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S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 1 S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! Texto-base Eram seis e meia da tarde e eu estava no Bingo Belenenses quando comecei a suar frio. Janeiro de 1993. A temperatura lá fora estava perto do zero. Para espanto das bingueiras portuguesas, tirei o casacão, o pulôver, a camisa. Fiquei de camiseta cavada. Meu coração começou a bater muito forte e as minhas mãos suavam frio. Estava pela boa, mas fui ao banheiro passar uma água no rosto. Senti que ia desmaiar. Ou morrer. Na rua, com o rosto molhado e de camiseta, carregando minhas roupas, consegui entrar no meu carro vomitando na sarjeta. Mas, se você conhece Lisboa, sabe que neste horário o trânsito é o pior do mundo. Enfiei o carro em cima de uma calçada e entrei na primeira farmácia. A mocinha, assustada, olhou para minha cara, eu dizendo que estava morrendo. Pelo olhar pesaroso, ela achou que eu estava drogado e disse que só podia me dar uma pica (injeção) com ordem médica. Me indicou um hospital a duas quadras. E foi me avisando: é particular, o senhor vai ter que pagaire! Me segurando nas paredes cheguei no pronto-socorro do tal hospital particular, entrei direto para um corredor, tinha uma maca, deitei. Chegou uma enfermeira gorda e foi logo avisando que era particular e que eu teria que pagar. Dei meu cartão para ela e o telefone de um casal amigo. E disse pela segunda vez: estou morrendo. Me levaram para uma sala e me deram uma injeção. A sensação de morte era incrível, inadiável. A enfermeira ficou assustada porque o batimento não abaixava: 180. Chamaram um especialista em coração. Ele ficou mais assustado do que eu. Falou com a enfermeira e ela se aproximou, definitiva: - Vamos te Texto-base Problemas Hipóteses Questões de aprendizagem 1 - Transtornos de ansiedade a) Classificação b) Epidemiologia c) Fatores desencadeantes d) Etiologia/Fisiopatologia e) Quadro clínico f) Diagnóstico g) Diagnóstico diferencial 2 - Tratamento farmacológico para ansiedade a) Geral b) Benzodiazepínicos 3 - Tratamento não farmacológico para ansiedade 4 - Emergências psiquiátricas S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 2 aplicaire duas picas. Uma no cu (é bunda, em Portugal) e uma sucutânea. Comecei a rir, é claro. E pensei: pelo menos morro rindo. O batimento não caía. Chega o casal meu amigo. Dou os telefones dos meus parentes no Brasil. Me levam para a UTI. Ligam milhares de aparelhos em mim. Colhem meu sangue. Exames urgentes. Não deixam o casal entrar na UTI. Médicos discutem em volta de mim. Chegam os resultados dos exames. O médico se aproxima e diz que estão todos normais, apenas faltando um pouco de potássio dentro de mim. Me sugere comer bananas. Até hoje não sei se ele estava me gozando ou não. Cinco horas depois de entrar no hospital (particular) o batimento volta ao normal. Meia noite. Quero ir embora. Desligar aqueles fios todos. Chamam de novo o médico especialista. Ele não me deixa ir. Tenho que ficar em observação. Ninguém no hospital sabia o que eu tinha. Não, doutor, não há casos de enfarte na família, disse umas dez vezes. A enfermeira, vi ela sussurrar com o médico, desconfiava de alguma droga muito forte. Heroína, coisa mais ou menos comum em Lisboa. Hoje, dez anos depois, tomando remédio todo dia pela manhã, vou vivendo. Normal. Nunca mais tive nada. Nunca mais levei picas sucutâneas. Nem lá. Problemas Mário está suando frio, com taquicardia, sudorese, dispneia, sensação de desmaio ou morte. Mário foi medicado com injeções não efetivas em reduzir batimento. Os médicos não eram preparados para o atendimento. Mário foi encaminhado para UTI, devido aos sintomas. O único parâmetro laboratorial alterado era o potássio (hipopotassemia). Hipóteses Mário teve uma crise de ansiedade - Verdadeiro Mário teve uma crise de pânico - Verdadeiro A falta de preparo dos médicos prejudicou a conduta - Verdadeiro Não houve um gatilho importante desencadeador do quadro ansioso - Verdadeiro Questões de aprendizagem 1 - Transtornos de ansiedade a) Classificação S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 3 💡 Definição de ansiedade: A ansiedade é um estado mental suscitado em antecipação a uma ameaça ou a uma ameaça potencial, resultando em um estado de maior vigilância (normal e adaptativo). É caracterizada por experiências subjetivas, como preocupações, tensão e alterações fisiológicas. Esse estado emocional pode ser desencadeado por estímulos que não representam perigo imediato ou pode ser gerado por estímulos internos. → Só são considerados como patológicos quando são exagerados ou desproporcionais ao estímulo. Transtorno de ansiedade generalizada (TAG) Os pacientes sofrem de ansiedade e preocupação excessivas, acompanhados por sintomas como inquietação, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular, distúrbios do sono e fadiga. O indivíduo tem dificuldade de controlar a preocupação e de evitar que pensamentos preocupantes interfiram na atenção às tarefas em questão. Transtorno de pânico (TP) ou Ansiedade Paroxística Episódica Caracterizado por ataques de pânico recorrentes, que são períodos de ansiedade e desconforto intenso, sem qualquer gatilho, acompanhados por sintomas somáticos. Tanto pode ocorrer sem gatilho, que pode acontecer durante o sono. O paciente não sabe quando vai acontecer. Paciente refere como “sensação de morte iminente” ou “medo de ficar louco”, atingindo pico em cerca de 10 minutos. S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 4 O ataque situacional, em geral, é precedido por ansiedade antecipatória crescente, ligada à expectativa de sentir-se mal em um determinado contexto. Devido ao grande desconforto, o indivíduo passa a ter medo da repetição dos sintomas desenvolvendo uma ansiedade antecipatória em relação à ocorrência de novas crises e o temor de passar mal em determinado local ou contexto. Esta ansiedade antecipatória pode servir de gatilho para nova crise (agora, situacional). Com isto, pode se desenvolver uma esquiva fóbica e/ou agorafobia, mesmo após a ocorrência de uma única crise espontânea. Atualmente, o diagnóstico é feito com base na intensidade e impacto da crise na vida do paciente, ao invés de ser por meio do número de vezes que ocorrem. Agorafobia Medo em locais ou situações (p. ex., transporte público, multidões) dos quais a fuga pode ser difícil ou em que a ajuda pode não estar disponível. Fobias sociais Medo persistente e irracional de ser observado ou avaliado negativamente por outros em situações de desempenho social ou interação. Associado a sintomas de ansiedade somática e cognitiva. S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 5 Fobia Específica Medo excessivo ou irracional de objetos isolados ou situações (p. ex., medo de voar, de ver sangue, de altura ou de animais). Uma característica essencial desse transtorno é que o medo ou ansiedade está circunscrito à presença de uma situação ou objeto particular (Critério A), que pode ser denominado estímulo fóbico. Ocasionalmente, a fobia específica se desenvolve após um evento traumático (p. ex., ser atacado por um animal ou ficar preso no elevador), por observação de outras pessoas que passam por um evento traumático (p. ex., ver alguém se afogar), por um ataque de pânico inesperado na situação a ser temida (p. ex., um ataque de pânico inesperado no metrô) ou por transmissão de informações (p. ex., ampla cobertura da mídia de um acidente aéreo). Por isso, elas costumam iniciar na infância (como visto no TBL). Entretanto, muitas pessoas com fobia específica não conseguem se lembrar da razão para o início de suas fobias. Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) Caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões. Obsessões = pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados como intrusivos e indesejados. Compulsões = comportamentos repetitivos ou atos mentais que S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 6 um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo comregras que devem ser aplicadas rigidamente. Por que o TOC não é mais considerado um transtorno ansioso, segundo o DSM-5? Embora haja indícios de que as compulsões podem preceder as obsessões, especialmente em crianças, a maioria dos pacientes relata que suas compulsões são realizadas em resposta aos pensamentos obsessivos. O reconhecimento dessa relação ajuda a diferenciar o TOC de transtornos nos quais há predominância de obsessões (p. ex., pensamentos ruminantes de culpa, nos transtornos depressivos, ou expectativas ansiosas exageradas, como no transtorno de ansiedade generalizada [TAG]) e de transtornos nos quais há comportamentos repetitivos sem obsessões correspondentes (como na tricotilomania e na dermatotilexomania). Também facilita a compreensão da proposta da terapia cognitivo-comportamental (TCC) e sua implementação pelo paciente, estimulando a exposição aos pensamentos intrusivos, mas prevenindo respostas comportamentais disfuncionais. As compulsões não são realizadas com prazer, mas sim a contragosto, buscando a sensação de alívio, mesmo que temporário, que proporcionam. Outra característica clínica importante do TOC são os fenômenos sensoriais (FS). Pessoas com TOC descrevem, com frequência, sensações subjetivas desconfortáveis de “não estar em ordem”, ou um sentimento de incompletude, ou de apenas “ter que” realizar algum comportamento repetitivo. A sensação de incompletude leva o paciente a repetir um comportamento até atingir “o ponto certo”, ou de que fez “o suficiente”. De forma semelhante, a sensação de “estar em ordem”, ou, em inglês, “to feel just right”, refere-se a sensações táteis, visuais ou auditivas, que expressam quando algo está exatamente como deveria ser, incluindo parecer (visual), soar (auditivo) ou ser sentido (tátil) como estando adequado ou perfeito. Embora a presença de FS não seja necessária para o diagnóstico de TOC, são comumente relatados e merecem ser pesquisados para que possam ser incluídos na estratégia de tratamento. Para que se feche o diagnóstico, os sintomas devem ocupar tempo significativo (p. ex., mais de 1h/dia) ou resultar em sofrimento subjetivo considerável ou prejuízo S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 7 notável no funcionamento social, pessoal, convívio familiar, na vida acadêmica e profissional ou em outras áreas. Transtorno do Estresse Pós-traumático (TEPT) É desenvolvimento de sintomas característicos, após a exposição a um ou mais eventos traumáticos. Esses sintomas podem se apresentar nas seguintes formas: Sintomas de revivência do medo, emocionais e comportamentais. Estados de humor anedônicos ou disfóricos e cognições negativas. Excitação e sintomas reativos externalizantes. Sintomas dissociativos. No TEPT, a pessoa revive o momento. Por exemplo, até 1 mês de um assalto, tudo bem sentir sintomas ansiosos relacionados ao trauma; mas passado esse período, caso os sintomas continuem, já é considerado TEPT. Por que o TEPT não é mais considerado um transtorno ansioso, segundo o DSM-5? Diferentemente de qualquer outro transtorno mental descrito nas classificações psiquiátricas atuais, os transtornos relacionados a trauma e a estressores precisam, para seu diagnóstico, da presença clara de um elemento causal muito bem definido: a exposição a um evento potencialmente traumático ou a um estressor grave. Embora outros transtornos mentais, como episódios depressivos ou transtorno de pânico (TP), possam se desenvolver após situações como essas, elas não são necessárias, sendo consideradas fatores de risco para esses outros transtornos. S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 8 Referências: - Tratado de Psiquiatria. Associação brasileira de psiquiatria. - DSM - 5. - https://www.medicinanet.com.br/m/conteudos/revisoes/5668/ansiedade_generalizada.htm - Epidemiologia dos transtornos de ansiedade em regiões do Brasil: uma revisão de literatura. - Epidemiology of anxiety disorders in Brazilian regions: a literature review, Iglesias, Vitor. Pang, Yuan. Helena, Laura, USP. Dezembro de 2019. - Prevalência de ansiedade e fatores associados em adultos, UFRGS. - TRANSTORNOS ANSIOSOS, USP, Maidel, Fabiele. Nicoli, Cristiana. b) Epidemiologia Segundo a OMS, 1 em cada 4 indivíduos apresenta ou já apresentou um transtorno de ansiedade. A prevalência em 12 meses é um pouco menor que a prevalência ao longo da vida, indicando que esses transtornos são relativamente persistentes. Prevalência ao longo da vida de 7,7% em mulheres e 4,6% em homens. https://www.medicinanet.com.br/m/conteudos/revisoes/5668/ansiedade_generalizada.htm S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 9 Fobias e TAS tem início particularmente precoce, com maior risco de incidência entre os 6 e 17 anos de idade. Como abordado no TBL de Transtornos Ansiosos. TAG pode surgir na idade adulta e no final da vida. A idade média estimada para os transtornos de ansiedade foi de 21,3 anos. Mais da metade dos pacientes com 1 transtorno de ansiedade apresenta múltiplos transtornos de ansiedade comórbidos. Referências: - Tratado de Psiquiatria. Associação Brasileira de Psiquiatria. - Dynamed. c) Fatores desencadeantes São os chamados “gatilhos”. Fobia social Um fator desencadeante é a exposição de um trabalho. Fobia específica Um fator desencadeante seria enfrentar um animal, um lugar fechado, ou contato com o medo original da fobia. TP Não há fator desencadeante. Agorafobia A própria evitação do momento já é um medo e fator desencadeante. TEPT O reviver do trauma é o fator desencadeante. TOC Depende do tipo de TOC, daí há diversos fatores desencadeantes. Medo de germes e lavar a mão toda hora → TOC. Referências: - Discussão em sala de aula. d) Etiologia/Fisiopatologia Fisiologia - Relação do cortisol e estresse S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 10 Sabe-se que o hipotálamo pos sui um papel central em orques trar uma resposta humoral, visceromotora e somático- motora apropriada ao estresse, sendo essa resposta regulada. A exposição contínua ao cortisol, em períodos de estresse crônico, pode levar à disfunção e à morte dos neurônios hipocampais. Essa disfunção causa: Falhas na capacidade do hipocampo de contro lar a liberação dos hormônios do es tresse e de realizar suas funções de rotina. Falha de memória, pois o estresse também influencia a aptidão de induzir a potenciação de longo prazo no hipocampo. Relação com os circuitos neurais Quando estímulos ambientais são interpretados como ameaçadores, se origina a ansiedade. Como ocorre essa interpretação? 1. Uma pessoa deve primeiro detectar que os estímulos existem por meio de seus sistemas sensoriais, por meio do córtex sensorial, do tálamo e dos folículos superior e inferior. 2. Ocorre uma interpretação do estímulo que é, em parte, determinada pela experiência anterior do indivíduo e inclui a atribuição de valência ao estímulo via circuitos da amígdala basolateral. Circuitos neurais envolvidos na ansiedade. S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 11 Se os eventos são ou não interpretados como ameaçadores depende do equilíbrio entre os circuitos de apoio e o circuito de comportamentos defensivos. Quais mecanismos são utilizados para gerar ansiedade? Recrutamento de determinadas populações definidas pela projeção de neurônios na amígdala basolateral. A valência positiva e a negativa são codificadas por neurônios da amígdala basolateral. Especifi camente, a ativação de neurônios da amígdala basolateral que se projetam para a subdivisão centromedial da amígdala pode influenciar o sistema de interpretação em di reção a uma avaliação de ameaça. A exposição repetida a fatores estressantes ou estímulos de ameaça que podem causar a potencialização específica de circuitos que promovem comportamentos relacionado à ansiedade, de forma que, em situações ambíguas, os circuitos de ansiedade prevaleçam. Como as respostas somáticas são originadas? Os estímulos interpretados como ansiosos serão avaliados pelo córtex pré-frontal medial, pelo hipotálamo e pelaárea ventro tegumentar, que, aliados ao córtex motor, ao núcleo parabraquial, à substância cinzenta periaquedutal e ao nucleus accumbens, originarão as respostas somáticas de ansiedade, como dispneia, taquicardia, sudorese, tremores, entre outras. Características cerebrais associadas ao TAG Em alguns estudos incluem aumento de volume para amígdala e córtex pré-frontal, diminuição do volume do hipocampo, aumento da atividade do córtex pré-frontal, diminuição da conectividade entre o córtex pré-frontal e a amígdala, funcionamento anormal dos sistemas de serotonina e cortisol e níveis aumentados de norepinefrina. Modelo neurobiológico proposto de TAG: amígdala hiperativa (devido a expectativas apreensivas) resulta em atividade hiperativa do sistema nervoso autônomo e secreção de cortisol (torna-se crônica devido à interrupção da regulação emocional pelo córtex pré-frontal e córtex cingulado anterior). Consequências de níveis cronicamente aumentados de cortisol Aumento da recaptação de serotonina. Diminuição da conectividade funcional entre o córtex pré-frontal e o córtex cingulado anterior. S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 12 Diminuição do volume do hipocampo. Alterações neurais resultam em aumento adicional de ansiedade e perturbação na regulação emocional. Referências: - Silverthorn, Dee Unglaub, Fisiologia humana, 7 ed, 2017. - Dynamed. - Tratado de Psiquiatria. Associação Brasileira de Psiquiatria. e) Quadro clínico Sintomas autonômicos Taquicardia, vasoconstrição, suor, aumento de peristaltismo intestinal, taquipneia, piloerecção, midríase. Sintomas musculares Dores, contraturas, tremores. Sintomas cinestésicos Parestesias, calafrios, adormecimentos, ondas de calor. Sintomas respiratórios Sensação de afogamento ou sufocação, dispnéia. Sintomas psíquicos Tensão, nervosismo, apreensão, mal-estar indefinido, insegurança, dificuldade de concentração, sensação de estranheza ou despersonalização e desrealização. Maior estado de vigilância. Referências: - Manual de psiquiatria clínica português. - Tratado de Psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. f) Diagnóstico S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 13 S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 14 Diagnóstico de TEPT Feito por meio de uma entrevista clínica que extrai diretamente a história que estabelece: Exposição a um trauma real ou ameaçado. Experimentar memórias recorrentes, involuntárias e intrusivas, sonhos angustiantes, reações dissociativas (como flashbacks) e/ou reações psicológicas ou fisiológicas angustiantes a lembranças do trauma evitação de estímulos associados ao trauma. 2 ou mais alterações cognitivas ou de humor associadas ao trauma, como incapacidade de recordar detalhes do trauma, distanciamento e distanciamento dos outros, culpa distorcida, crenças negativas persistentes, estado emocional negativo e diminuição do interesse na participação em atividades. 2 ou mais sintomas indicando uma mudança na excitação e na reatividade associada ao trauma, incluindo agressividade ou irritabilidade, imprudência, aumento da vigilância, aumento da resposta de sobressalto, problemas de concentração e distúrbios do sono persistência de sintomas que causam comprometimento funcional significativo e sofrimento por ≥ 1 mês. Referências: - Tratado de Psiquiatria. Associação Brasileira de Psiquiatria. g) Diagnóstico diferencial S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 15 S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 16 Esses sintomas também podem estar associados à abstinência das seguintes classes: álcool; opioides; sedativos; hipnóticos e ansiolíticos; estimulantes (inclusive cocaína) e outras. Algumas medicações que induzem sintomas ansiosos incluem anestésicos e analgésicos; simpatomiméticos ou outros broncodilatadores; anticolinérgicos; insulina; preparações tireoidianas; contraceptivos orais; anti-histamínicos; medicações antiparkinsonianas; corticosteroides, anti-hipertensivos e medicações cardiovasculares; anticonvulsivantes; carbonato de lítio; antipsicóticos e antidepressivos. Metais pesados e toxinas (ex: inseticidas organofosforados, monóxido de carbono, dióxido de carbono, substâncias voláteis como tinta e gasolina) também podem causar pânico ou sintomas de ansiedade. Referências: - Tratado de Psiquiatria. Associação Brasileira de Psiquiatria. - https://www.medicinanet.com.br/m/conteudos/revisoes/5668/ansiedade_generalizada.htm - Epidemiologia dos transtornos de ansiedade em regiões do Brasil: uma revisão de literatura. - Epidemiology of anxiety disorders in Brazilian regions: a literature review, Iglesias, Vitor. Pang, Yuan. Helena, Laura, USP. Dezembro de 2019. - Prevalência de ansiedade e fatores associados em adultos, UFRGS. - TRANSTORNOS ANSIOSOS, USP, Maidel, Fabiele. Nicoli, Cristiana. 2 - Tratamento farmacológico para ansiedade 💡 Esquema de tratamento: Os antidepressivos e os benzodiazepínicos são considerados medicamentos farmacológicos de primeira linha para o tratamento da maioria dos transtornos de ansiedade, com exceção da fobia específica. Tratamento agudo: Benzodiazepínicos e antagonistas b-adrenérgicos. Tratamento crônico: ISRSs e IRSNs e buspirona é necessário para produzir e sustentar os efeitos ansiolíticos. Servem inclusive para evitar que a crise aconteça. a) Geral Antidepressivos de escolha Os antidepressivos mais utilizados para o tratamento dos transtornos de ansiedade são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSNs). https://www.medicinanet.com.br/m/conteudos/revisoes/5668/ansiedade_generalizada.htm S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 17 Os ISRSs e os IRSNs demonstraram eficácia para todos os transtornos de ansiedade, exceto para a fobia específica. Outros antidepressivos, como tricíclicos e inibidores da monoaminoxidase, foram amplamente utilizados no passado para o tratamento de transtornos de ansiedade, mas seus efeitos adversos e perfis de segurança os tornaram menos populares nos dias atuais. Medicamentos anticonvulsivantes que modulam a sinalização do GABA, como gabapentina e pregabalina, podem ser empregados como terapêuticas para transtornos de ansiedade. Ressalva: não são os mais comumente utilizados. Outros tipos de medicamentos usados no tratamento desses transtornos incluem buspirona (um ansiolítico não benzodiazepínico) e bloqueadores βadrenérgicos. A buspirona é um tratamento eficaz somente para TAG. Bloqueadores β-adrenérgicos (como propranolol ou atenolol) são eficazes para alguns indivíduos com TAS do tipo de desempenho (que apresentam ansiedade ao falar ou se apresentar em público), mas não há evidências apoiando sua eficácia para a ansiedade em geral. Tratamento para crianças e adolescentes Os transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes podem ser tratados com ISRSs ou IRSNs, que geralmente são administrados quando abordagens psicológicas não estão disponíveis ou não estão funcionando. Mas é necessário cuidado, já que algumas evidências indicaram aumento das taxas de suicídio com ISRSs nessa população. Entretanto, os benefícios do tratamento com ISRSs com monitoramento cuidadoso são considerados superiores a esse risco. Mulheres com transtornos de ansiedade durante o período perinatal, inclusive durante a gravidez e a amamentação, provavelmente devam optar pela TCC. Alguns ISRSs, como a sertralina, podem ser considerados para uso nessas pacientes quando a TCC não estiver disponível, mostrar falta de eficácia ou quando a paciente preferir a farmacoterapia, ainda que o impacto da medicação sobre a formação do bebê e os efeitos adversos no recém-nato durante a amamentação mereçam ser considerados com cuidado durante o tratamento. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Em geral, utiliza-se um Inibidor Seletivo da Recaptação de Serotonina (ISRSs). S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 18 Todos são equivalentes quanto à eficácia e a escolha do princípio é feita de acordo com os efeitos adversos que cada um apresenta. A respostapode surgir em até 12 semanas a partir do início do uso do fármaco e o tratamento deve ser mantido por 2 anos após resposta alcançada. Sempre que possível, combinar o tratamento com a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). O ISRS pode ser trocado pela monoterapia com a clomipramina, um Inibidor Seletivo da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (ISRSN) ou até mesmo potencializar o ISRS com a Clomipramina (tricíclico) ou antipsicóticos. Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) É um transtorno bastante resistente à farmacoterapia, por isso muitos estudos recomendam as terapias como primeira linha de tratamento. Mesmo quando tratado com os medicamentos de “primeira escolha”, menos de 60% dos pacientes apresentam resposta clínica satisfatória, e apenas 20 a 30% apresentam remissão completa dos sintomas. Para o tratamento adequado, é necessário que as medicações sejam utilizadas próximas ao limite superior de sua faixa terapêutica. Primeira linha: Fluoxetina, Paroxetina e Sertralina (ISRS). Segunda linha: Venlafaxina (IRSN). Drogas utilizadas em associação (potencializadoras): Prazosina, Quetiapina e Risperidona. Referências: - Tratado de Psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. - As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman - 12ªed. b) Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos são bastante eficazes no tratamento de transtornos de ansiedade. Sua grande vantagem é que combatem a ansiedade imediatamente, eliminando os sintomas de forma rápida. No entanto, preocupações com possíveis abusos e dependência podem limitar o seu uso. O uso deve ocorrer por 1 mês, no máximo, para que seja possível manejar a retirada. Mecanismo de ação Gaba é um neurotransmissor inibitório da passagem de corrente elétrica entre neurônios. S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 19 O BZD ao se ligar em seu receptor de membrana gabaérgico, abre um canal de cloreto, que entra para dentro da célula tornando seu interior mais negativa (hiperpolarização). Os benzodiazepínicos têm ação potencializadora desse efeito, pois se ligam aos receptores gabaérgicos, por outro sítio, aumentando mais a entrada de cloreto na célula. Efeitos adversos Letargia, sonolência, diminuição da atividade psicomotora, prejuízo de memória, tontura e zumbido. Antagonista de Receptor Benzodiazepínico - FLUMAZENIL. Utilizado em casos de overdose por benzodiazepínicos. Administrado por via intravenosa. É administrado em série de pequenas injeções. Uma dose total de 1 mg dada durante 1-3 minutos é com frequência, suficiente para abolir os efeitos de doses terapêuticas de benzodiazepínicos. Pacientes com suspeita de overdose por benzodiazepínicos devem responder adequadamente a uma dose cumulativa de 1-5 mg administrados durante 2-10 minutos. A ausência de resposta a 5 mg de flumazenil sugere fortemente que um benzodiazepínico não é a principal causa de sedação. Cursos adicionais de tratamento com flumazenil podem ser necessários após 20- 30min se a sedação reaparecer. Medicações indutoras de sono 1ª classe: Hipnótico não benzodiazepínico - Zolpidem AD atípico - Trazodona (Donaren) IRSN - Mirtazapina ADT - Amitriptilina 3ª classe: Anti-psicóticos Clorpromazina (usado para tratar insônia) Haloperidol - “sossega leão” Quetiapina 4ª classe: S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 20 Miosan Miosan + ISRS pode induzir síndrome serotoninérgica. Referências: - Tratado de Psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. - As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman - 12ªed. 3 - Tratamento não farmacológico para ansiedade TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) É o tratamento psicológico de primeira linha para transtornos de ansiedade, principal tratamento psicológico baseado em evidências para a abordagem de transtornos de ansiedade na infância, na adolescência e na idade adulta. As estratégias utilizadas são: A psicoeducação, que é o aprendizado e o automonitoramento de pensamentos, sensações físicas e comportamentos. A reestruturação cognitiva (identificação de erros de pensamento, substituindo-os). A exposição sistemática repetida a estímulos temidos (p. ex., dirigir para lugares desconhecidos) ou por meio de exercícios interoceptivos (que abordam o medo de sintomas corporais de ansiedade). Técnicas respiratórias e de relaxamento. Referências: - Tratado de Psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. 4 - Emergências psiquiátricas As emergências psiquiátricas consistem em situações de risco iminente para o paciente ou outrem, causadas por transtornos psiquiátricos ou crise psicológica. Exigem a intervenção imediata da equipe de emergência. No Brasil, os transtornos psíquicos correspondem a cerca de 10% de todos os atendimentos de emergência e urgência de hospitais gerais e dos serviços de pronto- socorro no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as situações mais frequentes estão: Agitação psicomotora e agressividade; Comportamento suicida e automutilação; Delirium ou estado confusional agudo; Surto ou episódio psicótico; S.P 1.2 - Pânico em Lisboa! 21 Depressão grave; Transtornos por uso de substâncias (intoxicações, síndromes de abstinência, dependência grave e quadros induzidos); Transtornos ansiosos. Encaminhar pro IPQ: suicídio, risco de heteroagressividade, agitação/lentificação motora grave ou catatonia grave. CAPS não interna: somente o CAPS III (cuja internação é breve e não tem em SC). 💡 Mundo ideal: Presença de leitos psiquiátricos nos hospitais. Referências: - Tratado de Psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. Fluxo de atendimento da emergência psiquiátrica.
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