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1@professorferretto @prof_ferretto Modernismo - Terceira Fase L0209 - (Acafe) Relacione as colunas, considerando as especificidades e os diferentes aspectos apontados rela�vamente às obras e aos respec�vos autores. (1) Guimarães Rosa fundiu neste romance elementos do experimentalismo linguís�co da primeira fase do modernismo e a temá�ca regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora. (__) Os Sertões (2) Romance de Graciliano Ramos, publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de re�rantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos cas�gadas pela seca. (__) “A caçada”, de Lygia Fagundes Telles. (3) A relação entre Mar�m e a protagonista significa a união entre o branco colonizador e o índio, entre a cultura europeia, civilizada, e os valores indígenas, apresentados como naturalmente bons. É uma espécie de mito de fundação da iden�dade brasileira. (__) Grande Sertão: Veredas (4) Retratando o movimento de tropas, Euclides da Cunha constantemente se prende à individualidade das ações e mostra casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo massacre dos “monarquistas” de Canudos, liderado pelo “famigerado e bárbaro” Antônio Conselheiro. (__) Iracema, romance de José de Alencar (5) Um homem vai a uma loja de an�guidade e se depara com um quadro com uma imagem de mãos decepadas. A loja “... �nha o cheiro de uma arca de sacris�a com seus panos embolorados e livros comidos de traça”. (__) Vidas Secas A sequência correta, de cima para baixo, é: a) 4 - 5 - 1 - 3 - 2 b) 2 - 4 - 3 - 1 - 2 c) 3 - 1 - 5 - 2 - 4 d) 5 - 2 - 4 - 3 - 1 L0216 - (Enem) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. […] Enquanto eu �ver perguntas e não houver respostas con�nuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré- pré-história já havia os monstros apocalíp�cos? Se esta história não existe, passará a exis�r. Pensar é um ato. Sen�r é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordes�nas que andam por aí aos montes. Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que jus�ficaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar os fatos antecedentes. 2@professorferretto @prof_ferretto LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1988 (fragmento). A elaboração de uma voz narra�va peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador a) observa os acontecimentos que narra sob uma ó�ca distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens. b) relata a história sem ter �do a preocupação de inves�gar os mo�vos que levaram aos eventos que a compõem. c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso. d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas. e) propõe-se a discu�r questões de natureza filosófica e meta�sica, incomuns na narra�va de ficção. L0211 - (Enem) An�ode Poesia, não será esse o sen�do em que ainda te escrevo: flor! (Te escrevo: flor! Não uma flor, nem aquela flor-virtude – em disfarçados urinóis). Flor é a palavra flor; verso inscrito no verso, como as manhãs no tempo. Flor é o salto da ave para o voo: o salto fora do sono quando seu tecido se rompe; é uma explosão posta a funcionar, como uma máquina, uma jarra de flores. MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poé�ca de a) uma palavra, a par�r de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados. b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX. c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poé�ca. d) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-cien�fico pós-Revolução Industrial. e) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico. L0212 - (Enem) Leia o que disse João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus textos: "FALO SOMENTE COMO O QUE FALO: a linguagem enxuta, contato denso; FALO SOMENTE DO QUE FALO: a vida seca, áspera e clara do sertão; FALO SOMENTE POR QUEM FALO: o homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e na míngua. FALO SOMENTE PARA QUEM FALO: para os que precisam ser alertados para a situação da miséria no Nordeste." Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário, a) a linguagem do texto deve refle�r o tema, e a fala do autor deve denunciar o fato social para determinados leitores. b) a linguagem do texto não deve ter relação com o tema, e o autor deve ser imparcial para que seu texto seja lido. c) o escritor deve saber separar a linguagem do tema e a perspec�va pessoal da perspec�va do leitor. d) a linguagem pode ser separada do tema, e o escritor deve ser o delator do fato social para todos os leitores. e) a linguagem está além do tema, e o fato social deve ser a proposta do escritor para convencer o leitor. L0210 - (Enem) 3@professorferretto @prof_ferretto A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na representação gráfica, a inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por a) romper com a linearidade das ações da narra�va literária. b) ilustrar de modo fidedigno passagens representa�vas da história. c) ar�cular a tensão do romance à desproporcionalidade das formas. d) potencializar a drama�cidade do episódio com recursos das artes visuais. e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo desequilíbrio da composição. L0207 - (Ufpr) Leia o trecho abaixo, extraído de Sagarana, de João Guimarães Rosa: Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A erva-de- anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam, sacudindo as estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, de folhas peludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde- azul! A pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba fru�nhas fendilhadas, entrando em convulsões. – Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se acabar!... É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão. (GUIMARÃES ROSA. “Sarapalha”. Sagarana. Obra completa (vol. 1). Nova Aguilar, 1994. p. 295.) O trecho extraído do conto “Sarapalha”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, exemplifica um aspecto que está presente em todos os contos do mesmo livro. Assinale a alterna�va que reconhece esse aspecto de forma adequada. a) A religiosidade cristã católica rege as decisões humanas e transforma os homens e a natureza a par�r da ação direta de Deus. b) A ausência de aliterações e a economia de adje�vos são recursos u�lizados para representar a aridez da natureza. c) A descrição pormenorizada do espaço �sico visa a excluir a dimensão psicológica e mís�cada narra�va, para fortalecer a feição pitoresca da região. d) A descrição do meio �sico é mediada pela visão do narrador, que apresenta a natureza como elemento tão reversível quanto a condição humana. e) São narrados duelos que se travam entre o meio e o homem e que são vencidos apenas pelo uso da força �sica e da valen�a. L0208 - (Fuvest) Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo �po –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam-se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia-lua; malares 4@professorferretto @prof_ferretto pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol. Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana. *sem pelos, sem barba **tolo ***mes�ço O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que a) há clara an�pa�a do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”. b) estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refle�r a mescla de culturas própria ao es�lo do livro. c) a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro. d) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narra�va Manuel Fulô sofre derrota na luta �sica. e) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua. L0215 - (Enem) A par�da de trem Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-ves�da e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto – e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar- se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem par�r. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomo�va se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho. Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou: — A senhora deseja trocar de lugar comigo? Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter- se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini: — É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar? LISPECTOR, C. Onde es�vestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento). A descoberta de experiências emocionais com base no co�diano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfa�za o(a) a) comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada. b) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação. c) incompa�bilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes. d) constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas. e) sen�mento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento. L0214 - (Enem) Declaração de amor Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa Ela não é fácil. Não é maleável. [...] A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve �rando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo. Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes a galope. Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo em minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida. Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas, como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida. LISPECTOR. C. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro Rocco, 1999 (adaptado). O trecho em que Clarice Lispector declara seu amor pela língua portuguesa, acentuando seu caráter patrimonial e sua capacidade de renovação, é: 5@professorferretto @prof_ferretto a) “A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve.” b) “Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita.” c) “Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.” d) “Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada.” e) “Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.” L0213 - (Enem) Dois parlamentos Nestes cemitérios gerais não há morte pessoal. Nenhum morto se viu com modelo seu, especial. Vão todos com a morte padrão, em série fabricada. Morte que não se escolhe e aqui é fornecida de graça. Que acaba sempre por se impor sobre a que já medrasse. Vence a que, mais pessoal, alguém já trouxesse na carne. Mas afinal tem suas vantagens esta morte em série. Faz defuntos funcionais, próprios a uma terra sem vermes. MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). A lida do sertanejo com suas adversidades cons�tui um viés temá�co muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a) a) inu�lidade de divisão social e hierárquica após a morte. b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente. c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte. d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra. e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos. L0259 - (Fuvest) Sarapalha – Ô calorão, Primo!... E que dor de cabeça excomungada! – É um instan�nho e passa... É só ter paciência.... – É... passa... passa... passa... Passam umas mulheres ves�das de cor de água, sem olhos na cara, para não terem de olhar a gente... Só ela é que não passa, Primo Argemiro!... E eu já estou cansado de procurar, no meio das outras... Não vem!... Foi, rio abaixo, com o outro... Foram p’r’os infernos!... – Não foi, Primo Ribeiro. Não foram pelo rio... Foi trem- de-ferro que levou... – Não foi no rio, eu sei... 1No rio ninguém não anda... 2Só a maleita é quem sobe e desce, olhando seus mosqui�nhos e pondo neles a benção... Mas, na estória... Como é mesmo a estória, Primo? Como é?... – O senhor bem que sabe, Primo... Tem paciência, que não é bom variar... – Mas, a estória, Primo!... Como é?... Conta outra vez... – 3O senhor já sabe as palavras todas de cabeça... “Foi o moço-bonito que apareceu, ves�do com roupa de dia- de-domingo 4e com a viola enfeitada de fitas... E chamou a moça p’ra ir se fugir com ele”... – Espera, Primo, elas estão passando... Vão umas atrás das outras... Cada qual mais bonita... Mas eu não quero, nenhuma!... Quero só ela... Luísa... – Prima Luísa...– Espera um pouco, deixa ver se eu vejo... Me ajuda, Primo! Me ajuda a ver... – Não é nada, Primo Ribeiro... Deixa disso! – Não é mesmo não... – Pois então?! – Conta o resto da estória!... – ...“Então, a moça, que não sabia que o moço-bonito era o capeta, 5ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa, e foi com ele na canoa, descendo o rio...” Guimarães Rosa, Sarapalha. No texto de Sarapalha, cons�tui exemplo de personificação o seguinte trecho: a) “No rio ninguém não anda” (ref. 1). b) “só a maleita é quem sobe e desce” (ref. 2). c) “O senhor já sabe as palavras todas de cabeça” (ref. 3). d) “e com a viola enfeitada de fitas” (ref. 4). e) “ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa” (ref. 5). L0260 - (Fuvest) Sarapalha – Ô calorão, Primo!... E que dor de cabeça excomungada! 6@professorferretto @prof_ferretto – É um instan�nho e passa... É só ter paciência.... – É... passa... passa... passa... Passam umas mulheres ves�das de cor de água, sem olhos na cara, para não terem de olhar a gente... Só ela é que não passa, Primo Argemiro!... E eu já estou cansado de procurar, no meio das outras... Não vem!... Foi, rio abaixo, com o outro... Foram p’r’os infernos!... – Não foi, Primo Ribeiro. Não foram pelo rio... Foi trem- de-ferro que levou... – Não foi no rio, eu sei... 1No rio ninguém não anda... 2Só a maleita é quem sobe e desce, olhando seus mosqui�nhos e pondo neles a benção... Mas, na estória... Como é mesmo a estória, Primo? Como é?... – O senhor bem que sabe, Primo... Tem paciência, que não é bom variar... – Mas, a estória, Primo!... Como é?... Conta outra vez... – 3O senhor já sabe as palavras todas de cabeça... “Foi o moço-bonito que apareceu, ves�do com roupa de dia- de-domingo 4e com a viola enfeitada de fitas... E chamou a moça p’ra ir se fugir com ele”... – Espera, Primo, elas estão passando... Vão umas atrás das outras... Cada qual mais bonita... Mas eu não quero, nenhuma!... Quero só ela... Luísa... – Prima Luísa... – Espera um pouco, deixa ver se eu vejo... Me ajuda, Primo! Me ajuda a ver... – Não é nada, Primo Ribeiro... Deixa disso! – Não é mesmo não... – Pois então?! – Conta o resto da estória!... – ...“Então, a moça, que não sabia que o moço-bonito era o capeta, 5ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa, e foi com ele na canoa, descendo o rio...” Guimarães Rosa, Sarapalha. Tendo como base o trecho “só a maleita é quem sobe e desce, olhando seus mosqui�nhos e pondo neles a benção...”, o termo em destaque foi empregado ironicamente por aludir ao inseto a) causador da malária. b) causador da febre amarela. c) transmissor da doença de Chagas. d) transmissor da malária. e) transmissor da febre amarela. L0295 - (Unesp) Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa. Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prá�ca, tome-se hipotrélico querendo dizer: an�podá�co, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua �da e herdada? Assenta-nos bem à modés�a achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...] Já outro, contudo, respeitável, é o caso – enfim – de “hipotrélico”, mo�vo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de- bem e mui�ssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ín�mas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: – E ele é muito hiputrélico... Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emi�u o veto: – Olhe, meu amigo, essa palavra não existe. Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo: – Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? – É. Mas não existe. Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: – O senhor também é hiputrélico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979.) De acordo com o narrador, o hipotrélico revela, em relação à prá�ca do neologismo, uma postura a) indiferente. b) enigmá�ca. c) conservadora. d) visionária. e) inovadora. L0296 - (Unesp) Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa. Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas 7@professorferretto @prof_ferretto as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prá�ca, tome-se hipotrélico querendo dizer: an�podá�co, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua �da e herdada? Assenta-nos bem à modés�a achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...] Já outro, contudo, respeitável, é o caso – enfim – de “hipotrélico”, mo�vo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de- bem e mui�ssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ín�mas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: – E ele é muito hiputrélico... Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emi�u o veto: – Olhe, meu amigo, essa palavra não existe. Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo: – Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? – É. Mas não existe. Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: – O senhor também é hiputrélico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979.) O efeito cômico do texto deriva, sobretudo, da ambiguidade da expressão a) “homem-de-bem”. b) “bom português”. c) “indesejável maçante”. d) “necessidades ín�mas”. e) “indivíduo pedante”.