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DIT001 - Esquema de Aula - Noções de Direito II

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Faculdade de Direito da UFMG 
DEPARTAMENTO DE DIREITO DO TRABALHO 
E INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
 
 
 
 
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Esquema de Aula – Noções de Direito II 
 
Prof. Pablo A. Lago 
 
1. Fontes do Direito 
 
A noção de fontes de Direito envolve os processos de produção de normas jurídicas. Na 
visão de Miguel Reale, as fontes guardam relação com o poder o qual, ao incidir sobre diferentes 
fatos e valores, opta por uma solução normativa – ou seja, implica na criação de uma regra 
jurídica, em um ato de vontade. Sendo assim, estudar a chamada nomogênese jurídica (ou seja, 
o processo de criação de normas jurídica) passa pela análise desses diferentes centros de poder 
e seu funcionamento. 
Inicialmente, vale destacar uma distinção comum na doutrina jurídica: a estabelecida 
entre fontes materiais e fontes formais. As fontes materiais correspondem aos fatos e valores 
que levam à criação de uma norma jurídica. Podemos incluir aí, por exemplo, questões de ordem 
moral ou política (por exemplo, os impactos gerados pelas fake news e a preocupação com sua 
regulação), ou também de ordem econômica (como a necessidade de regular certas práticas 
comerciais). O estudo das fontes materiais é feito por outras disciplinas, como a Filosofia do 
Direito, a Ciência Política e a Sociologia. 
Em nossos estudos, merecem destaque as fontes formais do Direito, ou seja, as formas 
de “exteriorização do Direito”, os modos como ele se apresenta e do qual extraímos as normas 
jurídicas. Trataremos, portanto, da legislação, da jurisprudência, dos usos e costumes e das 
disposições negociais. 
 
1.1.Legislação 
 
De forma muito geral, podemos afirmar que a ideia de legislação envolve a noção de 
“positivação do Direito”, ou de “Direito posto” ou “positivado”. A legislação, portanto, nada 
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mais é do que a norma posta pelo Estado, em suas diferentes formas. Estamos falando das leis 
oriundas do Poder Legislativo e demais atos normativos do Poder Executivo. 
Se considerarmos o sistema normativo como um todo, notamos que sua “lei maior” é a 
Constituição. Ela estabelece a estrutura do ordenamento jurídico, trazendo regras sobre a 
estrutura do Estado, os procedimentos para a produção das leis, direitos e garantias 
fundamentais, dentre outros. 
As demais leis são criadas pelo Poder Legislativo, em suas diferentes esferas – federal 
(Congresso – Senado e Câmara), estadual (Assembleias Legislativas) e municipal (Câmaras 
Municipais), respeitando-se a competência estabelecida na Constituição. Entende-se que a lei é 
geral, na medida em que regula o comportamento de várias pessoas sob a mesma situação. Ela 
também é abstrata, na medida em que determina uma categoria de situações, e não uma situação 
singular – pensemos nas leis de trânsito, que regulamentam o trânsito como um todo, e não 
apenas o que acontece no cruzamento entre a Av. Amazonas e a Av. Afonso Pena. 
As leis também podem ser materiais ou instrumentais (ou processuais). Leis materiais 
estabelecem o “conteúdo do Direito” – como é o caso de direitos das pessoas, os bens que o 
compõe etc. Neste campo encontramos as disposições de Direito Civil, Trabalho, Penal, dentre 
outros. Já as leis instrumentais ou processuais se relacionam com a forma, os meios e 
procedimentos para fazer valer, na prática, o Direito material. Aqui encontramos diferentes 
sistemas processuais, como o Processo Civil e o Processo Penal. Quanto ao procedimento de 
elaboração das leis e seu formato, trataremos mais adiante – esta questão é regulamentada 
constitucionalmente. 
 A legislação também compreende diferentes atos normativos do Poder Executivo. 
Merecem destaque, inicialmente, os decretos – em especial os decretos regulamentares, que 
possuem a função de complementar as leis, especificando seu conteúdo e viabilizando sua 
aplicação sempre necessário. Dada sua natureza, não poderão contrariar o previsto em lei. 
Exemplo é o decreto que regulamenta a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 
Também merece destaque os decretos singulares, que tratam de situações específicas e 
concretas – como os que determinam a nomeação ou exoneração de servidores públicos. 
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 Além dos decretos, o Poder Executivo (especificamente, o Presidente da República) 
também pode editar as medidas provisórias. São normas que possuem força de lei – ou seja, 
são análogas às leis criadas pelo Legislativo. A Constituição as disciplina no art. 62, exigindo-
se que a sua criação decorra de situações de relevância e urgência. Produzem efeitos imediatos, 
e deverão ser convertidas em lei pelo Congresso no prazo de 60 dias. Enquanto tipo normativo, 
medidas provisórias foram criadas pela Constituição de 1988, substituindo os antigos “decretos-
lei”. 
 
1.2.Jurisprudência 
 
A jurisprudência pode ser definida como o conjunto de decisões judiciais sobre certa 
matéria. Como afirma Sérgio Pinto Martins, a jurisprudência “representa o caminho 
predominante em que os tribunais entendem de aplicar a lei, suprindo, inclusive, eventuais 
lacunas desta última” (MARTINS, 2022, p. 40). 
Entende-se que, ainda que juízes possuam certa liberdade em decidir diferentes 
questões, a necessidade de maior certeza e segurança jurídica faz com que observem o que fora 
decidido anteriormente sobre a mesma matéria – em particular quando a questão já tenha sido 
objeto de decisão por tribunais superiores. Merece destaque decisões do Supremo Tribunal 
Federal (STF) sobre a (in)constitucionalidade das leis, que produzem eficácia contra todos e 
efeito vinculante. Assim, por exemplo, uma lei declarada inconstitucional pelo STF deixa de 
produzir os seus efeitos. 
Também vale mencionar as súmulas, que sintetizam, na forma de tópicos, as decisões 
predominantes dos tribunais, considerando a validade, interpretação e eficácia das leis. 
Algumas das súmulas editadas pelo STF, que versam sobre matéria constitucional, produzirão 
efeitos vinculantes (ou seja, obrigatórios) frente aos demais órgãos do Poder Judiciário e da 
Administração Pública. São as chamadas súmulas vinculantes, que envolvem controvérsia atual 
sobre certos temas, com reiteradas decisões, e que precisam ser aprovadas por 2/3 dos ministros 
do STF (ou seja, 8 dos 11 ministros). Exemplo de súmula vinculante é a de nº. 11, que estabelece 
que o uso de algemas só pode ocorrer em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou 
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de perigo à integridade física própria ou alheia do detido. Há também a súmula nº 44, que 
afirmar que somente a lei pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo 
público. 
Vale ressaltar que decisões judiciais, na maioria das vezes, “especifica” a norma a ser 
cumprida dentro de certas relações jurídicas. É o caso de decisão judicial que condena o devedor 
ao pagamento de um determinado valor, dentro de determinado prazo e sob determinada forma. 
 
1.3.Usos e costumes 
 
Os usos e costumes envolvem o conjunto de práticas sociais que possuem caráter de 
obrigatoriedade. Esta obrigatoriedade, eventualmente, poderá ser também jurídica. Não é sem 
razão que, historicamente, usos e costumes tendem a anteceder a elaboração da lei – pensemos 
nas práticas reiteradas que originavam verdadeiras normas jurídicas, sobretudo em povos 
primitivos que não conheciam a escrita. 
Os costumes são, além disso, uma prática espontânea, criada ao longo do tempo. Ao 
contrário da legislação, não são escritos ou promulgados. 
Em um sistema jurídico como o nosso, de tipo romano-germânico, prevalecerão as leis 
escritas. Sendo assim, pode-se afirmar que os usos e costumes possuem funções limitadas em 
nosso ordenamento, e não podem ser considerados “fontes do Direito” com o mesmo peso que 
a legislação ou a jurisprudência. Como afirma Sérgio Pinto Martins (2022, p. 40), as funções 
dos usos e costumes são: a) uma função supletiva ou integrativa, suprindo eventuais lacunas na 
lei, e b) uma função interpretativa, esclarecendo o conteúdo das normas jurídicas. 
Quando cumpre uma função interpretativa, afirma-se que o costume é secundum legem 
(de acordo com a lei). Nestes casos, o recurso aos costumes é previsto pela própria lei. Exemplo 
é o previsto no art. 569, II do Código Civil, que estabelece a obrigação do locatário de “pagar 
pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do 
lugar”. Assim, se o contrato de locação não estabelecer prazos para o pagamento, recorre-se ao 
que habitualmente é praticado no lugar onde está o imóvel – muito provavelmente, um 
pagamento mensal, ao invés de semanal ou anual. 
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Em sua função integrativa, afirma-se que o costume terá função praeter legem (além da 
lei), como previsto no art. 4º da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro. Exemplo 
prático é o do cheque pós-datado (tipicamente chamado de “pré-datado”). Nele, o emitente e o 
tomador do cheque pactuam uma data futura para o pagamento a ser realizado pela instituição 
bancária. Ainda que a própria lei considere o cheque uma forma de pagamento à vista, a 
autonomia das partes possibilita a determinação do dia do pagamento. Assim, este é um costume 
observado pelos próprios tribunais, que fixam a ocorrência de danos materiais e morais na 
hipótese de compensação do cheque antes da data pactuada. 
Não se pode esquecer dos costumes contra legem (contra a lei). Nesta hipótese (ainda 
que não admitida em nosso ordenamento jurídico), os costumes contrariam a própria lei. Na 
prática, o que ocorre é o desuso da lei. Pensemos no antigo crime de adultério, revogado em 
2005 – mesmo antes da revogação, eram incomuns ações penais envolvendo sua prática. 
 
1.4.Disposições negociais 
 
Por fim, mas não menos importante, merece destaque como fonte de direito as 
disposições negociais – notadamente os contratos firmados entre diferentes partes. Não é sem 
razão que se afirma que os contratos “fazem lei entre as partes”. Veremos adiante como operam 
diferentes tipos de contrato, como os contratos civis e os contratos trabalhistas. 
 
1.5.Doutrina 
 
A doutrina corresponde às observações e interpretações feitas por juristas – por 
estudiosos do Direito. É um instrumento importante para análise do Direito, mas não pode ser 
considerado, propriamente, uma de suas “fontes”, já que não possui força vinculante. Em outras 
palavras, auxilia na compreensão do Direito e na sua aplicação. 
No contexto brasileiro, o apego aos chamados “argumentos de autoridade” faz com que 
a doutrina ganhe vulto especial. Não é incomum que advogados mencionem passagens de obras 
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de doutrinadores e professores famosos, como forma de fortalecer seus argumentos, 
aumentando as chances de convencer os juízes. 
 
1.6.Hierarquia das fontes 
 
As fontes do Direito se apresentam dentro de uma estrutura hierárquica, tipicamente 
apresentada na forma de uma pirâmide. No topo, constaria a Constituição, da qual se seguem 
emendas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, decretos e, na base da pirâmide, 
as disposições negociais. 
A noção de hierarquia guarda profunda relação, notadamente em um sistema como o 
nosso, com a ideia de validade das normas jurídicas. Entende-se que uma norma será 
juridicamente válida (e que, portanto, poderá produzir efeitos) se tiver sido produzida de acordo 
com o que determinam as normas que lhe são superiores. Assim, por exemplo, nenhuma lei 
poderá desrespeitar a Constituição, da mesma forma como um contrato de trabalho não poderá 
desrespeitar disposições da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A validade se dá em 
termos formais, quando a norma é produzida segundo o procedimento estabelecido pelas 
normas superiores, e materiais, quando seu conteúdo não contraria o conteúdo das normas 
superiores. 
 
2. Interpretação e aplicação das normas jurídicas 
 
De forma muito geral, interpretar tem o sentido de esclarecer, explicar ou indicar o 
conteúdo de diferentes palavras, frases ou normas (MARTINS, 2022, p. 45). No caso jurídico, 
a interpretação antecederá a aplicação de certas normas aos casos concretos. 
A interpretação jurídica é um tema muito rico e extenso, que admite inúmeras teorias e 
classificações. Vale mencionar algumas das formas mais comuns de interpretação jurídica. 
A interpretação gramatical ou literal envolve a verificação do sentido do texto da 
norma. Leva-se em consideração o valor semântico dos termos utilizados. 
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Na interpretação finalística ou teleológica, tem-se em consideração o fim esperado pela 
norma jurídica. 
Denomina-se sistemática a interpretação de dispositivos legais considerando o sistema 
em que está inserido – visando, portanto, uma interpretação das normas do sistema como um 
todo, evitando eventuais contradições que possamsurgir na aplicação isolada de cada norma. 
Quanto aos limites da interpretação, esta poderá ser extensiva (na medida em que se dá 
à norma um sentido mais amplo do que habitualmente teria) ou restritiva (quando se dá o 
sentido mais restrito possível). Neste último caso, merece destaque a interpretação de negócios 
jurídicos benéficos, ou seja, nos quais apenas uma pessoa terá vantagens, como a doação. 
Assim, se alguém doa um imóvel para outra pessoa com diversos móveis valiosos em seu 
interior, a interpretação restritiva implica em não considerar tais móveis como integrantes do 
negócio. 
A interpretação histórica leva em consideração o processo evolutivo que implicou na 
construção de uma norma. Neste caso, é possível levar em consideração a vontade do legislador, 
os debates ocorridos durante a elaboração da norma, os fatos de então etc. 
Por fim, merece destaque a interpretação autêntica, que é aquela feita pelo próprio órgão 
que editou a norma. Neste caso, quem elabora a norma edita outra norma determinando seu 
sentido, alcance e conteúdo. 
Ainda quanto à interpretação, vale mencionar que não há uma única forma de 
interpretação que se sobreponha às demais. De qualquer sorte, as que são mais usualmente 
utilizadas na prática jurídica são a sistemática e a finalística. Pode-se até mesmo mencionar 
eventuais divergências entre interpretações – uma interpretação histórica, que eventualmente 
leve em consideração a vontade do legislador, pode contrariar uma interpretação finalística, que 
envolva o fim esperado da norma em um contexto atual. Além disso, há inúmeras escolas de 
interpretação do Direito, que se fundamentam em diferentes sistemas e regras de interpretação. 
Costuma-se denominar Hermenêutica o conjunto de regras e o estudo da interpretação1. 
 
1 A expressão deriva do deus olímpico Hermes – mensageiro dos deuses, e deus da escrita e do comércio. 
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Além da interpretação, também é comum tratar da integração das normas jurídicas. O 
que se busca, neste caso, é suprir eventuais lacunas existentes. Quando a lei for omissa, além 
de recorrer aos costumes e princípios jurídicos (noções já trabalhadas em tópicos anteriores), o 
juiz poderá se voltar para a analogia e a equidade. Na analogia, busca-se solucionar lacuna na 
legislação aplicando-se uma regra criada para caso semelhante. Contudo, nem todo ramo do 
Direito a admite. No caso do Direito Penal, a analogia não é possível quando implicar em 
tratamento menos favorável ao réu. 
Já a equidade envolve, como afirmava Aristóteles, um “aparar as arestas da lei” – visa 
suprir eventual imperfeição que torne sua aplicação excessivamente custosa ou danosa. Pode-
se afirmar que o juízo por equidade busca, na ausência de maior especificidade da norma, 
garantir sua aplicação racional e proporcional. A equidade ocupa espaço importante no campo 
da responsabilidade civil, em especial quando é necessário fixar valores de natureza 
indenizatória. 
A aplicação das normas jurídicas guarda profunda relação com a ideia de eficácia. 
Considera-se eficaz a norma que produza efeitos jurídicos concretos. A noção de eficácia, 
portanto, não se confunde com a noção de validade – uma norma jurídica pode, por exemplo, 
ser válida, mas ineficaz. Pensemos nas hipóteses em que costumes se sobreponham às normas 
jurídicas, situação na qual uma norma, ainda que válida, deixa de produzir efeitos. 
Quando se trata da noção de eficácia, vale atentar para algumas definições. Fala-se em 
eficácia social a efetiva aplicação da norma no âmbito social e coletivo. Já a eficácia jurídica 
corresponde à possibilidade da norma ser aplicada no caso concreto, gerando efeitos 
(MARTINS, 2022, p. 50). 
Também é preciso distinguir a eficácia no espaço e a eficácia no tempo. A eficácia no 
espaço se relaciona ao território em que será aplicada a norma. Assim, por exemplo, a legislação 
brasileira se aplica para todos os nacionais e estrangeiros que aqui residam. Já a noção de 
eficácia no tempo guarda relação com a ideia de vigência da lei. Em geral, uma lei entra em 
vigência (ou seja, poderá produzir efeitos jurídicos) a partir de sua publicação. Se não existe 
disposição expressa de quando entrará em vigência, consideram-se 45 dias depois de sua 
publicação (art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). Normalmente, as leis 
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estabelecem quando entrarão em vigência – normas com maior complexidade, que visam 
regulamentar um complexo de situações distintas, podem dispor que sua entrada em vigor 
ocorrerá no ano seguinte à sua publicação. O Código Civil de 2002, por exemplo, entrou em 
vigor somente em 2003. 
Salvo no caso de leis com vigência temporária, a lei vigorará até que outra a modifique 
ou revogue. Na aplicação da lei, portanto, é fundamental verificar se está vigente, se não foi 
revogada por outra lei. A revogação pode ocorrer de diferentes maneiras, sendo a mais comum 
quando uma nova lei regule a mesma matéria que a lei anterior, mas de forma distinta. Também 
é comum que a lei mais recente informe as disposições da lei anterior que ficam expressamente 
revogadas. 
Exceto nos casos onde haja expressa disposição em contrário, uma lei revogada não 
volta a ter vigência caso a lei que a revogou perca, ela própria, sua vigência. A este fenômeno 
dá-se o nome de repristinação, o qual, em regra, não existe em nosso ordenamento jurídico. 
A revogação de uma lei pode ser total (quando atinge todos os seus dispositivos, 
chamada ab-rogação) ou parcial (denominada derrogação). 
Importante frisar que a lei nova deverá respeitar o ato jurídico perfeito, o direito 
adquirido e a coisa julgada. Ato jurídico perfeito corresponde ao ato já consumado segundo a 
lei então vigente. Direito adquirido é aquele que integra o patrimônio jurídico do indivíduo, na 
medida em que o indivíduo já reúne todas as condições para seu exercício (por exemplo, as 
normas referentes à aposentadoria). Quanto à coisa julgada, diz respeito à decisão judicial na 
qual não caiba mais recurso. A lógica por trás destas regras é a de que a lei deve produzir efeitos 
para o futuro, Como tudo no Direito, há sempre algumas exceções: a lei poderá produzir efeitos 
no passado, desde que respeite princípios expressos na Constituição. Assim, por exemplo, no 
campo do Direito Penal, uma lei nova que descriminaliza certas condutas operará em benefício 
daqueles que eventualmente tenham sido condenados. 
 
3. Fato e ato jurídico 
 
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Determinados fatos do mundo poderão gerar efeitos jurídicos,na medida em que sofrem 
a incidência de normas. Pode-se afirmar que um fato jurídico será aquele fato juridicamente 
qualificado, ou seja, um evento que é qualificado pelo Direito (REALE, 2005, p. 200). 
Dentro da noção mais geral de fatos jurídicos (os fatos jurídicos em sentido lato), 
distinguem-se os fatos jurídicos em sentido estrito e os atos jurídicos. Os fatos jurídicos em 
sentido estrito envolvem um acontecimento natural, não volitivo, que gera efeitos jurídicos, 
constituindo, extinguindo ou modificando situações jurídicas. Assim, por exemplo, uma 
tempestade pode gerar alguns efeitos jurídicos – pensemos no dever de indenizar do dono de 
um cachorro que morde uma pessoa. Fatos naturais, como o nascimento e a morte, também 
terão implicações jurídicas 
Já os atos jurídicos são aqueles onde há o elemento volitivo presente. É onde há um 
processo deliberativo – como no caso dos negócios jurídicos (cujo principal exemplo são os 
contratos). Estudaremos mais para frente diferentes atos jurídicos, sejam eles lícitos ou ilícitos, 
regulados por diferentes ramos do Direito. 
 
4. Relação jurídica 
 
Diferentes fatos e atos poderão gerar relações jurídicas, na medida em que se inserem 
dentro de um contexto normativo. Para Miguel Reale (2005, p. 216), são necessários dois 
requisitos para se falar em uma relação jurídica: uma relação intersubjetiva (ou seja, um vínculo 
entre duas ou mais pessoas), e que este vínculo corresponda a uma hipótese normativa. É assim 
que muitas relações sociais, mas não todas, poderão ter efeitos jurídicos. Uma amizade ou um 
namoro, pura e simplesmente, não gerarão efeitos jurídicos. Contudo, conforme art. 1.723 do 
Código Civil, se esta união envolver a convivência pública, contínua e duradoura com o 
objetivo de constituir uma família, então teremos uma união estável, com os efeitos jurídicos 
correspondentes. 
A relação jurídica não decorre, necessariamente, da “vontade” dos indivíduos. Se, 
desatento, acabo me envolvendo em um acidente de trânsito, ainda assim entrarei em uma 
relação jurídica com os demais envolvidos, que implicará no dever de indenizar. 
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As relações jurídicas, para Reale, se caracterizam por quatro elementos centrais: 
a) Sujeito ativo: o titular ou beneficiário da relação; 
b) Sujeito passivo: o devedor da prestação principal; 
c) Vínculo de atributividade: é a “concreção da norma jurídica no âmbito do 
relacionamento estabelecido entre duas pessoas” (REALE, 2005, p. 2019). Em 
outras palavras, corresponde ao vínculo que permite aos indivíduos envolvidos o 
poder de exigir algo determinado ou determinável. Pode-se afirmar, ainda, que o 
vínculo de atributividade é o que confere o poder para se exigir algum direito ou 
praticar certo ato; 
d) Objeto: é o elemento em torno do qual a relação se constitui, a razão de ser do 
vínculo. Pode ser uma coisa (como um carro), uma prestação (como pagar R$ 100,00 
no dia X), ou então a própria pessoa (como no caso de direitos pessoais, como no 
caso das responsabilidades que o Direito estabelece aos pais na chamada “autoridade 
familiar”). 
Há diferentes tipos de relação jurídica, considerando sobretudo o ramo de Direito no 
qual estão inseridos. Pode-se falar em relações jurídicas de Direito Público e de Direito Privado. 
Há, ainda, relações de cunho pessoal, obrigacional e real. Aprofundaremos estas distinções 
quando estudarmos os diferentes ramos jurídicos. 
 
5. Sujeitos de direito, personalidade jurídica e capacidade 
 
Considera-se sujeito de direito toda pessoa que possa integrar uma relação jurídica. Na 
prática, qualquer pessoa física ou natural (ou seja, qualquer ser humano), ou ainda uma pessoa 
jurídica (um ente coletivo), são sujeitos de direito. Cuidado, portanto, para não confundir: 
sujeito de direito e pessoa jurídica não são a mesma coisa! 
Ser sujeito de direito implica ter personalidade jurídica – ou seja, a aptidão para ter 
direitos e deveres. Não sem razão, o art. 2º do Código Civil estabelece que “a personalidade 
civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os 
direitos do nascituro”. Contudo, nem todos terão a mesma capacidade jurídica, ou seja, a igual 
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Faculdade de Direito da UFMG 
DEPARTAMENTO DE DIREITO DO TRABALHO 
E INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
 
 
 
 
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possibilidade de exercer certos atos. É o caso dos menores de 16 anos, considerados 
absolutamente incapazes pelo Código Civil, e que precisam ser representados na prática de atos 
da vida civil. Maiores de 16 anos e menores de 18 são relativamente incapazes e assistidos na 
prática de atos civis, assim como outras categorias de indivíduos (como viciados em tóxico e 
os que não puderem exprimir sua vontade). Como afirma Miguel Reale, para explicar estas 
distinções, “a criança é uma pessoa que o Direito cerca de todo um complexo de garantias, 
que, pela natureza das coisas, não é confiado a ela mesma, mas a seus pais ou representantes: 
é um caso típico em que a capacidade de direito não é senão reflexo de uma incapacidade 
natural ou de fato” (REALE, 2005, p. 232). 
Do fato de constituirmos diferentes coletividades, que podem possuir um objetivo 
comum e que transcende o de seus integrantes específicos, surge a ideia de pessoa jurídica. Ela 
não é, certamente, algo físico e tangível, como uma pessoa natural (REALE, 2005, p. 233). Há 
diferentes teorias que buscam explicar a “natureza jurídica” destes entes coletivos, como a que 
as trata como uma “ficção jurídica”, ou então que se trata de “instituições”, dentre outras. De 
qualquer sorte, nos interessa, aqui, saber que há diferentes tipos de pessoa jurídica. Há pessoas 
jurídicas de Direito Público, como União, Estados, Municípios, autarquias etc. E também as 
pessoas jurídicas de Direito Privado, como diferentes tipos de empresas, corporações e 
fundações. 
 
Bibliografia de apoio: 
 
MARTINS, Sérgio Pinto. Instituições de direito público e privado. 19ª ed. São Paulo: 
SaraivaJur, 2022. 
 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 
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