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AD1 - Jorge Luiz de Oliveira Guerreiro 18216090218 - Patrimônio Cultural

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Humanas
Licenciatura em História
Jorge Luiz de Oliveira Guerreiro
PATRIMÔNIO CULTURAL
Rio de Janeiro
2020
1ª etapa : 
1) Explique por que as noções de nação e patrimônio estão imersas na História.
De acordo com a leitura dos textos propostos para essa atividade e o material didático da
disciplina, passaremos a responder aos questionamentos que foram apresentados. 
Segundo Márcia Chuva, na construção das noções de nação e patrimônio é fundamental que
se tenha uma compreensão de historicização e um rompimento com o passado. Somente por meio
de um rompimento com o passado é possível se gerar um sentimento de pertencimento a um novo
tempo, o que geraria a noção da importância de se preservar algo que se julga inestimável, e que
está ameaçado de se perder. 
Márcia Chuva advoga que não se deve desagregar a noção de patrimônio da formação das
nações, porque todo patrimônio que se pretende preservar é um patrimônio particularmente
espelhado em termos de passado nacional.
As noções de nação e patrimônio estão imersas na história marcadas na virada do século
XIX para o XX, dentro do texto do capítulo 1 – parte 1, do livro de Márcia Chuva, intitulado Os
Arquitetos da Memória: sociogênese das práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil,
a princípio, pelo fundamento de que o progresso viria numa condição de desenvolvimento para um
mundo melhor para cada nação e relacionados a essa possibilidade estava o desejo nacional de
reconhecimento universal dessas nações a partir de suas heranças nacionais, ou seja, de seu
patrimônio. 
Nessa lógica, as histórias nacionais produzidas eram materializadas e preservadas em seus
patrimônios nacionais e, a partir desse momento, se tornavam protegidos como legado de um tempo
passado. Dessa forma, esses patrimônios eram classificados como herança de um outro tempo para
exibições de reconhecimento nacional para as gerações futuras. 
Em nosso tempo, essa noção de patrimônio e nação tem a ver com a memória do futuro, no
sentido de salvaguardar a vida futura e não apenas como uma herança do passado. Por conseguinte,
o progresso que parecia próspero se tornou ameaçador para as gerações futuras e essa noção de
nação e patrimônio veio para servir de alerta para prevenção de um futuro desastroso e trágico. 
Nessa perspectiva, a afirmação de Márcia Chuva de que a noção de patrimônio progrediu no
sentido de que qualquer parte do ponto de vista da vida humana passa a ser pensada como objeto
que deve ser preservado, o patrimônio representa as bases de sustentação da “identidade nacional”,
fazendo parte indiscutivelmente de sua história. 
Por fim, o progresso da humanidade, considerado promissor na virada do século XIX para o
século XX, gerou uma dívida para as atuais gerações, sendo necessária a preservação do patrimônio
histórico das nações como forma primaz para se preservar a memória do futuro. 
2) Caracterize as origens da preservação do patrimônio cultural na França.
Segundo Márcia Chuva, a noção de patrimônio cultural possui duas origens, sendo a
primeira na categoria monumento histórico e a segunda na prática de coleções. Assim sendo, o
termo patrimônio cultural provém de transformações ao longo da história que marcaram o processo
de modernização no final do sec. XVIII e ao longo do sec. XIX. 
A autora advoga que as origens da preservação do patrimônio aludem à França
revolucionária do final do século XVIII, ocasião em que a noção de nação era algo ainda muito
recente, significando o rompimento com o antigo regime, mas investigando um passado de
tradições históricas contínuas para França. Para tanto, a permanência do patrimônio cultural era
fundamental para encorajar o espírito de nacionalismo, e de enaltecimento da herança nacional, que
fora incorporado após a revolução. Nesse ínterim histórico, foi concretizado na França o primeiro
inventário dos monumentos nacionais.
De acordo com a autora, esse regresso ao passado, mediante essas memórias, faz com que a
procura por memórias do passado no presente proporcione que o presente esclareça o passado e
determine a relevância desse passado no presente. A impressão que fica é a de que os franceses
procuraram fortalecer-se enquanto nação ao recordarem acontecimentos que se transcorreram há
três séculos, salvaguardando seu patrimônio cultural. 
Márcia Chuva também destaca que a Revolução Francesa possibilitou uma atitude destrutiva
dos monumentos franceses e, para reprimir essas reações, foram criadas defesas; uma das mais
significativas foi a fundação de museus para guardar os monumentos ameaçados. Cabe ressaltar,
que essa foi também uma das origens de manutenção do patrimônio cultural da França, além da
criação do calendário revolucionário. 
3) Apresente as semelhanças entre o modelo francês de organização do patrimônio cultural e o
brasileiro.
Segundo Chuva, o modelo francês representou a primeira tentativa de uma política pública
de preservação, influenciando instituições e leis que foram empregadas em diversos países. Nesse
ponto de vista, o Brasil também manifesta grande influência do modelo francês, especialmente
quando adotou o modelo estatal e centralizador de organização do patrimônio, no modelo
classement, conhecido no Brasil como tombamento. 
A autora salienta que, tanto na França quanto no Brasil, foram criadas comissões para
inventário e preservação dos monumentos nacionais. Foram elaboradas diretrizes que certificassem
a preservação e o tombamento dos mesmos. Em 1887, foi criada na França a Comissão Superior de
Monumentos Históricos. No Brasil, os debates sobre a manutenção do patrimônio nacional foram
introduzidas na década de 20, sendo estabelecido mais tarde, o Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Sphan), em janeiro de 1937.
De acordo com Márcia Chuva, a similaridade está no que foi visto como arquitetura
tradicional do período colonial, como representante das origens da nação, análoga ao que
aconteceu na França quando buscam na recordação de sua história, identificar sua identidade
nacional. 
Consoante a autora, essa escolha equivalente ao modelo francês examinaria através do
presente, um passado que fosse inspirado pela escolha de heróis nacionais que lograriam contribuir
com as ações do futuro, para compreender as diferenças no presente. 
Parece verossímil acreditar que a preservação do patrimônio cultural como função do estado
no Brasil também seja equivalente ao modelo francês, como aspecto de preservação desse
patrimônio, além do tombamento desses patrimônios nas cidades, particularmente no estado de
Minas Gerais. 
4) Estabeleça as conexões entre formação dos estados nacionais e organização da preservação
do patrimônio cultural no Ocidente.
Consoante a autora, a materialidade intrínseca à noção de patrimônio esteve presente por
meio da territorialização na noção de patrimônio do mundo ocidental. Desde o cristianismo já havia
valorização dos vestígios através das relíquias, santos e tesouros das igrejas e monastérios. Essa
disposição se consolidou através do período da Revolução Francesa com a concepção da herança
nacional. 
Márcia Chuva sustenta que a partir do século XIX a necessidade de proteção e preservação
do patrimônio nacional se estabeleceu no Ocidente. Na França foi firmada a ingerência do Estado e
as resoluções sobre a conservação do patrimônio francês, arquitetônico ou urbano, que foram
extremamente centralizadas. Essa prática só começa a mudar por volta da década de 1980, quando
os municípios passaram a participar do delineamento e elaboração dessa preservação. 
A autora notabiliza que na Inglaterra, a conservação do patrimônio cultural, também
centralizada nos monumentos históricos, não aconteceu de modo tão centralizado pelo Estado.O
emprego de um instituto administrativo de classement era observado na prática, aos monumentos de
propriedade do Estado. Nos Estados Unidos, a atuação do Estado no que se refere ao patrimônio
cultural, efetuou-se com influência bem menor e foi coordenado por associações privadas. Adiante,
em 1933, ocorreu um empreendimento de centralização dessas atividades com a constituição de
uma Inspetoria vinculada ao Departamento Federal do Interior, mas no ano seguinte foi revogada,
passando a ser mantida pelos estados. Na província de Quebec no Canadá, foram registradas as
primeiras resoluções para conservação do patrimônio com a Lei dos Monumentos Históricos ou
Artísticos. Um ano depois, a formação da Comissão de Monumentos Históricos de Quebec
acompanhou a disposição Europeia e se identificou com a legislação francesa. 
Nessa perspectiva, deduz-se que a França foi a mola mestra do fenômeno de salvaguarda
que contagiou o Ocidente, principalmente no que tange às conexões de constituição dos estados
nacionais e de organização da conservação do patrimônio cultural. 
2ª etapa: 
1) Apresente como cada um dos textos demonstra que o valor de patrimônio não está contido
nos objetos patrimonializados.
Márcia Chuva sustenta que o patrimônio imaterial ou intangível, passou a ser conhecido pela
Unesco como uma nova Obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, outorgada a
espaços ou locais em que são desenvolvidas expressões culturais e manifestações da cultura
tradicional e popular. 
Ulpiano Bezerra de Menezes nos recorda em sua narrativa a oposição inadequada instituída
entre patrimônio material e imaterial que tem impedido a produção de políticas de salvaguarda mais
eficientes e destaca a necessidade de se ponderar esta conduta a partir da perspectiva das práticas,
usos e valores culturais como também de seus promotores. Ulpiano Bezerra de Menezes elabora um
estudo sobre a necessidade fundamental de se intensificar uma atitude crítica em relação aos
valorosos princípios que direcionam a atividade no campo do patrimônio cultural.
Por essa razão, fica evidente que o valor do patrimônio cultural não está englobado apenas
nos objetos patronizados, mas também nas expressões em torno desses, como valor de bem cultural
que abraça não só uma apropriação afetiva, mas também estética.
2) Com base nos textos, mostre as mudanças de status de um mesmo monumento, no tempo ou
de acordo com os grupos sociais envolvidos.
O significado do patrimônio no texto de Ulpiano Bezerra de Meneses se refere a reflexões
diferentes para cada grupo descrito no seu texto. Para o grupo a que pertence a velhinha da história,
o patrimônio significa mais do que uma circunstância afetiva, pois a mesma e seus concidadãos
pertencem ao lugar, o patrimônio também significa virtude e envolvimento quando a velhinha faz
uso do local para as suas orações e seu bem-estar espiritual e, que provavelmente, este é um local
em que a comunidade institui o mesmo tipo de conexão. 
Nesse sentido, é verossímil afirmar que essa relação instituída tem uma tendência a se tornar
um monumento semióforo, como é estabelecido por Márcia Chuva em seu artigo, em virtude de que
a religiosidade da velhinha é um acontecimento que se converte numa representação intensa do
vínculo auferido entre a comunidade e o monumento, alterando a realidade de modo contínuo e
exprimindo um conceito representativo para o local, vertendo uma historicidade cultural do
patrimônio, seja no sentido afetivo, seja no sentido transcendental e de envolvimento. 
Em se tratando dos turistas, esse espaço tem referência e significado distintos, pelo fato de
ser um patrimônio legitimado pela cidade e possivelmente pelo país em que está inserido. A
observação desse lugar de culto vem a ser apenas um bem cultural para os turistas, no sentido em
que essa relação que se estabelece, não tem uma ligação direta entre o ele e a obra, mas a
intermediação de um especialista que forja uma visão que seja mais adequada aos mesmos, não
existindo nenhum vínculo afetivo e nem envolvimento sentimental com o lugar.
Em compensação, a cultura ocular da velhinha se retrata como um jeito de classificar o bem
pelo seu valor existencial, divergente ao uso cultural dos turistas. Nessa perspectiva, cabe ressaltar
que a identidade nacional manifestada pela autora, encarna no texto e no episódio da velhinha
apresentado por Ulpiano Meneses, ao dar significado ao bem cultural dentro da realidade marcada
através do costume da velhinha em utilizá-lo para as suas orações. 
3) Apresente suas considerações finais sobre os sujeitos de atribuição de valor aos monumen-
tos e bens patrimonializados.
O texto de Ulpiano Meneses, aborda de maneira consistente essa questão de atribuição de
valor aos monumentos e bens patrimonializados ao delinear de forma precisa, que negar acesso a
valores que podem ser partilhados é perverso, pois, tudo o que é bom, é para ser repartido, todavia,
abandonar as práticas locais seria obstruir a população local de desfrutar de um bem apontado como
universal. 
Assim sendo, salvaguardar o patrimônio cultural apenas tem significado se for para ser
distribuído de modo universal, seja para usufruto dos habitantes locais, bem como para a satisfação
de turistas de todo o mundo. Assim se consegue universalizar um bem cultural, ao repartí-lo com
toda a humanidade. É nesse instante que se descobre os sujeitos de atribuição de valor aos
monumentos e bens patrimonializados. 
Considerações finais
Em seu texto, Márcia chuva coloca em evidência o papel da dimensão cultural no plano de
construção da noção do estado brasileiro, no ponto de vista conceitual de Antonio Gramsci e
Norbert Elias e, na contramão de grande maioria de trabalhos de área que tendem a exaltar atributos
de certas figuras consensuais e certo heroísmo de grupo.
Chuva analisa as estratégias de concepção da imagem de nação no Brasil e a relação entre
criação do Estado e o Patrimônio Cultural. Investigação que se desdobra na verificação da relação
entre os intelectuais e o Estado brasileiro nas décadas de 1930 e 1940, evidenciando o papel de um
certo grupo que compõem uma rede de interesses na eleição de pontos e princípios que formularão
o núcleo central, a base discursiva e operacional para a práxis patrimonial no país: “a síntese
modernidade e a tradição”.
Já Ulpiano Menezes, faz uma abordagem relativa a um raciocínio analítico e definitivo em
ralação a profusos princípios que norteiam o trabalho na âmbito do patrimônio, onde existe um
desdobramento entre práticas e representações que, em seu entendimento, prejudica o patrimônio de
sua expressão existencial, fazendo mau uso cultural da cultura.
O autor enfatiza que a relação de pertencimento, existencial e territorializada precisa ser
amálgama da desterritorializada e desprendida de habitualidade, pois as funções cognitiva e
contemplativa precisam caminhar juntas e vinculadas pelo fato da utilização do espaço público ser
intelectual mas também de vivência. Segundo Ulpiano, o patrimônio precisa ser de interesse
público, sendo assim, os valores precisam ser enunciados, não impostos, pois estamos tratando, não
de coisas, mas daquela matéria-prima onde os significados, os valores, a consciência, as aspirações
e desejos; é o que fazem de nós seres humanos.
Enquanto Márcia Chuva se propõe revelar como o poder simbólico é constituído e exercido
a partir de grupos e de ideias; Ulpiano Menezes critica o mau uso cultural onde o simbólico
substitui as condições concretas de produção e reprodução da vida.
O patrimônio tem valor simbólico, mas também sentimental, por essa razão ele é público.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHUVA, Márcia. “Os Arquitetos da Memória: sociogênese das práticas de preservação do pa-
trimônio cultural no Brasil (anos 1930-1940)”. Riode Janeiro; ed. UFRJ, 2009. pp. 43-57 – Capítu-
lo 1 – Parte I.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. “O campo do patrimônio cultural: uma revisão de premis-
sas”. Conferência Magna no 1º Fórum Nacional de Patrimônio Cultural. Ouro Preto, 2009. vol.1.

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