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EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA E ESPORTES ADAPTADOS Elizângela Cely da Silva Oliveira Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os elementos fundamentais da prática e do desenvolvi- mento de modalidades esportivas para as pessoas com deficiência visual. � Identificar as diferentes modalidades esportivas adaptadas para as pessoas com deficiência visual. � Analisar a influência das atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiência visual. Introdução Durante muito tempo, a pessoa com deficiência foi encarada como alguém que precisava da caridade de outras pessoas. Com o passar dos anos, essa percepção foi sendo modificada, e percebeu-se que a pessoa com deficiência poderia ser autônoma e ter uma vida normal. A prática de esportes por pessoas com deficiência começou a partir da necessidade de recuperar ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial que voltavam com diversas incapacidades. Mas, aos poucos, a prática de esportes e atividades físicas foi sendo percebida como benéfica não apenas na reabilitação, mas como uma prática social que faz bem à pessoa de maneira geral. Neste capítulo, você saberá mais sobre os fundamentos da prática esportiva para pessoas com deficiência visual, como ela surgiu e os de- safios enfrentados pelos praticantes. Além disso, conhecerá algumas modalidades esportivas praticadas por pessoas com deficiência visual — tanto esportes paralímpicos quanto esportes adaptados. Por fim, aprenderá quais são os benefícios da prática esportiva para pessoas com deficiência visual. 1 A prática esportiva para a pessoa com deficiência visual De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a deficiência visual é a deficiência mais prevalente entre a população brasileira: cerca de 35 milhões de pessoas (18,8%) declaram ter dificuldade para enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de contato (IBGE, 2010). O acesso à atividade física para a pessoa com deficiência visual é mais restrito, principalmente devido às dificuldades arquitetônicas e/ou à falta de pessoas especializadas no assunto. Portanto, é importante discutir e buscar informações e saber mais sobre projetos a respeito dessa temática. A inexistência ou perda parcial da visão é um empecilho importante para o aprendizado, o desenvolvimento ou a manutenção motora, sobretudo na área da orientação e mobilidade, cuja movi- mentação é estabelecida em pontos de referência (MARTINS; BORGES, 2012). Após a Segunda Guerra Mundial, a partir da metade da década de 1940, houve um aumento na prática de esportes por pessoas com deficiência. Ao terminar a guerra, muitos soldados voltaram para seus países com diferentes tipos de mutilação e distúrbios motores, visuais e auditivos. Essa situação levou os governos e as instituições a buscarem providências a fim de conceder aos veteranos de guerra uma melhor condição de vida. Após ter essa preocupação evidenciada, diversas pessoas com deficiência passaram a obter acesso à prática esportiva, e muitas pesquisas passaram a discutir maneiras de tornar a vida dessas pessoas mais digna e saudável (GREGUOL; COSTA, 2013). As atividades motoras e esportivas direcionadas a pessoas com deficiência têm um duplo aspecto educativo, oferecendo uma contribuição direta para o desenvolvimento global do indivíduo e a conscientização da sociedade em geral (OLIVEIRA, 2002). Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual2 A autonomia e a inclusão social são fundamentais na melhora da qualidade de vida das pessoas com deficiência visual. Quanto maior a independência da pessoa com deficiência visual, maior é seu acesso às atividades de vida diária, à escola, ao trabalho, ao lazer e aos contextos que lhe fornecem bene- fícios como ser humano em sua integralidade. A prática de atividade física favorece a aprendizagem relativa à superação de barreiras de diferentes tipos e intensidades que certamente lhe serão impostas durante sua vida (MARTINS; BORGES, 2012). O esporte para pessoas com deficiência iniciou-se como uma tentativa de ajudar no processo terapêutico, mas logo cresceu e adquiriu muitos adeptos. Atualmente, mais do que terapia, o esporte para essa população atingiu um status de alto rendimento, e o nível técnico dos atletas surpreende cada vez mais o público e os pesquisadores da área das atividades físicas para pessoas com deficiência (GREGUOL; COSTA, 2013). O esporte adaptado para pessoas com deficiência ainda precisa de divul- gação, e muitas nem ao menos sabem o que ele significa. Isso impossibilita que muitos indivíduos com algum tipo de deficiência tenham acesso à prá- tica esportiva e se beneficiem dela; entre os benefícios, podemos destacar a evolução geral da aptidão física, o ganho de independência e autoconfiança para realizar atividades diárias e a melhora do autoconceito e da autoestima (GREGUOL; COSTA, 2013). Em indivíduos mais jovens, a participação em atividades esportivas re- creativas ou competitivas pode trazer uma influência positiva na saúde em longo prazo e no desenvolvimento global. Em 2004, a American Academy of Pediatrics (AAP) criou normas específicas, destacando recomendações sobre a prática de atividades físicas para crianças com deficiência. De acordo com a AAP, essas crianças apresentam aptidão física mais precária, maior risco de se tornarem obesas e maior tendência a serem sedentárias, o que torna fundamental a criação de programas de iniciação esportiva que ampliem suas oportunidades de prática (WILSON; CLAYTON, 2010). O futebol de 5, comumente denominado futebol de cegos (Figura 1), é um exemplo de como o esporte pode ser um elemento reabilitador, mas também pode proporcionar desempenho de alto rendimento aos que o praticam. 3Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual Figura 1. A prática do futebol de 5. Fonte: CBDC (2019, documento on-line). Classificação da deficiência visual As pessoas com deficiência visual têm uma limitação sensorial que pode comprometer seu desenvolvimento motor, afetivo, social e cognitivo. Existe uma classificação esportiva para pessoas com deficiência visual que é feita a partir do grau de comprometimento da visão da pessoa, e é subdividido em três categorias. Fique atento, pois essas categorias serão mencionadas muitas vezes neste capítulo (IBSA, 2020). � B1 (cegos totais) — podem ter percepção luminosa, porém não são capazes de reconhecer a forma de uma mão a qualquer distância e a qualquer direção. � B2 (pessoas com deficiência visual) — podem reconhecer a forma de uma mão, mas sua percepção visual não ultrapassa 2/60 e o seu campo de visão alcança um ângulo menor que 5°. � B3 (pessoas com deficiência visual com maior visão) — sua percepção visual está situada entre 2/60 metros e 6/60 metros e seu campo visual alcança um ângulo entre 5 e 20°. Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual4 Em todas as competições, as classificações B1, B2 e B3 são respeitadas para a prática de esportes entre as pessoas com deficiência visual, e, em alguns casos, para garantir a equidade de condições, os atletas usam vendas. Assim, as diferenças de acuidade visual são sanadas. 2 Modalidades esportivas adaptadas para pessoas com deficiência visual Hoje o esporte tem inúmeros significados e definições. Com status mundial de ser um dos fenômenos socioculturais mais relevantes dos dois últimos séculos, vem sendo cada vez mais incorporado pelas pessoas em seu dia a dia. Dessa forma, além de conceber o esporte como um importante conteúdo da educação física, também pode ser considerado uma ferramenta eficaz para mudança da realidade. Temos, então, o esporte adaptado e o esporte paralímpico, para pessoas com deficiência (SERON; FISCHER, 2018). “Esporte adaptado” é uma expressão usadasomente no Brasil e significa uma possibilidade de prática para pessoas com deficiência (ARAÚJO, 2011). Para isso, são feitas adaptações nas regras, nos fundamentos e nas estruturas, a fim de possibilitar que essas pessoas o pratiquem. Já o esporte paralímpico se refere às modalidades esportivas que constam no programa dos Jogos Paralímpicos (COSTA E SILVA et al., 2013). Para Marques e Gutierrez (2010), o termo “esporte adaptado” se apresenta como mais adequado que “esporte para pessoas com deficiência”, termo mais usado em outros idiomas, pois engloba mais possibilidades. Existem três principais motivos para o crescimento do esporte paralímpico: a efetividade deste no processo de reabilitação, o fato de as pessoas com de- ficiência terem direito à prática de esporte e o fato de essa atividade ter como característica o entretenimento (TWED; HOWE, 2011 apud COSTA E SILVA, 2013). Mas é possível afirmar que essas características se estendem também ao esporte adaptado (COSTA E SILVA et al., 2013). O esporte adaptado pode ser praticado de forma integrada, envolvendo pessoas com deficiência na prática, ou em espaços específicos, com participação restrita às pessoas com deficiência (WINNICK, 2004 apud COSTA E SILVA et al., 2013). 5Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual Desportos paralímpicos praticados por atletas com deficiência visual Futebol de 5 É uma modalidade exclusiva para cegos. As partidas ocorrem em uma quadra de futsal adaptada, na qual é colocada uma barreira lateral que serve para impedir que a bola saia pelas linhas laterais (ver Figura 1). A partir dos Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2005, os jogos dessa modalidade também passaram a acontecer em campos de grama sintética, com medidas semelhantes às do futsal. Cada equipe é constituída de cinco jogadores, dos quais um deverá ser o goleiro e ter visão total, e quatro devem ficar na linha. Estes devem ser totalmente cegos e usar uma venda nos olhos para que fiquem todos em iguais condições, pois alguns atletas possuem visão residual que permite ver vultos (CBDV, 2020). Nessa modalidade, há a figura de um guia denominado “o chamador”, o qual se posiciona atrás do gol adversário com a finalidade de orientar o ataque da sua equipe, ajudando os atletas a identificarem a direção do gol, o número de marcadores, como a defesa adversária está posicionada e outras informações importantes. O chamador bate nas traves geralmente com um pedaço de metal quando há cobrança de faltas, pênaltis ou tiros livres (CBDV, 2020). Esse esporte deve ser praticado em um ambiente silencioso, e a torcida só pode se manifestar quando a bola não estiver em jogo. A bola tem guizos que possibilitam a orientação dos atletas. Para evitar choques, o jogador deve avisar quando vai se deslocar em direção à bola, gritando “minha”. Se o juiz não ouvir o aviso do atleta, ele marca uma falta (FREIRE; MORATO, 2012). Goalball Especificamente criado para pessoas com deficiência visual, é o único esporte paralímpico que não é adaptado. O goalball é praticado por duas equipes com três atletas cada uma, e o objetivo é fazer gols. As funções desempenhadas pelos atletas durante o jogo são arremessar e defender. Para que a jogada seja considerada válida, a bola precisa tocar em determinadas áreas da quadra (CBDV, 2020) (Figura 2). Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual6 Figura 2. A prática do goalball. Fonte: Olímpiada Todo Dia (2019, documento on-line). O esporte é praticado em uma quadra com 9 metros de largura por 18 metros de comprimento. Dos dois lados da quadra, há uma baliza com 9 metros de largura e 1,3 metro de altura. Tanto a linha do gol como outras linhas importantes para orientação dos atletas são marcadas da seguinte forma: um barbante é esticado sobre a linha, e sobre ele é passada uma fita adesiva, de modo que o barbante cria um relevo que facilita que os jogadores encontrem as linhas. A bola utilizada nesse esporte pesa 1,25 kg e é semelhante à de basquete. Em seu interior, há guizos para que os jogadores, ao ouvirem o barulho, saibam para que direção a bola está indo (CBDV, 2020). Essa modalidade é baseada na percepção tátil e, sobretudo, na percepção auditiva. É fundamental que haja silêncio quando a bola estiver em jogo. Embora tenha dois tempos de 12 minutos, o jogo encerra caso uma das equipes abra 10 gols de diferença sobre a outra, o que é chamado de game. Atletas B1, B2 e B3 podem participar, e devem estar com os olhos vendados (CBDV, 2020). 7Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual Judô O judô pode ser disputado por atletas com classificação oftalmológica B1, B2 e B3, e competem em categorias de acordo com o peso corporal e o gênero. Eles lutam utilizando as mesmas regras da Federação Internacional de Judô (CBDV, 2020). Há poucas adaptações em relação ao judô convencional. As lutas iniciam com os atletas realizando a pegada (um segurando o quimono do outro). “No Judô as competições dividem-se em sete categorias de peso, tanto para homens como para mulheres portadores de deficiência visual. São fundamen- tais nesse esporte, o tato, a habilidade e o instinto de manter-se de pé [...]” (COSTA; SOUSA, 2004, p. 32). As lutas ocorrem entre judocas da mesma categoria oftalmológica: B1 (cego), B2 (percepção de vulto), e B3 (definição de imagem). O atleta B1 recebe, como identificação, um círculo vermelho em cada ombro do quimono. O tempo das lutas é de 5 minutos no tempo normal para a categoria masculina e 4 minutos para a categoria feminina. Se houver empate, decide-se a luta no golden score — ou ponto de ouro —, e ganha a luta quem pontuar primeiro. O sistema de pontos é igual ao sistema olímpico (CBDV, 2020). Porém, por serem atletas com deficiência visual, não há punição caso a área de combate do tatame seja ultrapassada, e as advertências são feitas de forma audível (COSTA; SOUSA, 2004). Atletismo Nas provas de atletismo, os atletas com deficiência visual competem nas categorias masculina e feminina. Durante a corrida, o atleta cego necessita de um guia para acompanhá-lo. A função do guia é passar informações e instruções que orientem a pista. Uma corda deve unir a mão de ambos para ligá-los e, assim, orientar o atleta (COSTA; SOUSA, 2004). O atletismo paralímpico para pessoas com deficiência visual contém provas de pista, campo e rua, e existem provas de corrida, saltos, lançamentos e arre- messos. As provas de pista são: de velocidade, meio-fundo, salto em distância, salto em altura e salto triplo. As provas de rua são: maratona e meia-maratona. Já as provas de campo são: lançamento de disco e club, lançamento de dardo e arremesso de peso (CPB, 2020). Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual8 As pessoas com deficiência visual, ao disputar provas de pista, recebem as classes T11 a T13 (o “T” significa “track” [pista]). Já nas provas de campo, utilizam as classes F11 a F13 (o F significa “field” [campo]). A lógica utilizada é a mesma da classificação esportiva da deficiência visual, de B1 a B3 (CPB, 2020). As regras de utilização de atletas-guia e de apoio variam de acordo com a classe funcional. Em provas de 5.000 metros, de 10.000 metros e na maratona, é permitido que os atletas das classes T11 e T12 tenham até dois atletas-guia no percurso (a troca é realizada durante a prova). Uma questão curiosa é que, em caso de pódio, o atleta que recebe medalha é apenas o que concluiu a prova. Caso o atleta-guia, por algum motivo, não tenha conseguido se inscrever na prova, e ao correr haja pódio, ele não ganhará medalha (CPB, 2020). Veja, no Quadro 1, como ficam as regras dos atletas-guia nas provas de atletismo para pessoas com deficiência visual. Fonte: Adaptado de CPB (2020). Classe Especificação T11 Corre ao lado do atleta-guia e usa o cordão de ligação; é auxiliado por um apoio no salto a distânciaT12 Atleta-guia e apoio são opcionais T13 Não pode ter atleta-guia e nem apoio no salto Quadro 1. Regras sobre uso de atleta-guia em provas de pista, campo e rua Natação Na natação para pessoas com deficiência visual, as adaptações são efetuadas nas largadas, viradas e chegadas. Ao se aproximarem das bordas, os atletas recebem um aviso do tapper (uma espécie de ajudante), realizado com um bastão com espuma na ponta (Figura 3). A largada também pode ser realizada na água para os atletas das classes mais baixas que não conseguem sair do bloco. 9Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual Figura 3. A prática da natação para pessoas com deficiência visual. Fonte: Pro Cadeirante (2016, documento on-line). A nomenclatura consta primeiramente a letra (ou letras) e, depois, a classe, de acordo com a limitação do atleta, como observamos no Quadro 2. Fonte: Adaptado de CPB (2020). Siglas Modalidades Classes S Nado livre, peito e costas 11 a 13SB Nado peito SM Nado medley Quadro 2. Nomenclatura das modalidades e classes na natação para pessoas com defi- ciência visual Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual10 Existem competições nas categorias masculina e feminina, as quais podem ser disputadas por equipe ou individual nos quatro estilos: livre, peito, costas e borboleta, com distâncias que vão de 50 metros a 1.500 metros. (COSTA; SOUSA, 2004). Ciclismo As competições são disputadas nas categorias masculina e feminina, individual e por equipe. Essa modalidade utiliza as mesmas regras do ciclismo conven- cional, com algumas alterações em questões de segurança e classificação por deficiência e adaptações dos equipamentos (COSTA; SOUSA, 2004). O atleta cego compete em uma bicicleta dupla, com um guia, e as provas são de estrada, contrarrelógio e velódromo (COSTA; SOUSA, 2004). Os esportes paralímpicos são praticados por atletas de alto nível. No en- tanto, há esportes que são praticados por amadores e/ou pessoas que gostam de esportes, ou que recebem indicação médica, entre vários outros motivos. Desportos adaptados praticados por pessoas com deficiência visual Os desportos adaptados são os esportes que já existem com adaptações para as pessoas com deficiência visual, mas que não constam no programa dos Jogos Paralímpicos. Powerlifting É um levantamento de peso praticado por atletas de ambos os sexos, de classi- ficações oftalmológicas B1, B2 e B3. A competição consiste no levantamento de uma barra com movimento supino. A posição do atleta é deitada em um banco; após a autorização do árbitro, o atleta retira a barra do apoio, abaixa a barra até a altura do peito e, em seguida, levanta-a até estender completamente os braços (CBDV, 2020) (Figura 4). 11Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual Figura 4. A prática do powerlifting. Fonte: Shakihama (2018, documento on-line). O atleta tem três tentativas, e o melhor resultado será computado na com- petição. O atleta vencedor é o primeiro que conseguir levantar a barra mais pesada proporcionalmente ao seu peso (CBDV, 2020). Futebol B2 e B3 Essa modalidade é praticada por atletas que possuem baixa visão, ou seja, com classificações oftalmológicas B2 e B3 em quadra de 40 metros de comprimento por 20 metros de largura (Figura 5). Jogam todos juntos, sem venda, com poucas adaptações em relação ao futsal convencional. Sugere-se que a bola seja de uma cor que contraste com a cor do piso onde a partida vai ser disputada, para que a bola fique visível para os jogadores (CBDV, 2020). O futebol B2 e B3 difere do futebol de 5 pelo fato de ser praticado somente por atletas com baixa visão, ou seja, que têm algum grau de visão. Por isso, eles não utilizam vendas, e as adaptações são feitas apenas para visualizar a bola. Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual12 Figura 5. A prática do futebol B2 e B3. Fonte: CBDV 2018, documento on-line). Em cada equipe, deve haver pelo menos dois atletas B2 em quadra, e os atletas B3 devem ser identificados com uma braçadeira de cor diferente da cor da camisa em seu braço direito (CBDV, 2020). No artigo denominado O esporte adaptado na escola: reflexões a partir da produção acadêmica nacional, de Antunes (2020), você terá acesso a um estudo de revisão que retratou como a literatura está abordando a questão do esporte adaptado na escola. Chegou-se à conclusão de que há a necessidade de ampliação dos estudos sobre esportes adaptados para alunos com deficiência nas aulas de educação física. 13Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual 3 Benefícios do exercício físico para pessoas com deficiência visual Pessoas com deficiência têm sido historicamente concebidas como incapazes de serem independentes em sua vida. Essa visão equivocada, além de reforçar a exclusão social, atrapalha o surgimento e o incentivo da prática de atividades físicas para essas pessoas. No entanto, “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um [...]” (BRASIL, 1988, Art. 217, caput, documento on-line). Dessa forma, a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, conhecida como Lei Brasileira de Inclusão, garante o direito da pessoa com deficiência à participação em atividades esportivas na escola e em ambientes de competição em alto nível. Em seu artigo 42, essa lei diz que: A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte e ao lazer em igual- dade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso a: II – […] atividades culturais e desportivas em formato acessível (BRASIL, 2015, Art. 42, documento on-line). Apesar de garantida por lei, a prática de atividade física, seja com objetivo educacional, de competição ou de lazer, ainda esbarra em diferentes obstácu- los para sua democratização, que vão desde questões ambientais até fatores relacionados aos aspectos pessoais e sociais. Existem fatores que podem ser vistos como fundamentais para que pessoas com deficiência desenvolvam um estilo de vida fisicamente ativo, a fim de exercer sua cidadania e melhorar sua saúde e qualidade de vida. Entre esses fatores, destacam-se a divulgação de informações para toda a sociedade, e não apenas para as pessoas com deficiência, a capacitação profissional continuada dos profissionais que trabalham em programas de atividades físicas e espor- tivas, além das ações concretas do poder público no sentido de possibilitar maior participação (GREGUOL, 2017). A atividade física proporciona muitos benefícios às pessoas com deficiência: o aumento na capacidade funcional, a promoção da saúde, o desenvolvimento de relacionamentos sociais e do otimismo, a inclusão em atividades sociais, a melhora na autoconfiança, a autoeficácia, a autoestima, além de aprimora- mento da qualidade de vida (WILHITE e SHANK, 2009 apud GREGUOL, 2017). Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual14 Embora, na maioria das vezes, a deficiência em si não seja um fator deter- minante para atrasos no desenvolvimento motor, cognitivo e social, certamente a falta de acesso a elementos fundamentais para uma vida saudável, como a prática de atividades físicas, pode trazer consequências irreparáveis em relação a esses aspectos (GREGUOL, 2017). Além disso, a prática de alguma atividade física por pessoas com deficiência visual pode proporcionar alguns benefícios, como a oportunidade de testar suas potencialidades e limites, a prevenção de doenças secundárias à deficiência e, ainda, a integração social (MELO; LÓPEZ, 2002). De acordo com Pereira et al. (2013, p. 97), “[…] nesta reconstrução social a prática esportiva se faz presente com grande êxito, por caracterizar atividades grupais, acessíveis a todos e melhorando a auto estima [...]”. No entanto, é importante lembrar que a prática esportiva para pessoas com deficiência também busca o rendimento.O treinamento de alto rendimento para pessoas com deficiência carrega consigo metas facilitadoras de proble- máticas sociais, como conscientizar a sociedade para a inclusão, com ações voltadas para a qualidade de vida, a superação do preconceito e o cultivo da solidariedade (PEREIRA et al., 2013, p. 97). Não se trata de uma prática apenas para entretenimento ou reabilitação, mas também de uma prática competitiva, de rendimento, que, portanto, gera motivação diferenciada na vida dos que praticam essas modalidades. Benefícios da atividade física e esportiva para pessoas com deficiência visual na escola O que mais prejudica o desenvolvimento motor de uma criança com deficiência visual é a escassez de oportunidades (OLIVEIRA FILHO et al., 2006). Essa restrição é gerada pela superproteção dos familiares e até dos professores, que acreditam que a pessoa com deficiência visual é incapaz de realizar atividades. Assim, essas pessoas próximas acabam limitando as oportunidades de explorar o ambiente ofertadas aos indivíduos com deficiência, e passam a eles a men- sagem de que são incapazes e totalmente dependentes, e isso gera atrasos nas suas capacidades de percepção, cognição e movimentos (WINNICK, 2004). Sobre a prática de atividades físicas nas aulas de educação física, Silva, Duarte e Almeida (2011) dizem que elas são um importante veículo para o desenvolvimento motor e social da pessoa com deficiência visual, e possibili- tam que o aluno reconheça o próprio corpo, o que colaborar para um melhor convívio social (SILVA; DUARTE; ALMEIDA, 2011). 15Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual Além disso, a atividade física pode contribuir efetivamente para a rea- bilitação de qualquer tipo de deficiência, desde que seja realizada em uma intensidade ou exigência que considere a individualidade de cada pessoa (TEODORO, 2006). A prática de esportes colabora para a socialização da pessoa com deficiência visual, na medida em que favorece a comunicação, a realização pessoal, a autoi- magem, o autoconceito e a autonomia. Além disso, por haver uma valorização e divulgação de suas capacidades físicas, ocorre a relativização das limitações da pessoa com deficiência visual. Em outras palavras, a prática de esportes por pessoas com deficiência visual promove um reforço das capacidades, em vez de enfatizar as limitações. O desporto também fortalece a autoestima, concede à pessoa alegria de viver, melhora a qualidade de vida e facilita a comunicação e o convívio social (PEREIRA et al., 2013). Quando a pessoa com deficiência visual obtém sucesso nas aulas ou na prática de esportes, sua autoestima é fortalecida, e isso reforça as relações sociais, tão importantes no desenvolvimento do indivíduo. Martins e Borges (2012) reforçam a importância da atividade física para pessoas com deficiência visual, pois favorece a autonomia e a inclusão social, as quais são fundamentais para uma melhor qualidade de vida desses sujeitos. Reforçam, ainda, que quanto mais independentes forem os indivíduos com deficiência visual, mais terão acesso às atividades da vida diária. No artigo Reflexões sobre a carreira do atleta paraolímpico brasileiro, de Haiachi et al. (2016), há algumas reflexões sobre a carreira do atleta paralímpico brasileiro. São mencionadas questões cruciais, como a falta de estrutura e a não renovação dos recursos humanos. A pessoa com deficiência visual pode e deve praticar atividades esporti- vas, e a sociedade precisa desenvolver uma cultura inclusiva. Após garantir a segurança dessas pessoas, é preciso incentivá-las para que desenvolvam ao máximo o seu potencial. Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual16 Neste capítulo, você conheceu alguns esportes adaptados e alguns desportos paralímpicos, teve acesso às regras básicas e pôde entender que as pessoas com deficiência visual têm condições de ter uma vida ativa e produtiva como atletas. Essas práticas ainda não são acessíveis a todas as pessoas com deficiência visual; é preciso trabalhar para que elas cheguem a todas essas pessoas e, para isso, a principal ferramenta é a informação, ressaltando que a prática de atividade física desloca o foco da deficiência para o rendimento, o movimento e a conquista dessas pessoas. Isso melhora a autoestima e a qualidade de vida. A mineira Ádria Rocha Santos, atleta paralímpica de atletismo brasileiro, é considerada o maior nome no Brasil entre as mulheres, pois ela conquistou 13 medalhas paralímpicas. Ela perdeu a visão aos poucos, devido a uma doença degenerativa chamada retinose pigmentar. Sua visão foi perdida completamente em 1994, após ter participado de duas paralimpíadas e conquistado já três medalhas. Após sofrer uma lesão em 2012, que a tirou das pistas e encerrou sua carreira, ela decidiu reinventar-se: deixou de competir nas provas de velocidade e passou a competir no arremesso de peso. Ela cursou educação física, e acredita que, como profissional de educação física, pode colaborar com os atletas paralímpicos que virão. Ádria é um exemplo de superação, de alguém que dedicou a vida ao esporte tendo deficiência visual. Fonte: CPB (2018, documento on-line). ANTUNES, M. M. O esporte adaptado na escola: reflexões a partir da produção acadê- mica nacional. Revista Multidisciplinar de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ), Rio de Janeiro, v. 9, n. 20, 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/e-mosaicos/article/ download/42690/33117. Acesso em: 26 abr. 2020. ARAÚJO P. F. Desporto adaptado no Brasil. São Paulo: Phorte, 2011. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26 abr. 2020. 17Atividades motoras e esportivas voltadas para pessoas com deficiência visual BRASIL. 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