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A inervação somatossensorial do corpo, incluindo a cabeça, mantém um padrão de organização segmentar básico, que foi estabelecido durante o desenvolvimento embrionário. Trinta e três pares de nervos espinais fornecem a inervação sensorial e motora das paredes do corpo, membros e vísceras. O aporte sensorial para cada segmento da medula espinal é fornecido por neurônios sensoriais com corpos celulares no gânglio da raiz dorsal. A área da parede do corpo abastecida por um único par de gânglios da raiz dorsal é chamada dermátomo. É estimado, em estudos, que cerca de 84% dos adultos apresentaram pelo menos um quadro de lombalgia na vida. A lombalgia pode ser classificada como um evento agudo (duração de até 4 semanas), subagudo (duração de 4 a 12 semanas) ou crônico (duração maior que12 semanas) e as causas da lombalgia podem ser múltiplas. Os principais fatores de risco associados são: tabagismo, obesidade, idade avançada, sexo feminino, trabalho com estresse físico intenso, sedentarismo, trabalho com estresse psicológico e condições psicológicas. A doença discal lombar é uma das causas de lombalgia e dor nas pernas de forma crônica ou recorrente. A doença discal tem maior probabilidade de ocorrer em nível de L4-L5 ou L5-S1. A dor ocorre na região lombar e pode ser também referida no membro inferior, nádega ou quadril. A formação da hérnia inicia-se com o surgimento de fissuras no anel fibroso, por onde o conteúdo gelatinoso nuclear pulposo infiltra, acometendo as raízes nervosas espinhais de diferentes formas e graus. Nesse processo, pode haver desde o abaulamento do disco, até o rompimento da parede discal com extravasamento do conteúdo nuclear para o canal medular, o que chamamos respectivamente de protrusão e extrusão com sequestro. Estes eventos podem ocorrer em quatro zonas do disco - central, póstero lateral, foraminal ou extraforaminal - e, dessa forma, provocar apresentações clínicas distintas. O anel fibroso dos discos intervertebrais não é inervado, mas a inflamação discal com a produção de citocinas no interior do núcleo pulposo rompido pode ser uma das causas da dor. A radiculopatia por herniação do disco resulta da compressão no recesso lateral ou forame intervertebral. A maioria dos pacientes com queixa de lombalgia apresentam uma condição não específica, sendo principalmente dores de origem muscular. Algumas condições mais graves que podem afetar a lombar, gerando dor, incluem: → Compressão da cauda equina: A medula vertebral se encerra na altura da vértebra L2, emitindo os nervos respectivos aos demais níveis vertebrais, essa estrutura aparenta o formato de uma cauda equina. A compressão de um nervo ou de um conjunto de nervos dessa estrutura pode provocar dor e manifestações neurológicas nos respectivos dermátomos e miótomos. As causas da compressão da cauda equina incluem: hérnia de disco, espondilite anquilosante (inflamação que afeta as articulações, resultando em calcificação), punção lombar, tumores, trauma e infecções. → Metástases ósseas: os ossos são os sítios de lesão metastática mais comum no organismo, como para o câncer de mama, de próstata, de pulmão, de tireoide e de rins. Assim, pacientes diagnosticados e tratados para neoplasias tem que se ter atenção para a manifestação de dor lombar óssea. → Abcesso epidural: condição que resulta em dor lombar, manifestando- se, inicialmente, por febre e mal-estar, progredindo com radiculopatia e deficiências neurológicas. Fatores de risco incluem procedimentos lombares. → Osteomielite: infecção óssea, com acometimento, ou não, do disco intervertebral, resultando em processo inflamatório e dor. Causada pela disseminação hematogênica de bactérias ou tuberculose (fonte primária de infecção costuma ser pele ou trato urinário), uso de drogas injetáveis, endocardite, doença pulmonar ou dentição ruim. Condições mais comuns e menos graves que resultam em lombalgia incluem: → Fratura vertebral: pode haver história ou não de trauma. História prévia de osteoporose e fratura antiga são fatores de risco. → Radiculopatia: sintomas que ocorrem devido a um processo na rota de um nervo espinhal. A condição pode ser gerada por: doença degenerativa da vértebra, protusão do disco articular. → Estenose espinal: estreitamento do canal de passagem da medula vertebral, tendo diversas etiologias: espondilose (artrite – degeneração da coluna → dor associa-se a rigidez, aumenta com o movimento e melhora com o repouso), espondilolistese (deslizamento de uma vértebra), espessamento do ligamento amarelo. A manifestação mais comum é a claudicação neurogênica: dor nas costas, nádegas ou pernas que surge ao andar ou ficar de pé, sendo aliviada ao se sentar. → Doenças metabólicas: osteoporose e osteoesclerose são condições que enfraquecem os corpos vertebrais, facilitando a ocorrência de fraturas por compressão e dor. As causas podem ser múltiplas: imobilização, osteomalácia, pós-menopausa, doença renal, mieloma múltiplo, hiperparatireoidismo, hipertireoidismo, carcinoma metastático e uso de glicocorticoides. → Artrite inflamatória autoimune: artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite reativa, artrite psoriásica ou DII. → Escoliose e hipercifose lombar → Dor referida: pancreatite, pielonefrite, nefrolitíase, aneurisma de aorta abdominal e herpes zoster. A avaliação clínica do paciente com dor lombar inclui a história patológica pregressa e exame físico para avaliar os sinais e sintomas descritos. A história de conter localização da dor, duração do sintoma, intensidade e se já ocorreu outro quadro de dor lombar. O questionamento de sintomas constitucionais, como perda de peso, febre ou sudorese noturna faz-se importante, assim como história de malignidade, fator desencadeante da dor, se há sintomas neurológicos (fraqueza, quedas, perda de sensibilidade, incontinência), sintomas progressivos, uso de drogas ou medicação corticoesteroide ou de procedimento epidural. Avaliação social e psicológica é importante, pois pode contribuir ou ser a causa do sintoma. Exame físico: → Inspeção das costas e da postura; → Palpação e percussão da coluna: avalia sensibilidade; → Exame neurológico: avaliação de reflexos (patelar e aquileu), força muscular, sensibilidade e marcha. o Teste de perna estendida: elevação da perna em posição de extensão para avaliar dor ao longo do trecho do ciático sendo sensível para discopatia L5-S1 (diferente da manobra de Laségue que a o joelho está fletido e avalia-se a articulação coxo-femoral). Dorsiflexão do pé aumenta o estiramento. Teste de perna estendida cruzado é quando a dor é contralateral a perna testada. Teste de perna estendida reverso é o paciente em pé realizando a extensão passiva da perna com joelho estendido, sendo mais sensível para L2-L4 o Sinal de Waddell: presença de múltiplos sinais que indicam componente psicológico da dor, como reação exagerada ao exame. → Exames laboratoriais: não são necessários para a lombalgia aguda inespecífica. Na presença de fatores de risco, indica-se a solicitação de exames complementares → hemograma completo, VHS e exame de urina → Exames de imagem: TC é superior ao Raio-x para a detecção de fraturas. A ressonância magnética e a mielotomografia computadorizada são os mais sensíveis para avaliação da coluna. A RM é mais sensível para partes moles e a mielo-TC para o recesso lateral do canal medular e para anormalidades ósseas. O tratamento para a dor lombar aguda sem radiculopatia inclui o repouso, muitas vezes o quadro tem resolução espontânea em poucas semanas. Adoção de medidas não farmacológicas como uso de gelo ou compressas quentes e massagens. Os fármacos recomendados como de primeira linha são os AINEs e o paracetamol, relaxantes musculares (ciclobenzaprina ou metocarbamol) podem ser utilizados, mas causam sedação.O uso de opioides (fortes ou fracos) não é recomendado pela literatura e seu uso é destinado aos pacientes intolerantes a AINEs e paracetamol. A dor lombar crônica deve ser tratada com as medidas não farmacológicas, sendo recomendado um regime de exercício físico para melhora da dor e uso de AINEs ou paracetamol. Antidepressivos tricíclicos podem ser associados a terapia para modular a dor do paciente, sendo recomendados os inibidores seletivos da recaptação de serotonina. A dor lombar com radiculopatia deve ser tratada com uso de AINEs ou paracetamol, guardando os opioides para casos de dor intensa, devendo ser realizado ciclos curtos do medicamento. Procedimento cirúrgico é indicado na maioria dos casos que apresentem disfunção esfincteriana, sensibilidade diminuída, fraqueza progressiva, espasticidade das pernas. O procedimento cirúrgico habitual é uma hemilaminectomia parcial com excisão do disco prolapsado (discectomia).
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