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Conceito, funções e princípios do orçamento público Apresentação É inegável a importância de se planejar gastos, seja na vida pessoal, seja no âmbito empresarial. Na administração pública, essa necessidade ganha contornos ainda mais especiais, pois os gastos públicos dizem respeito à toda a sociedade. É bem provável que você já tenha se perguntado sobre o destino do dinheiro pago na forma de tributos e sobre como os governos organizam as suas despesas e investimentos, não é mesmo? Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as definições de orçamento público, seus princípios e funções, bem como as relações entre as funções do orçamento público e as funções de Estado, especialmente na execução das políticas públicas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir orçamento público, bem como citar os seus objetivos e as suas características.• Relacionar o orçamento público com as funções do Estado.• Indicar os princípios orçamentários.• Desafio É por meio do orçamento público que é possível acompanhar como o dinheiro público está sendo gasto e em que está sendo investido. Na sua área, é fundamental compreender como ocorre o orçamento público e a sua importância para a sociedade. Veja a seguinte situação: Nesse sentido, responda: a) Quais os primeiros passos a serem dados relativamente ao processo orçamentário? b) Quais os projetos de cunho orçamentário que deverão ser elaborados e qual será o trâmite deles? Infográfico O estudo do orçamento público é bastante complexo, pois envolve a compreensão de conceitos específicos e a sua relação com outros elementos de planejamento governamental. Além disso, ele tem funções e princípios que regem e orientam as ações planejadas dos Governos. No Infográfico a seguir, veja um resumo sobre esses aspectos e conheça esses elementos de forma simplificada. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/de58ce39-c4e5-483e-983a-2a43b8878067/19f78a6f-9ccd-41c3-b280-82584e5c2097.png Conteúdo do livro O orçamento público é o principal instrumento de planejamento governamental. É por meio dele que os Governos organizam os seus recursos financeiros, tanto na obtenção, quanto na definição das receitas. Para tanto, existe todo um regramento legal para definir a forma de realizar o orçamento público, o qual também define os seus conceitos, funções e princípios. Na obra Planejamento e orçamento público, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, leia o capítulo Conceito, funções e princípios do orçamento público e conheça um pouco mais sobre o orçamento público e como o controle político dele é realizado, de acordo com os princípios basilares definidos em lei. Conheça, ainda, as formas de aplicação desses preceitos nas decisões governamentais que envolvem a aplicação de recursos financeiros. Boa leitura. Planejamento e Orçamento Público Guilherme Corrêa Gonçalves Conceito, funções e princípios do orçamento público Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir orçamento público, os seus objetivos e as suas características. Relacionar o orçamento público com as funções do Estado. Indicar os princípios orçamentários. Introdução O orçamento público é um instrumento legal de gestão utilizado para planejar as finanças e estabelecer os mecanismos de controle e de apli- cação desses recursos. Segue regras específicas, propostas pelo Poder Executivo e aprovadas pelo Poder Legislativo, que devem ser cumpridas pelos gestores públicos e acompanhadas pela sociedade. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de orçamento público, os seus objetivos e as suas principais características. Além disso, você vai compreender as funções do Estado relacionadas ao orçamento público e verificar como os princípios orçamentários se inserem no contexto da administração pública. Orçamento público O orçamento público é a principal ligação entre o planejamento governamental e a gestão fi nanceira. Por intermédio dele, é possível acompanhar a execução dos planos e verifi car a disponibilidade de recursos fi nanceiros. O orçamento público é o instrumento utilizado pelo Estado para acompanhar a execução de seus projetos, expressando, em determinado período, seu programa de atuação. O orçamento informa a origem e o montante dos recursos a serem obtidos, bem como a natureza e o montante dos dispêndios a serem efetuados (GIACOMONI, 2003). O orçamento é também o meio pelo qual o cidadão pode analisar onde e de que forma as políticas públicas estão sendo aplicadas e priorizadas. Resumidamente, o orçamento público é o planejamento em forma de lei, que visa a organizar a gestão financeira para o exercício seguinte; ele faz a previsão de receitas e estabelece as despesas a serem realizadas no período. Da mesma forma, o orçamento público pode ser visto como um mecanismo disciplinador e de controle administrativo, jurídico, contábil, econômico e financeiro na forma de lei. O processo de elaboração do orçamento envolve diversas normas legais, a começar pela Constituição Federal de 1988. A CF/1988 (BRASIL, 1988) reforçou a relação entre planejamento e orçamento por intermédio do seu artigo 174. A Seção II do Capítulo II apresenta o planejamento de médio prazo, por meio do Plano Plurianual (PPA), a definição das diretrizes, metas e prioridades da administração, pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), e, por fim, a Lei Orçamentária Anual (LOA), conforme enunciado no art. 165 e demais incisos e parágrafos: Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I – o plano plurianual; II – as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais. §1º – A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regiona- lizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. § 2º – A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (BRASIL, 1988, documento on-line). Além de definir que a iniciativa de elaboração orçamentária é do Poder Executivo, cuja missão é planejar a distribuição dos recursos financeiros, a CF/1988 (BRASIL, 1988) deixa a cargo do Poder Legislativo a possibilidade de emendar os projetos relacionados ao orçamento, segundo o art. 166, § 3°. Cada um desses projetos de lei, referentes ao PPA, à LDO e à LOA, é subme- tido à apreciação do Poder Legislativo. No âmbito federal, tais projetos são submetidos às duas casas do Congresso Nacional: a Câmara dos Deputados e o Conceito, funções e princípios do orçamento público2 Senado Federal. Mais especificamente, eles são enviados à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), formada por integrantes de ambas as casas (deputados federais e senadores). Cabe a essa comissão emitir parecer sobre os aspectos relevantes do processo orçamentário desde os seus projetos de lei até os planejamentos setoriais, conforme previsto no art. 166, §§ 1º e 2º da CF (BRASIL, 1988). A tramitação dos três projetos de lei referentes aos instrumentos orçamen- tários no Congresso Nacional (o PPA, a LDO e a LOA), de modo geral, segue as etapas apresentadas na Figura 1. Figura 1. Tramitação das propostas orçamentárias no Congresso Nacional. Fonte: Adaptada de Noblat, Barcelos e Souza (2013). Recebimento da proposta do Executivo Apresentação, discussão e votação dos pareceres Abertura do prazo para emendas Leitura do projeto Realizações das audiências públicasRecebimento e parecer sobre as emendas Encaminhamento ao Presidente da República (Poder Executivo) para sanção Votação do relatório geral no plenário do Congresso Apreciação e votação do relatório final na CMO Designação do relator Distribuição aos parlamentares O processo, no Legislativo, começa com o recebimento da proposta do Poder Executivo. Na sequência, é feita a leitura do projeto e a distribuição dos projetos aos parlamentares; um relator é designado, e são agendadas e realizadas audiências públicas para que a sociedade civil organizada possa se manifestar a respeito da proposta e de seus projetos. Então, ocorrem a apresentação, a discussão e a votação dos pareceres preliminares, os quais vão estabelecer as regras gerais para o processo, e é aberto o prazo de emendas à proposta. Recebidas pelo relator, as emendas são objetos de parecer e são apreciadas e votadas, fechando o seu ciclo na CMO. Então, o relator submete o seu relatório final ao plenário do Congresso Nacional; depois de votado, o 3Conceito, funções e princípios do orçamento público relatório é encaminhado ao presidente da República para sanção (NOBLAT; BARCELOS; SOUZA, 2013). Nos estados e no Distrito Federal, as propostas são analisadas pelas res- pectivas casas legislativas — assembleias legislativas, no caso dos Estados, e câmara legislativa, no caso do Distrito Federal. Nos municípios, as propostas orçamentárias são analisadas pelas câmaras de vereadores. Plano Plurianual O PPA estabelece as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública para as despesas de capital e os programas de duração continuada, caracterizando-se, assim, como um planejamento de médio prazo. O projeto de lei do PPA deverá ser enviado pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo até quatro meses antes do fi nal do primeiro exercício fi nanceiro, que coincide com o ano civil, ou seja, até 31 de agosto do ano do primeiro mandato. O projeto de lei do PPA deve ser devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa do respectivo ano, geralmente, no fi nal do mês de dezembro. Com duração de quatro anos, o PPA é elaborado no primeiro ano do mandato do governante eleito, e sua vigência inicia no segundo ano de mandato. Portanto, ele é elaborado no primeiro ano do mandato, começa a viger no segundo e encerra o seu prazo no início do mandato do próximo governo eleito (BRASIL, 1988). É importante ressaltar que o PPA se constitui na síntese dos esforços de planejamento de toda a administração pública, orientando a elaboração dos demais planos e programas de governo, assim como do próprio orçamento anual. Nesse sentido, nenhum projeto governamental, cujo investimento ex- trapole o período de um exercício financeiro, poderá ser iniciado sem estar previsto no PPA, ou sem que a lei que o instituiu autorize a sua inclusão (GIACOMONI, 2003). Conceito, funções e princípios do orçamento público4 Lei de Diretrizes Orçamentárias A LDO é a lei responsável pela defi nição das metas e das prioridades, em termos de programas governamentais, que deverão ser executadas. Ela é o instrumento de ligação entre o PPA e a LOA. A sua função é antecipar o que constará na LOA e defi nir as áreas, os programas e as metas para o período seguinte, além de organizar a estrutura do orçamento, os limites de gastos e defi nir as fontes de fi nanciamento. A LDO deve estar em sintonia com o PPA, com vistas a dar orientação à elaboração da LOA. O projeto de LDO deve ser enviado ao Legislativo até o dia 15 de abril de cada exercício e deve ser devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período legislativo, em meados de julho, antes do recesso legislativo (GIACOMONI, 2003). A Lei Complementar nº. 101, de 4 de maio de 2000 (BRASIL, 2000), mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), fortaleceu o processo orçamentário em quatro dimensões: planejamento, controle, transparência e responsabilização. Com a instituição da LRF, a LDO incorporou novas atribuições associadas ao equilíbrio entre receitas e despesas, que norteiam todo o ciclo de alocação dos recursos públicos (NOBLAT; BARCELOS; SOUZA, 2013). Como instrumento norteador da elaboração e da execução do orçamento, a LDO apresenta os objetivos, as metas e as prioridades a serem incluídas na proposta de LOA, assim como as metodologias para sua elaboração. Além disso, a LDO determina as formas de controle de custos e de avaliação de resultados dos programas contemplados com recursos do orçamento e impõe exigências para transferências de recursos a outras entidades públicas ou privadas. Dispõe ainda sobre alterações na legislação tributária e sobre a limitação de empenhos. A LDO traz o Anexo de Metas Fiscais, no qual são estabelecidas as me- tas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício seguinte e para os dois exercícios posteriores. Já no Anexo de Riscos Fiscais estão os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se realizem. Lei Orçamentária Anual A LOA é a responsável pela programação das ações a serem executadas pelo Governo, com o objetivo de viabilizar as diretrizes, os objetivos e as metas programadas no PPA, em consonância com a LDO. Da mesma forma que o PPA 5Conceito, funções e princípios do orçamento público e a LDO, a LOA é de iniciativa do Poder Executivo e deve conter a previsão de receitas e a fi xação das despesas, (RIBEIRO, 2012). Conforme o art. 22 da Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964, a LOA deve conter: I - Mensagem, que conterá: exposição circunstanciada da situação econômico- -financeira, documentada com demonstração da dívida fundada e flutuante, saldos de créditos especiais, restos a pagar e outros compromissos financei- ros exigíveis; exposição e justificação da política econômico-financeira do Governo; justificação da receita e despesa, particularmente no tocante ao orçamento de capital; II - Projeto de Lei de Orçamento; III - Tabelas explicativas, das quais, além das estimativas de receita e despesa, constarão, em colunas distintas e para fins de comparação: a) A receita arrecadada nos três últimos exercícios anteriores àquele em que se elaborou a proposta; b) A receita prevista para o exercício em que se elabora a proposta; c) A receita prevista para o exercício a que se refere a proposta; d) A despesa realizada no exercício imediatamente anterior; e) A despesa fixada para o exercício em que se elabora a proposta; e f) A despesa prevista para o exercício a que se refere a proposta. IV - Especificação dos programas especiais de trabalho custeados por dotações globais, em termos de metas visadas, decompostas em estimativa do custo das obras a realizar e dos serviços a prestar, acompanhadas de justificação econômica, financeira, social e administrativa. Parágrafo único. Constará da proposta orçamentária, para cada unidade ad- ministrativa, descrição sucinta de suas principais finalidades, com indicação da respectiva legislação (BRASIL, 1964, documento on-line). É importante esclarecer que deve existir apenas uma LOA para cada ente da Federação, na qual devem constar três peças orçamentárias: o orçamento fiscal, o orçamento de investimento e o orçamento da seguridade social. Caso haja necessidade de realizar despesas acima do limite previsto, o Poder Executivo deve encaminhar ao Poder Legislativo um pedido de suplementação orçamentária, que tem por objetivo atender despesas não computadas ou insufi- cientemente dotadas na LOA. Porém, conforme a LRF, o projeto da LOA deve ser elaborado de forma compatível com o PPA e com a LDO e deverá conter um anexo demonstrando a compatibilidade da programação dos orçamentos com os objetivos e as metas constantes do anexo de metas fiscais da LDO. Conceito, funções e princípios do orçamento público6 Orçamentos anuais, projetos de lei e demaispeças importantes do orçamento federal podem ser acessadas pelo link a seguir. https://qrgo.page.link/2UmYg Orçamento público e as funções do Estado Como visto, o orçamento público é um dos instrumentos de maior relevância e, segundo Noblat, Barcelos e Souza (2013), o mais antigo da administração pública, por meio do qual os governos organizam e controlam seus recursos fi nanceiros. Além da função de controle, o orçamento tem funções mais con- temporâneas, do ponto de vista administrativo, gerencial, contábil e fi nanceiro. Nesse sentido, o orçamento deve espelhar as políticas públicas, de modo a permitir sua análise pela fi nalidade dos gastos públicos. É dessa forma que o Estado intervém na economia para atender às de- mandas de bem-estar social, especialmente nas áreas de educação e saúde. Nesse sentido, Giacomoni (2003) ressalta que uma das características mais marcantes da economia atual é o crescente aumento das despesas públicas para atender a essas demandas, especialmente a partir do século XX, por meio das políticas descritas a seguir. Política regulatória: ato normativo cujo objetivo é mitigar as imperfei- ções relacionadas à formação de monopólios, com a criação de agências reguladoras, por exemplo. Política monetária: controle da oferta de moeda, da taxa de juros e do crédito em geral, a fim de garantir a estabilidade do poder de compra da moeda. Política fiscal: abrange a administração das receitas e despesas con- tidas no orçamento público. Assim, no processo de arrecadar receitas e executar despesas, o governo realiza intervenções para promover o aumento nos níveis de emprego, na distribuição da renda, na oferta e na procura de bens e serviços, com reflexos em diversos setores da economia. 7Conceito, funções e princípios do orçamento público É no contexto da política fiscal que o orçamento público se caracteriza como instrumento fundamental para a atuação do Estado, no sentido de alcançar resultados que promovam a estabilidade, a sustentabilidade econômica e uma maior qualidade de vida à população. Isso evidencia que o orçamento público não é apenas uma lei que autoriza a arrecadação de receitas e a execução de despesas, mas um instrumento que apresenta múltiplas funções interdepen- dentes (MACHADO, 2016), descritas a seguir. Função alocativa: visa ao atendimento das necessidades em áreas em que as forças do mercado não conseguem assegurar resultados ótimos, como no atendimento às demandas sociais e na construção de grandes obras de infraestrutura (rodovias, hidrelétricas, aeroportos etc.). Função distributiva: ajustamento da distribuição de renda, a fim de combater os desequilíbrios regionais e sociais e auxiliar no funciona- mento eficiente da economia e no crescimento equilibrado do país. Função estabilizadora: manutenção de um alto nível de utilização de recursos econômicos, por meio da busca pela estabilidade de preços, pelo pleno emprego, pelo equilíbrio da balança de pagamentos e das taxas de câmbio e pelo valor estável da moeda. Portanto, conforme visto, o Estado pode intervir na economia por meio do desenvolvimento das políticas regulatória, monetária e fiscal, a partir das funções orçamentárias. Essas intervenções, conforme Rezende (2001), podem ser diretas ou indiretas, como demonstrado na Figura 2. Figura 2. Formas de intervenção do Estado na economia. Fonte: Adaptada de Rezende (2001). Alternativas de intervenção estatal Intervenção direta: Produção de bens e serviços Processo de acumulação de capital Intervenção indireta: Interfere nas decisões de produção do setor privado mediante alteração dos preços relativos Produção de bens públicos Produção de serviços sociais Investimentos em infraestrutura econômica Instituições financeiras; Provisão de serviços urbanos; Provisão de serviços de transportes Uso de medidas legais; traduz-se em tabelamentos, quotas ou regulamentação sobre preço, qualidade e quantidade Política de receitas Política monetária Política cambial Política de gastos Empresas governamentais Regulação (”direta”) Política macroeconômica (”indireta”) Conceito, funções e princípios do orçamento público8 Dentre as formas de intervenção indireta, está a política de receitas, que está relacionada diretamente ao sistema tributário, compreendendo a política de impostos, a renúncia de receitas e a política de regulação. Por outro lado, temos a política de regulação, em que o governo, representado pelas agências reguladoras, interfere no preço, na qualidade e na quantidade das concessões públicas. Na intervenção direta, tem-se a política de gastos, fortemente rela- cionada à função alocativa do orçamento, e as empresas governamentais, que atuam na forma de instituições financeiras e de serviços específicos, como transporte, limpeza pública, entre outros (REZENDE, 2001). Ainda, nessa relação entre as funções orçamentárias e as políticas governamentais, pode-se identificar as seguintes variáveis: na função alocativa, gastos com saúde e educação; na função distributiva, impostos progressivos e transferências de renda direta; na função estabilizadora, controle da inflação e do nível de emprego. Princípios orçamentários Os princípios orçamentários estabelecem regras básicas que norteiam o pro- cesso orçamentário, com a fi nalidade de conferir racionalidade, efi ciência e transparência a esses processos. Esses princípios são válidos para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todas as esferas de governo — União, estados, Distrito Federal e municípios — e são estabelecidos e disciplinados por normas constitucionais, infraconstitucionais e pela doutrina, conforme Rezende (2001). É importante destacar que esse conjunto de premissas, que deve ser obser- vado em cada etapa do processo orçamentário, não tem como característica ser absoluto ou imutável; elas se constituem em categorias históricas e estão sujeitas a modificações em seu conceito e em sua significação. Embora a legislação brasileira acolha a maioria dos princípios orçamentários, essas modificações nem sempre constam na legislação. Assim, os princípios orça- mentários podem ser divididos em clássicos e modernos, conforme descrevem Noblat, Barcelos e Souza (2013): os princípios clássicos são aqueles cuja consolidação se deu ao longo do desenvolvimento das teorias orçamentárias, como o princípio da anualidade; 9Conceito, funções e princípios do orçamento público os princípios modernos são aqueles que foram delineados na era moderna do orçamento, como o da simplificação, quando sua função extrapo- lou as fronteiras político-legais e passou a orientar os planejamentos governamentais e a gestão pública. O Quadro 1 a seguir destaca alguns dos princípios orçamentários clássicos e modernos mais essenciais e a legislação que os instituiu. Observe que os três últimos princípios não têm previsão legal, pois são os chamados princípios orçamentários modernos, que começaram a ser delineados na era moderna do orçamento. Princípio Descrição Legislação Unidade ou totalidade Deve existir um único orçamento para cada esfera de governo Caput do art. 2º da Lei nº. 4.320/1964 Universalidade Determina que a LOA de cada ente federado deve conter todas as receitas e despesas de todos os poderes, órgãos, entidades, fundos e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público Caput do art. 2º da Lei nº. 4.320/1964 Anualidade ou periodicidade Delimita o exercício financeiro orçamentário, que, no caso brasileiro, prevê a coincidência com o ano civil, ou seja, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano Caput do art. 2º da Lei nº. 4.320/1964 e § 5º do art. 165 da CF/1988 Exclusividade Estabelece que a LOA não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa § 8º do art. 165 da CF/1988 Orçamento bruto Obriga o registro de receitas e despesas na LOA pelo valor total e bruto, vedadas quaisquer deduções Art. 6º da Lei nº. 4.320/1964Quadro 1. Resumo dos princípios orçamentários (Continua) Conceito, funções e princípios do orçamento público10 Além desses princípios específicos do orçamento público, aplicam-se também a ele os princípios da administração pública, previstos no art. 37 da CF: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (BRASIL, 1988). Fonte: Adaptado de Noblat, Barcelos e Souza (2013). Princípio Descrição Legislação Transparência Divulgar e disponibilizar o orçamento público de forma ampla à sociedade, por meio de relatórios sobre a execução orçamentária e a gestão fiscal Arts. 48, 48-A e 49 da LRF Não vinculação (não afetação) da receita de impostos Veda a vinculação da receita de impostos a órgãos, fundos ou despesas, salvo exceções estabelecidas pela própria CF Inciso IV do art. 167 da CF/1988 Descentralização Execução das ações no nível mais próximo de seus beneficiários, para que a cobrança dos resultados seja mais efetiva Responsabilização Os gestores públicos devem assumir de forma personalizada a responsabilidade pela busca da solução ou o encaminhamento do problema Simplificação O planejamento e o orçamento devem basear-se em elementos de fácil compreensão Quadro 1. Resumo dos princípios orçamentários (Continuação) 11Conceito, funções e princípios do orçamento público BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti- tuicao.htm. Acesso em: 16 out. 2019. BRASIL. Lei Complementar no. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União, 5 maio 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 16 out. 2019. BRASIL. Lei no. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Finan- ceiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial da União, 23 mar. 1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 16 out. 2019. GIACOMONI, J. Orçamento público. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MACHADO, F. C. R. (org.). Escola virtual SOF: curso orçamento público. 2. ed. Brasília: Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 2016. NOBLAT, P. L. D.; BARCELOS, C. L. K.; SOUZA, B. C. G. Orçamento público: visão geral. Mó- dulo III: o processo. Brasília: ENAP, 2013. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/ bitstream/1/872/1/OP_Modulo_3%20-%20O%20Processo.pdf. Acesso em: 16 out. 2019. REZENDE, F. Finanças públicas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. RIBEIRO, R. A lenta evolução da gestão de obras públicas no Brasil. E-Legis, v. 5, n. 8, p. 82-103, 2012. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/estu- dos/2012/ALentaEvoluodaGestodeObrasPblicasnoBrasil.pdf. Acesso em: 16 out. 2019. Conceito, funções e princípios do orçamento público12 Dica do professor O orçamento público é o principal instrumento legal de gestão que faz a ligação entre o planejamento governamental e a gestão financeira. Por meio dele, é possível planejar os recursos financeiros, organizar as finanças e estabelecer os mecanismos de controle de aplicação para esses recursos. Na Dica do Professor de hoje, veja como se desenvolve o processo orçamentário e como se relacionam entre si as etapas desse processo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/a61295302a09133c67de724c344febec Exercícios 1) O orçamento público é um instrumento de gestão utilizado para gerir os recursos financeiros da administração pública e, para tanto, os gestores se utilizam das regras aprovadas pelo Poder Legislativo e sancionadas pelo Poder Executivo, as quais podem ser acompanhadas pela sociedade. Nesse sentido, é correto afirmar: A) O PPA estabelece as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública para as despesas de capital, e outras delas decorrentes, e para as relativas aos programas de duração continuada. B) A LDO compreende as metas e prioridades da administração pública para os quatro exercícios financeiros subsequentes. C) Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos na Constituição Federal são elaborados em consonância com o PPA e apreciados pelo Poder Executivo. D) A LOA acompanha valores correntes e constantes, relativos a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício seguinte e para os dois exercícios posteriores. E) A LOA não pode conter dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, incluindo-se nessa proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito. 2) Uma vez que orçamento público é a principal ligação entre o planejamento governamental e a gestão financeira, pode-se afirmar que: A) a LDO estabelece a programação das despesas para o período do PPA. B) a LDO define as diretrizes, os objetivos e as metas para o período da gestão eleita. C) o PPA é a responsável pela programação das ações que viabilizarão os objetivos e metas programadas na LOA. D) a LOA define as prioridades das ações governamentais no decorrer do exercício financeiro subsequente. E) a LOA prevê as receitas e fixa as despesas que serão realizadas no exercício. 3) Quando o Poder Executivo propõe, em seu projeto de LOA, a construção de um hospital, constante de seu plano de Governo, trata-se de uma atividade do âmbito da seguinte função do orçamento: A) Alocativa. B) Distributiva. C) Fiscal. D) Estabilizadora. E) Política. 4) Determinada Unidade da Federação elaborou um projeto para promover o emprego e o desenvolvimento social, uma vez que o mercado se demonstrou incapaz de promover esssas ações. Essa ação está baseada em qual função? A) Distributiva. B) Social. C) Alocativa. D) Estabilizadora. E) Regulatória. 5) Embora os princípios orçamentários não sejam absolutos e imutáveis, eles estabelecem regras básicas que norteiam o processo orçamentário a fim de lhe conferir racionalidade, a eficiência e a transparência. Um desses princípios é o da "exclusividade", o qual estabelece que: A) o orçamento deve se basear em elementos de fácil compreensão. B) deve existir um único orçamento para cada esfera de Governo. C) é obrigatório o registro de receitas e despesas pelo valor total e bruto. D) os gestores públicos devem assumir a responsabilidade pelo encaminhamento dos problemas. E) assuntos que não tratem da fixação das despesas ou da previsão das receitas não podem constar na LOA. Na prática Um dos princípios orçamentários é o da transparência. No Brasil, há uma clara evolução no sentido de disponibilizar os dados dos gastos públicos para a população. No entanto, para compreender melhor esses dados, é fundamental ter conhecimentos básicos sobre o orçamento público. Interessada em saber como andam os gastos públicos, Raquel fez algumas pesquisas e descobriu que é possível fazer consultas e, ainda, comparar a demonstração da execução do orçamento com o que foi planejado no PPA. Veja em Na Prática: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/9ae46233-0ff6-40d4-8490-d7ed375ad4c8/6b6d01e9-91db-474f-b79f-247dcc249d6e.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Restos a pagar Nesse vídeo você estudante compreenderá o que são os Restos a pagar, que é um item que envolve as questões orçamentárias na administração pública e verá que o governo reserva orçamento para o futuro e gasta recursos de anos anteriores Aponte a câmera para o código e acesse o linkdo conteúdo ou clique no código para acessar. Entenda o Orçamento no Congresso Nacional Veja, neste material, algumas das responsabilidade do Congresso Nacional em relação ao orçamento público. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. A importância do orçamento Você já ouviu falar do orçamento fácil? Assista estes vídeos no Portal do Senado Federal, que compõem a série "A importância do orçamento". Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/CMOFqobnnao https://www.congressonacional.leg.br/materias/materias-orcamentarias/entenda-o-orcamento#:~:text=Leis%20Or%C3%A7ament%C3%A1rias,-As%20leis%20or%C3%A7ament%C3%A1rias&text=As%20leis%20de%20car%C3%A1ter%20or%C3%A7ament%C3%A1rio,1%20de%202006%20%E2%80%93%20CN). https://www12.senado.leg.br/orcamentofacil