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PERICIA CONTABIL

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PERÍCIA 
CONTÁBIL I 
Tatiane Antonovz
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
P441 Perícia contábil I / Aline Alves ... [et al.] ; [revisão técnica:
 Lilian Martins]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
 330 p. il. ; 22,5 cm.
 ISBN 978-85-9502-150-1
 1. Contabilidade - Perícia. I. Alves, Aline.
CDU 657
Revisão técnica:
Lilian Martins
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora do Curso de Ciências Contábeis 
Coordenadora do Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF) 
das Faculdades São Judas Tadeu
Perícia contábil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Classi� car os fundamentos lógicos e deontológicos da perícia contábil.
 De� nir os fundamentos doutrinários relacionados com a perícia
contábil.
 Discutir os fundamentos periciais.
Introdução
A perícia, de maneira geral, busca investigar determinada questão. Ela é 
baseada em diferentes princípios e em uma lógica que está ligada com 
a matéria à qual se relaciona. Existem perícias em diferentes áreas do 
conhecimento humano. Assim, elas possuem premissas das suas próprias 
ciências. O mesmo ocorre com a perícia contábil. Partindo dos preceitos 
da ciência contábil e tendo o patrimônio como objeto, a perícia visa 
principalmente a explicar eventuais divergências e apurar haveres entre 
partes interessadas. Assim, fornece uma base confiável para a tomada 
da decisão judicial. 
Neste texto, você irá acompanhar a formação da perícia como ciência, 
a sua base lógica, deontológica, doutrinária e pericial. Também apren-
derá como ela se desenvolveu como um instrumento de verificação e 
investigação.
Fundamentos lógicos e deontológicos da perícia 
contábil
Para compreender a perícia, você precisa entender os diferentes fundamentos 
que formam os pilares dessa ciência. A perícia pode atuar em diversas áreas. 
Mas, independentemente de sua espécie ou natureza, ela sempre será perícia. 
Assim, a sua adjetivação irá buscar, na expressão composta, qual é a natureza 
da sua matéria. Nesse sentido, a perícia se combina com a profi ssão que detém 
a prerrogativa de atuação na área em que a matéria que está sendo investigada 
se insere (ALBERTO, 2012).
A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF, c2017) 
elaborou uma listagem com os principais tipos de perícia. Ela demonstra as 
diferenças e principais abordagens de cada um dos tipos em relação às distintas 
matérias analisadas.
A perícia em informática, por exemplo, é aquela relacionada à solução de 
crimes na área da internet e também de assuntos relativos a outros recursos 
informatizados da atualidade. Esse trabalho é desempenhado, assim como 
a perícia contábil, com exames minuciosos. Entretanto, esse tipo de perícia 
trabalhará com análises na internet e diferentes mídias de armazenamento. 
Também contará com o rastreamento de mensagens eletrônicas e terá como 
produto final a identificação e a localização de internautas e sites ilegais. 
Outro exemplo bastante conhecido, de acordo com a APCF (ASSOCIAÇÃO 
NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS, c2017), são as perícias 
documentoscópicas. Elas estão presentes em quase todas as ações da Polícia 
Federal. São realizadas em território nacional com vistas a combater crimes 
relacionados à fraude documental, a grande maioria destes contra o Sistema 
Financeiro Nacional (SFN).
Os peritos documentoscópicos utilizam exames, comparações e análises 
baseadas em documentos. Dessa forma, buscam verificar a autenticidade do 
que foi recolhido, visando a esclarecer a sua autenticidade. O trabalho desses 
profissionais acaba por revelar métodos e processos utilizados em falsificações. 
A APCF (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS, c2017) afirma que 
um dos ramos mais importantes da perícia documentoscópica é a grafoscopia. Ela é 
utilizada para estabelecer a autenticidade ou ainda a real autoria de textos que foram 
escritos à mão. Entre os documentos que podem ser periciados estão passaportes, 
carteiras de habilitação, cédulas de identidade e carteiras profissionais. Também estão 
inclusos papel-moeda, certidões, formulários, entre outros (ASSOCIAÇÃO NACIONAL 
DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS, c2017).
111Perícia contábil
Outros exemplos de perícia são as de audiovisual e eletrônicos, de química forense, 
de engenharia, de genética forense, de balística, em locais de crime, de bombas e 
explosivos, de veículos, na área de odontologia forense, sobre o patrimônio cultural, 
entre outras (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS, c2017).
Com isso, você certamente compreendeu que a perícia pode existir em 
diferentes áreas do conhecimento humano. Assim, ela utilizará técnicas vol-
tadas ao objeto de sua investigação. Porém, o foco da maioria das perícias é 
o exame minucioso, bem como a conferência e a verificação de evidências, 
buscando como objetivo final provar algo.
E a perícia contábil? Especificamente em relação à perícia contábil e do 
ponto de vista deontológico, você precisa compreender que há a necessidade 
de um referencial profissional. Isso é feito com normas que buscam a unifor-
midade, a segurança jurídica e também a previsibilidade em relação aos atos 
dos peritos. É necessário observar todos esses aspectos sob a perspectiva da 
equidade (HOOG, 2017).
Ainda com base no entendimento do autor, se pode concluir que, sem essa 
base lógica e deontológica, a perícia não pode existir. Afinal, para ela existir 
como ciência e também como atividade do perito, esses quesitos funcionam 
como uma parte estrutural. Eles interferem no seu desempenho e na sua con-
dução. Nesse contexto, se pode afirmar que essa base irá determinar alguns 
pontos. Por exemplo: a direção dos atos do perito, a aplicabilidade das fontes 
do direito e também a concretização da perícia propriamente dita. 
Outro ponto de destaque para o trabalho do perito é que ele, segundo o 
que dispõe o Código de Processo Civil no seu artigo 149 (BRASIL, 2015), é 
um auxiliar da Justiça. Além dele, há outros auxiliares cujas atribuições são 
determinadas pelas normas de organização judiciária. Entre estes, você pode 
considerar o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de Justiça, o perito, o 
depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o concilia-
dor judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias 
(BRASIL, 2015).
Hoog (2017) afirma que, com base nesse entendimento, se pode compreender 
que o perito se equipara a um funcionário público. Afinal, é um auxiliar da 
Justiça. Logo, ele também deve estar atento a algumas normas a que os funcio-
nários públicos estão submetidos e que são essenciais ao desempenho da sua 
Perícia contábil112
função no ambiente público. Ou seja, além das questões lógicas e deontológicas, 
é preciso que o profissional esteja atento a pontos legais observados dentro 
do âmbito público devido às características específicas de tal função. Entre 
estes, estão, de acordo com a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988):
 Princípio da impessoalidade: determina condutas obrigatórias, im-
pedindo a adoção de comportamentos que levem ao favoritismo. Além
disso, serve para orientar a interpretação das normas positivadas.
 Princípio da moralidade: baseado na observância do decoro, da con-
fiança e da boa-fé. Esse princípio impõe a observância de princípios
éticos baseados na moralidade por meio dos meios corretos de investi-
gação, como é o caso da perícia e também da auditoria. De acordo com 
esse princípio, nenhuma conduta inaceitável ou transgressora da ética
deverá ser aceita. É necessária a adoção de princípios contabilísticos,
bem como a valorização da ordem econômica, da livre iniciativa e da
concorrência. Também é necessário que o perito se baseie nos valores
sociais aceitos.
 Princípio da dignidade da pessoa humana: prega a dignidade da
pessoa humana, protegendo as pessoas de qualquer forma de cons-trangimento. Esse princípio está ligado a uma limitação ao trabalho
do perito. Afinal, preservar a dignidade das pessoas envolve condições 
que facilitem o exercício da cidadania e a produção da defesa e da prova 
pericial. Assim, o perito deverá respeitar a dignidade e a liberdade de
produzir provas de cada indivíduo.
 Princípio da eficiência: possui ligação com questões burocráticas que 
devem ser superadas em razão da realização do trabalho do perito. De
acordo com os preceitos desse princípio, se devem buscar alternativas
que tragam um resultado positivo, mediante o menor dispêndio de
recursos possível. Essas alternativas também devem trazer os melhores 
resultados.
Você pode perceber que a perícia contábil precisa de um complexo arcabouço para 
que possa existir como ciência. Da mesma forma, há uma série de fatores em jogo 
para que o perito possa desempenhar as suas funções de forma adequada, além de 
cumprir seu papel perante a sociedade. 
113Perícia contábil
Hoog (2017) ainda afirma, dentro do contexto deontológico, que o perito 
também deverá observar outros princípios em sua rotina. Um deles é o princípio 
da razoabilidade. Assim, esse profissional, no desempenho de suas funções de 
interpretação de atos e fatos patrimoniais, deve considerar o que geralmente 
acontece, e não o extraordinário. Considere, por exemplo, a mensuração do 
preço de um ativo. Para essa mensuração, o perito deve levar em consideração a 
temporalidade. Com base nisso, deve definir qual valor deverá atribuir a esse bem.
Outro princípio norteador é o da proporcionalidade. Ele tem a ver com a 
relação entre a medida adotada e o critério que esta dimensiona. Ou seja, o 
perito sempre deve escolher para o seu trabalho os meios e as métricas ade-
quadas, promovendo o fim a que se propõe. Já o princípio da probabilidade 
se baseia no fato de que a contabilidade, considerada como uma ciência social 
aplicada, não permite certeza absoluta sobre a matéria investigada. Isso gera 
uma probabilidade negativa, caso exista uma dúvida razoável.
Tais princípios e a construção do arcabouço lógico e deontológico não se 
esgotam com o que você aprendeu aqui. Como um profissional da área, você 
deve estar atento a cada situação que irá exigir um comportamento distinto. 
Além disso, precisa observar as diferentes normas e ordenamentos para a 
realização de seu trabalho.
Fundamentos doutrinários da perícia contábil
Segundo Hoog (2015), se pode compreender a doutrina como uma opinião 
ilibada ou ainda respeitada sobre algo. Aqui, você pode compreendê-la como 
uma opinião sobre uma ciência. Essa opinião irá lastrear posições ou intepre-
tações privilegiadas. A doutrina também pode signifi car opiniões particulares 
admitidas por um ou vários professores a respeito de um determinado ponto. 
Assim, é possível concluir que a interpretação doutrinária, em um primeiro 
momento, consiste em uma análise crítica baseada em diversos textos legais, 
autores da área e legislação pertinente. Ela servirá como base para o desen-
volvimento da ciência em si.
A seguir, você pode ver alguns dos principais influenciadores da ciência 
contábil e da doutrina da área. Por consequência, eles também influenciaram 
a perícia contábil (HOOG, 2015).
 Professor Antônio Lopes de Sá: mais de 190 obras publicadas em
vários países, editoras e línguas, sendo que sua principal contribuição
foi para a Teoria Neopatrimonial.
Perícia contábil114
 Professor Frederico Herreman Junior: 10 livros, com contribuição
para a Teoria Econômica da Contabilidade.
 Professor Hilário Franco: diversos livros e artigos publicados na área, 
além de contribuição na área de contabilidade industrial.
 Professor Francisco D’Áuria: 23 livros; apresentou a Teoria Positiva
da Contabilidade, com destaque para os fundamentos científicos da
contabilidade.
Hoog (2015) ainda destaca os primórdios da contabilidade como ciência 
nos estudos das partidas dobradas de Frei Luca Paciolli, do controlismo de 
Fabio Besta, do patrimonialismo de Vincenzo Masi, do reditualismo de Gino 
Zappa, entre outros que construíram essa ciência. 
A compreensão da perícia contábil como ciência, para além das questões 
lógicas e deotonlógicas, também necessita da definição doutrinária. Ou seja, 
precisa do conceito ligado à própria matéria analisada, no caso a ciência contábil 
(ALBERTO, 2012). Lembre-se de que a ciência contábil está inserida no ramo 
das ciências sociais aplicadas. Assim, possui uma metodologia própria. Já a 
perícia, como uma parte dessa ciência, será altamente influenciada por essa 
metodologia que é utilizada dentro da ciência contábil. 
Para diferenciar a perícia contábil de outros tipos de perícias, é essencial que 
você entenda essa base científica. Afinal, para o desenvolvimento desse tipo 
de investigação, será necessário o uso de diferentes técnicas e conhecimentos 
específicos relacionados à área de ciências contábeis. Esse fato é tão notável 
que somente os profissionais que são bacharéis em ciências contábeis e com 
amplos conhecimentos na área podem desempenhar as funções de perito 
contábil. Isso ocorre pois a necessidade de entendimento dos preceitos da 
ciência é fundamental para o desenvolvimento das funções dessa profissão 
e suas prerrogativas. 
E aqui surge um importante questionamento doutrinário para a perícia 
como ciência: já que esta nasce da ciência contábil e tem como base todo o 
arcabouço desta, qual seria então o seu objeto de estudo?
Agora, você precisa compreender que a ciência contábil é definida como 
ciência justamente por ter suas próprias técnicas e formas de desenvolvimento. 
Além de, é claro, ter um objeto de estudo em particular. Este será também a 
base para a perícia: o patrimônio.
115Perícia contábil
O patrimônio, constituído pelo conjunto de bens, direitos e obrigações, seja de pessoa 
física ou jurídica, possui existência real e concreta. Além disso, pode ser estudado sob 
diferentes pontos de vista. Afinal, a contabilidade possui diversos campos de estudo. 
Estes vão desde a ciência contábil propriamente dita, passando pela investigação 
como perícia e auditoria, pela análise e por diversos outros setores (ALBERTO, 2012).
Depois de definir que o objetivo da ciência contábil é o patrimônio, já é 
possível, por lógica, inferir que a perícia contábil sempre irá recair sobre os 
elementos que fazem parte, ou ainda que possuem alguma relação com esse 
patrimônio. 
A partir desse momento, fica fácil distinguir quando uma perícia deve ser 
chamada de contábil ou não. Nesse sentido, você deve lembrar que, mesmo 
que não exista uma relação direta com a questão patrimonial, ela poderá ser 
assim intitulada. Isso ocorre pois mesmo algumas relações externas podem 
caracterizar essa ligação.
E quanto aos objetivos? Você sabe como defini-los? E imagina por que 
influenciam tanto a ciência contábil e, posteriormente, a perícia?
A contabilidade tem como objetivo principal o registro e o armazenamento 
de informações baseadas no respeito às normas e à legislação vigentes, bem 
como às formalidades aplicáveis. Adicionalmente, a contabilidade tem como 
intuito evidenciar as mutações no patrimônio, subsidiando dados para a correta 
tomada de decisões. 
Alberto (2012) afirma que os objetivos dessa ciência são saber onde, quando, 
como, quanto e principalmente por que ocorrem as alterações da riqueza 
patrimonial.
Nesse campo, a perícia pode ser utilizada para responder, quando necessário, 
a esses questionamentos. Ela também pode mostrar com clareza onde estão 
os recursos, trazer a valor presente questões históricas ou ainda representar 
quanto cada um dos sócios realmente possui e como as alterações patrimo-
niais ocorreram. Ela irá se adaptar a cada uma das situações. Além disso, 
irá apresentar as respostas necessárias de acordo com o que for requisitado 
naquele determinado momento.
Perícia contábil116
A contabilidade, em sua base, é norteada pela Teoria Contábil. Esta é definida por 
Hoog (2015) como um conjunto de conhecimentos queapresentam sistematização 
e credibilidade. Ela se propõe tanto a explicar quanto a elucidar ou interpretar um 
fenômeno ou acontecimentos que estão relacionados à atividade da práxis da ciência.
Você não pode confundir a ciência contábil, a administração e a economia, 
assim como outras ciências utilizadas como base conceitual da perícia. Essas 
áreas são muito próximas e por vezes até relacionadas, mas possuem diferenças 
entre si. Alberto (2012) cita, por exemplo, que a administração interfere na 
gestão do patrimônio de forma particular e individualizada. Já a economia 
possui relação com a somatória dos patrimônios, sua concentração e descon-
centração social, distribuição e transferência em diferentes níveis. Entretanto, a 
contabilidade é a ciência responsável pela avaliação, pela quantificação e pela 
projeção dos resultados em um microcampo, seja ele de pessoas ou empresas, 
ou em um macrocampo, este relacionado às classes sociais, cidades ou países. 
Assim, tendo como base o objeto fundamental da contabilidade, que é 
o patrimônio, e entendendo que ele sofre os efeitos tanto da administração
quanto da economia e de outras ciências, os contadores compartilharão al-
gumas funções afins. Apesar disso, cada um tem um ponto vista particular e
relacionado com o seu campo de domínio.
Fundamentos periciais
De acordo com Magalhães et al. (2004), é comum a utilização dos peritos para 
que certifi quem os fatos registrados. Isso principalmente em determinadas 
situações em que os interesses estão em oposição. Nessas situações, será a in-
formação esclarecedora do profi ssional da perícia que irá orientar os litigantes. 
117Perícia contábil
A informação esclarecedora do perito também pode ser compreendida como a 
opinião ou parecer desse profissional devidamente habilitado sobre a matéria que 
litiga os interesses. Nesse caso, as informações são caracterizadas como informativas 
ou opinativas, tendo em vista a matéria contábil julgada. 
A perícia contábil tem como fundamento a geração de informações fide-
dignas. Ela possui ligação com a discriminação e a definição de interesses e 
de controvérsia entre litigantes. Também pode ser requisitada por partes inte-
ressadas ou autoridades judiciárias, dependendo do tipo de perícia e interesse. 
Essa fundamentação está pautada nos seguintes pilares: discriminação 
de interesses e requisitos técnicos/científicos, legais, psicológicos, sociais e 
profissionais. Mas o que significa cada um deles? É o que você vai agora, com 
base nos conhecimentos de Magalhães et al. (2004).
A perícia, do ponto de vista técnico/científico, está relacionada com o pleno 
conhecimento da matéria. Nesse sentido, tanto o exame quanto o relato se 
baseiam nos princípios da disciplina contábil e também em outros conheci-
mentos, como administração, economia, direito e matemática.
Psicologicamente, a perícia produz o efeito do juízo arbitral que está fundamentado 
em princípios tanto técnicos quanto científicos e que possui como base o critério da 
imparcialidade. Para que um laudo pericial possua qualidade indiscutível, deve ser 
aceito pelas partes interessadas e também pelo julgador do litígio. 
Outro fundamento pericial é o social. A perícia é uma valiosa ferramenta 
na administração da Justiça e também um fato de ordem nas instituições. Isso 
ocorre porque o profissional da área possui fé pública e sua função possui 
alta complexidade. Esta pode ser maior quanto maior for a soma de interesses 
em conflito. Assim, o perito assume a reponsabilidade em relação às suas 
afirmações, que serão uma importante fonte de apoio para decisões de auto-
ridades judiciárias. Além disso, levarão a soluções definitivas para litígios de 
Perícia contábil118
natureza econômica ou ainda pecuniária, ou ainda terão importância capital 
na aplicação da Justiça no interesse da sociedade. 
Desse ponto de vista, Alberto (2012) afirma que a responsabilidade desse 
profissional é enorme. Ele exerce uma função de auxiliar da Justiça. Esta, 
por sua vez, é um dos pilares da sociedade, uma vez que o órgão que lhe 
corresponde na estrutura estatal é o Poder Judiciário. A ele cabe “[...] dar a 
cada um o que é seu, segundo o direito [...]” (ALBERTO, 2012). Assim, se 
garante a paz e o progresso social. 
Atualmente, não é uma tarefa fácil se sentir moral e socialmente responsável. 
Isso ocorre pois a sociedade, em virtude da degradação e afrouxamento dos 
laços sociais, passou à valorização de questões econômicas. Porém, o perito, 
com base em todos os seus fundamentos, precisa buscar a imparcialidade e 
mostrar a realidade que lhe é exigida. 
A cidadania é uma ação permanente. Ela pode ocorrer de forma individual ou não. 
Além disso, se relaciona ao cumprimento dos deveres civis, sociais e profissionais e, 
simultaneamente, à busca da defesa dos direitos. O exercício da cidadania busca realizar 
a criação de novas condições, a renovação e a transformação da realidade social com 
vistas à promoção do bem comum (ALBERTO, 2012).
Os fundamentos periciais também poderão ser compreendidos do ponto de 
vista profissional. Nesse sentido, você deve lembrar as exigências que se fazem 
em relação ao perito. Ele deve ter formação na área, amplos conhecimentos 
técnicos aliados à orientação ética e outros conhecimentos que lhe proporcio-
narão autoridade técnica/científica para a sua atuação. Esse pensamento ético 
deve levar em consideração alguns pontos. A seguir, você pode ver orientações 
às quais o perito deve estar atento (ALBERTO, 2012): 
 Submeter tudo ao crivo da razão. É necessário utilizar o rigor lógico,
evitando aceitar o verdadeiro como se verdadeiro fosse.
 Nunca julgar ou opinar somente por aproximações.
 Não utilizar presunções, já que o cientista não opera dessa forma. Esse
profissional deve deduzir a verdade com base em todo o embasamento
que possui e na matéria examinada.
119Perícia contábil
 Não ter nenhum tipo de preconceito em relação à matéria examinada.
 Observar, de maneira criteriosa, todas as condições psicoambientais
em que o exame ocorre.
 Exercer os exames com autocrítica e rigor, porém com benevolência.
 Não estar “armado” intelectualmente, imaginando o que pode acontecer.
 Manter distância em relação ao objeto periciado, para que não exista
confusão.
 Compreender que o objeto de estudo é sempre um recorte da realidade
em que está inserido. Assim, a análise e a conclusão não poderão escapar
dessa realidade.
Do ponto de vista pessoal, o profissional deve estar atento à responsabilidade 
de autocrítica e disciplina. A função exercida tem importância pelas impli-
cações socioeconômicas que possui. O profissional que a exerce responde de 
forma ilimitada tanto pelo conteúdo de seu trabalho quanto por suas atitudes. 
Assim, você pode concluir que na perícia é necessário agir com rigor. 
Isso vale tanto para a formação quanto para a seleção. Esse rigor também é 
aplicável na educação de continuidade e na atuação dos profissionais. Caso 
não haja cuidado, há risco de prejudicar o próprio instrumento pericial e suas 
implicações dentro da sociedade. 
Os princípios e o rigor sobre os quais você aprendeu aqui devem ser aplicados e 
observados por todos aqueles que se valem ou ainda que desempenham o trabalho 
pericial. Isso tanto em juízo quanto fora dele. Tais cuidados servem para que os peritos e 
aqueles assistidos por ele possam buscar a verdade mediante o emprego das melhores 
técnicas e dos conhecimentos científicos da área.
Perícia contábil120
121Perícia contábil
ALBERTO, V. L. P. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS. Conheça as áreas da 
perícia. Brasília, DF: APCF, c2017. Disponível em: <http://www.apcf.org.br/PeríciaCri-
minal/Conheçaasáreasdaperícia.aspx>. Acesso em: 20 jul. 2017. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>.Acesso em: 14 dez. 2016.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 14 
jul. 2017.
HOOG, W. A. Z. A perícia contábil e as questões doutrinárias. Rio de Janeiro: UNIPEC-RJ, 
2015. Disponível em: <https://unipec-rj.org.br/noticias/artigos/2015/01/27/a-pericia-
-contabil-e-as-questoes-doutrinarias.html>. Acesso em: 14 set. 2017.
HOOG, W. A. Z. Prova pericial contábil: teoria e prática. 14. ed. Curitiba: Juruá, 2017. 
MAGALHÃES, A. D. F. et al. Perícia contábil: uma abordagem teórica, ética, legal, pro-
cessual e operacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. 
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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