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Patologia Geral e Técnicas de Necrópsia dos Animais Domésticos UNIDADE 1

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INTRODUÇÃO A PATOLOGIA ANIMAL 
A patologia é uma ponte entre as ciências básicas e a medicina clínica. Dedica-se ao estudo das doenças e seus mecanismos através da análise das alterações bioquímicas, estruturais, morfológicas e funcionais das células e tecidos. 
O termo “patologia” deriva do grego, onde “pathos” significa doença ou sofrimento, e “logos”, estudo, conforme Teixeira (2020). Assim, a patologia é o ramo da medicina que estuda as alterações anatômicas e funcionais causadas pelas doenças no organismo, de acordo com Rezende (2007). 
O conhecimento da patologia é fundamental para a compreensão do desenvolvimento das doenças através de uma sequência cronológica de eventos e, consequentemente, como elas podem ser diagnosticadas, tratadas e prevenidas. Myers, McGavin e Zachary (2013) nos mostram que a patologia é uma prática profissional importante que fornece informações detalhadas e essenciais que auxiliam a conduta do veterinário clínico e o manejo terapêutico. O autor (2013) ainda nos conta que o diagnóstico se refere a uma conclusão relacionada à natureza, causa ou nome de uma doença. A habilidade do profissional em diagnosticar deve ser baseada na compreensão da patologia geral e especial. De acordo com Cheville (2009a), o campo da patologia geral avalia as categorias básicas das respostas celulares e teciduais, ao passo que a patologia especial analisa as alterações em tecidos e órgãos específicos. 
APLICAÇÕES PRÁTICAS EM PATOLOGIA VETERINÁRIA 
Conforme descrito anteriormente, o médico veterinário patologista é o profissional capacitado em fornecer um diagnóstico através das análises laboratoriais, a fim de auxiliar os clínicos na conduta terapêutica. 
Podemos dividir a patologia em duas grandes áreas: a patologia clínica e a anatomia patológica. 
O patologista clínico é o profissional cuja função é analisar as alterações no sangue, urina, fezes e demais líquidos biológicos. A anatomia patológica, por sua vez, é a área que estuda e avalia as características celulares e as dos tecidos, como nos conta Teixeira (2020). 
O médico veterinário do ramo da anatomia patológica trabalha com amostras provenientes principalmente de biópsias e necropsias. A biópsia é a amostra tecidual de um animal vivo para fins diagnósticos, comumente utilizada na oncologia para o diagnóstico de neoplasias. Através das descrições macroscópicas e microscópicas, o patologista estabelece um diagnóstico e descreve as graduações histopatológicas, a avaliação das margens cirúrgicas que estão relacionadas aos fatores prognósticos e a sobrevida do animal. 
A necropsia é o exame post mortem que fornece informações importantes relacionadas ao diagnóstico, prevenção e controle de doenças. Seu objetivo é definir melhorias na conduta de casos individuais ou em surtos em animais de produção, como demonstram Myers, McGavin e Zachary (2013).
COMPONENTES DO PROCESSO PATOLÓGICO 
Os componentes que representam a base do processo patológico são as causa da doença (etiologia), os mecanismos para o seu desenvolvimento (patogenia), as lesões, o processo evolutivo da doença e suas consequências clínicas. Tanto Cheville (2009a) quanto Myers, 
McGavin e Zachary (2013) nos mostram que o médico veterinário patologista estuda as lesões e suas causas para compreender a patogênese das diversas doenças que acometem os animais. Veja a seguir os principais componentes do processo patológico e alguns exemplos práticos: 
● Etiologia: É o estudo das causas das doenças. O diagnóstico etiológico, portanto, fornece a causa exata que provocou a lesão. Diversos fatores podem causar lesões, como hipóxia (deficiência de oxigênio), agentes físicos, químicos e infecciosos, entre outros. Portanto, um agente etiológico induz à lesão celular e tecidual e provoca o desenvolvimento de lesões, como nos conta Cheville (2009a); 
● Patogênese: Refere-se aos mecanismos de desenvolvimento de uma doença, desde o seu início até seu desenvolvimento completo com manifestações celulares e moleculares. Desse modo, de acordo Cheville (2009a) e Myers, McGavin e Zachary (2013), a patogenia se refere ao processo evolutivo de uma doença; 
● Lesões: São assim denominadas as alterações estruturais e funcionais que ocorrem no organismo. Podemos identificar as lesões através das análises macroscópica e microscópica, as quais nos fornecem o diagnóstico morfológico. Esse é baseado nas alterações teciduais, e é muitas vezes definido pela correlação dos achados macroscópicos e microscópicos. Cheville (2009a) nos conta que o diagnóstico morfológico traz informações sobre o tipo da lesão, sua extensão, duração e distribuição; 
● Consequências clínicas: De acordo com Cheville (2009a), estabelecem-se através da combinação dos sinais clínicos com os dados provenientes do estudo das lesões e patogênese. 
Um exemplo de diagnóstico etiológico é a pleuropneumonia por Mannheimia haemolytica, como mostra a Figura 1. A patogenia da doença se relaciona com a exposição do indivíduo a vírus e fatores ambientais que obstruem os mecanismos de defesa do epitélio respiratório normal, permitindo, assim, a agentes oportunistas, como a bactéria Mannheimia haemolytica, colonizarem e invadirem os alvéolos. Desse modo, Myers, McGavin e Zachary (2013) afirmam que o agente causa necrose e inflamação do tecido. Macroscopicamente, o pulmão apresenta consolidação, caracterizada por áreas multifocais, vermelhas e firmes à palpação associada à deposição acentuada de fibrina. À histologia, visualiza-se a pleuropneumonia fibrinossupurativa, caracterizada por intenso infiltrado de neutrófilos íntegros e degenerados, distribuídos difusamente pelo parênquima pulmonar e na superfície pleural, associado à deposição de fibrina. Nesse caso, o diagnóstico morfológico é: pleuropneumonia fibrinossupurativa aguda, acentuada e difusa. As consequências clínicas identificadas nesse animal e relatadas pelo proprietário eram caracterizadas por dispneia (dificuldade respiratória), secreção nasal mucopurulenta e tosse.
Exemplo de agente etiológico, lesões macroscópicas e microscópicas correlacionados com os sinais clínicos. As lesões macroscópicas e microscópicas identificadas nos pulmões e pleura de cabras com Mannheimia haemolytica foram caracterizadas pela pneumonia intensa. Coloração histológica por hematoxilina e eosina. Esse animal apresentava sinais clínicos caracterizados por dificuldade respiratória e secreção nasal, consequentes do intenso envolvimento pulmonar. 
Lesões celulares reversíveis, irreversíveis e adaptação 
De acordo com Myers, McGavin e Zachary (2013), as células respondem às lesões ou ao estresse de três formas: adaptação, lesão reversível e lesão irreversível (morte). O Diagrama 1 apresenta um esquema gráfico resumido com os estágios básicos da resposta celular frente ao estresse ou aos estímulos prejudiciais. 
A lesão celular ocorre quando as células são incapazes de se adaptar frente às alterações de demanda. Dessa maneira, define-se como “lesão celular” a incapacidade das células de manter o seu estado homeostático normal ou adaptado, como nos contam Myers, McGavin e Zachary (2013). 
Na lesão celular reversível, o estímulo é muitas vezes leve e transitório. Assim, as células conseguem se adaptar e retornar à função mais próxima do normal. Entretanto, na lesão celular irreversível, que ocorre em consequência aos estímulos graves e progressivos, a célula morre.
As alterações degenerativas ocorrem nos casos de mudanças do equilíbrio hidroeletrolítico, sobrecarga com produtos catabólicos e alterações no processamento e excreção celular. Em relação à morte celular, existem dois mecanismos distintos: necrose e apoptose. A necrose é o conjunto de alterações degradativas e progressivas que ocorrem na célula após sua morte no indivíduo vivo. Já a apoptose é descrita como “morte celular programada''. Nesse processo, a célula é estimulada através de condições fisiológicas ou patológicas a acionar mecanismos que culminam com a suamorte. Esses dois mecanismos apresentam alterações celulares comuns; basicamente, cursam com depleção de ATP (fonte de energia), acidificação do citoplasma, aumento de cálcio intracelular e ativação das enzimas líticas, como nos mostram Cheville (2009b) e Myers, McGavin e Zachary (2013). 
LESÕES CELULARES REVERSÍVEIS (DEGENERAÇÃO CELULAR) 
Vejamos as principais alterações celulares reversíveis. 
● Tumefação celular aguda (edema celular) 
A tumefação celular aguda é a lesão celular reversível caracterizada pelo aumento de tamanho e volume celular, consequente do acúmulo de água. Nessa condição, observa se uma sobrecarga gerada pela incapacidade das células de manterem a homeostasia, isto é, a incapacidade das células de regularem a entrada e saída de água. Os mecanismos responsáveis pela tumefação celular geralmente envolvem lesão das membranas celulares, produção de energia insuficiente ou lesão das enzimas que regulam os canais iônicos das membranas. As principais causas de edema celular são: hipóxia (diminuição do O2 disponível gerando redução na produção de ATP); toxinas (lesão direta à membrana); e hipertermia (consumo aumentado de ATP). Para causar a tumefação celular aguda, o agente deve ter capacidade de alterar a membrana plasmática, que serve como uma barreira celular. A hipóxia é provavelmente a causa mais importante de tumefação celular aguda e o mecanismo para sua formação encontra-se esquematizado no Diagrama 2. Basicamente, a diminuição de ATP leva ao declínio da bomba de sódio e potássio e a perda do controle do volume celular, como nos contam Cheville (2009b) e Myers, McGavin e Zachary (2013).
Na macroscopia, os órgãos com tumefação celular ficam mais pesados e pálidos. Microscopicamente, observa-se alteração da arquitetura normal do órgão em consequência do aumento de volume celular e com aspecto pálido. A degeneração hidrópica (vacuolar) e a balonosa são variações do edema celular agudo e os termos mais utilizados nas descrições microscópicas de tumefação celular. A degeneração balonosa ocorre quando a degeneração hidrópica é muito intensa. Nesses casos, observa-se histologicamente aumento de volume celular, citoplasma pálido e com grande vacúolo. Quando a lesão for leve e não-duradoura, a tumefação celular é reversível na maioria dos casos. Entretanto, como nos contam Cheville (2009b) e Myers, McGavin e Zachary (2013), se a lesão excede os limites celulares (ponto de irreversibilidade), ocorre a morte da célula. 
● Degeneração gordurosa 
Essa degeneração se refere ao acúmulo excessivo de lipídios intracitoplasmáticos. Tal alteração é identificada mais comumente em células que metabolizam muita gordura, como os hepatócitos. Esse acúmulo de lipídios pode ser causado por alterações na síntese (produção), na utilização ou na mobilização (transporte) de gordura. Em resumo, nas condições normais, os ácidos graxos absorvidos no intestino ou mobilizados do tecido adiposo chegam no fígado; no hepatócito, são esterificados em triglicerídeos. Esses são conjugados com a apoproteína e formam a lipoproteína, que acessa a circulação. Barros (2016) nos diz que qualquer alteração nessas fases pode causar degeneração gordurosa intracelular. 
Vejamos os principais mecanismos relacionados com a degeneração gordurosa: 
Excesso de ácidos graxos no fígado 
Excesso nutricional ou dificuldade na utilização ou na disponibilidade da glicose cursando com mobilização de ácidos graxos como fonte de energia. 
Alguns exemplos são: 
Pacientes com diabetes: o aumento de ácidos graxos gera uma sobrecarga e o hepatócito não metaboliza todo esse excesso; 
Pacientes em jejum prolongado: esses podem apresentar níveis de degeneração gordurosa hepática, pois a baixa ingestão de alimentos gera ativação da degradação de lipídios em ácidos graxos (lipólise) e que podem sobrecarregar o parênquima hepático. 
Diminuição na utilização ou oxidação de triglicerídeos 
Distúrbios hepáticos; 
Falta de proteína 
Dietas pobres ou problemas na síntese; e 
Dificuldades na liberação de lipoproteínas pelo fígado. 
Em termos macroscópicos e dependendo da intensidade da degeneração, o fígado se apresenta com aumento de tamanho, de coloração amarelada e com aspecto untuoso. Histologicamente, as gorduras não coram através da técnica de hematoxilina e eosina, pois são dissolvidas pelos solventes utilizados no processamento histológico rotineiro. Dessa forma, de acordo com Barros (2016), a gordura aparece no interior do citoplasma como espaços claros e redondos. Em algumas situações, onde a quantidade de gordura é muita intensa, observa-se deslocamento do núcleo para a periferia. Algumas técnicas especiais permitem a conservação e visualização dos lipídios nos cortes histológicos, através da congelação do material e coloração com Sudan III e Oil Red O.
Aspectos macroscópicos e microscópicos da degeneração gordurosa hepática. A. Fígado de um felino apresentando aumento de tamanho e coloração difusamente amarelada consequente do acúmulo de lipídios. B. Hepatócitos com múltiplos vacúolos no citoplasma do hepatócito. Hematoxilina e eosina. 
Degeneração por glicogênio 
Trata-se de alteração celular referente ao acúmulo de glicogênio intracelular. Observa-se essa alteração em indivíduos com distúrbios relacionados à glicose, terapia com glicocorticóides por tempo prolongado, anormalidade do glicogênio (glicogenoses) e em cães com hiperadrenocorticismo. Histologicamente, caracteriza-se por vacúolos granulares não definidos. Deve-se diferenciar essa alteração da degeneração gordurosa hepática, onde são identificados os vacúolos intracitoplasmáticos redondos e com boa definição das suas margens. ● Tipos especiais de degeneração 
Essas alterações são agrupadas juntamente com as degenerações celulares. Entretanto, relacionam-se com acúmulo atípico de substâncias extracelulares e não são consideradas propriamente como degenerações celulares. 
Vejamos dois exemplos dessas alterações: 
DEGENERAÇÃO HIALINA 
Refere-se, principalmente, ao termo aplicado na descrição histológica, onde se observa estrutura de aspecto homogêneo, eosinofílico e vítreo. Existe uma variedade de mecanismos fisiológicos e patológicos que produzem essa alteração. Na rotina de um laboratório de patologia veterinária, é comum identificar estruturas hialinas no interior dos túbulos renais em pacientes com doença renal crônica, visualizadas através da análise microscópica corada por hematoxilina e eosina. Essas estruturas se referem à proteinúria consequente das alterações glomerulares; 
AMILOIDOSE 
Amiloide é uma glicoproteína anormal que se deposita em diversos órgãos. Aplica-se o termo “amiloidose” em situações nas quais se evidenciam alterações funcionais e morfológicas consequentes desse depósito. Na visão macroscópica, os órgãos estão opacos, com aspecto de cera, firmes e com aumento de volume. Na histologia, visualiza-se substância rósea, amorfa e homogênea. A coloração de vermelho Congo é uma técnica histoquímica aplicada em casos de amiloidose, onde se identifica proteína anormal depositada nos tecidos e de coloração avermelhada. A patogenia é complexa e mal esclarecida e pode ser classificada como: primária (derivada dos plasmócitos e de origem imunoglobulínica) e secundária (ativação imunológica persistente em doenças crônicas), como nos contam Myers, McGavin e Zachary (2013).
LESÕES CELULARES IRREVERSÍVEIS (NECROSE) 
O tempo necessário para a evolução de evidências de necrose varia com o tipo de célula, sua atividade metabólica, temperatura e grau da lesão. Na maioria das vezes, as alterações morfológicas da necrose ocorrem por três processos básicos: ativação de enzimas intracelulares (processo chamado de autólise); desnaturação das proteínas; e ação das enzimas de outras células, principalmente de leucócitos que migram para a área de necrose (heterólise). A morte celular é a perda da reversibilidade das alterações celulares. Por exemplo, células colocadas imediatamente no formol estão mortas,mas não necróticas. Portanto, necrose é o conjunto de alterações que ocorrem na célula após a sua morte. O aspecto das células necróticas varia com o tipo de tecido envolvido, a causa da morte e a duração. As alterações nucleares na necrose se caracterizam por três fases: picnose; cariorrexia; e cariólise. A picnose é a fase de condensação da cromatina nuclear (núcleo pequeno e muito corado). A cariorrexia é a fragmentação nuclear e a cariólise é a etapa de dissolução da cromatina nuclear. Com o passar do tempo, o núcleo das células necróticas desaparecerá totalmente, sendo esse um estágio posterior à cariólise. Myers, McGavin e Zachary (2013) dizem que as alterações citoplasmáticas podem ser caracterizadas por acidofilia (células mais eosinofílicas), consequente da perda da basofilia pela destruição do RNA, do aumento da ligação entre a eosina e as proteínas citoplasmas desnaturadas e da dissolução do citoplasma (citoplasmólise). 
Também é possível identificar essas alterações nucleares e citoplasmáticas descritas na autólise pós-morte. Note que a diferenciação entre necrose e autólise se dá, principalmente, por preservação das hemácias, área de tecido de aspecto necrótico ao lado de uma área de tecido preservado e presença de reação inflamatória. 
Macroscopicamente, a necrose se caracteriza, na maioria das vezes, por alterações na coloração do tecido, bem como na resistência e presença da zona de demarcação. 
O tecido necrosado é mais pálido (exceto em órgãos de circulação dupla, como os pulmões, que apresentam coloração avermelhada) e de consistência macia a friável. A zona de demarcação caracteriza-se por aumento da vascularização e infiltrado inflamatório, pois o tecido necrótico age como irritante. A linha de demarcação não está presente na necrose recente, pois leva de dois a três dias para surgir. 
Existem três principais tipos de necrose baseados nos aspectos morfológicos: necrose de coagulação, de liquefação e caseosa. Na necrose de coagulação, observa-se coagulação das proteínas citoplasmáticas e nucleares após a morte das células. Desse modo, além das proteínas estruturais, as enzimas proteolíticas também são desnaturadas, com bloqueio da autólise celular. O processo de necrose de coagulação é característico da morte por hipóxia celular em todos os tecidos (exceto no sistema nervoso). Portanto, esse tipo de necrose é observado em casos de isquemia decorrente de obstrução na irrigação arterial ou na drenagem venosa. Desse modo, infarto é a uma área de necrose consequente da isquemia. As unidades estruturais dos tecidos ou órgãos mantêm o seu contorno básico neste tipo de necrose. A Figura ilustra um exemplo macroscópico e microscópico da necrose de coagulação.
Padrão macroscópico e microscópico da necrose de coagulação no rim. A. Área em forma de cunha acometendo as regiões medular e cortical do rim, de coloração pálida e circundada por uma linha avermelhada (setas). B. Necrose das células epiteliais tubulares renais, contornadas por células íntegras e arquitetura tubular preservada. Hematoxilina e eosina. 
A necrose caseosa é uma variação da necrose de coagulação. Caracteriza-se por ser uma lesão mais crônica e por causar perda da arquitetura do órgão. A área necrótica é formada por uma mistura de lipídios e material intra e extracelular, a qual gera um aspecto de queijo nesse tipo de lesão. A necrose caseosa está frequentemente relacionada com algumas infecções por agentes específicos, como identificado em algumas doenças fúngicas (Aspergillus sp.), na tuberculose (Mycobacterium sp.) e na linfadenite caseosa dos ovinos (Corynebacterium pseudotuberculosis). As enzimas desses agentes coagulam as proteínas e fragmentam os lipídios das células e do exsudato inflamatório que se acumula no foco necrótico. Macroscopicamente, identifica-se área amarelada ou acinzentada, de consistência granular e friável. Além disso, pode-se ver calcificação do tecido em muitas ocasiões (Figura 4). Histologicamente, a necrose caseosa se desenvolve como granulomas, caracterizados pelo infiltrado inflamatório de macrófagos ativados, além de células gigantes multinucleadas, que interagem com um agente etiológico persistente e são circundadas por tecido conjuntivo. 
Padrão macroscópico da necrose caseosa. A. Linfonodos e pulmões com áreas multifocais amarelas, caracterizando a necrose caseosa causada pela infecção por Mycobacterium bovis em um suíno. B. Linfonodos com áreas multifocais a coalescentes de necrose caseosa. 
A necrose de liquefação se caracteriza por dissolução dos tecidos mortos por autólise e heterólise. Esse tipo é identificado na infecção bacteriana focal, que cursa com infiltrado inflamatório predominante de neutrófilos, que, por sua vez, libera grande quantidade de 
enzimas e outras substâncias, com destruição tanto do agente etiológico (bactérias) quanto do tecido em que se encontram. O principal exemplo de necrose de liquefação é o abscesso, que consiste, basicamente, em uma área de pus encapsulado. No sistema nervoso, independentemente da causa, o tipo identificado é a necrose de liquefação, denominada malacia (amolecimento) e ilustrada na Figura: 
Figura 5. Necrose de liquefação. Áreas multifocais de malacia (setas). 
Existem, ainda, tipos especiais de necrose, como a necrose de gordura e a gangrena. A necrose da gordura ocorre no tecido adiposo como resultado da inflamação ou trauma (necrose de gordura traumática) e provoca a ruptura das células com consequente hidrólise, resultando na liberação de ácidos graxos e glicerol. Em animais com pancreatite, ocorre a liberação de enzimas que atacam as membranas celulares dos adipócitos adjacentes (necrose de gordura enzimática). Na macroscopia, a necrose de gordura caracteriza-se por áreas esbranquiçadas, firmes e multifocais no tecido adiposo, semelhantes à sabão. Histologicamente, observa-se degeneração, fragmentação e calcificação das células adiposas. 
A gangrena é uma complicação e evolução da necrose de coagulação. Pode ser dividida em: seca (sem infecção); úmida (necrose de coagulação associada à contaminação de bactérias saprófitas); e gasosa (bactérias produtoras de gás, como Clostridium sp.). A apoptose é um outro tipo de morte celular. Nessa condição ocorre a morte e remoção de células no organismo após elas completarem o seu ciclo de vida normal. Portanto, a apoptose também é denominada morte celular programada ou morte celular autoinduzida. O processo de apoptose é complexo, mas, resumidamente, pode ser dividido em uma fase de iniciação, na qual as caspases se tornam ativas, e uma fase de execução, onde as enzimas agem para causar a morte celular. Morfologicamente, células individualizadas que sofreram apoptose se apresentam retraídas, com fragmentação citoplasmática e condensação da cromatina. É importante se atentar para o fato de a apoptose não estimular inflamação (diferentemente de necrose), como mostram Myers, McGavin e Zachary (2013).
ADAPTAÇÃO CELULAR 
A célula possui mecanismos para se adaptar a uma agressão a fim de manter sua função. Como descrito anteriormente, quando a agressão ultrapassar os limites adaptativos celulares, a célula pode desenvolver alterações reversíveis ou evoluir para a morte. Veja, a seguir, os principais mecanismos adaptativos celulares: 
● Autofagocitose: remoção de organelas degeneradas; 
● Hipertrofia: refere-se ao aumento do tamanho; 
● Hiperplasia: aumento do número de células; 
● Atrofia: diminuição do tamanho de uma célula desenvolvida. Pode ser identificada em ocasiões de carga de trabalho reduzida e desuso; 
● Metaplasia: substituição de um tipo de célula madura por outro tipo celular maduro. 
EXEMPLIFICANDO 
Observa-se um exemplo clássico de metaplasia em fumantes, pois a fumaça do cigarro causa um estímulo/irritação crônico, cursando com a substituição do epitélio colunar ciliado respiratório por um epitélio escamoso estratificado, como nos mostram Myers, McGavin e Zachary (2013). 
ALTERAÇÕES PÓS MORTE 
As alteraçõespós-morte, também chamadas de alterações cadavéricas, são as modificações identificadas depois do óbito do animal. Reconhecê-las é extremamente importante para que se interprete os achados macroscópicos e microscópicos adequadamente, bem como para consequente diagnóstico. 
Classificam-se como: alterações abióticas, que não modificam o cadáver de um modo geral; e bióticas, que modificam o cadáver devido à putrefação. A classificação abiótica, porém, divide se em: imediata, que está relacionada com a morte clínica (insensibilidade, imobilidade, inconsciência, entre outros); e mediata (autólise). Enquanto a autólise é definida como “digestão enzimática das células após a morte”, a putrefação é o resultado do metabolismo bacteriano pós-morte associado à dissolução de tecidos do hospedeiro, cursando com alterações no aspecto dos tecidos. 
Diversos fatores estão relacionados com o início e intensidade dessas alterações. Temperatura corporal e ambiental são fatores extremamente importantes para o desenvolvimento de alterações cadavéricas. A temperatura ambiental alta influencia a velocidade do surgimento das alterações pós-morte fortemente, ao passo que a temperatura baixa inibe a autólise. Por isso, recomenda-se a refrigeração do cadáver imediatamente após a morte do animal. A temperatura corporal elevada antes da morte, como nos casos de febre ou alta taxa metabólica, também tem efeito importante para o desenvolvimento de autólise pós-morte. O tamanho do animal, sua cobertura tegumentar ou isolamento térmico (por exemplo, a lã) e o estado nutricional relacionam-se com a maior dificuldade de resfriamento e dissipação de calor e maior velocidade de instalação das alterações. Essas podem ser minimizadas pelo resfriamento rápido da carcaça e pela diminuição do tempo compreendido entre a morte e a fixação dos tecidos, conforme Myers, McGavin e Zachary (2013).
DICA A refrigeração imediatamente após o óbito do animal é de extrema importância para a realização de um exame necroscópico adequado. Entretanto, métodos de congelação do cadáver não são indicados, pois, de acordo com Myers, McGavin e Zachary (2013), os cristais de gelo podem romper as células e gerar muitos artefatos que podem prejudicar a análise macro e microscópica. 
ALTERAÇÕES PÓS-MORTE ABIÓTICAS 
Veja, a seguir, as principais alterações pós-morte abióticas mediatas identificadas na Medicina Veterinária: 
● Rigor Mortis: Contração (rigidez, endurecimento) de todo tecido muscular após a morte do animal. Essa alteração está relacionada com a diminuição da ATP. Geralmente, inicia-se de 1 a 6 horas depois da morte e desaparece totalmente após 48 horas. A escassez de ATP gera uma forte união entre a actina e a miosina, que persistem até que sejam destruídas totalmente pela autólise e heterólise. O mecanismo de formação pode ser dividido em três principais etapas: pré-rigor; rigor e pós-rigor. Resumidamente: na primeira etapa, o glicogênio de reserva mantém o tecido muscular relaxado; na fase do rigor, a reserva de glicogênio se esgota e ocorre a união entre a actina e a miosina, a qual gera a rigidez da musculatura; e na terceira e última etapa, ocorre o relaxamento muscular em consequência da destruição dessa união, devido à ação das enzimas proteolíticas; 
● Algor Mortis: Resfriamento gradual do cadáver até atingir a temperatura ambiental; 
● Livor Mortis (congestão hipostática ou hipóstase cadavérica): Deslocamento (distribuição) do sangue ainda não-coagulado para o lado de decúbito do animal. Esse deslocamento está relacionado com o efeito gravitacional (acomodação gravitacional do sangue). Em órgãos pares, como os pulmões, um lado fica mais vermelho e sanguinolento, devido à maior quantidade de sangue distribuído para esse local (Figura 6). 
Congestão hipostática em um pulmão. O lado no qual o sangue se acumulou ficou avermelhado.
● Coagulação do sangue 
Os coágulos começam a se formar logo após a morte. Os coágulos pós-morte são elásticos, brilhantes e vermelhos, podendo apresentar um aspecto semelhante à gelatina. Esses coágulos não apresentam aderência nas estruturas vasculares e cardíacas e são facilmente removidos. O coágulo pode ser classificado em duas formas: cruórico (vermelho e constituído por eritrócitos); e lardáceo (amarelo e constituído por plasma com plaquetas e leucócitos). É de extrema importância a diferenciação entre coágulo pós-morte e trombos desenvolvidos antes da morte, pois esses últimos, geralmente, são aderidos no vaso. 
DICA Diferenciar coágulo pós-morte e trombos ante mortem é de extrema importância. De acordo com Myers, McGavin e Zachary, 2013, os trombos apresentam aspecto opaco, são firmes a friáveis, com superfície rugosa e irregular e frequentemente apresentam aderência vascular. 
● Embebição (impregnação) por hemoglobina: Coloração avermelhada nas superfícies dos tecidos (órgãos) e na íntima dos vasos sanguíneos (Figura 7). Após a lise das hemácias, a hemoglobina é liberada e cora a parede dos vasos e tecidos. 
Embebição por hemoglobina. A. Vísceras da cavidade abdominal de coloração avermelhada decorrente da lise das hemácias pós-morte. B. Aorta de um canino de coloração normal (esquerda) em comparação com a aorta com a íntima impregnada por hemoglobina (direita). 
● Embebição (impregnação) por bile: 
Caracteriza-se pela coloração amarelo-esverdeada nos tecidos próximos à vesícula biliar (Figura 8). Ocorre horas após a morte, decorrente da rápida autólise da parede da vesícula, com consequente difusão dos pigmentos biliares.
Embebição por bile. Áreas esverdeadas nos tecidos próximos à vesícula biliar consequente da difusão dos pigmentos biliares. 
● Enfisema pós-morte (timpanismo cadavérico): 
Trata-se da dilatação do cadáver consequente do aumento da pressão intra-abdominal, devido à formação de gás produzido por bactérias do tubo digestivo. É de grande importância diferenciá-lo do timpanismo ocorrido antes da morte, principalmente em ruminantes, onde essa condição é frequente. No timpanismo ante mortem observa-se alterações circulatórias no animal, como hemorragias e hiperemia das paredes dos órgãos do sistema gastrointestinal; em alguns casos, pode-se visualizar a linha demarcatória no esôfago. Nota-se, também, que o fígado e o baço podem apresentar palidez em razão da compressão. 
● Deslocamento dos órgãos: 
Ocorre a modificação de posição dos órgãos, podendo causar ruptura e torção, além de prolapso retal. Essa alteração também se desenvolve pela produção de gás pelas bactérias do tubo digestivo. 
ALTERAÇÕES PÓS-MORTE BIÓTICAS 
Vejamos as principais alterações bióticas que ocorrem após a morte do animal: 
● Pseudomelanose 
Alteração na coloração das estruturas próximas ao intestino (inclusive a pele), com tons azuis esverdeados . O mecanismo para sua formação relaciona-se com a lise das hemácias e com a liberação da hemoglobina. O ferro da hemoglobina se combinará com o sulfeto de hidrogênio produzido pela putrefação bacteriana, resultando na formação de sulfeto ferroso, o qual produz manchas nos órgãos adjacentes aos intestinos;
Pseudomelanose no subcutâneo, caracterizada por áreas verdes escuras. 
● Enfisema tecidual (cadavérico) 
Consequente da produção de gás pelas bactérias, trata-se da crepitação do tecido subcutâneo e outras estruturas; 
● Maceração 
Consequência das ações das enzimas proteolíticas (metabolismo bacteriano pós-morte), refere-se à fragmentação dos tecidos com desprendimento de mucosa; 
● Coliquação (liquefação parenquimatosa pós-morte) 
Relacionada com o metabolismo bacteriano pós-morte, trata-se da perda do aspecto normal e estrutural das vísceras; e 
● Esqueletização 
Dissolução dos tecidos moles. 
PIGMENTOS E PIGMENTAÇÕES PATOLÓGICAS 
Os pigmentos são substâncias que dão uma coloração incomum aos tecidos e, conforme Miller e Zachary (2017), podem ser classificados em: endógenos (sintetizados pelo próprio organismo); e exógenos (causas externas, fora do organismo do animal). Principaispigmentos endógenos na Medicina Veterinária 
Em relação aos pigmentos endógenos, é importante estudar e reconhecer a lipofucsina, a melanina e os pigmentos derivados da hemoglobina. 
A lipofuscina é o pigmento do desgaste, conhecido como pigmento da “idade” ou da "velhice” celular. Não causa danos à estrutura e função da célula e é identificado principalmente nos neurônios e cardiomiócitos. O pigmento está relacionado com a oxidação progressiva de lipídios e consiste em um complexo de lipoproteínas não-degradáveis que se acumulam nas células, como nos conta Cheville (2009c). Esse pigmento deve ser diferenciado do ceroide. A melanina é um pigmento enegrecido, preto ou marrom, comum na epiderme e responsável pela cor da pele e dos pelos. Esse pigmento também pode ser identificado em outros tecidos, como a mucosa oral de algumas raças (por exemplo, o Chow Chow). Nas doenças, a melanina é vista em tumores melanóticos (melanoma) e em casos de hiperpigmentação da pele, como observado em algumas endocrinopatias. De acordo com Miller e Zachary (2017), melanose é a condição caracterizada por grandes depósitos congênitos de melanina e não apresenta problemas para a saúde animal. 
A bilirrubina é o pigmento encontrado normalmente na bile e deriva da hemoglobina. Icterícia é o nome da condição consequente do excesso desse pigmento e caracteriza-se pela coloração amarelada dos tecidos. 
Icterícia em um gato. A. Mucosa oral amarelada decorrente do excesso de bilirrubina. B. Tecido subcutâneo, mesentério e gordura da cavidade abdominal acentuadamente amarela, decorrente da hepatopatia. 
A icterícia é o resultado do desequilíbrio entre a produção e excreção de bilirrubina. Basicamente, o metabolismo da bilirrubina ocorre pela degradação da hemoglobina, onde as células do sistema mononuclear fagocitário processam os eritrócitos em fase de envelhecimento, principalmente no baço. A bilirrubina entra na circulação junto à albumina e é transportada para o fígado. Nessa etapa, a bilirrubina é denominada indireta (não-conjugada). No fígado, a bilirrubina entra no hepatócito para ser conjugada com o ácido glicurônico. A bilirrubina conjugada (direta) é, então, excretada pelos canalículos e ductos biliares. No duodeno, as bactérias intestinais convertem a bilirrubina em urobilinogênio, podendo ser reabsorvida e retornar ao tecido hepático. A porção não-absorvida é convertida em estercobilina e eliminada nas fezes. 
Diversos fatores podem causar icterícia nos animais, como aumento da produção de bilirrubina, redução da captação pelos hepatócitos, defeito na conjugação, alteração na excreção e redução do fluxo de bile. Desse modo, a icterícia pode ser classificada como pré-hepática, hepática e pós-hepática. 
Na icterícia pré-hepática, há destruição exagerada de hemácias e o fígado não consegue conjugar essa quantidade excessiva de bilirrubina. Essa forma é identificada nas doenças hemolíticas, que cursam com lise dos eritrócitos e liberação da bilirrubina. A forma hepática caracteriza-se por lesões em hepatócitos (doença hepática) e a icterícia pós-hepática é identificada em casos de obstrução intra ou extra-hepática, como em casos de cálculos na vesícula ou tumores. A icterícia caracteriza-se macroscopicamente pela coloração amarelada dos tecidos e, histologicamente, observa-se grânulos acastanhados a dourados nos hepatócitos, macrófagos e canalículos biliares, conforme Cheville (2009c), Barros (2016) e Miller e Zachary (2017). 
A hemoglobina é o pigmento normal dos eritrócitos e tem a função de transporte de oxigênio pelo organismo. A hemoglobina oxigenada é avermelhada, dando um aspecto rosado aos tecidos, enquanto a não-oxigenada dá uma coloração azul arroxeada (cianose). Em casos de insuficiência cardiorrespiratória, pode-se identificar uma coloração arroxeada nas mucosas, pele e coxins, devido à presença de hemoglobina não-oxigenada .Algumas doenças que cursam com hemólise intravascular se relacionam com a presença de hemoglobina na urina, 
pois a hemoglobina é liberada para a circulação através da lise dos eritrócitos. Essa alteração é comumente identificada em ovelhas com intoxicação crônica por cobre, como nos dizem Cheville (2009c), Barros (2016) e Miller e Zachary (2017). 
Superfície plantar dos membros torácicos de coloração arroxeada consequente da deposição de hemoglobina não oxigenada em um gato com cardiomiopatia hipertrófica. 
A hemossiderina é um pigmento granular, amarelo-ouro ou amarronzado, derivado da hemoglobina, cujo ferro é armazenado na célula. Relacionada com o processo fisiológico de lise das hemácias, evidencia-se, normalmente, em macrófagos da medula óssea, baço e fígado. Em condições patológicas, pode ser identificada em áreas de hemorragia e congestão passiva crônica pulmonar. Utiliza-se a técnica histoquímica azul da Prússia para identificar o ferro, o qual se cora de azul. Hemossiderose é o termo utilizado para casos de excesso de hemossiderina. Através da análise microscópica do pulmão dá-se um achado importante em animais com insuficiência cardíaca congestiva: a identificação das “células do vício cardíaco” ou “células da insuficiência cardíaca”. Nesses animais, observa-se aumento da pressão nos capilares pulmonares com liberação de eritrócitos para os alvéolos, que serão fagocitados por macrófagos. A hemossiderina, portanto, será estocada no citoplasma destes, como nos mostram Miller e Zachary (2017). 
Principais pigmentos exógenos na Medicina Veterinária 
O pigmento exógeno mais comum na medicina veterinária é o carbono, que se acumula nos pulmões através da inalação. A condição relacionada ao acúmulo de carbono no tecido pulmonar denomina-se antracose e está relacionada com a contaminação ambiental e poluição do ar. Na necropsia de animais com intensa antracose, visualizam-se áreas puntiformes multifocais enegrecidas na superfície pleural visceral e no parênquima pulmonar; em algumas situações, também aparece nos linfonodos regionais. Microscopicamente, através da coloração rotineira de hematoxilina e eosina, visualiza-se pigmento enegrecido e de aspecto granular no interior do citoplasma de macrófagos localizados principalmente nas regiões ao redor de bronquíolos. Outros exemplos de pigmentos exógenos são: as tintas de tatuagens para a 
identificação de animais de rebanho (pigmento livre na derme); tetraciclina, quando administrada em fase de desenvolvimento dentário (pigmentação acastanhada dos dentes); e inalação de poeira. 
Por fim, há o pigmento do formol, denominado hematina. A hematina é um artefato microscópico, não tem alteração clínico-patológica e se relaciona com a dificuldade de interpretação histológica em casos com grande quantidade desse pigmento, como mostram Cheville (2009c) e Miller e Zachary (2017).

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