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Objetivos Seção 2 de 6 UNIDADE 1. Aspectos introdutórios da economia brasileira Valter Luciano Bispo Júnior OBJETIVOS DA UNIDADE • bullet Apresentar fundamentos de economia, seus princípios e como mercados funcionam através dos conceitos principais; • bullet Abordar a relação entre economia e direito, evidenciando as práticas no mercado e na macroeconomia, além de verificar o papel do estado no bem-estar social; • bullet Observar o panorama da economia brasileira, verificando o desempenho macroeconômico, seus problemas e quais os desafios de recuperação; • bullet Observar os pressupostos utilizados para a formulação da política econômica brasileira e as principais contribuições teóricas para o cenário econômico atual. TÓPICOS DE ESTUDO Clique nos botões para saber mais Fundamentos da economia: noções – // Princípios econômicos // Funcionamento dos mercados Economia e direito – // Relação do direito com as teorias de mercado // Estrutura jurídica das políticas macroeconômicas // Papel do estado no bem-estar social Panorama da economia brasileira – // Desempenho recente da economia brasileira // Gargalos estruturais e desafios econômicos A economia política brasileira – // Nacional-desenvolvimentismo // Substituição de importações // Marxismo brasileiro e democracia burguesa // Subdesenvolvimento capitalista Fundamentos da economia: noções Seção 3 de 6 No cotidiano e nos noticiários, uma série de questões econômicas são discutidas diariamente nos meios de comunicação, como o aumento de preços. Entretanto, mesmo em questões rotineiras, é função dos profissionais da área econômica conhecer e fornecer informações que solucionem os problemas econômicos e elevem a qualidade de vida da sociedade. A economia em si trata-se de uma ciência social que aponta a maneira como a sociedade escolhe empregar os recursos escassos de produção, a fim de satisfazer, ao máximo, as suas necessidades ilimitadas. Segundo Mankiw, na página 4 do livro Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia, de 2001, os recursos são alocados por meio da combinação de ações realizadas por famílias e empresas, nas quais se evidencia como as pessoas tomam decisões econômicas e interagem entre si. A ciência econômica não atua em intercorrência com diversas áreas do conhecimento, como a matemática e a estatística, por exemplo, utilizando modelos analíticos ou por meio de medidas ligadas à distribuição de renda e crescimento. Uma destas áreas é a economia política, que teve as suas primeiras teorias introduzidas em 1615, por Antoine de Montchrétien, para explicar as relações de produção da época. Este conceito foi aprimorado por Adam Smith, que utilizou a economia política para comprovar a teoria do valor – trabalho como fonte de riqueza da sociedade, se contrapondo aos pressupostos mercantilistas e fisiocratas abordados até então. Atualmente, a economia política indica como as instituições e os preceitos políticos influenciam no comportamento do mercado. Já que a economia apresenta uma série de perfis ou faces conceituais, é preciso centralizar as suas ideias. Baseada neste entendimento, a ciência econômica se fundamenta em princípios, abordando uma visão de como funciona o pensamento econômico de maneira prática. PRINCÍPIOS ECONÔMICOS O entendimento sobre economia não é tão complexo, ou seja, independentemente do local de residência e trabalho, a economia é compreendida genericamente. Sendo assim, é preciso estabelecer alguns princípios que regem a economia de acordo com o comportamento das pessoas e das suas decisões individuais. Clique nos botões para saber mais Enfrentando tradeoffs – Segundo Mankiw, na página 4 do livro publicado em 2001, tradeoff é uma expressão que retrata uma situação onde há uma alternativa conflitante. A tomada de decisões, a busca por eficiência e a equidade dentro do ambiente econômico requer sacrifícios, isto é, se escolhe um determinado objetivo em detrimento do outro. É como um casal decidindo a maneira que vai utilizar a sua renda: bens de consumo ou poupança; Custo de oportunidade – Conforme as pessoas enfrentam tradeoffs, elas estabelecem uma comparação das vantagens e custos ao realizar uma determinada escolha. Neste contexto, o conceito de custo de oportunidade, segundo Mankiw, é tudo aquilo que o indivíduo abre mão para obter algo que julga ser mais importante. Pensando na margem – Numa determinada decisão já tomada, dificilmente as coisas são realizadas da maneira planejada, precisando de ajustes durante a execução. No campo econômico, isso é definido como mudanças marginais, que são os ajustes incrementais adotados num projeto em execução. Reação à incentivos – Sabendo que as decisões são tomadas levando em consideração os custos e benefícios, é compreensível que as decisões mudem junto com o cenário. Logo, as pessoas estão propensas a reagir diante de um determinado incentivo. Por exemplo, quando um produto sofre um aumento no seu preço, os consumidores são incentivados a procurar por outros produtos mais baratos. Em compensação, os produtores são incentivados a contratar mais empregados, pois seu preço se tornou atrativo. Os princípios até aqui abordados levam em consideração as decisões individuais. Entretanto, uma vez que a maioria da humanidade vive em sociedade, tais medidas afetam o cotidiano das outras pessoas. Observando a interação entre as pessoas, se visualizam outros princípios, como: Clique nos botões para saber mais Manter negócios em comum – Na busca pelas melhores oportunidades, existe uma concorrência comercial entre as pessoas ou entre as nações. Entretanto, num ambiente de negócios, é preciso desmistificar a ideia de ganhadores e perdedores, pois o negócio é benéfico para ambos os lados. De acordo com Mankiw, a comercialização permite que cada nação se especialize naquilo que faz de melhor e desfrute da diversidade dos bens e serviços oferecidos pelos outros. Organização da economia por meio dos mercados – Ao longo da história, algumas nações defenderam a ideia de que o planejamento econômico deveria estar centralizado num governo, cabendo a eles a decisão de produzir e distribuir bens e serviços. Com as mudanças econômicas ocorridas nesses países, as economias de mercado passaram a decidir a produção, enquanto as famílias determinam o consumo. Interferência do governo nos mercados – Mesmo com a importância do mercado para o funcionamento da economia, não é viável desprezar a presença do governo, que atua para protegê-lo, promovendo a eficiência e equidade das atividades econômicas, já que os mercados apresentam falhas na alocação dos recursos. Além desses princípios, há aqueles que tratam especificamente do funcionamento da economia: Clique nos botões para saber mais Capacidade de produção e padrão de vida – Ao redor mundo, há uma diferença imensa entre os padrões de vida das pessoas. Os indivíduos que moram em países desenvolvidos têm à sua disposição uma quantidade de bens e serviços mais ampla e diversificada em relação aos países emergentes. Emissão de moedas – Quando a economia passa por um período de aumento generalizado dos níveis de preço, este fenômeno é denominado inflação. Um dos principais vilões do aumento é a elevação da quantidade de moeda emitida por um governo, por meio da sua política monetária, muitas vezes mal elaborada. 𝘛𝘳𝘢𝘥𝘦𝘰𝘧𝘧 entre inflação e desemprego – Com o aumento da inflação provocado pela emissão da quantidade de moeda, outro efeito percebido na economia em curto prazo é o desemprego. A curva de Phillips, por exemplo, afirma que na expansão de curto prazo da economia e havendo uma redução do desemprego, existe uma queda dos níveis de preços (inflação). Nos momentos de recessão,ocorre o contrário. FUNCIONAMENTO DOS MERCADOS A ideia de mercado estava relacionada aos locais nos quais bens e serviços eram negociados. Com a evolução e inovação, o conceito de mercado se torno algo abstrato, sem uma localização física. Sendo assim, o mercado é definido como a interação entre os fornecedores e consumidores de um serviço ou bem. O fornecedor é visto como a empresa responsável por produzir e ofertar a maioria dos bens e serviços produzidos na economia e os consumidores, por seu turno, são os que demandam e compram bens e serviços. Para compreender como funciona o mercado, é preciso identificar quais fatores influenciam no desempenho. A demanda é a quantidade de bens e serviços ao qual os consumidores estão dispostos e são capazes de conseguir a cada nível de preço, ao longo de um determinado período, levando em consideração aspectos como o nível de renda. Há uma relação inversa entre a quantidade demandada e o preço de um determinado produto (lei geral da procura): quando o preço do produto se retrai, aumenta a quantidade demandada e vice- versa, mantendo constantes as outras variáveis (ceteris paribus). Essa relação inversa é compreendida por meio de outros fatores como o efeito substituição, em que o aumento do preço de um produto se eleva fazendo com que os consumidores busquem outros produtos para substituí-lo. O outro fator é o efeito renda, que considera a hipótese de que, se a renda permanecer sem alterações e o preço do produto se elevar, os consumidores podem demandar uma quantidade menor de produtos, já que o poder aquisitivo foi reduzido – lembrando que a ideia se inverte quando ocorre o contrário. A oferta é definida como a quantidade de bens e serviços que os fornecedores estão capacitados a disponibilizar a cada nível de preço, ao longo de um determinado período. Da mesma forma que ocorre com a demanda, o fator essencial que influencia no comportamento da oferta está relacionado ao próprio preço do produto. Existe uma relação direta entre a quantidade ofertada e o preço de um determinado produto (lei geral da oferta): quando o preço de um determinado bem ou serviço se eleva, a sua produção e comercialização se torna mais lucrativa, o que incentiva os produtores a ofertar uma quantidade maior deste produto (ceteris paribus). Vale ressaltar que outros pontos interferem na oferta, como os custos dos fatores de produção, que dependem da variação do preço pago pela sua utilização. Uma redução no preço dos fatores torna a produção mais lucrativa e impulsiona o aumento da oferta bens e serviço. De fato, o aumento do preço dos fatores de produção gera um efeito reverso. Outro fator diz respeito às melhorias tecnológicas que possibilitam uma redução de custos. Este insumo estimula a produção e eleva o nível de oferta de bens e serviços. Uma nova matéria prima (maquinário) que auxilia no aumento da produtividade pode gerar um efeito reverso no aumento dos custos. A variação no nível de lucratividade de outros bens e serviços exerce influência na oferta de um determinado bem. Diante deste contexto, existem bens substitutos, quando o produtor opta por produzir um bem (x), devido ao aumento do preço, o que o torna mais lucrativo em relação ao bem (y). É possível ter bens complementares, aqueles que alteram o nível de produção em função do preço dos outros bens, e outras variáveis capazes de exercer influência na quantidade ofertada. Uma alteração positiva na quantidade de produtores eleva a oferta de bens ou serviços. Fatores climáticos, como as geadas, influenciam na produção e na oferta de produtos agrícolas. Ao passo que decisões dos consumidores e produtores são tomadas, tomando como base os respectivos planos de consumo e produção, fica mais evidente qual o preço e a quantidade de bens ou serviços que equilibram o mercado, ao mesmo tempo que se promove uma compreensão das situações em que o equilíbrio é alterado. O ponto de equilíbrio vai ser encontrado no momento em que as curvas de demanda e oferta se interceptarem. Analisando os mercados competitivos, cabe ao mercado determinar o equilíbrio em razão da quantidade extensa de compradores e vendedores, os quais não conseguem, individualmente, exercer influência no preço ou na quantidade. O Gráfico 1 demonstra um exemplo da curva de oferta e demanda de mercado efetivamente juntas. Gráfico 1. Oferta e demanda. Fonte: MANKIW, 2001. É possível observar um ponto em que as curvas de oferta e demanda se cruzam, o qual é denominado de ponto equilíbrio. Nesse ponto, consta o preço de equilíbrio, que iguala a quantidade ofertada e demandada e a quantidade de equilíbrio, que representa a quantidade ofertada e demandada ao preço de equilíbrio. Gráfico 2. Excesso de oferta e demanda. Fonte: MANKIW, 2001. O Gráfico 2 retrata uma outra situação possível na relação da demanda com a oferta: os mercados em desequilíbrio. Tem-se um excesso de oferta, em que o preço de mercado do sorvete ($2,50) está acima do preço de equilíbrio ($2,00) e a quantidade de oferta (10) vai exceder ao da demanda (4). Assim, os fornecedores reduzem o preço do sorvete a fim de aumentar as suas vendas, conduzindo o preço novamente ao equilíbrio. O gráfico à direita retrata um excesso de demanda: o preço de mercado do sorvete ($1,50) está abaixo do preço de equilíbrio ($2,00) e a quantidade de demanda (10) vai exceder ao da oferta (4). Consequentemente, os fornecedores tendem a elevar o preço do sorvete, a fim de aumentar a sua lucratividade, já que existe cenário de escassez de produtos ofertados para a demanda, o que conduz o preço ao nível de equilíbrio. DICA Há uma situação pertinente na economia, que é mudança de equilíbrio, ou seja, quando as curvas de demanda e oferta se deslocam para a esquerda (retração) ou direita (expansão), indicando, assim, que o equilíbrio de mercado pode mudar. Economia e direito Seção 4 de 6 Alguns dos conceitos essenciais da economia estão atrelados ou dependem da normatização jurídica para serem executados. É preciso explicar que as normas jurídicas conseguem moldurar a área de avaliação econômica. Por sua vez, a questão econômica vem se renovando, o que leva a uma mudança constante da estruturação jurídica. É preciso lembrar que a economia mais recente vem se caracterizando pelo avanço significativo da chamada liberalização dos mercados, que, de acordo com Vasconcellos e Garcia, no do livro Fundamentos da Economia, de 2008, trata do aumento do comércio e das finanças internacionais ao mesmo tempo que a atividade econômica do estado vem sendo reduzida. Diante deste cenário, a figura do estado regulador passou a ter relevância, no sentido de atender duas frentes essenciais: o direito dos consumidores e a defesa da concorrência. Ao longo deste tópico, são apresentados os aspectos microeconômicos que trata da teoria dos mercados. Mais adiante, vem a parte macroeconômica, destacando a importância da estruturação jurídica, que serve de base para o uso de métodos na política econômica, além da função do estado no sentido ser o agente promotor do bem-estar social, seja sob o olhar econômico ou jurídico. RELAÇÃO DO DIREITO COM AS TEORIAS DE MERCADO Para entender a ligação existente entre o direito e as teorias de mercado, é necessária atenção para dois aspectos fundamentais: saber que este conceito está relacionado à microeconomia, que é a área responsável basicamente pela avaliação e formação dos preços no mercado, e que o outro aspecto trata dos enfoques que analisam o desempenho dos consumidores e produtores quanto à tomada de decisão de produção e consumo. De acordo com Vasconcellos e Garcia, é preciso cuidar dos agentes das relações de consumo, respeitando os diretos do consumidor diante das obrigações do fornecedor dos bens eserviços, conforme se visualiza no Código de Defesa do Consumidor. Sob o ponto de vista do empresário, que disponibiliza os bens e serviços, a visão econômica aborda o papel do administrador, como responsável por organizar os fatores de produção, e uma visão jurídica, que enfatiza o direito imbuído ao comerciante, cujo patrimônio é inserido na categoria de pessoa jurídica, possibilitando o exercício dos seus direitos e obrigações. Produtores e consumidores podem se inserir em vários mercados, como a própria história demonstra. Vasconcellos e Garcia citam Adam Smith como um economista defensor do pensamento liberal, em que o indivíduo busca o seu bem-estar de forma privada realizando aquilo que for mais apropriado para si. Este pensamento individual é a base para os mercados competitivos, cujo sistema de preços possibilita a extração máxima dos bens e serviços combinados com os recursos que a sociedade dispõe. Para os liberais, a figura do estado é vista como nociva e a sua intervenção deve ser a mínima possível, pois as empresas e os indivíduos são capazes de resolver os problemas econômicos básicos. Há outras correntes de pensamento econômico que defendem que o Estado precisa intervir na economia, sem esquecer das imperfeições de mercado, como as externalidades que indicam os possíveis efeitos sociais, econômicos e ambientais causados pela comercialização de um bem ou serviço, coisas que nem sempre se refletem nos preços de mercado. Além das externalidades, o poder do monopólio e as falhas de informação dificultam a tomada de decisão assertiva quando o mercado exigir. Sendo assim, cabe ao estado proteger os consumidores por meio da regulamentação de comercialização ou de normas jurídicas capazes de sanar as falhas. O Brasil, desde os anos 1960, apresenta uma legislação que trata da defesa da concorrência, por exemplo. A partir da Constituição de 1988, os princípios que norteiam a participação do estado na economia se tornaram mais expressivos, no sentido de proteção contra o abuso de poder econômico, fiscalização e planejamento. A constituição serviu de base, por exemplo, para a criação do Sistema Brasileiro de Defesa Econômica (SBDC), com a Lei 8.884/94, além do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), subordinado ao SBDC e transformado em autarquia a partir de 1994, cuja função é fiscalizar e apurar possíveis abusos de poder econômico. Quadro 1. Funções do SBDC e do CADE. Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA, 2008. As ações do governo são essenciais para a implantação de uma política que auxilie na defesa da concorrência, pois, por meio dela, é possível impedir abusos no mercado, induzindo o consumidor ao erro na tomada de decisão e causando prejuízo. Portanto, a defesa de concorrência busca, em essência, garantir o bem-estar social. ESTRUTURA JURÍDICA DAS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Como lembrado por Vasconcellos e Garcia, o arcabouço jurídico montado para estabelecer as políticas macroeconômicas evidencia a importância do estado como o seu principal agente. No Brasil, a União é o ente federal responsável pela implantação das políticas monetárias, cambiais, de crédito, dentre outros. No que se refere à política fiscal, que trata da arrecadação e das despesas públicas, compete às três esferas (federal, estadual e municipal) a função de executá-la, cabendo à Constituição delimitar o poder de tributação de cada ente federativo. O governo exerce um papel fundamental no que se refere à criação de emprego, produção e renda. Para tanto, ele realiza despesas por meio de investimentos em infraestrutura capazes de elevar significativamente a demanda agregada por bens e serviços. Segundo Blanchard, na no do livro Macroeconomia, editado em 2007, a demanda por bens é representada pela equação: Z = C + I + G+ X – IM (1) Em que: Z = demanda por bens; C = consumo; I = investimentos; G = gastos do governo; X = exportações; IM = importações. A ideia é demonstrar que os gastos governamentais, em paralelo com a demanda privada, estão inseridos dentro de um modelo de consumo que auxilia no crescimento econômico de um país. Outro aspecto importante está relacionado ao processo de globalização que se caracteriza pela integração da economia internacional, baseada nos aspectos econômicos e jurídicos. Os países em desenvolvimento, como o Brasil, começaram a realizar reformas econômicas e institucionais após 1990. No caso brasileiro, após a abertura comercial da década de 1990, houve uma forte regulação dos mercados, aliada ao uso de bases contratuais que protegiam a produção de maneira geral. Desde então, foi e continua sendo fundamental o papel do Judiciário no sentido de assegurar o funcionamento da economia em sua plenitude. EXPLICANDO Regulação econômica é uma área que concentra os seus estudos na forma como o sistema econômico funciona, considerando a regularidade dos preços e da quantidades de fato geradas, disponibilizadas e demandadas por meio da interação entre os agentes econômicos. A regulação econômica é abordada por meio de duas visões: • bullet Visão normativa: se caracteriza pela possibilidade da autoridade governamental utilizar o poder coercitivo, adotando uma diversidade de instrumentos de controle direcionados aos agentes privados e apresentando um nível elevado de delegação de autoridade de forma discricionária e normativa; • bullet Visão positiva: a regulação tem a intenção de se contrapor aos grupos monopolizadores que agem para elevar as suas rendas de forma maximizada. A regulação é essencial porque os grupos podem se utilizar, de maneira ilegal, das prerrogativas do poder de coerção para distribuir a renda a seu favor. As ações de um Judiciário e de instituições regulatórias estruturadas asseguram o cumprimento de contratos dentro de um ambiente econômico, garantindo o direito de propriedade. PAPEL DO ESTADO NO BEM-ESTAR SOCIAL O objetivo da ação do Estado, nos aspectos econômicos e jurídicos, visa promover o bem-estar social. Desse modo, cabe ao direito definir as regras das relações entre indivíduos e governos. O estado do bem-estar social (welfare state) serve para definir sua função assistencial como um estado que garanta aos indivíduos padrões de saúde e educação, entre outros aspectos. Segundo Bonavides, no livro Teoria do estado, editado em 1999, o welfare state passou a ser idealizado em meio às críticas ao liberalismo econômico, começando a ser debatido mais intensivamente após a Primeira Guerra. O Quadro 2 apresenta as principais diferenças entre o pensamento liberal e a economia baseada no bem-estar social. Quadro 2. Diferenças entre Estado de bem-estar social x Estado liberal. Seguindo essa linha de pensamento, Vasconcellos e Garcia citam John Locke, que mesmo sendo um dos principais pensadores do liberalismo econômico, se mostrou um dos defensores do Estado como promotor do bem-estar social. Para Locke, os indivíduos transferiram uma parte dos seus direitos naturais para, fossem controlados pelo governo, cabendo a ele o dever de se responsabilizar pelo povo. Foi criado um acordo para instituir uma sociedade civil com o objetivo de ampliar os direitos naturais dos indivíduos, como a propriedade, a liberdade e a vida. Partindo dessa ideia, é possível observar que a Constituição promulgada em 1988 tem como base, em parte, os princípios defendidos por Locke, principalmente na promoção do bem-estar coletivo. O entendimento está previsto, de maneira específica, no artigo 170, que afirma que: “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social”. A relação economia e direito é vista na avaliação de princípios gerais que envolvem a atividade econômicanas políticas monetárias, no meio ambiente e no comércio exterior, por exemplo. A fundamentação jurídica está na Constituição, que fixa as competências econômicas do governo. Portanto, cabe às normas jurídicas o dever de regular as atividades econômicas, executando a sua função alocativa, deixando os mercados com maior eficiência e a sua função distributiva elevando a qualidade de vida da população de uma maneira geral. Panorama da economia brasileira Seção 5 de 6 Os debates dos assuntos econômicos tratam da ideia de crescimento e desenvolvimento. Crescimento está relacionado ao aumento de uma unidade econômica, de forma sustentada, durante um ou diversos períodos. Já o desenvolvimento econômico traz um conceito mais abrangente em relação ao crescimento, por tratar de questões relacionadas à qualidade de vida de uma sociedade, como a educação. Na economia brasileira, é possível criar perspectivas referentes ao crescimento e desenvolvimento futuro dada a conjuntura econômica. O ano de 2017, se tornou um marco para economia brasileira pois representou o começo da recuperação econômica (1% do PIB) após uma recessão severa. Tais perspectivas podem não se confirmar como um crescimento sustentável no futuro, já que o Brasil apresenta uma série de barreiras (gargalos) que o impedem de crescer sustentavelmente, sendo o principal desafio econômico atual. O Brasil apresenta uma limitação estrutural que abrange de um sistema tributário não funcional a índices baixos de qualificação de capital humano e educação. Outra barreira significativa está nas finanças públicas. Neste contexto, o comportamento da dívida pública nos últimos anos tem apresentado um crescimento percentual relevante, trazendo um risco fiscal. Alguns desses problemas estão sendo enfrentados à sua maneira, visto que o Congresso Nacional brasileiro, entre 2016 e 2019, adotou medidas que tendem a causar um impacto significativo na economia brasileira, como o teto de gastos públicos e a reforma previdenciária, cujos efeitos são discutidos entre os economistas. Portanto, é fundamental analisar algumas reflexões referentes à economia brasileira e qual seu comportamento nos últimos anos. DESEMPENHO RECENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA A economia brasileira apresentou um período de recessão intensa após um momento vasto de crescimento econômico. O Gráfico 3 mostra o crescimento do Produto Interno Bruto - PIB, no Brasil, e as taxas de crescimento econômico de 2003 a 2020. Gráfico 3. Crescimento do PIB acumulado em quatro semestres (2003 – 2020). Fonte: BRASIL, [s. d.]. (adaptado). Entre 2003 a 2008, as taxas de crescimento do PIB, em média, atingiram um crescimento em torno de 4,2% neste período. O mercado de trabalho melhorou devido à queda na taxa de desemprego do percentual de 10,2% (2002) para 8,1% (2008), segundo os dados apresentados em documento elaborado por Giambiagi e Tinoco, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período, o Brasil teve uma política expansionista em relação ao mercado de crédito, avançou na questão da produtividade do trabalho e na melhoria significativa da aplicação da sua política econômica. Parte desse desempenho econômico se deveu ao cenário externo, no qual o Brasil conseguiu ampliar o nível das relações comerciais com o resto do mundo. Paralelo a isso, houve o aumento do preço das commodities, o que trouxe inúmeros benefícios pelo fato Brasil ser um país exportador. Ao observar o segundo período, que compreende de 2009 a 2014, houve ainda uma elevação do produto, porém, num processo cada vez mais desacelerado. A exceção é o ano de 2010, que apresentou números de recuperação da economia em comparação a 2009, período em que houve uma grande recessão devido à crises internacional deflagrada no ano anterior. No período, o Brasil atingiu um crescimento, em média, de 2,8%. No período de 2011 a 2012, o Brasil adotou medidas visando estimular o aquecimento da economia renovando as suas políticas baseadas no estímulo monetário e fiscal. O aumento do crédito público é um exemplo destas medidas. O mercado de trabalho melhorou ainda mais devido à queda na taxa de desemprego do percentual de 8,1%, em 2008 para 6,8% em média no ano de 2014. Entretanto, o desequilíbrio da economia passou a ser visível, já que os níveis de inflação se mantiveram em alta, sem falar do aumento do déficit em conta corrente e uma queda vertiginosa no superávit primário médio 2009 e 2014. EXPLICANDO O superávit primário ocorre quando o cálculo das receitas e despesas governamentais geram um resultado positivo, exceto os gastos realizados com o pagamento dos juros. Já o déficit em transações correntes ocorre no momento em que a balança comercial e serviços são somadas às transferências unilaterais, que ocorrem no balanço de pagamentos e isto resulta num valor negativo. No panorama da economia brasileira, entre 2015 e 2016, o ambiente político e econômico estão imersos numa recessão. Há uma retração do PIB, em termos percentuais, de 3,5% (2015) e 3,3%, em 2016, cenário que indica uma retração forte, uma vez que todos os trimestres analisados apresentaram queda no seu desempenho. O investimento, considerado um importante componente de demanda agregada, teve índices de queda em itens essenciais da sua composição: máquinas e construção civil. Segundo as análises de Giambiagi e Tinoco, vários fatores ajudam a explicar uma queda tão intensa do investimento: • Contas públicas deterioradas; • Preços administrados em descompressão; • Interferência negativa dos fatores institucionais. No ano de 2017, a economia brasileira dá sinais de recuperação e interrompe uma sequência negativa de dois anos seguidos de queda no PIB. A política monetária mais expansionista, a safra agrícola em alta e o consumo das famílias são alguns dos fatores que colaboram para a mudança de comportamento da economia. Em 2018, o Brasil apresentou uma recuperação econômica lenta muito por conta da elevada taxa de desemprego e informalidade. A inflação se manteve controlada apesar do aumento dos custos de transportes neste período. Já em 2019, após o terceiro trimestre, a economia cresceu de forma mais rápida, devido ao aumento do consumo das famílias e à expansão do investimento. Porém, a indústria brasileira tem recuado de maneira significativa a sua participação no PIB, o que vem causando preocupação entre os economistas. Em 2020, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) impôs medidas severas de isolamento social ao redor do mundo a fim de diminuir a curva de contágio. Apesar do primeiro trimestre de 2020 apresentar um crescimento nas variações do PIB, a situação em que o mundo vive dificulta qualquer projeção ou tendência econômica, já que o nível de incerteza ainda é muito elevado. GARGALOS ESTRUTURAIS E DESAFIOS ECONÔMICOS A produtividade da economia brasileira é um fator discutível desde meados dos anos 1980. Desde esse período, os economistas consideram o desempenho da produtividade do trabalho como decepcionante, tanto em termos absolutos como relativos. O Gráfico 4 demonstra o quanto a produtividade do Brasil (comparando-a com a dos Estados Unidos) decresceu a partir de 1980 e como os outros países, comparáveis em termo de produtividade, conseguiram avançar neste mesmo período. Gráfico 4. Produtividade brasileira. Fonte: GIAMBIAGI; TINOCO, 2018, p. 22. (adaptado). O panorama da economia brasileira indica a existência de uma série de ações capazes de elevar a nossa capacidade de produtividade. Todavia, existem barreiras estruturais que impedem o crescimento econômico de maneira mais consistente. O nível de abertura comercial do Brasil indica um mercado ainda muito fechado com o restante domundo, apesar do processo ter iniciado nos anos 1990. As taxas de importação elevadas justificam o grau reduzido de abertura. Um segundo ponto de estrangulamento está ligado à dificuldade que o Brasil enfrenta para criar um ambiente de negócios de qualidade, muito aquém do ideal. Giambiagi e Tinoco apresentaram um anuário da pesquisa Doing Business, formulado pelo Banco Mundial que evidencia essa situação. Quadro 3. Posição do Brasil nos ambientes de negócio. Fonte: THE WORLD BANK, 2018. Outro gargalo econômico se encontra na estrutura tributária brasileira, formulada em 1965, e que se encontra defasada e causadora de distorções, com uma alocação de recursos deficitária e uma elevada insegurança jurídica que limita a competitividade das empresas brasileiras. O nível da infraestrutura brasileira e o baixo investimento é mais uma barreira impeditiva do crescimento econômico, sendo um setor muito deficitário, interferindo negativamente no custo de transportes, limitando a produtividade da economia. A Tabela 1 demonstra os gastos históricos em infraestrutura praticados pelo Brasil, o que comprovam este baixo investimento. Tabela 1. Gastos em infraestrutura no Brasil (% do PIB). Fonte: GIAMBIAGI; TINOCO, 2018. O capital humano é mais um gargalo econômico do Brasil, dado o baixo nível educacional da população. Houve uma elevação nos gastos com educação, em consideração às últimas décadas, nas quais o Brasil chegou a estar acima das médias mundiais. Entretanto, segundo dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), os montantes disponibilizados foram insuficientes para melhorar os índices relacionados à qualidade do ensino. O Brasil é um país que se caracteriza pelas oscilações econômicas ao longo da formação histórica. A crises inflacionária presente nos anos 1980 e meados dos anos 1990 evidencia um dos problemas macroeconômicos, impactando nas finanças e no comportamento da sociedade brasileira da época. ASSISTA O Brasil apresentou uma instabilidade macroeconômica que só foi sanada em meados dos anos 1990 com o Plano Real. O documentário Uma história de estabilidade – 25 anos do Plano Real, explica o plano sob a ótica dos servidores do Banco Central. A situação inflacionária atual está mais estabilizada, mas outras questões passaram a ser debatidas com ênfase, como a questão fiscal, vista como um desafio devido ao seu agravamento, indicando sucessíveis déficits primários. O Gráfico 5 demonstra o panorama das finanças públicas brasileiras, expondo a Dívida Líquida do Setor Público - DLSP e a Dívida Bruta do Governo Geral - DBGG. Gráfico 5. Evolução da DBGG e da DLSP. Fonte: GIAMBIAGI; TINOCO, 2018. Diante deste cenário, em 2016 foi aprovada uma emenda constitucional limitando os gastos públicos durante 20 anos. Os mecanismos adotados para impor esta limitação são discutíveis entre os agentes públicos governamentais, contudo, o objetivo é reequilibrar os gastos públicos a longo prazo. Outro fator que colaborou para que as contas públicas atingissem um patamar de desequilíbrio foram as despesas previdenciárias, conforme o Gráfico 6. Gráfico 6. Evolução dos gastos com os benefícios do INSS. Fonte: GIAMBIAGI; TINOCO, 2018. Houve uma evolução da despesa com benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS entre 2002 e 2017, além do seu impacto no PIB. Paralelo a isso, é possível comparar tal gasto com o total das despesas primárias (acrescidos dos outros benefícios assistenciais), já retirados os envios realizados aos estados e municípios. Em 2019, foi aprovada outra emenda constitucional com objetivo de alterar as principais diretrizes da Previdência Social brasileira nos próximos anos. Pressupostos adotados na nova previdência são confrontáveis e discutíveis pela população brasileira, mesmo que o objetivo seja, assim como o teto de gastos, reequilibrar os gastos públicos a longo prazo. CONTEXTUALIZANDO A pandemia do COVID-19 vai desencadear em futuros desafios para gestores e a sociedade. A retomada do nível do emprego, que já era o principal problema econômico recente, tende a se agravar em várias perspectivas, por conta das consequências da pandemia no futuro. A economia política brasileira Seção 6 de 6 O livro, A economia política brasileira, escrito pelo ex-ministro Guido Mantega e publicado em 1984, lista uma série de economistas que ajudam a entender particularidades econômicas do Brasil. De acordo com Mantega, o pensamento econômico brasileiro começa a ser formulado a partir das ideias abordadas por Celso Furtado, na sua obra, Formação Econômica do Brasil, publicada em 1959, que sintetizaram os principais aspectos do sistema econômico até aquele momento e serviram de base para a formação da economia política brasileira. Nos anos 1950 e 1960, tal pensamento era debatido graças à polarização ideológica denominada de controvérsia sobre o desenvolvimento econômico, que marcava o antagonismo entre o liberalismo agroexportador e o desenvolvimentismo que apontava o estado, como o indutor da industrialização no Brasil. Neste embate entre o liberalismo e desenvolvimentismo, os aspectos desenvolvimentistas ganharam uma hegemonia graças à ascensão da Comissão Econômica para a América Latina – CEPAL, que se configurava como o grande laboratório de ideias direcionadas para a industrialização e o planejamento econômico, responsável pelo surgimento do nacional-desenvolvimentismo no Brasil. Dessa forma, o pensamento nacional desenvolvimentista trouxe uma interpretação sobre a importância do capitalismo industrial e como seria o caminho para a transição da economia cafeeira para a industrial. Uma outra corrente de interpretação, mais ligada aos intelectuais do Partido Comunista Brasileiro (PCB), desejava implantar uma ideia marxista no panorama brasileiro. Essa corrente de pensamento serviu de base para o surgimento do modelo democrático burguês. Fazendo um contraponto, segundo Mantega, se constatou que a tese de modelo democrático burguês poderia ser contestada, como fez Caio Prado Jr., em sua obra A Revolução Brasileira, de 1966, que dizia que o Brasil apresentava um subdesenvolvimento capitalista. NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO O movimento nacional desenvolvimentista influenciou o pensamento econômico latino-americano entre os anos 1940 e 1950 graças à corrente keynesiana, em oposição ao liberalismo neoclássico, e respondeu às cser_educacionals do capitalismo, que indicou ineficiências ao longo do século XX. A ideia era transformar as economias periféricas em nações mais desenvolvidas através da participação do estado no planejamento global facilitando o desenvolvimento da indústria nacional. No Brasil, o ideário cepalino norteou as ações econômicas desenvolvimentistas durante os anos 1950. É notório que tais ideias surgiram para confrontar o liberalismo oligárquico agroexportador da época através da expansão urbano industrial pautadas no suporte estatal, o que mostrava um novo perfil econômico da sociedade brasileira. Tal conceito foi defendido por Mantega, que apontava a CEPAL como principal centro ideológico do desenvolvimento da economia política surgida na América Latina. O modelo cepalino colaborou para a formação das diretrizes da Comissão Mista Brasil – Estados Unidos, base para as metas do governo de Juscelino Kubitschek. O principal objetivo da CEPAL era explicar o atraso da América Latina em relação aos países desenvolvidos baseado nas diferenças estruturais e nas transações comerciais exploratórias entre estes países. A CEPAL, segundo Mantega, apontou algumas soluções baseadas em três pilares: Clique nas abas para saber mais INDUSTRIALIZAÇÃO INTERVENÇÃO ESTATALNACIONALISMO A CEPAL defendia a ideia de desenvolvimento industrial para o mercadointerno, aliado à implementação de uma reforma agrária e uma alocação de recursos que garantisse um determinado nível de produtividade. INTERVENÇÃO ESTATALNACIONALISMO Na visão cepalina, o Estado assume a condição de agente principal da economia, responsável por promover uma infraestrutura para a expansão industrial e o direcionamento dos recursos internos. NACIONALISMO Segundo as teorias do pensamento cepalino, o processo de industrialização passa a ser nacionalizado, pois visa substituir as importações custosas, primeiro buscando o capital estrangeiro para incentivar o setor e, posteriormente, se desenvolvendo de maneira autônoma. Observando a economia política brasileira, as ideias desenvolvimentistas da CEPAL, do ponto de vista econômico, consolidaram uma estrutura econômica capitalista sólida através da expansão industrial depois dos anos 50. Sob o olhar social, o pensamento cepalino não teorizou nem resolveu as desigualdades sociais e a concentração de renda, presentes até os dias atuais. UBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES Os modelos que auxiliaram na formação da economia política brasileira se pautaram num aspecto muito marcante: a acumulação capitalista. A teoria desenvolvimentista tinha a intenção de explicar a realidade https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ECONOMIA%20POL%C3%8DTICA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ECONOMIA%20POL%C3%8DTICA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ECONOMIA%20POL%C3%8DTICA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ECONOMIA%20POL%C3%8DTICA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ECONOMIA%20POL%C3%8DTICA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ECONOMIA%20POL%C3%8DTICA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html da economia brasileira. As transformações do modelo agroexportador para o industrial apontavam que a estrutura econômica da época precisava ser analisada de maneira mais abrangente. Após a introdução do pensamento desenvolvimentista, ao final dos anos 1950, notou-se que a economia política brasileira não seguia o mesmo caminho percorrido pelo capitalismo avançado. Segundo Mantega, os teóricos estudaram e compreenderam as características do capitalismo retardatário brasileiro e as relações sociais existentes, concluindo que era preciso avançá-lo por meio de um processo de substituição de importações. Celso Furtado evidenciou todo o processo de transformação da economia brasileira, do modelo escravista para o trabalho assalariado. Mantega menciona que Celso Furtado indicava o assalariamento da mão de obra como o gerador de uma demanda por bens de consumo interno. Diante desse cenário, havia um pensamento de que era preciso desenvolver a indústria local e direcioná-la para o consumo interno, o que substituiria as importações. Outro importante pensador do modelo de substituição das importações foi Ignácio Rangel. Suas ideias convergiam com as de Furtado no sentido de que ambos concordavam que a economia brasileira estava pautada num modelo capitalista retrógado e pouco eficiente. Porém, ele indicava que o problema econômico brasileiro, não estava no assalariamento da mão de obra, mas na estrutura exploratória capitalista aliada a um ambiente de alta inflacionária, que encarecia os preços dos produtos internos e estagnava o mercado consumidor. O modelo de substituição de importações foi amplamente defendido por outros economistas, como Maria da Conceição Tavares. Ela defendia que os investimentos industriais eram a essência para solucionar cser_educacionals do mercado externo. Mantega aponta que Tavares acreditava, por exemplo, num ciclo de expansão do mercado interno de bens de consumo e capital através do desenvolvimento da industrialização local. Paul Singer, também citado por Mantega, é outro colaborador do modelo de substituição de importações, porém apresentando uma nova interpretação, devido às cser_educacionals econômicas presentes no Brasil na década de 60. Singer indicava que o Brasil tinha problemas cíclicos muito característicos do sistema capitalista, mas sem capacidade de autogestão, como o modelo de substituição de importações exigia naquele, o que gerou uma interpretação errada do modelo por outros economistas Este modelo também foi fonte de estudo do economista Bresser Pereira, que afirmava que o modelo de expansão industrial local colaborou para ascensão da classe média brasileira. Assim como já havia ocorrido nas outras economias capitalistas após a Segunda Guerra Mundial, a industrialização brasileira se disseminou em larga escala, o que exigiu o surgimento de postos de trabalho mais sofisticados, além de uma crescente acumulação de capital. MARXISMO BRASILEIRO E DEMOCRACIA BURGUESA O pensamento marxista, formado pela esquerda, colaborou de maneira significativa para formação da economia política brasileira e surgiu como uma crítica à teoria desenvolvimentista. Baseados no ideário da Revolução Russa (Lenin, Trotsky) e da Revolução Chinesa (Mao Tsé-Tung), os marxistas brasileiros realizavam as suas interpretações sobre as relações e forças de produção utilizadas até então. Os ideários leninista e trotskista divergiam entre si, o que trouxe uma certa polarização da esquerda marxista brasileira, representada pelo PCB. A corrente de pensamento alinhada a Lenin entendia que o Brasil se estruturava numa economia praticamente feudal e imperialista, atendendo apenas ao mercado externo. Nestas condições, o socialismo só seria alcançado caso houvesse, de imediato, uma revolução democrático-burguesa no Brasil, capaz de desenvolver o capitalismo e criar um terreno político e econômico propício para futuramente inserir as práticas socialistas. O modelo democrático burguês teve sua ascensão ao longo dos anos 1950 disputando, junto com o modelo de substituição de importações, a preferência entre os progressistas brasileiros da época, além de indicar a tarefa de propor à burguesia industrial uma mudança no cenário econômico. Por volta dos anos 1960, outro setor da esquerda brasileira mais alinhado ao pensamento de Trotsky, criticava a ideia de revolução democrático–burguesa. A corrente de pensamento refutava a ideia de que o Brasil adotou um modelo feudal ao longo da sua história, e sim que estabeleceu uma prática capitalista retardatária criando relações de produção baseadas em subdesenvolvimento estrutural. Em condições como estas, a revolução socialista deveria ser implantada de forma imediata, descartando a ideia de transição gradual defendida pelo modelo democrático-burguês. O modelo democrático-burguês não conseguiu atingir êxito na economia brasileira, apesar de todo o seu ideário teórico, dada a consistência teórica, o nível de eficácia nas análises e a capacidade de compreensão do panorama social do Brasil, entre os anos 1950 e 1960. Há críticas ao modelo pelo fato de não comprovar que o Brasil vivia sob um sistema feudal antes da transição da agroexportação para a industrialização. A outra crítica se deve ao fato de que a democracia burguesa não é necessariamente uma luta porsociedade socialista. SUBDESENVOLVIMENTO CAPITALISTA As teorias debatidas estão inseridas num período posterior à Segunda Guerra Mundial, caracterizado por disputas políticas e ideológicas entre capitalismo e socialismo. A ideia desenvolvimentista, disseminada após as guerras mundiais e a crises de 1929, trouxe um otimismo para os países subdesenvolvidos e a possibilidade de inseri-los num processo de modernização e desenvolvimento. Entretanto, é preciso considerar que a partir do momento em que os países centrais começaram a retornar, de forma dinâmica, aos seus níveis de desenvolvimento capitalista, os países emergentes voltaram a um modelo de subserviência. A partir deste entendimento, surgiram as teorias que serão abordadas aqui. Um dos teóricos mais importantes no que se refere ao subdesenvolvimento capitalista é Paul A. Baran, que debateu e inseriu uma visão desenvolvimentista alternativa aos outros teóricos da época. Ele entendeu, por exemplo, ser inviável que países emergentes conseguissem atingir um avanço econômico e social considerando o modelo capitalista mundial, que se baseia em monopólios chancelados pelo estado. Uma das formas de explicar o nível de subdesenvolvimento de um pais, segundo Baran, na página 47 do livro A economia política do desenvolvimento, de 1986, é por meio do excedente econômico (diferença entre a produtividade e o consumo da sociedade de um país), que permite uma avaliação mais abrangente das limitações e possibilidades de um país se desenvolver. Caio Prado Júnior, outro autor mencionado por Mantega, foi um teórico importante para explicar o modelo de subdesenvolvimento capitalista, graças à sua avaliação das relações produtivas da agricultura praticadas no Brasil desde a era colonial. Entretanto, diferente do que a maioria dos teóricos deste modelo defendia, Caio Prado não concordava com a ideia de que uma revolução socialista era uma alternativa viável para sociedade brasileira. André G. Frank é outro colaborador importante para a teoria do subdesenvolvimento econômico, através de artigos econômicos que buscavam confrontar as teses de feudalismo. Segundo Mantega, Frank explicava que o subdesenvolvimento do Brasil, por exemplo, era definido pelas relações sociais moldadas pelo sistema capitalista mundial, e não pelos preceitos do feudalismo, como defendia o pensamento marxista do PCB. Por fim, temos as concepções de Ruy M. Marini que, como abordado por Mantega, complementava o modelo de subdesenvolvimento capitalista através da análise dos métodos de produção e expropriação da mais-valia em países emergentes. Ele faz críticas ao modelo de superexploração da força de trabalho, que ajuda a explicar como o sistema imperialista mundial funciona. Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nesta unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO A economia indica como a sociedade emprega os recursos escassos de produção para atender às necessidades humanas ilimitadas combinando as ações das famílias com as empresas e a interação entre eles. Neste contexto, a economia política estabelece a relação entre o processo econômico, ligado à produção e ao consumo com a vida em sociedade. Outro aspecto importante é que a ciência econômica se relaciona com o direito, já que precisa da normatização jurídica para executar e regular as suas atividades. Além disso, é possível observar a constante renovação dos pressupostos econômicos, o que indica a necessidade de mudança constante à qual a estruturação jurídica está sujeita. O panorama econômico brasileiro está relacionado ao nível de crescimento e à elevação econômica sustentada ao longo de um determinado período de desenvolvimento e aborda questões relacionadas à qualidade de vida de uma sociedade. O Brasil, ao longo dos últimos 20 anos, se caracterizou por períodos de crescimento e recessão econômica, que possibilitou a formulação de políticas voltadas para o controle e organização da sua economia. Por fim, é possível concluir que, diante destes aspectos, a economia política praticada no Brasil atualmente é fruto das teses e formulações econômicas implementadas ao longo da história, principalmente após o confronto ideológico do liberalismo, do marxismo e das ideias cepalinas desenvolvimentistas no sentido de discutir os principais aspectos para a formação de um sistema econômico mais equitativo e eficiente.
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