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DESCRIÇÃO Conceito de saúde, doença, patologia e aspectos gerais da agressão, defesa, adaptação e lesão celular. Tipos e características da degeneração celular. Princípios fundamentais do processo de necrose e apoptose. PROPÓSITO Conhecer os conceitos de saúde, doença, patologia e compreender os processos de agressão, defesa, adaptação, os tipos de degeneração celular e os princípios fundamentais dos processos de necrose e apoptose é importante para entender as bases patológicas das doenças. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever os conceitos de saúde, doença, patologia e as características dos processos de agressão, defesa, adaptação e lesão celular MÓDULO 2 Identificar os principais tipos de degeneração celular, seus mecanismos e aspectos morfológicos MÓDULO 3 Descrever as etapas de progressão da lesão celular e os princípios da morte celular por apoptose e necrose INTRODUÇÃO Entender a complexidade do processo saúde-doença tem que ser um dos objetivos iniciais básicos de todo profissional da área da Saúde, de modo que o organismo humano não seja visto como uma máquina, na qual apenas os eventos de natureza biológica tenham relevância. Dessa forma, nós iniciaremos nossa jornada pelos conceitos fundamentais em Patologia Básica: entenderemos os processos de agressão e mecanismos de defesa do organismo, tipos de adaptação e de lesão celular. Vamos nos aprofundar nas degenerações, lesões celulares reversíveis nas quais as células conseguem retornar ao seu estado inicial, uma vez cessada a agressão. Discutiremos também a evolução para a lesão irreversível, conhecendo as principais características e diferenças entre a necrose e apoptose. São muitos conceitos interessantes que você aplicará em toda a sua jornada acadêmica e profissional. Está pronto para começar? MÓDULO 1 Descrever os conceitos de saúde, doença, patologia e as características dos processos de agressão, defesa, adaptação e lesão celular CONCEITO DE SAÚDE, DOENÇA E PATOLOGIA Ao lado do desemprego e da violência, questões relacionadas à saúde sempre se apresentaram como destaque entre as preocupações ditas como prioritárias em debates político-sociais. Apesar de muito importante, o processo saúde-doença é complexo e muitas vezes mal compreendido. Para você, o que é ter saúde? O que é doença? Durante séculos, o aparecimento de doenças foi atribuído a forças sobrenaturais e castigo de divindades, sendo instituições religiosas e seus sacerdotes os promotores da cura. O Renascimento cultural e científico possibilitou uma maior compreensão sobre a constituição do corpo humano e sobre o processo de adoecimento. O corpo humano, então, passou a ser enxergado como uma máquina passível de falhas, que quando compreendidas, poderiam ser corrigidas. Saúde era ausência de doença e doença era ausência de saúde. Imagem: Matrioshka/Shutterstock.com. Representação das doenças e saúde na Idade Média. Em 1947 esse conceito mudou e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde passou a ser definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Essa definição é motivo de críticas e reflexões de muitos pesquisadores e profissionais, que dizem que essa é mais uma declaração que propriamente uma definição, mas apesar disso, é utilizada até os dias atuais. KUMAR et al . (2016), define a saúde como: UM ESTADO DE ADAPTAÇÃO DO ORGANISMO AO AMBIENTE FÍSICO, PSÍQUICO OU SOCIAL EM QUE VIVE, DE MODO QUE O INDIVÍDUO SE SENTE BEM (SAÚDE SUBJETIVA) E NÃO APRESENTA SINAIS OU ALTERAÇÕES ORGÂNICAS (SAÚDE OBJETIVA). (KUMAR, 2016) Imagem: Gabriela Cardoso Caldas. O processo saúde-doença é multifatorial. ATENÇÃO Saúde e normalidade não são sinônimas. Enquanto o conceito da saúde refere-se ao indivíduo, o termo normal é utilizado em relação a parâmetros preestabelecidos (número de batimentos cardíacos, peso dos órgãos e nível de transaminases no sangue) a partir da média de várias observações de um determinado aspecto dentro de populações homogêneas. A ideia de doença é historicamente anterior à concepção de saúde, estando presente de diversas formas em todas as organizações sociais conhecidas. Sua definição pode ser entendida a partir do conceito biológico de adaptação, que é uma propriedade geral dos seres vivos de serem sensíveis às variações do meio ambiente e de produzir respostas adaptativas. Essa capacidade varia em diferentes indivíduos de uma mesma espécie, dependendo de inúmeros fatores biológicos, ambientais e sociais. A doença é um estado de falta de adaptação ao ambiente físico, psíquico ou social, no qual o indivíduo se sente mal (tem sintomas) e/ou apresenta alterações orgânicas evidenciáveis objetivamente (sinais clínicos). Assim, entendemos o processo saúde-doença sendo dinâmico, complexo e multidimensional, abrangendo aspectos biológicos, psicológicos, socioculturais, ambientais, econômicos e políticos. E o que é a Patologia? VERIFICAR A partir de uma perspectiva biológica, a Patologia (pathos = doença + logos = estudo) pode ser entendida como uma ciência que estuda as causas (etiologia) e mecanismos (patogênese) das doenças, bem como os órgãos e sistemas afetados e as alterações moleculares, morfológicas (anatomia patológica) e funcionais (fisiopatologia) que apresentam. Abrangendo todos esses aspectos, a Patologia apresenta grande importância na compreensão global das doenças, fornecendo bases para entendermos a prevenção, manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento, prognóstico e evolução. Imagem: Gabriela Cardoso Caldas. As vertentes de estudo da Patologia. CONCEITO DE AGRESSÃO, DEFESA, ADAPTAÇÃO E LESÃO Dependendo da intensidade, tempo de atuação e da capacidade de reação do organismo, qualquer estímulo da natureza pode representar uma agressão. De fato, as agressões podem ser provocadas por agentes externos (químicos, físicos ou biológicos) ou a partir do próprio organismo, como alterações na expressão gênica ou mecanismos de defesa. Porém, qualquer que seja sua natureza, os agentes agressores agem diretamente, por meio de alterações moleculares que resultam em modificações morfológicas ou indiretamente, por meio dos mecanismos de adaptação do próprio organismo. Nesses casos, ao serem ativados para eliminar ou neutralizar a agressão, os mecanismos de defesa induzem alterações moleculares que resultam em modificações morfológicas. Imagem: Shutterstock.com. Mecanismo de defesa do organismo. Os mecanismos de defesa do organismo são muito variados. Contra os agentes externos, contamos com a existência de barreiras mecânicas e químicas nos revestimentos interno e externo (pele e mucosas). Contra os agentes infecciosos, temos a fagocitose, a resposta imune inata e a resposta imune adaptativa, cujo importante representante é a resposta inflamatória. FAGOCITOSE RESPOSTA IMUNE INATA RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA FAGOCITOSE Processo de ingestão e destruição de partículas, como bactérias ou restos de células necróticas. É realizada por células chamadas de fagócitos (monócitos, macrófagos, neutrófilos e células dendríticas), que usam sua membrana plasmática para englobar essas partículas, dando origem a um compartimento interno chamado fagossoma. RESPOSTA IMUNE INATA Primeira barreira contra infecções. Seus componentes incluem, além dos leucócitos de forma geral e das proteínas do sistema complemento, células dendríticas e epiteliais. Juntos, eles também atuam na eliminação de células danificadas do próprio organismo e de corpos estranhos. RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA As respostas imunes adaptativas são aquelas geradas ao longo da vida e ativadas após um contato inicial dos componentes da reposta imune inata com diferentes agentes invasores. Elas têm a propriedade de reconhecer especificamente um determinado microrganismo, gerando uma memória imunológica, que confere proteção contra reinfecções pelo mesmo antígeno. As células da imunidade adaptativasão os linfócitos B e linfócitos T. Contra as agressões ao genoma, existe o sistema de reparo de DNA. Contra compostos químicos, como os radicais livres, contamos com sistemas enzimáticos eficazes de detoxificação e antioxidantes. São muitos os mecanismos de defesa, voltados a vários tipos de agressão. Porém, a desregulação da resposta imune, assim como de outros mecanismos de defesa, pode se tornar a origem da agressão, como ocorre nas doenças autoimunes. Foto: Shutterstock.com. O lúpus eritematoso sistêmico, uma doença crônica autoimune. Se a agressão não for fatal, ela gera estímulos que induzem respostas adaptativas nos tecidos, de modo que eles se tornem mais resistentes às próximas agressões. Logo, o conceito de adaptação diz respeito à capacidade que as células, tecidos ou o próprio organismo possuem de modificar suas funções (dentro de certos limites) para ajustar-se às modificações induzidas pelo estímulo. As respostas adaptativas podem ocorrer apenas em células e suas organelas, ou no organismo como um todo. Dentre as respostas adaptativas que ocorrem nas células, temos o precondicionamento à hipóxia, hipertrofia do retículo endoplasmático liso e hipertrofia muscular, por exemplo. Já a resposta adaptativa sistêmica do organismo, frente a diferentes agressões, sejam elas de natureza física, química, biológica ou até emocional, é conhecida como estresse. Foto: Shutterstock.com. O estresse é uma resposta adaptativa, que pode ser causada por agressões de natureza emocional. HIPÓXIA É uma condição de baixa concentração de oxigênio nos tecidos e órgãos. O conjunto de alterações morfológicas, moleculares e/ou funcionais que surgem nas células e tecidos após as agressões é denominado de lesão: javascript:void(0) As alterações morfológicas podem ser vistas a olho nu (macroscópicas) ou somente por meio de microscópios (microscópicas e ultra estruturais). As alterações moleculares, que são refletidas nas alterações morfológicas, podem ser detectadas por métodos bioquímicos ou moleculares. As alterações funcionais caracterizam-se por alterações na função de células até sistemas completos, representando os fenômenos fisiopatológicos. As lesões são dinâmicas: têm início, evoluem, e tendem para a cura, cronicidade ou para o óbito. Desse modo, são conhecidas também como processos patológicos, indicando uma sucessão de eventos. O aspecto morfológico de uma determinada lesão, por exemplo, pode variar de acordo com o momento no qual é avaliado. Imagem: Gabriela Cardoso Caldas. Evolução básica de uma doença. Você já sabe que há uma grande diversidade de agentes lesivos existentes na natureza. Porém, a variedade das lesões encontradas nas doenças não é muito grande. Isso porque os mecanismos de agressão às moléculas são comuns a diferentes tipos de agressões. Por exemplo, muitos agentes lesivos agem pela redução do fluxo sanguíneo, diminuindo assim o fornecimento de oxigênio para as células e reduzindo a produção de energia. Por outro lado, os mecanismos de defesa do organismo geralmente são inespecíficos, o que significa que são semelhantes frente a agressões distintas. Podemos citar também as reações inflamatórias, que são respostas frequentes do organismo frente a agressões de naturezas variadas, como a necrose tecidual, presença de corpos estranhos e infecções. Imagem: Shutterstock.com. A inflamação é uma resposta comum dos tecidos vascularizados frente a agressões de diversas naturezas. As lesões possuem um componente que resulta tanto da ação do agente agressor quanto dos mecanismos de defesa. Como já mencionamos, em muitas situações as respostas de defesa são os causadores das lesões, como ocorre nas doenças autoimunes. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DAS LESÕES As agressões comprometem um tecido ou órgão que é formado por diversos componentes, como as células do estroma e do parênquima; componentes intercelulares, como o interstício ou matriz extracelular; a circulação sanguínea e linfática e uma rede de nervos. Desse modo, um ou mais componentes podem ser afetados simultaneamente e, por isso, as lesões podem ser classificadas de acordo com o alvo atingido. Porém, antes de comentarmos essa classificação, é importante lembrar que dada a interdependência entre os componentes teciduais, nas doenças as lesões não surgem isoladamente. LESÕES CELULARES Podem ser letais ou não letais, onde a letalidade está relacionada à qualidade, intensidade e duração da lesão, bem como ao estado funcional e tipo de célula atingida. Nas lesões não letais, as células continuam vivas e podem retornar ao estado de normalidade uma vez cessada a lesão. Exemplos são agressões que alteram os mecanismos de regulação e proliferação celular, gerando hipotrofias, hipertrofias, hiperplasias, hipoplasias, metaplasias, displasias e neoplasias. O acúmulo de substâncias intracelulares, as degenerações, são resultado de agressões que modificam o metabolismo celular. Já as lesões letais são representadas pela necrose (Morte celular seguida de autólise.) , apoptose (Morte celular não seguida de autólise.) e outros tipos de morte celular, temas que também veremos mais para frente. Essas lesões estudaremos nos próximos módulos. ALTERAÇÕES DO INTERSTÍCIO Envolvem modificações da substância fundamental amorfa, alterações estruturais de fibras elásticas, colágenas e reticulares e depósito de substâncias formadas localmente ou vindas da circulação. DISTÚRBIOS DA CIRCULAÇÃO Incluem alterações do fluxo sanguíneo (hiperemia e isquemia), da coagulação (trombose) e da drenagem de líquido intersticial (edema), além do aparecimento de substâncias que causam obstrução vascular (embolia) e extravasamento de sangue da vasculatura (hemorragia). null Imagem: Shutterstock.com. Ruptura de um vaso, levando à hemorragia. ALTERAÇÕES DA INERVAÇÃO Representam lesões importantes, por causa do papel integrador do sistema nervoso. Porém, as lesões locais dessas estruturas ainda são pouco conhecidas. INFLAMAÇÃO É a lesão mais complexa, que envolve todos os componentes teciduais e se caracteriza por alterações da microcirculação, migração de leucócitos, lesões celulares e intersticiais. A inflamação é o componente efetor da resposta imune, acompanhando a maioria das lesões produzidas por diferentes agentes lesivos. null Imagem: Shutterstock.com. Na inflamação, temos alterações vasculares, migração de leucócitos e lesões celulares/intersticiais. javascript:void(0) Assim como as lesões, as doenças também precisam ser nomeadas e catalogadas. De maneira ideal, as doenças devem receber um nome que traduza a característica essencial da sua natureza, tarefa essa que é bem complexa. Muitas vezes, a nomenclatura segue certa lógica, já que inclui o nome do órgão afetado e algum prefixo ou sufixo esclarecedor, como as gastrites e glomerulonefrites, por exemplo. Em outros casos, a denominação indica a natureza e também as características principais do processo, como na enteropatia perdedora de proteínas. VOCÊ SABIA Em muitos casos, somente o nome não é suficiente para indicar uma doença. São os chamados epônimos, em que a doença leva o nome de quem a descreveu ou o local onde foi descrita. Nesses casos, o nome pouco tem a ver com a essência das lesões e da doença em si. De modo a uniformizar a nomenclatura, evitando que as doenças recebam nomes com base em critérios diferentes em diferentes países, a OMS criou a Classificação Internacional das Doenças (CID). As doenças são classificadas de acordo com alguns sinais, sintomas e lesões, que caracterizam uma determinada condição. A CID deve ser mencionada e registrada toda vez que o diagnóstico é estabelecido. Tanto a nomenclatura quanto a classificação das doenças são extremamente importantes, pois os profissionais da Saúde precisam utilizar termos e princípios consensuais para que as informações obtidas em qualquer parte do mundo possam ser comparadas e para que haja o avanço do conhecimentoem Saúde. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com. Doença de Parkinson, um epônimo médico. AGRESSÃO CELULAR Este vídeo apresenta os principais mecanismos bioquímicos e moleculares das agressões celulares. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. APRENDEMOS SOBRE OS CONCEITOS DE SAÚDE, DOENÇA E PATOLOGIA. ABAIXO, ESTÃO LISTADAS ALGUMAS DEFINIÇÕES E FATOS HISTÓRICOS IMPORTANTES PARA A CONSOLIDAÇÃO DESSES CONCEITOS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO FAZ A CORRELAÇÃO CORRETA: A) O período do Renascimento cultural e científico possibilitou uma maior compreensão sobre a constituição do corpo humano e sobre o processo de adoecimento. B) Entende-se saúde como um estado de bem-estar físico do indivíduo, com ausência de infecções e outras alterações orgânicas. C) Os termos saúde e normalidade não são sinônimos. Enquanto saúde refere-se ao indivíduo, normalidade refere-se a parâmetros preestabelecidos dentro de populações homogêneas. D) Em Biologia, doença pode ser entendida sob a ótica do processo de adaptação, indicando a ausência de respostas adaptativas frente a variações internas e do meio externo. E) A Patologia é a ciência que estuda as causas e mecanismos das doenças, bem como os órgãos e sistemas afetados e as alterações moleculares, morfológicas e funcionais que apresentam. 2. NO INÍCIO DOS ESTUDOS EM PATOLOGIA, ALGUNS CONCEITOS SÃO A BASE PARA O ENTENDIMENTO DAS CAUSAS, MECANISMOS E ALTERAÇÕES RELACIONADAS ÀS DOENÇAS. PORTANTO, ENTENDER OS PROCESSOS DE LESÃO, AGRESSÃO, ADAPTAÇÃO E DEFESA É DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA PARA O PROFISSIONAL DA ÁREA DA SAÚDE. SOBRE ESSE ASSUNTO, ANALISE AS AFIRMAÇÕES ABAIXO: INDEPENDENTEMENTE DO TIPO OU INTENSIDADE DA AGRESSÃO, ELA GERA ESTÍMULOS QUE INDUZEM RESPOSTAS ADAPTATIVAS NO ORGANISMO. QUALQUER ESTÍMULO DA NATUREZA PODE REPRESENTAR UMA AGRESSÃO E O MECANISMO DE AÇÃO DOS AGENTES AGRESSORES É AGIR DIRETAMENTE SOBRE O ORGANISMO, GERANDO ALTERAÇÕES. O PRECONDICIONAMENTO À HIPÓXIA E À HIPERTROFIA MUSCULAR SÃO EXEMPLOS DE RESPOSTAS ADAPTATIVAS DO ORGANISMO. EMBORA EXISTA UMA VARIEDADE DE AGENTES LESIVOS NA NATUREZA, A VARIEDADE DE LESÕES ENCONTRADAS NAS DOENÇAS NÃO É MUITO GRANDE. É CORRETO O QUE SE AFIRMA EM: A) III e IV B) I e II C) III D) I e IV E) II e III GABARITO 1. Aprendemos sobre os conceitos de saúde, doença e patologia. Abaixo, estão listadas algumas definições e fatos históricos importantes para a consolidação desses conceitos. Assinale a alternativa que não faz a correlação correta: A alternativa "B " está correta. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o conceito de saúde representa “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença ou enfermidade” e é utilizado até os dias atuais, demonstrando a complexidade envolvida quando falamos de saúde. 2. No início dos estudos em Patologia, alguns conceitos são a base para o entendimento das causas, mecanismos e alterações relacionadas às doenças. Portanto, entender os processos de lesão, agressão, adaptação e defesa é de fundamental importância para o profissional da área da saúde. Sobre esse assunto, analise as afirmações abaixo: Independentemente do tipo ou intensidade da agressão, ela gera estímulos que induzem respostas adaptativas no organismo. Qualquer estímulo da natureza pode representar uma agressão e o mecanismo de ação dos agentes agressores é agir diretamente sobre o organismo, gerando alterações. O precondicionamento à hipóxia e à hipertrofia muscular são exemplos de respostas adaptativas do organismo. Embora exista uma variedade de agentes lesivos na natureza, a variedade de lesões encontradas nas doenças não é muito grande. É correto o que se afirma em: A alternativa "A " está correta. As respostas adaptativas podem ocorrer apenas em células e suas organelas, ou no organismo como um todo. Às respostas adaptativas que ocorrem nas células, temos o precondicionamento à hipóxia, hipertrofia do retículo endoplasmático liso e hipertrofia muscular, por exemplo. Existe uma grande diversidade de agentes lesivos, de natureza interna e externa. Porém, a variedade das lesões encontradas nas doenças não é muito grande, pois os mecanismos de agressão às moléculas são comuns a diferentes tipos de agressões. MÓDULO 2 Identificar os principais tipos de degeneração celular, seus mecanismos e aspectos morfológicos DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA A degeneração hidrópica, também conhecida por tumefação celular, é a lesão celular reversível caracterizada pelo acúmulo de água e eletrólitos no interior das células. Além disso, é a lesão não letal mais comum que ocorre diante dos mais variados tipos de agressão, seja ela de natureza física, química ou biológica. O transporte de eletrólitos através das membranas, tanto a plasmática quanto a das organelas, é realizado por bombas eletrolíticas. Algumas delas dependem da energia na forma de Adenosina trifosfato (ATP), porém outras dependem da estrutura da membrana e da integridade das proteínas que formam o complexo enzimático da bomba. Esse transporte de água e eletrólitos ocorre contra um gradiente de concentração, para o interior dos compartimentos celulares. Imagem: Shutterstock.com. Transporte de moléculas pela membrana plasmática. Portanto, distúrbios nesse equilíbrio hidroeletrolítico resultam na retenção de água e eletrólitos nas células, que se apresentam aumentadas de volume (Tumefeitas.) . Nesse contexto, diversos agentes lesivos podem causar a degeneração hidrópica, como agentes tóxicos que lesam a membrana mitocondrial e reduzem a produção de ATP; agentes que levam à hipertermia, por causa do aumento do consumo de ATP; agressões que levam à formação de radicais livres que lesam as membranas diretamente e substâncias inibidoras da bomba sódio/potássio ATPase, como a ouabaína. Embora as causas possam ser variadas, a consequência é a mesma: retenção de sódio, redução de potássio e aumento da pressão osmótica intracelular, levando à entrada de água no citoplasma e à expansão isosmótica da célula. Imagem: Shutterstock.com. Mecanismo simplificado de atuação da bomba de Na+/K+ ATPase. A degeneração hidrópica é a primeira manifestação em quase todas as formas de agressão às células. Em geral, os órgãos apresentam aumento de peso e volume, embora seu aspecto macroscópico varie de acordo com a intensidade da lesão. A coloração também muda, ficando mais pálida. Isso ocorre porque as células tumefeitas comprimem os capilares sanguíneos, reduzindo a quantidade de sangue no órgão. Microscopicamente, as células apresentam aumento de volume com citoplasma mais acidófilo e com aspecto granuloso, após coloração com hematoxilina eosina, corante amplamente empregado para analise tecidual de cortes histológicos. Em algumas células, a característica mais marcante é a acidófila, que se torna mais pronunciada com a progressão para a necrose. Já em um estado avançado, é possível observar pequenos vacúolos de água dispersos irregularmente pelo citoplasma. Porém, grandes vacúolos também podem ser formados, como no caso dos hepatócitos (degeneração baloniforme). Foto: Nephron/wikimedia Commons/ CC BY-AS 3.0. Degeneração hidrópica de hepatócitos (baloniforme). A degeneração hidrópica, assim como todas as outras degenerações que veremos a seguir, é um processo reversível. Isto é, quando eliminamos a causa da lesão, as células tendem a voltar para seu aspecto normal. Por isso, a tumefação celular quase sempre não está associada a consequências funcionais mais graves, a menos que ela seja muito intensa. No fígado, a degeneração hidrópica intensa nos hepatócitos pode resultar em alterações funcionais no órgão. Porém, raramente resultará em insuficiência hepática exclusivamente degenerativa. DEGENERAÇÃO HIALINA O termo “hialina” tem origem na palavra grega hyalos , que significa vítreo, homogêneo, translúcido. A degeneração hialina consiste no acúmulo de material proteico e acidófilo no interior das células ou no espaçoextracelular, conferindo a eles uma aparência rósea, vítrea e homogênea, que podemos observar nos cortes histológicos corados com hematoxilina e eosina. Em alguns casos, a degeneração é consequência da condensação de filamentos intermediários e proteínas associadas, formando corpúsculos no interior das células. Porém, javascript:void(0) também pode ser resultado do acúmulo de material decorrente de uma infecção ou da endocitose de proteínas. FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS Compõem um sistema de estruturas proteicas filamentosas no citoplasma e núcleo de células eucarióticas, formando uma rede estrutural que conecta as organelas citoplasmáticas e o núcleo. Um exemplo de depósito hialino celular é o chamado corpúsculo hialino de Mallory-Denk, que é encontrado normalmente em hepatócitos de indivíduos alcoólatras crônicos, mas também em casos de carcinoma hepatocelular e esteato-hepatite não alcoólica. Resumidamente, esse corpúsculo é formado pela ação dos radicais livres sobre as proteínas do citoesqueleto induzindo sua peroxidação e formação de ligações transversais resultando na formação de aglomerados proteicos precipitados. Quando o analisamos por microscopia eletrônica, vemos um aspecto filamentoso em algumas áreas e amorfo (sem forma) em outras. Foto: Nephron/wikimedia Commons/ CC BY-AS 3.0. Corpúsculo hialino de Mallory-Denk em hepatócitos de pacientes com esteato-hepatite. javascript:void(0) Outro exemplo são os corpúsculos hialinos de Councilman-Rocha Lima, encontrados em hepatócitos nas hepatites virais, especialmente na febre amarela. Em fibras musculares, tanto esqueléticas quanto cardíacas, a degeneração hialina é resultado da ação de endotoxinas bacterianas e agressão por células imunes. Acredita-se que o aspecto morfológico seja decorrente da desintegração de microfilamentos, relacionada à liberação e à ação de citocinas. Em indivíduos com proteinúria (Excesso de proteína na urina.) , a degeneração hialina no epitélio tubular renal ocorre pela endocitose excessiva de proteínas. SAIBA MAIS Os corpúsculos de Russel caracterizam-se pelo acúmulo excessivo de imunoglobulinas em plasmócitos e são frequentes em inflamações associadas a infecções, como na salmonelose e leishmaniose tegumentar. PLASMÓCITOS São células derivadas dos linfócitos B que sofreram diferenciação após respostas imunitárias exercidas por algum antígeno, que é responsável pela produção dos anticorpos circulantes. As bases bioquímicas que possam explicar a degeneração hialina no interstício ainda permanecem em debate. Em indivíduos com hipertensão crônica ou diabetes melito, as paredes arteriolares renais tornam-se hialinas por causa do extravasamento e depósito de proteína plasmática na membrana basal. DEGENERAÇÃO GORDUROSA A degeneração gordurosa refere-se ao acúmulo anormal de gordura no citoplasma celular. Os dois principais tipos são a esteatose e a lipidose. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com. A esteatose ocorre mais frequentemente no fígado. A esteatose é o acúmulo de gorduras neutras (mono, di ou triglicerídeos) em células parenquimatosas. De maneira geral, a degeneração gordurosa ocorre mais frequentemente no fígado, pois é o principal órgão envolvido na metabolização de gorduras, porém também pode acometer o epitélio tubular renal, pâncreas, músculos esquelético e cardíaco. A lesão gordurosa é resultado da interferência do metabolismo celular de ácidos graxos por algum agente agressor, que pode: aumentar a captação ou síntese dos ácidos graxos; dificultar a utilização, transporte ou excreção dos ácidos graxos. PARENQUIMATOSAS O parênquima, nos animais, refere-se ao tecido que forma a parte funcional de muitos órgãos, em oposição ao estroma, que se refere aos tecidos de suporte. CAUSAS DA ESTEATOSE As causas da esteatose são variadas e incluem o uso de substâncias tóxicas, como o álcool; hipóxia, desnutrição proteica e distúrbios metabólicos, como o diabetes e obesidade. javascript:void(0) ETANOL O etanol é a causa mais conhecida e estudada da esteatose e, resumidamente, o etilismo causa a degeneração gordurosa por meio de alguns fatores, como a redução de Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo (NAD), molécula necessária para a oxidação de lipídeos; excesso de acetil-CoA, que induz a síntese de ácidos graxos; redução da disponibilidade de proteínas para a síntese de lipoproteínas, quando associado à desnutrição; e comprometimento do transporte das lipoproteínas, por meio da ação de acetaldeído e radicais livres gerados pela metabolização do etanol. NICOTINAMIDA ADENINA DINUCLEOTÍDEO (NAD) Aceptor de hidrogênios e elétrons, carregando a energia para a produção de ATP. Foto: Shutterstock.com. O etilismo é a causa mais conhecida e estudada da esteatose. AGENTES TÓXICOS javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Podem levar à esteatose pela lesão do retículo endoplasmático rugoso e redução de proteínas, resultando na deficiência de lipoproteínas. Outros fatores incluem o bloqueio na utilização de triglicerídeos, sem que a síntese proteica seja reduzida. HIPÓXIA Em estados de hipóxia, como anemia ou insuficiência cardíaca/respiratória, há uma menor disponibilidade de oxigênio e, dessa forma, redução na síntese de ATP. Com isso, a síntese de lipídeos complexos fica dificultada e há diminuição da utilização de ácidos graxos e triglicerídeos, que se acumulam. A esteatose também resulta, em boa parte, do aumento da síntese de ácidos graxos, por causa do excesso de acetil-CoA gerado pela diminuição da oxidação no ciclo de Krebs. OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA Associada à síndrome metabólica, a obesidade é hoje um dos principais problemas de saúde pública global e deve-se principalmente à associação da ingestão excessiva de energia na forma de lipídeos e carboidratos e do sedentarismo. O termo “síndrome metabólica” inclui uma série de fatores de risco metabólicos, como hipertensão arterial, hiperglicemia, excesso de gordura corporal em torno da cintura e níveis de colesterol anormais. Na síndrome metabólica, ocorre esteatose visceral no fígado, nos músculos esqueléticos e no miocárdio, devido a fatores como aumento dos radicais livres, transporte dificultado de lipoproteínas e síntese aumentada de triglicerídeos e de ceramida, potente indutora da apoptose. Imagem: Shutterstock.com. DESNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA A falta de proteínas, resumidamente, leva à redução da formação de lipoproteínas e da excreção de triglicerídeos. Além disso, a dieta deficiente em calorias resulta na mobilização de lipídeos do tecido adiposo, aumentando o aporte de ácidos graxos para o fígado. SAIBA MAIS Em crianças com desnutrição proteica grave, a esteatose pode acometer vários órgãos além do fígado, como os rins, coração, músculo esquelético e pâncreas. A morfologia de um órgão com esteatose é variável. No fígado, podemos notar aumento de volume e peso, diminuição da consistência, coloração amarelada e bordas arredondadas. Imagem: Shutterstock.com. Ilustração da evolução da esteatose hepática. Os rins apresentam morfologia semelhante, com aumento de volume, peso e coloração amarelada. O coração pode apresentar palidez e diminuição da consistência (na miocardite diftérica) ou apresentar faixas amareladas visíveis no endocárdio, nos casos de hipóxia prolongada. Se observarmos ao microscópio de luz, notaremos o acúmulo de triglicerídeos em pequenas vesículas revestidas por membrana. Na esteatose em fase inicial, os vacúolos são de tamanhos variados e apresentam tendência a se unirem, formando vesículas cada vez maiores. No fígado, podem ser observadas a esteatose microgoticular, quando pequenas vesículas de gordura se distribuem na periferia celular e a esteatose macrogoticular, quando há uma grande vesícula de gordura que desloca o núcleo para a periferia. Foto: Shutterstock.com. Esteatose macrogoticular (à esquerda)e corpúsculos de Mallory-Denk (à direita). Nos rins, podemos observar pequenas vesículas nas células tubulares, que raramente produzem deformidade celular. No coração, os triglicerídeos se depositam em vesículas dispostas ao longo das células. SAIBA MAIS Devido à característica dos triglicerídeos de se dissolverem em álcool e xilol, que são substâncias utilizadas na preparação de amostras para análise em microscópio de campo claro, os “espaços vazios” que vemos podem ser confundidos com os vacúolos da degeneração hidrópica. Por isso, para que possamos ter certeza da natureza lipídica da vesícula, é necessária a realização de colorações especiais. Apesar de ser uma lesão reversível, o excesso de ácidos graxos pode gerar ceramida, que já comentamos ser um potente indutor de apoptose. No fígado, pode haver formação dos chamados cistos gordurosos, que podem romper e causar embolia gordurosa. Em alguns casos de esteatose difusa e grave, podemos ter manifestações de insuficiência hepática. Em indivíduos etilistas crônicos, a esteatose hepática é frequentemente acompanhada de fibrose, evoluindo para a cirrose. Os acúmulos intracelulares de gorduras que não são triglicerídeos, como o colesterol e seus ésteres, são chamados de lipidoses. Também podemos encontrar depósitos de lipídeos mais complexos, como esfingolipídeos e gangliosídeos, embora sejam raros. As lipidoses podem ser localizadas ou sistêmicas. A aterosclerose é uma doença de grande importância clínica e é caracterizada por depósitos localizados de colesterol e seus ésteres, principalmente, na camada íntima de artérias de grande e médio calibres. O aumento de triglicerídeos e colesterol plasmáticos representa o principal fator de risco para o desenvolvimento da aterosclerose, embora a hipertensão arterial, tabagismo e a síndrome metabólica também estejam envolvidos. Imagem: Shutterstock.com. Acúmulo de colesterol e seus ésteres na camada íntima arterial causando aterosclerose. Os xantomas são outro exemplo de lipidose, caracterizados por nódulos ou placas na pele formados por aglomerados de macrófagos carregados de colesterol, com aspecto espumoso. Foto: Min.neel/wikimedia Commons/ CC BY-SA 3.0. Xantoma no joelho de um paciente infantil. DEGENERAÇÃO CÁLCICA A degeneração cálcica, também conhecida como calcificação patológica, refere-se à deposição anormal de sais de cálcio, com quantidades menores de ferro e outros sais minerais nos tecidos. Quando a deposição se dá de forma local nos tecidos mortos, ela é chamada de calcificação distrófica. Já a calcificação metastática é a deposição de sais de cálcio em tecidos normais e é quase sempre resultado de hipercalcemia secundária devido a algum desequilíbrio no metabolismo do cálcio. OUTRAS FORMAS DE DEGENERAÇÃO CELULAR Assista ao vídeo que trata sobre a natureza de outros acúmulos anormais na célula. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM RESIDENTE DE PATOLOGIA FOI CHAMADO PARA ANALISAR UMA LÂMINA HISTOLÓGICA, CORADA COM HEMATOXILINA E EOSINA, DE UM FÍGADO DE PACIENTE COM HISTÓRICO DE ETILISMO CRÔNICO. AO MICROSCÓPIO DE LUZ, ELE OBSERVOU UM ACÚMULO DE MATERIAL PROTEICO E ACIDÓFILO NO INTERIOR DOS HEPATÓCITOS, QUE TINHAM APARÊNCIA RÓSEA, VÍTREA E HOMOGÊNEA. QUAL SERIA O MELHOR DIAGNÓSTICO A SER DADO PELO MÉDICO RESIDENTE A ESSE TIPO DE LESÃO? A) Degeneração hidrópica – corpúsculos de Councilman-Rocha Lima. B) Apoptose de hepatócitos ‒ corpúsculos de Russel. C) Esteatose microgoticular – cistos gordurosos. D) Esteatose macrogoticular – cistos gordurosos. E) Degeneração hialina - corpúsculo de Mallory-Denk. 2. DEGENERAÇÕES SÃO LESÕES CELULARES, SECUNDÁRIAS A ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS QUE RESULTAM NO ACÚMULO DE SUBSTÂNCIAS NO INTERIOR DA CÉLULA. SOBRE A DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA, ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: É A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO EM QUASE TODAS AS FORMAS DE AGRESSÃO ÀS CÉLULAS, GERANDO O ACÚMULO DE GORDURA NOS TECIDOS. TAMBÉM É CONHECIDA COMO TUMEFAÇÃO CELULAR, E CONSISTE NA LESÃO CELULAR IRREVERSÍVEL CARACTERIZADA PELO ACÚMULO DE ÁGUA E ELETRÓLITOS NO INTERIOR DAS CÉLULAS. EM GERAL, NESSA DEGENERAÇÃO, OS ÓRGÃOS APRESENTAM AUMENTO DE PESO E VOLUME, EMBORA SEU ASPECTO MACROSCÓPICO VARIE DE ACORDO COM A INTENSIDADE DA LESÃO. É CORRETO O QUE SE AFIRMA EM: A) I B) II C) III D) I e II E) II e III GABARITO 1. Um residente de Patologia foi chamado para analisar uma lâmina histológica, corada com hematoxilina e eosina, de um fígado de paciente com histórico de etilismo crônico. Ao microscópio de luz, ele observou um acúmulo de material proteico e acidófilo no interior dos hepatócitos, que tinham aparência rósea, vítrea e homogênea. Qual seria o melhor diagnóstico a ser dado pelo médico residente a esse tipo de lesão? A alternativa "E " está correta. Na degeneração hialina, ocorre o acúmulo de material proteico e acidófilo no interior das células ou no espaço extracelular, conferindo a eles uma aparência rósea, vítrea e homogênea. A lesão pode ser consequência da condensação de filamentos intermediários e proteínas associadas, formando corpúsculos no interior das células; do acúmulo de material decorrente de uma infecção ou da endocitose de proteínas. Um exemplo de depósito hialino celular é o chamado corpúsculo hialino de Mallory-Denk, que é encontrado normalmente em hepatócitos de indivíduos alcoólatras crônicos, em casos de carcinoma hepatocelular e esteato-hepatite não alcoólica. 2. Degenerações são lesões celulares, secundárias a alterações bioquímicas que resultam no acúmulo de substâncias no interior da célula. Sobre a degeneração hidrópica, analise as afirmativas a seguir: É a primeira manifestação em quase todas as formas de agressão às células, gerando o acúmulo de gordura nos tecidos. Também é conhecida como tumefação celular, e consiste na lesão celular irreversível caracterizada pelo acúmulo de água e eletrólitos no interior das células. Em geral, nessa degeneração, os órgãos apresentam aumento de peso e volume, embora seu aspecto macroscópico varie de acordo com a intensidade da lesão. É correto o que se afirma em: A alternativa "C " está correta. A degeneração hidrópica é uma lesão celular reversível, conhecida também como tumefação celular, onde há o acúmulo de água e eletrólitos no interior das células. Esse é a primeira manifestação em quase todas as formas de agressão às células, que leva a um aumento de tamanho e volume do órgão, mas o aspecto macroscópico varia de acordo com a intensidade da lesão. MÓDULO 3 Descrever as etapas de progressão da lesão celular e os princípios da morte celular por apoptose e necrose RESPOSTA CELULAR AO ESTÍMULO/AGRESSÃO: ADAPTAÇÃO, LESÃO REVERSÍVEL E LESÃO IRREVERSÍVEL Nosso organismo é uma orquestra perfeita que necessita que cada componente esteja ajustado para que seu funcionamento ocorra de maneira correta. Nesse sentido, a homeostase caracteriza-se pela habilidade do nosso corpo em manter um equilíbrio fisiológico interno quase sempre constante, independente das alterações que possam ocorrer no meio externo. As adaptações são respostas celulares a alterações fisiológicas, como a gestação, ou a alguns estímulos patológicos. Com isso, um novo estado de equilíbrio fisiológico é alcançado, permitindo a sobrevivência e atividade funcional celular. As adaptações englobam alterações reversíveis no tamanho, número, fenótipo, atividade ou funções celulares. Quando o estímulo cessa, a célula pode retornar ao seu estado original. Imagem: Shutterstock.com. Hipertrofia: refere-se ao aumento do tamanho das células e, consequentemente, ao aumento do tamanho do órgão afetado. Está diretamente relacionada ao aumento na produção de proteínas celulares. Pode ser fisiológica ou patológica, causada pelo aumento da demanda funcional (aumento dos músculos devido a exercícios físicos intensos) ou por estimulação de hormônios e fatores de crescimento (crescimento do útero na gestação, induzido por hormônios). Imagem: Shutterstock.com.Hiperplasia: refere-se ao aumento no número de células em um órgão ou tecido, frente a um determinado estímulo (fisiológico ou patológico). O que ocorre é a proliferação de células maduras, induzida por fatores de crescimento. Em alguns casos, o aumento pode ser resultado do surgimento de novas células a partir de células-tronco teciduais. Um exemplo de hiperplasia fisiológica ocorre na puberdade feminina e na gravidez, onde há proliferação do epitélio glandular mamário. Já a hiperplasia patológica pode ser exemplificada pela hiperplasia endometrial, induzida por desequilíbrios hormonais. Imagem: Shutterstock.com. Atrofia: refere-se à redução do tamanho e número de células, que acarreta a redução do tamanho de um órgão ou tecido. Ao contrário da hipertrofia, a atrofia é resultado da diminuição da síntese proteica e do aumento da degradação de proteínas celulares. A atrofia fisiológica pode ser identificada no desenvolvimento fetal, no qual algumas estruturas embrionárias (como a notocorda) se atrofiam. A atrofia patológica pode ser causada, por exemplo, pelo desuso, perda de inervação, diminuição do suprimento sanguíneo, compressão e nutrição inadequada. Imagem: Shutterstock.com. Metaplasia: refere-se à substituição de um tipo celular diferenciado (epitelial ou mesenquimal) por outro de mesma linhagem, frequentemente em resposta à irritação crônica. Com isso, as células tornam-se mais capazes de resistir ao estímulo. Normalmente, é induzida por alterações na via de diferenciação das células-tronco teciduais e pode resultar na redução de função ou aumento da probabilidade para a transformação maligna. Um exemplo comum de metaplasia é a substituição do epitélio colunar para epitélio escamoso, que ocorre no trato respiratório em resposta a agressões crônicas, como o cigarro. ATENÇÃO Embora hiperplasia e hipertrofia sejam processos distintos, frequentemente ocorrem juntas e podem ser induzidas pelos mesmos estímulos. Imagem: Shutterstock.com. Hiperplasia x hipertrofia. Caso os limites das respostas adaptativas sejam excedidos, ou haja o comprometimento de nutrientes e componentes celulares, ocorre uma série de eventos que caracterizam a lesão celular. A lesão é reversível até determinado ponto, mas caso o estímulo persista ou seja intenso o suficiente desde o início, a lesão celular é irreversível e ocorre morte celular. Dessa forma, a resposta adaptativa, lesão reversível, lesão irreversível e morte celular podem ser etapas de um dano progressivo. Imagem: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.80. Etapas da resposta celular ao estresse e estímulos lesivos. Nos estágios iniciais ou nas lesões leves, as alterações celulares podem ser revertidas caso o estímulo nocivo seja removido. As principais características da lesão reversível são: tumefação celular generalizada, por causa das alterações de concentração de íons e influxo de água; formação de bolhas na membrana plasmática; “descolamento” dos ribossomos do retículo endoplasmático e agregação da cromatina nuclear. Soma-se às alterações morfológicas a redução do armazenamento de energia na forma de ATP, por causa da redução da fosforilação oxidativa. Como já comentamos, até certo ponto, a célula ainda consegue reparar os danos. Porém, uma vez que a célula ultrapassa o ponto de “não retorno”, que ainda é debatido, a lesão evolui para irreversibilidade e morte celular. A morte celular representa um dos mais importantes eventos na evolução de qualquer doença, em qualquer tecido ou órgão. SAIBA MAIS A morte celular também faz parte de processos fisiológicos, como a embriogênese, desenvolvimento de órgãos e manutenção da homeostase. A partir de agora, nós falaremos sobre as duas principais vias de morte celular: a necrose e a apoptose. NECROSE: MORFOLOGIA E TIPOS A morte celular que ocorre em um organismo vivo, seguida de um processo de autólise, é denominada necrose. Ela ocorre quando a agressão é suficiente para interromper as funções vitais celulares. Nesse caso, há extravasamento de hidrolases lisossomais para o citoplasma e, nesse local, são ativadas pela alta concentração de íons cálcio e iniciam a autólise. As hidrolases são capazes de digerir todos os substratos celulares: as proteases digerem proteínas, lipases digerem lipídeos, ribonucleases digerem ácido ribonucleico, por exemplo. Além disso, no processo de necrose são liberadas moléculas chamadas de alarminas (uratos, fosfatos, por exemplo), que são reconhecidas por receptores celulares e induzem a inflamação. As principais características microscópicas da necrose, quando observados os cortes histológicos são: ALTERAÇÕES NUCLEARES: Podem se apresentar sob três aspectos: intensa condensação e contração da cromatina, tornando o núcleo intensamente basófilo e bem menor que o normal (picnose nuclear); digestão da cromatina, que acarreta na indistinção dos núcleos na coloração histológica (cariólise) e fragmentação e dispersão do núcleo no citoplasma (cariorrexe). Todos esses aspectos resultam da diminuição excessiva do pH celular, que condensa a cromatina, e da ação das desoxirribonucleases e outras proteases que digerem a cromatina e destroem a membrana nuclear. Foto: Shutterstock.com. Indistinção dos núcleos em (cariólise) em corte histológico de miocárdio infartado. ALTERAÇÕES CITOPLASMÁTICAS: Com o desacoplamento de ribossomos e desnaturação proteica, há o aumento da acidofilia que é evidenciado pelo aspecto eosinofílico ao microscópio de campo claro. Com a evolução da necrose, o citoplasma apresenta um aspecto granuloso e a célula morta pode ser visualizada como uma massa amorfa espiralada (originada pelas membranas danificadas), as chamadas figuras de mielina. Na microscopia eletrônica, ainda poderemos notar a descontinuidade das membranas celulares, dilatação anormal de mitocôndrias, figuras de mielina citoplasmáticas e proteínas desnaturadas. Imagem: Gabriela Cardoso Caldas. Alterações celulares na necrose. Agora que entendemos as características da necrose de uma forma geral, vamos comentar sobre os principais tipos e suas causas: NECROSE COAGULATIVA Uma vez que sua causa mais frequente é a isquemia, também pode ser chamada de necrose isquêmica. Na macroscopia, a área necrótica é esbranquiçada e protuberante, geralmente circundada por um halo vermelho (que reflete a hiperemia (Aumento da irrigação sanguínea.) compensatória). Microscopicamente, podemos observar cariólise, citoplasma com aspecto de substância coagulada (acidófico e gelificado). Com a progressão, perde-se toda a arquitetura tecidual. null Foto/Imagem: Nobumasa Ohara, Yasuyuki Uemura, Naomi Mezaki, Keita Kimura, Masanori Kaneko, Hirohiko Kuwano, Katsuya Ebe, Toshio Fujita, Takeshi Komeyama, Hiroyuki Usuda, Yuto Yamazaki, Takashi Maekawa, Hironobu Sasano, Kenzo Kaneko & Kyuzi Kamoi/ wikimedia Commons/ CC BY 4.0. Macroscopia e microscopia de uma área com necrose coagulativa (setas brancas). NECROSE LIQUEFATIVA Caracterizada pela digestão das células mortas, devido à grande quantidade de enzimas lisossomais liberada. A região necrosada apresenta consistência mole ou liquefeita. É comum após a anóxia (Ausência de oxigênio.) do tecido nervoso e da suprarrenal, sendo observada também em infecções bacterianas e fúngicas focais. As bactérias estimulam a migração de leucócitos e liberação de suas enzimas lisossômicas. O resultado é uma área necrótica amarelo cremosa, que chamamos de pus. null Foto: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.98. Área de necrose liquefativa no cérebro. NECROSE CASEOSA Caseoso significa semelhante a queijo e denomina a aparência da área necrótica, que é fria e esbranquiçada. Comum na tuberculose, a necrose caseosa apresenta uma área de células rompidas ou fragmentadas e restos granulares amorfos formando uma massa homogênea. A aparência é característica do granuloma, que ainda apresenta borda inflamatória. null Foto:Yale Rosen/ wikimedia Commons/ CC BY-SA 2.0. Rim de paciente com tuberculose apresentando necrose caseaosa. SAIBA MAIS A gangrena é uma forma de evolução da necrose, resultado da ação de agentes externos sobre a área necrosada. A desidratação da região, especialmente em contato com o ar, origina a gangrena seca. A gangrena úmida é causada pela invasão de microrganismos anaeróbios na área necrosada, produzindo enzimas que liquefazem o tecido morto e produzem gases de odor fétido. Já a gangrena gasosa é secundária à contaminação por bactérias do gênero Clostridium , que produzem enzimas proteolíticas e grande quantidade de gás, formando bolhas. APOPTOSE: CAUSAS, FUNÇÕES, MECANISMOS E MORFOLOGIA A apoptose é uma via de morte celular na qual a célula é estimulada a acionar mecanismos, rigorosamente controlados, que culminam na sua morte. Ao contrário do que vimos na necrose, na apoptose não há autólise e nem descontinuidade da membrana: a célula é fragmentada, seus fragmentos são envolvidos pela membrana citoplasmática formando os corpos apoptóticos e finalmente são endocitados por células vizinhas, sem induzir um processo inflamatório. Imagem: Shutterstock.com. Apoptose e formação dos corpos apoptóticos. CAUSAS E FUNÇÕES A apoptose ocorre em processos fisiológicos e patológicos. PROCESSOS FISIOLÓGICOS: Na Fisiologia, a apoptose é um fenômeno normal que objetiva eliminar as células que não são mais necessárias, além de participar do controle de proliferação celular nos tecidos. São exemplos de situações fisiológicas em que há a participação da apoptose: remodelamento de tecidos durante a embriogênese, período pós-natal e pós-lactação, morte de leucócitos depois do processo inflamatório e eliminação de linfócitos autorreativos. PROCESSOS PATOLÓGICOS: Já em condições patológicas, a apoptose é desencadeada por inúmeras causas, como infecções virais; hipóxia, radiação ionizante e substâncias químicas, que podem causar danos irreversíveis ao DNA e pela ação de radicais livres, que além de afetarem o material genético celular, podem levar ao acúmulo de proteínas mal dobradas. MECANISMOS Qualquer que seja sua causa, a apoptose resulta da ativação sequencial de enzimas chamadas caspases, responsáveis pelas alterações morfológicas que comentaremos mais adiante. As caspases existem como proenzimas inativas e precisam sofrer clivagem enzimática para se tornarem ativas. A ativação depende de um equilíbrio fino entre a produção de proteínas pró-apoptóticas e anti-apoptóticas. Portanto, a presença de caspases clivadas constitui um marcador importante da apoptose. CASPASES São proteases que possuem cisteína no sítio ativo e clivam proteínas em sítios com resíduos de aspartato. Foto: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.118. Principais vias da apoptose: a mitocondrial (intrínseca) e do receptor de morte (extrínseca). javascript:void(0) O processo de apoptose pode ser resumido em uma fase de iniciação, na qual as caspases iniciadoras se tornam ativas, e fase de execução, na qual inicia-se a degradação de componentes celulares críticos pelas caspases executoras. A ativação de caspases, evento- chave da apoptose, pode ocorrer por duas vias distintas: Via intrínseca ou mitocondrial: é a principal via de apoptose nas células de mamíferos. Ocorre pelo aumento da permeabilidade da membrana externa mitocondrial. Com isso, há a liberação de proteínas pró-apoptóticas (como o citocromo C, endonuclease G e fator indutor de apoptose - AIF) que estão presentes no espaço intermembranar, para o citosol, culminando na ativação das caspases. A liberação dessas moléculas é rigidamente controlada pela família de proteínas Bcl-2, que inclui proteínas com funções anti-apoptóticas (Bcl-2 e Bcl-XL) e pró- apoptóticas (conhecidas como proteínas BAX). Imagem: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.120. Esquema ilustrativo da via intrínseca da apoptose. Quando as células são privadas de sinais de sobrevivência, têm seu DNA danificado ou possuem acúmulo de proteínas mal dobradas, provocando estresse do retículo endoplasmático, proteínas sensores percebem a lesão e são ativadas. Esses sensores ativam mecanismos que permitem que o citocromo C e outras proteínas mitocondriais saiam do espaço intermembranar e vão para o citoplasma, iniciando a cascata de ativação das caspases. Como o processo é finamente controlado, é importante comentarmos que existem proteínas mitocondriais que impedem a saída das proteínas pró-apoptóticas pela membrana, como a Bcl-2 e outras proteínas que funcionam como inibidores fisiológicos da apoptose (IAP), impedindo a ativação das caspases. VIA EXTRÍNSECA (POR RECEPTOR DE MORTE) Iniciada pela ativação de receptores de morte presentes na membrana plasmática de diversos tipos celulares. Os receptores de morte mais bem conhecidos são o receptor TNF tipo 1 e a proteína Fas. Eles possuem um domínio citoplasmático que é essencial para a entrega de sinais apoptóticos (domínio de morte). O mecanismo de apoptose por essa via é bem ilustrado com a interação de Fas e seu ligante (FasL). O FasL é expresso em células T que reconhecem autoantígenos e alguns linfócitos T citotóxicos que eliminam células tumorais e células infectadas por vírus. Quando o FasL se liga ao Fas, há a exposição de domínios de morte que recrutam proteínas adaptadoras (FADD – domínio de morte associado a Fas), formando uma base molecular ativadora de caspases. A via extrínseca pode ser inibida pela proteína FLIP, que se liga à primeira pró-caspase da via (pró-caspase 8) e a neutraliza. Imagem: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.122. A via extrínseca da apoptose ilustrada pelos eventos seguintes à ligação do Fas-FasL. As duas vias culminam na ativação de uma caspase iniciadora, que ativa o programa sequencial de caspases executoras, que atuam em diversos componentes celulares, fragmentando a célula nos chamados corpos apoptóticos. Com isso, há a promoção ativa da fagocitose, de tal modo que os resíduos celulares são removidos antes de sofrer necrose e iniciar um processo inflamatório. MORFOLOGIA As células apoptóticas apresentam algumas características morfológicas importantes: Retração celular:A célula apresenta tamanho menor, citoplasma denso e compactação de organelas. É importante lembrar que a característica inicial de outras formas de lesão celular é a tumefação, e não a retração. Condensação da cromatina: é o aspecto morfológico mais marcante da apoptose. A cromatina se agrega na periferia, sob a membrana nuclear, formando massas densas de diversos formatos e tamanhos. O núcleo se rompe, produzindo dois ou mais fragmentos. Formação de bolhas citoplasmáticas e corpos apoptóticos: primeiramente, ocorre a formação de bolhas superficiais extensas, com posterior fragmentação celular em corpos apoptóticos envoltos por membrana, compostos de restos de citoplasma, organelas e possivelmente fragmentos nucleares. Acredita-se que as membranas celulares permaneçam intactas até os estágios finais do processo apoptótico, quando se tornam permeáveis. Na histologia (e coloração por hematoxilina e eosina), as células apoptóticas aparecem como massas ovais ou redondas de citoplasma intensamente eosinófilo com fragmentos de cromatina nuclear condensada. Além disso, como o processo é rápido, a apoptose precisa ser extensa para que se torne evidente nos cortes histológicos. A ausência de inflamação também dificulta a identificação microscópica. Foto: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.117. Apoptose de uma célula epidérmica. Note redução de tamanho, citoplasma eosinófilo brilhante e um núcleo condensado. OUTROS TIPOS DE MORTE CELULAR. Este vídeo apresenta outras formas de morte celular, além dos processos de necrose e apoptose. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM TÉCNICO DE NECROPSIA QUE ANALISOU O RIM DE UM PACIENTE COM TUBERCULOSE CONSTATOU AAPARÊNCIA ESBRANQUIÇADA DO ÓRGÃO. A LÂMINA HISTOLÓGICA FOI ENVIADA A UM MÉDICO PATOLOGISTA, QUE IDENTIFICOU ÁREAS DE CÉLULAS ROMPIDAS, FRAGMENTADAS, COM RESTOS GRANULARES AMORFOS FORMANDO UMA MASSA HOMOGÊNEA. A PARTIR DESSES DADOS, QUAL É O MELHOR DIAGNÓSTICO? A) Necrose gangrenosa B) Necrose de coagulação C) Necrose liquefativa D) Necrose caseosa E) Necrose fibrinoide 2. A APOPTOSE É UMA VIA DE MORTE CELULAR RIGIDAMENTE CONTROLADA NA QUAL A CÉLULA É ESTIMULADA A ACIONAR MECANISMOS QUE RESULTAM NA SUA MORTE. ABAIXO, SÃO LISTADAS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE APOPTOSE. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CONTÉM UMA CARACTERÍSTICA QUE NÃO CORRESPONDE À APOPTOSE: A) Formação de corpos apoptóticos B) Indução da inflamação C) Ativação de caspases D) Citoplasma acidófilo E) Retração celular GABARITO 1. Um técnico de necropsia que analisou o rim de um paciente com tuberculose constatou a aparência esbranquiçada do órgão. A lâmina histológica foi enviada a um médico patologista, que identificou áreas de células rompidas, fragmentadas, com restos granulares amorfos formando uma massa homogênea. A partir desses dados, qual é o melhor diagnóstico? A alternativa "D " está correta. A necrose caseosa é o tipo de necrose mais frequente em focos de infecção tuberculosa. A área do órgão acometido possui aparência esbranquiçada. Na microscopia, é possível notar uma coleção de células rompidas ou fragmentadas e restos granulares amorfos delimitados por uma borda inflamatória distinta. 2. A apoptose é uma via de morte celular rigidamente controlada na qual a célula é estimulada a acionar mecanismos que resultam na sua morte. Abaixo, são listadas características do processo de apoptose. Assinale a alternativa que contém uma característica que não corresponde à apoptose: A alternativa "B " está correta. Com a fragmentação celular em corpos apoptóticos, há o estímulo ativo para a fagocitose, de tal modo que os resíduos celulares são removidos antes de sofrer necrose e iniciar um processo inflamatório. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim de uma jornada repleta de aprendizados. Nela, nós debatemos sobre a complexidade do processo saúde-doença e entendemos os conceitos de agressão, defesa, adaptação e lesão, iniciais e fundamentais para o estudo da Patologia. Aprofundamos nossos conhecimentos em lesão reversível, identificando os principais tipos de degeneração celular, suas causas e características morfológicas. Porém, também vimos que, caso a agressão persista ou atinja componentes celulares fundamentais, temos a progressão para a morte celular. Nesse contexto, identificamos os mecanismos e aspectos morfológicos da necrose e apoptose. Todos esses conceitos e processos são fundamentais para a formação do profissional da Saúde, sendo aplicáveis em todos os estudos posteriores, na pesquisa e na clínica. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALBERTS, B. et al . Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. BOGLIOLO, B. F. Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2016. KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. C. Robbins & Cotran Patologia ‒ Bases Patológicas das Doenças. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2016. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, assista ao vídeo: “Necrose ‒ Morte celular”, do canal BioAulas. Leia também: O artigo História do conceito de saúde, de Moacyr Scliar (2007). O artigo Morte celular por apoptose, de Ivana Grivicich e colaboradores (2007). CONTEUDISTA Gabriela Cardoso Caldas CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO Conceitos gerais de distúrbios pigmentares endógenos e exógenos e seus aspectos patológicos; Conceitos de calcificação e aspectos clínicos. PROPÓSITO Compreender os processos que levam aos diferentes distúrbios de pigmentação endógena e exógena nos seres humanos, seus principais aspectos histopatológicos e clínicos. Apresentar os princípios gerais da calcificação, suas características, formas mais importantes e como ela impacta no organismo. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar as propriedades gerais dos pigmentos endógenos e patologias relacionadas MÓDULO 2 Reconhecer as principais características dos distúrbios de pigmentação exógena MÓDULO 3 Descrever o conceito de calcificação patológica, seus aspectos gerais e clínicos INTRODUÇÃO Pigmento (do latim pigmentum ) é o nome dado às substâncias químicas que possuem uma coloração própria. Essas substâncias são encontradas facilmente na natureza, como a clorofila, que dá a coloração esverdeada às plantas, a hemoglobina, presente nos eritrócitos circulantes no sangue, e a melanina, presente na pele. No nosso organismo, os pigmentos apresentam-se no formato de grânulos e podem ter origem endógena ou exógena. O acúmulo normal ou patológico dessas substâncias de forma local ou disseminada é chamado de pigmentação, e pode indicar a causa ou efeito de uma alteração fisiológica. Além dos pigmentos, podemos também acumular nos tecidos moles (artérias, cartilagens, válvulas cardíacas etc.) sais de cálcio, tornando-os mais rígidos, em um processo conhecido como calcificação patológica. Dessa forma, ao longo deste conteúdo, exploraremos os principais distúrbios de pigmentação, suas origens, características gerais e alterações que essas substâncias causam no nosso organismo. Também entenderemos como as calcificações são formadas, os tipos e os principais locais de sua ocorrência. javascript:void(0) javascript:void(0) Por fim, discutiremos as características dos cálculos, um caso à parte da calcificação, e compreenderemos os possíveis efeitos secundários no organismo. ENDÓGENA Produzidos pelo próprio organismo. EXÓGENA De origem externa e introduzidos por diferentes vias de administração. MÓDULO 1 Identificar as propriedades gerais dos pigmentos endógenos e patologias relacionadas PIGMENTOS ENDÓGENOS Os pigmentos endógenos são aqueles produzidos pelo nosso organismo. Nesse contexto, destacam-se a hemoglobina e a melanina, substâncias que apresentam uma enorme importância fisiológica. Qualquer alteração na produção (hipo ou hiperprodução) ou na distribuição dessas substâncias leva a um acúmulo nos tecidos. Os pigmentos endógenos são divididos em pigmentos hemoglobinógenos ou hemáticos e pigmentos melânicos. Indicam a existência de algum dano ou patologia. Além desses pigmentos, os pigmentos derivados de lipídios representam um importante marcador de lesão por radicais livres. PIGMENTOS RELACIONADOS À MELANINA A melanina, principal pigmento biológico, é responsável pela pigmentação cutânea e diferenças na coloração da pele. Ela apresenta uma coloração que varia do marrom ao preto e é produzida pelos melanócitos. Tem como principal função a proteção da pele contra a radiação ultravioleta (UV). As propriedades de fotoproteção da melanina ocorrem pela absorção e dispersão da luz UV e visível. MELANÓCITOS Células presentes na epiderme e na matriz dos folículos pilosos. A síntese de melanina ocorre no interior dos melanossomos, organelas elípticas, altamente especializadas, a partir do aminoácido essencial tirosina, pela ação do complexo enzimático tirosidase. Na presença de oxigênio molecular, a tirosina é oxidada a dopamina (dioxifenilalanina) e, em seguida, em dopaquinona. A partir desse momento, a presença ou ausência de cisteína (glutationa) determina o rumo da síntese em eumelanina ou feomelanina . Na presença de cisteína, a feomelanina é produzida, e consiste em um pigmento alcalino, solúvel e amarelado com função antioxidante. javascript:void(0) A eumelanina , produzida na ausência de glutationa, apresenta cor marrom a preta, com ação antioxidante e fotoprotetora. Além disso, primeiro é formada a feomelanina e, por último, a eumelanina . A melanina total da pele resulta de uma mistura desses dois pigmentos. Lâmina basal da epiderme e matriz de um pelo com melanócitos ricos em grânulos de melanina (em marrom). Ao final do processo, os melanossomosrepletos de pigmentos são transferidos para os queratinócitos (células presentes na epiderme com função de produção de queratina, que age como uma barreira protetora da pele) e se distribuem no citoplasma acima do núcleo da célula, protegendo o núcleo dos efeitos nocivos dos raios ultravioletas. Produção de melanina por melanócitos, na pele com e sem exposição aos raios ultravioletas. SAIBA MAIS Indivíduos com uma maior concentração de eumelanina são mais pigmentados, e indivíduos com mais feomelanina são menos pigmentados e mais suscetíveis aos efeitos dos raios UV. Além disso, a diferença fenotípica fundamental entre as raças não reside na produção de melanina ou no número de melanócitos, mas, principalmente, na qualidade de seus melanossomas. Os distúrbios pigmentares relacionados à melanina podem acontecer devido ao seu aumento ou diminuição, de maneira localizada ou generalizada. DISTÚRBIOS DE AUMENTO DE MELANINA DE FORMA LOCALIZADA Nevo melanócito congênito. Nevos melanocíticos Nevos melanocíticos são neoplasias de natureza benigna que se apresentam como pequenas lesões (normalmente menores que 6 mm) bem delineadas, de coloração mais javascript:void(0) escura que o restante da pele, e podem ser ásperas, planas, achatadas ou na forma de pápulas elevadas. A maioria surge em decorrência de alterações genéticas e da exposição solar, mas podem ser congênitos, ou seja, presentes desde o nascimento ou que se desenvolvem durante a infância a partir de células névicas preexistentes. É importante destacar que congênito não quer dizer hereditário. NEVOS É o termo médico que descreve uma lesão na pele popularmente conhecida como mancha, pinta ou sinal. Falamos em neoplasias, você sabe o que é? RESPOSTA Neoplasia é uma massa de tecido anormal originado pela multiplicação excessiva e descontrolada de células, que persiste mesmo depois da retirada do estímulo que originou essas alterações. As neoplasias podem ser: BENIGNAS MALIGNAS BENIGNAS Massa de células bem diferenciadas parecidas com o tecido de origem, coesa, bem delimitada, com crescimento progressivo e que não apresenta capacidade invasiva e infiltrativa. MALIGNAS São chamadas de cânceres. Massa de células com contornos irregulares, invasiva e infiltrativa. De crescimento rápido, são células normalmente indiferenciadas e com possibilidade de metástases para outros órgãos. ETAPA 03 txt METÁSTASES Metástase é o nome do processo no qual células de um tumor primário migram pela circulação sanguínea ou linfática, gerando uma nova lesão tumoral. Lipoma, tipo de neoplasia benigna formada por adipócitos. Os nevos melanocíticos são classificados histopatologicamente em relação às células névicas, o epitélio de superfície e o tecido conjuntivo subjacente. Há diversos subtipos de nevos e a classificação depende da localização das células névicas. Um exemplo são os nevos intradérmicos, que são formados por células névicas que se diferenciam em tamanho e podem conter ou não grande quantidade de melanina. Essas células se agrupam em ninhos ao longo da parte superior da derme. javascript:void(0) Nevo intradérmico sem e com hiperpigmentação. Quando o nevo se inicia na junção entre a derme e a epiderme são chamados de nevos juncionais. As células dos nevos juncionais costumam exibir pouca ou nenhuma atividade mitótica. MITÓTICA Atividade mitótica se refere à capacidade da célula de se dividir gerando duas células-filhas idênticas. Conforme os nevos juncionais crescem, eles podem se infiltrar cada vez mais na derme e passam a se chamar nevos compostos, já que exibem características de nevos intradérmicos e juncionais. Clinicamente, é difícil distinguir se o nevo é intradérmico ou composto, já que ambos são lesões elevadas, diferentemente dos nevos juncionais, que se apresentam como lesões planas hiperpigmentadas. javascript:void(0) Corte histológico da pele e a pele, mostrando um nevo juncional. Corte histológico da pele e pele com presença de nevos compostos. Esta imagem indica a localização dos nevos juncionais, compostos e intradérmicos na pele. SAIBA MAIS Além dessas classificações, temos também o nevo intramucoso, tipo mais comum na boca, com acúmulo de células névicas no tecido conjuntivo, e o nevo azul, que apresenta as células com um formato fusiforme, localizado no tecido conjuntivo, de coloração azul. MELANOMAS Os melanomas são neoplasias malignas que afetam a mucosa oral, esôfago, meninges, olhos, e especialmente a pele. Quando detectado em seus estágios iniciais, o melanoma pode ser tratado e curado cirurgicamente. A exposição excessiva à radiação UV é o principal fator de risco para o desenvolvimento do melanoma por seu potencial de causar danos ao DNA. Dessa maneira, indivíduos de pele clara têm maior suscetibilidade à doença, já que possuem menor quantidade de melanina protegendo a pele dos raios UV. Alterações gênicas que interferem no ciclo celular também estão relacionadas ao desenvolvimento dos melanomas: O gene CDKN2A ‒ inibidor de quinase dependente de ciclina ‒ codifica proteínas que agem como supressores tumorais, ou seja, proteínas que regulam o ciclo celular e induzem a apoptose, impedindo a proliferação excessiva da célula. Assim, mutações nesses genes estão associadas à proliferação descontrolada dos melanócitos. Mutações que ativam os genes BRAF e NRAS, que são importantes na progressão do tumor, pois aumentam a sinalização de vias relacionadas ao crescimento e sobrevida celular. Mutação no gene TERT, que ativa a telomerase, enzima que preserva os telômeros e interrompe o envelhecimento das células. Esse gene está mutado em 70% dos melanomas. QUINASE Quinases são enzimas que realizam a fosforilação (transferência de grupos fosfato) de proteínas-alvo ativando ou inibindo-as. Na presença de ciclinas (proteínas reguladoras do ciclo celular), as quinases dependentes de ciclina são ativadas e passam a exercer papel funcional dentro da célula. Você sabe o que é telômero e qual sua relação com o envelhecimento? RESPOSTA Os telômeros são sequências repetidas de DNA, localizadas na extremidade dos cromossomos, que têm como função auxiliar: A replicação dos cromossomos; Contribuir na organização funcional cromossômica no interior do núcleo; Participar na regulação da expressão genética; Controlar a capacidade replicativa de células humanas e a entrada destas em senescência celular. No entanto, durante a replicação celular, ocorre perda progressiva dos telômeros pelo encurtamento, o que diminui a capacidade replicativa e leva ao envelhecimento celular. É importante destacar que a telomerase é uma enzima que estende os telômeros dos cromossomos, revertendo seu encurtamento. Essa enzima é ativa nas células germinativas e javascript:void(0) javascript:void(0) em várias células cancerígenas. Lesão característica de melanoma. O melanoma é mais frequente em homens, surgindo principalmente no dorso (cabeça e pescoço), enquanto, nas mulheres, costuma estar localizado predominantemente nas pernas, sendo menos invasivo. Durante o crescimento radial, o melanoma é chamado de melanoma in situ , e aparece clinicamente como lesões assimétricas, com borda irregular, coloração variável (ao contrário dos nevos, que possuem pigmentação igual por toda a lesão), diâmetro maior do que 6 milímetros e evolução com mudança no tamanho, formato e cor da lesão. CRESCIMENTO RADIAL Crescimento horizontal da lesão na epiderme e na derme. Esses fatores constituem os sinais de alerta ABCDE do melanoma: javascript:void(0) Sinais de alerta do melanoma. Com a progressão, o melanoma passa para a fase de crescimento vertical, com infiltração das camadas mais profundas da derme, sendo chamado de melanoma infiltrativo. Nessa fase, pode-se observar a presença de nódulos, e o tumor passa a ter capacidade de gerar metástase. As células do melanoma, quando vistas ao microscópio, são maiores do que os melanócitos normais e apresentamnúcleo com contorno irregular. Biópsia de pele normal (esquerda) e com melanoma (direita). A partir da biópsia, principal método de diagnóstico do melanoma, são analisadas algumas características celulares e teciduais, como a profundidade de infiltração do tumor, taxa de mitose, infiltrado de linfócitos e ulceração, sendo esses os principais indicadores de prognóstico do melanoma. Também é a partir desses indicadores que o melanoma é classificado em estágios de gravidade. Os estágios do melanoma vão de 0 (melanoma in situ ) até 4, que é o grau mais grave, também chamado de melanoma metastático. ESTÁGIO 0 ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3 E 4 ACANTOSE NIGRICANS Na acantose nigricans , manchas hiperpigmentadas de textura aveludada são visíveis na pele, principalmente nas regiões das axilas, dobras do pescoço e virilha. Pode ser benigna ou maligna. Acantose nigricans nas dobras do pescoço. A forma benigna se desenvolve em geral na infância ou puberdade, associadas à obesidade e doenças endócrinas como a diabetes. A forma maligna ocorre em especial em indivíduos com mais de 50 anos, estimulada pela presença de fatores de crescimento associados a neoplasias malignas, principalmente neoplasias gastrointestinais. Cerca de 80% dos casos de acantose nigricans são de natureza benigna. Histologicamente, tanto na forma benigna quanto na maligna são observadas ondulações da epiderme, com aumento no número de células, pigmentos e queratina na camada mais superficial da epiderme. OCRONOSE é uma doença genética metabólica rara, causada por mutações no gene, que codifica a enzima que degrada o ácido homogentísico, um pigmento castanho-avermelhado ou amarelo no formato de grânulos. Com isso, o pigmento se acumula no plasma sanguíneo, na pele, tecido conjuntivo, cartilagens e na urina, que passa por oxidação quando exposta ao ar e forma polímeros parecidos com o pigmento de melanina, o que torna a urina escurecida. O escurecimento da urina é chamado de alcaptonúria, e é o principal sinal clínico precoce dessa doença. O acúmulo do pigmento nas cartilagens faz com que seja possível vermos uma javascript:void(0) coloração preto-azulada. Ocronose. ÁCIDO HOMOGENTÍSICO Um intermediário do metabolismo de tirosina, produto precursor de melanina. DISTÚRBIOS DE AUMENTO DE MELANINA DE FORMA GENERALIZADA Os principais distúrbios são as melanodermias secundárias, caracterizadas pelo aumento do pigmento de melanina na pele devido ao aumento na atividade dos melanócitos, resultado de uma condição preexistente, como é o caso da gravidez, do hipoadrenalismo e por efeito das radiações. HIPOADRENALISMO javascript:void(0) Redução na função da glândula adrenal (presente na parte superior dos rins), resultando na diminuição dos hormônios produzidos por ela. Histologicamente, é possível verificar um aumento na presença de melanina nos queratinócitos por toda a epiderme e aumento no número de melanossomas. Essas alterações levam à formação de manchas agrupadas ou dispersas, com coloração castanho-clara a escura, e bordas irregulares. Essas manchas podem ser chamadas também de cloasmas ou melasmas, e são mais comuns em áreas da pele com maior exposição solar e em mulheres, por ação de fatores hormonais, principalmente na gravidez, que apresenta uma maior alteração nos níveis de hormônios. Pele com melasmas. VOCÊ SABIA As manchas são chamadas de cloasmas gravídicos quando acometem mulheres durante ou logo após o fim da gestação. As manchas presentes somente na face são chamadas de melasmas. E, quando acometem outra região que não a face, são chamadas de melanodermias. Você já deve ter ouvido falar em vitiligo e albinismo. Essas condições, diferentes das que já estudamos até aqui, são distúrbios de pigmentação causadas pela diminuição ou ausência de melanina. VITILIGO Pele com vitiligo. O vitiligo é um dos quadros de acromia adquirida mais conhecidos. Embora a patogênese dessa condição não seja muito bem compreendida, sabe-se que ela acontece pela diminuição progressiva ou ausência dos melanócitos no local, sendo essa a principal característica histológica. Com isso, a produção de melanina fica comprometida. Na pele de um indivíduo com vitiligo, podemos observar a presença de manchas simétricas, irregulares, de cor branca (pela falta de melanina), com hipercromia ao redor das áreas afetadas. O vitiligo é classificado como uma condição multifatorial, e algumas teorias para a ausência dos melanócitos são a destruição das células por estresse oxidativo, autoimunidade e autodestruição dos melanócitos. O vitiligo de origem genética (familiar) representa cerca de 20% dos casos. ACROMIA javascript:void(0) javascript:void(0) Termo dado à ausência de formação do pigmento melanina na epiderme. HIPERCROMIA Pigmentação excessiva causada pela produção exagerada de melanina. ALBINISMO O albinismo é uma doença genética que afeta 1 a cada 20 mil pessoas. O indivíduo com albinismo pode ter um quadro de acromia parcial, quando envolve ausência de pigmentação somente na retina, condição conhecida como albinismo ocular (AO), ou acromia generalizada, quando afeta a pele, cabelos e olhos no albinismo oculocutâneo (AOC). O AOC é uma condição de caráter autossômico recessivo que envolve mutações em genes relacionados à tirosinase, que resulta na coloração branca da pele e nos cabelos devido à ausência de pigmentação. Os indivíduos que sofrem de albinismo devem evitar ao máximo a exposição solar, pois são deficientes na principal forma orgânica de proteção contra os raios UV, que é feita pela melanina. javascript:void(0) Criança com albinismo oculocutâneo. AUTOSSÔMICO RECESSIVO Ao herdar genes de dois alelos anormais dos pais. A acromia cicatricial acontece após um processo inflamatório local. Os mediadores gerados durante a inflamação são capazes de estimular os melanócitos a aumentarem a produção de melanina. Ao fim do processo inflamatório, em alguns casos, os melanócitos ficam em estado de esgotamento pelo estímulo e atividade exagerada. Sendo assim, eles perdem sua função, gerando a acromia no local da cicatrização. VOCÊ SABIA Acromotriquia é o nome dado ao processo de perda de pigmentação dos cabelos resultante do envelhecimento. Com o passar dos anos, os melanócitos vão perdendo sua funcionalidade e diminuindo sua atividade. Esse processo tem como consequência a redução na quantidade de pigmentos de melanina produzidos, o que faz com que os cabelos apresentem uma cor branca pela ausência de pigmentos. PIGMENTOS RELACIONADOS À LIPOFUSCINA (LIPOCROMO OU PIGMENTO DE DESGASTE) A lipofuscina é um pigmento endógeno insolúvel derivado da peroxidação de lipídios, que atua como um sinalizador da degradação de lipídios de membranas celulares. As moléculas geradas se agrupam formando moléculas maiores num processo chamado polimerização, o que as torna insolúveis e dificulta sua metabolização. javascript:void(0) Esse pigmento é formado basicamente por polímeros de lipídios e fosfolipídios, e é encontrado na forma de grânulos castanho-amarelados ou marrons no citoplasma das células. A presença de lipofuscina está relacionada principalmente às lesões celulares causadas no processo de estresse oxidativo quando há aumento de radicais livres, e durante o processo de autofagia, para eliminação de organelas danificadas, acumulando-se nos lisossomos, originando os corpos residuais. O acúmulo da lipofuscina acontece de maneira gradual, especialmente em células pós- mitóticas, e é comum no tecido muscular cardíaco e esquelético, no fígado, na retina e em neurônios de indivíduos mais velhos, ou em pacientes com desnutrição grave. No entanto, esse pigmento não é nocivo à célula. PEROXIDAÇÃO Peroxidação lipídica é o processo de degradação de lipídios no qual radicais livres “roubam” elétrons dos lipídios presentes nas membranas celulares. AUTOFAGIA Nome dado ao mecanismo de degradação de componentes e organelas celulares realizado
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