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DIREITO URBANÍSTICO Edição 2023.1 Revisada Atualizada Ampliada http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO URBANÍSTICO ESTATUTO DA CIDADE (LEI 10.257/01) .................................................................................................... 3 1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL (art. 182 e 183 CF) ........................................................................... 3 2. INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE .................................................................................. 4 2.1. REGULAMENTAÇÃO DO ART. 182, § 4º DA CF ......................................................................... 4 2.2. INSTRUMENTOS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ............................................................... 4 2.3. INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO URBANÍSTICA ............................................................... 4 3. OBJETO E FINALIDADE DO ESTATUTO DA CIDADE ...................................................................... 4 4. ESTUDO DOS INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE ......................................................... 6 4.1. REGULAMENTAÇÃO DO ART. 182, § 4º DA CF ......................................................................... 6 4.1.1. Parcelamento/edificação compulsória (art. 182 CF e art. 5º EC)............................................... 6 4.1.2. IPTU progressivo (art. 182 CF e art. 7º EC) ............................................................................... 8 4.1.3. Desapropriação (art. 182 CF e art. 8º EC).................................................................................. 9 4.2. INSTRUMENTOS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ............................................................. 10 4.2.1. Usucapião especial urbana (art. 183 CF, art. 1240 CC, art. 9º EC) ........................................ 10 4.2.2. Usucapião especial coletiva (art. 183 CF, art. 10 EC) ......................................................... 11 4.2.3. Procedimento da usucapião (especial/especial coletiva) do Estatuto da Cidade (art. 11, 12,13 e 14 EC) ............................................................................................................................................... 14 4.2.4. Usucapião e o Código de Processo Civil .................................................................................. 14 4.2.5. Concessão de uso especial para fins de moradia .................................................................... 17 4.3. INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO URBANÍSTICA ............................................................. 20 4.3.1. Direito de superfície (DS - art. 21 a 24 do EC, 1369 e ss do CC) ............................................ 20 4.3.2. Direito de Laje ........................................................................................................................... 23 4.3.3. Direito de preempção (DP - preferência ou prelação – art. 25 a 27 do EC) ............................ 25 4.3.4. Outorga onerosa do direito de construir (OODC - “solo criado” – art. 28 a 31 EC) ................. 28 4.3.5. Transferência do direito de construir (TDC - art. 35 EC) .......................................................... 29 4.3.6. Operação urbana consorciada (OUC - art. 32, 33 e 34 EC) .................................................... 30 4.3.7. Estudo de impacto de vizinhança (EIV – art. 36 EC) ............................................................... 32 5. PLANO DIRETOR (PD - art. 39 a 42 EC) ........................................................................................... 33 6. GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE (art. 43, 44 e 45 - EC) ........................................................ 36 7. CONSÓRCIO IMOBILIÁRIO (art. 46 EC) ........................................................................................... 36 8. IMPROBIDADE (art. 52 EC) ................................................................................................................ 37 9. DEMAIS ARTIGOS .............................................................................................................................. 39 10. POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA ....................................................................... 40 10.1. DOS PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA .................................................................................................................................................. 40 10.2. DIREITO DOS USUÁRIOS .......................................................................................................... 41 http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 1 10.3. PLANO DE MOBILIDADE URBANA............................................................................................ 41 PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA (LEI Nº 11.977/09) ................................................................. 42 1. PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA (PMCMV) ........................................................................ 43 2. REGISTRO ELETRÔNICO, CUSTAS E EMOLUMENTOS ............................................................... 43 3. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE ASSENTAMENTOS URBANOS .............................................. 43 PARCELAMENTO DO SOLO URBANO: DECRETO-LEI 58/67 E LEI 6.766/79 ...................................... 43 1. URBANIZAÇÃO, PARCELAMENTO: LOTEAMENTO E DESMEMBRAMENTO .............................. 44 2. PASSOS PARA A IMPLANTAÇÃO REGULAR DE UM PARCELAMENTO...................................... 49 2.1. DEFINIÇÃO DE DIRETRIZES ..................................................................................................... 49 2.2. APRESENTAÇÃO DO PROJETO ............................................................................................... 50 2.3. APROVAÇÃO DO PROJETO ...................................................................................................... 51 2.4. REGISTRO DO PARCELAMENTO ............................................................................................. 52 3. DOS CONTRATOS ............................................................................................................................. 56 4. DISPOSIÇÕES GERAIS ..................................................................................................................... 61 5. DISPOSIÇÕES PENAIS ...................................................................................................................... 63 6. DISPOSIÇÕES FINAIS ....................................................................................................................... 65 7. DECRETO-LEI 58/1937 ...................................................................................................................... 66 LEI 13.089/2015 (ESTATUTO DA METRÓPOLE) ..................................................................................... 66 1. NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................................... 66 2. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL .................................................................................................. 67 3. ESTATUTO DA CIDADE X ESTATUTO DA METRÓPOLE ............................................................... 67 4. AGLOMERAÇÃO URBANA E REGIÃO METROPOLITANA ............................................................. 67 4.1. CONCEITO E DIFERENÇAS .......................................................................................................... 68 4.2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL ...................................................................................................... 68 4.3. INSTITUIÇÃO DE AGLOMERAÇÕES URBANAS E REGIÕES METROPOLITANAS.................. 68 4.3.1. Existência jurídica ...................................................................................................................... 684.3.2. Finalidade de sua criação ......................................................................................................... 69 4.3.3. Governança interfederativa ....................................................................................................... 69 4.3.4. Forma de criação ....................................................................................................................... 69 4.3.5. Requisitos da Lei Complementar instituidora ........................................................................... 69 5. GOVERNANÇA INTERFEDERATIVA ................................................................................................ 70 5.1. CONCEITO....................................................................................................................................... 70 5.2. PRINCÍPIOS (ART. 6º) .................................................................................................................... 71 5.3. Diretrizes específicas (art. 7º) .......................................................................................................... 71 5.4. ESTRUTURA (ART. 8º) ................................................................................................................... 71 6. INSTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO URBANO INTEGRADO ............................................. 72 http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 2 6.1. ROL DE INSTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO URBANO INTEGRADO........................... 72 6.2. PLANO DE DESENVOLVIMENTO URBANO INTEGRADO .......................................................... 72 6.2.1. Em que consiste ........................................................................................................................ 72 6.2.2. Obrigatório ................................................................................................................................. 73 6.2.3. Aprovação .................................................................................................................................. 73 6.2.4. Ministério Público ...................................................................................................................... 73 6.2.5. Revisão periódica do plano ....................................................................................................... 73 6.2.6. Plano diretor continua obrigatório ............................................................................................. 73 7. APOIO DA UNIÃO AO DESENVOLVIMENTO URBANO INTEGRADO ........................................... 74 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA................................................................................................................. 75 1. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA RURAL ............................................................................................ 75 1.1. CONCEITO ................................................................................................................................... 75 1.2. ALTERAÇÕES NA LEI 8.629/93 ................................................................................................. 76 1.3. ALTERAÇÕES NA LEI 11.952/2009 ........................................................................................... 78 2. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA ......................................................................................... 79 2.1. NOÇÕES GERAIS ....................................................................................................................... 79 2.2. OBJETIVOS DA REURB ............................................................................................................. 79 2.3. NÚCLEOS URBANOS ................................................................................................................. 80 2.4. NÚCLEOS URBANOS INFORMAIS ............................................................................................ 80 2.5. DISPENSA DE EXIGÊNCIAS ...................................................................................................... 80 2.6. NÚCLEOS URBANOS INFORMAIS SITUADOS EM ÁREAS RURAIS ..................................... 80 2.7. ESPÉCIES DE REURB ................................................................................................................ 80 2.8. ÁREAS DE RISCO NÃO PODEM SER OBJETO DE REURB ................................................... 81 2.9. LEGITIMADOS PARA REQUERER A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA ................... 81 3. LEGITIMAÇÃO FUNDIÁRIA ............................................................................................................... 82 4. PROCESSO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................ 83 5. DISPOSIÇÕES FINAIS DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA ............................................ 84 6. ARRECADAÇÃO DE IMÓVEIS ABANDONADOS ............................................................................. 84 7. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................. 85 http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 3 ESTATUTO DA CIDADE (LEI 10.257/01) A grande maioria das provas, sobre o Estatuto da Cidade, cobra letra seca de lei. 1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL (art. 182 e 183 CF) O Estatuto da Cidade regulamenta os artigos 182 e 183 da CF. Objetiva trabalhar a função social da cidade e a função social da propriedade, através de instrumentos, que serão vistos abaixo. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Como o tema foi cobrado em concurso? MPE/RJ (2022) Acerca da Desapropriação Urbanística, assinale a alternativa correta: Apenas os Municípios que possuem plano diretor podem se valer dessa modalidade de desapropriação. Correta! http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO2023.1 4 2. INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE Aqui estudaremos: 2.1. REGULAMENTAÇÃO DO ART. 182, § 4º DA CF 1) Parcelamento/edificação compulsória; 2) IPTU progressivo; 3) Desapropriação. 2.2. INSTRUMENTOS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA 1) Usucapião (especial e/ou coletiva). 2.3. INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO URBANÍSTICA 1) Direito de superfície; 2) Direito de laje; 3) Direito de preempção; 4) Outorga onerosa do direito de construir (solo criado); 5) Transferência do direito de construir; 6) Operação urbana consorciada; 7) Estudo de impacto de vizinhança. 3. OBJETO E FINALIDADE DO ESTATUTO DA CIDADE Normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança, do bem-estar e do equilíbrio ambiental. Tudo gira em torno das funções sociais da propriedade urbana. Lembremos que a competência material para elaborar e executar os planos nacionais e regionais de ordenação urbana é PRIVATIVA da União: CF Art. 21. Compete à União: IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; Não obstante, a competência legislativa para tratar de direito urbanístico é CONCORRENTE, entre União, Estado e Distrito Federal: CF Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; § 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 5 § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Tal estrutura normativa, inclusive, foi reforçada no Estatuto da Cidade (art. 3º): Art. 3o Compete à União, entre outras atribuições de interesse da política urbana: I – Legislar sobre normas gerais de direito urbanístico; II – legislar sobre normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em relação à política urbana, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional; III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais, de saneamento básico, das calçadas, dos passeios públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços de uso público; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico, transporte e mobilidade urbana, que incluam regras de acessibilidade aos locais de uso público; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) V – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social. A Lei 13.146/2015, Estatuto da Pessoa com Deficiência, alterou o art. 3º do Estatuto da Cidade, a fim de facilitar a inclusão social, implementando meios de acessibilidade nas ruas, prédios públicos e privados. Em 2022, A Lei 14.489/2022, a Lei Padre Júlio Lancelotti, acrescentou uma nova diretriz a ser observada, tutelando o interesse das pessoas em situação de rua, tema que vem sendo muito discutido: “Art.2º (...) XX - promoção de conforto, abrigo, descanso, bem-estar e acessibilidade na fruição dos espaços livres de uso público, de seu mobiliário e de suas interfaces com os espaços de uso privado, vedado o emprego de materiais, estruturas, equipamentos e técnicas construtivas hostis que tenham como objetivo ou resultado o afastamento de pessoas em situação de rua, idosos, jovens e outros segmentos da população.”. O artigo 4º traz um rol dos instrumentos do Estatuto da Cidade. Art. 4o Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros INSTRUMENTOS: I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; III – planejamento municipal, em especial: a) plano diretor; b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; c) zoneamento ambiental; d) plano plurianual; e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual; f) gestão orçamentária participativa; g) planos, programas e projetos setoriais; h) planos de desenvolvimento econômico e social; IV – institutos tributários e financeiros: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art113 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art113 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art113 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art113 http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 6 a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; b) contribuição de melhoria; c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros; V – institutos jurídicos e políticos: a) desapropriação; b) servidão administrativa; c) limitações administrativas; d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; e) instituição de unidades de conservação; f) instituição de zonas especiais de interesse social; g) concessão de direito real de uso; h) concessão de uso especial para fins de moradia; i) parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; j) usucapião especial de imóvel urbano; l) direito de superfície; m) direito de preempção; n) outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; o) transferência do direito de construir; p) operações urbanas consorciadas; q) regularização fundiária; r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos; s) referendo popular e plebiscito; t) demarcação urbanística para fins de regularização fundiária; u) legitimação de posse. VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). § 1o Os instrumentos mencionados neste artigo regem-se pela legislação que lhes é própria, observado o disposto nesta Lei. § 2o Nos casos de programas e projetos habitacionais de interesse social, desenvolvidos por órgãos ou entidades da Administração Pública com atuação específica nessa área, a concessão de direito real de uso de imóveis públicos poderá ser contratada coletivamente. § 3o Os instrumentos previstos neste artigo que demandam dispêndio de recursos por parte do Poder Público municipal devem ser objeto de controle social, garantida a participação de comunidades, movimentos e entidades da sociedade civil. 4. ESTUDO DOS INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE 4.1. REGULAMENTAÇÃO DO ART. 182, § 4º DA CF 1) Parcelamento/edificação compulsória (art. 182 CF e art. 5º EC); 2) IPTU progressivo (art. 182 CF e art. 7º EC); 3) Desapropriação (art. 182 CF e art. 8º EC). Vejamos: 4.1.1. Parcelamento/edificação compulsória (art. 182 CF e art. 5º EC) http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 7 a) Previsão constitucional CF Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. ... § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou nãoutilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. b) Solo urbano NÃO EDIFICADO Trata-se de terreno. Terra nua que não há nada. Embora não esteja edificado, poderia ser utilizado. Exemplo: estacionamento. c) Imóvel SUBUTILIZADO É aquele em que existe construção, só que inferior ao índice legal definido no plano diretor. Só para que visualize: X tem um terreno de 200 m², com uma casa minúscula e em péssimas condições no meio. d) Imóvel urbano NÃO UTILIZADO Além de não ser edificado, não está sendo utilizado para qualquer circunstância. É problema do proprietário? Sim, pois influi na vida das demais pessoas, seja através dos preços dos aluguéis, da ocupação por pessoas em situação de rua, do uso do imóvel para consumir drogas, etc. e) Procedimento EC Art. 5o Lei municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para implementação da referida obrigação. § 1o Considera-se SUBUTILIZADO o imóvel: I – cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele decorrente; § 2o O proprietário será notificado pelo Poder Executivo municipal para o cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser averbada no cartório de registro de imóveis. § 3o A notificação far-se-á: http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 8 I – por funcionário do órgão competente do Poder Público municipal, ao proprietário do imóvel ou, no caso de este ser pessoa jurídica, a quem tenha poderes de gerência geral ou administração; II – por edital quando frustrada, por três vezes, a tentativa de notificação na forma prevista pelo inciso I. § 4o Os prazos a que se refere o caput não poderão ser inferiores a: I - um ano, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente; II - dois anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento. § 5o Em empreendimentos de grande porte, em caráter excepcional, a lei municipal específica a que se refere o caput poderá prever a conclusão em etapas, assegurando-se que o projeto aprovado compreenda o empreendimento como um todo. Art. 6o A transmissão do imóvel, por ato inter vivos ou causa mortis, posterior à data da notificação, transfere as obrigações de parcelamento, edificação ou utilização previstas no art. 5o desta Lei, sem interrupção de quaisquer prazos. Inicialmente, o Poder Público Municipal notificará o proprietário, a notificação deverá ser averbada no Registro de Imóveis. Obs.: caso o proprietário do imóvel seja pessoa jurídica, a notificação será feita na pessoa do representante legal/contratual. Após três tentativas infrutíferas de notificação, esta será feita por meio de edital. Após a notificação, o proprietário terá um ano para protocolar um projeto no órgão municipal competente. Sendo aprovado, terá dois anos para começar as obras do seu empreendimento. ATENÇÃO! Uma vez notificado, mesmo que haja transmissão inter vivos ou causa mortis, após a notificação, todas as obrigações são transferidas (seja de apresentar o projeto ou de iniciar a edificação). Exceção: empreendimentos de grande porte. A lei municipal pode prever a conclusão do empreendimento por etapas. Ex: shopping. Como o tema foi cobrado em concurso? MPE/GO (2019) Sobre o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, institutos jurídicos e políticos, previstos na Lei Federal n. 10.257/2001, que dispõe sobre o Estatuto da Cidade, é incorreto afirmar que o prazo para a implementação da obrigação não poderá ser inferior a dois anos, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente. Correta! 4.1.2. IPTU progressivo (art. 182 CF e art. 7º EC) Art. 7o Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art. 5o desta Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no § 5o do art. 5o desta Lei, o Município procederá à aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) PROGRESSIVO no tempo, mediante a majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 9 § 1o O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado na lei específica a que se refere o caput do art. 5o desta Lei e não excederá a duas vezes o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota máxima de quinze por cento. § 2o Caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não esteja atendida em cinco anos, o Município manterá a cobrança pela alíquota máxima, até que se cumpra a referida obrigação, garantida a prerrogativa prevista no art. 8o. § 3o É vedada a concessão de isenções ou de anistia relativas à tributação progressiva de que trata este artigo. Não sendo cumpridas as exigências do art. 5º do EC, alíquota do IPTU poderá ser majorada pelo prazo de 05 anos consecutivos. Após, será mantida a cobrança no valor máximo. O valor da alíquota é fixado em lei e não excederá 2x o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota máxima de 15%. OBS: Não se poderá conceder a concessão de isenções ou anistia referentes ao IPTU progressivo. É o caráter extrafiscal do IPTU progressivo, isto é, não tem fins de arrecadação para o Fisco, mas sim estimular uma conduta do indivíduo . Após os 5 anos, sem que se cumpra a obrigação, o Poder Público poderá proceder a desapropriação (sanção). Como o tema foi cobrado em concurso? PGE/AL (2021) Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem as providências legais pelo proprietário, a notificação de inadimplência pelo Poder Executivo municipal deverá ser averbada no cartório de registro de imóveis. Correta! 4.1.3. Desapropriação (art. 182 CF e art. 8º EC) Art. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. § 1o Os títulos da dívida pública terão prévia aprovação pelo Senado Federal e serão resgatados no prazo de até dez anos, em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais de seis por cento ao ano. § 2o O valor real da indenização: I – refletirá o valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante incorporado em função de obras realizadas pelo Poder Público na área onde o mesmo se localiza após a notificação de que trata o § 2o do art. 5o desta Lei; II – não computará expectativas de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios. § 3o Os títulos de que trata este artigo não terão poder liberatório para pagamento de tributos. § 4o O Município procederá ao adequado aproveitamento do imóvel no prazo máximo de cinco anos, contado a partir da sua incorporação ao patrimônio público. § 5o O aproveitamento do imóvel poderá ser efetivado diretamente pelo Poder Público ou por meio de alienação ou concessão a terceiros, observando-se, nesses casos, o devido procedimento licitatório. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 10 § 6o Ficam mantidas para o adquirente de imóvel nos termos do § 5o as mesmas obrigações de parcelamento, edificaçãoou utilização previstas no art. 5o desta Lei. É a desapropriação sanção. Será paga com títulos da dívida pública. O valor real da indenização será o do momento da notificação. Base de cálculo do IPTU só que descontado o montante incorporado em função de obras realizadas pelo poder público, após a notificação do proprietário. Não há que se falar em expectativa de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios. É possível utilizar os títulos da dívida pública como liberação de pagamento de tributos? Não. Utilização do bem pelo Poder Público: o poder público não pode ficar retendo o imóvel após a desapropriação, ele tem o prazo de 05 anos, após a incorporação, para dar destinação. O Poder Público pode alienar este bem ou fazer concessão a terceiros (licitação). Neste caso, as mesmas obrigações serão cobradas do terceiro. A intenção é que o imóvel obedeça a função social. Perceba, portanto, que há uma ordem necessária de preferência na implementação das instrumentos citados. Desta forma, resumindo: 4.2. INSTRUMENTOS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA 4.2.1. Usucapião especial urbana (art. 183 CF, art. 1240 CC, art. 9º EC) CF Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. CC Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Parcelamento/edificação compulsória (art. 182 CF e art. 5º EC); IPTU progressivo (art. 182 CF e art. 7º EC); Desapropriação (art. 182 CF e art. 8º EC). http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 11 § 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2o O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. EC Art. 9o Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O título de domínio será conferido ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2o O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão. Como o tema foi cobrado em concurso? DPE/AP (2022) A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da usucapião especial urbana sobre a totalidade da área quando atendidos os requisitos legais. DPE/SE (2022) O título de domínio pode ser conferido ao homem, à mulher ou a ambos, independentemente do estado civil. Correta! 4.2.2. Usucapião especial coletiva (art. 183 CF, art. 10 EC) Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. (Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017) § 1o O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. § 2o A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis. § 3o Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas. § 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. § 5o As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes. A Lei 13.465/2017 modificou a redação do art. 10, que prevê a usucapião coletiva, pela qual se institui um condomínio. Essa modalidade passou a ser autorizada sempre que a fração ideal de cada morador for inferior a 250 m2 por ocupante. A redação anterior somente autorizava essa forma de http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 12 usucapião quando não fosse viável identificar a área ocupada por cada morador, o que praticamente inviabilizava o instituto. OBS: Comentários aos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do CC (“desapropriação judicial” ou forma especial de usucapião?!) Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha § 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. § 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. Seria uma desapropriação ou forma especial de usucapião? Há quem acredite tratar-se de desapropriação, entretanto, Pablo Stolze acredita ser uma forma de usucapião especial, devido à presença do elemento posse. A norma é cheia de conceitos abertos. É possível que um grande número de pessoas ocupar extensa área de boa-fé? Sim, imagine que eles acreditam que ela seja improdutiva. § 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. OBS: Lembre-se que a Lei nº 13.465/2017 retirou o requisito "população de baixa renda"! Como o tema foi cobrado em concurso? DPE/SC (2021) Uma comunidade reside informalmente em núcleo urbano localizado em bairro periférico de Florianópolis-SC. A ocupação da área particular data de pouco mais de cinco anos, sem oposição dos proprietários. Os ocupantes não são proprietários de nenhum outro imóvel urbano ou rural. Diante da situação hipotética e considerando o disposto no Estatuto da Cidade, é possível a usucapião especial coletiva caso a área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a 250 m2 por possuidor. DPE/GO (2021) Conforme regrada no Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257/2001), com suas alterações posteriores, a usucapião coletiva, modalidade da usucapião especial urbana, é aplicadaaos núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos cujos possuidores não sejam proprietários de outro imóvel. Correta! ➔ QUESTÃO: Expropriada a propriedade, neste caso, quem pagará o proprietário? http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 13 Eduardo Cambi, Arruda Alvim e o Ministro Teori Zavascki dizem que o pagamento deve ser feito pelos próprios posseiros. Outra parcela da doutrina (Fabiana Pacheco Araújo) defende que o pagamento, por se tratar de desapropriação judicial, deve ser feito pelo Município (caso seja imóvel urbano) ou pela União (se imóvel rural). No entanto, esse pagamento não tem previsão legal ou constitucional. Os Enunciados 84 (I Jornada) e 308 (IV Jornada) tentam responder a essa pergunta. 84 – Art. 1.228: A defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser arguida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento da indenização. 308 – Art.1.228. A justa indenização devida ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art. 1.228, § 5°) somente deverá ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil. (Utilizar esta orientação em defesa na AGU!) *Cristiano Chaves: É chamada também de “DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL INDIRETA” ou “AQUISIÇÃO COMPULSÓRIA ONEROSA”. Seria uma Nova modalidade de desapropriação por interesse social. Não se confunde com usucapião coletivo (Estatuto da Cidade), eis que neste não há indenização. Apesar de o código se referir à via de defesa em ações reivindicatórias, nada impede que seja usada em reintegratórias. Há entendimento ainda, no sentido que tal regra pode ser aplicada a bens públicos dominicais, visto não ser usucapião. Para Cristiano Chaves, tratando-se de coletividade de baixa renda, a indenização deve ser paga pelo Estado. “DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL INDIRETA” USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO COLETIVO Prazo de 05 anos; Prazo de 05 anos; Posse de boa-fé; Posse de boa ou má-fé; Extensa área, em imóvel urbano ou rural; Imóvel urbano superior a 250 m2; Considerável número de pessoas; População de baixa renda em composse; Gera indenização (aquisição compulsória) Não gera indenização (modo de aquisição originária) Alegação em ação autônoma ou em matéria de defesa. Alegação em ação autônoma ou em matéria de defesa. Obras e serviços relevantes, assim considerados pelo juiz. Finalidade de moradia. Incide sobre bem público. Não incide sobre bem público. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 14 4.2.3. Procedimento da usucapião (especial/especial coletiva) do Estatuto da Cidade (art. 11, 12,13 e 14 EC) Art. 11. Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo. Art. 12. São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana: I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente; II – os possuidores, em estado de composse; III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados. § 1o Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério Público. § 2o O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis. Art. 13. A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis. Art. 14. Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a ser observado é o SUMÁRIO. Quando há a ação de usucapião especial urbana, ficam sobrestadas todas e quaisquer ações, petitórias ou possessórias que venham a ser propostas em relação a este imóvel. Como o tema foi cobrado em concurso? MPE/PR (2019) A associação de moradores da comunidade, mesmo que sem personalidade jurídica, é parte legítima para a propositura da ação, desde que explicitamente autorizada pelos representados. Errada! 4.2.4. Usucapião e o Código de Processo Civil - Usucapião de bem imóvel Era um procedimento especial previsto pelo CPC de 73. Não há mais previsão de um procedimento especial de usucapião. O CPC/15 pegou as peculiaridades da usucapião e colocou no procedimento comum, ou seja, a usucapião passou a ser um procedimento comum com peculiaridades, consequentemente, ela não é propriamente um procedimento comum. Art. 246. A citação será feita: (...) § 3o Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes (vizinhos) serão citados pessoalmente (litisconsórcio necessário), exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada – isso é novidade (havia discussão sobre quais vizinhos deveriam ser citados e o CPC esclarece) http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 15 Art. 259. Serão publicados editais: I - na ação de usucapião de imóvel (...). São 5 características que trazem as especificidades da usucapião, e 3 não foram reproduzidas no CPC de 2015: a) Citação dos confinantes – mantida pelo CPC/15; b) Edital para terceiros interessados – mantida pelo CPC/15; c) Juntada de planta do imóvel – foi extinta porque a legislação extravagante já não previa mais essa exigência; d) Intervenção obrigatória do MP – o CPC/15 deixa claro que a intervenção do MP como fiscal da ordem jurídica se dá somente nas hipóteses previstas no art. 179 – presença de incapaz e presença de interesse público, ou quando previsto expressamente, tal como ocorre na usucapião especial urbana prevista no E. da Cidade; e) As Fazendas Públicas deveriam ser intimadas – embora não haja previsão expressa, a doutrina tem entendido que essa exigência deve continuar em vigor, a partir de uma interpretação por analogia, porque o CPC/15 criou a figura do reconhecimento extrajudicial da usucapião perante o Cartório, no qual as Fazendas Públicas têm que ser intimadas. - Usucapião de bem móvel A ação de usucapião de bem móvel tramita pelo procedimento comum, e não tem nenhuma especialidade. - Usucapião especial rural e especial urbana Usucapião especial rural: Lei 6.969/81 Usucapião especial urbana: Estatuto da Cidade. Ambas remetem ao procedimento sumário – só que o procedimento sumário não existe mais. Art. 1049, parágrafo único, CPC: aplicação do procedimento comum. - Usucapião extrajudicial Previsto no art. 1.071 do CPC/15. Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 216- A: (Vigência) “Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com: I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias; II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6015consolidado.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6015consolidado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1045 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6015consolidado.htm#art216a http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 16 fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes; III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel. § 1o O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido. § 2o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, esse será notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em 15 (quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância. § 3o O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido. § 4o O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias. § 5o Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de registro de imóveis. § 6o Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5o deste artigo e achando-se em ordem a documentação, com inclusão da concordância expressa dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso. § 7o Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei. § 8o Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido. § 9o A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião. § 10. Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum.” Segundo Daniel Neves, observando uma tendência nacional de desjudicialização do direito, e atribuindo às serventias notariais e registrais tarefas que antes dependiam obrigatoriamente da intervenção jurisdicional, o art. 1.071 do CPC/15, ao criar o art. 216-A da Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos), passou a admitir a realização de usucapião extrajudicial. Não se trata propriamente de uma novidade do sistema, já que o art. 60 da Lei 11.977/2009 (Lei do Programa Minha Casa, Minha Vida), já prevê tal possibilidade, desde que preenchidos os requisitos http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 17 legais. O art. 216-A da Lei 6.015/1973, entretanto, é mais amplo, porque sua única exigência é a concordância das partes. Registre-se que a novidade não cria um dever para a parte que pretenda adquirir um bem por usucapião, que mesmo preenchidos os requisitos para o procedimento extrajudicial pode livremente optar pela propositura de ação judicial. Sendo a via extrajudicial uma opção da parte, que deverá estar assistida de advogado, o procedimento tramitará obrigatoriamente perante a serventia imobiliária da situação do imóvel. Ainda sobre o tema, destacamos a ementa do julgado em que o STJ entendeu que o art. 12, §2º, EC estabelece uma presunção relativa de hipossuficiência em relação ao autor da ação de usucapião especial urbana: O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que "o autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis." Isso significa que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da gratuidade da justiça? Há uma presunção absoluta de que este autor não tem recursos suficientes para pagar as custas? NÃO. O art. 12, § 2º da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção relativa de que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da comprovação inequívoca de que o autor não é considerado "necessitado". STJ. 3ª Turma. REsp 1517822-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2017 (Info 599). 4.2.5. Concessão de uso especial para fins de moradia A polêmica Lei n. 13.465, resultante da conversão da Medida Provisória n. 759/2016, surgiu com o objetivo de rever a política de regularização fundiária rural e urbana no Brasil. Sob esse escopo, além de alterar boa parte da legislação urbanística, ela sistematizou os institutos jurídicos empregados para fins de reurbanização, tornando mais claras as soluções para os problemas constantes de ocupação para fins de moradia.1 Em consonância com o art. 15 da Lei n. 13.465, os institutos de reurbanização abrangem: I – a legitimação fundiária e a legitimação de posse; II – a usucapião; III – a desapropriação em favor dos possuidores; IV – a arrecadação de bem vago; V – o consórcio imobiliário; VI – a desapropriação por interesse social; VII – o direito de preempção; VIII – a transferência do direito de construir; IX – a requisição, em caso de perigo público iminente; X – a intervenção do poder público em parcelamento clandestino ou irregular; XI – a alienação de imóvel pela administração pública diretamente para seu detentor; XII – a concessão de uso especial para fins de moradia; XIII – a concessão de direito real de uso; XIV – a doação; e XV – a compra e venda (g.n.). Mas o que afinal mudou? De que modo o regime da CUEM foi atingido? Quais foram os dispositivos da MP n. 2.220 afetados? Em que medida essas modificações restringem ou ampliam o 1 Trecho extraído do artigo publicado por Thiago Marrara. Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM): O que Mudou em Seu Regime Jurídico Desde a Constituição de 1988 até a Lei n.13465 de 2017? No site Gen Jurídico. http://genjuridico.com.br/2019/04/03/concessao-de-uso-especial-para-fins-de-moradia-cuem-o-que-mudou-em-seu-regime- juridico-desde-a-constituicao-de-1988-ate-a-lei-n-13465-de-2017/ http://genjuridico.com.br/2019/04/03/concessao-de-uso-especial-para-fins-de-moradia-cuem-o-que-mudou-em-seu-regime-juridico-desde-a-constituicao-de-1988-ate-a-lei-n-13465-de-2017/ http://genjuridico.com.br/2019/04/03/concessao-de-uso-especial-para-fins-de-moradia-cuem-o-que-mudou-em-seu-regime-juridico-desde-a-constituicao-de-1988-ate-a-lei-n-13465-de-2017/ http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 18 emprego da concessão? De pronto, é possível afirmar que muitopouco aconteceu. A lei de 2017 ficou bem atrás da Lei n. 11.481/2007 em termos de avanços. Na verdade, em 2017, o legislador acabou por alterar somente três artigos da Medida Provisória n. 2.220: o art. 1º, caput, que trata do direito individual à concessão de uso especial para fins de moradia; o art. 2º, caput, referente à concessão na modalidade coletiva e o art. 9º, que, porém, não se refere à concessão para fins de moradia, senão à autorização de uso de bem público para fins comerciais. O art. 1º da MP n. 2.220 foi alterado basicamente em dois aspectos, a saber: a) Prazo de aquisição do direito – antes de 2017, a CUEM havia ficado restrita aos ocupantes que tivessem comprovado a posse quinquenal sobre o imóvel público urbano até 30 de junho de 2001. Agora, o prazo foi bastante alargado e passou para dia 22 de dezembro de 2016. Com isso, foram beneficiados ocupantes que não tinham logrado atingir os cinco anos de posse até 2001, bem como aqueles que iniciaram as ocupações após a MP n. 2.220 e conseguiram os requisitos até o final de 2016. Note-se, porém, que o legislador insiste em fixar uma data aparentemente nacional e que, a meu ver, é completamente inconstitucional diante da competência do Congresso para apenas prever normas gerais de direito urbanístico, não para decidir como os Estados e Municípios farão sua gestão patrimonial. b) Característica do imóvel: antes de 2017, a legislação se referia à ocupação de imóvel público situado em área urbana. A partir de então, fala-se da ocupação para moradia de área com características e finalidade urbanas. Com isso, o legislador aparentemente buscou deixar de lado a questão mais rígida do perímetro urbano, de modo a permitir a CUEM em áreas que não estejam dentro dele, mas demonstram características urbanas, sobretudo em termos de serviços e de infraestruturas. Para se chegar à conclusão se há ou não característica e finalidade urbana, podem ser empregados, por exemplo, os critérios do art. 32, § 1º e 2º[10] do Código Tributário Nacional.[11] Já o artigo 2º da MP n. 2.220/2001, que cuida da CUEM coletiva, sofreu três mudanças: as duas já apontadas em relação ao art. 1º (prazo limite até 22 de dezembro de 2016 e imóvel ocupado com características e finalidade urbanas), e outra referente às características da ocupação. Como se observou anteriormente, na redação originária da MP, a concessão na modalidade coletiva dependia da comprovação de requisitos adicionais não previstos para a concessão individual, a saber: a indivisibilidade da posse, bem como a vulnerabilidade dos possuidores. A indivisibilidade, na redação originária do art. 2º, caput, constava da seguinte oração: “onde não for possível identificar os terrenos ocupados por possuidor”. Na nova redação do art. 2º, o requisito da vulnerabilidade dos ocupantes foi mantido. Todavia, a oração transcrita a respeito da indivisibilidade foi suprimida e substituída pela seguinte: “cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor”. Dessa modificação ao menos duas conclusões podem ser extraídas. • Em primeiro lugar, o legislador parece ter desejado mitigar a importância da indivisibilidade, já que não mais fala da impossibilidade de identificação dos terrenos ocupados por possuidor. Assim, esse requisito não se mostra mais essencial para a concessão na modalidade coletiva. Ainda que a área seja divisível e as ocupações por família ou indivíduo estejam bem separadas e identificadas, poderá ser empregada a concessão coletiva, além da individual. A opção coletiva, apesar da eventual divisibilidade da área ocupada pelo grupo de baixa renda, pode ser recomendável, por exemplo, para garantir a gestão do espaço urbano nas mãos de um ente representativo do grupo, tornando mais forte os http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 19 interesses coletivos que os individuais no processo de reurbanização. Se houver divisibilidade, portanto, tanto a modalidade coletiva quanto a individual poderão ser utilizadas pelo proprietário concedente. • De outro lado, porém, o novo texto aparentemente criou um requisito não previsto na redação de 2001: a necessidade de que a porção, divisível ou não, de cada ocupante não supere 250 metros quadrados. Essa regra serve para igualar o direito de concessão dos ocupantes coletivos com o direito do ocupante na concessão individual. Trata-se de uma padronização das modalidades que objetiva evitar tratamento discriminatório. No entanto, a regra pode causar inúmeros inconvenientes práticos, seja por inviabilizar a regularização de inúmeras áreas por pequenas superações da metragem per capita, seja por problemas no cálculo. Apesar para ilustrar: a área total do imóvel dividida pelo número de possuidores incluirá estritamente a área ocupada ou a área do imóvel como um todo? Tome-se o exemplo de um edifício de 10 andares com 200 m2 cada, mas em que os dois primeiros andares sofram a ocupação por quatro pessoas e todos os outros andarem permaneçam desocupados. Caso se considere para o cálculo a área dos andares efetivamente ocupados (400 m2), haverá direito subjetivo à concessão coletiva. Caso se utilize a área total do imóvel (2000 m2) – interpretação que se afigura, a meu ver, incorreta –, não surgirá o direito. Esse simples problema ilustra, portanto, que o legislador, de uma parte, buscou ampliar a possibilidade de aquisição do direito à concessão de uso especial, mas, de outro, criou algumas dificuldades adicionais para seu emprego na prática. Ainda que a limitação a 250 metros quadrados se imponha pela regra da isonomia, ela não deve ser empregada para burocratizar e inviabilizar a regularização pela via da CUEM. De todo modo, atualmente o que vigora sobre o instituto pode ser verificado na MP 2220, posteriormente alterada pela lei n. 13.465/2017: Art. 1º Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. (Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017) § 1º A concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma gratuita ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo concessionário mais de uma vez. § 3º Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, na posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão. Art. 2 o Nos imóveis de que trata o art. 1 o , com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de dezembro de 2016, por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor, a concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 20 Como o tema foi cobrado em concurso? MPE/SP (2022) É correto afirmar, no que tange aos instrumentos jurídicos da política urbana, que o imóvel público situado em área com características e finalidade urbanas, com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de dezembro de 2016, por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamentee sem oposição, cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor, terá conferida concessão de uso especial para fins de moradia, de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural, conforme a Lei no 13.465/17, que alterou a Medida Provisória no 2.220/2001. Correta! DPE/RR (2021) Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito real de uso para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. Errada! 4.3. INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO URBANÍSTICA 1) Direito de superfície (DS - art. 21 a 24 do EC, 1369 e ss do CC); 2) Direito de sobrelevação (direito de laje) 3) Direito de preempção (DP - preferência ou prelação – art. 25 a 27 do EC); 4) Outorga onerosa do direito de construir (OODC - “solo criado” – art. 28 a 31 EC); 5) Transferência do direito de construir (TDC - art. 35 EC); 6) Operação urbana consorciada (OUC - art. 32, 33 e 34 EC); 7) Estudo de impacto de vizinhança (EIV – art. 36 EC). Vejamos: 4.3.1. Direito de superfície (DS - art. 21 a 24 do EC, 1369 e ss do CC) Art. 21. O proprietário urbano poderá conceder a outrem o direito de superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis. (Perceber que difere do CC, no qual só pode ser por tempo DETERMINADO...). § 1o O direito de superfície abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, na forma estabelecida no contrato respectivo, atendida a legislação urbanística. (Perceber que difere do CC, no qual não pode ser utilizado o subsolo...) CC Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 21 Parágrafo único. O direito de superfície não autoriza obra no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da concessão. Conforme o Enunciado 93 da Jornada, os dois diplomas são compatíveis. JDC Enunciado 93 Art. 1.369: As normas previstas no Código Civil sobre direito de superfície não revogam as relativas a direito de superfície constantes do Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) por ser instrumento de política de desenvolvimento urbano. Código Civil: Estabelece as normas gerais do instituto. Estatuto da Cidade: Regula especificamente o direito de superfície em zona urbana. O direito de superfície de zona rural é totalmente disciplinado pelo CC/2002. CÓDIGO CIVIL ESTATUTO DA CIDADE Regramento geral e Imóveis rurais Imóveis urbanos. O prazo é sempre por tempo DETERMINADO. Pode ser por tempo DETERMINADO ou INDETERMINADO. Obs: se for por indeterminado, a mora é ex persona. CC NÃO ABRANGE subsolo e espaço aéreo. ABRANGE também o subsolo e o espaço aéreo, ou seja, admite o direito de sobrelevação (“laje”). Mais amplo. Continuando: § 2o A concessão do direito de superfície poderá ser GRATUITA ou ONEROSA. Lembrar que no CC, cada prestação periódica recebe o nome de CÂNON ou SOLARIUM. § 3o O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em contrário do contrato respectivo. § 4o O direito de superfície pode ser transferido a terceiros, obedecidos os termos do contrato respectivo. § 5o Por morte do superficiário, os seus direitos transmitem-se a seus herdeiros. Art. 22. Em caso de alienação do terreno, ou do direito de superfície, o superficiário e o proprietário, respectivamente, terão direito de preferência, em igualdade de condições à oferta de terceiros. Art. 23. Extingue-se o direito de superfície: I – pelo advento do termo; II – pelo descumprimento das obrigações contratuais assumidas pelo superficiário. Art. 24. Extinto o direito de superfície, o proprietário recuperará o pleno domínio do terreno, bem como das acessões e benfeitorias introduzidas no imóvel, independentemente de indenização, se as partes não houverem estipulado o contrário no respectivo contrato. § 1o Antes do termo final do contrato, extinguir-se-á o direito de superfície se o superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para a qual for concedida. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 22 § 2o A extinção do direito de superfície será averbada no cartório de registro de imóveis. Qual a natureza jurídica do direito de superfície? Direito real. As construções e plantações constituem inegável valor econômico em si mesmas. Por conta disso, pensou o ordenamento em criar um direito real na coisa alheia que valorizasse a construção e a plantação no solo, de modo a concretizar a função social da propriedade. Assim, pode-se conceituar como o direito concedido a um terceiro de usar a superfície da propriedade de outrem, para fins de construção e plantação (ou seja, funcionalização do solo). O direito real de superfície é aquele através do qual um terceiro cumpre a função social da propriedade de outrem, através da funcionalização do solo. É um meio de o titular do solo evitar uma série de sanções que poderiam lhe ser aplicadas dado o não cumprimento da função social de sua propriedade: edificação compulsória, desapropriação, IPTU progressivo etc. O direito de superfície é a utilização do solo, do subsolo ou do espaço aéreo. O CC restringe mais o direito de superfície, falando apenas do solo. Ceder o espaço para o indivíduo edificar no imóvel do proprietário. Isso pode acontecer por tempo determinado ou determinável, registrado em escritura pública lavrada em cartório. O direito de superfície pode ser gratuito ou oneroso, o que será pactuado no contrato. O superficiário é responsável por todos os encargos que incidem sobre a propriedade superficiária, arcando ainda proporcionalmente à sua efetiva ocupação com a área objeto do direito de superfície (ex: onde o superficiário está utilizando, ele arcará com os encargos, salvo disposição contratual em contrário). É possível a transferência de direito de superfície? Sim, desde que o contrato permita. E se morrer o superficiário? Neste caso, os direitos do superficiário se transferem aos herdeiros. O direito de superfície divide o direito de propriedade. E no caso de venda do direito de superfície? O proprietário tem preferência. E no caso de venda do imóvel? O superficiário tem direito de preferência em igualdade de condições com outros. Se eu sou o proprietário do terreno, quero vender e quem adquire é o superficiário, elimina-se o instituto. Formas de extinção do direito de superfície: 1-Advento do termo; 2-Descumprimento das obrigações contratuais assumidas pelo superficiário. Com a extinção do direito de superfície, o proprietário pega o pleno domínio do terreno (propriedade alodial). Mesmo com benfeitoria e acessões, tudo vem para o proprietário independentemente de indenização, salvo se houver disposição contratual em sentido contrário. http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 23 A extinção do direito de superfície deve ser averbada a margem da matrícula do imóvel, já que é um direito real. 4.3.2. Direitode Laje O direito real de laje consiste na possibilidade de coexistência de unidades imobiliárias autônomas de titularidades distintas situadas em uma mesma área, de maneira a permitir que o proprietário ceda a superfície de sua construção a fim de que terceiro edifique unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo (novo art. 1.510-A do Código Civil). Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já existia na prática: alguém tem um imóvel (uma casa, p. ex.) e cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel (a "laje") para que lá ela construa outra edificação autônoma em relação à construção existente na parte de baixo. Veja a íntegra do novo artigo inserido no Código Civil: Art. 1.510-A. O direito real de laje consiste na possibilidade de coexistência de unidades imobiliárias autônomas de titularidades distintas situadas em uma mesma área, de maneira a permitir que o proprietário ceda a superfície de sua construção a fim de que terceiro edifique unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo. § 1º O direito real de laje somente se aplica quando se constatar a impossibilidade de individualização de lotes, a sobreposição ou a solidariedade de edificações ou terrenos. § 2º O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário do imóvel original. § 3º Consideram-se unidades imobiliárias autônomas aquelas que possuam isolamento funcional e acesso independente, qualquer que seja o seu uso, devendo ser aberta matrícula própria para cada uma das referidas unidades. § 4º O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade. § 5º As unidades autônomas constituídas em matrícula própria poderão ser alienadas e gravadas livremente por seus titulares, não podendo o adquirente instituir sobrelevações sucessivas, observadas as posturas previstas em legislação local. § 6º A instituição do direito real de laje não implica atribuição de fração ideal de terreno ao beneficiário ou participação proporcional em áreas já edificadas. § 7º O disposto neste artigo não se aplica às edificações ou aos conjuntos de edificações, de um ou mais pavimentos, construídos sob a forma de unidades isoladas entre si, destinadas a fins residenciais ou não, nos termos deste Código Civil e da legislação específica de condomínios. § 8º Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito real de laje. ➔ QUESTÃO: Em que consiste este novo direito real?2 2 https://www.dizerodireito.com.br/2016/12/resumo-dos-principais-pontos-da-mp.html http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 24 O direito real de laje consiste na possibilidade de coexistência de unidades imobiliárias autônomas de titularidades distintas situadas em uma mesma área, de maneira a permitir que o proprietário ceda a superfície de sua construção a fim de que terceiro edifique unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo (novo art. 1.510-A do Código Civil). Em que pese discussão doutrinária anterior quanto à possibilidade de instituir tal direito, atualmente, em função da aprovação da lei n. 13.465, lei que converteu em lei a MP 759, dispondo, dentre outras coisas sobre regularização fundiária rural e urbana, temos como legalmente possível tal direito. Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já existia na prática: alguém tem um imóvel (uma casa, p. ex.) e cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel (a "laje") para que lá ela construa outra edificação autônoma em relação à construção existente na parte de baixo. Distinção entre direito de sobrelevação e direito de superfície por cisão: O direito de superfície por cisão está presente quando o proprietário aliena por superfície construção já existente no terreno. O superficiário poderá introduzir benfeitorias na construção já existente (superfície por cisão qualificada) ou não introduzir tais benfeitorias (superfície por cisão ordinária). Embora essa situação tenha alguma semelhança com a sobrelevação, com esta não se confunde, pois, na superfície por cisão, as benfeitorias estarão sendo feitas na construção que o superficiário terá direito de manter (ou seja, terá direito de fruição e disposição), o que não ocorre na sobrelevação. Na realidade, em se tratando de sobrelevação, a construção já existente não será alvo de melhoramento ou de destaque para exercício em benefício próprio do superficiário, servindo apenas de base para nova construção, que será independente da primeira. Impacto social e econômico do instituto: O instituto permite incrementar a função social da posse em várias favelas e aglomerados populares pela via de sua regularização através do registro imobiliário. Em razão do pluralismo jurídico que surge nas favelas, criou-se uma prática social plenamente aceita e regrada por essas comunidades, denominada direito de laje. Para essas comunidades, o direito de laje refere-se ao poder de disposição que o proprietário da construção exerce sobre o espaço aéreo imediatamente superior à sua construção e que, pela cultura popular desenvolvida nas favelas, lhe pertence por direito. A laje, para o costume social praticado na favela, tem um importante papel nas atividades sociais e de lazer dos seus moradores. Uma vez que, normalmente, nas construções não existem áreas do solo destinadas ao lazer dos moradores, pois cada espaço do solo é aproveitado, a laje acaba desempenhando o papel de extensão da construção, no que se refere às áreas de lazer, e se torna palco das reuniões sociais com as famílias e com os amigos nos finais de semana, do cultivo de plantas e dos mais diversos interesses dos moradores, sendo facultado a estes que vendam o direito sobre a laje, para que outra pessoa nela edifique sua moradia. Da relação proprietária da construção com a sua superfície no sentido horizontal, decorre a apropriação do direito de laje resultante das relações com a família, pois, com o surgimento de um novo grupo familiar, o pai ou a mãe cede o direito de laje, para que o filho, ou filha, edifique nela sua moradia. Analisando a questão das construções que possuem os moradores das favelas, em relação ao direito oficial, verifica-se que o seu direito sobre elas é um direito informal de superfície, pois o solo, na maioria das situações, pertence ao poder público ou a outro particular que, muitas vezes, desconhecem. O que realmente importa é a construção; portanto, o direito que eles têm resume-se à construção. Assim compreendido, o direito de laje seria o direito sobre um outro direito (oficial ou não), sobre a superfície do http://www.iceni.com/infix.htm CS – DIREITO URBANÍSTICO 2023.1 25 solo que pode ser vendido, permutado, doado, enfim, objeto de todos os atos de disposição (Frederico Henrique Viegas Lima). Como o tema foi cobrado em concurso? DPE/RR (2022) O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da construção-base. Correta! DPE/AP (2022) Um grupo de moradores de baixa renda residente há mais de 10 anos em faixa de domínio de via férrea busca a Defensoria Pública informando ter recebido notificação para desocupação da área em 90 dias, sob pena de ação judicial. O defensor público responsável pela defesa desse grupo de moradores, com base na legislação urbanística, poderá requerer a constituição de direito real de laje ou de superfície da unidade urbanística, observado o plano diretor, o prévio
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