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1. Gestão da sala de aula
Lição 2 de 5
Quando falamos em gestão e, especificamente, em gestão escolar, temos que pensar em todos os envolvidos e que cada um tem um papel a desempenhar. E para que os objetivos sejam alcançados, é preciso realizar o seu papel de maneira eficiente. 
 No ambiente escolar, onde há uma cultura já estabelecida, existem interesses individuais e mútuos; e isso precisa ser considerado. Prado (2017) define que:
“A gestão da sala de aula é um conjunto de ações interligadas, que envolvem todos os sujeitos, da escola e sociais, com o uso de métodos práticos próprios e sugeríveis, a fim de possibilitar o ensino e aprendizagem” (PRADO, 2017, p. 28).
A gestão da sala de aula é fundamental no processo educativo, pois é ela que irá garantir a aprendizagem significativa. Essa gestão é composta por pelo menos três ações inter-relacionadas. Veja a seguir: 
Gestão da aprendizagem 
A gestão da aprendizagem envolve mediação, interação com os alunos e conhecimento, e o professor será o elo entre o conhecimento e o aluno. Veja como é importante e complexa a atividade docente: é preciso refletir como fazer com que o aluno aprenda e quais as ações a serem praticadas para alcançar esse objetivo. Para início da ação, o primeiro passo é conhecer bem o conteúdo, sua estrutura, pesquisar a melhor forma de trabalhá-lo. Isso exige planejamento e avaliação de cada processo. 
Entender o que é aprendizagem significativa é essencial, pois isso fará diferença em cada ação planejada. O conteúdo precisa fazer sentido para o aluno, assim, o aprendizado acontecerá de forma mais tranquila, pois, nesse ponto, a interação tem grande destaque e é preciso ser pensada e repensada. Estamos falando de pessoas, de comunicação, de relações, por isso, lembre-se sempre disso. 
Gestão da conduta
Relativo à gestão da conduta, podemos afirmar que a disciplina positiva na sala de aula é fundamental para que o planejamento didático se materialize e a aprendizagem ocorra de maneira satisfatória. 
Precisamos entender que a questão da disciplina não é unilateral e, por isso, não basta estabelecer regras e tudo estará resolvido.  Punir a indisciplina não é suficiente e não garante que isso não ocorra novamente, é preciso pensar em uma gestão da conduta participativa em uma tomada de consciência por todos de forma autônoma.
Gestão da interação cultural
 
Relativo à gestão da interação cultural, é preciso entendimento das diferenças e do respeito. Somos um povo mestiço, originário de diversas culturas, então, fica fácil entender o que é interação cultural; o professor é uma pessoa que carrega uma carga cultural e o aluno precisa entender isso. Logo, é preciso diálogo, despertar do interesse pelo outro e pelos seus conhecimentos, e isso fará grande diferença na gestão da sala de aula. 
Gestão da aprendizagem;
Gestão da conduta; 
Gestão da interação cultural.
Agora, veja de forma detalhada essas ações da gestão inter-relacionadas.
Ao discutir a gestão da sala de aula, Balzan (2014) alerta para a identificação do surgimento dos problemas na sala de aula, se estes tiveram origem nesse espaço ou não. Se sim, é fundamental que as discussões ocorridas fiquem dentro da sala e não sejam externadas para toda a comunidade. Se não, são problemas originados na sala de aula e é necessário ampliar o debate, pois a escola faz parte do contexto social. 
Nesse viés, será importante discutir a quem recorrer e como recorrer. O autor ainda ressalta que o estudo da Didática trabalha com vários aspectos da educação, mas não é a salvadora de todos os problemas que surgem no espaço escolar. É preciso entender que não há receita para resolver os conflitos e gerir uma sala de aula de forma exemplar. Muitos problemas são inerentes à sala de aula e a escola não é a salvadora ou a mola-mestra para salvar a sociedade (BALZAN, 2014). Claro que a escola pode contribuir muito, mas para isso é preciso investimento em infraestrutura e valorização do magistério.
Balzan (2014) indica a necessidade de maior vinculação entre a teoria e a prática e, dessa forma, o maior comprometimento com a realidade social. Esse movimento pode sim partir da didática e pode traçar caminhos de mudança para a educação brasileira, e é evidente que isso influenciará a gestão da sala de aula.
2. Abordagens pedagógicas
Lição 3 de 5
Nos dias atuais, ainda encontramos a pedagogia tradicional nas escolas, nas práticas pedagógicas. Esse modelo pedagógico não está preocupado com o ambiente físico escolar, que são compostos por carteiras, quadro e giz. De acordo com Mizukami (1985), o docente não está preocupado com os interesses dos alunos e sim com o conteúdo que precisa ser transmitido para avançar. Para “avançar”, é necessário um ensino rígido e coercitivo. Aqui, o aluno é depositário do conhecimento, a educação é bancária (FREIRE, 2005).
Agora, veja de forma detalhada, algumas diferentes abordagens pedagógicas.
 A metodologia na abordagem tradicional é transmitida por meio de aulas expositivas e fundamentadas em quatro pilares: escute, leia, decore e repita. Dessa maneira, Mizukami salienta:
 
A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno de forma automática e sem variações, na maioria das vezes, é considerada como um poderoso e suficiente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado (MIZUKAMI apud BEHRENS, 2005, p. 43).
Nesse sentido, o professor repassa os conteúdos por meio de fórmulas prontas, ordenadas e desvinculadas entre as disciplinas. A metodologia valoriza a sequência lógica e a ordenação dos conteúdos. Assim, cabe ao aluno escutar, assimilar, decorar e repetir. Libâneo (2002), caracteriza essa abordagem como pedagogia liberal.
Outra abordagem pedagógica apresentada por Mizukami (1985) é a abordagem comportamentalista. Segundo a autora, essa abordagem é caracterizada no conhecimento e este molda os comportamentos sociais. Desse modo, entende-se que os sujeitos são manipulados pela sociedade e são produtos do meio, essa abordagem pode ser comparada com a tendência liberal e a tecnicista.
           A ênfase está nos meios ou mídias. Veja a seguir:
Recursos audiovisuais; 
Instrução programada; 
Tecnologias de ensino;
Máquinas de ensinar: computadores, hardwares e softwares.
É importante destacar que existe a necessidade de condicionamento. Os comportamentos desejados serão trabalhados de forma a permanecer nos alunos, que será condicionado para realizar determinada tarefa e terem certo comportamento. Saviani (2003) caracteriza a abordagem como pedagogia tecnicista.
A terceira tendência discutida por Mizukami (1985) é denominada de abordagem humanista. Por essa tendência, o ensino vota-se para o aluno, assim, o objetivo da aprendizagem é denominado interacionista com preocupação no sujeito objeto. As relações interpessoais e o crescimento do indivíduo passam a ser a primeira preocupação do docente e este passa a ter o papel de facilitador da aprendizagem.
Outra abordagem que apresentamos aqui é a cognitivista. Esta se preocupa com um ensino que desenvolva a inteligência do educando (MIZUKAMI, 1985). 
Para Saviani (2003), essa abordagem pode ser também chamada de pedagogia nova, que privilegia a autoavaliação e busca metas pessoais, desenvolvendo a valorização pessoal, a atividade de pesquisa do aluno e o clima psicológico e social da escola e da sala de aula. 
O movimento Escola Nova iniciou nos Estados Unidos e lá recebeu o nome de pedagogia progressista, a qual teve como principal representante John Dewey (1859-1952). Foi uma reação à abordagem tradicional. 
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Progressista: "vem de 'educação progressiva', termo usado por Anísio Teixeira para indicar a função da educação numa civilização era mudança, decorrente do desenvolvimento científico (ideia equivalente à 'evolução' em biologia). Esta tendência inspira-se no filósofo e educador norte-americano John Dewey" (LIBÂNEO, 2002, p. 22).
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Na pedagogia renovada, o aluno se torna o centro do processo de ensino-aprendizagem. Ele aprende pela descoberta e iniciativa,sendo responsável por trilhar e escolher seus caminhos por meio de experiências significativas. É concebido como um indivíduo que se autodesenvolve.
O aluno passa a ser auxiliado pelo professor, o qual é visto como um facilitador da aprendizagem. O educador facilita aos alunos a exposição de seus sentimentos, garantindo-lhes o desenvolvimento e o relacionamento interpessoal e estimulando, assim, a curiosidade e a autodisciplina.
Por fim, Mizukami (1985) traz à tona a abordagem sociocultural, que reflete o modo de apropriação interacionista entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A escola é vista como via única para a educação formal e, ao mesmo tempo que trabalha conteúdos, precisa provocar uma atitude crítica reflexiva. A ideia de crítica reflexiva é encontrada nos escritos de Paulo Freire, sobretudo, quando ele aborda a educação popular e a alfabetização de jovens e adultos.
Libâneo (2007) classifica essa abordagem como pedagogia progressista, em sua versão libertadora, pois há preocupação com o desenvolvimento do processo de aprendizagem formal e não formal. Vamos então apresentar um quadro resumo das tendências pedagógicas apresentadas a partir dos pensadores Mizukami, Libâneo e Saviani:
Tendências pedagógicas segundo Libâneo, Saviani e Mizukami
	Autor
	Libâneo (2007)
	Saviani (2003)
	Mizukami (1986)
	Nomenclatura utilizada na classificação das tendências pedagógicas
	Pedagogia liberal, em suas versões: 
· Conservadora
· Renovada progressista
· Renovada não diretiva 
Pedagogia progressista em suas versões:
· Libertadora
· Libertária de conteúdos
	Teorias não críticas:
· Pedagogia tradicional
· Pedagogia nova
· Pedagogia tecnicista
Teorias crítico-reprodutivas:
· Sistema de ensino enquanto aparelho ideológico 
·  Escola enquanto aparelho ideológico do Estado 
· Escola dualista
	Abordagens:
· Abordagem tradicional 
· Abordagem comportamentalista 
·  Abordagem humanista 
· Abordagem cognitivista 
· Abordagem sociocultural
Os três autores citados no quadro anterior diversificam seus critérios de organização das tendências pedagógicas, mas convergem no sentido de que: 
“O processo educacional é um fator essencial para a assimilação da informação pelo aluno, que não é só um mero recebedor de conteúdos, mas um construtor de seu conhecimento por meio de competências e habilidades desenvolvidas na/pela escola” (TAVARES, 2011, p.35).
A partir disso entendemos que o educador é um sujeito que faz parte da história da educação e é ativo na medida em que interage com seus pares, com os alunos, com a comunidade escolar e constrói meios de ensino inovadores em prol do conhecimento. 
Ao longo dos seus estudos, acredito que tenha percebido que sempre que há discussão sobre didática, há reflexão sobre as tendências pedagógicas, pois é uma disciplina que estuda o processo de ensino-aprendizagem, considerando os objetivos educacionais, os conteúdos e os métodos e as formas de organização do ensino. O processo de ensino e aprendizagem deve ser estudado sob variadas perspectivas e esse é um papel importante da didática para a formação docente. Quando falamos em ensinar, falamos de práticas pedagógicas e, quando falamos em aprender, precisamos lembrar que é preciso realizar algo com êxito, de forma a alcançar determinado objetivo.
Para aprofundar mais os seus conhecimentos, indicamos a leitura do seguinte artigo: SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação. v. 14, n. 40, jan./abr. 2009.  
Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/45rkkPghMMjMv3DBX3mTBHm/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 10 mai. 2022.
Fechamento
Lição 4 de 5
Nesta unidade, trabalhamos com o conceito de gestão de sala de aula e as três ações inter-relacionadas: a gestão da aprendizagem, a gestão da conduta e a gestão da interação cultural, além das características de cada uma e sua importância no que concerne ao processo educativo.
Além disso, você teve a oportunidade de conhecer as abordagens pedagógicas, suas características, papel do educador frente a cada uma delas e pode compreender que cada uma delas apresenta uma concepção de ensino diferenciada. Esperamos que os conhecimentos aqui disponibilizados oportunizem a você repensar a educação e todos os pressupostos envolvidos para uma aprendizagem eficiente e eficaz.
1. O diálogo interdisciplinar entre Antropologia e Educação
Lição 2 de 5
Inicialmente, temos que destacar que o ser humano, diferentemente de outros animais, não está encerrado em suas estruturas biológicas. A capacidade humana de assimilar conhecimentos, expressar sentimentos e viver emoções possibilita que ele produza suas próprias experiências.
A cultura representa, então, o acúmulo de experiências potencialmente transmissíveis por meio do processo de aprendizagem, o que explica a intersecção da Antropologia – estudo da cultura – com a Educação: práticas que proporcionam a criação e recriação de símbolos nos processos de interação com o meio e de reflexão sobre si mesmos (ROCHA, TOSTA, 2009).
 No caso da Antropologia e da Educação, abordagem tradiciona Educação utiliza a etnografia, método que é antropológico. Com isso, não se pode usar a metodologia apenas como técnica, pois é necessária uma reflexão de natureza teórica; sendo assim, o diálogo entre as duas acaba ocorrendo. 
Etnografia – Método para estudo de um dado agrupamento humano. Este estudo se realiza através da coleta, em campo, de diferentes elementos relacionados com este grupo, com entrevistas, observações e um olhar, subjetivo e participativo, do pesquisador – no caso, do antropólogo. 
Estes diferentes aspectos da Antropologia e sua interface com a educação irão repercutir no Brasil, orientando as políticas públicas adotadas pelo Estado.
1.1 Importância da interface prática educativa e cultura
As práticas educacionais são construídas na cultura e como tal devem ser tratadas. Além disso, outras categorias decorrentes da cultura, como etnia, gênero, raça, religião, entre outras, estão presentes tanto na educação quanto na escola. A Antropologia reconhece a escola como um dos lugares de produção de significados, ao mesmo tempo em que também é receptora de significados externos. Assim, a partir desse olhar, é possível ver a escola como uma pluralidade cultural a ser analisada, para além de sua aparente uniformidade.
Atualmente, a teoria crítica, conhecida como Nova Sociologia da Educação (NSE), é a que mais debates suscitam no diálogo entre Antropologia e Educação. Essa teoria centra suas análises no currículo e tenta compreender as relações entre os processos de seleção, distribuição, organização e ensino dos conteúdos curriculares e a estrutura de poder no contexto social inclusivo.
O ponto de partida para o uso da abordagem antropológica poderia ser a apropriação pelos educadores, do método etnográfico de “conhecimento do ‘outro’ e fazer desse encontro uma possibilidade de reflexão sobre si mesmo” (ROCHA, TOSTA, 2009, p. 114).
Essa etnografia das nejamento escolar é uma premissa da escola e envolve a tomada de decisão racionalmente organizada. Envolve também o sistema de ensino, os alunos, osstimularr analisada com base em três dimensões: a institucional, a pedagógica e a sociopolítica ou cultural. 
 Agora, veja de forma detalhada essas três dimensões. 
Dimensão institucional: é a que envolve a organização do trabalho educacional, estruturas de poder e decisão. 
Pedagógica: abrange as situações onde ocorre o encontro entre professor, aluno e conhecimento. Por exemplo: material didático, objetivos e conteúdo, formas de avaliar o ensino e a aprendizagem. 
Sociopolítica ou cultural: inclui uma reflexão sobre o momento histórico, sobre as forças políticas e sociais e sobre as concepções e os valores presentes na sociedade.
Um ponto importante na Antropologia é a importância dada ao código linguístico nas pesquisas etnográficas, conhecimento imprescindível para a comunicação com o sujeito da pesquisa. Essa importância é compartilhada com a educação, que necessitada língua para escolarizar e socializar os indivíduos.
É necessário ficar claro que em uma pesquisa etnográfica está presente uma relação de conhecimento/poder. Ela não é uma reprodução da realidade e sim sua interpretação: não está isenta de valor, assim como a Educação também não está. Ambas possuem essa interface em comum, e a etnografia pode, assim, realizar um olhar crítico sobre as relações de conhecimento e poder que se estabelecem no campo da Educação e, particularmente, no ambiente institucional escolar. O uso da etnografia, então, é uma forma prática de estabelecer o diálogo entre a Antropologia e a Educação.
1.2 Educação como cultura
Apesar das várias visões da educação, todas concordam em relacioná-la à cultura. A visão tradicional da educação trata cultura como unitária, homogênea e universalmente aceita e praticada e, por isso, digna de ser transmitida às novas gerações. Essa visão tem a cultura como um conjunto estático e inerte de valores. O currículo educacional é afirmado como um local de transmissão e reprodução de uma cultura incontestada.
Para a teoria crítica, o currículo e a educação estão profundamente envolvidos numa política cultural. Isto quer dizer que são tanto campos de produção ativa de cultura, quanto campos contestados: não atuam apenas como correias de transmissão de uma cultura produzida exteriormente. Nessa perspectiva teórica, a ideia de cultura é de um terreno em que se enfrentam diferentes e conflitantes concepções de vida social, é aquilo pelo qual se luta e não aquilo que recebemos.
Numa sociedade dividida em grupos e classes sociais, é na cultura que ocorre a luta pela manutenção ou superação das desigualdades. A prática educacional é onde o conflito se manifesta de forma mais clara e, pela teoria crítica, é um campo em que se tentará impor tanto uma definição particular de cultura da classe dominante, quanto seu conteúdo.
Ao contrário da visão tradicional, as práticas educacionais não são um veículo de transmissão do conhecimento que deve ser absorvido passivamente, mas um terreno de produção e de política cultural, no qual os conhecimentos funcionam como matéria-prima de criação, recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão do estabelecido.
2. O conhecimento escolar frente às diferenças culturais
Lição 3 de 5
A abordagem de que a escola é pluricultural é uma preocupação recente e crescente. Nas décadas de 1980 e 1990, com os novos movimentos sociais que passaram a reivindicar o reconhecimento e valorização das diversas identidades culturais, bem como um forte questionamento do mito da democracia racial brasileira, uma nova consciência passou a surgir também no espaço educacional. Neste contexto, a teoria desenvolveu dois paradigmas para incorporar positivamente a diversidade cultural no cotidiano escolar: o de privação cultural e o de diferença cultural. 
Agora, veja de forma detalhada esses dois paradigmas. 
Privação Cultural 
O primeiro paradigma é o da privação cultural. Os defensores dessa perspectiva acreditam que o fracasso dos alunos está determinado pela cultura em que foram socializados, diferente da hegemônica que se encontra na escola. Os estudos e pesquisas voltam-se, então, para a explicação de que os fatores socioculturais teriam forte influência nas características físicas, perceptivo-motoras, cognitivas e emocionais de cada indivíduo e apontam, como solução, estratégias educacionais de “compensação” das deficiências culturais dos alunos.
Esse paradigma se apoia na meritocracia: os alunos mais capazes de assimilar a cultura dominante na escola são beneficiados. Tal entendimento exclui as minorias, interpretando o “fracasso” como individual, culpando os estudantes pelas falhas do sistema educacional. Outro fator que resulta desse paradigma é o aparecimento de resistências à cultura hegemônica e, com isso, surgem conflitos cotidianos no espaço educativo, que não encontram formas de solução nessa abordagem. 
Diferença Cultural
O segundo paradigma é o da diferença cultural. Essa visão entende que, “para além de uma aparente uniformidade, a instituição escolar assim como os sujeitos que a fazem existir, carregam experiências e saberes que os singularizam” (ROCHA, TOSTA, 2009, p. 130). Defende que as diferentes culturas possuem valores, símbolos e comportamentos que precisam ser compreendidos na sua originalidade e que as diferenças não devem provocar hierarquização, com uma cultura se sobrepondo às demais.
 Tal paradigma afirma que a cultura da escola, construída num caráter monocultural hegemônico, é que deve ser transformada – e não a cultura do aluno. Ensina que, na inter-relação entre a cultura da escola e a do aluno, uma nova cultura se constrói, de maneira continuada. 
 Essa proposta exige modificações nas práticas escolares, tanto nas internas (na sala de aula), como nas externas, que também compõem o processo educativo. As práticas educativas precisam ser revisadas e redefinidas para uma postura mais positiva no combate ao preconceito e discriminação. Na tentativa de aplicar essa tendência, surgiram as teorias de multiculturalidade e interculturalidade.
2.1 Construindo práticas educativas interculturais
A construção de práticas educativas interculturais esbarra em várias dificuldades, algumas de caráter particular, outras mais gerais. Além das mudanças na forma de apresentação dos conteúdos educacionais, se faz necessária uma mudança também no contexto institucional do sistema educacional.
É importante ressaltar que, além do que estabelece o currículo, dependendo das experiências de interação entre alunos e professores ou entre os próprios alunos, dependendo dos materiais didáticos e das atividades desenvolvidas, aprende-se ou deixa-se de aprender muito sobre comportamentos e valores.
Não se deve, também, separar a proposta de construção de práticas educativas interculturais das condições sociais e econômicas da sociedade. Atualmente, a detenção do conhecimento é um dos instrumentos de poder que mais vem sendo disputado pelas grandes potências mundiais, pois a economia globalizada incentiva à competitividade e exige trabalhadores qualificados.
A educação, conservadora e soterrada em conflitos, não corresponde à qualificação exigida pelo mercado, mantendo um contingente imenso de mão de obra desqualificada. As novas tecnologias exigem, além disso, um novo tipo de trabalhador, mais apto a mudanças e em constante reciclagem dos conhecimentos adquiridos. A globalização da economia inaugurou a época dos trabalhadores polivalentes, devido à velocidade com que as inovações tecnológicas surgem.
Outro ponto a ser salientado é que a escola não existe num vazio: as crenças, valores, comportamentos, significados são adquiridos em vários outros espaços além do escolar. 
Veja outros espaços que influenciam o aluno em sua trajetória de vida, além da escola. 
A família;
Os grupos de amigos;
A imprensa;
A arte: cinema e literatura;
As redes sociais.
Dentre outros, transmitem representações muitas vezes estereotipadas de como são os povos, as nações, as etnias etc.
Faz-se importante levar em consideração, ainda, a dificuldade de integrar as minorias, sem eliminar a cultura de origem, numa escola com currículo comum a todos. Essa dificuldade eventualmente causa reações tanto das minorias, que podem rejeitar o conhecimento alheio ao da sua origem, quanto dos detentores da cultura dominante, ao se sentirem a identidade, que acreditam dever preservar, ameaçada.
É relevante levar em conta, além disso, o modelo dominante na sociedade moderna, que entende o mundo baseado no conhecimento científico: as tradições culturais e sua legitimação ficaram submetidas a esse modo de ver a realidade.
Por último, é importante salientar que a capacidade da educação para acolher a diversidade cultural vai depender de uma mudança em seus padrões gerais.
2.2 Pontos para refletir
Para que a construção de um espaço intercultural no ambiente escolar se concretiza, você precisará levar em conta vários aspectos. Confira a seguir: 
Mudança nos currículos: introdução dopluralismo cultural a partir do conceito de cultura desenvolvido pela Antropologia.
Formação de professores críticos, autônomos e criativos: inclusão de aspectos sobre escolarização como luta em torno da definição de significados e de relações de poder.
Desenvolvimento de materiais pedagógicos apropriados: incorporação das diferenças culturais de maneira positiva.
Análise e a revisão crítica das práticas educacionais: uso de pesquisas etnográficas para ouvir os diversos atores sociais, reflexão sobre os resultados obtidos e implantação de ações transformadoras.
Em face dessa realidade, a construção de práticas educativas interculturais estará condicionada ao quanto à sociedade exercitar a democracia nas suas relações sociais.
Nesta unidade, você estudou a importância do diálogo interdisciplinar entre Antropologia e Educação como oportunidade de oferta de uma educação mais democrática para todos que compõem o cenário educacional.
Vimos ainda a educação como elemento de cultura e como as práticas educativas podem ser pautadas nas diferenças culturais respeitando o que nos difere e ainda propiciando um ambiente educativo mais inclusivo.
Esperamos que as reflexões apontadas ao longo dos seus estudos favoreçam a construção de uma educação inclusiva e igualitária para todos.
1. Elementos do processo de ensino e aprendizagem
Lição 2 de 5
A educação é um processo complexo, existem inúmeros fatores que podem interferir afetar esse processo. Entretanto, há elementos que são substanciais: a escola, o aluno, o professor e o próprio processo de ensino e aprendizagem. Cada um desses elementos apresenta traços únicos, indissociáveis à educação. 
Agora, veja de forma detalhada cada um desses processos de ensino e aprendizagem. 
Ensino e aprendizagem
São processos que dão sentido e função a todos os demais elementos, o ensino e a aprendizagem são a “razão de ser” da escola, dos estudantes e dos docentes. É por reconhecer que o conhecimento e sua sistematização possibilitam a evolução da humanidade que esse processo é objeto de estudos constantes. 
É essencial compreender os conceitos de ensino e de aprendizagem formais, aqueles que ocorrem em instituições educativas. Isso porque ambos os processos também acontecem em outras esferas, como a família, os amigos, o meio social, etc.
Agora reflita!
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Mas o que é ensino?
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Para que o processo de ensino possa ter eficiência e coerência com os objetivos, é preciso compreender como a aprendizagem ocorre?
· bullet
O que é aprendizagem?
Após sua reflexão, veja como os autores definem os questionamentos acima. 
O ensino é um processo, ou seja, caracteriza-se pelo desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos alunos em direção ao domínio dos conhecimentos e habilidades, e sua aplicação. Por isso, obedece a uma direção, orientando-se para objetivos conscientemente definidos; implica passos gradativos, de acordo com critérios de idade e preparo dos alunos. O desdobramento desse processo tem um caráter intencional e sistemático, em virtude do qual são requeridas tarefas docentes de planejamento, direção das atividades de ensino e aprendizagem e avaliação. (LIBÂNEO, 2013, p. 84).
 
A aprendizagem organizada é aquela que tem por finalidade específica aprender determinados conhecimentos, habilidades, normas de convivência social. Embora isso possa ocorrer em vários lugares, é na escola que são organizadas condições específicas para a transmissão e assimilação de conhecimentos e habilidades. Esta organização intencional, planejada e sistemática das finalidades e condições da aprendizagem escolar é tarefa específica do ensino. (LIBÂNEO, 2013, p. 85).
Vale lembrar que os processos de ensino e aprendizagem não são simultâneos, cada um acontece em um tempo específico e único para cada sujeito. Porém, eles mantêm uma relação indissociável, existe uma unicidade, são interdependentes. 
A escola
A escola é a instituição responsável pela construção e difusão do conhecimento. Mas a escola não foi sempre igual ao esta que conhecemos hoje. Muitos estudiosos já revelaram que a escola, em sua origem, tem raízes oriundas da sociedade de classes. Por isso, as primeiras instituições eram apenas para a burguesia, ou seja, a educação era entendida como um privilégio: o da acumulação do saber. É facilmente perceptível que o objetivo era o de manter o conhecimento na classe dominante, dividindo a sociedade não apenas por poder econômico, mas também por ignorância. 
Houve um longo período em que a educação era tarefa da Igreja Católica. Apenas no início da década de 1920 é que surgiram alguns movimentos, nos Estados Unidos e na Europa, indicando a necessidade de reformas educativas e a responsabilização do Estado pela educação. 
A partir de então, a escola seguiu transformando-se de acordo com o contexto histórico-político-social até chegar ao modelo de escola e educação que vive em nossas memórias e nas de nossos pais e avós. 
Com o passar do tempo, com a evolução da humanidade e de seus modos de vida, a escola continua sendo o espaço institucionalizado do conhecimento, mas agora entende-se que são conhecimentos de mundo, de vida, de sociedade. A diversidade de saberes e sua relação com a vida cotidiana dos sujeitos é o ponto-chave da função da escola hoje. 
O aluno
Antes de qualquer coisa, é preciso compreender que o aluno é um sujeito histórico, social, cultural, etc. Posto isso, assim como a escola, a visão de aluno também se modificou ao longo do tempo. 
Nas primeiras abordagens pedagógicas, sobretudo na tradicional, o aluno era visto como alguém desprovido de conhecimento, portanto, precisava frequentar a escola para adquiri-lo. As responsabilidades do aluno resumiam-se à aquisição do conhecimento transmitido pelo professor, a quem devia obediência. 
Atualmente, essa visão de aluno já não cabe mais. Hoje, os alunos estão mergulhados no contexto tecnológico que possibilita e estimula interações pedagógicas frequentes e inviabilizam a permanência de técnicas tradicionais como única fonte de aprendizado.
A cada mudança de contexto, a escola e seus elementos se veem diante de novos desafios novos, e tais desafios põem em xeque a eficácia do sistema e da relação entre alunos e professores. O aluno de hoje exige novos olhares e novas perspectivas, pois está definitivamente imerso em culturas diversas. 
O professor
Seguindo a linha da história de representatividade dos elementos que compõem a educação, o professor também teve seus papéis modificados ao longo do tempo. 
Quando a escola e a educação eram para poucos, os professores ocupavam um lugar de destaque e grande prestígio social, tendo sua imagem à semelhança de uma grande autoridade, exemplo de conduta. 
Tanto esmero e status social agregavam poder, ordem e disciplina às tarefas pedagógicas. Ensinar era sinônimo de controlar.
O professor, assim como o aluno, também precisa ter sua humanidade reconhecida e respeitada. É essencial que se perceba que, atualmente, ser professor envolve múltiplas inteligências, habilidades e estudos. 
Diante dos desafios e avanços da tecnologia, por exemplo, a comunicação e a disponibilidade de informações mudam completamente o cenário da sala de aula, exigindo cada vez mais do docente. 
A figura do professor, hoje, não carrega mais consigo o mesmo status de antes. As teorias e diretrizes curriculares e de formação inicial de professores têm cada vez mais destacado que a atuação docente deve ser voltada à mediação, estabelecendo, então, uma relação horizontal com os estudantes, numa interação de construção colaborativa.
2. Concepções de ensino e aprendizagem
Lição 3 de 5
A didática representa o fio condutor, a articulação entre teoria e prática. Não se pode realizar processos educativos em ambientes formais como a escola sem antes se ter clareza das abordagens do processo, dos estudos e premissas teóricas que são representadas a partir da ação pedagógica. 
Toda ação revela uma intencionalidade. A educação, como ato político, traz consigo traços de uma ou mais tendênciaspedagógicas, pois é relaciona-se ao contexto sociopolítico e histórico de cada época. 
Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. A educação jamais é neutra, ela pode implicar tanto o esforço da reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Ela não deve só repassar a matéria didaticamente, mas fazer com que os educadores abram os olhos e vejam o mundo que os rodeia. (FREIRE, 2011, p. 38). 
É a partir da didática que ocorre a mediação entre teoria e prática, desde o planejamento até a execução e avaliação das ações pedagógicas. Assim, é essencial compreender e identificar os principais traços dos pensamentos sobre a educação à luz de seus estudiosos e representantes.
Abordagens do processo de ensino e aprendizagem
Ao depender do contexto sociopolítico e histórico, a educação apresenta-se sob determinada égide. Por isso, é preciso analisar criticamente cada elemento que compõe e caracteriza o processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, estudaremos as abordagens do processo pela perspectiva dos principais autores.
Bordenave: Acreditava que os processos da pedagogia tradicional não eram suficientes.
Libâneo: Estudou pedagogias de corrente liberal e progressista. 
Saviani: Incluiu premissas sociais, como a marginalização, no estudo da educação.
Mizukami: Estudou a relação entre educação e sociedade. 
Veja a seguir detalhes sobre o pensamento e os estudos de cada um deles.
Bordenave
Juan Díaz Bordenave (1926) é um dos mais importantes estudiosos da educação na América Latina, dedicando-se especialmente à educação de jovens e adultos e de sujeitos em situações de vulnerabilidade. 
Sua obra desenvolve-se em torno da ideia central de que os processos educativos oriundos da pedagogia tradicional não são eficientes. Sendo assim, sua obra apresenta três eixos de análise:
Pedagogia da transmissão: baseada na “transferência” do conhecimento do docente para o estudante.
Pedagogia do conhecimento: baseada na construção e execução de objetivos meramente instrucionais.
Pedagogia da problematização: baseada na participação e envolvimento do estudante e do docente.
A pedagogia da problematização é a defendida pelo autor, pois concebe o estudante enquanto sujeito de transformação social. Além disso, compreende o docente enquanto mediador na construção do conhecimento. 
Libâneo
José Carlos Libâneo (1945) é um dos maiores expoentes sobre a Didática no Brasil. Suas obras destacam-se pelos estudos da pedagogia nas tendências liberal e progressista. 
Agora, veja o detalhamento dessas tendências. 
Pedagogia Liberal: Apesar do sentido literal do termo “liberal” inicialmente parecer como algo bom, aberto, flexível, na pedagogia não é bem assim. Segundo os estudos de Libâneo, a pedagogia liberal tem suas raízes na divisão de classes da sociedade, fator característico do modelo social fundado na produção e no capital. Esse conceito, transposto à educação, implica um processo educativo voltado à conservação de modelos que favorecem os mais abastados. 
Pedagogia Progressista: Em contrapartida, a pedagogia progressista tem por objetivo romper com as premissas da pedagogia liberal, pois fundamenta-se na pedagogia libertadora de fato, defendendo que o processo educativo possibilite a formação crítico-social dos conteúdos e dos sujeitos, independentemente de sua classe social. 
Saviani
Dermeval Saviani (1943) é mais uma das grandes referências no Brasil sobre a pedagogia. Assim como Bordenave, Saviani analisa o fenômeno educativo considerando premissas sociais, como a marginalização, a vulnerabilidade e a divisão de classes no capitalismo. 
Em Saviani, entende-se por “marginalização” a aproximação ou distanciamento entre o sujeito e o conhecimento, estando marginalizado aquele à margem do saber. Desse entroncamento, o autor elabora pareceres a partir das teorias críticas e das teorias não críticas. Para o autor, estas últimas são aquelas que desassociam as problemáticas sociais e econômicas da educação, ou seja, pensam a educação apartada dessas outras dimensões. Já as críticas, “postulam não ser possível compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais” (SAVIANI, 2005, p. 27). São aquelas que partilham da concepção de que a educação pode atuar como instrumento que endossa a divisão de classes, dependendo da prática pedagógica.
Mizukami
Maria da Graça Nicoletti Mizukami é uma das autoras mais renomadas quando o assunto é abordagem pedagógica. A estudiosa analisa o fenômeno educativo a partir de três matrizes denominadas por ela como “primados”. Todos esses primados partem da relação entre educação e sociedade, em que é analisado o quanto distanciam ou aproximam essas duas esferas. 
Agora, veja o detalhamento dessas duas esferas. 
Primado do sujeito: Parte de premissas do inatismo, nas quais o conhecimento já é predeterminado, é naturalmente do sujeito. 
Primado do objeto: Parte de premissas do empirismo, nas quais o sujeito está exposto e é influenciado pelo meio, assim o conhecimento é “transmitido de fora para dentro”. 
Primado da interação entre sujeito e objeto: Parte de premissas interacionistas, nas quais o conhecimento é construído nas relações sujeito-objeto, sujeito-sujeito e sujeito-meio. 
Fechamento
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Nesta unidade, você conheceu temas essenciais à compreensão do processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, partimos da conceituação sobre o próprio processo, identificamos os principais elementos que o caracterizam para que, enfim, consiga identificar os traços que se relacionam às tendências ou pedagogias e aos principais teóricos sobre o assunto.
1. As tendências pedagógicas
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As tendências pedagógicas são concepções que estão ligadas ao processo de ensino e aprendizagem. Elas se modificam de acordo com a sociedade e a época histórica. Sendo assim, de acordo com as características da sociedade de cada período, existe a predominância de uma tendência pedagógica.
De acordo com Libâneo (2013), as tendências pedagógicas se manifestam concretamente nas práticas escolares e nas ações dos professores, mesmo que esses não façam isso de maneira consciente. Ainda segundo o autor, as tendências pedagógicas podem ser classificadas em dois grupos: liberais e progressistas.  Sendo que no grupo liberal encontramos as tendências: 
Tradicional; 
Renovada progressista; 
Renovada não diretiva;
Tecnicista.
No grupo progressista, encontram-se as tendências: 
Libertadora; 
Libertária;
Crítico-social dos conteúdos.
 Veja o quadro comparativo entre as tendências liberais e progressistas.
	Tendência liberal
	Tendência progressista
	Existe uma possibilidade de transição entre as classes sociais, tornando possível passar de uma classe para outra por meio da adaptação cultural feita pela escola.
	Sustenta que o antagonismo de classes resulta da dominação e que cabe à educação contribuir para a transformação dessas relações de classe.
	Utiliza a educação para ajustar o indivíduo às funções sociais preestabelecidas.
	Entende que são os interesses de classe que determinam as finalidades da educação.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
2. Tendências pedagógicas liberais
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A pedagogia liberal é pautada na ideia de que a escola tem por objetivo preparar o aluno para o desempenho em papéis sociais de acordo com as habilidades de cada um, sendo necessário que cada indivíduo se adapte as normas e valores da sociedade e da cultura. A doutrina liberal é uma consequência do sistema capitalista, pois ao defender a predominância da liberdade e interesses individuais estabeleceu uma organização da sociedade pautada na propriedade privada dos meios de produção, sendo assim, a pedagogia liberal é uma manifestação própria desse tipo de sociedade.
2.1 Tendência pedagógica tradicional
A tendência pedagógica tradicional tem como base a ideia de que o aluno deve ser preparado intelectual e moralmente para assumir um papel na sociedade, fundamentando-se em um ensino humanístico e cultural. O professor é o centro do processo de ensino-aprendizageme os conhecimentos são valores que foram acumulados ao longo dos anos, sendo tratados como verdades absolutas. A aprendizagem é receptiva e mecânica, o aluno não tem o direito de questionar o professor, sendo considerado passivo. O ensino consiste em apenas retransmitir o conhecimento do professor para o aluno. 
Professor autoridade na sala de aula - O professor era a autoridade da sala de aula, os alunos eram passivos e não tinham o direito de questionar o professor.
Fonte: Plataforma Deduca (2022).
2.2 Tendência pedagógica renovada progressista
A tendência se baseia em preparar o aluno para assumir o seu papel na sociedade, pautada na ideia de aprender fazendo, centrada no aluno, que busca experimentar, vivenciar e pesquisar, tendo os seus interesses valorizados. Aprender então, se torna uma atividade de descoberta.
A escola busca reproduzir o mais próximo possível situações vividas no dia a dia do aluno, buscando satisfazer os interesses dos alunos, mas, respeitando as exigências sociais, realizando um processo de interação entre as estruturas cognitivas do aluno e as estruturas do ambiente no qual está inserido.
Como o conhecimento é resultado dos interesses dos alunos, a gestão do conhecimento deve ser pautada e estabelecida em função das experiências dos alunos, buscando respeitar o seu nível de desenvolvimento. 
Alguns métodos e correntes teóricas são pautadas nessa tendência, como o método de Montessori, o método de Decroly e o método de projetos de Dewey. A psicologia genética de Piaget também pertence a essa tendência.
2.3 Tendência pedagógica renovada não diretiva
Nesta tendência pedagógica, o papel da escola é centrado na formação de atitudes, buscando estabelecer um clima de mudança dentro do aluno, favorecendo a liberdade para aprender. Nessa tendência o ensino é valorizado, busca-se favorecer a pessoa e seu autodesenvolvimento, facilitando ao aluno os meios para que este busque o conhecimento.
A gestão em sala de aula nessa tendência busca autonomia do professor. Ele desenvolve um estilo próprio para poder facilitar a aprendizagem do aluno, criando uma relação afetiva com o aluno. A função do professor é, portanto, de ajudar o aluno a se organizar, tendo um bom relacionamento interpessoal, favorecendo seu crescimento pessoal.
2.4 Tendência liberal tecnicista
A educação escolar nessa tendência tem a função de organizar o processo de conhecimento, conhecimentos esses necessários para o aluno integrar a vida social. A escola tem a função de levar aperfeiçoamento aos alunos para que esses contribuam com o sistema produtivo de nossa sociedade, tendo como interesse a produção de mão de obra qualificada. A gestão da sala de aula visa garantir a aplicação de leis naturais que independem das pessoas que a conhecem ou executam. O professor deverá selecionar apenas conteúdos que advém da ciência objetiva, não permitindo subjetividade, além de centrar seu plano de ensino nos manuais, livros didáticos ou módulos de ensino que apresentem o conteúdo de maneira sistematizada.
O professor em sua gestão deverá garantir a transmissão/recepção de informações, buscando maneiras para modelar as respostas dos alunos de forma que essas sejam as mais apropriadas possíveis, além de trabalhar para conseguir o comportamento adequado através do controle do ensino.
 Skinner, é um dos teóricos principais dessa tendência que se baseia na corrente behaviorista. O Behaviorismo acredita que a aprendizagem acontece pela motivação, retenção e transferência que são decorrentes do comportamento operante. De acordo com Skinner, o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos que são controlados por reforços. 
3. Tendências pedagógicas progressistas
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Segundo Libâneo (2013), a pedagogia progressista parte de uma análise crítica das realidades sociais. É um instrumento de luta dos professores e outros profissionais envolvidos em movimentos e práticas sociais.
A pedagogia progressista é dividida em três tendências, veja quais são elas: 
Tendência libertadora; 
Libertária
Crítico-social
As duas primeiras seguem a tendência de uma gestão anti-autoritarista, valorizando a experiência vivida e a autogestão pedagógica, valorizando as trocas de experiência, as discussões focando em uma educação popular. A última tendência valoriza a prática pedagógica concreta, ou seja, uma pedagogia social articulando os conteúdos escolares com a sua inserção nas relações sociais de maneira que esse aluno se torne crítico e ativo na sociedade.
3.1 Tendência progressista libertadora
Essa tendência é centrada em um ensino não formal, questiona a realidade e as experiências dos alunos, suas vivências e relação com as pessoas e a natureza. O conteúdo de ensino é pautado em temas geradores, presentes na vida diária dos alunos. Ao selecionar os temas, o professor precisa considerar que o importante não é a transmissão de conteúdos, mas fazer o aluno questionar e buscar transformar sua realidade, produzindo conhecimento de acordo com suas reflexões e experiências.
A gestão em sala de aula é pautada em uma autogestão, ou seja, o trabalho é conduzido pelo grupo de discussão, no qual todos tem voz e são ativos, o professor é um mediador, deverá caminhar junto aos alunos na busca da construção do conhecimento. A relação entre professor e aluno é democrática e dialógica, uma relação na qual professor e aluno posiciona-se como sujeitos do ato de conhecimento. Não existe momento para autoridade, o professor direciona e busca conscientizar os alunos para as normas de boa convivência e interação.
3.2 Tendência progressista libertária
A pedagogia libertária tem um caráter autogestionário, buscando apresentar modificações institucionais iniciando em níveis subalternos que aos poucos irão modificando o sistema como um todo. O trabalho é pautado em atividades em grupos, levando aos alunos participarem de associações, reuniões, assembleias, discussões em grupo. O aluno é gestor de sua própria maneira de aprender e do conteúdo que irá aprender, não existindo a imposição do professor.
A autogestão é a ideia central nessa tendência, o aluno tem iniciativa e é valorizado nas vivências em grupo. Os grupos são organizados de maneira que todos possam participar das discussões, cooperando e contribuindo.  O papel do professor é de orientar e catalisar as informações, ele é parte do grupo como todos os alunos, tendo como função aconselhar e monitorar o trabalho em grupo.
3.3 Tendência progressista crítico social dos conteúdos
A tendência progressista crítico social dos conteúdos, tem como objetivo a difusão de conteúdos, conteúdos vivos e concretos presentes em nossa sociedade. A escola é valorizada como um espaço de apropriação do saber e busca contribuir para a transformação da sociedade, buscando oferecer aos alunos um bom ensino, um ensino de qualidade que tenha relação com a vida dos alunos, sendo então, a educação uma atividade mediadora na prática social. A escola busca então preparar o aluno para o mundo, fornecendo conteúdos que favoreçam a socialização e a participação do aluno em uma sociedade democrática.
Uma aula nessa tendência pedagógica deve ser pautada na constatação da prática real, passando pela consciência da prática confrontando a experiência e a explicação dada pelo professor e por final a junção entre a teoria e a prática, levando o aluno a sintetizar o conteúdo estudado.
Fechamento
Lição 5 de 6
Diferentes posturas do professor diante o aluno e o conteúdo podem gerar diferentes situações de ensino-aprendizagem, gerando diferentes características em sala de aula. Além da intenção do professor e do planejamento realizado, alguns fatores extrínsecos irão interferir no rumo da aula e na sua prática docente, como o comportamento dos alunos, ambiente, conhecimentos prévios, entre outros tantos aspectos. O estudo das diferentes tendências pedagógicas, conhecendo as diferentes posturas do professor e seu relacionamento com os alunos poderão contribuir para a postura da gestão em sala de aula.

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