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TEORIA CRÍTICO LITERÁRIA Dra. Sylvia Bittencourt GUIA DA DISCIPLINA 2022 1 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “O professor sempre se impacienta, quando tem de explicar qualquer coisa mais de uma vez. O livro não. O livro exige apenas a boa vontade de quem estuda.” Aluísio Azevedo • Ao escolher esta epígrafe de Aluísio Azevedo, introduzo uma questão pedagógica. O valor da leitura no processo da aprendizagem. Não que eu queira fugir da responsabilidade docente de explicar quantas vezes forem necessárias, as dúvidas que surgirão, mas sim envolver você com uma verdade inquestionável: o protagonismo do leitor no ato de ler. É ele o sujeito de sua aprendizagem, ainda mais no caso do Ensino/Aprendizagem da Literatura • Como o objeto de estudo da disciplina é Literatura e engloba uma produção artística, humana e social, ela se transforma com o passar dos tempos. Suas funções se transformam ao longo da História. Há muitas manifestações do BELO e do BOM. Isso sugere que o gosto se transforma ao longo do tempo da humanidade e de nossa própria vida. Lembre-se de que você já fez careta e cuspiu a primeira colherada de um doce. Há crianças que chegam a se arrepiar com repulsa pelo novo paladar açucarado. Mas hoje.... haja brigadeiro! • Essa “conversinha” introdutória tem como objetivo refletir sobre a resposta pronta, nascida do senso comum e vendida como se fosse verdade: “Gosto não se discute”. Gosto se discute. SIM!!. Mau gosto, lamenta-se e bom gosto se aprende, ampliando as referências e o horizonte de conhecimento a respeito de todas as artes, paladares e cores. É uma questão de se ter um repertório a respeito do que é Humano: a diversidade, a alegria de brincar com palavras, o auto-conhecimento que são fenômenos estudados por múltiplas ciências humanas ou exatas. • A prova maior de que o gosto não é uma condenação fatal, que devemos carregar por toda vida, é que estamos diante de uma disciplina que reúne duas áreas de conhecimento: Teoria Literária e Crítica Literária que abarcam um conteúdo que fez muita gente pensar, desde os gregos até os dias atuais. Sem esquecer da crítica que aborda fatos, técnicas tanto de músicas, como filmes populares. Gosto se discute, sim, mas sem fanatismo, sem precipitação, afinal • “vá que sua opinião mude na semana seguinte”? 2 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. O QUE É LITERATURA? Por enquanto é arte. A arte da palavra e é o resultado do exercício artístico da linguagem verbal. É nisso que ela se difere das demais escritas. Platão e Aristóteles foram os pioneiros na tentativa de descrever e organizar toda essa produção humana, a que hoje damos o nome de Literatura. A descrição feita por Aristóteles – discípulo de Platão (384 a.C.–322 a.C.) foi fundamental para apontar as bases da natureza literária e seu pensamento influenciou na cultura ocidental. No tempo dos gregos, as coisas não eram como nós as conhecemos hoje: Não existia o livro impresso e as manifestações literárias se davam oralmente. As narrativas e as músicas eram declamadas por homens conhecidos como aedos ou rapsodos, cuja função era a de fazer circular oralmente – por meio de declamações públicas – essas composições entre o maior número possível de pessoas. Homero suposto autor da Ilíada e da Odisseia era um aedo cego. O registro que temos dos textos daquela época é bastante posterior ao momento em que eles foram compostos e depois de passar por séculos de tradição oral. Como nossa cultura é herança recebida dos gregos antigos, boa parte das ideias de Platão e Aristóteles ainda valem e nos fornecem as bases para responder a essa pergunta. O que é literatura? Para esboçarmos uma resposta mais profunda, dependemos de contextos históricos, referências culturais e esforço teórico. Saliento que para a análise do literário há necessidade de um instrumental teórico que vem se especializando e se ampliando com o 3 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância passar dos milênios, afinal as ciências da linguagem vêm se especializando, principalmente ao longo das últimas décadas do século XX. Se literatura é compreendida, de modo geral, como o exercício artístico da linguagem, se linguagem verbal é uma forma da comunicação, de interação com os outros e com o mundo que nos cerca e conosco mesmos. Podemos, assim, facilmente perceber que os limites do universo são insuficientes para abarcar a temática literária, pois ela engloba o real que pode ser representado, como o que é imaginado, desejado, temido e sonhado... Diante dessa amplitude, não basta um conceito de Literatura. Muito mais coerente é falar em conceitos de literatura, no plural, porque assim podemos pensar em toda a diversidade da produção artística que se utiliza da linguagem verbal, sem deixar nada de fora. Sendo assim, vamos a eles, aos conceitos de literatura. Segundo Soares Amora1, podemos pensar os conceitos de literatura em dois grandes blocos históricos, ou seja, em duas Eras – a Clássica e a Moderna. A Era Clássica vai desde a época de Platão e Aristóteles, os primeiros teóricos da literatura, até o século XVIII; a Era Moderna vai desde o Romantismo até os nossos dias. Há poucas décadas já se fala em Era Pós-Moderna. Na Era Clássica, primeiramente há uma preocupação em estabelecer um conceito relacionado à forma com que a linguagem é utilizada para se dizer que determinada composição é arte literária ou não. Em segundo lugar, os antigos falam no conteúdo quando se estabelece que a arte literária é a arte que cria, pela palavra, uma imitação da realidade.( mimesis) 1 Antôn io Augus to Soares Amora, fo i um p ione i ro , educador , pro fessor do curso de Let ras da Univers i dade de São Paulo , poeta , esc r i to r e ex -p res idente da Academia Paul is ta de Let ras . ( *1917 – 1999) 4 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.1. Alguns conceitos Para os gregos antigos, a literatura é um uso especial da linguagem com o objetivo de criar uma imitação da realidade. (ou mimese, estudada por Aristóteles). Aqui temos três aspectos que merecem destaque. • Observe que se trata de um uso da linguagem, fato que obriga o emprego de uma determinada Língua .2 • Esse uso especial da linguagem é direcionado para a criação, ou seja, a literatura não é como a História, que tem a pretensão de registrar a verdade dos fatos: a literatura cria ficção, pois não está interessada no registro da verdade imediata. (verossimilhança) • Essa criação se dá na medida em que imita a realidade – aqui temos a ideia de imitação estabelecendo que a literatura tenha como referência a imitação da realidade, e isso quer dizer que, mesmo sendo criação, a literatura precisa se referenciar na realidade, imitando-a. Na Era Moderna, ou seja, a partir dos românticos do século XVIII, a literatura passa a ser compreendida, de maneira mais ampla, como o conjunto da produção escrita. Isso se deve, principalmente, a invenção da imprensa. 1.2. Funções da literatura A partir da Era Moderna, com a invenção de Gutenberg3, a literatura passou a ter uma relação mais direta com a ideia de ficção, de criação, afastando-se um pouco da noção clássica de imitação da realidade. Isso não significa que não haja a presença do imaginário na Era Clássica, basta lembrar-nos da mitologia grego-latina que povoava as grandes epopéias. (Olimpo, Vênus, Netuno, Cupido etc) 2 A linguagem é a capacidade que os seres humanos têm para produzir, desenvolver e compreender a língua e outras manifestações, como a pintura, a música e a dança. Já a língua é um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitama comunicação. https://novaescola.org.br/conteudo/257/qual-a-diferenca-entre-lingua-e-linguagem 2/5/19 3 Em 1442, Johann Gensfleish Gutenberg (1397-1468) desenvolveu técnicas de impressão em papel. https://novaescola.org.br/conteudo/257/qual-a-diferenca-entre-lingua-e-linguagem%20%20%202/5/19 https://novaescola.org.br/conteudo/257/qual-a-diferenca-entre-lingua-e-linguagem%20%20%202/5/19 5 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O aspecto mais importante dessa concepção de literatura é o fato de que a realidade passa a ser considerada de múltiplas formas, não é mais possível falar em uma única realidade. Cada artista concebe o mundo a partir da sua subjetividade, da sua intuição e sua obra é um retrato livre dessa interioridade. Em síntese, podemos dizer que atualmente a noção de literatura está diretamente ligada à época em que essa mesma literatura foi produzida. O que não foi considerado literatura há 200 anos, hoje pode muito bem ser considerado como obra literária: não há mais a crença, como havia na concepção clássica, de que a literatura abrange obras eternas e de valor universal. Podemos então dizer que a literatura existe em relação à época em que foi produzida e também em relação ao país em que apareceu. A definição de Literatura a partir de suas funções indica tanto a função social como individual, ou seja, pública ou privada. Aristóteles falava de katharsis (catarse), ou de purgação, ou de purificação de emoções como o temor e a piedade. É uma noção difícil de determinar, mas ela diz respeito a uma experiência especial das paixões (dores, sofrimentos) ligada à arte poética. Além disso, ele colocava o prazer de aprender na origem da arte poética: instruir ou agradar, ou ainda instruir agradando, serão as duas finalidades Horácio4 dizia que a literatura tinha uma função bem nobre: deleitar ensinando-nos a ser melhores, mais sábios mais cultos. Antônio Cândido 5 retorna a Horácio ao sintetizar que é educativa a função da literatura. Na atualidade, considera-se Literatura, não somente obras consagradas, os ditos clássicos pois nosso país apresenta números vergonhosos de leitores, mesmo de textos pragmáticos. É a Educação Básica a responsável pela formação de mais leitores competentes já que as famílias e a sociedade em geral pouco contribuem para tal 4 Qu in to Horác io F laco, fo i um poeta l í r i co e sat í r i co romano, a lém de f i lósofo . É um dos maiores poetas da Roma Ant i ga. (de 65 a .C. , Roma - 8 a .C. ) 5 Anton io Candido de Mel l o e Souza fo i um soc ió logo, c r í t i co l i t e rá r io e pro fessor da USP Es tud ioso da l i te ra tura bras i le i ra e es t range i ra , é auto r de uma obra c r í t i ca ex tensa, respe i tada nas pr i nc ipa is un ive rs idades do B ras i l ( 1918 – 2017) . 6 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância competência. A escola, portanto precisa usar estratégias para formação de leitores e para tanto se vale de obras de pouca complexidade, simplificadas, resumos e de leitura facilitada. Na escola, há sempre o objetivo de avaliação, o que torna a literatura uma causa de sofrimento, fracasso, burla e algo bem distante do deleite e do prazer de se ler. É preciso começar por se seduzir leitores jovens, alargando os limites do literário, aceitando até livros de autoajuda, religiosos, literatura popular e de massas, promover eventos de aproximação dos jovens com os livros _ caso a paixão não tenha sido moldada na infância. E aí é que entra a teoria, novamente. A reflexão teórica sobre a realização da obra literária poderá nos apontar um Norte no sentido de estabelecer valores: valores estéticos, morais, valores de permanência, de ruptura, valores que possam nos autorizar a reconhecer tais obras como manifestações artísticas do humano, pela palavra. Experimente o estado de alma proposto por Gilberto Gil para você ler Literatura. O recolhimento, concentração, a solidão habitada por pensamentos ajuda a conversar conosco e com algo muito além de nós mesmos. 7 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Aproveite para vivenciar Literatura além da razão e sim por uma experiência emocional. Ouça o silêncio e aprofunde cada um dos versos ... E aproveite para chorar diante a Beleza que é a descoberta da VIDA. Chorar pelo Belo é valioso! Se eu quiser falar com Deus - Gilberto Gil https://www.youtube.com/watch?v=cw2htOGZO1Q acesso em 2/05/2019 Outra sugestão: ODE À ALEGRIA L.ETRA DE SCHILLER foi escrito em 1785 e revisado em 1803 https://www.youtube.com/watch?v=bMHKfHL32ak Maravilhoso vídeo para a primeira semana, celebre o fato de você estar estudando. Se eu quiser falar com Deus Tenho que ficar a sós Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz Tenho que encontrar a paz Tenho que folgar os nós Dos sapatos, da gravata Dos desejos, dos receios Tenho que esquecer a data Tenho que perder a conta Tenho que ter mãos vazias Ter a alma e o corpo nus Se eu quiser falar com Deus Tenho que aceitar a dor Tenho que comer o pão Que o diabo amassou Tenho que virar um cão Tenho que lamber o chão Dos palácios, dos castelos Suntuosos do meu sonho Tenho que me ver tristonho Tenho que me achar medonho E apesar de um mal tamanho Alegrar meu coração Se eu quiser falar com Deus Tenho que me aventurar Tenho que subir aos céus Sem cordas pra segurar Tenho que dizer adeus Dar as costas, caminhar Decidido, pela estrada Que ao findar vai dar em nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Do que eu pensava encontrar Letra de música pode ser um poema! https://www.youtube.com/watch?v=cw2htOGZO1Q https://www.youtube.com/watch?v=bMHKfHL32ak 8 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. TEORIA DA LITERATURA: O QUE É ISSO? Por isso, embora nada se possa considerar definitivo em matéria de excelência estética, dificilmente se poderá considerar como gratuito o efeito de permanência de obras que mantêm, mesmo com o passar dos séculos, o vigor do momento de seu aparecimento. (OSAKABE; FREDERICO, 2004,). Teoria é uma palavra de origem grega, “theoria”, que tinha o significado, nessa língua, de contemplar, olhar, especular ou examinar. Ou seja, observar sistematicamente um fenômeno natural e/ ou humano para encontrar e descrever a especificidade so objeto de estudo. Teoria científica confere o limite entre o que é ciência ou simples especulação defendida pelo senso comum6. Geralmente é pela formação universitária que adquirimos conhecimentos para irmos além das frágeis especulações e das ociosas hipóteses iniciais do senso comum. A teoria é um instrumento, uma ferramenta, serve para fazer um trabalho, serve para produzir o conhecimento de que necessitamos. Como o Homem, a Vida e a Sociedade se transformam com o tempo, constata-se que as teorias evoluem em virtude da descoberta de novos fatos, que necessariamente passam a integrar a versão evoluída. Chegamos então a perceber que Teoria da Literatura agrega várias teorias que dão forma a um conjunto de princípios fundamentais de uma arte_ a arte da palavra _ ou a opinião sintetizada de princípios que precisam ser comprovados. Teoria é uma noção geral de hipóteses sobre qualquer fenômeno não conhecido. E em nosso caso há o fenômeno literário que há milênios se expressa em diferentes línguas, empregando palavras e se valem de recursos linguísticos. Fazendo uma síntese: A Teoria Literária consiste no estudo e sistematização da Literatura como área do conhecimento, bem como os modos de análise deste campo. Para o leitor comum, a teoria literária não tem grandeutilidade, visto que as leituras que realiza são determinadas especificamente pelo gosto, influências ao acaso e na maioria 6 O Senso Comum é a soma dos saberes do cot id i ano e é formado a pa r t i r de háb i tos , c renç as , preconce i tos e t rad ições . Na f i losof i a , o termo é u t i l i zado para exp l i ca r as in terpre tações fe i tas pe los ind iv íduos à rea l idade que os cercam sem es tudos prév ios ou p rovas c ient í f i cas . É apenas um pensamento sem a força da comprovaç ão. 9 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância das vezes, decorrentes do senso comum ou da mídia. O acadêmico, por sua vez, costuma fazer uma leitura mais complexa, dedicando-se aos pormenores da crítica especializada de sua área tendo assim fundamentos comprováveis para exercer a docência de Literatura. Espera-se que o docente da Educação Básica conheça os princípios que regem a prática de ler e escrever, pois a escola precisa desenvolver o senso crítico das novas gerações e garantir-lhes a competência de Leitura e de compreensão da linguagem verbal, inclusive a literária. Mesmo sabendo que não é objetivo da Educação Básica a formação de escritores e de críticos literários, espera-se que as novas gerações se interessem por conhecer os pensamentos, sentimentos e utopias da humanidade, a literatura de seu país e experimentem o prazer estético e sobretudo se beneficiem com o legado cultural humano que perdura há milênios. Nas palavras de Victor Manuel de Aguiar e Silva: “A teoria da Literatura integra-se no grupo das chamadas ciências do espírito, caracterizadas por possuírem um objetivo, métodos e escopo7 diversos dos das chamadas ciências da natureza . Enquanto essas têm como objeto o mundo natural, a totalidade das coisas e dos seres que são simplesmente dados, quer no conhecimento sensível, quer à abstração intelectual, as ciências do espírito têm como objeto o mundo criado pelo homem no transcurso dos séculos/. As ciências do espírito esforçam-se por compreender a realidade no seu caráter individual, no seu devir espacial e temporariamente condicionado” Quem possui um bom repertório de leitura literária e interesse em se debruçar sobre os princípios da literariedade8 pode transformar-se em teórico e pensar sobre a realidade, criando teorias sobre ela. Uma teoria é fruto, ou resulta do exercício de pensar sobre a realidade, contestando as ideias já prontas e as soluções já dadas para os problemas que enfrentamos nas várias esferas da vida, precisa ser comprovada na realidade. 7 (es.co.po) 1. Alvo, ponto que se pretende atingir: Nosso escopo era a ilha a ser tomada. 2. Finalidade, objetivo; PROPÓSITO; INTUITO: O escopo da operação era acabar com os madeireiros. 3. O espaço, a abrangência da mobilidade e efetividade de algo, de um sistema, de uma atividade, de uma ideia etc. 8 Literariedade é o «conjunto de características específicas (linguísticas, semióticas, sociológicas) que permitem considerar um texto como literário». A palavra vem de «literário + -dade». [Cf. Dicionário Eletrônico Houaiss] 10 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Quando nos interessamos por pensar e criar teorias, estamos, de várias formas, combatendo preconceitos, pois passaremos a criar conceitos novos, sobre os quais teremos pensado bastante. Para o teórico Compagnon (2003, p.19), algumas distinções são necessárias. Primeiramente, quem diz teoria pressupõe uma prática, diante da qual uma teoria se coloca, ou diante da qual se elabora uma teoria. Diante disso, podemos perguntar: que prática a teoria da literatura codifica, isto é, organiza mais do que regulamenta? Não é, parece, a própria literatura ou a criação literária: a teoria da literatura não ensina a escrever romances ou poemas. Na verdade, a teoria literária estabelece os modos pelos quais os estudos literários podem se organizar. Pode-se dizer, enfim, que a teoria literária instrui os estudos literários ou os estudos da literatura. A teoria literária é construção discursiva da qual participam muitos agentes, dentre os quais se destacam os autores e os leitores. Ela se configura como uma proposta de interpretação do fenômeno literário. Assim, temos diversos movimentos teóricos importantes que buscam dar conta da produção literária. É comum dizer que a teoria literária “corre atrás” da produção literária para compreender seus mecanismos de realização do modo mais eficiente possível. Para os críticos acadêmicos, a teoria literária pode ser considerada como o ponto de partida para compreender os pormenores da área a qual se dedicam, tais como correntes de pensamento etc. Nesse aspecto, ela opera uma distinção entre o crítico e o leitor comum. Entre os conceitos básicos, destacam-se os de discurso, linguagem, espaço, estrutura, literariedade, narrador, obra literária, polissemia, tempo e verossimilhança. As principais linhas da teoria literária são: o Formalismo Russo (primeiras décadas do século passado), o Estruturalismo Tcheco (década de 30 do século passado), o Pós- Estruturalismo e o Desconstrutivismo franceses, e a Estética da Recepção alemã (década de 60 do século passado), a Crítica de Gênero (década de 70 do século passado), e os Estudos Pós-Coloniais e Culturais (a partir da década de 80 do século passado). https://www.infoescola.com/portugues/polissemia/ 11 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. O QUE É CRÍTICA LITERÁRIA Fechado, um livro é literal e geometricamente um volume, uma coisa entre outras. Quando o livro é aberto e se encontra com seu leitor, então ocorre o fato estético. Deve-se acrescentar que um mesmo livro muda em relação a um mesmo leitor, já que mudamos tanto. (BORGES, 1987). A arte não é apenas entretenimento, nem fuga da realidade como quando se adota uma postura escapista. Ela também provoca reflexão e transformação. No caso da literatura, ela favorece a aquisição de um repertório linguístico mais complexo, sem o qual não é possível haver conhecimento, uma vez que todo o conhecimento humano passa pela linguagem; ou como proferiu Wittgenstein9: “As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo”. Em todos os suportes e mídias, em todos os gêneros; sejam eles orais, escritos ou audiovisual, a linguagem é usada de forma artística, logo, é objeto necessário dos estudos literários. Assim, ao estudar a Literatura estamos no universo da linguagem verbal artística e intelectual. Isto abrange desde as formas mais ancestrais (epopeia, novela, romance, conto, crônica, ensaio, epístola, manifesto, poesia lírica, letra de música, poesia concreta, teatro, ópera...) até as novas modalidades (roteiro de cinema, teledramaturgia, cartum, charge, gibi, quadrinhos, spot de rádio, outdoor, slogan, peças publicitárias para a TV, propaganda em geral, stand up comedy, blog, fanfic etc). Todos os gêneros textuais e todos os suportes de comunicação e expressão são merecedores de estudo literário e assim devem ser objeto de reflexão do profissional graduado em Letras, sobretudo aqueles com especialização em Literatura. Por serem muito abrangentes os limites do fenômeno literário, já existe desde os meados do século XX, cursos de especialização, de mestrado e doutorado em Teoria e Literatura nas universidades do país. Isso favorece a capacitação de docentes na área literária com aprofundamento e atualização dos estudos. 9 Ludwig Joseph Johann Wi t tgen s te in fo i um f i l ósofo aus t r íaco, natu ra l i zado b r i t ân ico. Fo i um dos pr i nc ipa is autores da v i rada l inguís t i ca na f i l osof ia do sécu lo XX. Suas p r inc ipa is cont r ibu ições foram fe i t as nos campos da lóg ica, f i l osof iada l inguagem, f i losof i a da matemát ica , e f i lo sof i a da mente. ( 1899 – 1951) Wik ipéd ia https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein 12 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Esses cursos favorecem o surgimento do profissional da área: o crítico literário, ou seja, um crítico de arte especializado na arte da linguagem. Ele analisa o argumento (enredo), o contexto, o discurso, as ideologias, as ferramentas retóricas utilizadas, o efeito proposto, o efeito obtido, a importância política, a forma, o conteúdo; o valor sociocultural, filosófico, pedagógico, histórico, além do valor estético. Veja a abrangência de conhecimentos envolvidos e como eles são adquiridos ao longo do tempo, por isso o crítico literário se firma com o passar do tempo. E o que se faz enquanto os conhecimentos ainda não são consolidados. Ele se guia com a leitura de críticas de vários críticos já consagrados. O crítico literário é, portanto, um filósofo da arte verbal. No estudo de Literatura e Teoria da Literatura, o graduando em Letras deve obter as ferramentas para compreender a arte literária, sua importância e função, tanto nos suportes tradicionais (livro, teatro, folhetim, música...) quanto nos mais atuais (rádio, cinema, revista, TV, internet). O crítico literário é um conhecedor da História e da tradição, um pesquisador do folclore, um estudioso da cultura que define a identidade nacional de um povo. Mas ele também é um pensador, um formador de opinião, um crítico das ideologias, consequentemente, sua função essencial é pesquisar, produzir e inovar. Sem a arte não há espírito humano. A arte é a expressão máxima de técnica aliada a sentimento, racionalidade aliada à experiência, idealismo aliado a empirismo, tradição aliada à ruptura. A arte define e revela quem somos, que mitos cultivamos, em que ideais estéticos nos espelhamos, quais sentimentos escondemos e quais repudiamos. Como disse Lacan: “o artista precede o psicanalista”. Logo, o crítico literário é também um leitor e intérprete das metáforas e alegorias da vida; um contemplador dos mitos, lendas, símbolos, arquétipos e investigador de seus significados; um observador atento da sociedade e um estudante da psique humana. A crítica literária precisa da teoria que apresenta recursos conceituais como sustentação dos critérios da arte. Vimos que a teoria se configura como uma proposta de interpretação da obra literária. A crítica, por sua vez, dirá se essa interpretação é válida, ou seja, se o que a obra diz e o modo como diz são válidos como expressão artística. Todos 13 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância nós já nos perguntamos um dia: Machado de Assis seria um autor tão importante na história da literatura? Quem disse que ele é importante? De certa forma, foi a Crítica Literária. É claro que não disse sozinha: outras instituições importantes participaram desse julgamento – a escola de Ensino Fundamental e Médio e as Universidades, a mídia. A crítica literária divide, com a escola e com a universidade, a função de julgar a produção literária de seu tempo e, ao realizar esse julgamento, ela estabelece, simultaneamente, o que cada época julga importante em termos artísticos e culturais. O papel do crítico literário, segundo Machado de Assis (1999, p. 40), no seu famoso ensaio “O ideal do crítico”, a ciência e a consciência são as duas condições principais para se exercer a crítica. Ainda mais: a crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse do ódio, quer o da adulação ou da simpatia, procure reproduzir unicamente os juízos da sua consciência. Não lhe é dado defender nem os seus interesses pessoais, nem os alheios, mas somente a sua convicção, e a sua convicção deve formar-se tão pura e tão alta que não sofra a ação das circunstâncias externas. [...] Com tais princípios, eu compreendo que é difícil viver; mas a crítica não é uma profissão de rosas, e se o é, é-o somente no que respeita à satisfação íntima de dizer a verdade. (MACHADO DE ASSIS, p. 40-41) Na perspectiva de Machado de Assis, o crítico literário é uma espécie de missionário que dirá a verdade, nada mais do que a verdade, sobre determinada obra literária. O papel do crítico é portar-se como um juiz, ou seja, ele deve julgar o valor da obra literária. Para Antonio Candido, outro crítico literário importante, o papel do crítico pode ser compreendido da seguinte forma: toda crítica viva – isto é, que empenha a personalidade do crítico e intervém na sensibilidade do leitor – parte de uma impressão para chegar a um juízo. [...] Entre impressão e juízo, o trabalho paciente da elaboração, como uma espécie de moinho, tritura a impressão, subdividindo, filiando, analisando, comparando, a fim de que o arbítrio se reduza em benefício da objetividade, e o juízo resulte aceitável pelos leitores. (CANDIDO, 2000, p. 31) 14 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Além disso, Candido também considera que o crítico deve ser um “árbitro objetivo” capaz de julgar o valor da obra artística por meio de dois mecanismos básicos – a impressão e o juízo. Enquanto Machado de Assis fala em ciência, Antônio Candido fala em impressão, mas precisamos entender que a impressão adequada sobre determinada obra necessita do conhecimento – ou seja, da ciência. Temos então que o papel do crítico literário é julgar – por meio dos conhecimentos que a teoria literária estabelece – o valor da obra de literatura. 15 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. O ENSINO DA TEORIA DA LITERATURA Após ter discutido na semana passada os conceitos fundamentais de nossa disciplina (Literatura, teoria, crítica) _ sem, porém, esgotá-los _ venho, nessa aula, esclarecer um aspecto didático sobre o ensino da Teoria da Literatura, que você licenciado em Letras, empregará na docência da Educação Básica. Empregarei aqui, nas duas últimas semanas, as orientações do MEC de 2006 para do Ensino Médio.10 Em sua introdução ao livro Formação da Literatura Brasileira, Antônio Candido11 indica que, para operar como um sistema, a literatura necessita “a existência de um conjunto de produtores literários” ou seja um ou vários autores, “um conjunto de receptores” ou seja leitores e, por fim, “um mecanismo transmissor, que liga outros”-. Melhor explicando; a obra ou obras (2009, p. 25). Aqui está a tríade autor, leitor e texto, que é o objeto de estudo do professor de literatura em sala de aula. No entanto, se lembrarmos que cada um dos elementos que compõem a tríade, (autor, leitor e texto) eles não são universais e atemporais, mas sim são entendidos conforme sua época e em determinada cultura. Em outras palavras, a concepção de leitor como agente da tríade determina o ponto de vista histórico que é “um dos modos legítimos de estudar literatura”. Esse leitor histórico sempre é condicionado por um dado contexto. Esta concepção faz surgir uma séria indagação: “ou a literatura está viva no tempo presente, ou simplesmente não está viva”. Ou seja: a obra literária só teria valor estético na época em que foi produzida (tempo histórico), ou seria algo que está situado para além da história, aquilo que vive apesar do tempo? Neste último caso, já não caberia falar de um leitor contextualizado pelo tempo, mas sim de um leitor proficiente,12 conhecedor das ferramentas interpretativas capazes de desnudar a verdadeira essência atemporal do fato literário. 10 BRASIL. Or ientações cur r i cu lares para o Ens ino Médio : l inguagens , cód igos e suas tecno log ias . Bras í l ia : M in is tér i o da Educação, 2006. 11 Antôn io Candido deMel lo e Souza fo i um soc ió logo, c r í t i co l i t e rá r io e pro fesso r un ive rs i tá r io b ras i l e i ro . Es tud ioso da l i te ra tu ra bras i le i ra e es t range i ra , é auto r de uma ob ra c r í t i ca ex tensa, respe i t ada nas pr i nc ipa is un ivers i dades do Bras i l . (1918 – 2017) . 12 1 . D iz -se da pessoa ex t remamente capaz e e f i c iente ; COMPETENTE; PERITO 16 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Isso explica artistas poetas e escritores ignorados por seus contemporâneos e pela crítica de seu tempo, mas que se tornaram imortais com o passar do tempo. Exemplo: Fernando Pessoa que foi celebrado pela crítica brasileira inicialmente, um século depois de sua morte. São eles os escritores criadores que viveram a frente de seu tempo. Van Gogh é um outro exemplo. Quanto à polêmica entre a necessidade da contextualização histórica ou não, é prudente avisar que não há uma única verdade a ser seguida quanto aos estudos literários. Além do fato de que para a formação de um leitor proficiente, há um processo de longa duração, que requer um constante investimento no tempo. Ele pode se dar ao longo de toda uma vida e é um processo inacabado, pois o leitor proficiente jamais aposenta a leitura. No entanto, é a presença dos conhecimentos históricos _ para críticos historicistas_ que sustenta a elaboração da crítica literária e explica os achados estéticos de uma determinada época. Já a crítica feita do presente, precisa da História para alimentar o conhecimento prévio que é exigido ao leitor proficiente, para que o ato de leitura se concretize plenamente. Salienta-se que não só a História deve fazer parte dos conhecimentos prévios do leitor, mas a Geografia, História da Literatura, Cosmogonias, Filosofias, Mitos, Sociologia, Psicologia, Música etc. etc. ... Além do domínio do idioma. ✓ Sinfronismo e a ânsia da imortalidade. Então a literatura situa-se numa espécie de atemporalidade radical, ou melhor, num tempo eternamente presente. André Cechinel Literatura é sinfronismo. Ele é a essência literária. Basicamente, sinfronismo é a coincidência espiritual, de estilo, de módulo vital, entre o homem de uma época e os de todas as épocas, dos próximos aos dispersos no tempo e no espaço. Nesse caso a obra literária é vista independente do tempo e do espaço e é confrontada somente com a sensibilidade do leitor. Afinal, música boa jamais envelhece... Há aqui o ponto de vista do esteticismo. Literatura é ânsia de imortalidade, pois ou ela está viva no tempo presente, ou simplesmente não está viva. Fato que enfatiza, o objeto literário não como resultado de um tempo histórico, mas como aquilo que está situado para além da história, aquilo que vive apesar do tempo. 17 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ✓ Intenção do autor ou diálogo com autores anteriores A ferramenta básica do crítico literário é, portanto, a erudição, conquistada com suor e totalmente distinta da chamada inspiração romântica André Cechinel No século XIX, no Romantismo, a teoria de leitura crítica da literatura valorizou o aprofundamento do estudo no autor individualizado e o julgamento estético da obra era a rigor feito a partir do pressuposto da intencionalidade do autor e assim fortalece-se o biografismo. Mas contra essa “verdade’ de que tudo se explicava pela vontade do escritor (inspiração), surge uma outra hipótese dos teóricos do new criticism que apostavam em ferramentas analíticas capazes de libertar a voz autoral do texto; seu procedimento fundamental consiste na chamada leitura de pequenas partes muito minúsculas e de caráter intratextual, 13capazes de desvelar os menores paradoxos e ambiguidades poéticas. Caberia ao leitor proficiente fazer a busca por ambiguidades textuais identificadas apenas por um leitor instrumentalizado. O estudante de Teoria de Literatura e leitor das Literaturas em Língua Portuguesa poderá se abalar com a indicação da proficiência em leitura logo ao início de um curso. No entanto, acredite, só com os estudos que se chega a um grau satisfatório de domínio crítico. Ele será suficiente para dar ao estudante autonomia para procurar, encontrar, justificar a importância estética de um texto. A prática, o interesse e a troca de ideias sempre serão essenciais para construção de uma avaliação de crítica literária, para estabelecer influências e traçar paralelos entre leitores, obras e autores. ✓ O ensino da literatura e a vivência do estranhamento. Na obra poética a novidade é obrigatória. Wladimir Maiakóvski (Como fazer versos, 1926) A partir das Orientações Curriculares para o Ensino Médio, documento oficial que busca “contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente” nota-se a preocupação dos autores em privilegiar a necessidade de um contato efetivo com o texto e reduzir a excessiva à figura do autor e ao contexto de produção das obras. 13 Um mesmo escritor pode reler-se, utilizando-se de textos que ele mesmo escreveu, o que resulta numa espécie de intratextualidade. Ocorre quando o autor é capaz de criar elos de aproximação entre todos os motivos, temas ou símbolos de um texto de retomar a unidade em sua obra. 18 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O ensino da literatura, para cumprir seu objetivo, portanto, “não deve sobrecarregar o aluno com informações sobre épocas, estilos, características de escolas literárias etc. [...] Trata- se, prioritariamente, de formar o leitor literário” (BRASIL, 2006, p. 54). A formação do leitor literário passa - não pelo conhecimento dos fatos que “condicionam” a obra -, mas sim pela “sensação de estranhamento que a elaboração peculiar do texto literário, pelo uso incomum de linguagem, ” (BRASIL, 2006, p. 55). O termo “estranhamento”, cabe assinalar, constitui uma espécie de constante nos textos dos formalistas russos, que não cansavam de insistir na singularidade da linguagem literária. Nesse sentido, o texto e o leitor assumem um papel preponderante em relação ao biografismo, e assim, aquilo que antes era tomado como o ponto de partida inevitável para qualquer estudo, agora se situa num segundo plano. Essa mudança de direcionamento, entretanto, pode chegar à supressão do contexto histórico, isto é, o desaparecimento do contexto de produção do texto literário. Ora, o principal vínculo da obra com o momento histórico de sua publicação sempre fora, até então, o espaço autoral; com a “eliminação” do autor e com o peso atribuído à “gramática do texto” (os instrumentos que o leitor deveria possuir para ler com proficiência), o contexto passa a ocupar, em determinados momentos, uma zona marginal dos estudos literários. Criou-se o impasse: de que modo trabalhar o contexto histórico em sala de aula sem comprometer a primazia do objeto literário e sem reintroduzir a figura autoral como ponto de chegada interpretativo? Ou, paralelamente, como adentrar a realização final do escritor sem ignorar os fatores que, até certo ponto, condicionam historicamente a sua atividade criativa? Para compreender melhor a dimensão do impasse, torna-se necessário atravessar, neste instante, o segundo ponto que movimenta esta investigação. Quem é o leitor? Como se dá a leitura (A RECEPÇÂO) do texto pelo leitor? Enquanto espera a próxima explicação, pense lentamente sobre esse desafio. Em arte não há pressa, por isso ela vem sofrendo desvalorização no presente milênio da velocidade e da ansiedade 19 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ORIENTAÇÔES CURRICULARES MEC 1- http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf acesso em 09/09/2019 2- https://blogjardimdababilonia.wordpress.com/2013/09/22/raul-castagnino-pergunta-o-que-e-literatura-e-alabama-shakes/Raul Castagnino pergunta: O que é literatura? E Alabama Shakes. 20 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. APRENDER E ENSINAR LITERATURA NO ENSINO MÉDIO. No currículo de Licenciatura em Letras há obrigatoriedade do estudo de Literaturas e Teoria e Crítica Literária no intuito de oferecer oportunidade de alimentar o gosto pela leitura e apresentar um suporte teórico para licenciar profissionais como educadores capacitados O segundo argumento é a inclusão do ensino de Literatura no Ensino Médio tendo como embasamento uma visão pedagógica que objetiva a educação da sensibilidade; como meio de atingir um conhecimento tão importante quanto o científico – embora se faça por outros caminhos. O ensino de Literatura (e das outras artes) visa, sobretudo, ao cumprimento do inciso III dos objetivos estabelecidos para o ensino médio ou seja: A LDBEN nº 9.394/96 como se pode ver nos objetivos a serem alcançados pelo ensino médio (Art. 35) a clareza com o compromisso da formação integral. Vejamos: Objetivos do Ensino médio: “I - Consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estudos; II - Preparação básica para o trabalho e para a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - Aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. (LDBEN, 1996).” Hoje assistimos a valorização das máximas (o mercado, a eficiência técnica e o foco no individualismo) sobre as quais a modernidade se sustenta, configurando assim, uma “modernidade elevada à potência superlativa”, caracterizada pela “cultura do mais rápido e sempre mais”. Em decorrência dessa visão de mundo, faz-se necessária a pergunta: por que ainda a Literatura está presente no currículo do ensino médio? pois seu estudo não colabora com nenhum dos valores do mundo hiperveloz. 21 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para não nos deixar levar pelo senso comum14, é bom refletir sobre Literatura a partir da contribuição do saudoso professor Antonio Cândido, um dos melhores pensadores brasileiros do Século XX. _Para que serve a Literatura? _ Como fator indispensável de humanização. Entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. (CÂNDIDO, 1995). É evidente que para que se atinja tais objetivos, não se deve acumular a disciplina com informações sobre épocas, estilos, características de escolas literárias etc., como até hoje tem ocorrido. Há três décadas, o MEC, as pesquisas acadêmicas, a formação de professores e as publicações da área orientam para o caráter secundário de tais conteúdos. Afinal, “Aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” ( MEC, PCN 2018) demonstram com clareza que se trata, prioritariamente, de formar o leitor literário, melhor ainda, de “letrar” literariamente o aluno, fazendo-o apropriar-se daquilo a que tem direito. Mas o que vem a ser letramento literário? O termo “letramento” foi tomado da Linguística, mas já é de uso bastante corrente entre os que se ocupam da educação. Principalmente entre nossos colegas alfabetizadores. Magda Soares nos ajuda a entender o termo que faz a distinção entre alfabetizado e letrado que são conceitos de amplitude distinta a ponto de permitir nas provas internacionais de avaliação identificar analfabetos funcionais presentes em todas séries do Ensino Básico e até no Universitário. Vejamos o que nos ajuda a professora e pesquisadora mineira. 14 A melho r fo rma de ev i ta rmos a sedução do senso c omum (d izer o que todos d izem sem saber o porquê) é consu l ta r fontes c ient í f i cas com va lor notó r io e que t enham s ido c i tadas e abonadas por inúmeras pub l icações . 22 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia: não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais da escrita: não leem livros, jornais, revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem preencher um formulário... (SOARES, 2004,). (grifos nossos) 15 Por extensão, podemos pensar em letramento literário como estado ou condição de quem não apenas é capaz de ler poesia ou drama, mas dele se apropria efetivamente por meio da experiência estética, fruindo-o. Contrariamente ao que ocorreu com a alfabetização, que se vem ampliando cada vez mais, a leitura de Literatura tem-se tornado cada vez mais rarefeita no âmbito escolar, como bem observou Regina Zilberman (2003, p. 258), seja porque diluída em meio aos vários tipos de discurso ou de textos, seja porque tem sido substituída por resumos, compilações, etc. Por isso, faz-se necessário e urgente o letramento literário: empreender esforços no sentido de dotar o educando da capacidade de se apropriar da literatura, tendo dela a experiência literária. Estamos entendendo por experiência literária o contato efetivo com o texto. Só assim será possível experimentar a sensação de estranhamento que a elaboração peculiar do texto literário, que pelo uso incomum da linguagem, consegue produzir no leitor, o prazer estético, o qual fica estimulado a contribuir com sua própria visão de mundo para a fruição estética. 16 Por ser o prazer estético compreendido aqui como conhecimento, participação, fruição, um tipo de conhecimento diferente do científico, ele objetivamente não pode ser medido. Mas abrimos um espaço organizado e para dialogarmos com ele e tratarmos dele, criou-se uma experiência construída a partir da troca de significados, da ampliação de 15 letramento: estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita” (SOARES, 2004) 16 Ação de aprov e i ta r ou us u f ru i r de a lguma opor t un idade. Ut i l i zação p raze rosa de a lgo; gozo. 23 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância horizontes, com capacidade até de tocar nossa sensibilidade e nos causar horror, tristeza e medo Por ser a literatura, arte em palavras, nem tudo que é escrito pode ser considerado literatura. Essa questão, entretanto, não é tão simples assim, visto que a linha que divide os campos do literário e do não literário é bastante tênue, confundindo-se muitas vezes. Faça a comparação entre os dois textos: A) Lição sobre a água de Antônio Gedeão Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor. Reduzida a vapor, sob tensão e a alta temperatura, move os êmbolos das máquinas que, porisso, se denominam máquinas de vapor. É um bom dissolvente. Embora com exceções, mas de um modo geral, dissolve tudo bem, bases e sais. Congela a zero grau centesimais e ferve a 100, quando à pressão normal. Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão, sob um luar gomoso e branco de camélia, apareceu a boiar o cadáver de Ofélia com um nenúfar na mão. 24 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância B- Água (fórmula: H2O) é uma substância química cujas moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. É abundante no Universo, inclusive na Terra, onde cobre grande parte de sua superfície e é o maior constituinte dos fluidos dos seres vivos. As temperaturas do planeta permitem a ocorrência da água em seus três estados físicos principais. A água líquida, que em pequenas quantidades parece incolor, mas manifesta sua coloração azulada em grandes volumes, constitui os oceanos, rios e lagos que cobrem quase três quartos da superfície do planeta. Nas regiões polares, concentram-se as massas de gelo e vapor constitui parte da atmosfera terrestre. Mais especificamente, a água líquida tem duas fases líquida com grandes diferenças de estrutura e densidade.[1] A água possui uma série de características peculiares, como sua dilatação anômala, o alto calor específico e a capacidade de dissolver um grande número de substâncias. De fato, estas peculiaridades foram favoráveis para o surgimento da vida nos oceanos primitivos da Terra, bem como propiciaram sua evolução. Atualmente, todos os seres vivos existentes precisam da água para sua sobrevivência. Embora os oceanos cubram a maior parte da superfície terrestre, sua água é inadequada para o consumo humano por conta de sua salinidade. Somente uma pequena fração disponível sobre a superfície dos continentes que contém poucos sais dissolvidos, a água doce, está disponível para consumo direto. Wikipédia 25 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ATENÇÃO! A aula não acabou, oriento para que faça um exercício intelectual de vivenciar o conceito de estranhamento. • O que você não esperava encontrar no poema de Antônio Gedeão? Uma imagem apenas. • Pesquise para descobrir quem é. E de onde ela veio. (GOOGLE) • Compare a cena lembrada com os dozeversos anteriores. Qual é a sua hipótese para a mistura de temas? Para você vivenciar o conceito de literariedade, procure as diferenças de linguagem entre o poema e o texto da Wikipédia. Pense sobre isso várias vezes e constate que seus achados irão se ampliando. RESPOSTA. Só escureça as letras, para conferir sua resposta: (Ofélia é personagem da tragédia de Shakespeare, Hamlet. Ela se suicida, jogando- se num rio ao e desesperar com a loucura do amado Hamlet.) INTERTEXTUALIDADE. 26 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. DE ONDE VEM A CRIAÇÃO? O Poder da Criação de Paulo César Pinheiro A um Poeta - Olavo Bilac Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma de disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica, mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. Vamos começar esta aula de uma forma diferente. Deliberadamente, espero provocar estranhamento e motivar você para uma reflexão polêmica. Já aviso: não há uma Não, ninguém faz samba só porque prefere Força nenhuma no mundo interfere Sobre o poder da criação Não, não precisa se estar nem feliz nem aflito Nem se refugiar em lugar mais bonito Em busca da inspiração Não, ela é uma luz que chega de repente Com a rapidez de uma estrela cadente Que acende a mente e o coração É faz pensar que existe uma força maior que nos guia Que está no ar Bem no meio da noite ou no claro do dia Chega a nos angustiar E o poeta se deixa levar por essa magia E o verso vem vindo e vem vindo uma melodia E o povo começa a cantar, lá laia laiá Lá lá laía laia https://www.cifraclub.com.br/paulo-cesar-pinheiro/ 27 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância resposta certa. Acesse o endereço abaixo e ouça um time de sambistas brasileiros apresentando o Samba “O Poder da Criação” de Paulo César Pinheiro. Esse samba vale tanto quanto uma aula de literatura. Dona Ivone Lara, Salve o Samba! https://www.youtube.com/watch?v=tiAa8JsI37Y acesso em 02 de junho de 2019 Houve durante séculos, no mundo ocidental, diversas tentativas de estabelecimento das marcas da literariedade de um texto. O que torna o texto, arte das palavras? Houve o tempo em que a arte da palavra era explicada pela presença valorizada do autor/ poeta. Melhor dizendo, a arte nascia de uma determinada intenção do autor ou dos sentimentos do autor. Em um aspecto mais amplo, originava-se da relação da obra com a sociedade a partir da cosmovisão de uma cultura, sobre o poeta. Mais recentemente, o mistério da criação deslocou-se do autor e da obra, para o terceiro elemento da tríade: leitor (visto esse como coprodutor do texto) e para a intertextualidade17, colocando-se em questão a autonomia e a especificidade da literatura. Essa mudança de ponto de vista determinou o deslocamento de foco da metodologia de ensino da literatura, criando posições diversas: de um lado, o professor que só trabalha com autores indiscutivelmente canônicos, como Machado de Assis, por exemplo, utilizando- se de textos críticos também consagrados. Neste caso, o professor pode ser considerado autoritário, conservador, que aprendeu assim e assim “passa” para o aluno, “pois é isso que cai nos vestibulares”. De outro lado, há o professor que lança mão de textos que apresentem literariedade e provoquem estranhamento. Ou seja, desde poemas como os de Fernando Pessoa como textos típicos da cultura popular, como da cultura de massa. É caso do professor que se considera libertário (por desconstruir o cânone) e democrático (por deselitizar o produto cultural). É bom lembrar que o Prêmio Nobel de Literatura de 2016 foi entregue ao compositor e cantor Bob Dylan 17 Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na criação de um novo texto. Os textos já existentes e reconhecidos são chamados de textos fontes https://www.cifraclub.com.br/paulo-cesar-pinheiro/ https://www.youtube.com/watch?v=tiAa8JsI37Y 28 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Alerto que não existem respostas prontas para se fazer uma opção “ acertada” mas o recomendável é discutir no Conselho de Escola, com o coletivo escolar a abordagem didática a ser oferecida para que faça, desde a motivação para que jovens leiam, até promover o desempenho desejado de um leitor proficiente de literatura e que será submetido a provas variadas para continuidade de estudos e/ ou busca de profissão. Portanto, as duas opções devem ser avaliadas para que se evite subestimar alunos desprotegidos culturalmente e vítimas de preconceito, por achar que eles não entenderiam os clássicos, excluindo da literatura clássica os alunos economicamente fragilizados “que não gostam de ler literatura”. E nem retirando da avaliação literária produções de cultura de massas, por serem valorizadas pelo marketing nem sempre criterioso e serem mantidas como produto do mercado. Essa discussão é muitoapropriada para as reuniões de Avaliação e Planejamento, desde que subsidiadas por leituras prévias de documento oficiais PCN e Diretrizes do MEC e outras publicações e revistas dedicadas ao tema. Não basta discutir a partir apenas do senso comum ou de experiências do curso de ensino médio de décadas atrás, em que eram diferentes os critérios de “boa leitura”. Apenas a atualização das obras literárias não basta, precisa haver atualização teórica e metodológica. Convido você a ouvir de novo o samba e reler o soneto de Bilac, o primeiro de século XXI e o outro do século XIX- XX. A canção vinda da cultura popular e o soneto dos meios culturais acadêmicos/ políticos do século XX. Um é da estética tradicional do samba e outro da estética parnasiana. Uma metodologia de estudos literários é a Literatura Comparada que destaca temas em comum ou opostos, tipos de linguagem, de discursos e recursos estilísticos. Paulo Cesar Pinheiro afirma que a criação poética não é escolha pessoal, e nem consequência de algo exterior que interfira nesse fenômeno. Não é resultado, nem mesmo das emoções e nem da busca isolada da inspiração. Então, onde ela nasce? Nos dez versos seguintes ele vai ensaiando explicações com imagens belas, rápidas e fugazes pois nenhuma delas é o bastante para explicar, mas conseguem tocar a razão e a emoção. A explicação se amplia e chega à dimensão imaterial: força maior que nos guia Que está no ar. É a força misteriosa presente em todos os fenômenos epifânicos e em todas cosmogonias , que procuram explicar o inexplicável e que por milênios, angustiam a humanidade para descobrir como foi a criação do Universo, da Terra, da Natureza , do 29 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Humano, da Cultura e da Arte. E chegamos ao fim à descoberta de Paulo Cesar: o samba, a poesia, criação chegam ao ser humano como uma dádiva (E o verso vem vindo e vem vindo uma melodia e o povo começa a cantar) e se expandem para todas as criaturas que se beneficiam da beleza da criação. Repare no décimo quinto verso 5 fonemas V (fonema contínuo, velado como sopro e metáfora do sopro divino para que o surdo passasse a escutar) O sopro da Criação. Mesmo assim, permanece o mistério. Mesmo neste milênio de tantas certezas e verdades tecno-científicas que levam o embate entre grupos e a violência em nome de uma verdade, a arte consegue manter preservado um espaço para a descoberta, para o devir.18 Ainda não temos respostas, por isso é que vale a pensa continuar procurando Já no soneto de Bilac todo o fazer poético é produto do trabalho do poeta que se isolada do mundo e com esforço de concentração opera um trabalho que exige esforço físico, semelhante a de um escultor, para que surja a OBRA, como expressão de valores morais como a Beleza e a Verdade. Do resultado desse ofício surge a Arte Pura que reúne “força e a graça na simplicidade”. Portanto encontramos uma explicação diferente tanto da origem da produção artística como para a destinação da obra. Para Paulo, o samba alimenta, faz o povo cantar e sambar, multiplicando a alegria entre todos. A arte chega a todos e os beneficia. Para Bilac a perfeição das formas artísticas inspira a presença de valores morais para um jovem país nascido sob o manto da filosofia Positivista. A BELEZA e a VERDADE ou em outras palavras: o BOM e o BELO precisam ser difundidos pela arte. 18 [F i losof ia ] Processo de mudanças e fe t i vas pe las qua is todo ser passa. Mov imento pe rmanente que a tua como regra, sendo capaz de c r ia r , t rans formar e modi f i car tudo o que ex is te ; es sa própr i a mudança. 30 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. A FORMAÇÃO DO LEITOR PROFICIENTE A leitura crítica de um texto passa pelo reconhecimento da literariedade, estranhamento ou fruição. Os dois primeiros conceitos estão relacionados com a natureza da obra. Já a fruição, ela dirige o foco para o leitor, o público. Trataremos aqui de nos aproximar cada vez mais desses conceitos que não são excludentes, mas que se somam a fim de subsidiar a leitura crítica de um texto de arte, clássico, erudito ou não. Há diferentes formas de fruição da arte segundo as classes sociais e as diferentes culturas, na medida em que para uma comunidade cultural, a possibilidade de conhecer e aproveitar a leitura de Machado de Assis ou Mário de Andrade, pode ficar prejudicada por faltar conhecimento prévio para tanto. Para ele, são familiares a literatura de massas, o folclore, a sabedoria espontânea, a canção popular, o cordel, o provérbio, as rezas. Estas modalidades são importantes e nobres, mas é grave considerá-las como suficientes para a grande maioria que, devido à limitação social, vive excluída do mundo letrado. Não se trata de impor a erudição, como literatura clássica, romântica ou realista como paradigmas únicos de arte literária, mas sim de apresentar e oferecer aos jovens, até mesmo encorajá-los, para que usufruam do direito de expandir os horizontes cognitivos sobre a arte das palavras. Afinal há um mundo de inteligência, cultura e sensibilidade “humanas” que é muito mais amplo e permanente do que o mundo da cultura de massas, tão consumível com paradigmas da sociedade de consumo e bem adequado à sociedade líquida de que fala Umberto Eco 19 19 Pape Satàn Aleppe-Crônicas de Uma Sociedade Líquida O ú l t imo l i v ro esc r i to por Umber to Eco. Cr ises ideo lóg icas , econômicas e po l í t i cas , ind iv idua l i smo desenf reado e uma re lação s imbió t i ca com nossos ce lu la res são a lguns dos e lementos que compõem o ambiente em que v ivemos : o de uma soc iedade l íqu ida, onde n ada pa rece fazer sent ido ou te r sequer a lgum s ign i f i cado. Nes te que é seu de r rade i ro l i v ro , a f im de t orna r mais fác i l a compreensão de nossa soc iedade desnor teada. . 31 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sempre haverá dúvidas nos julgamentos de um texto em casos limítrofes entre ser arte ou não. Mas é possível discernir um texto literário de um exclusivamente de consumo, pois nestes é possível identificar clichês, estereótipos, o senso comum e ausência total de algo novo, tanto na linguagem, na forma ou nas ideias. Resumindo: nem os critérios da História da Literatura, os Estilos de Época Literária nem o gosto particular do leitor sustentam o critério de um texto ser ou não literatura, pois há necessidade de se ter em mente que _ mesmo sendo arte, a fruição da leitura requer certa proficiência que só advém com leitura e estudo. Daí a importância da crítica literária como norteadora dos leitores. Desfrute (fruição): trata-se do aproveitamento satisfatório e prazeroso de obras literárias, musicais ou artísticas, de modo geral bens culturais construídos pelas diferentes linguagens, depreendendo delas seu valor estético. Apreender a representação simbólica das experiências humanas resulta da fruição dos bens culturais podem propiciar aos alunos momentos voluntários para que leiam coletivamente uma obra literária, assistam a um filme, leiam poemas de sua autoria – de preferência fora do ambiente de sala de aula: no pátio, na sala de vídeo, na biblioteca, no parque (PCN p. 67). Somente o deleite, não basta para o letramento literário, pois dessa forma, o prazer estético proporcionado pela fruição pode ser confundido com divertimento, com atividade lúdica simplesmente, talvez por isso se aconselha tal desfrute animado entre jovens seja algo reservado para fora da sala de aula Caso contrário, abre-se espaço para a falsa hipótese de que o texto literário é apenas aquele como leitura facilmente deglutível. Não podemos confundir prazer estético com palatabilidade.Também não se quer, com isso, afirmar que os textos que proporcionam prazer estético sejam obrigatoriamente densos, difíceis de serem compreendidos, maçantes. É bem verdade que é difícil conceituar o prazer estético, até porque o conceito tem uma história que vem da Antiguidade. Aristóteles, por exemplo, analisou a sensação de deleite provocado pela visão de um objeto belo (e, para ele, o belo advinha da imitação da natureza). Ou seja das mimeses.20 O filósofo reconhece no prazer estético a dupla natureza: uma proveniente dos sentidos (prazer diante da técnica perfeita de imitação) e outra, intelectual (prazer pelo reconhecimento da imagem original no imitado). 20 M imese, mímes is ou mimes is , é um termo c r í t i co e f i losóf ico que abarca uma v ar i edade de s ign i f i cados , inc lu indo a im i tação, representação, mímica, o a to de se assemelhar , o a t o de expressão e a apresentação do eu. 32 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Na poética de Aristóteles, há ainda o conceito de catarse ligado ao prazer estético. Ou seja: o prazer ante a tragédia pode surgir com a identificação do receptor ao que foi representado e ele deixar emergir suas próprias paixões 21 e se entregar a uma descarga emocional prazerosa e salutar. Com o passar dos tempos, foram várias as considerações em torno do prazer advindo da fruição de uma obra de arte. Para citar um filósofo mais recente e polêmico, lembremos Adorno22, para quem a sensação de prazer diante de uma obra, na atualidade, já deporia contra seu caráter verdadeiramente artístico, provando apenas sua palatabilidade, o que em última instância quer dizer apropriada ao consumo. Portanto para Adorno a fruição seria a negação da arte. Dada a dificuldade, mas também a necessidade, de utilizarmos o termo, esclarece- se que a fruição de um texto literário diz respeito à apropriação que dele faz o leitor, concomitante à participação do mesmo leitor na construção dos significados desse mesmo texto. Quanto mais profundamente o receptor se apropriar do texto e a ele se entregar, mais rica será a experiência estética, isto é, quanto mais letrado literariamente o leitor, mais crítico, autônomo e humanizado será. Mas esta informação serve para apontar o futuro a ser planejado para aqueles que querem atingir o grau elevado de proficiência em leitura autônoma e crítica de uma obra de arte. É importante oferecer esta opção que vai requerer uma atitude de leitor contumaz, ao longo da própria vida. Mas ao término da Educação Básica, quando os alunos se preparam para as provas seletivas com conteúdos tão variados, o professor de Literatura 21 Pa ixão - Emoção ou sent imento mui to for te (amor , ód io , dese jo e tc . ) , capaz de a l te ra r o compor t amento, o rac ioc ín io , a luc idez : De ixa r -se l evar pe las pa ixões . O que causa padec imento. 22 Theodor W. Adorno ( 1903 – 1969) foi filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. Adorno valoriza a linguagem artística, a qual consegue expressar as irracionalidades, contradições e estranhamentos dos sujeitos, sem violentá-las por meio de conceitos. Ao erigir os seus próprios significados, cada obra de arte cria o seu mundo interno (ser-para-si), sem necessidade de se espelhar em objetos externos e incorrer em violência cognitiva https://pt.wikipedia.org/wiki/1903 https://pt.wikipedia.org/wiki/1969 https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Musicologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Compositor https://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha 33 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância deve ter a prudência na hora de fazer a indicação de leituras, pois se exagerar, será grande o risco de insucesso. Quanto ao estudante de Letras, a expectativa é diferente. Ao término do curso, ele precisa atingir um certo grau de autonomia para a busca de referências e para conferir sentido ao que lê. Mesmo que seu repertório de leituras ainda esteja em formação, o estudante pode praticar com crônicas, poemas, letras de música, desde que esse repertório limitado, vá se ampliando com o passar os anos, a fim de criar referências que possam indicar a presença de intertextualidades em um texto. Afinal, para o professor de literatura competente, não bastam o diploma e o histórico escolar de seu curso de Letras. Para ser professor de literatura, exige-se a honestidade de que seja leitor assíduo, atualizado, com disponibilidade de ampliar sua fruição ante as linguagens experimentais da atualidade. Ser leitor proficiente de literatura, requer um alto investimento pessoal de horas e horas de leitura, numa sociedade de baixo letramento e que supõe que o leitor, sentado numa cadeira, em silêncio, lendo, é apenas uma pessoa que “não está fazendo nada”. Para a maioria das pessoas ler é não fazer nada... Da tríade autor/obra/público, o leitor vem sendo analisado e conceituado não só por meio das chamadas teorias da recepção, como também por outras linhas críticas da atualidade, para as quais não apenas autor e texto merecem atenção da crítica, mas esse terceiro elemento forma com os outros o campo de estudo da crítica, da teoria e da história da Literatura. O leitor e a leitura tornam-se, hoje, objetos de reflexão teórica, até mesmo no interior do próprio texto literário. Por meio da leitura, dá-se a concretização de sentidos múltiplos, originados em diferentes lugares e tempos. Hoje a noção de texto se amplia: o que antes era considerado fixo e imutável passou a ser “espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escrituras variadas, das quais nenhuma é original” (BARTHES, 1988). 34 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Bakhtin, ao desenvolver o conceito de polifonia23, chamando a atenção para a dimensão dialógica do texto, apontou para sua pluralidade discursiva, que ultrapassa os limites da estrutura interna da obra, estendendo-se à leitura alcançando a voz do leitor. A palavra plural, requer uma leitura também múltipla, não mais regulada pela busca do significado único ou pela verdade interpretativa, mas atenta às relações e às diferentes vozes que se cruzam nos textos literários. Nas discussões sobre o caráter plural da leitura, uma pergunta deve ser feita: a leitura do texto literário possibilita a irrefreável disseminação de sentidos, tantos quantos forem os leitores que o fertilizem com seu olhar? Umberto Eco, em seu famoso livro Obra aberta, coloca definitivamente em cena a relação fruitiva dos receptores, quando ainda eram as obras estudadas como um cristal, ou seja: como estruturas fechadas em suas relações internas. Eco, motivado pela polêmica gerada pelo seu conceito de obra aberta, questiona: “[...] é possível fazer tão decididamente a abstração de nossa situação de intérpretes, situados historicamente, para ver a obra como um cristal?”24 (ECO, 1969). Ver a obra de literatura como obra aberta indicava as novas formas de arte contemporâneas, tendo como eixo a relação obra–leitor. Vinte anos depois de escrito o primeiro ensaio que resultaria em Obra aberta (1969), Umberto Eco, em Lector in fabula (1986), dialoga com seu livro que primeiro colocou a questão da “abertura” da obra de arte, tentando mostrar como a solicitação da cooperação do leitor já era estratégia do texto colocada pelo autor. Posteriormente, em Interpretação e superinterpretação (1993), o autor retoma mais uma vez, na tentativa de desfazer equívocos, seu conceito de obra aberta: a) Toda obra de arte é aberta porque não comporta apenas uma interpretação; b) A "obra aberta" não é uma categoria crítica, mas um modelo teórico para tentar explicar a arte contemporânea;23 a polifonia textual apresentada por Mikhail Bakhtin, é uma característica dos textos em que estão presentes diversas vozes. O termo polifonia é formado pelos vocábulos “poli” (muitos) e “fonia” (relativo ao som, voz). A polifonia aponta a presença de obras ou referências que aparecem dentro de outra. È a presença da intertextualidade. 24 Crista l , metá fo ra para uma obra be la e t rans lúc ida, mas de dureza que res is te o manuse io , impenet ráve l . Eco defende que as obras podem e dev em ser penet radas por múl t i p las le i tu ras . 35 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância c) Qualquer referencial teórico usado para analisar a arte contemporânea não revela suas características estéticas, mas apenas um modo de ser dela segundo seus próprios pressupostos. d) A intencionalidade é considerada um pressuposto da obra aberta. Além de toda obra possibilitar várias interpretações, a obra aberta apresenta-se de várias formas e cada uma delas se submete ao julgamento do público. 36 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. TEXTO 8 “O texto literário resulta de uma vontade de comunicação. Mas aquilo que o define é, mais do que a vontade de comunicação, a sua capacidade de significar. É esta característica que o distingue de qualquer texto normal, puramente utilitário.” Yvette Centeno, Docente da Universidade de Lisboa Até a primeira metade do século XX permanecia o conceito positivista de literatura, que se baseava nas referências teóricas do positivismo que oferecia os mesmos critérios para a crítica literária. A ideia darwinista de sobrevivência das espécies passou a ser utilizada como referência para sobrevivência de uma obra: as melhores e mais fortes sobrevivem no tempo; a valoração da raça como fator de formação da literatura; a construção de uma história literária se confundindo com a própria história do país. Isso reforçava a ligação entre Literatura e História. No entanto, na segunda metade daquele século dois movimentos de teoria e crítica literária realizaram uma ruptura como o conceito positivista: o Formalismo Russo e o New Criticism. Estes movimentos partem do princípio de que os textos literários possuem características estruturais peculiares que os diferenciam inequivocamente dos textos não-literários, por esse motivo é possível estabelecer a definição de um determinado referencial de literatura capaz de sustentar a ideia de que a literatura deve ser definida como modalidade específica da linguagem verbal, relacionando-se com a linguística. I - Para os formalistas russos, a linguagem literária é resultado de uma função específica da linguagem verbal. E a partir da constatação de que no ato de comunicação, há presença de seis elementos, que são: a) emissor: é aquele que envia a mensagem (pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas). b) mensagem: é o conteúdo (assunto) das informações que ora são transmitidas ou se refere ao objeto ou a situação a que a mensagem se refere. c) receptor: é aquele a quem a mensagem é endereçada (um indivíduo ou um grupo), também conhecido como destinatário. d) canal de comunicação: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. e) código: é o conjunto de signos e de regras de combinação desses signos utilizados para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor irá decodificar. 37 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância - Funções de Linguagem https://www.todamateria.com.br/funcoes-da- linguagem/ acesso em 03 de setembro de 2019 Para Roman Jakobson, a comunicação verbal pressupõe a interação de seis fatores, sendo que cada um deles origina uma função linguística específica. Mesmo ocorrendo a presença de mais do que uma função sempre haverá uma delas predominando: • A função expressiva (ou emotiva) está centrada no emissor; a primeira pessoa do singular é algumas vezes uma indicação desta função. • A função conotativa está orientada para o destinatário, aqui a presença, ou do outro (Tu ou Vós) é mais evidente. É a quem dirigimos a mensagem. • A função referencial (denotativa ou cognitiva) está orientada para o contexto; refere-se ao assunto, ao que está nos rodeando. • A função fática ocorre em mensagens que têm por finalidade estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação, isto é, verificar se o processo funciona; testa se o canal está funcionando e se o receptor tem condições de receber a mensagem. • A função metalinguística está centrada no código, ocorre quando “o emissor e/ou o receptor julgam necessário averiguar se ambos utilizam na verdade o mesmo código” (Jakobson) • A função poética está centrada na própria mensagem. A este propósito, Todorov afirma: “A literatura é uma linguagem não instrumental e o seu valor reside nela própria” (TODOROV, 1978: 18). https://www.todamateria.com.br/funcoes-da-linguagem/ https://www.todamateria.com.br/funcoes-da-linguagem/ 38 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Tanto no Formalismo Russo como no New Criticism, “a função poética é a que volta a atenção sobre a própria “mensagem”” (TODOROV, 1978). II - A maior contribuição do New Criticismo para a leitura crítica do poema consiste na definição da autonomia do texto literário, que passou a ser entendido como uma entidade independente, livre das supostas relações determinantes da sociedade com o artista e deste com o texto e se empenhar na formulação de uma teoria objetiva da arte. T.S.Eliot 25recusou a ideia de poesia como expressão da personalidade do poeta, concebendo-a como resultado consciente do trabalho do espírito, que organiza as experiências da personalidade. Em vez de entender o poema como consequência de sentimentos pessoais, ele passou a encará-lo como uma forma de apropriação pessoal da tradição literária, em que a visão individual das coisas deve, essencialmente, se transformar em sabedoria técnica. Resumindo: não se admite, portanto, nenhum outro tipo de informação para além do que o que está contido no próprio texto. Dois conceitos introduzidos na Teoria da Literatura pelos teóricos do New Cristicism são: • O correlato objetivo. Trata-se da criação de um conjunto de objetos, de uma série de eventos, de uma situação ou de uma paisagem com o poder de despertar no leitor a emoção desejada. O poeta seleciona e dispõe os elementos de tal forma, que, uma vez vislumbrados na leitura, desencadeiam imediata reação emocional. • Close Reading, ou seja, a correta leitura que deve fundar-se em pressupostos objetivos, consagrados pelo sistema de uma teoria aplicável a qualquer texto e à disposição de qualquer pessoa com um mínimo de condições técnicas para o exercício da leitura. Esse exercício consiste no exame minucioso do poema, cuja forma os novos críticos entendem como um organismo dinâmico, regido por tensões e ambiguidades. Entender o poema equivale a resolver essas 25 Thomas Stearns Eliot crít ico l iterário recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1948. Wikipédia acesso em 3 de set, 2019 https://pt.wikipedia.org/wiki/T._S._Eliot 39 Teoria Crítico Literária Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ambiguidades, estabelecidas pela relação entre as diversas unidades semânticas do texto, que independem do sentimento do autor, mas que podem decorrer de sua consciência estrutural no momento da composição John Crowe Ramsom, responsável pelo nome do movimento, propõe a ideia de que todo poema deve ser abordado como se fosse um pequeno drama, uma história em que se destacam um falante, uma estória e sua transmissão a um suposto ouvinte. Tais componentes integram a situação ficcional de qualquer poema. Essa noção é importante, pois, segundo ela, o poema seja lírico,
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