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PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 1 LÍNGUA PORTUGUESA META 01 2 PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 3 Sumário Sumário .............................................................................................................................................................. 3 LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 ............................................................................................................ 5 1. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DIVERSOS TIPOS DE TEXTO .................................................... 5 1.1 Diretrizes para a interpretação de textos variados ..................................................................................5 1.2 Tipologia e Gêneros Textuais (Literário, Não Literário e Misto) ........................................................ 10 1.1.1 Texto Literário ........................................................................................................................................... 10 1.1.2 Texto Não-Literário ................................................................................................................................. 12 1.2.3 Texto Misto ................................................................................................................................................ 12 2. ORTOGRAFIA ............................................................................................................................................ 13 2.1 O alfabeto ........................................................................................................................................................... 14 2.1.1 Letras Y, K e W ......................................................................................................................................... 14 2.1.2 Letra H ......................................................................................................................................................... 14 2.1.3 Por que, por quê, porquê e porque ..................................................................................................... 15 2.1.4 Onde e Aonde ........................................................................................................................................... 16 2.1.5 Mal e Mau ................................................................................................................................................... 17 2.1.6 O uso do hífen ........................................................................................................................................... 17 2.1.7 Na sequência de palavras .................................................................................................................... 21 2.2 Os fonemas ........................................................................................................................................................ 21 2.3 Encontros vocálicos ......................................................................................................................................... 22 2.3.1 Ditongo ........................................................................................................................................................ 22 2.3.2 Tritongo ....................................................................................................................................................... 23 2.3.4 Hiato ............................................................................................................................................................. 23 3. ACENTUAÇÃO .......................................................................................................................................... 24 3.1 Regras básicas de acentuação ..................................................................................................................... 24 3.1.1 Oxítonas ...................................................................................................................................................... 24 3.1.2 Paroxítonas ................................................................................................................................................ 24 3.1.3 Proparoxítonas .......................................................................................................................................... 25 3.1.4 Casos especiais ......................................................................................................................................... 26 3.2 Acentos ............................................................................................................................................................... 26 4. FIGURAS DE LINGUAGEM...................................................................................................................... 27 4.1 Antítese ............................................................................................................................................................... 27 4.2 Elipse.................................................................................................................................................................... 28 4.3 Eufemismo .......................................................................................................................................................... 29 4.4 Hipérbole ............................................................................................................................................................ 29 4.5 Ironia .................................................................................................................................................................... 29 4.6 Metáfora .............................................................................................................................................................. 30 4.7 Personificação ou Prosopopéia.................................................................................................................... 30 4.8 Metonímia ........................................................................................................................................................... 31 4.9 Pleonasmo ......................................................................................................................................................... 31 PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 4 4.10 Paradoxo .......................................................................................................................................................... 32 4.11 Perífrase ........................................................................................................................................................... 32 4.12 Comparação .................................................................................................................................................... 33 4.13 Catacrese ......................................................................................................................................................... 33 4.14 Onomatopeia .................................................................................................................................................. 33 5. SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS PALAVRAS ........................................................................ 34 5.1 Denotação .......................................................................................................................................................... 34 5.2 Conotação .......................................................................................................................................................... 35 5.3 Polissemia e Monossemia .............................................................................................................................35 5.4 Formas Variantes ............................................................................................................................................. 36 5.4.1 Variações históricas (diacrônicas) ....................................................................................................... 37 5.4.2 Variações geográficas (diatópicas) ou REGIONALISMO ............................................................. 38 5.4.3 Variações sociais (diastráticas) ............................................................................................................ 38 5.4.4 Variações estilísticas (diafásicas) ........................................................................................................ 39 5.4.5 Preconceito linguístico ........................................................................................................................... 39 5.5 Arcaísmo e Neologismo ................................................................................................................................. 40 5.6 Estrangeirismo .................................................................................................................................................. 41 QUESTÕES PROPOSTAS .................................................................................................................................... 41 PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 5 LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 TEMAS DO DIA LÍNGUA PORTUGUESA Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários, não literários e mistos). Ortografia. Acentuação. Sinônimos e Antônimos. 1. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DIVERSOS TIPOS DE TEXTO 1.1 Diretrizes para a interpretação de textos variados As questões interpretativas têm como finalidade incentivar o leitor a associar diversos níveis e tipos de leitura. As mais utilizadas em concursos são as questões informativas e interpretativas. Vejamos: QUESTÕES INTERPRETATIVAS E INFORMATIVAS: são aquelas interpretadas por meio de informações diretamente extraídas acerca do conteúdo abordado pelo texto principal. Ou seja, incentivam e estimulam, por conseguinte, a memória visual do candidato. Uma dica importante para esses casos é destacar palavras-chave e resumir a ideia geral de cada parágrafo. ATENÇÃO! Nesse tipo de questão, a interpretação não é apenas subjetiva, pois o candidato precisa captar a essência do que é passado pelo texto. Em relação aos textos literários, por exemplo, muitas vezes se conectam com questões culturais, dialetos, manifestações artísticas, regionalismos, enfim, chamando a atenção do candidato para uma intertextualidade (quando um texto está extraído em outro). DICA! Prestar atenção, também, nas referências bibliográficas, no autor (fonte) e na legenda das fotos que ilustram o texto (se houver). Geralmente, a própria bibliografia fornece algumas dicas daquilo que se trata o texto. Sobre a importância da leitura, faz-se necessário entender: “Não há como desvincular a leitura da linguagem, já que ler é, propriamente, uma das formas de linguagem. A leitura permite a interação entre autor/falante-texto-leitor/ouvinte. [...] Quando se lê, PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 6 constroem-se significados a partir do que é lido. É preciso atentar, além disso, para o fato de que nem tudo o que o autor quer dizer está escrito/dito no texto, o que põe em foco os processos inferenciais empregados pelo leitor/ouvinte, os quais derivam de seus conhecimentos prévios, enciclopédicos e de mundo, permeados pelo contexto sociocultural. Nesse sentido, o leitor/ouvinte extrapola o texto para poder interpretar os significados ali presentes. Ele vai preenchendo os vazios do texto de acordo com suas experiências de leitura anteriores. Assim, na leitura, estão envolvidos elementos linguísticos, como letras, sílabas, palavras, estruturas e proposições, bem como as expectativas do leitor, sua interpretação e compreensão.”1 Aqui cabe a ideia de intertextualidade (INTER – dentro), ou seja, o diálogo, criação ou superposição de textos. É a composição textual com base em outra obra (poesia, romance, livro, enfim). Ocorre, geralmente, por meio de paródia ou paráfrase. Por exemplo: a) PARÓDIA: tipo de relação intertextual de imitação irônica, jocosa, cômica, caricata, com o propósito de satirizar um conteúdo. Causa riso ou zombaria. Pode ser de um texto literário, de um personagem ou de um tema, com propósitos irônicos ou cômicos. Aparece, também, como uma ruptura de ideias impostas previamente. Subversão de um tema já trabalhado por outro autor; Ideia de rompimento, desconstrução ou reconstrução; Promove uma reflexão e uma ideia de familiaridade com o tema, geralmente de conhecimento popular. 1 KILIAN, C.; FLÔRES, O. C. Leitura, interpretação e compreensão: uma visão pragmática. Linguagens & Cidadania, v. 14, p. 1-14, 2012. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 7 b) PARÁFRASE: é a reelaboração de um texto, reproduzindo-se ideias originais de um autor X com um toque pessoal do autor Y. Reforço do conteúdo; Cede lugar à voz de outro autor e uma obra passada; Intertextualidade das semelhanças entre textos; Reafirmação de um tema já trabalhado, mesmo que com estruturas, estilos, ideias e palavras diferentes. Exemplos: “Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá…” (Canção do Exílio, Gonçalves Dias) “Do que a terra mais garrida / teus risonhos, lindos campos têm mais flores / nossos bosques têm mais vida…” (Hino Nacional Brasileiro) “Moro num país tropical / Abençoado por Deus / e bonito por natureza…” (País Tropical, Jorge Ben Jor) Em relação aos significados dos textos: “A leitura não ocorre apenas quando o leitor estabelece elos lexicais, organiza redes conceituais no interior do texto, mas também quando o leitor busca, extratexto, informações e conhecimentos adquiridos pela experiência de vida, com os quais preenche os “vazios” textuais. O leitor traz para o texto um universo individual que interfere na sua leitura, uma vez que extrai inferências determinadas por contexto psicológico, social, cultural, situacional, dentre outros. Ler é compreender, é interagir, é construir significado para o texto. Quando se invoca a natureza interativa do tratamento textual, é preciso ter em mente todos os tipos de conhecimento que o leitor utiliza durante a leitura – conhecimentos e crenças sobre o mundo, conhecimentos de PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 8 diferentes tipos de texto, de sua organização e estrutura, conhecimentos lexicais, sintáticos, semânticos, discursivos e pragmáticos.”2 A interpretação de texto, assim, tem por finalidade o contexto ou ideia principal. Em seguida, o candidato precisa se ater às ideias secundárias (fundamentações) e possíveis argumentações (explicações e motivos). Dessa forma, chega-se ao esclarecimento do que é cobrado pela banca, sem fugas temáticas (extrapolação da ideia, subjetivismo excessivo). Para tanto, é preciso: a) Identificar elementos fundamentais do texto como argumentos e críticas, espaço-tempo, região, contexto cultural, etc. b) Comparar relações de semelhança ou de diferenças; c) Resumir as ideias principais e as secundárias; d) Desenvolver habilidades de parafrasear/paráfrase (ou seja, reescrever o texto com as suas próprias palavras). Pontos importantes para auxiliar o candidato com a interpretação de texto, os quais serão aprofundados nos próximos tópicos: conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros literários, logo a estrutura do texto); gramática; estilístico (são as qualidades do texto) e semântico; capacidade de observação (crítica) e de síntese (resumo); capacidade de raciocínio, etc. ATENÇÃO! Erros comuns a serem evitados para uma interpretação de texto eficiente. a) EXTRAPOLAÇÃO: ir muito alémdo que o texto propõe, criando situação que não são citadas ou não cabem no que é proposto pela banca. Nesse sentido, o candidato peca pelo uso da imaginação excessiva. b) REDUÇÃO: quando não se tem um foco geral sobre o texto, desenvolvendo um aspecto muito “pobre” ou reducionista das ideias apresentadas. 2 DELL‟ISOLA, Regina Lúcia Péret. Leitura: inferências e contexto sociocultural. Belo Horizonte: Formato, 2011. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 9 c) CONTRADIÇÃO: o candidato vai contra as ideias do texto, equivocando-se quanto aos argumentos defendidos pela questão. DICAS! a) Buscar sempre uma visão ampla sobre o texto; b) Não travar a leitura por conta de palavras ou expressões difíceis, mas não se esquecer de grifá-las para, em uma segunda ou terceira leitura, tentar compreendê-las por meio da técnica do “contexto”. Ou seja, mesmo sem compreender exatamente o sentido literal daquela palavra, buscar o que pode significar haja vista os demais elementos apresentados; c) Ler o texto mais de uma vez, já que a primeira leitura é, geralmente, muito cansada ou apressada; d) Ao longo da leitura, procurar aplicar o raciocínio de interpretação, chegando a conclusões que podem ajudar o candidato na hora de ler as perguntas (dedução); e) Se for necessário, voltar a trechos que não ficaram tão claros na mente do candidato (grifando, sempre que possível, o que não foi entendido de forma inicial); f) Sempre priorizar os posicionamentos do autor, mesmo se o candidato tiver uma opinião contrária; g) Verificar as perguntas de cada enunciado com calma, buscando compreender do que se pergunta; h) Compreender, também, as relações entre parágrafos (ou seja, se o texto é contraditório, se traz mais de uma ideia principal, se demonstra exemplos, se conta histórias harmônicas ou não, etc.). Aqui se busca continuidade, oposição, concordância entre ideias; i) Em cada parágrafo, grifar as ideias mais importantes ou que prevalecem mais no texto; j) Se possível, na hora da leitura das perguntas (enunciados), marcar se a banca deseja a resposta correta ou incorreta, evitando erros; PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 10 k) Muitas vezes a resposta pode estar na introdução ou conclusão do texto. TEXTO: fonte de ideias organizadas e relacionadas entre si. O leitor precisa possuir a capacidade de codificar e decodificar significados diversos presentes no texto. CONTEXTO: são as várias frases de um texto que, em conjunto, trazem uma ideia central e também ideias periféricas (ou secundárias) para o leitor. São informações, portanto, que se conectam entre si, estruturando um conteúdo a ser repassado, com uma finalidade específica (informativa, por exemplo). INTERTEXTO: na maioria dos textos, há a utilização de referências diretas ou indiretas a outros autores e obras, através de citações ou trechos específicos. Em alguns casos, o leitor deverá possuir uma bagagem prévia em relação a assuntos diversos. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO: por fim, a interpretação de um texto é a reflexão sobre ideia principal explicitada no conteúdo em questão. Não podemos esquecer, também, das ideias secundárias, argumentações, explicações, palavras-chave, críticas e frases importantes dentro do texto. É o conjunto de tudo que começa a fazer sentido a depender do que a questão deseja do candidato. 1.2 Tipologia e Gêneros Textuais (Literário, Não Literário e Misto) Tipologia (ou tipo) textual se refere a textos orais ou escritos com estruturas fixas e funções específicas. Exemplo: narrar um fato, descrever uma situação, contar uma história, ensinar uma matéria, enfim. Os tipos textuais, resumidamente, são classificações à estrutura linguística padrão segundo a qual o texto é produzido. Os gêneros textuais são a função específica de cada forma de comunicação. Aqui focaremos apenas em alguns, quais sejam: texto literário, texto não-literário e texto misto. ATENÇÃO! De modo a compreender o gênero textual de um caso específico, é necessário identificar quais características predominam. 1.1.1 Texto Literário PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 11 Esse tipo de texto expressa emoções (dor, medo, alegria, amor, etc.). Geralmente, está presente em romances e crônicas. Tem como principais características trazer para o leitor a FUNÇÃO POÉTICA E EMOTIVA. Ou seja, induz o leitor às mais diversas emoções e sentimentos. Utiliza-se de metáforas, ironias, eufemismos, etc. para compor sua estrutura; Foco mais subjetivo, pautado na imaginação do autor; Não tem compromisso com a realidade; Alguns recursos utilizados nesse tipo de texto são: a) MÍMESE: recriação ou imitação da realidade (reprodução artística); b) VEROSSIMILHANÇA: garante a relação com a verdade, pois se assemelha ao real; c) CATARSE: identificação do leitor com a obra. ATENÇÃO! Por conta de sua subjetividade, utiliza-se da linguagem conotativa, pois aparece em sentido figurado (apoia-se, portanto, em figuras de linguagem). Características do texto literário: Os fatos apresentados não são, necessariamente, reais. Se pauta na ficção, ou seja na simulação, fingimento, criação ou invenção de histórias, lugares, objetos, personagens, fantasias, enfim. Outras características são: FICCIONALIDADE: os fatos apresentados não são, necessariamente, reais (parcial ou totalmente). Se pauta na ficção, ou seja na simulação, fingimento, criação ou invenção de histórias, lugares, objetos, personagens, fantasias, enfim. FUNÇÃO ESTÉTICA: o autor tenta representar a realidade por meio da sua visão pessoal, trazendo aspectos relevantes em sua opinião. Foca não no real, mas na representação dele. Ainda, os textos literários são organizados em três gêneros: narrativo, lírico e dramático. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 12 Gênero épico ou narrativo: há a presença de um narrador. O narrador, nesse gênero, tem a função de contar uma história (com personagens, enredo, espaço e tempo). Algumas modalidades do gênero: épico; fábula; epopeia; novela; conto; crônica; ensaio; romance. Gênero lírico: predomina pronomes e verbos na 1ª pessoa; uso da musicalidade das palavras; expressa sentimentos e emoções; utiliza altamente a função poética da linguagem. Modalidades desse gênero: écloga; soneto; elegia; ode. Gênero dramático: voz narrativa dos personagens; história contada por meio de diálogos ou monólogos; Modalidades: comédia; tragédia; tragicomédia; farsa. 1.1.2 Texto Não-Literário Ao contrário do texto literário, este tipo apoia-se na FUNÇÃO REFERENCIAL. Sendo assim, busca explicar, esclarecer ou informar algo ao leitor. Transmite informações objetivas. É compreensivo, claro e direto. Geralmente tem sua linguagem na 3ª pessoa. São os textos que circulam nas esferas sociais, ou seja, seu objetivo é muito prático (instruir, expor, convencer, etc.). Há um compromisso com o real, sendo sua linguagem simples e objetiva. Exemplos: piadas escritas, mensagem de texto, notícias, reportagens, receitas, artigos científicos, cartas, e-mails, etc. Características: objetividade e clareza; Aplica-se o sentido literal da palavra ou expressão utilizada no texto; Função utilitária da comunicação; Ênfase no conteúdo; Evita multiplicidade de interpretações; Caráter eminentemente informativo. ATENÇÃO! Para este tipo de texto, é muito utilizada a linguagem denotativa (de dicionário, literal). 1.2.3 Texto Misto PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 13 O texto misto também é conhecido como híbrido, pois mescla a linguagem escrita e a imagem (ou seja, possui elementos verbais e não verbais). São muito utilizados em charges, histórias em quadrinhos (HQs), propagandas, tirinhas, filmes, propagandas, teatro, etc. LINGUAGEM FALADA + OUTROS CÓDIGOS 2. ORTOGRAFIA Pode ser definidacomo: “O sistema de representação convencional de uma língua na sua vertente escrita. A este sistema de representar a grafia de cada palavra chegam os estudiosos técnicos levando em conta a lição dos critérios fonéticos, fonológicos, morfológicos, sintáticos, etimológicos e de tradição cultural. Como esse sistema não deve ser entendido como a só representação da fala, não pode ter como guia exclusivo a fonética, nem tampouco a etimologia, isto é, a origem da palavra” (BECHARA, 2019, p. 97-983). A ortografia é a parte da fonologia que busca a correta grafia das palavras. Ainda, impõe os sons das letras do alfabeto; por essa razão, os vocábulos de uma língua são grafados segundo acordos ortográficos. Resumidamente, a ortografia (do grego orthós, correto, + graphê, escrita) é a parte da gramática que procura estudar a escrita correta das palavras. 3 BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed., rev. e ampl. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 14 ATENÇÃO! Ortografia oficial é a ortografia definida oficialmente no Brasil como correta. 2.1 O alfabeto O alfabeto é o conjunto de letras utilizado de modo a representar os idiomas na forma escrita. A língua portuguesa emprega o alfabeto latino, composto de 26 letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z. Agora vejamos suas regras: 2.1.1 Letras Y, K e W ATENÇÃO PARA O USO DAS LETRAS Y, K e W! 1. Nomes próprios estrangeiros e de seus derivados portugueses: Nova York, Will Smith, Kansas, etc; 2. Nas abreviaturas e símbolos de uso internacional: K (potássio), Kr (criptônio), Kg (quilograma), W (Watt), Km (quilômetro), etc; 3. Os derivados portugueses de nomes próprios estrangeiros devem ser escritos de acordo com as formas primitivas, por exemplo: kantismo, darwinismo, byroniano, taylorista, frankliniano, etc; 4. O K é substituído por QU antes de E e I; por C antes de qualquer outra letra. Exemplos: níquel, caqui, breque, etc; 5. O W é substituído, em palavras portuguesas ou aportuguesas, por U ou V, a depender do seu valor fonético. Exemplo: sanduíche. Sendo assim, Y, K e W são letras utilizadas apenas para abreviaturas e nomes próprios. 2.1.2 Letra H Em relação à letra H, não é considerada propriamente como uma consoante, mas um símbolo gráfico, em início e fim de vocábulo. Assim, na língua brasileira, não representa um fonema. É mantida por conta da etimologia de alguns vocábulos. a) INÍCIO DOS VOCÁBULOS (ETIMOLOGIA OU ORIGEM DA PALAVRA): herói, do latim heros; humano, do latim humanus; hipótese, do grego hupóthesis. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 15 b) NO FINAL DE ALGUMAS INTERJEIÇÕES: ah!; oh!; hã?. Não se escreve com H a interjeição de chamamento ou apelo “Ó”: Ó filho, pare com isso! (sem H) c) EM COMPOSTOS UNIDOS POR HÍFEN, QUANDO O SEGUNDO ELEMENTO É ESCRITO COM O “H” ETIMOLÓGICO: pré-histórico; super-homem; anti-higiênico. d) COMO INTEGRANTE DOS DÍGRAFOS “CH, NH, LH”: chuva; chaveiro; filha; folha; inhame. No topônimo BAHIA, é utilizado por mera TRADIÇÃO! 2.1.3 Por que, por quê, porquê e porque PORQUE (junto e sem acento): é usado em respostas e explicações, pois serve para indicar uma causa. Pode ser substituído por: pois; visto que; uma vez que; por causa de que; dado que, etc. Exemplo: Por que você saiu ontem? É uma conjunção subordinativa causal ou explicativa, unindo duas orações que dependem uma da outra para ter sentido completo. POR QUE (separado e sem acento): ocorre em dois casos; quando é usado para introduzir uma pergunta (tem natureza interrogativa, portanto) ou para estabelecer uma relação com algum termo antecedente à oração (natureza relativa). a) Por que interrogativo: inicia uma pergunta. Pode ser substituído, assim, por: por que motivo; por qual motivo; por que razão; por qual razão. Formado pela preposição por seguida do pronome interrogativo que. Exemplo: Por que você saiu de casa? Por que não posso sair? b) Por que relativo: utilizado como elo de ligação entre duas orações. É possível o substituir por: pelo qual; pela qual; pelos quais; pelas quais; por qual; por quais. Formado pela preposição seguida do pronome relativo “que”. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 16 Exemplo: Os motivos por que escolhi este concurso são vários. POR QUÊ (separado e com acento): usado em interrogações e possui o significado de “por qual motivo”, porém ocorre sempre no final da frase, sendo seguido de ponto de interrogação ou de um ponto final. Preposição + pronome interrogativo tônico quê. Exemplo: Você saiu por quê? PORQUÊ (junto e com acento): indica motivo ou causa. Assim, é comum que apareça próximo de artigos definidos (o, os) ou indefinidos (um, uns). Em alguns casos, está perto de um pronome ou numeral. É substantivo masculino e, portanto, é permitida a flexão em gênero, como “o porquê” e “os porquês”. Exemplo: Não sei o porquê de você ter saído ontem, estava muito tarde. POR QUE INÍCIO DE PERGUNTAS POR QUÊ? FINAL DE PERGUNTAS PORQUE PARA RESPOSTAS PORQUÊ FINALIDADE DE SUBSTANTIVO 2.1.4 Onde e Aonde Apesar de essas duas formas estarem corretas, são utilizadas em momentos distintos. São advérbios, ou seja, servem para modificar um verbo. ONDE: indica, sempre, o local/lugar em que algo ou alguém está. É empregado em verbos que indicam permanência (portanto, ausência de movimento, estabilidade). Exemplo: De onde ele veio? Onde você está? Onde você mora? AONDE: apesar de também indicar lugar, ao contrário do advérbio onde, indica movimento, impermanência. É sempre regido pela preposição “a” (a + onde). Exemplo: Aonde ela vai? Aonde você está indo tão cedo? PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 17 ONDE Ideia de lugar fixo AONDE Ideia de destino ou movimento 2.1.5 Mal e Mau A palavra “mau”, com U, tem sentido de adjetivo (o contrário de bom). Sua função é descrever algo ou alguém de forma negativa. Exemplos: Ele é um mau estudante; Ela está sempre de mau humor! Que mau exemplo! Já “mal”, com L, é empregado como um advérbio de modo (contrário de bem), um substantivo (sentido de tristeza) ou uma conjunção temporal (sentido de “quando”). Como advérbio, a palavra indica que algo não foi bem feito. Como substantivo, pode se referir à doença, tristeza ou problemas. Exemplos: Seu mal não tem cura; Mal cheguei, já precisei viajar de novo; Ela cozinha muito mal. MAL corresponde ao oposto de BEM MAU corresponde ao oposto de BOM 2.1.6 O uso do hífen O hífen é utilizado na formação de palavras por derivação prefixal; é um sinal gráfico complementar de união semântica. Seguindo a norma culta, o hífen aparece: NOS SUBSTANTIVOS COMPOSTOS PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 18 Mantido nas palavras compostas por justaposição (quando os radicais das palavras se juntam sem que haja alteração fonética), que constituam uma unidade sintagmática e semântica. Exemplos: anos-luz; tia-avó; cirurgião-dentista. a) Substantivos compostos, como matéria-prima; arco-íris; decreto-lei; guarda-chuva; segunda-feira. b) Topônimos compostos (nomes próprios de lugares) iniciados com os adjetivos grã, grão ou formas verbais: Grã-Bretanha; Grão-Pará. IMPORTANTE! Todos os outros topônimos não devem ser grafados com hífen, com exceção do nome do país Guiné-Bissau. c) Nomes de espécies botânicas e zoológicas: bem-te-vi; couve-flor; erva-doce; capim-açu; mico-leão dourado. d) Palavras com advérbios mal e bem, em que a segunda palavra seja iniciada por qualquer vogal ou a letra "h": mal-estar; bem-estar; mal-humorado; bem-humorado; bem-amado. As palavras compostas “benfeitor” ou “benfeito” perderam o hífen, virando uma única palavra. Porém, não esquecer que algumas palavras que se iniciam com o advérbio "bem",mantendo a ideia de composição, continuam empregando hífen, como nos casos: bem-criado e bem-nascido. e) Palavras com além, aquém, recém e sem: recém-nascido; além-fronteiras; sem-teto; além- túmulo; além-mar; recém-casado. ATENÇÃO! O hífen não é mais empregado para palavras compostas por justaposição que tenham perdido a noção de composição, como girassol, madrepérola, passatempo e paraquedas. NA DERIVAÇÃO PREFIXAL O hífen também é usado na formação de palavras por derivação prefixal. Lembrando que a derivação prefixal é um processo de formar palavras no qual um prefixo ou mais são acrescentados à palavra primitiva. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 19 Prefixos e falsos prefixos: aero; agro; anti; auto; arqui; circum; co; contra; des; entre; ex; hidro; hiper; in; inter; mini; pan; pós; pré; pró; pseudo; sub; semi; super; tele; ultra; vice. a) O prefixo do primeiro elemento terminar com a mesma vogal que inicia o segundo: arqui- inimigo; auto-observação; micro-ondas; semi-intensivo. Nas palavras iniciadas com o prefixo "co", o hífen não é usado, mesmo que o segundo elemento comece com a letra "o". Como em: cooperar; coordenar; coocupação. b) O segundo elemento iniciar com a letra “h”: pré-história; super-homem; anti-higiênico; extra-humano. Nas formações prefixais em que o prefixo termina em vogal e a segunda palavra começa com as consoantes R ou S, tais consoantes deverão ser repetidas. Exemplos: microrregião; antissocial; antirrugas; contrarreforma, etc. A depender da situação, após o prefixo "des" e "in", o hífen deixa de ser utilizado quando o segundo elemento da palavra perdeu a letra "h". Exemplos: desumano; desumidificar; inapto. c) Não há hífen - com consoantes r e s duplicadas: microrregião; antissocial; antirrugas; contrassenso; contrarreforma. d) Casos especiais: Prefixos sob e sub, além do h e do b, se utiliza emprega hífen quando a segunda palavra começa pela letra r: sub-bibliotecário; sub-base; sub-reino. Quanto ao prefixo co, se utiliza o hífen apenas quando a segunda palavra começa com a letra h. Vejamos: cooperar; coordenar; copiloto. ATENÇÃO! não se aplica a regra acima à palavra coabitar. Sobre os prefixos pró, pós e pré, o hífen é utilizado quando forem a) tônicos e b) autônomos da segunda palavra. Por exemplo: pós-graduação; pré-cozido; pós-moderno; pós-doutorado. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 20 Quando os prefixos pró, pós e pré a) forem átonos e b) não forem autônomos da segunda palavra, não há o emprego do hífen: prever; propor. Quando o prefixo do primeiro elemento for “circum” e “pan” e a primeira letra do segundo elemento for uma vogal ou as consoantes “h”, “m” ou “n”, segundo as palavras: pan-americano e circum-navegação. Os prefixos ex e vice sempre empregam o hífen: ex-diretor; ex-namorado; vice-presidente. Em casos em que o prefixo do primeiro elemento é “hiper”, “inter” e “super” e o segundo elemento for iniciado pela letra “r”: hiper-realismo; inter-racial; super-romântico. EM LOCUÇÕES Em qualquer tipo de locução o hífen deixou de ser empregado (ou seja, não é utilizado em locuções substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais). Exemplo: dia a dia; fim de semana; café com leite; à toa; à vontade; cão de guarda; cor de vinho; água de coco. NA COLOCAÇÃO PRONOMINAL Sempre utilizado para ligar os pronomes pessoais oblíquos átonos aos verbos; como colocação pronominal em mesóclise (meio do verbo) e ênclise (depois do verbo): Exemplos: esforçar-me-ei (mesóclise); convidaram-me (ênclise); calei-me. Lembrando que os pronomes oblíquos átonos são: me, te, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes. DIVISÃO SILÁBICA É usado em situações de divisão silábica. a-mor; mei-go; fan-ta-si-a. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 21 2.1.7 Na sequência de palavras O hífen é empregado para ligar duas ou mais palavras que, ocasionalmente, se combinam. São formados não vocábulos, mas encadeamento vocabulares, como: Rio-Niterói; Áustria-Hungria; Alsácia-Lorena, etc. 2.2 Os fonemas O alfabeto brasileiro define os sinais gráficos e quais sons representam. O alfabeto é formado pelas vogais (A, E, I, O, U) e pelas consoantes (B, C, D, F, G, em diante). O fonema é a menor unidade sonora do sistema fonológico de uma língua. Classificam-se em vogais, semivogais e consoantes. A fonologia estuda os sons que compõem cada palavra, já que a língua é, antes de tudo, um som. Os fonemas, nessa lógica, são sons emitidos pelos seres humanos, formando palavras para efetivar a comunicação. De acordo com Bechara (2019, p. 98): “A ortografia é o sistema de representação convencional de uma língua na sua vertente escrita. A este sistema de representar a grafia de cada palavra chegam os estudiosos técnicos levando em conta a lição dos critérios fonéticos, fonológicos, morfológicos, sintáticos, etimológicos e de tradição cultural. Como esse sistema não deve ser entendido como a só representação da fala, não pode ter como guia exclusivo a fonética, nem tampouco a etimologia, isto é, a origem da palavra. Toda língua de cultura que adotar exclusivamente um desses critérios perderá, entre outras, a possibilidade de distinguir palavras homófonas (passo a paço; cozer e coser), o que promoveria o caos na língua. Por isso, propor sistemas ortográficos é tarefa exclusiva de técnicos.” Os fonemas (sons) são: as vogais, as consoantes e as semivogais. Vejamos na classificação abaixo: a) VOGAIS (V): são conhecidos como os sons mais puros da fala, ou seja, fonemas pronunciados sem obstáculo à passagem de ar, chegando livremente ao exterior. São cinco: a, e, i, o, u. Exemplos: aceitou; quase; mel; pouco; mãe; mal. b) SEMIVOGAIS (SV): são os fonemas que se juntam a uma vogal, e acabam por formar uma só sílaba. São, na prática, os fonemas “i” e “u”, quando, ao lado de uma vogal autêntica, soam levemente e PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 22 sem a força de uma vogal. As letras “e”, “i”, “o” e “u”, quando formarem sílaba com uma vogal. As letras M e N, nos grupos AM, EM e EN, apenas no final de palavras. Exemplos: aceitou; quase; mel; pouco; mãe; mal. ATENÇÃO! Somente as vogais i e u podem se tornar semivogais se acompanhadas de vogais na mesma sílaba. Relembrando que sílaba é um ou mais fonemas pronunciados uma única vez, como “boca: bo-ca; duas sílabas”. Semivogal com o som de “i” é representada foneticamente pela letra Y; com som de “u”, pela letra W. c) CONSOANTES (C): (com + soante = soar com) são fonemas produzidos pela interferência de alguma barreira (língua, dentes, lábios) à passagem de ar. É qualquer letra ou o conjunto de letras representando apenas um som, com o auxílio de uma vogal. Exemplos: caderno; lâmpada. 2.3 Encontros vocálicos Encontros vocálicos são a junção de duas ou mais vogais dentro das palavras. Ou seja, são o agrupamento de vogais e semivogais, sem consoantes. Se dividem em: ditongo, tritongo e hiato. 2.3.1 Ditongo Pode ser definido como o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-versa), no momento da separação silábica. Ou seja, é o encontro vocálico em uma única sílaba; ao separar as sílabas, essas vogais NÃO SE SEPARAM! Exemplos: sau-da-de; dei-xe; a-mei-xa; peixe; quadra; sé-rie; Pás-coa; lei; bei-jo; meu. ATENÇÃO! O encontro vocálico ocorre quando duas ou mais vogais ou semivogais se encontram na mesma sílaba. Dão origem ao ditongo, tritongo e hiato. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 23 Os ditongos podem ser crescentes ou decrescentes. No ditongo CRESCENTE (de crescer), sua segunda vogal é a mais forte. Como em qua-se; goe-la; sa-gui. Já o ditongo DECRESCENTE ocorre quando a primeira vogal é a mais forte. Alguns exemplos: herói; boi; céu. 2.3.2 Tritongo Sequência que se forma comuma semivogal, uma vogal e uma semivogal, sempre na mesma ordem. Pode ser oral ou nasal. Vem do prefixo “tri”, três, e “tongo”, do grego “phthongos” (tom ou som). Logo, significa aquilo que tem três sons. a) ORAIS: o som passa apenas pela boca. Exemplos: Pa-ra-guai (UAI) Em-xa-guei (UEI) b) NASAIS: emitidos pela boca e fossas nasais Exemplos: Sa-guão (UÃO) 2.3.4 Hiato É um outro tipo de encontro vocálico (vogal + vogal). Surge do termo latim “hiatus”, que significa “abertura, fenda”. Já segundo a linguística, é o encontro de duas vogais na palavra, que na separação silábica ficam separadas. Exemplos: de-mo-cra-ci-a; te-a-tro; fi-el. Enquanto o hiato é o encontro de duas vogais na mesma palavra, porém em sílabas diferentes, o ditongo é o encontro vocálico em uma única sílaba. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 24 IMPORTANTE! Segundo a última reforma ortográfica, não mais se acentua o hiato oo(s) no final das palavras. Exemplos: voo(s), perdoo, abençoo. Já as palavras “álcool” e “alcoólico” são classificadas como proparoxítonas; no mais, os vocábulos “oo” não estão no final da palavra. Resumindo: os hiatos 'oo' e 'ee' não recebem mais acento. Como em: magoo; leem; veem; deem; creem. 3. ACENTUAÇÃO 3.1 Regras básicas de acentuação Algumas palavras da nossa língua têm acento gráfico e outras não. A acentuação tônica se relaciona à intensidade com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Então, a palavra que se dá de forma mais acentuada é conhecida como “sílaba tônica”. As demais, pronunciadas com menos intensidade, são as átonas. A depender de sua tonicidade, as palavras serão classificadas em: 3.1.1 Oxítonas Nas palavras oxítonas, a sílaba tônica (ou seja, a de maior entonação ou mais forte) recai sempre sobre a última sílaba. Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”, “o”, “em”, assim como os seus respectivos plurais: AS, ES, OS e ENS. A(S) – maracujá; sofá; vatapá; Pará. E(S) – café; ipês; filés; tripé. O(S) – avó; dominó; cipós. (ENS) – armazém; Belém; reféns; parabéns. 3.1.2 Paroxítonas PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 25 Para as palavras paroxítonas, a sílaba tônica recai na penúltima sílaba. Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em: I(S), US, R, X, N, L, UM/UNS, ÃO(S)/Ã(S), DITONGO, PS, ONS. Exemplos: caráter; mártir; fácil; réptil; látex; táxis; álbuns. L – amável, automóvel R – açúcar, repórter N – hífen, pólen I(is) – júri, lápis U(s) – vírus, bônus ONS – elétrons, prótons UM/UNS – fórum ÃOS – órfão, órfãos Ã(s) – órfã, órfãos PS – bíceps, fórceps DITONGO – sabiá, colégio DICA! Memorizar a palavra “LINURXÃO” as terminações das paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U (não esquecer do “UM” = fórum), R, X, Ã, ÃO. Também é possível memorizar a palavra “ROUXINOL”. 3.1.3 Proparoxítonas Já nas proparoxítonas, a sílaba tônica está na antepenúltima sílaba. Ou seja, a antepenúltima sílaba, nesses casos, é a tônica (mais forte). Importa lembrar que todas as proparoxítonas são acentuadas, independentemente de sua terminação. Aqui é a regra é única: sempre haverá acentuação! Exemplos: máquina; centímetro; êxtase; tráfico; vítima; gênesis; lâmpada; esdrúxula; médico; úmido; fábula. IMPORTANTE! PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 26 Alguns vocábulos possuem apenas uma sílaba e, por isso, recebem o nome de monossílabos. São acentuados quando tônicos e terminados em “a”(s), “e”(s) ou “o”(s). Alguns exemplos: A(S): pás, más, já, lá, gás E(S): fé, pés, lê, pés, mês, três O(S): vó, vô, nós, pó, dó, nó NÃO SE ACENTUAM OS MONOSSÍLABOS TERMINADOS EM: i(s), u(s), az, ez e oz. Por exemplo: bis, tu, nus, paz, vez, voz. 3.1.4 Casos especiais Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos abertos) eram acentuados antes. Porém, com a reforma ortográfica perderam o acento, desde que estejam em palavras paroxítonas. Por exemplo, nesse sentido, se os ditongos abertos estiverem em uma palavra oxítona (como herói) ou monossílaba (céu), ainda são acentuados: dói; escarcéu. 3.2 Acentos Acentos são notações léxicas empregadas sobre algumas vogais para indicar a sílaba tônica ou para indicar a fusão entre elas (BEZERRA, 2021, p. 644). Vejamos abaixo de quais acentos a língua portuguesa se utiliza: ATENÇÃO! Timbre aberto: /a/ tônico /é/, /ó/. Timbre fechado: /ê/, /ô/, /i/, /u/. Vogal reduzida: a língua está entre a aberta e a fechada. Vogal tônica é aquela em que recai o acento tônico da palavra, ou seja, a maior elevação da voz. a) AGUDO (´) é utilizado nas vogais “a, e, o” para empregar a tonicidade aberta; e nas vogais “i, u” para a tonicidade fechada. 4 BEZERRA, Rodrigo. Nova Gramática da língua portuguesa para concurso. 9. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2021. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 27 O acento agudo é colocado sobre as vogais e tem a função de indicar a sílaba tônica (aquela que tem o som mais forte na palavra). O acento agudo traz deixa a pronúncia da vogal de forma aberta. Exemplos: ÁGUA – SOFÁ – PIAUÍ – CIPÓS – BAÚ – JACARÉS – AÇAÍ – PALETÓ. b) CIRCUNFLEXO (^) é usado nas vogais “a, e, o”, para indicar o timbre fechado. Indica, assim, que a vogal deve ser pronunciada de forma fechada. Exemplos: VOCÊ – CAMELÔ – JUDÔ – CROCHÊ – BRITÂNICO – CORTÊS – CONSTÂNCIA. c) GRAVE (`) é usado exclusivamente para indicar o fenômeno da crase (contração ou fusão de a + a). Exemplos: À MEDIDA QUE - VAMOS À LOJA – QUERO IR À SUA CASA – À – ÀS – ÀQUELAS d) TIL (~): notação léxica aplicada para as vogais “a, o”. É representado por um traço sinuoso (em formato de “S” deitado). A função do til é deixar o som das letras A e O anasalado (nasal). Exemplos: CORAÇÃO – ÍMÃ – NÃO – OBRIGAÇÃO. e) TREMA (¨): não é mais utilizado. Porém, atentar para a exceção: é utilizado em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros, como aparece, por exemplo, na língua alemã. Em síntese... AGUDO: SOM DA VOGAL MAIS ABERTO; TIL: SOM ANASALADO; CIRCUNFLEXO: SOM FECHADO. 4. FIGURAS DE LINGUAGEM 4.1 Antítese PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 28 São termos opostos utilizados em uma mesma frase, sendo, portanto, pensamentos de sentido contrário. Essa figura de linguagem busca aproximar expressões opostas no intuito de demonstrar OPOSIÇÃO, intensidade, ponderação, enfim. Podem ser, também, Ideias que contrariam o senso comum. Exemplos: - “Eu estava entre a vida e a morte”; - “Faça sol ou chuva, estarei na festa”; - “No amor e na guerra vale tudo”; - “Naquele rosto tão feio e tão bonito...”; - “Relação amor e ódio...”. 4.2 Elipse Nessa figura de linguagem, há a omissão de uma palavra (ou várias) que, mesmo escondida, pode ser identificada pelo leitor. Ou seja, são expressão dispensáveis para a compreensão do contexto que se pretende passar. A elipse pode ser do sujeito, de verbos, preposições ou de conjunções. Exemplos: - “Comi uma fatia de torta” (eu – pronome); - “Sobre a mesa, um livro” (haver – verbo). PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 29 4.3 Eufemismo Essa figura é usada para atenuar uma ideia delicada ou grave de ser dita. Sendo assim, são palavras ou expressões empregadas para suavizar e atenuar o sentido de outras, reduzindo uma carga negativa, rude ou vulgar. Exemplo: - Ele passou dessa para uma melhor! (no lugar de faleceu); - Foi convidado a se retirar (expulso); - O depoente faltou com a verdade (mentiu); - Palavra de baixo calão (palavrão); - Terceira idade, melhor idade (velhice). 4.4 Hipérbole É uma expressão de EXAGERO INTENCIONAL usada para dar ênfase à alguma informação. Há finalidade ENFÁTICA e EXPRESSIVA. Exemplo: - Te liguei milhões de vezes, mas você não me atendeu; - Estou morrendo de fome; - Chorou um rio delágrimas; - Acabei de correr uma maratona na academia. 4.5 Ironia PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 30 É uma expressão usada para dar uma ideia contrária ao que se pensa, de forma proposital. Faz uma CONTRADIÇÃO daquilo que se quer dizer. Assim, o discurso acaba ganhando ênfase. Em algumas situações pode ter o significado de zombaria ou bom humor. Exemplos: - Que educado, bateu a porta com tanta força! - Aquela criança é tão calma, não parou nenhum minuto; - Parabéns pela prova, não tirou nem a nota mínima. 4.6 Metáfora Ocorre quando uma palavra tem o seu sentido emprego de forma diferente do habitual, tendo como base uma relação de SIMILARIDADE entre seu sentido próprio e os seu sentido mais profundo/subjetivo ou figurado. Assim, o nome de algo passa a ter um outro significado, como uma relação de comparação. Importante pontuar que os significados propostos na metáfora, portanto, não são literais. Exemplos: - Você é um sol em minha vida! - Aquela menina é um doce. - Minha boca é um túmulo! - A vida é um rio que anda para frente. 4.7 Personificação ou Prosopopéia Acontece quando animais ou seres inanimados (sem vida, como objetos) recebem atribuições humanas. Sentimentos, comportamentos e ideias humanas são transferidas para esses seres por meio da PERSONIFICAÇÃO (criação de uma personalidade). Assim, essa figura é muito utilizada em desenhos animados ou contos de fantasia. Tem como intuito deixar a comunicação mais dramática. Exemplo: - A formiga disse para a cigarra... PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 31 - O cravo brigou com a rosa. - Para o dia nascer feliz. - O rio corria pela montanha. - A árvore olhava as crianças brincando. - A lua sorria para o mar. 4.8 Metonímia Palavra utilizada com um sentido diferente do seu habitual (fora do seu contexto semântico normal). Também pode ser uma PARTE da coisa utilizada para representar o seu TODO. Ou o EFEITO pela CAUSA (e vice-versa). Matéria-prima pelo objeto. Singular pelo plural. Assim, é a substituição lógica de uma palavra por outra de sentido semelhante, com a qual se mantém uma relação de proximidade. Exemplos: - Gosto de tomar Danone (iogurte); - Estava lendo Drummond (autor pela obra); - Bebemos duas garrafas de vinho (matéria-prima pelo objeto que a contém); - Devolva o Neruda que você me tomou (livro); - Pão para quem tem fome (alimento); - Não tinha teto (residência); - Sócrates tomou a morte (o veneno representado pelo efeito de morrer). 4.9 Pleonasmo Redundância com a finalidade de REFORÇAR UMA MENSAGEM. Assim, há a repetição clara de uma palavra ou conceito, sendo o seu uso para ENFATIZAR ou INTENSIFICAR o que está sendo dito. A expressão é REDUNDANTE. É, portanto, o uso excessivo de palavras para transmitir uma ideia. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 32 ATENÇÃO! O pleonasmo literário (ou tradicional) é uma figura de linguagem. Já o pleonasmo vicioso é um vício de linguagem (por desconhecimento ou falta de atenção da norma culta). Exemplos de pleonasmo vicioso: subir para cima, sair para fora, descer para baixo, andar com os pés, cego dos olhos, amigo pessoal, repetir de novo, elo de ligação, gritar bem alto, dupla de dois, hemorragia de sangue, etc. Exemplos: - Detalhes tão pequenos de nós dois; - E rir meu riso; - Quem é a viúva do falecido? - A mim resta-me a derrota. 4.10 Paradoxo Une conceitos opostos para dar sentido lógico utilizando palavras em oposição. Contrasta ideias entre termos. São significados aparentemente absurdos e fantasiosos. Contraria a lógica. São ideias que, mesmo opostas e se excluindo mutuamente, fazem algum sentido no contexto. Geralmente tem um significado mais literário, conotativo. ATENÇÃO! A antítese usa palavras de sentidos opostos do mesmo período, como viver e morrer. Já o paradoxo é um tipo de declaração contrária à opinião dominante (ou princípio tido como válido). Exemplo: "estou cego, mas consigo enxergar". Exemplos: - Eu sonho acordado; - Estamos vivendo uma guerra fria; - É ferida que dói e não se sente; - É um contentamento descontente. 4.11 Perífrase Utiliza uma expressão para mostrar características ou atributos de uma pessoa, lugar, objeto, fato, enfim. Assim, há uma substituição por uma expressão que lhe resume. Essa expressão designa algo ou alguém através de uma característica própria ou atributos. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 33 Exemplos: - O País do Carnaval (Brasil); - O Rei do Futebol (Pelé); - A Cidade Maravilhosa está muito violenta (Rio de Janeiro); - A Veneza Brasileira (Recife); - Vou ao show do Rei (Roberto Carlos). 4.12 Comparação É a comparação entre dois elementos por meio de suas características comuns (determinadas semelhanças). Na maioria dos casos se emprega uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa (como tal, tal qual, assim como, etc.). Usada para demonstrar qualidades ou ações de elementos. Exemplos: minha mãe é corajosa como uma leoa; elegante tal qual uma princesa. DIFERENÇAS ENTRE COMPARAÇÃO E METÁFORA: a comparação, ao contrário da metáfora, está sempre acompanhada de um comparativo. Maria é uma flor (metáfora); Maria é como uma flor (comparação). 4.13 Catacrese Catacrese é uma figura de linguagem que representa palavra ou expressão empregada com sentido alterado, ou seja, fora do seu significado real. Facilita a comunicação quando a palavra científica ou formal não é de conhecimento das pessoas. É um tipo de metáfora de uso comum cristalizada e popularizada com o tempo (desgastada pelo uso excessivo). Exemplos: manga da camisa; céu da boca; bico do avião; pé da mesa; dente de alho; batata da perna; cabeça do prego; braço da poltrona; maçãs do rosto; asa da xícara; braço de rio. 4.14 Onomatopeia É a formação de palavras pela imitação de ruídos ou sons naturais. Algumas onomatopeias são muito comuns e facilmente identificadas no dia a dia. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 34 Exemplo: miado de gato (miau); latido de cão (auau); som do relógio (tictac); buzina (bibi); espirro (atchim). 5. SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS PALAVRAS 5.1 Denotação O sentido DENOTATIVO das palavras é também aquele dos dicionários, sendo conhecido também como sentido verdadeiro, real, objetivo. FINALIDADES DA DENOTAÇÃO transmitir a mensagem de forma clara e objetiva. Muito utilizada em: jornais, manuais, artigos científicos, etc. Exemplos: - Esse animal é vertebrado; - O pássaro voava pelo céu. DICA! Denotação e Dicionário: já que é uma definição literal (sentido de dicionário). DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO Sentido real, de dicionário. Sentido figurado. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 35 Palavra com sentido literal. Palavra extrapola os sentidos comuns. Função referencial. Função poética. 5.2 Conotação Já o uso CONOTATIVO ocorre com a aplicação de um sentido figurado, fantasioso, subjetivo e totalmente dependente de um contexto. Por exemplo: essa gata é muito manhosa (animal, uso denotativo). A menina é uma gata (muito bonita, uso conotativo). A) SENTIDO CONOTATIVO Geralmente os textos literários utilizam a base conotativa, para incentivar a imaginação do leitor. Há a aplicação de palavras com sentidos polissêmicos (muitos significados). Uma palavra é usada no sentido denotativo quando está escrita em seu significado original, independentemente do contexto. Assim, tem-se o significado mais literal da palavra. FINALIDADES DA CONOTAÇÃO aplicação de significados diversos, sujeitos a interpretações com base no contexto. São ideias que vão além do sentido original da palavra. Assim, tem-se um sentido figurado e simbólico. Busca provocar sentimentos no receptor da mensagem. Utilizada na linguagem poética e em textos de literatura,assim como em letras de música, em anúncios publicitários, etc. Exemplos: - Você é a luz da minha vida! (grande afeto por alguém). - Ele tem um coração de gelo (pessoa fria). - Maria quebrou a cara (se decepcionou). - O carro voava pelas ruas da cidade. 5.3 Polissemia e Monossemia PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 36 A POLISSEMIA consiste na atribuição de vários significados a uma unidade lexical. MONOSSEMIA é quando a unidade lexical tem um único significado. Diferem-se, portanto, pois a POLISSEMIA é um processo de divergência semântica; sendo assim, a mesma palavra original tem novos significados. No dicionário, é comum que todos eles apareçam. Já a MONOSSEMIA ocorre quando várias palavras originam de uma mesma forma lexical, mas os significados são diferentes. POLISSEMIA grande número de significados em uma só palavra, a depender do contexto no qual é utilizada. Exemplos: - Ele usa um chapéu na cabeça (parte do corpo humano). - João é o cabeça da facção (líder). - Não conseguiu bater na cabeça do prego (parte do prego). MONOSSEMIA possui apenas um único sentido, ou seja, são palavras que têm apenas um significado. Geralmente são palavras mais técnicas ou científicas. Exemplos: - Logaritmo; - Decalitro; - Estetoscópio. A homonímia está relacionada com palavras com mesma pronúncia e/ou mesma grafia; porém, com significados diferentes. 5.4 Formas Variantes São palavras que apresentam mais do que uma grafia correta, mas não há alteração no sentido. Há uma forma preferencial, mais socialmente aceita ou mais usada pelos falantes; Contudo, todas as formas são corretas. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 37 EXEMPLOS MAIS COMUNS DE FORMAS VARIANTES: abdome e abdômen; amídala e amígdala; arrebentar e rebentar; assobiar e assoviar; assoprar e soprar; bêbado e bêbedo; câmera e câmara; caminhão e camião; carroçaria e carroceria; catorze e quatorze; catucar e cutucar; chipanzé e chimpanzé; cociente e quociente; contato e contacto; cota e quota; cotidiano e quotidiano; debulhar e desbulhar; degelar e desgelar; delapidar e dilapidar; demonstrar e demostrar; dezenove e dezanove; dezesseis e dezasseis; dezessete e dezassete; diabete e diabetes; dourado e doirado; embaralhar e baralhar; enfarte e infarto; entonação e entoação; entretenimento e entretimento; espargos e aspargos; estalar e estralar; este e leste; geringonça e gerigonça; germe e gérmen; hidrelétrico e hidroelétrico; homilia e homília; imundícia, imundície e imundice; intrincado e intricado; louça e loiça; louro e loiro; maquiagem e maquilagem; marimbondo e maribondo; mobiliar, mobilhar e mobilar; neblina e nebrina; nenê e neném; percentagem e porcentagem; projétil e projetil; rastro e rasto; registro e registo; relampear e relampejar; remoinho e redemoinho; selvageria e selvajaria; sobressalente e sobresselente; súdito e súbdito; surrupiar e surripiar; taberna e taverna; terremoto e terramoto; tesouro e tesoiro; tríade e tríada; xérox e xerox. 5.4.1 Variações históricas (diacrônicas) Mudanças ocorridas na língua (variações diversas) com o decorrer do tempo. Exemplo: pronome de tratamento “você”. Depende das diferentes épocas vividas pelos falantes. Atualmente a diferença é clara entre o português arcaico e o português moderno. Muitas palavras também ficam em DESUSO. Português arcaico “vossa mercê” e, posteriormente, “vosmecê”. Em contextos informais “cê” ou, na escrita informal, “vc”.* *fora da norma culta PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 38 EVOLUÇÃO DA PALAVRA “VOCÊ” AO LONGO DO TEMPO: Vossa mercê → Vosmecê → Você → Cê Há também as mudanças de grafia com as reformas ortográficas. Por exemplo, a partir de 2016, algumas palavras passaram a serem escritas sem trema (como consequência). Na reforma ortográfica de 1911 a palavra fase era escrita com “ph” (“phase”). 5.4.2 Variações geográficas (diatópicas) ou REGIONALISMO É a variante regional (REGIONALISMO). São diferenças devido à região do país e os impactos geográficos em seus falantes, por questões meramente culturais. Ou seja, no Brasil há diversas diferenças de léxico (que são palavras) ou de fonemas (os sons e sotaques). Alguns exemplos: “Mandioca”, “aipim” e “macaxeira” para a mesma referência de alimento. Ou ainda “oxe”; “bah”; “tri”. Influência do espaço físico ou LOCAL dos falantes: países, regiões, estados, cidades, zona rural, zona urbana, zonas periféricas, etc. 5.4.3 Variações sociais (diastráticas) As variações sociais seguem o grupo social do falante. Na variação social a gíria segue, principalmente, a faixa etária do falante (linguagem informal dos mais jovens). No entanto, há expressões informais ligadas a grupos sociais específicos, a depender do seu nicho. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 39 Exemplo: surfistas, capoeiristas, futebolistas, médicos, advogados, enfim. As profissões também influenciam as variações sociais por meio dos termos técnicos (jargões). Predominam fatores relacionados à faixa etária, profissão, estrato social, etc. 5.4.4 Variações estilísticas (diafásicas) Linguagem formal e informal, adequação à norma-padrão ou despreocupação com seu uso. a) Expressões rebuscadas e o respeito às normas-padrão do idioma = linguagem culta (oposta à linguagem mais coloquial/familiar); b) As variações estilísticas respeitam a situação da interação social, levando-se em conta ambiente e expectativas dos interlocutores. São estilos (formal ou informal) empregados a depender da situação. Em uma entrevista de emprego, o uso mais comum é o formal. Em uma conversa entre amigos, linguagem informal com gírias e jargões (“tipo isso”; “pô”; “meu”; “caraca”). 5.4.5 Preconceito linguístico É a discriminação entre os falantes de um mesmo idioma. Nessa situação, não há respeito pelas variações linguísticas (formas de falar e escrever), estando algumas hierarquicamente sobrepostas a outras, por parâmetros sociais. A causa fundamental do preconceito linguístico é a utilização da língua por parte das elites econômicas, políticas e intelectuais como forma de PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 40 dominação para oprimir a classe mais pobre e manter a segregação social, ou seja, é uma ferramenta de exclusão (BAGNO, 2007).5 “As variações estilísticas remetem ao contexto que exige a adaptação da fala ou ao estilo dela. Aqui entram as questões de linguagem formal e informal, adequação à norma-padrão ou despreocupação com seu uso. [...] As variações estilísticas respeitam a situação da interação social, levando-se em conta ambiente e expectativas dos interlocutores. Tendo tantas variações e nuances, pudemos ver que cada contexto social traz naturalmente um modo mais ou menos adequado de expressão, sendo importante entender que as variações linguísticas existem para estabelecer uma comunicação adequada ao contexto pedido. Apesar disso, as diversas maneiras de expressar-se ganham status de maior ou menor prestígio social baseado em uma série de preconceitos sociais: as variações linguísticas ligadas a grupos de maior poder aquisitivo, com algum tipo de status social, ou a regiões tidas como “desenvolvidas” tendem a ganhar maior destaque e preferência em relação às variedades linguísticas ligadas a grupos de menor poder aquisitivo, marginalizados, que sofrem preconceitos ou que são estigmatizados. Desenvolve-se, assim, o preconceito linguístico, que se baseia em um sistema de valores que afirma que determinadas variedades linguísticas são “mais corretas” do que outras, gerando um juízo de valor negativo ao modo de falar diferente daqueles que se configuram como os “melhores”. O preconceito linguístico nada mais é do que a reprodução, no campo linguístico, de um sistema de valores sociais, econômicos e culturais. No entanto, ao estudarmos asvariações linguísticas, percebemos que não há uma única maneira de expressar-se e que, portanto, não há apenas um modo certo. A língua e sua expressão variam de acordo com uma série de fatores. Antes de tudo, ela deve cumprir seu papel de expressão, sendo compreendida pelos falantes e estando adequada aos contextos e às expectativas no ato da fala. Dessa forma, o ideal do preconceito linguístico, que gera juízo de valor às diferentes variações linguísticas, não deve ser alimentado.”6 5.5 Arcaísmo e Neologismo O arcaísmo pode ser visto como o modo de falar ou de escrever de forma antiquada, seja por gosto ou imitação. Assim, é uma tendência para empregar vocábulos ou expressões arcaicas. Os ARCAÍSMOS LINGUÍSTICOS são palavras ou expressões que caíram em desuso, mas que não foram extintas dos dicionários: ceroula, alcaide, vosmecê, à guisa de etc. 5 BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49ª. ed. São Paulo: Loyola, 2007. 186 p. ISBN: 85- 15-01889-6. 6 VIANA, Guilherme. Variações linguísticas. Mundo Educação. 2022, online. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 41 O ARCAÍSMO LITERÁRIO é encontrado em obras literárias. Pode ser utilizado de maneira proposital, com a intenção de conferir rebuscamento e imponência. ATENÇÃO! O arcaísmo é o contrário do neologismo (fenômeno que confere à língua possibilidades de renovação). Em relação ao NEOLOGISMO, vem de NEO (novo). É o processo de criação de uma nova palavra na língua. Ocorre principalmente devido à necessidade constante de se desenvolver novos conceitos (na tecnologia, arte, economia, esportes, enfim). UTILIZAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS, COMPOSTAS A PARTIR DE OUTRAS QUE JÁ EXISTEM (DO MESMO IDIOMA OU NÃO). ATRIBUIR NOVOS SIGNIFICADOS (OU SENTIDOS) A PALAVRAS QUE JÁ EXISTEM NA LÍNGUA. Um neologismo é criado através de processos diversos como: justaposição, aglutinação, prefixação, sufixação, abreviação, importação de vocábulos existentes em uma outra língua ou ainda, através de um novo sentido dado a uma palavra já existente. Exemplos: sextar; niver; refri. 5.6 Estrangeirismo É uma linguagem de origem estrangeira. Influência cultural por um país, cultura ou nação sobre outro, popularizando palavras e expressões. Uso de uma palavra estrangeira que não tenha correspondência na língua portuguesa, como: check-in; site; internet; blog; buffet; drink; motoboy; layout; ticket; download; milkshake; fast- food; hot-dog; OK; delivery; marketing. QUESTÕES PROPOSTAS 1- FCC - 2022 - TRT - 23ª REGIÃO (MT) - Técnico Judiciário - Área Administrativa PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 42 Atenção: Para responder à questão, considere o poema do escritor mato-grossense Manoel de Barros. O eu lírico recorre à figura de linguagem denominada metonímia em: A) “O lugar onde a gente morava quase só tinha bicho” (verso 1) B) “Ela tocava para nós Vivaldi.” (verso 42) C) “A gente se sentia como um pedaço de formiga perdida” (verso 23) D) “Ah, o pai! O pai vaquejava e vaquejava.” (verso 12) E) “A mãe aflitíssima estava.” (verso 37) COMENTÁRIOS A, B, C, D e E- A metonímia se trata da associação semântica que permite substituir um termo por outro baseado em uma relação lógica de “contiguidade”, “pertinência”, “continência”, PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 43 “interdependência”, “causalidade”, “implicação”, enfim, uma extensão semântica e lógica que permite tomar um termo por outro. Quando cita-se “Ela tocava para nós Vivaldi”, o narrador demonstra que ela tocava, na verdade, uma composição de Vivaldi. Letra B 2) FCC - 2022 - TRT - 22ª Região (PI) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal Atenção: Para responder à questão, leia o texto de John Gledson. Na década de 1880, Machado de Assis publicou cerca de oitenta contos, numa espantosa explosão de criatividade, que também rendeu seu primeiro grande romance, Memórias póstumas de Brás Cubas (1880) Como isso aconteceu − por que aconteceu, e por que nesse momento? Nada é mais difícil de explicar do que a explosão de um gênio criador − e não devemos duvidar que é disso que se trata. Contos podem parecer fáceis, escritos algo apressadamente como uma espécie de subproduto de um trabalho mais sério ou até como sintomas de uma incapacidade passageira de empreender “obras de maior tomo” (palavras de Dom Casmurro), mas nada está mais longe da verdade. Contos não são romances imperfeitos − existem com seus direitos próprios, e quando Machado começou a escrever os seus melhores, o gênero estava conquistando uma nova dignidade. O traço mais importante de seus contos é a ironia, com frequência fixada por um estilo que muitas vezes emprega certo registro de linguagem a fim de estabelecer, desde a primeira palavra, que nada ali é para ser levado inteiramente a sério, que aquilo não é a fala direta do autor: “A coisa mais árdua do mundo, depois do ofício de governar, seria dizer a idade exata de Dona Benedita”. Machado podia parodiar qualquer tipo de linguagem, da Bíblia à dos jornais (essa, de fato, era a que satirizava com mais frequência). No começo dos anos 1880, Machado não só estabelecera seu direito a falar do universo, mas também principiara a fazer o retrato da sociedade brasileira sob uma luz inteiramente nova. Os romances bem-educados dos anos 1870, que elevavam a vida social, deram lugar à sátira selvagem de Memórias póstumas de Brás Cubas, que mostrava realidades − adultério, prostituição, escravatura, o tratamento dado aos agregados − com uma nitidez e uma cólera inteiramente impossíveis alguns anos antes. Uma coisa é certa: a expansão do material possível de Machado e o distanciamento irônico que ele adota são inseparáveis. Digamos assim: se ele não tivesse encontrado modos dos mais PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 44 variados (irônicos, sarcásticos, mas sempre semiocultos) de se expressar a respeito de coisas sobre as quais não devia falar, ou às quais só podia se referir de soslaio, suas histórias jamais teriam existido; podemos sentir sua satisfação quando se aproxima de outra questão espinhosa e acaba encontrando novas maneiras de falar sobre coisas demasiado embaraçosas para mencionar diretamente. Na minha opinião, isso ajuda a explicar o êxito de seus contos − Machado caminhava no fio da navalha. (Adaptado de: GLEDSON, John. Trad. Fernando Py. In: 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital) “A coisa mais árdua do mundo, depois do ofício de governar, seria dizer a idade exata de Dona Benedita”. No trecho acima, o narrador recorre à seguinte figura de linguagem: A) pleonasmo. B) hipérbole. C) personificação. D) antítese. E) eufemismo. COMENTÁRIOS A, B, C, D e E- A hipérbole é uma expressão intencionalmente exagerada, que possui intuito de realçar alguma ideia. Assim, ao dizer que a tarefa mais árdua do mundo seria “dizer a idade exata de Dona Benedita”, estamos diante de um exagero intencional. Letra B 3) FCC - 2022 - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Técnico Judiciário - Área Administrativa Atenção: Para responder à questão, leia o poema de Paulo Leminski. Bem no fundo No fundo, no fundo, bem lá no fundo, PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 45 a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela — silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos a passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas. (LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013) PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 46 O autor recorre à personificação no seguinteverso: A) maldito seja quem olhar para trás B) de ver nossos problemas C) lá pra trás não há nada D) saem todos a passear E) aquela mágoa sem remédio COMENTÁRIOS A, B, C, D e E- Ao dizer que “saem todos a passear”, o autor cita os problemas e os probleminhas, personificando-os. A personificação atribui sensações, sentimentos, comportamentos ou seja características humanas, em seres animados, como animais e seres inanimados, como substantivos, exemplo da assertiva correta. Letra D 4) FCC - 2022 - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Técnico Judiciário - Área Administrativa Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo. O animal humano, que é parte da natureza e que dela depende, não se resignou a viver para sempre à mercê dos frutos espontâneos da terra. O desafio que desde logo se insinuou foi: como induzir o mundo natural a somar forças e multiplicar o resultado do esforço humano? Como colocá- lo a serviço do homem? O passo decisivo nessa busca foi a descoberta, antes prática que teórica, de que “domina-se a natureza obedecendo-se a ela”. A sagacidade do animal humano soube encontrar nos caminhos do mundo como ele se põe (natura naturans: “a natureza causando a natureza”) as chaves de acesso ao mundo como ele pode ser (natura naturata: “a natureza causada”). Processos naturais, desde que devidamente sujeitos à observação e direcionamento pela mão do homem, podiam se tornar inigualáveis aliados na luta pelo sustento diário. Em vez de tão somente surpreender e pilhar os seres vivos que a natureza oferece para uso e desfrute imediato, como fazia o caçador-coletor, tratava-se de compreender suas regularidades, acatar sua lógica, PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 47 identificar e aprimorar suas espécies mais promissoras e, desse modo, cooptá-los em definitivo para a tarefa de potencializar os meios de vida. Se a realidade designada pelo termo civilização não se deixa definir com facilidade, uma coisa é certa: nenhum conceito que deixe de dar o devido peso a essa mudança na relação homem-natureza poderá ser julgado completo. A domesticação sistemática, em larga escala, de plantas e animais deu à humanidade maior segurança alimentar e trouxe extraordinárias conquistas materiais. Mas ela não veio só. O advento da sociedade agropastoril teve como contrapartida direta e necessária uma mudança menos saliente à primeira vista, mas nem por isso de menor monta: a profunda transformação da psicologia temporal do animal humano. A domesticação da natureza externa exigiu um enorme empenho na domesticação da natureza interna do homem. Pois a prática da agricultura e do pastoreio implicou uma vasta readaptação dos valores, crenças, instituições e formas de vida aos seus métodos e exigências. Entre os acontecimentos da história mundial que modificaram de maneira permanente os hábitos mentais do homem, seria difícil encontrar algum que pudesse rivalizar com o impacto da transição para a sociedade de base agrícola e pastoril em toda a forma como percebemos e lidamos com a dimensão temporal da vida prática. (GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital. Adaptado) Considerando as ideias expostas no texto, constitui um aparente paradoxo o que se encontra em: A) domina-se a natureza obedecendo-se a ela (1° parágrafo) B) que é parte da natureza e que dela depende (1º parágrafo) C) a prática da agricultura e do pastoreio implicou uma vasta readaptação dos valores (3° parágrafo) D) tratava-se de compreender suas regularidades, acatar sua lógica (2° parágrafo) E) A domesticação sistemática, em larga escala, de plantas e animais trouxe extraordinárias conquistas materiais. (2° parágrafo) COMENTÁRIOS A, B, C, D e E- O paradoxo é um contraste de ideias, isto é, em que há oposição, além de conter em si uma contradição, uma incoerência, por apresentar elementos que se contradizem. Portanto, não basta haver oposição na ideia expressa, os elementos contrastantes precisam também ser contraditórios. É o que se depreende quando se diz que “domina-se a natureza obedecendo-se a ela”. Dominar significa ter autoridade sobre algo, ter controle. Já a obediência significa submissão a algo, acatar ordens, o que aponta portanto, a oposição entre ambos. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 48 Letra A 5) FCC - 2022 - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Analista Judiciário - Área Judiciária - Especialidade: Oficial de Justiça Avaliador Federal Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 1 Antigamente, se morria. 1907, digamos, aquilo sim é que era morrer. Morria gente todo dia, e morria com muito prazer, já que todo mundo sabia que o Juízo, afinal, viria, e todo mundo ia renascer. Morria-se praticamente de tudo. 10 De doença, de parto, de tosse. E ainda se morria de amor, como se o amar morte fosse. Pra morrer, bastava um susto, um lenço no vento, um suspiro e pronto, lá se ia nosso defunto para a terra dos pés juntos. Dia de anos, casamento, batizado, morrer era um tipo de festa, uma das coisas da vida, 20 como ser ou não ser convidado. O escândalo era de praxe. Mas os danos eram pequenos. Descansou. Partiu. Deus o tenha. Sempre alguém tinha uma frase que deixava aquilo mais ou menos. PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 49 Tinha coisas que matavam na certa. Pepino com leite, vento encanado, praga de velha e amor mal curado. Tinha coisas que tem que morrer, 30 tinha coisas que tem que matar. A honra, a terra e o sangue mandou muita gente praquele lugar. Que mais podia um velho fazer, nos idos de 1916, a não ser pegar pneumonia, deixar tudo para os filhos e virar fotografia? Ninguém vivia pra sempre. Afinal, a vida é um upa. 40 Não deu pra ir mais além. Mas ninguém tem culpa. Quem mandou não ser devoto de Santo Inácio de Acapulco, Menino Jesus de Praga? O diabo anda solto. Aqui se faz, aqui se paga. Almoçou e fez a barba, tomou banho e foi no vento. Não tem o que reclamar. 50 Agora, vamos ao testamento. Hoje, a morte está difícil. Tem recursos, tem asilos, tem remédios. Agora, a morte tem limites. E, em caso de necessidade, a ciência da eternidade inventou a criônica. Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. (LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013) PRÉ-EDITAL AFT LÍNGUA PORTUGUESA – META 01 50 Considere os seguintes trechos: I. “Descansou. Partiu. Deus o tenha.” (verso 23) II. “deixar tudo para os filhos / e virar fotografia?” (versos 36 e 37) III. “Mas ninguém tem culpa.” (verso 41) Ocorre eufemismo em A) III, apenas. B) I, apenas. C) II, apenas. D) I e II, apenas. E) I, II e III. COMENTÁRIOS O eufemismo possui utilidade para substituir uma palavra ou um termo tabu ou um conteúdo delicado e chocante, atenuando o seu sentido. Item I, Certo, Os termos “partiu” e “Deus o tenha” demonstram uma suavização, uma tentantiva de oferecer conforto, utilizando terminologias que demonstram um processo de transição e uma forma de acolhimento por um ser maior, divino. Item II, Certo, “virar fotografia?” também busca minimizar o fenomeno da morte. Item III, Errado, pois não há uso conotativo de palavras, intencionando minimizar algo chocante, mas sim, demonstra que não há culpados no fenômeno “morte”. Letra D 06 - INSTITUTO AOCP - 2018 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Técnico Judiciário A indústria do espírito JORDI SOLER – 23 DEZ 2017 - 21:00 PRÉ-EDITAL
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