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W BA 05 06 _V 2. 0 ANÁLISE DE CENÁRIOS ECONÔMICOS 2 Ingrid Pfützenreuter Castanho Bizan São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 ANÁLISE DE CENÁRIOS ECONÔMICOS 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Ana Carolina Gulelmo Staut Revisor Flavio Kaue Fiuza de Moura Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Bizan, Ingrid Pfützenreuter Castanho Análise de cenários econômicos / Ingrid Pfützenreuter Castanho Bizan. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-380-3 1. Economia. 2. Cenários. 3. Micro e macroeconomia. I. Título. CDD 330 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O B625a © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Planejamento estratégico e gestão de negócios _____________ 07 Histórico da economia brasileira contemporânea – anos 1980 a 2000 _________________________________________________________ 18 Relações entre mercado interno e externo ___________________ 30 Ferramentas para análise e construção de cenários _________ 41 ANÁLISE DE CENÁRIOS ECONÔMICOS 5 Apresentação da disciplina Olá, estudante! Seja bem-vindo à disciplina Análise de Cenários Econômicos. Nesta disciplina, abordaremos os fundamentos teóricos e metodológicos para a análise da conjuntura econômica nacional e internacional, com atenção aos níveis micro e macroeconômicos cujo comportamento afeta, de forma relevante, as decisões empresariais e governamentais sobre os mercados e a dinâmica da concorrência entre as empresas em um determinado setor. Para que suas projeções e análises de cenários sejam desenvolvidas com a visão holística, skill importante para a gestão de negócios, também apresentaremos, de forma breve, a evolução recente da economia brasileira e internacional, uma vez que este conhecimento complementa os fundamentos necessários para a aplicação das ferramentas metodológicas para análise de cenários econômicos. Esta disciplina tem como objetivo apresentar a contextualização da aplicação da projeção e análise de cenários econômicos, além de apresentar ferramentas práticas para a realização desta importante atividade da área de gestão e negócios. Abordaremos o conceito de planejamento estratégico e sua importância para o desenvolvimento e crescimento de empresas e negócios sustentáveis. Será apresentado um histórico da economia brasileira desde os anos 1980 até 2020, época de muitas mudanças econômicas e sociais que podem indicar caminhos em seus cenários futuros, além de apoiar a análise do cenário econômico atual. 6 Além disso, é importante que você compreenda as relações entre o mercado interno e externo. Abordaremos essa relação para apoiar você na compreensão de como as importações e exportações são afetadas pela variação cambial e demais decisões governamentais e, principalmente, como conhecer essas relações pode ajudar na elaboração de cenários. Para que você possa fazer suas projeções e análises de cenários, apresentaremos algumas ferramentas práticas como análise SWOT e análise PESTEL, pois espera-se que com a disciplina Análise de Cenários Econômicos você desenvolva competências e habilidades para compreender a importância da projeção de cenários no processo de tomada de decisões e planejamento estratégico, identificar as ferramentas disponíveis para as análises necessárias, aprender a utilizar a construção e análise de cenários no contexto do planejamento estratégico e, principalmente, compreender como as questões micro e macroeconômicas são essenciais e afetam diretamente a gestão dos negócios. 7 Planejamento estratégico e gestão de negócios Autoria: Ingrid Pfützenreuter Castanho Bizan Leitura crítica: Flavio Kaue Fiuza de Moura Objetivos • Estabelecer os conceitos de planejamento estratégico, micro e macroeconomia. • Orientar acerca da importância do planejamento estratégico na gestão empresarial, bem como no processo de elaboração e análise de cenários econômicos. • Orientar acerca do impacto e importância das questões micro e macroeconômicas para o processo de elaboração e análise de cenários econômicos. 8 1. Planejamento estratégico e gestão de negócios Segundo Porter (1996), a essência da estratégia está em escolher o que não fazer. Neste bloco abordaremos como o planejamento estratégico, atrelado ao conhecimento a respeito das questões micro e macroeconômicas, é imprescindível para uma melhor compreensão do ambiente e, como consequência, para uma melhor elaboração e análise dos cenários econômicos, favorecendo, de forma clara, a escolha entre o que deve ou não ser feito. Os cenários econômicos, por sua vez, são simulações de situações possíveis baseadas nas condições apresentadas pelo ambiente e em indicadores que descrevem o comportamento passado, e nos trazem uma percepção futura dentro do contexto em que a empresa está envolvida. 1.1 Planejamento estratégico Para início da nossa conversa, é importante que você tenha claro que planos são necessariamente indicadores importantes para o caminho que a empresa deseja trilhar. Este indicador deve ser atualizado, se necessário, durante a jornada, de forma que inclua a realidade do momento. Planos são mutáveis e flexíveis exatamente para que não percamos de vista o lugar que queremos chegar, e para que seja possível trilhar o melhor caminho dadas as condições atualizadas do mercado. Atualmente, com inúmeras ferramentas de apoio para a formulação do planejamento estratégico, a técnica passou por uma grande evolução. Planejar é uma ação realizada antes mesmo de ser nomeada como tal. Segundo Cruz (2019), é possível encontrar exemplos na Bíblia que nos remetem ao planejamento estratégico, como a empreitada de José do 9 Egito para salvar este país. Além do entendimento de que, para criação das civilizações, sempre foi necessário um plano estratégico. A partir de 1900 começamos a encontrar um pouco de literatura tratando do tema, mas, naquele momento, as condições no mundo dos negócios não compreendiam a importância e a necessidade de um plano estratégico como temos atualmente. Sem grandes alterações, o mercado seguia calmo, mas a partir de 1950, segundo Cruz (2019), com avanços tecnológicos importantes, o mercado começou a exigir uma administração ampla que compreendesse que a empresa está integrada ao ambiente e que este ambiente afeta diretamente os resultados e caminhos a seguir. O planejamento estratégico não existe sozinho, não é um trabalho de previsão de futuro e não é apenas sua edição que garante a realização das atividades necessárias. Segundo Chiavenato (2020), existe o ciclo da gestão estratégica que engloba o processo de planejamento e inclui as tarefas relacionadas à implementação, execução e controle. A gestão estratégica é parte importanteda execução do plano estratégico, uma vez que é responsável por diminuir as lacunas entre objetivos e resultados. No processo de gestão estratégica são verificados os pontos do planejamento estratégico e os possíveis desvios relacionados ao ambiente interno ou externo da empresa. Neste momento é possível verificar e alterar, se necessário for, qualquer premissa alinhada no planejamento estratégico. O processo de planejamento é integrado e se divide em três níveis: • Planejamento estratégico: nível amplo, que abrange toda a empresa e foca o longo prazo. É o plano estratégico a base para todos os demais planos da empresa. • Planejamento tático: focado nas necessidades de cada departamento, é pensado no médio prazo, com detalhamento 10 maior, e tem como base as premissas estipuladas no planejamento estratégico. • Planejamento operacional: com foco na realização imediata ou no curto prazo, este nível traz o detalhamento analítico de atividades específicas, com base nas premissas estipuladas no planejamento estratégico. Compreendendo estes níveis do processo de planejamento, detalhados na Figura 1, referente a partes da gestão estratégica, fica mais fácil entender a importância e relação do planejamento estratégico com as demais atividades da empresa. Figura 1 – Detalhamento dos níveis do processo de planejamento Fonte: elaborada pela autora. Dessa forma, com a compreensão da integração entre ambiente e empresa, e a visão completa de como planejamento estratégico é incorporado em todos os níveis estratégicos, você precisa conhecer os pontos importantes a serem analisados para elaboração do plano estratégico. Para a realização de um plano estratégico a gestão precisa ter clara qual é a visão e missão da organização, quais são as suas forças e fraquezas, quais são as oportunidades que existem no mercado, quais são os concorrentes e em qual nível estes podem ser uma ameaça para 11 a organização. Além disso, tendências emergentes que afetem seu produto precisam ser verificadas para que o planejamento possa incluir alternativas possíveis. Trata-se de um processo em que são recolhidos os elementos que impactam a estratégia da empresa e são mapeadas as questões políticas, sociais, tecnológicas, culturais, e a partir destes elementos o processo de gestão estratégica os analisará com base na missão e visão da empresa, provendo diagnósticos possíveis, gerando cenários e trazendo soluções para execução e implementação da estratégia escolhida, bem como ferramentas para assegurar o controle dos resultados obtidos e, assim, checar os desvios ocorridos e alinhar novas estratégias baseadas na premissa do planejamento estratégico. 1.2 Macroeconomia O processo para elaboração e análise de cenários envolve a necessidade de diversos conhecimentos que subsidiam a compreensão do ambiente, da estrutura da empresa e das ferramentas possíveis para alcançar os objetivos e até mesmo mensurar resultados. A macroeconomia é um destes conhecimentos que você precisa para elaborar e analisar cenários. Por definição, “macro” significa grande. Neste caso falamos da grande economia, ou seja, macroeconomia está relacionada ao comportamento de variáveis como produto interno bruto (PIB) de um país, inflação, taxa de câmbio, taxa de juros, níveis de desemprego, e como essas variáveis impactam o desenvolvimento dos países. As respostas encontradas pela macroeconomia surgem de perguntas que necessitam de abrangência e não de especificidade – muito embora a especificidade seja importante para as análises, estas são tratadas pela microeconomia. John Maynard Keynes, economista inglês considerado o criador da teoria macroeconômica, explica em seu livro escrito em 1936, A teoria geral do emprego, do juro e da moeda, que as economias capitalistas 12 não seriam capazes de promover o pleno emprego de forma natural, como previam os economistas que acreditavam que as variáveis macroeconômicas eram simples de determinar e indicavam que o foco deveria ser o desenvolvimento das teorias microeconômicas. Para os economistas neoclássicos, cujas análises baseiam-se no racionalismo econômico, as economias de mercado seriam capazes de alcançar o nível de pleno emprego com preços e salários ajustados pelo mercado, sem intervenção do governo, ou seja, a crença era que o liberalismo, com o poder autorregulador do mercado e com a criação da Lei de Say, criada pelo economista Jean Baptiste Say com o lema “a oferta cria a sua própria procura”, segundo Lopes (2018), tudo que fosse produzido, seria vendido. Com grande insatisfação com os resultados apresentados pela teoria em utilização e a chegada da teoria macroeconômica proposta por Keynes, abria-se a oportunidade para a ação do governo, que antes se restringia apenas aos bens públicos, na orientação da política pública para buscar a plena utilização dos recursos disponíveis, estimulando aumento ou redução de demanda, promovendo ações para diminuir capacidade ociosa de empresas e ampliar a disponibilidade de oportunidades de emprego. Compreende-se então, que a agregação da macroeconomia revela dados importantes para elaboração e análise de cenários, em decisões para questões como “Comprar dólares para favorecer as exportações ou vender para conter o aumento da inflação?”, “Proteger empresários ou favorecer consumidores?” e “Investir em renda fixa ou comprar ações?” Todas as decisões tomadas pelo governo e pelas empresas são baseadas nos resultados da macroeconomia. Segundo Gamboa (2012), a macroeconomia é pano de fundo para todas as decisões empresariais. Não se trata da análise do consumo de uma família ou da produção de uma empresa, apenas, mas sim da análise do consumo de todas as famílias e de todas as indústrias do país. Para um processo de elaboração e análise de cenários é importante ter a análise de equilíbrio geral. Esta análise integrada traz respostas a 13 respeito de como o nível de produção das indústrias tem se comportado no decorrer do tempo, e como estão evoluindo os níveis de emprego, inflação, taxas de juros, taxas de câmbio e preços, para que seja possível criar um cenário das condições gerais do ambiente que impactam o desenvolvimento e a execução do planejamento estratégico. Entenda que uma redução na taxa de juros pode aumentar o consumo de bens duráveis como automóveis e eletrodomésticos, que são aqueles bens que compramos, na maioria das vezes, financiados. Nestes casos, quanto menor a taxa de juros, mais atrativos são os financiamentos. Você consegue ver como essa informação pode ser importante na sua elaboração de cenários? Suponhamos que você venda automóveis. A redução da taxa de juros pode impactar suas vendas e aumentar sua necessidade de produção, mão de obra e matéria-prima, entre outros pontos que são importantes na elaboração e análise dos cenários. Neste breve exemplo de taxa de juros é possível notar o quão importante é considerar a informação macroeconômica e a sua evolução na linha do tempo. Segundo Lopes (2018), a macroeconomia entende a economia como se ela fosse constituída por cinco mercados: mercado de bens e serviços, mercado de trabalho, mercado monetário, mercado de títulos e mercado cambial. Trata-se de grandes grupos, com resultados abrangentes que analisam o todo e nos apoiam no mapeamento e na elaboração de cenários e planejamento. Neste caso, o mercado de bens e serviços, por exemplo, tem seu resultado como uma média de todos os bens/serviços produzidos pela economia durante um determinado período, nos fornecendo o valor do produto agregado e, da mesma forma, a média dos preços aplicados a este produto neste mesmo período, nos fornece o nível geral dos preços. É fácil de ver que nesta análise não são consideradas 14 as especificidades de cada produto, mas que seus resultados são importantes para as análises. Gamboa (2012) nos apresenta tópicos importantes que devem ser avaliados dentro do aspecto macroeconômico e que apoiama construção de cenários, como você pode ver na Figura2: Figura 2 – Elementos de decisão para construção de cenários Fonte: elaborada pela autora. A abrangência geográfica não se trata apenas de escolher a economia local, seja a cidade ou país que se deseja elaborar os cenários: trata- se de compreender que é necessário situar o cenário em um nível geográfico para que sejam obtidas informações macroeconômicas agregadas locais, mas de toda forma, utilizar as informações macroeconômicas agregadas gerais na elaboração e compreensão do caminho que segue o cenário. A frequência dos dados se relaciona ao tempo que o gestor analisará os dados dos cenários com as informações macroeconômicas oficiais. 15 Podem ser informações diárias, mensais, trimestrais, anuais. Essa decisão se relaciona diretamente com o tipo de projeção e é um importante indicador que, se não for bem selecionado, pode impactar a tomada de decisão da empresa devido à demora e consequente perda de conjuntura. O método de projeção e complexidade analítica se relaciona com a forma que são obtidos os dados para a elaboração do cenário. Existem bancos de dados disponíveis no mercado da mesma forma que existem séries temporais calculadas por analistas especializados. Segundo Gamboa (2012), bancos de dados disponibilizados têm baixo custo para aquisição e produzem cenários menos customizáveis, ao passo que os métodos mais complexos permitem maior customização e controle de premissas, e são muito utilizados por bancos e grandes empresas. A escolha das variáveis é item de extrema importância e será diferente a cada cenário, pois devem ser escolhidas as variáveis que influenciam os resultados daquele cenário específico. Indicadores como atividade econômica, inflação, variáveis financeiras, setor externo e câmbio e economia internacional podem estar presentes em diversos cenários, mas suas aplicações naquele determinado cenário e o impacto nos resultados podem variar de acordo com cada situação. 1.3 Microeconomia Se a macroeconomia estuda a agregação da produção e do consumo, desconsiderando a especificidade, a microeconomia é responsável pela especificidade. O foco da microeconomia são as movimentações individuais. Segundo Mankiw (2021), microeconomia significa o estudo de como as famílias e empresas tomam as decisões e como essas decisões reverberam nos mercados. Micro e macroeconomia se relacionam diretamente e, na maioria dos casos, a análise microeconômica depende da situação macroeconômica e 16 vice-versa. Por exemplo, uma decisão acerca da redução do ICMS (Imposto sobre circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis pode ser estudada na macroeconomia para compreender os efeitos desta redução sobre a produção geral de mercadorias no mercado, porém, será necessário compreender como essa redução afetará as decisões das famílias e empresas, e essa compreensão é estudada pela microeconomia. Para elaboração de um cenário é importante ter ambas as visões, micro e macro, afinal, o indicador microeconômico traduz a perspectiva de aumentar ou reduzir a produção de uma empresa, por exemplo, baseada no estudo de consumo de um grupo familiar dentro de um período específico e um mercado determinado. Decisões a respeito de oferta e demanda do mercado, incentivos fiscais à produção, incentivos financeiros aos consumidores, estão relacionadas diretamente à política de preços aplicada pela empresa, ao comportamento do consumidor e à resposta da concorrência. Estas nuances microeconômicas são indicadores essenciais na elaboração e análise de cenários. 2. Considerações finais O planejamento estratégico é de extrema importância para as empresas, principalmente para a elaboração e análise de cenários. É na etapa do planejamento estratégico que são criados os cenários. Entretanto, não basta apenas elaborar o plano, criar cenários e deixá-los na gaveta, sem compartilhar com os demais níveis da empresa, ou mesmo sem acompanhar os resultados. Não adianta criar um plano estático que não pode ser alterado em hipótese alguma. Nos tempos atuais, com grande velocidade e volume de informações, em um mundo incerto e cheio de ambiguidades, as mudanças chegam de repente, e o modelo requer flexibilidade e agilidade para adequação às mudanças mesmo que impliquem, em alguns casos, retroação para reajustar a rota e realinhá-la. 17 Você deve acompanhar a conjuntura econômica, não apenas os indicadores, para compreender os impactos específicos da situação macro e microeconômica. A elaboração de cenários perpassa o conhecimento econômico, e é necessário ter a visão holística do negócio e da economia, compreender claramente o que impacta suas negociações e, assim, aplicar corretamente os indicadores para elaborar e analisar os cenários. Nesta leitura digital você compreendeu a importância da análise de cenários econômicos para a tomada de decisões e planejamento estratégico. Referências CHIAVENATO, Idalberto. Planejamento estratégico: da intenção aos resultados. São Paulo: Atlas, 2020. CRUZ, Tadeu. Planejamento estratégico: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2019. GAMBOA, Ulisses Monteiro Ruiz; VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval; TUROLLA, Frederico Araújo. Macroeconomia para gestão empresarial. São Paulo: Saraiva, 2012. LOPES, Luiz Martins. Macroeconomia: teoria e aplicações de política econômica. São Paulo: Atlas, 2018. MANKIW, N. Gregory. Princípios de microeconomia. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2021. PORTER, Michael. What is strategy? Harvard Business Review, Watertown, Massachusetts, p. 37-55, 1996. 18 Histórico da economia brasileira contemporânea – anos 1980 a 2000 Autoria: Ingrid Pfützenreuter Castanho Bizan Leitura crítica: Flavio Kaue Fiuza de Moura Objetivos • Apresentar a economia brasileira contemporânea. • Apresentar pontos históricos relevantes da história da economia brasileira que impactam a economia contemporânea. • Orientar sobre a importância deste conhecimento no processo de elaboração e análise de cenários econômicos. 19 1. Economia brasileira Estar atento aos acontecimentos da economia faz parte de nosso dia a dia, especialmente em cargos de liderança. Nestes casos, não basta apenas saber o que está acontecendo na economia brasileira, é importante entender a economia global para que seja possível inserir a gestão dos negócios neste cenário e assim tomar decisões mais assertivas. Além de entender a economia brasileira e global atual, é imprescindível que você entenda que os acontecimentos de hoje são e foram diretamente afetados por todos os acontecimentos anteriores da economia brasileira. Assim, este tópico tem como objetivo trazer um breve histórico da economia brasileira de forma que você possa compreender a nossa situação atual e assim, compreendendo a importância e relevância deste conhecimento, inserir seus negócios neste panorama e criar e avaliar seus cenários futuros. 1.1 Brasil colônia e industrialização Brasil, um país de grandes riquezas, poucas guerras, dono do espaço com maior biodiversidade do planeta, clima tropical, uma extensão territorial tão grande que se encontra no ranking entre as cinco mais extensas do mundo, ainda é um país com muita pobreza. E quais são os motivos para isso? Essa é uma longa história. Vamos para alguns séculos atrás, quando o grau de desenvolvimento da Europa era aquém do nível de desenvolvimento das sociedades do Leste como os árabes, chineses ou indianos. Neste momento em que as necessidades dos europeus eram providas por meio da rudimentar produção local surge Marco Polo, com sua admiração pelas sociedades orientais. 20 Temos então o aumento das trocas internacionais com os mercadores que traziam mercadorias orientais para abastecer o Ocidente. Segundo Pirenne (1968), a utilização das especiarias pelo povo ocidental havia caído em desuso, mas foi retomada com tanto entusiasmo que não havia medo por parte dos mercadores de não existir compradorespara todo o material que era trazido. Entretanto, por se tratar de troca entre regiões com graus de desenvolvimento diferentes, começou a existir a dúvida a respeito do que seria oferecido em contrapartida pela região de menor desenvolvimento. Há, neste ponto, o início da necessidade da mineração para obter metais preciosos como ouro e prata. Além da mineração em território próprio, foi dado início ao tráfico de escravos eslavos com o intuito de acumular moeda de troca para seus produtos de luxo advindos do mercado oriental. Com o desenvolvimento do comércio, o sistema feudal começa a ser fragmentado e perde força. O crescimento das cidades e do consumo levou ao desenvolvimento do mercado de trabalho, e os excedentes das mercadorias passaram a ser vendidos em troca de dinheiro para um mercado ainda maior. A expansão do comércio levou às grandes navegações que buscavam expansão territorial, novos fornecedores e novos produtos. A conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos colocou um obstáculo no acesso privilegiado da Europa ao Oriente, e então começaram a ser explorados novos caminhos alternativos para garantir o abastecimento. Neste momento temos a forte disseminação da hegemonia cultural, política e militar da Europa, que não apresentava bons níveis de desenvolvimento pelo mundo em detrimento das demais e bem desenvolvidas culturas. Os europeus não alcançaram o caminho para as Índias, mas a cada novo espaço descoberto iniciava-se o processo de ocupação, com a 21 escravização dos nativos e a extração de metais preciosos e demais riquezas. Esse processo de escravização e extrativismo passou a ser o modelo de colonização, uma vez que chegavam em busca de enriquecimento e não em busca de trabalho. A chegada dos portugueses no Brasil não foi esperada e não empolgou a tripulação. Com uma população pequena, uma localização pouco privilegiada em um momento em que os fretes eram altos e havia instabilidade da segurança dos transportes de longa distância, com falta de metais preciosos e riqueza já acumulada, a colonização se fundamentou na extração de pau-brasil e cana-de-açúcar. À época, a cana-de-açúcar era um produto com alto valor no mercado europeu e compensava riscos e custos do transporte de longa distância. Também foram extraídos metais preciosos, e para realizar todos os trabalhos necessários, houve a escravização de índios. O trabalho todo de extração pode ser considerado o início do desmatamento no Brasil, e o pagamento aos nativos era considerada uma troca, o chamado escambo. Pelo pau-brasil (e demais bens) retirado das terras e pelo serviço de extração realizado pelos nativos eram entregues itens desconhecidos por eles como espelhos, miçangas e bijuterias baratas. Uma troca cujo valor estava longe de ser equivalente. Em contrapartida, os bens extraídos do Brasil eram comercializados e rendiam bons ganhos pelo mundo. Principalmente a cana-de-açúcar, que chegou a ser considerada como ouro branco, tamanho seu valor no mercado. Temos o Brasil e sua colonização pelo império português que, mesmo após a independência política e extinção da monarquia, tem suas atividades econômicas voltadas à concentração dos meios de produção e do interesse externo. Com a vinda da família real para o Brasil e a abertura dos portos às nações amigas, findava o período colonial e a exclusividade comercial, mas o panorama econômico não mudou. 22 A política tinha como moderador o monarca que, em um Estado Absolutista, mantinha afastadas as classes populares e demonstrava um afeto especial à escravidão. O café passou a ser a opção de continuidade econômica e colocou o Brasil em posição importante no fornecimento, sendo responsável por metade da produção mundial. O crescimento econômico do Brasil oriundo das exportações do café foi determinante para o desenvolvimento, atrelado à abolição dos escravos, à construção das estradas de ferro e ao aumento da imigração estrangeira. É interessante entender esse processo histórico para que vejamos que muitas vezes os ciclos se repetem. Os ingleses se interessavam muito pelo Brasil, não apenas pelos recursos primários valiosos, mas também pelas exportações primárias e pelo potencial de consumo que representava a população daqueles que ainda eram escravos. Pedro II trabalhou em favor destes interesses e, mantendo as exportações agrícolas como base da economia brasileira e erradicando a escravidão, acabou se indispondo com a aristocracia cafeeira, culminando no golpe militar de 1889 que trouxe a república ao governo. O foco da república seguia na exportação primária brasileira, uma vez que havia pouco fomento para a indústria nacional e a extração de produtos primários fazia pouco ou nenhum uso de processos industriais. Além disso, o Brasil era dependente das importações de bens de consumo, o que passou a ser um grande problema com as crises que aconteceram nos Estados Unidos e Europa, as quais deixaram o Brasil extremamente vulnerável. 23 Ante às crises, a expansão das cafeiculturas brasileiras promovia aumento da oferta para uma demanda em crise. Grande oferta e pouca demanda levam à necessidade, em muitos casos, de redução de ganhos para redução de preços de venda. Isso não era o desejo dos cafeicultores. Isso levou, segundo Corsi et al. (2010), à necessidade de socializar os prejuízos mantendo as margens de lucro dos cafeicultores. Essa manutenção foi trabalhada por meio de desvalorização cambial e compra de estoques excedentes. Concomitante a isso, a política monetária brasileira não favorecia a demanda interna, gerando problemas para o processo de industrialização no Brasil. Enquanto isso, no mundo, a Inglaterra vivia um período importante para o desenvolvimento da indústria, o que levou a aumento da produtividade, redução de custos e aumento dos ganhos. Em um ambiente economicamente mais liberal, com foco na eliminação de fronteiras e integração de economias, os britânicos passaram a ter, segundo Corsi et al. (2010), uma supremacia sobre o mundo devido ao estabelecimento de zonas de poder. Crises ligadas à superestimação de jazidas de ouro nos Estados Unidos, quebra de empresas ferroviárias na Europa, especulação imobiliária e na indústria de transformação, de acordo com Corsi et al. (2010), trouxeram novos momentos de crise. Crises levam a alterações na produção e consumo, gerando instabilidades econômicas, desemprego e desgastes. 1.2 Industrialização Brasileira A expansão cafeeira possibilitou a formação e crescimento de uma burguesia comercial brasileira que organizou a produção e possibilitou conhecimento para aproveitar as condições de mercado, além de substituição do trabalho escravo por assalariado, fazendo uso da mão de obra de imigrantes italianos. A expansão demonstrava índices de 24 desenvolvimento e acumulação de capital. Com a crise do setor cafeeiro o foco se voltou para o crescimento de renda do setor industrial-urbano, segundo Corsi et al. (2010). Neste momento de crise, as importações sofreram impacto e foi necessário estimular e desenvolver as indústrias internas de bens de consumo em um processo que foi chamado de substituição das importações. Embora indústrias nos segmentos de cerveja, fundição e chapéus tenham se instalado no Brasil nesta época, até meados de 1950 a indústria brasileira dependia em demasia da oferta externa de bens de consumo. Em busca do crescimento, foram criados órgãos de regulação e fomento para setores específicos, houve um processo que perdoou parte das dívidas de proprietários rurais, realizou-se a protecionista reforma tributária, a proibição de máquinas e equipamentos industriais para setores cuja produção estivesse excedendo os níveis de consumo nacional e o favorecimento para importação de máquinas e equipamentos industriais para áreas consideradas importantes pelo atual governo. Essas providências forma tomadas em conjunto com um processo de reforma educacional focada no preparotécnico de novos profissionais. Em contrapartida ao movimento mundial liberal do mercado, o governo brasileiro, à época com Vargas, insistia no controle rígido de câmbio, o que ocasionou mal-estar com credores externos. Além disso, com postura altamente nacionalista, fora instituída a nacionalização de recursos minerais da indústria de base, banco e companhias de seguro. Todas as ações foram focadas no desenvolvimento do mercado interno e da indústria nacional. Neste processo o então ministro das relações exteriores, Osvaldo Aranha, fez um acordo com os credores americanos de retomada do pagamento da dívida externa e possível liberalização do câmbio. A ação sofreu críticas e não foi cumprida na íntegra por Vargas, porém, devido 25 à guerra, foi o caminho utilizado por Vargas para alinhar-se com os Estados Unidos por causa dos ataques alemães a navios brasileiros. Segundo Corsi et al. (2010), a infraestrutura de transporte e energia estava defasada, o parque industrial, obsoleto, e o setor financeiro não conseguia atender às necessidades de financiamentos à indústria e agricultura. Ainda neste período os níveis de inflação seguiam aumentando. O cenário foi agravado com a entrada do Brasil na guerra, em 1942. Após medidas voltadas à centralização do poder, ampliação de benefícios trabalhistas, uso da propaganda política para ressaltar os benefícios da gestão e de uma capacidade especial de negociação política, com um ultimato dos militares, Vargas renunciou à presidência em 1945. De 1989 até os dias atuais, os governos instituídos no Brasil foram os seguintes: Primeira república (1889 a 1930): República da espada e República oligárquica. Segunda república (1930 a 1937): Governos provisório e Constitucional. Terceira república (1937 a 1946): Estado Novo. Quarta república (1946 a 1964) República Populista. Quinta república (1964 a 1985): Ditadura Militar. Sexta república (1985 até os dias de hoje): Nova República. Em cada fase projetos são desenvolvidos em busca de objetivos do governo para o Brasil. A cada governo é possível verificar diferentes formas de 26 distribuição de renda, diferentes índices de desemprego e oportunidades de emprego, diferentes níveis de inflação e formas de se controlar este índice tão importante. A cada governo são implantadas novas políticas financeiras e fiscais que impactam cada negócio instalado no Brasil. 1.3 Pós-guerra, crise e anos dourados Em um período mundial de movimentos econômicos com princípios liberais, os países se movimentavam lentamente para esta transição. O Brasil sofria com o impacto da Guerra Fria e com várias crises de balanço de pagamentos. Esse sofrimento levou o Brasil a deixar de lado os princípios liberais e implementar um modelo com forte intervenção do Estado. Com a inflação alta e em meio a um colapso cambial, segundo Giambiagi (2016), as dificuldades aumentavam. Com a chegada de Eisenhower ao governo americano em 1952, foram interrompidos alguns financiamentos e adotadas condições extremamente duras para um empréstimo cujo objetivo era regularizar a situação dos volumosos atrasos. Em 1955, com o discurso de que o desenvolvimento econômico é a forma de transformar um país estruturalmente, Juscelino Kubitschek é eleito. Neste momento o Brasil estava em um momento de desenvolvimentismo, crescimento acelerado, transformação estrutural da economia brasileira e pleno uso das liberdades democráticas (GIAMBIAGI, 2016). 1.4 Planos econômicos Com o intuito de conter a inflação, no decorrer de alguns governos foram apresentados planos econômicos com objetivos específicos: Plano 27 de ação econômica do governo – PAEG (1964), Planos Cruzado 1 e 2, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor 1 e 2. Com a inflação em níveis altos e estagnação da economia brasileira, os governos buscavam soluções aplicando planos que confiscaram e congelaram as poupanças dos brasileiros (Plano Collor 1) e, no Plano Collor 2, iniciou a restituição, sem correção monetária, das poupanças congeladas. Foi um período difícil para economia e para a população. 1.5 Ditadura Militar Após um período de alta polarização de interesses, de acordo com Corsi et al. (2010), a saída encontrada pelos representantes dos interesses dos latifundiários, do capital financeiro e do capital externo foi a ruptura da ordem legal, por meio do golpe de 1º de abril. Instaurou-se então, uma ditadura militar, extremamente direitista, que, segundo Corsi et al. (2010), bloqueava a elevação do nível de vida dos trabalhadores e o crescimento dos salários reais. Com duração de 21 anos, passou por cinco mandatos e diversos atos institucionais. Estes atos concediam poder e garantiam a permanência no poder aos militares. Foi durante a ditadura militar que a economia brasileira viveu o “milagre econômico” e plantou a semente da “década perdida”. 1.6 Economia nos dias atuais Com o Plano Real foi possível alcançar a redução da inflação e seu controle por um longo período. O Plano Real foi criado em 1994 no governo de Itamar Franco, e mesmo após a crise cambial de 1998/1999, a mudança de regime da política econômica e mudanças nos governos 28 passando por Fernando Henrique Cardoso e Luíz Inácio Lula da Silva, foi possível manter a estabilidade. Como consequência do controle da inflação, segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2016), é possível notar a melhora do poder aquisitivo do brasileiro, além do aumento real do salário-mínimo e diversos programas assistencialistas. Em 2022, com o presidente Jair Bolsonaro, a política ultraliberal aplicada à economia, atrelada à pandemia de covid-19 (crise de saúde pública que assolou o mundo nos anos de 2020 e 2021) coloca o Brasil em uma situação de estagnação econômica, altas taxas de desemprego e alta da inflação. 2. Considerações finais Pudemos perceber como é importante entender a história. A exportação de produtos primários é uma realidade ainda; nossa vulnerabilidade às crises internacionais vem diminuindo com o passar dos anos, mas ainda faz parte do nosso cenário. Dentre tantos nomes e bases políticas diferentes, você pode entender que em cada fase foram apresentados planos voltados a um determinado objetivo. Ora em busca do desenvolvimento brasileiro, ora em busca da industrialização brasileira, ora em busca de manter poder sobre as decisões brasileiras. O importante é que você entenda que em cada governo há um processo econômico, este governo é influenciado por tudo o que já aconteceu anteriormente, e a gestão do seu negócio, a preparação dos cenários e interpretação destes resultados depende da correta compreensão da atualidade ou da perspectiva futura. Para ficar claro, imagine que sua empresa planeja fazer uso de uma linha de crédito internacional disponibilizada a ela para exportações futuras. 29 Essa linha será internacional, ou seja, em moeda estrangeira. Para simular um cenário é necessário entender o mercado de câmbio atual e suas possíveis projeções. Nestas projeções futuras você entenderá se é viável ou não tomar esse crédito. Estas projeções consideram, por exemplo, expectativas de nomes para o futuro presidente, caso estejamos próximos de eleições, consideram as medidas do governo atual e perspectivas. Por isso é tão importante entender o que já foi vivido na economia brasileira. Referências CORSI, Francisco L.et al. Economia brasileira: da colônia ao governo Lula. São Paulo: Saraiva, 2010. GIAMBIAGI, Fabio. Economia brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2016. GREMAUD, Amaury P.; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval D.; TONETO JR., Rudinei. Economia brasileira contemporânea. 8. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2016. PIRENNE, Henri. História econômica e social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou, 1968. 30 Relações entre mercado interno e externo Autoria: Ingrid Pfützenreuter Castanho Bizan Leitura crítica: Flavio Kaue Fiuza de Moura Objetivos • Apresentar as diferenças entre mercado interno eexterno. • Apresentar como as importações e exportações impactam a elaboração de cenários econômicos. • Orientar sobre como se dá a formação da taxa cambial e seu reflexo no processo de elaboração de cenários. 31 1. Mercado interno e externo Compreender as diferenças entre as negociações nacionais e internacionais é uma condição importante para desenvolver negócios sustentáveis, e compreender as relações entre estes mercados é essencial para a produção e análise de cenários econômicos. Alguns detalhes que acompanham uma negociação internacional diferem das negociações nacionais e podem inviabilizar negócios, bem como a não observação do impacto de alterações econômicas na taxa do dólar ou mesmo nos resultados da balança comercial. Desta forma, este tópico tem como objetivo apresentar os pontos importantes que devem ser analisados no mercado interno e no mercado externo para a produção de cenários assertivos. Quando tratamos de vendas no Brasil, estamos acostumados à carga tributária inerente, além de toda a burocracia necessária. Para um brasileiro, é a zona de conforto. Claro que sabemos que para vender não basta ofertar um produto, é necessário analisar público-alvo, montara estratégia, analisar o produto e fazer testes até que se encontre a forma ideal de vender seu produto. Ainda mais atualmente, quando temos uma variedade de produtos, inclusive digitais, cujas formas de divulgação, promoção e vendas diferem muito, além das possibilidades de distribuição que, com o e-commerce, foram potencializadas. Mas ainda estamos no Brasil. As regras são conhecidas e de fácil compreensão. Aliás, vale dizer que com a difusão do e-commerce, com as facilidades percebidas e, principalmente, com o esforço das empresas em tornar essas operações seguras e regulamentadas, muitos negócios têm saído do papel e se tornado uma opção atrativa e cômoda para tantos clientes brasileiros. 32 Mas e a burocracia? Estando no Brasil sabemos que para iniciar seus negócios é necessário formalizar a empresa. Essa formalização ocorre por meio da autorização legal, ou seja, do registro nos órgãos do governo, junta comercial, prefeitura e receita federal. Trata-se de um procedimento gratuito; entretanto, após a formalização, é necessário recolher mensalmente as contribuições de acordo com o enquadramento da empresa. Com a formalização da empresa já começa a necessidade de projeção de cenários para identificar qual produto poderá ser “estrela” ou mesmo qual produto poderá ser “vaca leiteira”. Estes são termos usados pela matriz BCG. Matriz BCG é uma análise gráfica que considera como fatores-chave a participação no mercado e o potencial de crescimento dos produtos. Com esta análise é possível iniciar a produção de cenários e trabalhar para a realização do planejamento estratégico. De toda forma, segue a premissa que, apesar da necessidade de análises, das ferramentas e produtos serem os mesmos, ainda assim é bem diferente projetar cenários para o mercado nacional e internacional. No Brasil nossos negócios são impactados por questões estruturais, trabalhistas, econômicas e burocráticas, que chamamos de custo Brasil. O custo Brasil influencia diretamente nossa margem de lucro, o valor de venda para o mercado e a decisão acerca de qual será a forma de distribuição do produto –isso porque o Brasil tem um sistema tributário complexo e alto custo do capital. Além disso, nossa infraestrutura de transportes, energia, saneamento e telecomunicações não favorece o fluir dos negócios. Com estradas de baixa qualidade, altos valores de pedágio e dos combustíveis, vemos aumentado o custo com fretes para a distribuição física dos produtos. Para a melhora na infraestrutura é necessário investimento, logo, dentro da necessidade de projetar cenários, sabemos que este é um ponto 33 que foge à responsabilidade das empresas e, neste caso, precisa ser considerado como realmente é apresentado. A compreensão a respeito do que impacta a projeção de cenários e o entendimento do que pode ou não sofrer alterações é um fator importante no resultado. Quando passamos a pensar no mercado externo, os pontos a analisar não são menores, muito pelo contrário, as variáveis aumentam progressivamente, pois é necessário avaliar diferentes países. Vamos supor que uma empresa brasileira demonstre vontade de acessar o mercado internacional. Vários motivos poderiam estimulá-la a esta empreitada: as vendas em moeda estrangeira, os benefícios fiscais das exportações, maior ocupação da capacidade produtiva da empresa, aperfeiçoamento dos recursos humanos, maior necessidade de inovação e aperfeiçoamento dos processos produtivos, prolongamento do ciclo de vida de um produto e, principalmente, melhora da imagem da empresa, inclusive com o mercado nacional. Entretanto, a motivação para iniciar operações no mercado externo não pode e não deve ser a única análise. É necessário entender que ao ampliarmos nossos negócios para o mercado externo, ampliamos também as variáveis que os impactam. Ao decidir iniciar negócios com o mercado externo, a empresa precisa avaliar por qual mercado iniciará sua empreitada, além disso, precisa entender que a proximidade cultural é um fator importante para minimizar a necessidade de grandes adaptações nos produtos. Ou seja, ao decidirmos internacionalizar nossos negócios, é proveitoso que se escolha um país próximo geograficamente e culturalmente. E por que escolher um país próximo geograficamente? Quando falamos em Brasil as distâncias são conhecidas, as estradas, ruas, rios e rodovias 34 já são mapeadas e, em muitos casos, o frete já é conhecido por todos os envolvidos. Entretanto, quando falamos de mercado externo, falamos em distâncias maiores e desconhecidas. Neste caso, é interessante que a empresa busque países próximos a ela, inclusive para facilitar processos de troca e assistência técnica. Outros fatores que influenciam demais quando pensamos em nossas negociações são as questões sociopolíticas. Falamos anteriormente do impacto do custo Brasil e da legislação. E quando pensamos em mercado externo? Isso é potencializado. Cada país tem seu governo, sua legislação, suas barreiras, seus controles. Quando ampliamos nosso mercado é necessário entender que as regras são outras e estas se tornam variáveis para o processo de projeção e análise de cenários. Até este ponto já falamos das variáveis que se relacionam quando estamos projetando ou avaliando cenários econômicos para os mercados interno e externo. Mas existe algo que acontece concomitantemente a este processo todo, que é a concorrência entre as empresas. 1.1 Concorrência No mesmo momento em que a empresa fictícia ABC realiza seu planejamento estratégico e elabora possíveis cenários para lançamento de um determinado produto, a empresa fictícia JKL realiza estudos de mercado para, da mesma forma, realizar seu planejamento estratégico e elaborar possíveis cenários para lançamento de um determinado produto. Outro ponto importante do processo de elaboração e análise de cenários é saber quem são seus concorrentes e em qual nível isso impacta seus negócios, seja no mercado nacional como internacional. 35 Como identificar e avaliar o concorrente? Segundo Parente e Barki (2014), entender quem é sua concorrência se apoia na identificação dos seus pontos fortes e fracos, comparados aos do possível concorrente em análise. A identificação destes pontos tem como intuito alinhar a vantagem competitiva de uma empresa perante a outra, e são pontos como estes que podem identificar as possibilidades de aumentar sua fatia de mercado. O processo de análise da concorrência pode ser realizado com o uso do modelo das Cinco Forças de Porter. Este modelo foi elaborado por Michael Porter em 1979 e é por meio deste modelo que podemos ter uma visão clara de quem são nossos concorrentes diretos, quem são nossos concorrentes de produtos substitutos e quem são nossos novos concorrentesno mercado. A concorrência direta refere-se às empresas que competem diretamente no mesmo mercado. É o caso de empresas como Telhanorte e Leroy Merlin, Mercado Extra e Carrefour, Lojas Renner e Lojas Riachuelo. Novos concorrentes são os possíveis novos entrantes no mercado que podem apresentar caraterísticas diferentes e, ao chegarem, podem trazer consigo uma vantagem competitiva diferente e influenciar seus negócios. A concorrência por substitutos refere-se aos produtos que podem substituir o seu em produto e em local de compra, por exemplo, segundo Parente e Barki (2014), eletrodomésticos vendidos em hipermercados concorrem com lojas especializadas em cada tipo de produto, da mesma forma que itens de lojas de conveniência como salgadinhos, por exemplo, concorrem com padarias e supermercados. Neste aspecto é importante que você avalie a sua concorrência uma vez que estes resultados impactarão diretamente sua projeção e análise dos cenários. 36 Ainda sobre concorrência, além de saber quem são os que concorrem com sua empresa, é importante você entender qual a intensidade desta concorrência. Segundo Parente e Barki (2014), número, tamanho, qualidade e proximidade da concorrência são fatores que influenciam os resultados e estratégia. Quando estamos em um mercado equilibrado, significa que o mercado possivelmente não atraia muita competição por ter um retorno de investimento alto que justifica o capital investido, mas não tão generoso para atrair novos entrantes. O mercado é considerado subexplorado quando a oferta de empresas é pequena e, neste caso, é terreno fértil para a chegada de novos concorrentes. Saturado é o mercado com uma competição muito intensa, com necessidade de muitos esforços para manter volume de vendas e ganhos. É neste mercado saturado que muitas empresas começam a aplicar a estratégia do “oceano azul”. A estratégia do oceano azul, segundo Kim e Mauborgne (2018), traz consigo a premissa de que a melhor forma de superar a concorrência é desistir de tentar superá-la, ou seja, em vez de tentar ser um peixe pequeno em uma grande lagoa vermelha toda saturada de concorrentes, a empresa vai buscar ser um peixe grande em uma pequena lagoa azul. A estratégia do oceano azul cria uma nova curva de valor a partir da elaboração de atributos diferenciados para um determinado setor, por exemplo, em vez de uma empresa vender roupas para crianças e adultos e concorrer com lojas grandes e renomadas como Renner, Riachuelo, Marisa, Besni e C&A, a empresa vai escolher seu ponto forte, sua vantagem competitiva e focar um nicho específico para atuar. Nesta escolha poderíamos ter, por exemplo, uma loja de roupas infantis para meninos de 3 a 7 anos que gostam de super- heróis. Consegue compreender como essa ação pode neutralizar a concorrência? De toda forma é importante que exista uma concorrência no mercado, afinal, as empresas acabam trabalhando suas vantagens competitivas e 37 a entrega ao consumidor tende a ser mais qualificada, principalmente quando falamos da divisão internacional da produção. A divisão internacional da produção é um conceito do liberalismo que indica que cada país deve focar seus esforços para produzir aquilo em que tem expertise para cobrir sua demanda interna e vender aos demais países o excedente; e comprar dos demais países o que não produz por não ter know-how. Se ampliarmos o conceito que estamos estudando de concorrência, com a divisão internacional da produção podemos ter um aumento na quantidade de concorrentes, sejam diretos, novos ou substitutos, mas analisando pelo fato que com a concorrência as empresas trabalham suas vantagens competitivas para melhor atender aos clientes, essa divisão pode ser interessante ao consumidor. E onde a divisão internacional da produção entra na projeção e análise dos cenários? No momento em que você amplia sua análise da concorrência globalmente e precisa relacionar seus resultados, os do seu país, os do concorrente estrangeiro e os do país em questão. 1.2 Mercado cambial e taxa de câmbio Quando ampliamos nossos negócios globalmente é necessário entender que as variáveis que impactarão nossa projeção e análise de cenários também são aumentadas. Um dos aspectos cruciais quando pensamos em elaboração de cenários econômicos é o mercado cambial. O mercado cambial influencia inclusive negócios que são essencialmente nacionais, pois muitas matérias-primas ou mesmo os combustíveis sofrem com a variação cambial. Neste caso, as variações previstas abalarão diretamente suas projeções. O mercado cambial é o lugar em que são trocadas moedas entre os agentes econômicos, ou seja, a moeda de um país é ofertada em troca da moeda do outro. Essas moedas são chamadas de divisas no mercado cambial. 38 As operações sempre acontecem aos pares, é necessário entregar uma moeda para comprar a outra. Para que essas trocas sejam realizadas, cada moeda tem um valor perante a outra. Essa valoração é chamada de taxa de câmbio. A taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. Por exemplo, se o mercado indica que US$ 1,00 = R$ 5,15, significa dizer que para comprar um dólar eu preciso desembolsar cinco reais e quinze centavos. A taxa cambial mede o valor externo da moeda e nos informa a relação direta entre os preços domésticos das mercadorias, os fatores produtivos e a correlação nos demais países. Neste ponto, para que você compreenda a importância da taxa do dólar em seu processo de elaboração e análise de cenários, saiba que as variações nas taxas de câmbio favorecem ou desencorajam as importações e exportações. Por exemplo, a empresa fictícia ABC gostaria de exportar, e após os trâmites necessários, recebeu seu pedido de US$ 100.000para o Chile. Do outro lado, a empresa fictícia JKL precisa importar uma determinada matéria-prima do México no valor de R$ 100.000. Vamos supor que quando a empresa ABC negocia seu recebimento, a taxa de câmbio no mercado é R$ 5,15, e quando a empresa JKL negocia seu pagamento, a taxa de câmbio no mercado é R$ 5,45. Para a empresa ABC esta venda de exportação significa o recebimento de R$ 515.000no fechamento de câmbio. Para a empresa JKL, a compra desta importação significa o desembolso de R$ 545.000 no fechamento de câmbio. Neste caso percebemos que a importação tem seu valor em moeda nacional mais alto do que o valor de recebimento da exportação. Esse tipo de oscilação acontece todos os dias nos mercados e precisa ser avaliada quando são realizadas as projeções e análises de cenários. 39 Com a desvalorização da moeda nacional, que é quando eu preciso de muita moeda nacional para a troca com a moeda estrangeira, há um movimento da economia em que o produto nacional é mais barato que o importado, e a consequência é a diminuição natural das importações e aumento das exportações. As taxas de câmbio são fortemente influenciadas pelos níveis de inflação dos países, além da taxa de juros, fluxos de capital e dos níveis de atividade industrial. Dessa forma, o conhecimento a respeito dos países com os quais você vai negociar é tão importante quanto o conhecimento acerca de seu próprio país. Essa informação pode ser diferencial para decidir em qual momento lançar seu produto e qual valor pode ser cobrado, enfim, para permitir a elaboração de cenários com todas as condições necessárias para que o lançamento seja um sucesso e para que você esteja preparado para um plano B. 2. Considerações finais Negociar é uma habilidade técnica, ou seja, pode ser treinada. Posto isso, para desenvolver esta habilidade você precisa negociar diversas vezes. Projetar e analisar cenários é, da mesma forma, uma técnica, e pode ser treinada. Quanto mais se projeta e analisa cenários, mais qualificadas são suas projeções. Entretanto, para ambas as situações não adianta treino se não houver a informação necessária para persuadir, conquistar, planejar e simular, e é neste quesito da informaçãoque entra a importância deste módulo. É fundamental para a projeção de cenários a compreensão do ambiente em que aquele planejamento está inserido e para quais condições ele pode variar. Somente a partir desta compreensão é que o treino fará 40 parceria com a qualidade dos resultados, seja com uma venda realizada após negociação ou com um cenário projetado de forma assertiva. Os negócios não ocorrem isoladamente, todos somos interdependentes de forma global. A globalização possibilitou as trocas internacionais e aumentou as variáveis ao se realizar o planejamento estratégico e elaborar cenários econômicos. A interdependência do seu negócio com a vantagem competitiva de seu concorrente, as questões relacionadas ao custo Brasil, a desvalorização cambial, níveis de inflação e as taxas de câmbio permitem mais possibilidades de você alcançar o mercado global, desde que saiba fazer uso das variáveis em sua elaboração de cenários econômicos. Referências COBRA, Marcos. Administração de marketing no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. KIM, W. Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. PARENTE, Juracy; BARKI, Edgard. Varejo no Brasil: gestão e estratégia. São Paulo: Grupo GEN, 2014. 41 Ferramentas para análise e construção de cenários Autoria: Ingrid Pfützenreuter Castanho Bizan Leitura crítica: Flavio Kaue Fiuza de Moura Objetivos • Apresentar as ferramentas para análise e construção de cenários. • Demonstrar, por meio de exemplos, a utilização das ferramentas. • Orientar sobre como projetar e elaborar cenários. 42 1. Projetando e Analisando Cenários Quando pensamos em cenários, logo imaginamos a projeção de situações hipotéticas baseadas em previsões econômicas e mercadológicas que sirvam de base para o plano de negócios e o planejamento estratégico. O planejamento estratégico é essencial para direcionar as ações da empresa que devem ser tomadas no curto prazo e para alcançar os resultados desejados no longo prazo. Junto do planejamento estratégico temos o plano de negócios, que com a simulação do futuro realizada por meio da projeção e análise de cenários nos ajuda a mitigar riscos, antecipar problemas e quem sabe até aproveitar melhor as oportunidades. Neste ponto é importante evidenciar que, segundo Dornelas et al. (2015), não há como garantir o sucesso do que foi definido no plano de negócios, uma vez que não há como garantir que o planejamento será executado à risca e, principalmente, que o mercado se comportará exatamente como previsto na projeção e elaboração dos cenários. Ao nos lançarmos no mercado estamos sujeitos às variações do ambiente de forma global e, acredite, essas variações impactam os negócios. Dada a questão da impossibilidade de controlar o futuro – mesmo com as melhores projeções e análises –, é importante se resguardar fazendo uso de técnicas e ferramentas que possam ao menos mitigar os riscos e proporcionar a construção de planos para diferentes cenários. 1.1 Causation e Effectuation O processo de projeção e análise de cenários é importante para dizer à gestão quais são os caminhos a seguir caso a taxa do dólar alcance um determinado patamar, por exemplo. Ou mesmo para indicar o plano 43 de ação caso a demanda por um determinado produto suba ou caia drasticamente. Usualmente pensamos antes de agir. Planejamos antes de executar. Estimamos, definimos e alcançamos o que é necessário e somente a partir daí seguimos em frente. Essa é a lógica do causation. Causation é um processo decisório que se concentra na obtenção dos meios e seus efeitos para alcance dos objetivos. Essa lógica de pensamento é importante para a gestão de negócios, principalmente na projeção e análise de cenários. Além disso, quando pensamos em planos de negócios para obtenção de investidores, a lógica do causation é essencial para mostrar que a ideia do negócio está estruturada e tem o potencial que é demonstrado pelas previsões de retorno financeiro, por exemplo. Entretanto, como não podemos controlar o ambiente nem a própria execução dos planos, é importante pensá-los de uma forma um pouco mais flexível. Essa é a proposta do effectuation. Effectuation é o processo decisório que se concentra na realização dos objetivos a partir dos meios já disponíveis. A partir do que eu já tenho e do que eu já conheço a respeito do mercado, do produto e das pessoas que eu conheço, sigo em frente realizando e analisando os resultados. É chamado também de “aprenda fazendo”, dada a visão de que são os resultados de curto prazo que direcionam o futuro. A lógica do effectuation se baseia em cinco princípios: • Princípio do pássaro na mão: sendo o effectuation uma ação orientada de acordo com os meios que já possuímos, este princípio significa a importância de garantir o que eu posso realizar com o pássaro que eu já tenho na minha mão. É como diz o ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. 44 • Princípio das perdas aceitáveis: ainda no sentido do effectuation ser uma ação orientada de acordo com os meios que temos, significa que investimos aquilo que possuímos e é necessário, já que a flexibilidade do effectuation não pede cálculos sobre retorno esperado, já sabendo do que se está disposto a perder caso a decisão não seja correta. • Princípio da colcha de retalhos: seguindo a lógica effectual, devemos buscar stakeholders que nos apoiem em parcerias estratégicas agregando recursos adicionais à empresa. Note que agregar recursos não se refere exclusivamente a aportes financeiros. Neste quesito incluímos recursos materiais, tempo disponibilizado e mentorias especializadas, por exemplo. Formamos a nossa colcha de retalhos aprendendo fazendo. • Princípio da limonada: um dos princípios mais importantes dentro da lógica effectual e que traduz a essência deste pensamento: “Se a vida te der um limão, faça uma limonada”, ou seja, aproveite os imprevistos como parte do processo de criação do seu cenário. • Princípio do piloto no avião: quem pilota o avião é o piloto. Quem pilota a empresa é o empreendedor. Aplicar o pensamento effectual na gestão dos negócios – e principalmente na análise e projeção de cenários – garante ao gestor posição de controle e flexibilidade para aproveitar as oportunidades do caminho. Ao pensar de forma effectual, trabalhamos um modelo flexível aberto à reescrita segundo os próprios resultados. 1.2 A projeção e análise de cenários O processo de elaboração e análise de cenários sofre grande impacto das variações dos ambientes. De acordo com Aaker (2012), ambientes são desafiadores e influenciam as pessoas e empresas que nele vivem 45 da mesma forma que sofre influência das ações das pessoas e empresas que vivem nele. Sendo um processo que exige uma visão holística ampla, é aconselhável dividi-lo em três grandes partes: ambiente interno (microambiente), ambiente externo e ambiente do consumidor (SILVA, 2020). Esse processo possibilita maior detalhamento em aspectos cruciais do negócio, e pode apontar quais são as forças e fraquezas internas potenciais, bem como as oportunidades e ameaças externas potenciais da empresa. Dentro do microambiente, o reconhecimento das forças e fraquezas internas direciona uma ação direta da empresa sobre aquilo que ela tem responsabilidade e possibilidade de intervir, diferentemente do reconhecimento das oportunidades e ameaças externas, que são forças sobre as quais a empresa não tem poder de intervenção. Figura 1 – Correlações do ambiente interno (microambiente) Fonte: elaborada pelo autor. Mas nem só de ambiente interno vive a análise de cenários. Concorrência, crescimento do mercado, estilo de vida do consumidor, regulamentação governamental, produtos substitutos, por exemplo, são 46 pontos que precisam ser sempre revisados, uma vez que direcionam as ameaças e oportunidades do mercado. Segundo Silva (2020), alguns itens podem ser ao mesmo tempo ameaças e oportunidades, comoé o caso de mudanças nos métodos de distribuição, uso e aplicação das novas tecnologias e mudanças demográficas. A compreensão do estado atual da empresa e ambiente em que ela está inserida podem apoiar a gestão na análise de ameaças e no processo de torná-las oportunidades. Dentro do pensamento effectual é possível compreender as ameaças e torná-las oportunidades. O processo effectual é aprendizado em toda sua jornada; dessa forma, ao se deparar com algo ameaçador, dada a flexibilidade e abertura à mudança, é possível estudar se aquela ameaça impede nossa caminhada ou se ela abre novos caminhos para expansão ou mesmo mudança no trajeto. Figura 2 – Correlações do ambiente externo (macroambiente) Fonte: elaborada pelo autor. Além destes aspectos, o ambiente do consumidor, segundo Ferrell e Hartline (2005), precisa ser avaliado de forma detalhada e separada para possibilitar a identificação de quem é o consumidor atual da sua empresa, quais são as expectativas deste consumidor com relação 47 ao seu produto, e se as características especiais do seu produto são percebidas por este consumidor potencial. Nesta análise do ambiente consumidor é possível identificar ameaças e transformá-las em oportunidades. Criação de novos produtos e redirecionamento de marca, por exemplo, são possibilidades desta visão e pontos importantes na projeção e análise de cenários. Figura 3 – Correlações do ambiente consumidor Fonte: elaborada pelo autor. De forma a potencializar a análise, é importante entender que uma empresa não tem apenas um público. Existem grupos de públicos que se dividem, segundo Silva (2020), em: público financeiro (acionistas, investidores); formadores de opinião (comentaristas, jornalistas, influencers); público governamental (legislação, restrição, controle); grupo de interesse (associações de consumidores, grupos ambientais, associações de classe); público local (associações de moradores); público geral (possíveis consumidores potenciais que usam e experimentam – inclusive os que não gostam da marca); público interno (funcionários, acionistas); público intermediário (representantes, vendedores, fornecedores, distribuidores, transportadores). 48 Analisando todos os ambientes teremos em mãos inúmeros dados que precisam ser tratados para gerar informação de qualidade e estratégica que apoiem na tomada de decisão. Uma ferramenta que é muito utilizada para este fim é a Matriz SWOT. Matriz SWOT, também chamada de Análise FOFA, é uma técnica que nos ajuda a identificar oportunidades, forças, ameaças ou fraquezas, e tem importante função durante o processo de elaboração de análise de cenários. De fácil utilização, baixo custo de investimento, colaborativa e com flexibilidade para simulações, segundo Silva (2020), exige apenas que seja conhecida a natureza da empresa e do segmento em que a empresa opera. Figura 4 – Análise SWOT Fonte: elaborada pelo autor. Existe outra ferramenta para análise de forças que afetam um negócio, chamada Análise PESTEL. A Análise PESTEL tem foco no ambiente externo e analisa os ambientes Políticos, Econômico, Social, Tecnológico, Ecológico e Legal de forma que seja possível analisar de maneira abrangente o cenário externo e projetar possíveis novos caminhos a seguir. 49 Figura 5 – Análise PESTEL Fonte: elaborada pelo autor. 2. Considerações finais A projeção e a análise de cenários são ferramentas importantes no processo de gestão empresarial. Não há como tomar decisões sobre onde ou qual valor investir sem que seja sabida, ao menos, uma perspectiva do futuro. Nesta leitura digital você aprendeu que é necessário um plano de negócios, mas que nem todas as previsões darão certo, afinal não temos como controlar o ambiente e a execução do plano integralmente e, neste caso, o uso do conceito effectuation pode apoiar no processo criativo de transformação de ameaças em oportunidades. Para a identificação de possíveis ameaças e oportunidades, além da identificação das forças e fraquezas da empresa podemos fazer uso da matriz SWOT, que é uma ferramenta estratégica de fácil utilização, para analisar o cenário e apoiar na formulação de novos cenários, além da análise PESTEL, que com sua abrangência nos aspectos externos apoia a análise SWOT gerando não apenas dados, mas informações relevantes para o processo decisório. 50 Referências AAKER, D. A. Administração estratégica de mercado. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. DORNELAS, J.; BIM, A.; FREITAS, G.; USHIKUBO, R. Plano de Negócios com o Modelo Canvas. Guia Prático de Avaliação de Ideias de Negócio a Partir de Exemplos. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2015. FERRELL, O. C.; HARTLINE, M. D. Estratégia de marketing. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009. SILVA, R. da S. e et al. Análise de cenários e planejamento mercadológico. Porto Alegre: Grupo A, 2020. 51 Sumário Apresentação da disciplina Planejamento estratégico e gestão de negócios Objetivos 1. Planejamento estratégico e gestão de negócios 2. Considerações finais Referências Histórico da economia brasileira contemporânea - anos 1980 a 2000 Objetivos 1. Economia brasileira 2. Considerações finais Referências Relações entre mercado interno e externo Objetivos 1. Mercado interno e externo 2. Considerações finais Referências Ferramentas para análise e construção de cenários Objetivos 1. Projetando e Analisando Cenários 2. Considerações finais Referências
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