comuns e deixam o produtor praticamente sem opção.” Fonte: CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2012. Produtores reclamam que royalties reduzem lucros de produções transgênicas. Disponível em: <http://www2. camara.leg.br/camaranoticias/noticias/AGROPECUARIA/428223-PRODUTORES- RECLAMAM-QUE-ROYALTIES-REDUZEM-LUCROS-DE-PRODUCOES- TRANSGENICAS.html>. Acesso em: 11 mar. 2013. http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/AGROPECUARIA/428223-PRODUTORES-RECLAMAM-QUE-ROYALTIES-REDUZEM-LUCROS-DE-PRODUCOES-TRANSGENICAS.html http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/AGROPECUARIA/428223-PRODUTORES-RECLAMAM-QUE-ROYALTIES-REDUZEM-LUCROS-DE-PRODUCOES-TRANSGENICAS.html http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/AGROPECUARIA/428223-PRODUTORES-RECLAMAM-QUE-ROYALTIES-REDUZEM-LUCROS-DE-PRODUCOES-TRANSGENICAS.html http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/AGROPECUARIA/428223-PRODUTORES-RECLAMAM-QUE-ROYALTIES-REDUZEM-LUCROS-DE-PRODUCOES-TRANSGENICAS.html 73 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 Investimentos em novos conhecimentos geram externalidades, como explicou Romer: A criação de novos conhecimentos por uma firma produz efeitos externos positivos sobre as possibilidades de produção de outras firmas, porque o conhecimento não pode ser perfeitamente patenteado ou mantido secreto. E o que é mais importante: a produção de bens de consumo como uma função do estoque de conhecimento e outros insumos exibe retornos crescentes; maisprecisamente, o conhecimento pode ter um produto marginal crescente. (ROMER apud SOUZA, 1995, p.10). Nessa perspectiva, segundo Souza e Oliveira (2005, p.220), O capital humano, o capital físico e a força de trabalho estão intimamente associados ao conhecimento técnico, gerado internamente, ou importado, e que se difunde entre os agentes produtivos, produzindo externalidades positivas e que são captadas pelas empresas. Para aumentar o PIB per capita, a sociedade precisa investir na saúde, educação geral e treinamento específico dos trabalhadores, bem como na produção de novos conhecimentos técnicos, além de capital físico. Os novos conhecimentos produzem externalidades positivas, que são apropriadas pelos agentes produtivos, elevando o nível da produção agregada. Temos, então, um ciclo virtuoso, em que quanto mais investimentos forem feitos em educação e pesquisa, mais forte tende a ser o crescimento econômico, o qual vai se transformar em desenvolvimento econômico, dadas as variáveis qualitativas incorporadas aos agentes produtivos pelo acesso ao conhecimento. As externalidades positivas vão se dar porque o conhecimento é um bem que só pode ser utilizado quando compartilhado, permitindo, assim, a difusão dos avanços tecnológicos. As externalidades podem ser definidas como as alterações de custos e benefícios para a sociedade derivadas da produção de empresas, ou também como as alterações de custos e receitas da empresa devido aos fatores externos. 74 Universidade do Sul de Santa Catarina Uma externalidade positiva é quando uma unidade econômica cria benefícios para outras, sem receber pagamentos por isso. Por exemplo, uma empresa treina a mão de obra, que acaba, após o treinamento, transferindo- se para outra empresa;a beleza do jardim do vizinho, que valoriza sua casa; uma nova estrada; os comerciantes de um mesmo ramo que se localizam na mesma região. Temos externalidades negativas (ou deseconomia externa), quando uma unidade econômica cria custos para outras, sem pagar por isso. Por exemplo, poluição e congestionamento causados por automóveis, caminhões e ônibus; uma indústria que polui um rio e impõe custos a atividades pesqueiras. O conceito de externalidade revela a diferença entre custos privados e custos sociais. (VASCONCELOS; GARCIA, 2007, pp. 71-72). 1.6 Inovações tecnológicas Devido à importância que o conhecimento tem no modelo proposto, e ao fato de que o conhecimento é gerador de inovações tecnológicas, faz-se necessário entender o que vem a ser inovação tecnológica numa perspectiva dos modelos apresentados. Outro ponto importante é que inovações tecnológicas não são somente representadas por inovações no produto, mas também por inovações na forma de organizar a produção. Lemos (1999) destaca dois tipos de inovação: a radical e a incremental. Segundo esse autor, a inovação radical representa o novo, ou seja, o surgimento de um novo produto ou processo produtivo: Algumas importantes inovações radicais, que causam impacto na economia e na sociedade como um todo e alteraram para sempre o perfil da economia mundial, podem ser lembradas, como, por exemplo, a introdução da máquina a vapor, no final do século XVIII, ou o desenvolvimento da microeletrônica, a partir da década de 1950. Estas e outras inovações radicais impulsionaram a formação de padrões de crescimento, com conformação de paradigmas tecnoeconômicos. (LEMOS, 1999, p.124). 75 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 Poderíamos ainda citar, a título de exemplo, a fotografia digital como uma inovação radical. Nesse caso específico tivemos um revés, pois o criador do processo foi tirado do mercado pelo processo criado, como no caso da Kodak, citado a seguir. Kodak: como a era digital se voltou contra um de seus criadores - 21/01/2012 A caça que se virou contra o caçador. O fim do momento Kodak. Ironias com a concordata da empresa criada por George Eastman em 1880 e registrada como marca em 1888 não faltaram na mídia internacional com a notícia dada na quinta-feira e que há tempos assombrava uma das maiores e mais antigas companhias do setor. O ponto crucial dessa história - que para muitos ganhou contornos de tragédia - é que foi a Kodak quem inventou a câmera fotográfica digital, símbolo dessa “era” que pôs um fim, ou quase, na importância dos filmes, seu principal filão. A empresa que já foi responsável por vender 90% do filme utilizado nos Estados Unidos e desenvolveu um filme, o Kodachrome, tão amado por fotógrafos amadores e profissionais que Paul Simon escreveu uma canção a respeito, finalmente sucumbiu à revolução digital que deixou seus produtos obsoletos. Mesmo o Kodachrome, um slide e filme produzido por 74 anos, exaltado por sua nitidez, durabilidade e tons vibrantes, morreu em 2009. Ao longo dos seus anos, entretanto, ele foi um ícone da marca amarela e vermelha: foi usado para fazer filmes de Hollywood durante o século XX, incluindo 80 ganhadores de Melhor Filme no Oscar, para gravar a coroação da rainha em 1953 e usado por Neil Armstrong para fazer close-ups na superfície lunar na missão Apollo 11. Muito da veia criativa da Kodak foi herdada de Eastman, que tinha uma doença degenerativa e tirou sua própria vida em 1932, mas que durante décadas influenciou a Kodak e uma sucessão de inovações. Mas não pelos seus quase 132 anos. Para Nancy West, da Universidade de Missouri, citada pela Reuters, Eastman havia exercido tal influência sobre a empresa que quando ele morreu a Kodak rapidamente se transformou numa companhia ligada à nostalgia. “Nostalgia é adorável, mas ela não permite que as pessoas sigam em frente”, disse ela, que já estudou a empresa a fundo. 76 Universidade do Sul de Santa Catarina Além da inovação radical, temos a inovação incremental, que se refere basicamente à melhoria nos processos produtivos ou no produto. Segundo Lemos (1999, p. 125), inúmeros são os exemplos de inovações incrementais, muitas delas imperceptíveis para o consumidor, podendo gerar crescimento de eficiência técnica, aumento da produtividade, redução de custos, aumento de qualidade e mudanças que possibilitem a ampliação das aplicações de um produto ou processo. A otimização de processos de produção, o design de produtos ou a diminuição na utilização de materiais e componentes na produção de um bem podem ser considerados inovações incrementais. A primeira câmera da Kodak data de 1900. Pouco mais de meio século depois, em 1975, eles criavam a primeira câmera digital, um protótipo do tamanho de uma torradeira que precisava de 23 segundos de exposição para produzir uma imagem de 0,01 megapixel em preto e branco. “A Kodak foi a primeira empresa a criar a câmera digital, mas naquela época, a maioria de seus lucros vinha da vendas de produtos químicos utilizados nos filmes e eles tinham medo de investir em algo novo, porque achavam que podia prejudicar o seu negócio tradicional”, disse Olivier Laurent, editor de notícias do British Journal of Photography. “Quando eles perceberam, o mercado digital tinha chegado para ficar, ultrapassado o filme e todos os concorrentes da Kodak tinham câmeras digitais muito superiores. As câmeras Kodak nunca foram boas e a empresa perdeu a reputação conquistada com o ‘momento Kodak’”. Em 1992, Don Strickland, ex-vice-presidente da Kodak, disse segundo o The Guardian que a empresa estava pronta para dar espaço em seu negócio para as câmeras digitais, mas que seus chefes vetaram a ideia com medo de uma “canibalização do filme”. Fonte: KODAK: como a era digital se voltou contra um de seus criadores. Terra. Negócios e TI, Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/ kodak-como-a-era-digital-se-voltou-contra-um-de-seus-criadores,19382feb71 1ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 11 mar. 2013. http://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/kodak-como-a-era-digital-se-voltou-contra-um-de-seus-criadores,19382feb711ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.htmlhttp://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/kodak-como-a-era-digital-se-voltou-contra-um-de-seus-criadores,19382feb711ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html http://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/kodak-como-a-era-digital-se-voltou-contra-um-de-seus-criadores,19382feb711ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html 77 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 As inovações são fundamentais para o desenvolvimento econômico, como defendeu Schumpeter (1988), pois além de representar melhorias, exigem investimentos em educação e ciência, gerando assim o conhecimento, que por meio delas irá se materializar. Com relação ao modelo de Romer, as inovações não são consideradas bem público, portanto, o investimento em pesquisa e desenvolvimento pelas empresas acaba gerando aumento de competitividade, o que seria uma vantagem gerada especificamente a essas empresas. Segundo Dias (1999, p.85), A inovação concede uma vantagem específica a quem a produz, na medida em que garante certo grau de monopólio e, consequentemente, um rendimento suplementar. Devido às melhorias trazidas pela inovação e à exclusividade que possui o inovador, este pode praticar um preço acima do custo marginal (isto é, do preço de concorrência perfeita). Esta vantagem específica constitui a motivação para o investimento em P&D. Ora, como os rendimentos crescentes provenientes das inovações técnicas são internos à firma, tem de se abandonar o quadro de concorrência perfeita. Mesmo permitindo o uso exclusivo por seus detentores, as inovações no modelo de Romer assumem características de não rivalidade, ou seja, podem ser usadas por outros mediante venda ou concessão. Dessa forma, ao concederem vantagens aos seus produtores, as inovações incentivam as empresas a realizarem investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Além da inovação e do capital humano, o papel do governo é outro fator importante elencado por Romer, sendo determinantes para o crescimento e o desenvolvimento econômico. Como afirma Porter (1989, p. 758), “O papel adequado do governo é 78 Universidade do Sul de Santa Catarina animar ou mesmo empurrar as empresas para que aumentem suas aspirações e passem a um nível superior de feitos competitivos, embora esse processo possa ser desequilibrador e mesmo desagradável.” Seção 2 - Etapas do crescimento econômico O crescimento econômico não acontece de maneira aleatória, mas segue uma determinada sequência. Nesse entendimento, Rostow (1961[1960]) propôs cinco etapas pelas quais passa uma economia e que são determinantes para seu desenvolvimento. São elas: 1. Sociedade tradicional: sociedade caracterizada por uma economia de subsistência, em que a produção é consumida pelos próprios produtores; Com características frequentemente identificadas como problemas, sobretudo situadas ao nível da produção (produtividade, rendimento do trabalho, pertinência tecnológica etc.), a sociedade tradicional é definida em relação à sociedade moderna, confundindo-se essa última com a produção capitalista industrial. O retrato que ele traça da sociedade tradicional começa por um ponto que se mostra central nessa caracterização: a insuficiência de recursos. (CANDIDO, 1999, p.5). 2. Transição: surgem, na economia, excedentes para a comercialização com o exterior, mediante suporte de infraestrutura e transporte; 3. Take-off: cresce a industrialização e os trabalhadores migram do campo para as atividades de manufatura; 4. Impulso para a maturidade: inovação tecnológica oferece apoio a uma industrialização diversificada. Segundo Candido (1999, p.6): Neste momento, um país que se coloca no caminho correto deve reunir uma série de elementos para preparar a decolagem, tais como: a existência de um espírito empreendedor, disseminado entre os elementos mais 79 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 capazes e talentosos; a existência de bancos; a criação de uma infraestrutura (estradas de ferro, comunicações) que favoreça os deslocamentos das pessoas e das mercadorias e cuja construção signifique investimento para a criação e o movimento de riquezas; o alargamento do comércio exterior e interno; um Estado concentrado e eficiente. Considerando que o país já reuniu as condições necessárias para dar um salto de qualidade, a ideia de progresso econômico aí aparece e se recobre de uma intensa positividade. 5. Consumo de massa: a renda per capita cresce a um ponto de os ganhos auferidos por um grande número de pessoas cobrirem muito mais que apenas suas necessidades de subsistência. As etapas do crescimento elencadas por Rostow precisam ser entendidas a partir de uma realidade histórica, pois deslocadas do contexto não conseguem explicar, de modo geral, a realidade de todos os países. Seção 3 - Teoria evolucionária do desenvolvimento econômico Ao sairmos da ideia de crescimento econômico para a ideia de desenvolvimento econômico, temos uma transformação importante, pois o conceito de desenvolvimento vai de encontro a novos conceitos e implicações, bem como suplanta velhos conceitos, que tiveram implicações importantes na visão do crescimento econômico. Tendo o crescimento como uma variável quantitativa e o desenvolvimento como uma variável qualitativa, faz-se necessário uma nova abordagem conceitual. Segundo essa abordagem, ao pensarmos o desenvolvimento, segundo Souza (1995, p. 201), “incorporamos a noção de mudanças de estruturas econômicas, sociais, culturais e tecnológicas.” 80 Universidade do Sul de Santa Catarina O processo histórico vivenciado pelas sociedades é, em determinados momentos, incapaz de promover mudanças; mas em outros momentos é capaz de alterar profundamente os rumos das sociedades. Ao alterar os rumos da sociedade, criando novos arranjos sociais, políticos, econômicos e culturais, entre outros, dizemos que esse processo é constituído de acontecimentos evolutivos (SOUZA, 2005), tendo como base a teoria evolucionista. Isso porque a teoria evolucionista diferencia dos economistas clássicos a variável meio sociocultural e institucional, considerando-a como uma variável endógena, que afeta e é afetada pelas variáveis econômicas, enquanto os clássicos a consideravam uma variável exógena. (SOUZA, 2005). Entender como se dá o processo de crescimento em determinado lugar e determinada época tem sido a função da teoria do desenvolvimento ao longo do tempo. Diferentes compreensões surgiram ao longo dos anos, atribuindo o crescimento a fatores específicos, como a tecnologia, a poupança, novas descobertas, o papel do Estado, que são vistos como fatores interagindo. Segundo Souza (1995, p.203), “o comportamento dos diferentes agente econômicos sofre a influência dessas variáveis na dinâmica do crescimento. A motivação dos agentes econômicos, como a análise schumpeteriana demonstrou, forma o móbil que está por trás dessa dinâmica.” Nesse sentido, Guha, citado por (Souza, 1995, p.203), afirma que essa motivação é biológica, enquanto para Marx a motivação é econômica, como já vimos. Vamos estudar a seguir um pouco sobre as ideias de Guha. 3.1 Teoria Evolucionista de Guha Como ponto de partida, Guha, citado por Souza (1995, p.203), afirma que 81 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 O processo evolucionário desenvolveu as armas da sobrevivência e os meios de adaptação ao meio; e todos os produtos resultantes de habilidades especificas do homem – sua cultura, sua tecnologia, seus modos de organização social, política e econômica – não podem ser entendidos a não ser em termos de seu valor adaptativo. Para Guha, o crescimento econômico é uma extensão do processo evolutivo, sendo que o comportamento do homem em relação ao meio é um contínuo adaptar-se. Nesse processo, o homem procura obter especializações e vantagens comparativas, sendo que sua organização social e econômica se dá em função do meio (SOUZA, 1995). No sentido da destruiçãocriadora, que está em continua transformação, a tese de Guha vai de encontro às ideias de Schumpeter. Segundo Rezende (1998, p.2), A abordagem evolucionista ou neoschumpeteriana é uma corrente teórica que rompeu com os pressupostos da teoria econômica clássica, notadamente com a crença do equilíbrio e da racionalidade perfeita dos agentes. Entre os principais pontos da corrente neoschumpeteriana estão as considerações sobre a descontinuidade do processo de desenvolvimento, incerteza no processo decisório, entre outros. Destaca-se como o elemento mais importante dessa teoria, a consideração de que a inovação tecnológica é o processo motor do desenvolvimento, que desenvolve vantagens competitivas e promove a seleção das empresas no mercado. A base para o desenvolvimento da teoria evolucionista foi dada por Schumpeter no início do século. Nessa concepção, a inovação representa o elemento principal e o que desencadeia o processo de desenvolvimento. De acordo com a teoria evolucionista, desenvolvida a partir da década de 1970, a tríade de fatores de produção (capital, mão de obra e recursos naturais) não abarca mais os únicos fatores que asseguram o progresso de uma nação. Além desses fatores, o conhecimento e a inovação são hoje preponderantes para o desenvolvimento. Sem o conhecimento não é possível utilizar a tríade dos fatores de produção de forma a ganhar competitividade. Somente ter conhecimento também não basta; a inovação é a aplicação desse conhecimento na prática, e gera novos produtos e novos processos. O evolucionismo estuda a economia sob a lente do progresso técnico, expresso pelas inovações. (DE AQUINO, 2004, p.25). 82 Universidade do Sul de Santa Catarina Segundo Dosi, citado por Rezende (1998, p.3), “O enfoque evolucionista se preocupa em compreender como se dá o processo de inovação dentro das empresas”, e também como essas administram o conhecimento e o transformam em inovação. Nesse sentido, Lemos (1999, p.132) afirma que: Desde o pós-guerra, vem se reconhecendo, paulatinamente, que a produtividade e competitividade dos agentes econômicos depende cada vez mais da capacidade de lidar eficazmente com a informação para transformá-la em conhecimento (...) apontou-se para uma tendência de aumento da importância dos recursos intangíveis da economia – particularmente nas formas de educação e treinamento da força de trabalho e do conhecimento adquirido com investimento em pesquisa e desenvolvimento. Com isso, podemos concluir que o investimento em educação e qualificação vai ser gerador de inovação e de desenvolvimento. Síntese Ao longo desta unidade, você pôde conhecer as principais teorias do crescimento econômico, suas bases e seus principais pontos de convergência e divergência. Os estudos feitos não objetivaram esgotar o tema, mas apresentar os pressupostos fundamentais de cada teoria estudada e assim fomentar novos estudos e novas compreensões acerca desse tema. Além disso, você estudou as principais teorias do crescimento, conheceu as etapas que se dá o processo de crescimento, bem como os aspectos evolutivos que fazem parte do processo. 83 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 3 Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) No modelo de crescimento econômico de Solow, sem progresso tecnológico, a taxa de crescimento do produto real da economia, no estado estacionário, é igual a/à: a. ( ) Taxa de inflação do ano anterior; b. ( ) Taxa de poupança interna; c. ( ) Zero; d. ( ) Taxa de crescimento da força de trabalho; e. ( ) 3% ao ano 2) Sobre o Modelo de Romer, assinale a alternativa incorreta: a. ( ) A economia é composta por três setores: o setor de pesquisa e desenvolvimento, o setor de bens intermediários e o setor de bens finais. b. ( ) A população e a força de trabalho permanecem constantes ao longo do tempo, assim como o estoque de capital humano. c. ( ) A criação de novos conhecimentos por uma firma produz efeitos externos positivos sobre as possibilidades de produção de outras firmas, porque o conhecimento não pode ser perfeitamente patenteado ou mantido secreto. d. ( ) A tecnologia é bem rival, e não excludente, á medida que se uma firma usa uma determinada tecnologia, essa não pode ser mais usada por mais nenhuma firma. e. ( ) O progresso tecnológico é resultado da busca intencional de lucros por parte das firmas. 84 Universidade do Sul de Santa Catarina 3) A inovação tecnológica assume um papel importante no desenvolvimento econômico, dado que para aumentar seus lucros as empresas investem em novos produtos e novos processos. Nesse sentido, explique a diferença entre inovação radical e inovação incremental. Saiba mais HIRSCHMAN, A. Estratégia do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: Editora Fundo da Cultura, 1960. 4 Objetivos de aprendizagem � Aprofundar os conhecimentos sobre a CEPAL e sua contribuição para o crescimento da América Latina. � Conhecer a teoria da dependência e sua gênese. � Aprofundar o conhecimento sobre o processo de desenvolvimento brasileiro. Seções de estudo Seção 1 A CEPAL e o desenvolvimento latino-americano Seção 2 Desenvolvimento econômico brasileiro UNIDADE 4 Desenvolvimento segundo a CEPAL e o desenvolvimento no Brasil 86 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo O desenvolvimento econômico é um tema efervescente nos estudos econômicos, sociológicos e da geografia. Tamanha a sua importância, formular políticas para o desenvolvimento corresponde a melhorar a vida da sociedade. Dessa forma, a partir do Surgimento da ONU – Organização das Nações Unidas, esse tema tem gerado ações práticas, no sentido de compreender os motivos do atraso de determinados países em relação a outros. Nesse sentido, a ONU criou, no Chile, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), com o objetivo de compreender e desenvolver estratégias desenvolvimentistas na América Latina. Nesta unidade, vamos conhecer a CEPAL e as principais formulações desse órgão. Vamos também entender o processo de desenvolvimento brasileiro, suas dificuldades e avanços. Seção 1 - A CEPAL e o desenvolvimento latino- americano Com a criação da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), o desenvolvimento nos países caribenhos e latino-americanos começa a ser pensado. Surgida após a Segunda Guerra Mundial, essa comissão passa a ter uns instrumentos da ONU para estudar e fomentar o desenvolvimento como estratégia. A preocupação básica da CEPAL era a de explicar o atraso da América Latina, em relação aos chamados centros desenvolvidos, e encontrar a forma de superá- lo. Neste sentido, a análise enfocava, de um lado, as 87 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 peculiaridades da estrutura socioeconômica dos países da “periferia”, ressaltando os entraves ao “desenvolvimento econômico”, em contraste com o dinamismo das estruturas dos centros avançados; e, de outro lado, centrava-se nas transações comerciais entre os parceiros ricos e pobres do sistema capitalista mundial que, ao invés de auxiliarem o desenvolvimento da periferia, agiam no sentido de acentuar as disparidades (MANTEGA, 1985, p.34). Até então, as abordagens existentes sobre o crescimento econômico na América Latina eram fruto de conhecimento empírico, sendo este o ponto de partida para os estudiosos que estavam à frente da CEPAL, ou seja, entender o contexto histórico e as suas implicações no crescimento econômico na região. Nesse sentido, o documento produzido por Raul Prebisch, em 1949, para um seminário interno da CEPAL, passa a ser, então, documento que vai orientar os estudos feitos pelos economistas dessa comissão, e Raul Prebish tornou-seo principal nome do pensamento desenvolvimentista latino-americano. Consulte o documento orientador dos estudos feitos na CEPAL: “El desarrollo económico de la América Latina y algunos de sus principales problemas” (PREBISCH, 1949), que traz uma versão regional da economia do desenvolvimento, indicado no Saiba Mais desta unidade. Os principais pensadores da CEPAL que vão somar forças junto a Prebisch são: Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Oswaldo Sunkel, Aníbal Pinto, Fernando Fajnzylber, entre outros. 1.1 O pensamento cepalino Bielschowsky (2000, p.18) divide o pensamento da CEPAL em cinco fases: 1. As origens e anos 1950: industrialização; 2. Os anos 1960: “reformas para desobstruir a industrialização”; 88 Universidade do Sul de Santa Catarina 3. Os anos 1970: a reorientação dos “estilos” de desenvolvimento na direção da homogeneização social e na direção da industrialização pró-exportadora; 4. Os anos 1980: a superação do endividamento externo via “ajuste com crescimento”; 5. Os anos 1990: a transformação produtiva com equidade. Partindo da ideia de que as relações de trocas entre os países periféricos e os do centro, esses industrializados, dá-se de forma prejudicial aos países periféricos, agrícolas e atrasados. Assim, está se contrariando o pensamento dominante que o livre comércio e a especialização levariam à propagação do progresso e a difusão técnica. Sobre isso, Prebish (1949) questiona a Teoria das Vantagens Comparativas, ao defender que os países exportadores de matéria-prima são prejudicados, pois não recebem os incrementos de produtividade auferidos pelos países ricos. A deterioração dos termos de troca acontece, segundo Prebish, porque ao trocar bens primários via exportação, por produtos industrializados via importação, o poder de compra dos países exportadores é reduzido, uma vez que os preços dos produtos primários tendem a cair em relação aos industrializados, necessitando aumentar continuamente as exportações, para fazer frente às necessidades internas não supridas pela ausência de indústrias. As causas do atraso dos países periféricos da América Latina se relacionam à falta de dinamismo de suas estruturas produtivas, baseadas em produtos primários e dependentes dos mercados consumidores dos centros. (MANTEGA, 1985). Dessa forma, segundo Bastos e Silva (1995, p.175), “contrapondo-se à ideia de que as causas do subdesenvolvimento são os obstáculos internos, as análises da CEPAL destacaram as relações entre países, baseando-se na concepção centro-periferia”. Conforme Souza (1995), havia a ideia de um crescimento empobrecedor, dado que o aumento das exportações reduz os preços dos produtos exportados, pressionados pelo crescimento da oferta; o que, por sua vez, aumenta as importações, devido 89 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 ao crescimento da renda interna. Ou seja, o aumento das exportações é anulado pelo aumento no preço das importações. Outro fato levantado por Prebish foi a demanda dos produtos primários em relação à demanda dos manufaturados. Segundo Mantega, (1985, p. 37), “a demanda de bens manufaturados crescia muito mais rapidamente do que a demanda de bens primários, devido a estes últimos representarem uma proporção decrescente da demanda global, à medida que a renda da população aumente.” 1.2 O caminho para o desenvolvimento Partindo da ideia de que, no livre mercado, as economias periféricas não conseguirão romper o subdesenvolvimento devido a sua condição de agrário-exportadoras e consumidoras de bens industrializados importados, a CEPAL propõe a implementação de uma política de industrialização, tendo como característica principal o desenvolvimento “para dentro”, que foi chamado de modelo de substituição de importações. Segundo Bastos e Silva (1995, p. 176), A partir da constatação da deterioração dos termos de intercâmbio, desenvolveu-se o argumento de que a industrialização dos países periféricos poderia reverter a situação. A industrialização deveria iniciar- se com a produção dos bens que eram importados e para os quais havia mercado consumidor. A estratégia recomendada era, então, um processo de industrialização pela substituição de importações. Uma vez iniciada, a industrialização reduziria a dependência com relação aos manufaturados exportados pelo centro, aumentaria o emprego e a renda interna, expandindo o mercado doméstico e propiciando a expansão da indústria. Mediante a industrialização e a expansão do mercado interno, os benefícios do progresso técnico na produção de manufaturados seriam mantidos no próprio país. A industrialização era, assim, o único meio de que dispunham os países periféricos para captar parte dos frutos do progresso técnico e levar progressivamente o nível de renda da população. 90 Universidade do Sul de Santa Catarina O modelo de substituição de importações, de acordo com Tavares (1972, p.35), era “ um processo de desenvolvimento parcial e fechado que, respondendo às restrições de comércio exterior, procurou repetir aceleradamente, em condições históricas distintas, a experiência de industrialização dos países desenvolvidos”. Esse modelo tinha no Estado o agente preponderando, puxando para si a tarefa de promover o crescimento econômico, fornecendo infraestrutura, poupança e capacitação para a indústria nacional. Caberia ao Estado o papel de ordenar a execução da expansão necessária à industrialização, captando e orientando recursos financeiros nacionais e internacionais e promovendo investimentos diretos em setores prioritários e naqueles em que a iniciativa privada fosse insuficiente, assim como propiciar a cooperação técnica externa nestes países (HAFFNER, [1950-1961], 2002, p.11). Como vimos, alguns elementos foram centrais nas proposições da CEPAL para o desenvolvimento, como a mudança do modelo desenvolvimentista e a participação efetiva do estado como agente indutor do processo desenvolvimentista. Conforme Mantega (1985), o modelo proposto pela CEPAL assume caráter nacionalista, apontando como caminho a substituição de importações com busca de poupança externa, dada a escassez de capital dos países latino-americanos. 1.3 Os resultados alcançados Os resultados alcançados com o modelo de substituição de importações proposto pela CEPAL não foram os esperados, devido alguns entraves, como afirma Furtado (1985), sendo que houve um processo de industrialização dos países latino- americanos que ensejou crescimento econômico, mas, devido à concentração de renda, ao êxodo e à pobreza rural, não aconteceu o processo de desenvolvimento. 91 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Conforme Mantega (1985, p.42), Ao postular o desenvolvimento capitalista, a CEPAL pressupunha que essa forma de organização econômica traria benefícios socais gerais não apenas para a burguesia industrial, que era uma parcela reduzida da população, como também para as demais classes e grupos sociais (trabalhadores, classe média, etc.) que se constituíam no grosso da nação. Celso Furtado, um dos teóricos do modelo de desenvolvimento para dentro, deixa claro a sua frustração por não ter atingido o estágio de desenvolvimento esperado com o processo de industrialização, a partir do modelo de substituição de importações. Naquela época, dávamos por certo que o desenvolvimento econômico e sua mola principal, a industrialização, eram condição necessária para resolver os grandes problemas da sociedade brasileira: a pobreza, a concentração de renda, as desigualdades regionais. Mas demoramos a perceber que estavam longe de ser condição suficiente. Daí que a consciência de êxito que tive na fase inicial de avanço da industrialização haja substituída por sentimento de frustração (FURTADO, 2000. p.20). Mesmo alcançando os resultados propostos, o processo de industrialização, a estratégia da CEPAL não foi bem sucedida em modificar as condições sociais, aumentando a concentraçãode renda e piorando a situação da população. Independente dos resultados alcançados pelo modelo, que não agradaram aos teóricos da CEPAL, é inegável a contribuição desse organismo para a economia latino-americana e dos seus principais expositores, pois seus pensadores ousaram ir de encontro aos problemas, estudá-los e apresentar propostas para a sua solução. 92 Universidade do Sul de Santa Catarina 1.4 Teoria da dependência- uma abordagem neocepalina Além de estudar e propor modelos para o desenvolvimento latino americano, a CEPAL, por meio de seus pesquisadores, contribuiu para o conhecimento e a compreensão dos entraves ao desenvolvimento da região. Saindo da perspectiva da pobreza, como uma das explicações para o baixo crescimento, a CEPAL trouxe à tona aspectos que iam além da economia e dos recursos econômicos, criando a teoria da dependência, que procurou colocar luz nas razões do não desenvolvimento latino americano, mesmo após o processo de industrialização idealizado pelo mesmo órgão. A teoria da dependência surgiu em meados da década de 1960, parte como uma reação ao aparente fracasso da análise e das propostas dos estruturalistas. Os teóricos da dependência argumentam que a estratégia de industrialização baseada na substituição das importações deixou de produzir crescimento sustentado nos países menos desenvolvidos em razão da permanência das suas condições econômicas e sociais tradicionais (GILPIN, 2002, p. 311). As razões para o não desenvolvimento não foram motivadas unicamente pelo fracasso do modelo de substituição de importações, mas pela sua incapacidade de modificar as estruturas econômicas e sociais da região. Fernando Henrique Cardoso, um dos grandes expoentes da teoria da dependência, afirma que a dependência existe porque os interesses dos países subdesenvolvidos são determinados pelas nações desenvolvidas. A dependência da situação de subdesenvolvimento implica socialmente uma forma de dominação que se manifesta por uma série de características no modo de atuação e na orientação dos grupos que no sistema econômico aparecem como produtores ou como consumidores. Essa situação supõe, nos casos extremos, que as decisões que afetam a produção ou o consumo de uma economia dada são tomadas em função da dinâmica e dos interesses das economias desenvolvidas. (CARDOSO; FALETTO, 2004, p.39). 93 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Dos Santos (2002, p.25) afirma que o fator determinante para o não desenvolvimento foi a forma como essas economias se integraram à economia mundial. O caminho do desenvolvimento econômico que havia sido realizado pelas nações europeias, pelos EUA e pelo Japão era impossível de ser repetido, porque a conformação do subdesenvolvimento nas economias latino-americanas e, da mesma forma, na Ásia e na África, não era simplesmente um resultado de conservação de economias pré-capitalistas, mas sim um resultado da forma como essas economias foram integradas na economia mundial. Cardoso e Faletto reforçam a ideia de que os sistemas políticos e econômicos funcionam de forma conjunta, e que a dependência é determinada pelos interesses do sistema político, que tem predominância sobre o econômico. Ou seja, primeiro viriam os interesses políticos e depois os econômicos. “A noção de dependência alude diretamente às condições de existência e funcionamento do sistema econômico e do sistema político, mostrando a vinculação entre ambos, tanto no que se refere ao plano interno do país como ao plano externo”. (CARDOSO e FALETTO, 2004, p. 27). Machado (1999), argumenta que as economias latino-americanas não se desenvolveram dadas a sua situação de dependência da Europa, num primeiro momento, e dos Estados Unidos num segundo momento. De acordo com este autor, A América Latina experimentou, ao longo dos séculos, um crescimento vegetativo à sombra da Europa e dos Estados Unidos, situando-se praticamente fora da própria historicidade do Ocidente. Na forma da sua inserção aos domínios ultramarinos europeus está a origem do subdesenvolvimento e da dependência, que se prolongaram no tempo. A ocidentalização desses espaços iniciou-se com o sistema colonial, confrontando o modo de produção agroextrativista com os padrões de produção, acumulação de capital, práticas e teorias mercantis e, posteriormente, monopolistas-industriais. Daí que o capitalismo tardio e dependente latino- americano decorreu originalmente de contingência histórica. (MACHADO, 1999, p.4). 94 Universidade do Sul de Santa Catarina O capitalismo tardio vai se dar, portanto, em função do atraso das economias latino-americanas, ao romperem com a fase escravagista e ingressarem no capitalismo mundial. Seção 2 - Desenvolvimento econômico brasileiro Dentro do contexto latino-americano, o Brasil, a partir dos pensadores brasileiros membros da CEPAL, começa a pensar o processo de desenvolvimento nacional, tendo como característica histórica a dependência externa, ocasionada pelo processo de colonização. Segundo Brum (1999, p.118), “a dependência caracteriza-se como uma situação econômica social e política no qual determinada sociedade tem sua estrutura e funcionamento condicionados pelas necessidades de outras nações mais poderosas que exercem sobre ela dominação.” Um aspecto importante levantado por Brum (1999) é que a dependência só se configura quando existe interesse interno de setores importantes da sociedade, que de forma geral são favorecidos. Quanto à história brasileira, Brum (1999) identifica três grandes fases da dependência: � Fase 1: Os três primeiros séculos, que compreendem o período colonial brasileiro e latino-americano; � Fase 2: O período de emancipação política do Brasil (em 1822), que ocorreu quando a Europa ingressava numa nova era – a Revolução industrial – liderada pela Inglaterra, em que essa tinha necessidade de matérias- primas para as suas fábricas, de produtos agrícolas para as suas populações urbanas e de mercados para seus produtos industrializados. O vínculo de dependência é fortalecido em relação ao país líder da industrialização. 95 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 � Fase 3: O período da segunda revolução industrial e o fim da Primeira Guerra Mundial, quando os Estados Unidos assumem a liderança mundial. Novamente, o vínculo de dependência é mantido, tendo o Brasil como fornecedor de insumos e consumidor de produtos industrializados e de tecnologia. Marini (2000, p. 145) confirma a assertiva de Brum, afirmando que: A industrialização latino-americana corresponde assim a uma nova divisão internacional do trabalho, em cujo âmbito se transfere aos países dependentes etapas inferiores da produção industrial [...], reservando-se para os centros imperialistas as etapas mais avançadas [...] e o monopólio da tecnologia correspondente. Ainda segundo Brum (1999, p.119), “com tais vínculos externos, o Brasil cumpriu, historicamente, em maior ou menor grau, uma função subalterna em relação aos centros mundiais dominantes.” Essa relação de dependência e dominação é clarificada também pelo antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro (2007, p. 23): Nestas análises, partimos do pressuposto, geralmente aceito, de que o desenvolvimento geraram, simultânea e correlativamente, as economias metropolitanas e as coloniais, conformando-as como um sistema interativo integrado por pólos mutuamente complementares de atraso e de progresso. E configuraram as sociedades subdesenvolvidas, não como réplicas de estágios passados das desenvolvidas, mas como contrapartes necessárias à perpetuação do sistema que ambas compõem. Complementado, Darcy Ribeiro (2007, p.39) afirma que “as nações latino-americanas foram contidas e condicionadas em seu desenvolvimento pelos desígnios dos seus novos dominadores que operavam no sentido de perpetuar sua condição de economias complementares e subalternas.” Para entendermos o desenvolvimento econômico brasileiro, adotaremosa cronologia de Argemiro Brum, em seu livro Desenvolvimento Econômico Brasileiro (2003), segundo a qual 96 Universidade do Sul de Santa Catarina o primeiro modelo econômico adotado pelo Brasil teria sido o exportador, entre os anos de 1500 e 1930, conforme veremos a seguir. 2.1 Modelo econômico primário – exportador (1500 – 1930) O primeiro momento do processo de desenvolvimento brasileiro vai do ano de 1500 até 1930, período colonial. O Brasil segue dependente de Portugal até 1822, e após a independência, o vínculo vai se transferir para a Inglaterra, marcando esse período pela questão financeira. Segundo Brum (1999, p.121), Nesse longo período da história brasileira, os interesses da classe senhorial, representado apenas por dois por cento da sociedade, dominaram o cenário do país. O poder econômico e o poder político estiveram concentrados, de fato e forma quase absoluta nas mesas pessoas: os senhores da terra ( latifundiários). Sempre ligados aos interesses externos, os senhores de terra faziam com que fosse refletida internamente a dominação externa. Não tinham uma relação de pertença com o Brasil, pois seus interesses estavam fora do país. Seus filhos estudavam nas escolas estrangeiras, suas mulheres vestiam roupas confeccionadas no estrangeiro, por isso sua relação com o país se dava numa perspectiva de exploração. Nesse período, vão acontecer inúmeros focos de resistência e de revolta da população, mas que não vão modificar a estrutura dominante, política e econômica. Já no plano internacional, o colonialismo e o mercantilismo estavam no seu auge, dando origem aos descobrimentos de novas terras (BRUM, 199, p.123), “determinando a orientação da economia e a vida na sociedade em formação.” As colônias, nesse período, sofriam influência do mercantilismo, segundo o qual só poderia haver lucro de um país, ou seja, 97 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 numa relação econômica entre dois países, um sempre sairia em prejuízo, conforme já estudamos. Um reflexo do modelo colonialista brasileiro implantando por Portugal no Brasil foi a organização imposta de fora, ou seja, todas as formas de organização eram uma prerrogativa da metrópole, criando, assim, um país dependente, organizado a partir dos interesses dos outros, o que reflete na atualidade. Assim, conforme Brum (1999, p.125), “(...) ainda hoje temos dificuldade de gerar formas próprias de organização, de renová-las e adequá-las à realidade mutante, ou de fazê-las funcionar a contento”. Como podemos ver, ainda sentimos os reflexos do modelo colonialista, dependente dos interesses externos, visto que as classes dominantes ainda mantêm uma mentalidade entreguista. 2.2 Tentativas de industrialização e ciclos econômicos Graças aos tratados de 1654 e de 1703, com a Inglaterra, Portugal abandonou o projeto de desenvolver sua indústria, consumindo diretamente manufaturados da Inglaterra. Pelos tratados acima citados, os ingleses tinham o direito de negociar diretamente com as colônias, e em troca era garantida a entrada de vinhos portugueses na Inglaterra. (BRUM, 1999). Nesse período, a economia brasileira passou por três ciclos econômicos bem definidos, o ciclo do açúcar, do ouro e do café. Segundo Brum (1999, p.31), o ciclo pode ser definido como o período em que determinado produto, beneficiando-se da conjuntura favorável do momento, constitui-se no centro dinâmico da economia, atraindo as forças econômicas – capital e mão de obra – e provocando mudanças em todos os outros principais setores da sociedade. O ciclo do ouro modificou a estrutura da sociedade brasileira, mesmo essa enfrentando as condições impostas externamente. 98 Universidade do Sul de Santa Catarina O ciclo do ouro fez surgir, na região de minas, uma classe abastada. [...] diferente da sociedade rural açucareira, estruturou-se graças à relativa distribuição da riqueza decorrente da extração aurífera e à implantação de atividades agropastoris diversificadas [...] ocorrendo assim em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, em menor escala, um surto manufatureiro de relevante importância. (BRUM, 1999, p.128). Ainda sobre o ciclo do ouro, Furtado (1998, p.34-35) coloca que O ciclo do ouro constitui um sistema mais ou menos integrado, dentro do qual coube a Portugal a posição secundária de simples entreposto. Ao Brasil o ouro permitiu financiar uma grande expansão demográfica, que trouxe alterações fundamentais à estrutura de sua população, na qual os escravos passaram a constituir minoria e o elemento de origem européia, maioria: Para a Inglaterra o ciclo do ouro brasileiro trouxe vim forte estímulo ao desenvolvimento manufatureiro, uma grande flexibilidade à sua capacidade para importar, e permitiu uma concentração de reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro financeiro da Europa. Como podemos ver, o ciclo do ouro permitiu um período de crescimento desassociado da metrópole, um crescimento endógeno. O fim desse momento, em que a manufatura começava a ganhar corpo, vai acontecer com o Alvará 1785, que proibia a manufatura no Brasil. 2.3 A independência A independência representou o fim das amarras coloniais com Portugal, coincidindo com o fim do mercantilismo e com o surgimento da Revolução Industrial, mas a estrutura colonial do Brasil permaneceu a mesma. Segundo Brum (1999, p.153), “a independência foi pouco mais que um arranjo político de cúpula: manteve-se o regime democrático [...], a mesma estrutura econômica e o sistema escravagista, com uma sociedade dicotomizada e acentuada discriminação.” 99 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Dessa forma, a mudança do status político não altera a situação econômica, e o país continua com características de colônia. Brum (1999) afirma que a autonomia política conquistada não foi suficiente para superar a situação colonial, porque o país não conseguiu implantar um projeto nacional que permitisse também a independência econômica e cultural. A dependência continuou, permanecendo o país numa condição subalterna, mero reflexo das necessidades, dos interesses e das ações dos centros de poder mundial. Do mesmo modo que no período colonial, durante o império e a primeira república o Brasil continuou a desempenhar uma função econômica complementar. (BRUM, 199. P.154). Essa condição de dependência vai perdurar até a década de 1920, com o esgotamento da estrutura colonial brasileira. Esse esgotamento Brum (1999) vai chamar de Crise de Transição da década de 1920, período em que o mundo vive momentos importantes, como a Primeira Guerra mundial, que vai mudar o centro hegemônico mundial da Europa para os Estados Unidos, a Segunda Revolução Industrial, a Revolução Socialista na Rússia, e outros acontecimentos que vão desencadear mudanças políticas e econômicas significativas em diversos países. Na economia, mudanças importantes acontecem também no Brasil, como a crise do café. Alcoforado (2000, p.101) apresenta a situação que se desenrolava no período em análise: O modelo agrário-exportador que prevaleceu no Brasil do período colonial até 1930 tinha como principais interessados na sua manutenção a classe de latifundiários e os setores agroexportadores. Este modelo se esgotou em consequência da crise econômica mundial, que afetou profundamente as exportações do Brasil para o mercado internacional a partir do crack da Bolsa de Nova Iorque em 1929, da emergência de uma burguesia industrial comprometida com a modernização do país e o desenvolvimento nacional e da crise política resultante da eleição fraudulenta para a sucessão do então presidente Washington Luís que redundou na Revolução de 30 e na ascensão ao poder de Getúlio Vargas. 100 Universidade do Sul de Santa Catarina A ascensão de Vargas ao poder vai marcar definitivamente a transição do modelo agrário-exportador para a industrialização. Nesse sentido, as palavras de Wilson Cano (1998) mostram claramenteo rumo que o país tomou. No período de 1929/33 se altera o caráter principal do antigo padrão de acumulação (o modelo “primário- exportador” ou “o desenvolvimento para fora”). Ou seja: a dominação que as exportações exerciam sobre a determinação do nível e ritmo da atividade econômica do país passaria a segundo plano. A partir desse momento, seria a indústria o principal determinador do nível de atividade. No dizer de Furtado, dar-se-ia o deslocamento do centro dinâmico da economia nacional (CANO, 1998, p.172). O papel do Estado passa a ser agente econômico fundamental no modelo que se propõe no período que se inicia na década de 1930, com o governo Getúlio Vargas. Mesmo já tendo participação na economia em períodos anteriores, nesta década, o Estado assume o processo de desenvolvimento da economia, chamando para si as principais funções nesse processo, e age como parceiro dos agentes econômicos privados. Exemplo disso foram as crises do café, em que o Estado comprava o excedente, permitindo que a oferta não excedesse a demanda, fortalecendo o papel de agente interventor da economia. Assume, portanto, no governo Vargas, a tarefa de ser o agente dinamizador do desenvolvimento econômico, agindo como empresário, regulador, financiador das atividades econômicas e fornecedor de bens e serviços. A participação do governo brasileiro na economia já havia começado a ser delineada com a fundação do Banco do Brasil em 1808, por D. João VI, além de algumas fábricas que visavam a atender a Coroa Portuguesa no Brasil. Depois da Independência, podemos citar diversas iniciativas de intervenção, segundo Rezende (1988): 101 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 � 1858: criação da Estrada de ferro D. Pedro II; � 1890: criação da Companhia de navegação Loyd Brasileiro e a criação de ferrovias federais, que chegaram, na década de 1950, a compor 94% da malha ferroviária; � 1940: criação da Fábrica Nacional de Motores (FNM); � 1941: criação da Cia. Nacional de Álcalis; � 1941: criação da CSN e Acesita; � 1942: criação da Cia. Vale do Rio Doce; � 1953: criação da Petrobras; � 1957: criação das Centrais Elétricas Furnas; � 1956: criação da Usiminas; � 1960: criação da Cosipa; � 1961: criação da Eletrobrás, na área de abastecimentos e armazenagens; � 1962: criação da Cibrazem e Cobal; � 1963: criação da Docenave, na área de navegação; � 1964: criação do Serpro, Embratel, Embraer, Embrafilme; � 1972: criação da Telebrás; � 1972: criação da Infraero, Hidrelétrica de Itaipu; � 1975: criação da Portobras, Imbel. As funções econômicas do governo no período que vai de 1947 a 1970 também foram muito expressivas. Atuando diretamente como empresário, o Estado criou um número significativo de autarquias, que saltam de pouco mais de 30 no início do período para mais de 80 na década de 70, atuando nos diversos 102 Universidade do Sul de Santa Catarina segmentos da economia. Entre as mais expressivas, Rezende (1988) cita as autarquias ligadas à construção de estradas, portos, e desenvolvimento regional, como: DNER, IAA, INM, SUDENE, CMN, DPNVN, DNOS, CNEM, SUDAM, entre outras. Essas autarquias representaram um aumento considerável nas receitas correntes da União, representando aproximadamente 70% de todas as receitas. Em contrapartida, no cumprimento de seu papel de fomento do desenvolvimento, representaram uma participação no investimento estatal de 4,4% do PIB em 1969. (SILVA, 1980). Segundo Riani (1997, p.46), “existiam em 1984 aproximadamente 317 empresas estatais no Brasil; desse total, 62% tinham suas atividades voltadas para o setor produtivo.” Mesmo com esses avanços no processo de industrialização da economia brasileira, ele vai acontecer de forma tardia em relação aos centros desenvolvidos. Segundo Brum (1999, p.206), “A industrialização tardia é uma característica da econômica brasileira, que vai entrar na era industrial com 150 anos de atraso em relação às nações pioneiras”. Enquanto a Inglaterra e os Estados Unidos usufruíam dos avanços trazidos pela Revolução Industrial, o Brasil relutava em acabar com a escravidão. Brum (1999) divide a industrialização brasileira em três fases, marcadas como prioridade pela política governamental. a) Fase da produção de bens de consumo não durável; b) Fase da produção de bens de consumo durável; c) Fase da produção de bens de capital e de insumos básicos. Na primeira fase, que vai até meados dos anos 1950, a produção visava a atender a demanda imediata, tendo como características o uso de matéria-prima e mão de obra local, um processo artesanal (industrial de base familiar), e uma produção 103 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 espalhada pelo território ocupado, dependente, em grande parte, das importações de bens de capital para uso no processo de industrialização. Os principais segmentos da fase industrial foram o têxtil, alimentação, bebidas, vestuário, utensílios domésticos e instrumentos de trabalho. (BRUM, 1999). A segunda fase foi marcada pela produção de bens de consumo duráveis, quando se fez necessário o aperfeiçoamento da infraestrutura, especificamente em energia, comunicações e transportes. A propaganda começa a se dar num processo intenso, o que vai dinamizar o consumo e a indústria. A terceira fase é caracterizada pela produção de bens de capital e de insumos básicos, marcando o processo de substituições de importações. 2.4 O Estado brasileiro como regulador O controle estatal brasileiro assumiu importância fundamental por permitir que a economia se desenvolvesse de forma equilibrada, não havendo a ocorrência de grandes sobressaltos, principalmente nos preços. A criação de mecanismos de controle de preços de serviços de utilidade pública fez com que o Estado interviesse no setor elétrico, por exemplo, vindo a ser o principal fornecedor de energia. Foi criado o CIP (Conselho Interministerial de Preços), em 1968, com o objetivo de criar mecanismos de controle e combate à inflação, controlando os preços dos setores-chave da economia (RIANI, 1997). Em 1979 foi criada, no âmbito da Presidência da República, a Secretaria Especial de Abastecimento e Preços (SEAP), sendo sucedida, em 1990, pelo Departamento de Abastecimento e Preços, subordinado à Secretaria Nacional de Economia, do extinto Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento. Na continuação da política reguladora no governo brasileiro, foi criada, em 1992, no âmbito do Ministério da Fazenda, a Secretaria de Política Econômica, que, desmembrada, dois anos depois, deu origem à Secretaria de Acompanhamento 104 Universidade do Sul de Santa Catarina Econômico. Atualmente, o órgão regulador é a Secretaria de Acompanhamento Econômico – SEAE, criada em 1985, como resultado do desmembramento da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Com o papel de fazer o acompanhamento de preços e o reajuste de tarifas públicas, essa Secretaria herdou parte de estrutura de unidades do Executivo responsáveis, no passado, pelo controle de preços da economia, a exemplo do extinto Conselho Interministerial de Preços (CIP). A questão do acompanhamento econômico, no entanto, é bastante anterior à criação da SEAE, remetendo-se à Comissão Nacional de Estímulo à Estabilização de Preços (CONEP), criada em 23 de fevereiro de 1965, no âmbito da SUNAB. A CONEP estava autorizada a conceder estímulos de caráter fiscal ou a restringir o aumento de preços, aumentando-os somente com autorização prévia. O processo de intervenção do governo se fortalece também no setor financeiro (RIANI, 1997). O Banco do Brasil e Banco Central, por meio do sistema fiscal, passaram a exercer rígidos controles sobre o crédito, pelos Bancos Estaduais de Crédito e de Desenvolvimento, e de uma série de órgãos de administração indireta, que aumentam significativamente as atividades do governo. Com a criação do Sistema Financeiro Nacional, em 1964, por meioda Lei 4595, conhecida como Lei da Reforma Bancária, foram criados inúmeros órgãos reguladores, com a finalidade de disciplinar e regular o sistema financeiro. 2.5 O Estado brasileiro como financiador das atividades econômicas Além de se tornar o principal empresário, o Estado percebeu a necessidade de fazer investimentos e de reconhecer que esses recursos representavam uma soma vultuosa. Nessa linha, foi criado, em 1908, o Banco do Brasil, destinado a conceder crédito agrícola; a Caixa Econômica, para o crédito imobiliário; e o BNDES, criado pela Lei nº 1628 de 20/06/1952 como autarquia federal. 105 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 O BNDES assumiu o papel de agente financiador do projeto de desenvolvimento brasileiro, fortalecendo o setor empresarial nacional, corrigindo desequilíbrios regionais e atuando também como sócio, avalista e garantidor de operações financeiras internacionais (PINHEIRO, 2002). Outros bancos foram criados além do BNDES, como o BASA (Banco da Amazônia), o BNB (Banco do Nordeste Brasileiro) e outros bancos regionais, que assumiram a função de financiar o desenvolvimento do país. Estudaremos esse tema mais profundamente quando estudarmos o Sistema Financeiro Nacional. Os bancos de desenvolvimento e os estaduais tiveram, portanto, um papel importante no processo de crescimento econômico registrado nas décadas de 1950 até 1970, financiando as atividades geradoras de emprego e renda. 2.6 O papel de Juscelino Kubitschek no processo de desenvolvimento brasileiro Eleito presidente em 1955, com o slogan “Cinquenta anos em cinco”, Juscelino Kubitschek teve como ponto forte o plano de metas, baseado em cinco setores: energia, transportes, alimentação, indústria de base e educação e a construção de Brasília, marcando, assim, o planejamento como instrumento de governo no Brasil. Conceição Tavares (1978, p.72) destaca no período do governo de JK a forte participação do Estado e a abertura para o capital internacional privado. De 1956 a 1961 entramos na terceira fase de desenvolvimento do pós-guerra, que se caracterizou por dois fatores mais destacados: o aumento da participação direta e indireta do Governo nos investimentos e a entrada de capital estrangeiro privado e oficial para financiar parcela substancial do investimento em certos setores. 106 Universidade do Sul de Santa Catarina Os resultados alcançados são referenciados por Skidmore (1996, p.204): Entre 1955 e 1961, a produção industrial cresceu 80% (em preços constantes), com as porcentagens mais altas registradas pelas indústrias de aço (100%), indústrias mecânicas (125%), indústrias elétricas e de comunicações (380%) e indústria de equipamentos de transportes (600%). De 1957 a 1961, a taxa de crescimento real foi de 7% ao ano e, aproximadamente, 4% per capita. Os avanços alcançados na economia brasileira no período em estudo trouxeram também grandes contradições, como a concentração econômica na região sudeste, especificamente em São Paulo, acentuando os desequilíbrios regionais, o enfraquecimento da empresa privada nacional em detrimento da empresa estrangeira. A economia brasileira apresentava um ritmo de crescimento declinante no início dos anos 60. Parecia terem-se esgotado as possibilidades de crescimento econômico com base na expansão da indústria de bens de consumo duráveis, que fora a mola propulsora no período anterior. Já no final do seu governo, JK começara a reduzir o volume de investimentos, deixando obras e transferindo problemas para o seu sucessor. Recorrera também a empréstimos externos de curto prazo e a emissões de moeda, com reflexos posteriores no agravamento do serviço da dívida e na elevação dos índices de inflação. Segundo Brum (1999), a inflação saltou de 47,79% ,em 1961, para 79.87%, em 1963, em contrapartida, o crescimento do PIB caiu de 8,6% para 0,6% no mesmo período, no governo de João Goulart. Outros fatores também podem ser elencados, como o balanço de pagamentos com o exterior, que apresentava sucessivos déficits. A dívida externa total, superior a três bilhões de dólares, exigia mais de 30% do valor das exportações para pagamentos de amortizações e juros. O Fundo Monetário Internacional (FMI) pressionava para que o governo adotasse um plano econômico de rigorosa austeridade, dentro dos padrões ortodoxos (BRUM, 1999). 107 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Como resposta ao momento econômico, João Goulart lança o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, que tinha como bases: O Plano Trienal adotava uma linha de austeridade com vistas ao saneamento financeiro e contemplava exigências do FMI quanto à política monetária e fiscal, à redução dos gastos públicos e à contenção dos salários, com o objetivo de restaurar as finanças públicas, controlar a inflação e alcançar a estabilidade econômica e financeira. Tratava-se de medidas necessárias, mas de caráter um tanto recessivo e implicavam perda, ao menos momentânea de poder aquisitivo para os assalariados, o que conflitava com a base política do partido e do governo (BRUM, 1999, p. 268). No período seguinte, que vai de 1964 a 1984, será caracterizado pelo regime militar. Em março de 1964, o movimento militar destituiu o governo Goulart e levou à presidência o Marechal Castelo Branco (1964-1967). Em novembro do mesmo ano, foi apresentado o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), o qual tinha como principais objetivos: acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico e conter o processo inflacionário. Segundo Abreu (1992), os objetivos do PAEG eram os seguintes: 1. Acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico, interrompido nos dois anos anteriores; 2. Conter, de maneira progressiva, a inflação, regulando os preços nos anos de 1964 e 1965, com o objetivo de que se estabilizem a partir de 1966; 3. Atenuar os desníveis econômicos setoriais e regionais, assim como as tensões criadas pelos desequilíbrios sociais, mediante a melhoria das condições de vida; 4. Assegurar, pela política de investimentos, oportunidades de emprego produtivo à mão de obra que continuamente aflui ao mercado de trabalho; 108 Universidade do Sul de Santa Catarina 5. Corrigir a tendência a déficits descontrolados do balanço de pagamentos, que ameaçam a continuidade do processo de desenvolvimento econômico, pelo estrangulamento periódico da capacidade de importar. Para Lacerda (2000, p.104) O PAEG mantinha os objetivos básicos dos discursos dos desenvolvimentistas, retomada do desenvolvimento, via aumento dos investimentos; estabilidade de preços; atenuação dos desequilíbrios regionais; e correção dos déficits do balanço de pagamentos, que periodicamente ameaçavam a continuidade do desenvolvimento. As prioridades imediatas eram, interinamente, o controle da inflação, e externamente, a normalização das relações com os organismos financeiros internacionais. Como resultado do PAEG, Brum (1997, p.322) afirma que se alcançou a estabilização e preparou-se o país para o crescimento econômico. Ultrapassada a fase de estabilização, o país estava preparado para uma nova etapa de expansão econômica. O crescimento econômico acelerado passou a ser a preocupação central. Seu carro-chefe, a expansão industrial, sobretudo a indústria de bens de consumo das camadas alta e média da sociedade e os setores industriais que produziam esses bens. Um modelo econômico característico de sociedades em elevado estágio de desenvolvimento e com alto padrão de vida. No período seguinte, que se estende de 1967 a 1973, presenciou- se grande expansão na economia brasileira, fase que ficou caracterizada como o “milagre brasileiro”. A economia obteve um crescimento acelerado de taxas médias anuais de 10%, enquanto a inflação apresentava índices relativamente baixos, com média anual de 20% (BRUM, 1997). O quadro abaixo mostra a evolução dos indicadores econômicos no período de 1968 a 1973, o que caracteriza o milagre econômicobrasileiro. 109 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Quadro 4.1 - Indicadores macroeconômicos – 1968 a 1973 Indicadores selecionados 1968 1969 1970 1971 1972 1973 Tx. do cresc. do PIB (%) 11,2 10,0 8,8 11,3 11,9 14 Inflação (IGP, dez./dez., var. %) 25,5 19,3 19,3 19,5 15,7 15,6 Invest. (% PIB a preços correntes) 18,7 19,1 18,8 19,9 20,3 20,4 Saldo da balança comercial (em US$ milhões) 26 318 232 -344 -241 7,0 Fonte: Brum (1992, p.323). A expansão econômica do período foi favorecida por inúmeros fatores, como mostra Alves (1984, p.146): Havia um clima favorável aos investimentos econômicos: saneamento da economia e das finanças públicas; estabilidade sociopolítica; embora sob a égide de um grande regime autoritário; perspectivas seguras de expansão e lucratividade dos empreendimentos econômicos; restauração da confiança dos investidores. O crescimento econômico que se operou a partir de então se deve, principalmente, ao aumento dos investimentos estrangeiros e a um amplo programa de investimento do Estado, financiando com recursos de instituições internacionais de crédito. Um fator importante que deve ser considerado foi o endividamento externo, que vai se agravar a partir de 1970, com o financiamento da expansão econômica. No ano de 1960, a dívida externa bruta era de 2,1 bilhões de dólares, chegou a 21,2 bilhões em 1975 e a 91 bilhões em 1984 (BRUM, 1999). O crescimento das desigualdades sociais também foi um fator marcante no período, como afirma Lacerda (2000, p.115) O intenso crescimento que houve durante o milagre econômico trouxe grandes benefícios para as classes de maior renda, incluindo-se aí a parte da classe média assalariada que fornecia os quadros técnicos necessários à gestão da economia, como engenheiros, economistas, administradores, analistas de sistemas etc. A renda concentrou-se ainda mais, em consequência da diminuição do valor real do salário mínimo. 110 Universidade do Sul de Santa Catarina Os setores que mais de destacaram, segundo Abreu et al. (1992, p. 239), foram: O crescimento industrial foi particularmente significativo: no mesmo período 1968-73, a indústria de transformação cresceu á taxa média de 13,3% ao ano (com o máximo de 16,6% em 1973) e a indústria de construção (forte absorvedora de mão-de-obra) à taxa média ainda mais elevada, de 15% ao ano. Os serviços industriais de utilidade pública, incluindo principalmente a geração de energia elétrica, e que em boa parte estavam sob controle do governo apresentaram também crescimento anual da ordem de 12,1%. Brum (1999) caracteriza o modelo de desenvolvimento no período militar como “periférico-associado-dependente”, quando comparado ao anterior, considerado “elitista-concentrador e excludente” no plano interno. A fase seguinte, que vai de 1974 a 1979, é chamada por Brum (1999) de “O Projeto Brasil Potência”, materializada no Governo Geisel como o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento). Para Lessa (1982, p.23), o II PND tinha forte motivação para a descentralização econômica. O II PND dispunha de uma estratégia que internaliza em seu coração a incorporação dos recursos das regiões periféricas. Esta diretiva, que apontava naturalmente para uma política de desconcentração industrial, foi reforçada de forma explícita à concentração de atividade industrial na área metropolitana paulista, perseguindo-se um equilíbrio no triangulo São Paulo-Rio-Belo Horizonte. Aqui a montagem de um polo industrial pesado em Belo Horizonte – iniciada no Governo Médice com a Fiat em Betim – é reforçada pelo II PND: prioridades para o polo mineiro e reforço na região do Rio com o aquinhoamento de projetos tipo CSN II(Itaguaí), Valesul (alumínio), Centrais Nucleares em Angra dos Reis, etc. Outro ponto importante sobre o II PND era a relação proposta com a economia internacional: 111 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 A estratégia econômica externa, no próximo período, será condicionada, de um lado, pela necessidade de atender aos novos desafios decorrentes da situação mundial - petróleo, insumos básicos, negociações multilaterais de comércio - e, de outro pela determinação de realizar a maior integração com a economia internacional sem tornar vulneráveis os objetivos internos (II PND, 1974, p. 67). Dadas as condições da economia, o projeto Brasil Potência tinha como metas, segundo Brum (1999): manter a performance do milagre com taxas de crescimento entre 8 e 10%, implantar um novo padrão de industrialização, diminuir as disparidades de renda e corrigir a distorção no setor de transportes, priorizando o transporte ferroviário e marítimo. Os resultados alcançados pelo projeto Brasil Potência trouxeram avanços, como: o crescimento médio da economia em 6,9 %, e a expansão da indústria de bens de capital e de insumos básicos, petróleo, petroquímica, fertilizantes e celulose, completando a fase se substituições de importações. Outro aspecto importante foi a descentralização do crescimento econômico originada pelo II PND, com grandes projetos surgindo fora da região sudeste, como o II Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, e Triunfo, no Rio Grande do Sul, entre outros. Para aprofundar seus estudos sobre o período, leia as seguintes obras indicadas no Saiba Mais: LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica. São Paulo: Brasiliense, 1982. LAFER, Celso. JK e o programa de metas (1956-1961): processo de planejamento e sistema político no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. No período que vai de 1980 a 1985, com João Figueiredo na presidência da república, entra em vigor o III Plano Nacional de Desenvolvimento. Os principais pontos do projeto foram (BRUM, 1999): 112 Universidade do Sul de Santa Catarina � Acelerado crescimento da econômica; � Melhoria na distribuição da renda; � Redução das disparidades regionais; � Equilíbrio do balanço de pagamentos; � Controle do endividamento externo; � Desenvolvimento da agropecuária; � Desenvolvimento do setor energético; � Controle da inflação; � Aperfeiçoamento das instituições públicas. Os dois primeiros anos do plano apresentaram resultados econômicos importantes, que podem ser evidenciados pelo crescimento do PIB, que foi de 6,8% em 1979 e 9,2% em 1980, pelo Proálcool e pelo aumento da produção de petróleo no país, que vai responder por 40% do consumo total. O sucesso do plano foi curto, graças ao cenário externo desfavorável, caracterizado por (BRUM, 1999): a) Segundo choque do petróleo, que duplicou o preço dos combustíveis, b) Recessão econômica dos países capitalistas; c) Elevação das taxas de juros no mercado internacional; d) Suspensão de novos empréstimos ao Brasil. Esses fatores externos levam a economia à recessão, significando o fim do sonho dos governos militares. 113 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Na década de 1980 e início dos anos de 1990, o Brasil viveu a sua terceira grande crise global aguda, decorrente da conjugação de vários fatores e várias circunstancias desfavoráveis, internas e externas. A extensão e a complexidade da crise advieram também da expressão populacional do país, das desigualdades e das contradições históricas da nossa sociedade, das mudanças ocorridas nas décadas anteriores, do tamanho e das características da economia brasileira e da natureza de seus vínculos com o exterior. Além de econômica, a crise era também social, política, moral, ética e psicológica. (BRUM, 1999, p. 419). A crise nesta década de 1980 vai fazer com que seja conhecida como a “década perdida”. Na tentativa de manter o crescimento econômico, o país utilizou- se de capital externo, o que agravou seu quadro econômico. A dívida externa bruta subiu 209% e a dívida líquida, 250%, no período de 1978 a 1984,representando um acréscimo médio de US$ 8 bilhões ao ano. A dívida interna elevou-se de Cr$0,5 trilhões para Cr$ 90,3 trilhões (ou do equivalente a US$ 12,3 bilhões para US$ 28,3 bilhões, pelo cambio oficial), de 1979 a 1984. O déficit em conta corrente saltou de US$ 5,8 bilhões em 1978, para US$ 10,7 bilhões em 1979, para US$ 12,8 bilhões em 1980, e para US$ 16,5 bilhões em 1982. A economia entrou em recessão, com o PIB apresentando queda de 4,3% em 1981 e de 2,9% em 1983, sendo que a media anual no triênio recessivo (1981-1983) foi de –2,1% (negativa). A inflação saltou para 77,2% em 1979, para 110,2% em 1980 e para 223,8% em 1984. As reservas cambiais caíram de US$ 11,9 bilhões em 1978 para cerca de US$ 4,0 bilhões em 1982 e 1983. Mas essas reservas não estavam disponíveis. Eram constituídas de créditos que o Brasil tinha junto a devedores inadimplentes, como a Polônia, a Bolívia e outros. Era a crise cambial (falta de moeda forte – dólares – para atender a seus compromissos externos). (BRUM, 1999, p. 289). Brum (1999) apresenta como razões para a crise brasileira o esgotamento do projeto de desenvolvimento e a falta de um novo projeto, não deixando de considerar como um fator importante a crise da dívida externa, que vai estancar a facilidade de acesso ao capital externo. 114 Universidade do Sul de Santa Catarina Diante da moratória decretada pelo governo mexicano, no mês anterior, por incapacidade financeira daquele país, os dirigentes dos bancos credores internacionais deram-se conta de que haviam emprestado demais a muitos países que talvez não tivessem condições de cumprir pontualmente os compromissos financeiros assumidos. Receosos, suspenderam a concessão de novos empréstimos para financiar projetos e refinanciar automaticamente a dívida vincenda e os juros. E passaram a cobrar a conta. (BRUM, 1999, p. 428). A falta de recursos vai significar a recessão, como afirma Brum (1999, p.430): “o país passou a conviver traumaticamente com os fantasmas da estagnação/recessão, do descontrole inflacionário e do agravamento dos problemas sociais, acrescidos de indecisões, tentativas frustradas e incertezas”. Dessa forma, encerra-se o ciclo do governo militar, que vai se seguir pelo governo de transição eleito por eleição indireta, com Tancredo Neves e Jose Sarney, presidente e vice, respectivamente. Tancredo Neves não assume o governo, vindo a ocupar o cargo o vice-presidente José Sarney, cujo governo foi marcado pelo Plano Cruzado, que tinha como objetivo o combate à inflação. No período que vai de 1990 até 1994, as características mais marcantes foram: a implementação dos planos Collor I e II, a abertura comercial, a criação do Mercosul e a adesão ao modelo neoliberal. A abertura comercial, diante do fracasso dos planos econômicos, passa a ser um ponto importante do governo Collor, permitindo uma mudança na estrutura industrial. A abertura provocou uma profunda reestruturação industrial no Brasil, trazendo benefícios para os consumidores pela maior disponibilidade de bens e serviços, com melhores preços e tecnologia, embora com impactos negativos sobre o nível de emprego. A abertura brasileira se deu em condições particulares, sem que os fatores de competitividade sistêmica fossem adaptados, o que provocou um desafio exemplar para os produtores locais. Estes ao contrario dos concorrentes internacionais, foram prejudicados com tributação e juros elevados, carência de infraestrutura e excessiva burocracia. (REGO e MARQUES, 2003, p. 204). 115 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Mesmo com os impactos positivos, as críticas ao processo de abertura se fazem justas, dado o contexto em que se encontravam as empresas brasileiras, que se demonstraram incapazes de se manterem competitivas. A partir do Plano Collor, a economia brasileira entrou na era neoliberal, com políticas de privatização, redução da importância do Estado na economia, Estado e forte desnacionalização do capital. Com a cassação do mandato de Collor, assume Itamar Franco, vice-presidente, que vai consolidar o Plano Real para estabilização da economia brasileira. Anunciado em 7 de dezembro de 1993, esse plano tinha como objetivo: Estabilizar a moeda e recuperar-lhe a confiança, atacando as causas básicas da inflação. O êxito na consecução desse objetivo imediato representaria o primeiro passo fundamental – para a nova etapa de desenvolvimento econômico e social, em bases sustentáveis e duradouras. Depois de mais de uma década de sucessivos fracassos e incertezas, o país passaria a ter um rumo, definindo-se as linhas gerais de um novo projeto nacional, em bases consistentes e com possibilidade real de implementação. (BRUM, 1999, p. 482). O Plano Real e as etapas pós-real foram fundamentais para a estabilização da economia, rompendo com a ideia dos choques consecutivos em forma de planos econômicos. Porém, ainda não se conseguiu implementar um processo contínuo de desenvolvimento. Na fase pós-real, a inflação caiu, o ambiente econômico tornou-se mais estável e previsível, mas a equação básica do crescimento não foi solucionada. Como a capacidade instalada não cresceu o quanto deveria, qualquer movimento de crescimento de consumo foi abortado por medidas de restrição ao credito, elevação dos juros e aumento dos empréstimos compulsórios, de forma que o crescimento tornou-se um subproduto, não o objetivo principal da política econômica. (REGO e MARQUES, 2003, p. 234). Segundo Dowbor (2001, p.197), para alcançar o desenvolvimento, precisa-se romper com as políticas neoliberais, as quais fazem com que o crescimento econômico não dê conta de resolver os entraves ao desenvolvimento. 116 Universidade do Sul de Santa Catarina O crescimento econômico, quando existe, não é suficiente. Nem a área produtiva, nem as redes de infraestruturas, nem os serviços de intermediação funcionarão de maneira adequada se não houver investimento no ser humano, na sua formação, na sua saúde, na sua cultura, no seu lazer, na sua informação. Em outros termos, a dimensão social do desenvolvimento deixa de ser um “complemento”, uma dimensão humanitária de certa forma externa aos processos econômicos centrais, para se tornar um dos componentes essenciais da transformação social que vivemos. (DOWBOR, 2001, p.197) Encontrar caminhos que levem o país ao desenvolvimento pleno é uma tarefa desafiadora para governos, estudiosos, empresários e sociedade em geral. Alcançar um modelo de desenvolvimento que leve em conta a dimensão humanitária é um dos desafios que está posto. Síntese Nesta unidade, apresentamos um retrato da economia latino- americana, em que evidenciou-se o papel da CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe e sua contribuição para o entendimento dos elementos que impediam o desenvolvimento da região, bem como aspectos gerais sobre seus principais teóricos, destacando-se Raul Prebish e Celso Furtado. Também estudamos a Teoria da Dependência e sua contribuição para o entendimento do atraso econômico da América Latina em geral. Por fim, apresentou-se um breve retrospecto do desenvolvimento econômico brasileiro, suas nuances, seus entraves e avanços até o Plano Real, uma vez que após esse período não tivemos a existência de outros planos, tampouco houve grandes modificações no processo econômico brasileiro. 117 Desenvolvimento Socioeconômico Unidade 4 Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) Sobre a CEPAL e seu papel no desenvolvimento da América Latina, é incorreto afirmar que: a. ( ) Os estudos da CEPAL objetivavam explicar o atraso da América Latina em relação aos chamados centros desenvolvidos e encontrar a forma de superação desseatraso. b. ( ) A abordagem da CEPAL sobre o crescimento econômico na América Latina era fruto de conhecimento empírico. c. ( ) Um dos enfoques dos estudos de Raul Prebish foi contestar a teoria das vantagens comparativas, pois os países exportadores de matéria-prima são prejudicados, uma vez que não recebem os incrementos de produtividade auferidos pelos países ricos. d. ( ) O pensamento cepalino desde a sua origem até os anos 50 tinha como enfoque a industrialização. e. ( ) A ausência de desenvolvimento decorria da produção restrita a produtos primários, cuja demanda no mercado mundial tendia a ser pouco dinâmica, submetendo a periferia à deterioração dos termos de troca. 2) A CEPAL propõe a implementação de uma política de industrialização, tendo como característica principal o desenvolvimento “para dentro”. A partir dos estudos feitos, descreva (em torno de 10 linhas) como deveria se dar esse processo de desenvolvimento. 118 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais LAFER, Celso. JK e o programa de metas (1956-1961): processo de planejamento e sistema político no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica. São Paulo: Brasiliense, 1982. PREBISCH, Raul. (1949): El desarrollo económico de la América Latina y algunos de sus principales problemas, Santiago de Chile, CEPAL. Reproducido en A. Gurrieri. La obra de Prebisch em la CEPAL, México, D.F., Fondo de Cultura Económica, 1982. Para concluir o estudo Ao longo desse livro, você teve a oportunidade de conhecer aspectos relacionados ao desenvolvimento socioeconômico, estudando seus principais conceitos e conhecendo a contribuição de economistas, sociólogos e historiadores sobre o tema. Os conteúdos aqui estudados não pretendem dar conta de toda a temática que envolve o desenvolvimento socioeconômico, mas permitem um primeiro contato e assim despertar um interesse pelo tema, que é de fundamental importância para a academia. Na unidade 1, você pôde conhecer as principais contribuições que os estudos sobre o crescimento e desenvolvimento econômico alcançaram para a ação do Estado. Na unidade 2, apresentamos uma abordagem histórica do processo de desenvolvimento, contribuindo para o entendimento das dificuldades em conciliar desenvolvimento com crescimento econômico. A seguir, na unidade 3, você estudou as principais teorias do crescimento e a busca por estratégias que permitam às nações encontrarem o caminho do crescimento econômico, e assim chegarem a um estágio mais avançado de desenvolvimento. Por fim, na unidade 4, você pôde conhecer as principais contribuições da CEPAL e de como se deu o crescimento econômico brasileiro, que, como vimos, ainda não alcançou o estágio de desenvolvimento econômico. Dessa forma, espero que essa leitura tenha contribuído para sua formação pessoal e profissional, por meio dos estudos aqui feitos. Referências ABREU, M. P. (org.) et al. A ordem do progresso – cem anos de política econômica republicana 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1992. ALCOFORADO, Fernando. Os fatores condicionantes do desenvolvimento Econômico e Social. São Paulo. Ed. CRV, 2000. ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis: Vozes, 1984. BASTOS, Vânia Lomônaco; SILVA Maria Luiza Falcão Silva. Para entender as economias do terceiro mundo. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995. BIELSCHOWSKY, Ricardo. Cinquenta anos de pensamento na CEPAL- uma resenha. In: BIELCHOWSKY, Ricardo (org.). Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. RJ: Record, 2000. BRANDÃO, Eugênio. A Metamorfose do Samurai. 1. ed. Lisboa: Hugin, 1998. BRASIL. II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979). Rio de Janeiro, IPEA: 1974. BRESSER-PEREIRA, L. C. O conceito histórico de desenvolvimento econômico. 2008. Disponível em: <http:// www.bresserpereira.org.br/>. Acesso em: 2 fev. 2013. ______. O Modelo Harrod-Domar e a Substitutibilidade de Fatores. Estudos Econômicos, 5 (3): 7-36, 1975. BRUM, Argemiro J. O desenvolvimento econômico brasileiro. 20ª ed. Petrópolis: Brasiliense, 1987. ______. O desenvolvimento econômico brasileiro. 23ª ed. Petrópolis: Vozes; Ijuí: Ed. UniJuí, 2003. CÂMARA DOS DEPUTADOS. O que são royalties. 29 dez. 2004. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/ noticias/60450.html. Acesso em: 12 mar. 2013. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Produtores reclamam que royalties reduzem lucros de produções transgênicas. 10 out. 2012. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/ camaranoticias/noticias/AGROPECUARIA/428223-PRODUTORES- RECLAMAM-QUE-ROYALTIES-REDUZEM-LUCROS-DE- PRODUCOES-TRANSGENICAS.html>. Acesso em: 11 mar. 2013. 122 Universidade do Sul de Santa Catarina CÂNDIDO, Aécio. Teorias do Desenvolvimento e Desenvolvimento no Brasil. Caderno Leituras de Sociologia 2. UERN. 1999. CANO, W. Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil, 1930-1997. 2ed. Campinas: IE, 1998. CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO, Enzo. Dependência e Desenvolvimento na América Latina. 8ª Edição Revista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. CLARK, John Bates. Robert M. Solow. Investopedia, 2013. Disponível em: <http://www.investopedia.com/terms/r/robert-solow. asp#ixzz2MV7RyMeH>. Acesso em: 11 mar. 2013. DE AQUINO. Leonardo Cembranelli. China: Políticas de Comércio Internacional e Desenvolvimento Econômico. Centro Argentino de Estudios Internacionales. 2004. Disponível em: <http://www.caei.com.ar/ sites/default/files/05_2.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2013. DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO. Josué de Castro. 2008. Disponível em: <http://www.josuedecastro.com.br/port/desenv.html>. Acesso em: 12 mar. 2013. DIAS, Joilson; DIAS, A. Maria Helena. Crescimento econômico, emprego e educação em uma economia globalizada. Maringá: Eduem, 1999. DOS SANTOS, Theotônio. Sistema Econômico Mundial: gênese e alcance teórico de um conceito. Rede de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável, 2002. Disponível em: < http://www. reggen.org.br/reggen/CMS?idMateria=72F9E641-6A19-01D7-46DF- 88ABB9FF909B&idSecao=67501820-44FD-BFD1-B61C-B360338CD5D1>. Acesso em: 15 jan. 2013. DOWBOR, L. Gestão social e transformação da sociedade. In: DOWBOR, L.; KILSZTAJN, S. (Org.). Economia social no Brasil. São Paulo: Ed. Senac, 2001. EASTERLY, W. O espetáculo do crescimento. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. FERNANDES, Florestan. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. 3ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, [1973] 1981. FILELLINI, Alfredo. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. São Paulo: EDUC, 1994. FURTADO, Celso. A saga da SUDENE: (1958-1964). Arquivos Celso Furtado, v. 3, Rio de Janeiro. Contraponto: Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, 2009. ______. O capitalismo global. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. ______. O subdesenvolvimento revisitado. Economia e Sociedade. No1. Agosto 1992. http://www.josuedecastro.com.br/port/desenv.html 123 Desenvolvimento Socioeconômico GARCIA, Manuel Enriquez; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Fundamentos de economia. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004. GILPIN, Robert. A economia política das Relações Internacionais. Brasília: UnB, 2002. GLOSSÁRIO. Ícone Brasil (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais). Disponível em: <http://www.iconebrasil.org.br/pt/?actA=16 &areaID=14&secaoID=29&palavraID=330>. Acesso em: 11 mar. 2013. HAFFNER, Jacqueline Angélica Hernández. A CEPAL e a industrialização brasileira. (1950-1961). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. HELLER, Claudia. O modelo simplificado da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda. segundo James Meade. São Paulo: VI Encontro Nacional de Economia Política (SEP). Évora, Portugal: IV Encontro de Economistas da Língua Portuguesa (EELP). HISTÓRIA. Embaixada do Japão no Rio de Janeiro. Disponível em: http:// www.rio.br.emb-japan.go.jp/caracteristicas/historia.htm. Acessoem: 12 mar. 2013. INVEST BOLSA. O que são Commodities?. 24 out. 2008. Disponível em: <https://www.investbolsa.com.br/PrimeirosPassos/post/2008/10/24/O- que-sao-Commodities.aspx>. Acesso em: 26 fev. 2013. IPEA. Revista online Desafios do Desenvolvimento, 2007. Exportações - O avanço das commodities. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/ desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2513:catid=28 &Itemid=23>. Acesso em: 26 fev. 2013. JAMES E. Meade. Investopedia, 2013. Disponível em: <http://www. investopedia.com/terms/j/james-e-meade.asp#ixzz2MV513DSw>. Acesso em: 08 mar. 2013. JANEIRA, Armando Martins. Japão: A construção de um País Moderno. Editora: Inquérito, L. D. A. Lisboa, Portugal, 1985. JONES, Charles I. Introdução à teoria do crescimento econômico; tradução de Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2000. JONES, Hywel G. Modernas teorias do crescimento econômico: uma introdução; tradução: Maria Angela Fonseca, Marcos Gianneti Fonseca. São Paulo: Atlas, 1979. KALECKI, M. Teoria da dinâmica econômica. Os Economistas. São Paulo, Abril Cultural, 1983. KEYNES, J. M. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. 1ª ed., São Paulo, Atlas, 1982. KODAK: como a era digital se voltou contra um de seus criadores. Terra. Negócios e TI, Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/ kodak-como-a-era-digital-se-voltou-contra-um-de-seus-criadores,19382feb7 11ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 11 mar. 2013. http://www.iconebrasil.org.br/pt/?actA=16&areaID=14&secaoID=29&palavraID=330 http://www.iconebrasil.org.br/pt/?actA=16&areaID=14&secaoID=29&palavraID=330 http://www.rio.br.emb-japan.go.jp/caracteristicas/historia.htm http://www.rio.br.emb-japan.go.jp/caracteristicas/historia.htm https://www.investbolsa.com.br/PrimeirosPassos/post/2008/10/24/O-que-sao-Commodities.aspx https://www.investbolsa.com.br/PrimeirosPassos/post/2008/10/24/O-que-sao-Commodities.aspx http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2513:catid=28&Itemid=23 http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2513:catid=28&Itemid=23 http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2513:catid=28&Itemid=23 124 KUNTZ, Rolf (org.). François Quesnay: economia. São Paulo: Ática, 1984. 192 p. ______. Capitalismo e natureza: ensaio sobre os fundadores da economia política. São Paulo: Brasiliense, 1982. 139 p. LACERDA, Antônio Corrêa de. Economia Brasileira. 1ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. LAFER, Celso. JK e o programa de metas (1956-1961): processo de planejamento e sistema político no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. LEMOS, Cristina. Inovação na Era do Conhecimento. In: LASTRES, H.M.M.; ALBAGLI, S (orgs.). Informação e Globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999. LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica. São Paulo: Brasiliense, 1982, p43. MACHADO, Luiz Toledo. A teoria da dependência na América Latina. Estud. av., São Paulo, v. 13, n. 35, Apr. 1999 . Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141999000100018>. Acesso em: 09 mar. 2013. MANTEGA, Guido. A economia política brasileira. 3ª. ed. São Paulo: Vozes, 1985. MARINI, R. M. Dialética da dependência. Petrópolis: Vozes, 2000. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política - Livro I; tradução de Reginaldo Santana, 18 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. MARX, Karl; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Cortez, 1998. MÁXIMO, Wellton. Agência Brasil, 2012. Investimentos estrangeiros no Brasil atingem US$ 7,7 bilhões em outubro e batem recorde para o mês. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-11-22/ investimentos-estrangeiros-no-brasil-atingem-us-77-bilhoes-em-outubro- e-batem-recorde-para-mes>. Acesso em: 25 fev. 2013. MEIR, G. M.;BALDWIN, R. E. Desenvolvimento econômico. São Paulo: Mestre Jou, 1968. NAPOLEONI, C. Smith, Ricardo, Marx. 8 ed. Rio de Janeiro: Biblioteca de Economia, 2000. OREIRO, José Luiz. Progresso tecnológico, crescimento econômico e as diferenças internacionais nas taxas de crescimento da renda per capita. Uma crítica aos modelos neoclássicos de crescimento. Economia e sociedade: revista do Instituto de Economia da UNICAMP. Campinas, SP, ISSN 0104-0618, ZDB-ID 13341431. - 1999, p. 41-67. Disponível em: < http:// www.eco.unicamp.br/docprod/downarq.php?id=488&tp=a>. Acesso em: 12 mar. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141999000100018 http://www.eco.unicamp.br/docprod/downarq.php?id=488&tp=a http://www.eco.unicamp.br/docprod/downarq.php?id=488&tp=a 125 PAZ, Pedro, RODRIGUES, Octávio. Modelos de crescimento econômico. Rio de Janeiro: Fórum, 1972. PINHEIRO, Juliano Lima. Mercado de capitais: fundamentos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2002, 328 p. PORTER, Michael E. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. 14ª ed. São Paulo: Campus, 1989. POSSAS, M.L. Dinâmica da Economia Capitalista: abordagem teórica. São Paulo: Brasiliense, 1987. PREBISCH, Raul. Dinâmica do desenvolvimento latino-americano. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura S.A.,1963, p. 9-31. ______. (1949): El desarrollo económico de la América Latina y algunos de sus principales problemas, Santiago de Chile, CEPAL. Reproducido en A. Gurrieri. La obra de Prebisch em la CEPAL, México, D.F., Fondo de Cultura Económica, 1982. REGO, J. M.; MARQUES, R. M. (Org). Economia brasileira. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. REZENDE, D.C. Integração entre ECT e enfoque evolucionista: um estudo de caso no agribusiness do leite. ENANPAD, 1998. RIANI, Flávio. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1997. 208 p. RIBEIRO, D. As Américas e a civilização: processo de formação e causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos. 6ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. RODRIGUES, Ana Sofia Domingues. Ensaio sobre a literatura de análise dos efeitos da educação no crescimento econômico. Gestão e Desenvolvimento, 12 (2004), 199-218. ROSTOW, W. W. Etapas do desenvolvimento econômico – um manifesto não comunista (1960). Rio de Janeiro: Zahar Editôres, 1961. SCHUMPETER, J. Teoria do Desenvolvimento Econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultura, 1988. SILVA, Fernando Antonio Rezende da. Finanças públicas. São Paulo: Atlas, 1980. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. 10ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os Economistas). ______. A riqueza das nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Economistas). 126 Universidade do Sul de Santa Catarina SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento econômico. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1999. ______. Desenvolvimento econômico. São Paulo: Atlas, 1995. SOUZA, Nali de Jesus de. OLIVEIRA, Julio Cesar de. Relações entre geração de conhecimento e desenvolvimento econômico. Revista Análise. Porto Alegre: v. 17, n. 2, p. 211-223, 2005. Disponível em: <http:// revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/304/241>. Acesso em: 12 jan. 2013. TAUILE, José Ricardo. Para (re)construir o Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Contraponto, 2001. TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro: ensaios sobre economia brasileira. 7ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, M. E. Fundamentos da economia. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. VEIGA, José E.. O desenvolvimento agrícola: uma visão histórica. São Paulo: Hucitec/Edusp: 1991. WOLFFENBÜTTEL, Andréa. O que é Índice de Gini. IPEA, 2007. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&vi ew=article&id=2048:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 26 fev. 2013. ZILBOVICIUS, M.; ABRAMOVAY, R. (Org.) Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: UNESP, 2001. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/304/241http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/304/241 http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2048:catid=28&Itemid=23 http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2048:catid=28&Itemid=23 Sobre o professor conteudista João Antolino Monteiro, graduado em ciências econômicas, 2002. Concluiu a especialização em gestão de marketing e em docência do ensino superior pela Universidade do Sul de Santa Catarina, em 2004. Atualmente, é professor titular da Universidade do Sul de Santa Catarina no ensino presencial e a distância. Desenvolve atividades de consultoria empresarial na incubadora de empresas CRIE – Centro Referência em Inovação e Empreendedorismo. Respostas e comentários das atividades de autoavaliação Unidade 1 1) A alternativa b é incorreta. 2) Crescimento econômico pode ser definido como acréscimos no produto, enquanto desenvolvimento econômico representa melhoras na qualidade de vida. A diferença entre os dois é que crescimento é representado por uma variável quantitativa e desenvolvimento por uma variável qualitativa. 3) Fernandes mostra que o Brasil e a América Latina são caracterizados por uma economia de mercado capitalista, constituída para operar estrutural e dinamicamente como uma entidade especializada, ao nível da integração do mercado capitalista mundial; como uma entidade subsidiária e dependente, ao nível das aplicações reprodutivas do excedente econômico das sociedades desenvolvidas; e como uma entidade tributária, ao nível do ciclo de apropriação capitalista internacional, no qual ela aparece como uma fonte de incrementação ou de multiplicação do excedente econômico das economias capitalistas hegemônicas. Unidade 2 1) A alternativa b é incorreta. 2) O Estado teve um papel importante para o desenvolvimento inglês, ao criar uma regulamentação comercial, a proteção internacional de interesses privados ingleses, como a abertura e preservação de novos mercados, evitar a queda da taxa de lucros e, então, do ritmo dos investimentos. 3) A alternativa e é incorreta. 130 Universidade do Sul de Santa Catarina Unidade 3 1) A alternativa d é correta. 2) A alternativa d é correta. 3) Inovação radical representa a novidade e a inovação incremental representa a otimização de processos de produção, o design de produtos ou a diminuição na utilização de materiais e componentes na produção de um bem. Unidade 4 1) A alternativa b é incorreta. 2) O primeiro passo do modelo proposto era produzir internamente os bens, antes importados, que fossem demandados pelos consumidores, fortalecendo, assim, o mercado interno. A base para o modelo foi o processo de substituição de importações. Biblioteca Virtual Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos alunos a distância: � Pesquisa a publicações on-line <www.unisul.br/textocompleto> � Acesso a bases de dados assinadas <www.unisul.br/bdassinadas> � Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas <www.unisul.br/bdgratuitas> � Acesso a jornais e revistas on-line <www.unisul.br/periodicos> � Empréstimo de livros <www.unisul.br/emprestimos> � Escaneamento de parte de obra* Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA, e explore seus recursos digitais. Qualquer dúvida escreva para: bv@unisul.br * Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei 9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro. http://www.unisul.br/textocompleto http://www.unisul.br/textocompleto http://www. unisul.br/bdassinadas http://www.unisul.br/bdgratuitas http://www.unisul.br/bdgratuitas http://www. unisul.br/periodicos http://www. unisul.br/periodicos http://www. unisul.br/emprestimos http://www. unisul.br/emprestimos mailto:bv%40unisul.br?subject= Apresentação Palavras do professor Plano de estudo Crescimento e desenvolvimento econômico Abordagem histórica do processo de desenvolvimento Teorias do crescimento econômico Desenvolvimento segundo a CEPAL e o desenvolvimento no Brasil Para concluir o estudo Referências Sobre o professor conteudista Respostas e comentários das atividades de autoavaliação Biblioteca Virtual