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TEORIA CRÍTICO LITERÁRIA 
Dra. Sylvia Bittencourt 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
2022 
 
 
1 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
“O professor sempre se impacienta, quando tem de explicar 
qualquer coisa mais de uma vez. O livro não. O livro exige apenas 
a boa vontade de quem estuda.” 
Aluísio Azevedo 
 
• Ao escolher esta epígrafe de Aluísio Azevedo, introduzo uma questão pedagógica. 
O valor da leitura no processo da aprendizagem. Não que eu queira fugir da 
responsabilidade docente de explicar quantas vezes forem necessárias, as 
dúvidas que surgirão, mas sim envolver você com uma verdade inquestionável: o 
protagonismo do leitor no ato de ler. É ele o sujeito de sua aprendizagem, ainda 
mais no caso do Ensino/Aprendizagem da Literatura 
• Como o objeto de estudo da disciplina é Literatura e engloba uma produção 
artística, humana e social, ela se transforma com o passar dos tempos. Suas 
funções se transformam ao longo da História. Há muitas manifestações do BELO 
e do BOM. Isso sugere que o gosto se transforma ao longo do tempo da 
humanidade e de nossa própria vida. Lembre-se de que você já fez careta e cuspiu 
a primeira colherada de um doce. Há crianças que chegam a se arrepiar com 
repulsa pelo novo paladar açucarado. Mas hoje.... haja brigadeiro! 
• Essa “conversinha” introdutória tem como objetivo refletir sobre a resposta pronta, 
nascida do senso comum e vendida como se fosse verdade: “Gosto não se 
discute”. Gosto se discute. SIM!!. Mau gosto, lamenta-se e bom gosto se 
aprende, ampliando as referências e o horizonte de conhecimento a respeito de 
todas as artes, paladares e cores. É uma questão de se ter um repertório a 
respeito do que é Humano: a diversidade, a alegria de brincar com palavras, o 
auto-conhecimento que são fenômenos estudados por múltiplas ciências 
humanas ou exatas. 
• A prova maior de que o gosto não é uma condenação fatal, que devemos 
carregar por toda vida, é que estamos diante de uma disciplina que reúne duas 
áreas de conhecimento: Teoria Literária e Crítica Literária que abarcam um 
conteúdo que fez muita gente pensar, desde os gregos até os dias atuais. Sem 
esquecer da crítica que aborda fatos, técnicas tanto de músicas, como filmes 
populares. Gosto se discute, sim, mas sem fanatismo, sem precipitação, afinal 
• “vá que sua opinião mude na semana seguinte”? 
 
 
 
 
 
2 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. O QUE É LITERATURA? 
 
Por enquanto é arte. A arte da palavra e é o resultado do exercício artístico da 
linguagem verbal. É nisso que ela se difere das demais escritas. 
 
 Platão e Aristóteles foram os pioneiros na tentativa de descrever e organizar toda 
essa produção humana, a que hoje damos o nome de Literatura. A descrição feita por 
Aristóteles – discípulo de Platão (384 a.C.–322 a.C.) foi fundamental para apontar as bases 
da natureza literária e seu pensamento influenciou na cultura ocidental. 
 
 
 
 No tempo dos gregos, as coisas não eram como nós as conhecemos hoje: Não 
existia o livro impresso e as manifestações literárias se davam oralmente. As narrativas e 
as músicas eram declamadas por homens conhecidos como aedos ou rapsodos, cuja 
função era a de fazer circular oralmente – por meio de declamações públicas – essas 
composições entre o maior número possível de pessoas. Homero suposto autor da Ilíada e 
da Odisseia era um aedo cego. O registro que temos dos textos daquela época é bastante 
posterior ao momento em que eles foram compostos e depois de passar por séculos de 
tradição oral. 
 
 Como nossa cultura é herança recebida dos gregos antigos, boa parte das ideias de 
Platão e Aristóteles ainda valem e nos fornecem as bases para responder a essa pergunta. 
O que é literatura? 
 
Para esboçarmos uma resposta mais profunda, dependemos de contextos 
históricos, referências culturais e esforço teórico. Saliento que para a análise do literário há 
necessidade de um instrumental teórico que vem se especializando e se ampliando com o 
 
 
3 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
passar dos milênios, afinal as ciências da linguagem vêm se especializando, principalmente 
ao longo das últimas décadas do século XX. 
 
Se literatura é compreendida, de modo geral, como o exercício artístico da 
linguagem, se linguagem verbal é uma forma da comunicação, de interação com os outros 
e com o mundo que nos cerca e conosco mesmos. Podemos, assim, facilmente perceber 
que os limites do universo são insuficientes para abarcar a temática literária, pois ela 
engloba o real que pode ser representado, como o que é imaginado, desejado, temido e 
sonhado... 
 
 Diante dessa amplitude, não basta um conceito de Literatura. Muito mais coerente 
é falar em conceitos de literatura, no plural, porque assim podemos pensar em toda a 
diversidade da produção artística que se utiliza da linguagem verbal, sem deixar nada de 
fora. 
 
Sendo assim, vamos a eles, aos conceitos de literatura. 
 
Segundo Soares Amora1, podemos pensar os conceitos de literatura em dois 
grandes blocos históricos, ou seja, em duas Eras – a Clássica e a Moderna. 
 
A Era Clássica vai desde a época de Platão e Aristóteles, os primeiros teóricos da 
literatura, até o século XVIII; a Era Moderna vai desde o Romantismo até os nossos dias. 
Há poucas décadas já se fala em Era Pós-Moderna. 
 
Na Era Clássica, primeiramente há uma preocupação em estabelecer um conceito 
relacionado à forma com que a linguagem é utilizada para se dizer que determinada 
composição é arte literária ou não. Em segundo lugar, os antigos falam no conteúdo quando 
se estabelece que a arte literária é a arte que cria, pela palavra, uma imitação da realidade.( 
mimesis) 
 
 
 
 
1 Antôn io Augus to Soares Amora, fo i um p ione i ro , educador , pro fessor do curso de Let ras da Univers i dade 
de São Paulo , poeta , esc r i to r e ex -p res idente da Academia Paul is ta de Let ras . ( *1917 – 1999) 
 
 
4 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1.1. Alguns conceitos 
 Para os gregos antigos, a literatura é um uso especial da linguagem com o objetivo 
de criar uma imitação da realidade. (ou mimese, estudada por Aristóteles). 
 
Aqui temos três aspectos que merecem destaque. 
• Observe que se trata de um uso da linguagem, fato que obriga o emprego de 
uma determinada Língua .2 
• Esse uso especial da linguagem é direcionado para a criação, ou seja, a 
literatura não é como a História, que tem a pretensão de registrar a verdade 
dos fatos: a literatura cria ficção, pois não está interessada no registro da 
verdade imediata. (verossimilhança) 
• Essa criação se dá na medida em que imita a realidade – aqui temos a ideia 
de imitação estabelecendo que a literatura tenha como referência a imitação 
da realidade, e isso quer dizer que, mesmo sendo criação, a literatura precisa 
se referenciar na realidade, imitando-a. 
 
Na Era Moderna, ou seja, a partir dos românticos do século XVIII, a literatura passa 
a ser compreendida, de maneira mais ampla, como o conjunto da produção escrita. Isso se 
deve, principalmente, a invenção da imprensa. 
 
1.2. Funções da literatura 
 A partir da Era Moderna, com a invenção de Gutenberg3, a literatura passou a ter 
uma relação mais direta com a ideia de ficção, de criação, afastando-se um pouco da noção 
clássica de imitação da realidade. Isso não significa que não haja a presença do imaginário 
na Era Clássica, basta lembrar-nos da mitologia grego-latina que povoava as grandes 
epopéias. (Olimpo, Vênus, Netuno, Cupido etc) 
 
 
2 A linguagem é a capacidade que os seres humanos têm para produzir, desenvolver e compreender a língua e outras manifestações, 
como a pintura, a música e a dança. Já a língua é um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitama comunicação. 
https://novaescola.org.br/conteudo/257/qual-a-diferenca-entre-lingua-e-linguagem 2/5/19 
 
3 Em 1442, Johann Gensfleish Gutenberg (1397-1468) desenvolveu técnicas de impressão em papel. 
 
https://novaescola.org.br/conteudo/257/qual-a-diferenca-entre-lingua-e-linguagem%20%20%202/5/19
https://novaescola.org.br/conteudo/257/qual-a-diferenca-entre-lingua-e-linguagem%20%20%202/5/19
 
 
5 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O aspecto mais importante dessa concepção de literatura é o fato de que a realidade 
passa a ser considerada de múltiplas formas, não é mais possível falar em uma única 
realidade. Cada artista concebe o mundo a partir da sua subjetividade, da sua intuição e 
sua obra é um retrato livre dessa interioridade. 
 
Em síntese, podemos dizer que atualmente a noção de literatura está diretamente 
ligada à época em que essa mesma literatura foi produzida. O que não foi considerado 
literatura há 200 anos, hoje pode muito bem ser considerado como obra literária: não há 
mais a crença, como havia na concepção clássica, de que a literatura abrange obras 
eternas e de valor universal. 
 
Podemos então dizer que a literatura existe em relação à época em que foi produzida 
e também em relação ao país em que apareceu. 
 
 A definição de Literatura a partir de suas funções indica tanto a função social como 
individual, ou seja, pública ou privada. Aristóteles falava de katharsis (catarse), ou de 
purgação, ou de purificação de emoções como o temor e a piedade. É uma noção difícil de 
determinar, mas ela diz respeito a uma experiência especial das paixões (dores, 
sofrimentos) ligada à arte poética. Além disso, ele colocava o prazer de aprender na origem 
da arte poética: instruir ou agradar, ou ainda instruir agradando, serão as duas finalidades 
 
Horácio4 dizia que a literatura tinha uma função bem nobre: deleitar ensinando-nos 
a ser melhores, mais sábios mais cultos. Antônio Cândido 5 retorna a Horácio ao 
sintetizar que é educativa a função da literatura. 
 
 Na atualidade, considera-se Literatura, não somente obras consagradas, os ditos 
clássicos pois nosso país apresenta números vergonhosos de leitores, mesmo de textos 
pragmáticos. É a Educação Básica a responsável pela formação de mais leitores 
competentes já que as famílias e a sociedade em geral pouco contribuem para tal 
 
4 Qu in to Horác io F laco, fo i um poeta l í r i co e sat í r i co romano, a lém de f i lósofo . É um dos maiores poetas da 
Roma Ant i ga. (de 65 a .C. , Roma - 8 a .C. ) 
 
5 Anton io Candido de Mel l o e Souza fo i um soc ió logo, c r í t i co l i t e rá r io e pro fessor da USP Es tud ioso da 
l i te ra tura bras i le i ra e es t range i ra , é auto r de uma obra c r í t i ca ex tensa, respe i tada nas pr i nc ipa is 
un ive rs idades do B ras i l ( 1918 – 2017) . 
 
 
6 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
competência. A escola, portanto precisa usar estratégias para formação de leitores e para 
tanto se vale de obras de pouca complexidade, simplificadas, resumos e de leitura 
facilitada. Na escola, há sempre o objetivo de avaliação, o que torna a literatura uma causa 
de sofrimento, fracasso, burla e algo bem distante do deleite e do prazer de se ler. 
 
 É preciso começar por se seduzir leitores jovens, alargando os limites do literário, 
aceitando até livros de autoajuda, religiosos, literatura popular e de massas, promover 
eventos de aproximação dos jovens com os livros _ caso a paixão não tenha sido moldada 
na infância. 
 
E aí é que entra a teoria, novamente. A reflexão teórica sobre a realização da obra 
literária poderá nos apontar um Norte no sentido de estabelecer valores: valores estéticos, 
morais, valores de permanência, de ruptura, valores que possam nos autorizar a 
reconhecer tais obras como manifestações artísticas do humano, pela palavra. 
 
Experimente o estado de alma proposto por Gilberto Gil para você ler Literatura. O 
recolhimento, concentração, a solidão habitada por pensamentos ajuda a conversar 
conosco e com algo muito além de nós mesmos. 
 
 
7 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Aproveite para vivenciar Literatura além da razão e sim por uma experiência 
emocional. Ouça o silêncio e aprofunde cada um dos versos ... E aproveite para 
chorar diante a Beleza que é a descoberta da VIDA. Chorar pelo Belo é valioso! 
Se eu quiser falar com Deus - Gilberto Gil 
https://www.youtube.com/watch?v=cw2htOGZO1Q acesso em 2/05/2019 
Outra sugestão: ODE À ALEGRIA 
L.ETRA DE SCHILLER foi escrito em 1785 e revisado em 1803 
https://www.youtube.com/watch?v=bMHKfHL32ak 
 
Maravilhoso vídeo para a primeira semana, celebre o fato de você estar estudando. 
 
Se eu quiser falar com 
Deus 
Tenho que ficar a sós 
Tenho que apagar a luz 
Tenho que calar a voz 
Tenho que encontrar a 
paz 
Tenho que folgar os 
nós 
Dos sapatos, da gravata 
Dos desejos, dos 
receios 
Tenho que esquecer a 
data 
Tenho que perder a 
conta 
Tenho que ter mãos 
vazias 
Ter a alma e o corpo 
nus 
Se eu quiser falar com 
Deus 
Tenho que aceitar a dor 
Tenho que comer o pão 
Que o diabo amassou 
Tenho que virar um cão 
Tenho que lamber o chão 
Dos palácios, dos 
castelos 
Suntuosos do meu 
sonho 
Tenho que me ver 
tristonho 
Tenho que me achar 
medonho 
E apesar de um mal 
tamanho 
Alegrar meu coração 
Se eu quiser falar com 
Deus 
Tenho que me aventurar 
Tenho que subir aos 
céus 
Sem cordas pra segurar 
Tenho que dizer adeus 
Dar as costas, caminhar 
Decidido, pela estrada 
Que ao findar vai dar 
em nada 
Nada, nada, nada, nada 
Nada, nada, nada, nada 
Nada, nada, nada, nada 
Do que eu pensava 
encontrar 
Letra de música 
pode ser um 
poema! 
https://www.youtube.com/watch?v=cw2htOGZO1Q
https://www.youtube.com/watch?v=bMHKfHL32ak
 
 
8 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. TEORIA DA LITERATURA: O QUE É ISSO? 
 
Por isso, embora nada se possa considerar definitivo em matéria de 
excelência estética, dificilmente se poderá considerar como gratuito o 
efeito de permanência de obras que mantêm, mesmo com o passar 
dos séculos, o vigor do momento de seu aparecimento. (OSAKABE; 
FREDERICO, 2004,). 
 
Teoria é uma palavra de origem grega, “theoria”, que tinha o significado, nessa 
língua, de contemplar, olhar, especular ou examinar. Ou seja, observar sistematicamente 
um fenômeno natural e/ ou humano para encontrar e descrever a especificidade so objeto 
de estudo. 
 
Teoria científica confere o limite entre o que é ciência ou simples especulação 
defendida pelo senso comum6. Geralmente é pela formação universitária que adquirimos 
conhecimentos para irmos além das frágeis especulações e das ociosas hipóteses iniciais 
do senso comum. 
 
 A teoria é um instrumento, uma ferramenta, serve para fazer um 
trabalho, serve para produzir o conhecimento de que necessitamos. Como o Homem, a 
Vida e a Sociedade se transformam com o tempo, constata-se que as teorias evoluem em 
virtude da descoberta de novos fatos, que necessariamente passam a integrar a versão 
evoluída. Chegamos então a perceber que Teoria da Literatura agrega várias teorias que 
dão forma a um conjunto de princípios fundamentais de uma arte_ a arte da palavra _ 
ou a opinião sintetizada de princípios que precisam ser comprovados. Teoria é uma 
noção geral de hipóteses sobre qualquer fenômeno não conhecido. E em nosso caso há 
o fenômeno literário que há milênios se expressa em diferentes línguas, empregando 
palavras e se valem de recursos linguísticos. 
 
 Fazendo uma síntese: A Teoria Literária consiste no estudo e sistematização da 
Literatura como área do conhecimento, bem como os modos de análise deste campo. 
 Para o leitor comum, a teoria literária não tem grandeutilidade, visto que as leituras 
que realiza são determinadas especificamente pelo gosto, influências ao acaso e na maioria 
 
6 O Senso Comum é a soma dos saberes do cot id i ano e é formado a pa r t i r de háb i tos , c renç as , 
preconce i tos e t rad ições . Na f i losof i a , o termo é u t i l i zado para exp l i ca r as in terpre tações fe i tas pe los 
ind iv íduos à rea l idade que os cercam sem es tudos prév ios ou p rovas c ient í f i cas . É apenas um pensamento 
sem a força da comprovaç ão. 
 
 
9 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
das vezes, decorrentes do senso comum ou da mídia. O acadêmico, por sua vez, costuma 
fazer uma leitura mais complexa, dedicando-se aos pormenores da crítica especializada de 
sua área tendo assim fundamentos comprováveis para exercer a docência de Literatura. 
Espera-se que o docente da Educação Básica conheça os princípios que regem a prática 
de ler e escrever, pois a escola precisa desenvolver o senso crítico das novas gerações e 
garantir-lhes a competência de Leitura e de compreensão da linguagem verbal, inclusive a 
literária. 
 
Mesmo sabendo que não é objetivo da Educação Básica a formação de escritores e 
de críticos literários, espera-se que as novas gerações se interessem por conhecer os 
pensamentos, sentimentos e utopias da humanidade, a literatura de seu país e 
experimentem o prazer estético e sobretudo se beneficiem com o legado cultural humano 
que perdura há milênios. Nas palavras de Victor Manuel de Aguiar e Silva: 
 
 “A teoria da Literatura integra-se no grupo das chamadas ciências do espírito, 
caracterizadas por possuírem um objetivo, métodos e escopo7 diversos dos das 
chamadas ciências da natureza . Enquanto essas têm como objeto o mundo natural, 
a totalidade das coisas e dos seres que são simplesmente dados, quer no 
conhecimento sensível, quer à abstração intelectual, as ciências do espírito têm 
como objeto o mundo criado pelo homem no transcurso dos séculos/. As ciências 
do espírito esforçam-se por compreender a realidade no seu caráter individual, no 
seu devir espacial e temporariamente condicionado” 
 
Quem possui um bom repertório de leitura literária e interesse em se debruçar sobre 
os princípios da literariedade8 pode transformar-se em teórico e pensar sobre a realidade, 
criando teorias sobre ela. Uma teoria é fruto, ou resulta do exercício de pensar sobre a 
realidade, contestando as ideias já prontas e as soluções já dadas para os problemas que 
enfrentamos nas várias esferas da vida, precisa ser comprovada na realidade. 
 
 
7 
(es.co.po) 
 1. Alvo, ponto que se pretende atingir: Nosso escopo era a ilha a ser tomada. 
 2. Finalidade, objetivo; PROPÓSITO; INTUITO: O escopo da operação era acabar com os madeireiros. 
 3. O espaço, a abrangência da mobilidade e efetividade de algo, de um sistema, de uma atividade, de uma ideia etc. 
 
8 Literariedade é o «conjunto de características específicas (linguísticas, semióticas, sociológicas) que permitem considerar um texto 
como literário». A palavra vem de «literário + -dade». 
[Cf. Dicionário Eletrônico Houaiss] 
 
 
 
10 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Quando nos interessamos por pensar e criar teorias, estamos, de várias formas, 
combatendo preconceitos, pois passaremos a criar conceitos novos, sobre os quais 
teremos pensado bastante. 
 
Para o teórico Compagnon (2003, p.19), algumas distinções são necessárias. 
Primeiramente, quem diz teoria pressupõe uma prática, diante da qual uma teoria se coloca, 
ou diante da qual se elabora uma teoria. Diante disso, podemos perguntar: que prática a 
teoria da literatura codifica, isto é, organiza mais do que regulamenta? 
 
Não é, parece, a própria literatura ou a criação literária: a teoria da literatura não 
ensina a escrever romances ou poemas. Na verdade, a teoria literária estabelece os modos 
pelos quais os estudos literários podem se organizar. Pode-se dizer, enfim, que a teoria 
literária instrui os estudos literários ou os estudos da literatura. 
 
A teoria literária é construção discursiva da qual participam muitos agentes, dentre 
os quais se destacam os autores e os leitores. Ela se configura como uma proposta de 
interpretação do fenômeno literário. Assim, temos diversos movimentos teóricos 
importantes que buscam dar conta da produção literária. É comum dizer que a teoria literária 
“corre atrás” da produção literária para compreender seus mecanismos de realização do 
modo mais eficiente possível. 
 
Para os críticos acadêmicos, a teoria literária pode ser considerada como o ponto de 
partida para compreender os pormenores da área a qual se dedicam, tais como correntes 
de pensamento etc. Nesse aspecto, ela opera uma distinção entre o crítico e o leitor comum. 
 
Entre os conceitos básicos, destacam-se os de discurso, linguagem, espaço, 
estrutura, literariedade, narrador, obra literária, polissemia, tempo e verossimilhança. 
 
As principais linhas da teoria literária são: o Formalismo Russo (primeiras décadas 
do século passado), o Estruturalismo Tcheco (década de 30 do século passado), o Pós-
Estruturalismo e o Desconstrutivismo franceses, e a Estética da Recepção alemã (década 
de 60 do século passado), a Crítica de Gênero (década de 70 do século passado), e os 
Estudos Pós-Coloniais e Culturais (a partir da década de 80 do século passado). 
 
https://www.infoescola.com/portugues/polissemia/
 
 
11 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. O QUE É CRÍTICA LITERÁRIA 
 
Fechado, um livro é literal e geometricamente um volume, uma 
coisa entre outras. Quando o livro é aberto e se encontra com 
seu leitor, então ocorre o fato estético. Deve-se acrescentar que 
um mesmo livro muda em relação a um mesmo leitor, já que 
mudamos tanto. (BORGES, 1987). 
 
A arte não é apenas entretenimento, nem fuga da realidade como quando se adota 
uma postura escapista. Ela também provoca reflexão e transformação. No caso da 
literatura, ela favorece a aquisição de um repertório linguístico mais complexo, sem o qual 
não é possível haver conhecimento, uma vez que todo o conhecimento humano passa pela 
linguagem; ou como proferiu Wittgenstein9: “As fronteiras da minha linguagem são as 
fronteiras do meu universo”. 
 
Em todos os suportes e mídias, em todos os gêneros; sejam eles orais, escritos ou 
audiovisual, a linguagem é usada de forma artística, logo, é objeto necessário dos estudos 
literários. Assim, ao estudar a Literatura estamos no universo da linguagem verbal artística 
e intelectual. Isto abrange desde as formas mais ancestrais (epopeia, novela, romance, 
conto, crônica, ensaio, epístola, manifesto, poesia lírica, letra de música, poesia concreta, 
teatro, ópera...) até as novas modalidades (roteiro de cinema, teledramaturgia, cartum, 
charge, gibi, quadrinhos, spot de rádio, outdoor, slogan, peças publicitárias para a TV, 
propaganda em geral, stand up comedy, blog, fanfic etc). 
 
Todos os gêneros textuais e todos os suportes de comunicação e expressão são 
merecedores de estudo literário e assim devem ser objeto de reflexão do profissional 
graduado em Letras, sobretudo aqueles com especialização em Literatura. Por serem muito 
abrangentes os limites do fenômeno literário, já existe desde os meados do século XX, 
cursos de especialização, de mestrado e doutorado em Teoria e Literatura nas 
universidades do país. Isso favorece a capacitação de docentes na área literária com 
aprofundamento e atualização dos estudos. 
 
 
9 Ludwig Joseph Johann Wi t tgen s te in fo i um f i l ósofo aus t r íaco, natu ra l i zado b r i t ân ico. Fo i um dos 
pr i nc ipa is autores da v i rada l inguís t i ca na f i l osof ia do sécu lo XX. Suas p r inc ipa is cont r ibu ições foram fe i t as 
nos campos da lóg ica, f i l osof iada l inguagem, f i losof i a da matemát ica , e f i lo sof i a da mente. ( 1899 – 1951) 
Wik ipéd ia 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein
 
 
12 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Esses cursos favorecem o surgimento do profissional da área: o crítico literário, ou 
seja, um crítico de arte especializado na arte da linguagem. Ele analisa o argumento 
(enredo), o contexto, o discurso, as ideologias, as ferramentas retóricas utilizadas, o efeito 
proposto, o efeito obtido, a importância política, a forma, o conteúdo; o valor sociocultural, 
filosófico, pedagógico, histórico, além do valor estético. 
 
Veja a abrangência de conhecimentos envolvidos e como eles são adquiridos ao 
longo do tempo, por isso o crítico literário se firma com o passar do tempo. E o que se faz 
enquanto os conhecimentos ainda não são consolidados. Ele se guia com a leitura de 
críticas de vários críticos já consagrados. 
 
O crítico literário é, portanto, um filósofo da arte verbal. No estudo de Literatura e 
Teoria da Literatura, o graduando em Letras deve obter as ferramentas para compreender 
a arte literária, sua importância e função, tanto nos suportes tradicionais (livro, teatro, 
folhetim, música...) quanto nos mais atuais (rádio, cinema, revista, TV, internet). 
 
O crítico literário é um conhecedor da História e da tradição, um pesquisador do 
folclore, um estudioso da cultura que define a identidade nacional de um povo. Mas ele 
também é um pensador, um formador de opinião, um crítico das ideologias, 
consequentemente, sua função essencial é pesquisar, produzir e inovar. 
 
Sem a arte não há espírito humano. A arte é a expressão máxima de técnica aliada 
a sentimento, racionalidade aliada à experiência, idealismo aliado a empirismo, tradição 
aliada à ruptura. A arte define e revela quem somos, que mitos cultivamos, em que ideais 
estéticos nos espelhamos, quais sentimentos escondemos e quais repudiamos. Como 
disse Lacan: “o artista precede o psicanalista”. 
 
Logo, o crítico literário é também um leitor e intérprete das metáforas e alegorias da 
vida; um contemplador dos mitos, lendas, símbolos, arquétipos e investigador de seus 
significados; um observador atento da sociedade e um estudante da psique humana. 
 
A crítica literária precisa da teoria que apresenta recursos conceituais como 
sustentação dos critérios da arte. Vimos que a teoria se configura como uma proposta de 
interpretação da obra literária. A crítica, por sua vez, dirá se essa interpretação é válida, ou 
seja, se o que a obra diz e o modo como diz são válidos como expressão artística. Todos 
 
 
13 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
nós já nos perguntamos um dia: Machado de Assis seria um autor tão importante na história da 
literatura? 
 
Quem disse que ele é importante? De certa forma, foi a Crítica Literária. É claro que não 
disse sozinha: outras instituições importantes participaram desse julgamento – a escola de 
Ensino Fundamental e Médio e as Universidades, a mídia. 
 
A crítica literária divide, com a escola e com a universidade, a função de julgar a 
produção literária de seu tempo e, ao realizar esse julgamento, ela estabelece, 
simultaneamente, o que cada época julga importante em termos artísticos e culturais. 
 
O papel do crítico literário, segundo Machado de Assis (1999, p. 40), no seu famoso 
ensaio “O ideal do crítico”, a ciência e a consciência são as duas condições principais 
para se exercer a crítica. Ainda mais: a crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de 
modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse do ódio, quer o da 
adulação ou da simpatia, procure reproduzir unicamente os juízos da sua consciência. Não 
lhe é dado defender nem os seus interesses pessoais, nem os alheios, mas somente a sua 
convicção, e a sua convicção deve formar-se tão pura e tão alta que não sofra a ação das 
circunstâncias externas. [...] Com tais princípios, eu compreendo que é difícil viver; mas a 
crítica não é uma profissão de rosas, e se o é, é-o somente no que respeita à satisfação 
íntima de dizer a verdade. (MACHADO DE ASSIS, p. 40-41) 
 
Na perspectiva de Machado de Assis, o crítico literário é uma espécie de missionário 
que dirá a verdade, nada mais do que a verdade, sobre determinada obra literária. O papel 
do crítico é portar-se como um juiz, ou seja, ele deve julgar o valor da obra literária. 
 
Para Antonio Candido, outro crítico literário importante, o papel do crítico pode ser 
compreendido da seguinte forma: toda crítica viva – isto é, que empenha a personalidade 
do crítico e intervém na sensibilidade do leitor – parte de uma impressão para chegar a um 
juízo. [...] Entre impressão e juízo, o trabalho paciente da elaboração, como uma espécie 
de moinho, tritura a impressão, subdividindo, filiando, analisando, comparando, a fim de 
que o arbítrio se reduza em benefício da objetividade, e o juízo resulte aceitável pelos 
leitores. (CANDIDO, 2000, p. 31) 
 
 
 
14 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Além disso, Candido também considera que o crítico deve ser um “árbitro objetivo” 
capaz de julgar o valor da obra artística por meio de dois mecanismos básicos – a 
impressão e o juízo. Enquanto Machado de Assis fala em ciência, Antônio Candido fala 
em impressão, mas precisamos entender que a impressão adequada sobre determinada 
obra necessita do conhecimento – ou seja, da ciência. 
 
Temos então que o papel do crítico literário é julgar – por meio dos conhecimentos 
que a teoria literária estabelece – o valor da obra de literatura. 
 
 
 
 
 
15 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. O ENSINO DA TEORIA DA LITERATURA 
 
Após ter discutido na semana passada os conceitos fundamentais de nossa 
disciplina (Literatura, teoria, crítica) _ sem, porém, esgotá-los _ venho, nessa aula, 
esclarecer um aspecto didático sobre o ensino da Teoria da Literatura, que você licenciado 
em Letras, empregará na docência da Educação Básica. Empregarei aqui, nas duas últimas 
semanas, as orientações do MEC de 2006 para do Ensino Médio.10 
 
Em sua introdução ao livro Formação da Literatura Brasileira, Antônio Candido11 
indica que, para operar como um sistema, a literatura necessita “a existência de um 
conjunto de produtores literários” ou seja um ou vários autores, “um conjunto de receptores” 
ou seja leitores e, por fim, “um mecanismo transmissor, que liga outros”-. Melhor explicando; 
a obra ou obras (2009, p. 25). Aqui está a tríade autor, leitor e texto, que é o objeto de 
estudo do professor de literatura em sala de aula. 
 
No entanto, se lembrarmos que cada um dos elementos que compõem a tríade, 
(autor, leitor e texto) eles não são universais e atemporais, mas sim são entendidos 
conforme sua época e em determinada cultura. Em outras palavras, a concepção de leitor 
como agente da tríade determina o ponto de vista histórico que é “um dos modos legítimos 
de estudar literatura”. Esse leitor histórico sempre é condicionado por um dado contexto. 
 
 Esta concepção faz surgir uma séria indagação: “ou a literatura está viva no tempo 
presente, ou simplesmente não está viva”. Ou seja: a obra literária só teria valor estético na 
época em que foi produzida (tempo histórico), ou seria algo que está situado para além da 
história, aquilo que vive apesar do tempo? Neste último caso, já não caberia falar de um 
leitor contextualizado pelo tempo, mas sim de um leitor proficiente,12 conhecedor das 
ferramentas interpretativas capazes de desnudar a verdadeira essência atemporal do fato 
literário. 
 
 
10 BRASIL. Or ientações cur r i cu lares para o Ens ino Médio : l inguagens , cód igos e suas tecno log ias . Bras í l ia : 
M in is tér i o da Educação, 2006. 
11 Antôn io Candido deMel lo e Souza fo i um soc ió logo, c r í t i co l i t e rá r io e pro fesso r un ive rs i tá r io b ras i l e i ro . 
Es tud ioso da l i te ra tu ra bras i le i ra e es t range i ra , é auto r de uma ob ra c r í t i ca ex tensa, respe i t ada nas 
pr i nc ipa is un ivers i dades do Bras i l . (1918 – 2017) . 
12 1 . D iz -se da pessoa ex t remamente capaz e e f i c iente ; COMPETENTE; PERITO 
 
 
16 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Isso explica artistas poetas e escritores ignorados por seus contemporâneos e pela 
crítica de seu tempo, mas que se tornaram imortais com o passar do tempo. Exemplo: 
Fernando Pessoa que foi celebrado pela crítica brasileira inicialmente, um século depois de 
sua morte. São eles os escritores criadores que viveram a frente de seu tempo. Van Gogh 
é um outro exemplo. 
 
 Quanto à polêmica entre a necessidade da contextualização histórica ou não, é 
prudente avisar que não há uma única verdade a ser seguida quanto aos estudos literários. 
Além do fato de que para a formação de um leitor proficiente, há um processo de longa 
duração, que requer um constante investimento no tempo. Ele pode se dar ao longo de toda 
uma vida e é um processo inacabado, pois o leitor proficiente jamais aposenta a leitura. No 
entanto, é a presença dos conhecimentos históricos _ para críticos historicistas_ que 
sustenta a elaboração da crítica literária e explica os achados estéticos de uma determinada 
época. Já a crítica feita do presente, precisa da História para alimentar o conhecimento 
prévio que é exigido ao leitor proficiente, para que o ato de leitura se concretize plenamente. 
Salienta-se que não só a História deve fazer parte dos conhecimentos prévios do leitor, mas 
a Geografia, História da Literatura, Cosmogonias, Filosofias, Mitos, Sociologia, Psicologia, 
Música etc. etc. ... Além do domínio do idioma. 
✓ Sinfronismo e a ânsia da imortalidade. 
Então a literatura situa-se numa espécie de 
atemporalidade radical, ou melhor, num tempo 
eternamente presente. 
André Cechinel 
 
Literatura é sinfronismo. Ele é a essência literária. Basicamente, sinfronismo é a 
coincidência espiritual, de estilo, de módulo vital, entre o homem de uma época e os de 
todas as épocas, dos próximos aos dispersos no tempo e no espaço. Nesse caso a obra 
literária é vista independente do tempo e do espaço e é confrontada somente com a 
sensibilidade do leitor. Afinal, música boa jamais envelhece... Há aqui o ponto de vista do 
esteticismo. 
 
Literatura é ânsia de imortalidade, pois ou ela está viva no tempo presente, ou 
simplesmente não está viva. Fato que enfatiza, o objeto literário não como resultado de um 
tempo histórico, mas como aquilo que está situado para além da história, aquilo que vive 
apesar do tempo. 
 
 
17 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
✓ Intenção do autor ou diálogo com autores anteriores 
 
A ferramenta básica do crítico literário é, portanto, a 
erudição, conquistada com suor e totalmente 
distinta da chamada inspiração romântica 
André Cechinel 
 
 No século XIX, no Romantismo, a teoria de leitura crítica da literatura valorizou o 
aprofundamento do estudo no autor individualizado e o julgamento estético da obra era a 
rigor feito a partir do pressuposto da intencionalidade do autor e assim fortalece-se o 
biografismo. Mas contra essa “verdade’ de que tudo se explicava pela vontade do escritor 
(inspiração), surge uma outra hipótese dos teóricos do new criticism que apostavam em 
ferramentas analíticas capazes de libertar a voz autoral do texto; seu procedimento 
fundamental consiste na chamada leitura de pequenas partes muito minúsculas e de 
caráter intratextual, 13capazes de desvelar os menores paradoxos e ambiguidades 
poéticas. Caberia ao leitor proficiente fazer a busca por ambiguidades textuais identificadas 
apenas por um leitor instrumentalizado. 
 
 O estudante de Teoria de Literatura e leitor das Literaturas em Língua Portuguesa 
poderá se abalar com a indicação da proficiência em leitura logo ao início de um curso. No 
entanto, acredite, só com os estudos que se chega a um grau satisfatório de domínio crítico. 
Ele será suficiente para dar ao estudante autonomia para procurar, encontrar, justificar a 
importância estética de um texto. A prática, o interesse e a troca de ideias sempre serão 
essenciais para construção de uma avaliação de crítica literária, para estabelecer 
influências e traçar paralelos entre leitores, obras e autores. 
✓ O ensino da literatura e a vivência do estranhamento. 
Na obra poética a novidade é obrigatória. 
Wladimir Maiakóvski 
 (Como fazer versos, 1926) 
 
A partir das Orientações Curriculares para o Ensino Médio, documento oficial que 
busca “contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente” nota-se 
a preocupação dos autores em privilegiar a necessidade de um contato efetivo com o texto 
e reduzir a excessiva à figura do autor e ao contexto de produção das obras. 
 
13 Um mesmo escritor pode reler-se, utilizando-se de textos que ele mesmo escreveu, o que resulta numa espécie de intratextualidade. 
Ocorre quando o autor é capaz de criar elos de aproximação entre todos os motivos, temas ou símbolos de um texto de retomar a unidade 
em sua obra. 
 
 
18 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O ensino da literatura, para cumprir seu objetivo, portanto, “não deve sobrecarregar 
o aluno com informações sobre épocas, estilos, características de escolas literárias etc. [...] 
Trata- se, prioritariamente, de formar o leitor literário” (BRASIL, 2006, p. 54). A formação do 
leitor literário passa - não pelo conhecimento dos fatos que “condicionam” a obra -, mas 
sim pela “sensação de estranhamento que a elaboração peculiar do texto literário, pelo 
uso incomum de linguagem, ” (BRASIL, 2006, p. 55). O termo “estranhamento”, cabe 
assinalar, constitui uma espécie de constante nos textos dos formalistas russos, que não 
cansavam de insistir na singularidade da linguagem literária. 
 
Nesse sentido, o texto e o leitor assumem um papel preponderante em relação ao 
biografismo, e assim, aquilo que antes era tomado como o ponto de partida inevitável para 
qualquer estudo, agora se situa num segundo plano. Essa mudança de direcionamento, 
entretanto, pode chegar à supressão do contexto histórico, isto é, o desaparecimento do 
contexto de produção do texto literário. Ora, o principal vínculo da obra com o momento 
histórico de sua publicação sempre fora, até então, o espaço autoral; com a “eliminação” 
do autor e com o peso atribuído à “gramática do texto” (os instrumentos que o leitor deveria 
possuir para ler com proficiência), o contexto passa a ocupar, em determinados momentos, 
uma zona marginal dos estudos literários. 
 
 Criou-se o impasse: de que modo trabalhar o contexto histórico em sala de aula sem 
comprometer a primazia do objeto literário e sem reintroduzir a figura autoral como ponto 
de chegada interpretativo? Ou, paralelamente, como adentrar a realização final do escritor 
sem ignorar os fatores que, até certo ponto, condicionam historicamente a sua atividade 
criativa? Para compreender melhor a dimensão do impasse, torna-se necessário 
atravessar, neste instante, o segundo ponto que movimenta esta investigação. Quem é o 
leitor? Como se dá a leitura (A RECEPÇÂO) do texto pelo leitor? 
 
 
 
 
 
 
Enquanto espera a próxima 
explicação, pense lentamente 
sobre esse desafio. Em arte 
não há pressa, por isso ela 
vem sofrendo desvalorização 
no presente milênio da 
velocidade e da ansiedade 
 
 
19 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
ORIENTAÇÔES CURRICULARES MEC 
 
1- http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf 
acesso em 09/09/2019 
2- https://blogjardimdababilonia.wordpress.com/2013/09/22/raul-castagnino-pergunta-o-que-e-literatura-e-alabama-shakes/Raul Castagnino pergunta: O que 
é literatura? E Alabama Shakes. 
 
 
 
20 Teoria Crítico Literária 
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5. APRENDER E ENSINAR LITERATURA NO ENSINO MÉDIO. 
 
 No currículo de Licenciatura em Letras há obrigatoriedade do estudo de Literaturas 
e Teoria e Crítica Literária no intuito de oferecer oportunidade de alimentar o gosto pela 
leitura e apresentar um suporte teórico para licenciar profissionais como educadores 
capacitados 
 
 O segundo argumento é a inclusão do ensino de Literatura no Ensino Médio tendo 
como embasamento uma visão pedagógica que objetiva a educação da sensibilidade; como 
meio de atingir um conhecimento tão importante quanto o científico – embora se faça por 
outros caminhos. 
 
O ensino de Literatura (e das outras artes) visa, sobretudo, ao cumprimento do inciso 
III dos objetivos estabelecidos para o ensino médio ou seja: 
 
A LDBEN nº 9.394/96 como se pode ver nos objetivos a serem alcançados pelo 
ensino médio (Art. 35) a clareza com o compromisso da formação integral. Vejamos: 
 
Objetivos do Ensino médio: 
 “I - Consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino 
fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estudos; 
II - Preparação básica para o trabalho e para a cidadania do educando, para continuar 
aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de 
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; 
III - Aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e 
o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. (LDBEN, 1996).” 
 
Hoje assistimos a valorização das máximas (o mercado, a eficiência técnica e o foco 
no individualismo) sobre as quais a modernidade se sustenta, configurando assim, uma 
“modernidade elevada à potência superlativa”, caracterizada pela “cultura do mais rápido e 
sempre mais”. Em decorrência dessa visão de mundo, faz-se necessária a pergunta: por 
que ainda a Literatura está presente no currículo do ensino médio? pois seu estudo não 
colabora com nenhum dos valores do mundo hiperveloz. 
 
 
21 Teoria Crítico Literária 
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Para não nos deixar levar pelo senso comum14, é bom refletir sobre Literatura a partir 
da contribuição do saudoso professor Antonio Cândido, um dos melhores pensadores 
brasileiros do Século XX. 
 
_Para que serve a Literatura? 
_ Como fator indispensável de humanização. 
 
Entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem aqueles 
traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do 
saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a 
capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da 
complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve 
em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos 
e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. (CÂNDIDO, 1995). 
 
É evidente que para que se atinja tais objetivos, não se deve acumular a disciplina 
com informações sobre épocas, estilos, características de escolas literárias etc., como até 
hoje tem ocorrido. Há três décadas, o MEC, as pesquisas acadêmicas, a formação de 
professores e as publicações da área orientam para o caráter secundário de tais conteúdos. 
 
Afinal, “Aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética 
e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” ( MEC, PCN 2018) 
demonstram com clareza que se trata, prioritariamente, de formar o leitor literário, melhor 
ainda, de “letrar” literariamente o aluno, fazendo-o apropriar-se daquilo a que tem direito. 
 
Mas o que vem a ser letramento literário? O termo “letramento” foi tomado da 
Linguística, mas já é de uso bastante corrente entre os que se ocupam da educação. 
Principalmente entre nossos colegas alfabetizadores. Magda Soares nos ajuda a entender 
o termo que faz a distinção entre alfabetizado e letrado que são conceitos de amplitude 
distinta a ponto de permitir nas provas internacionais de avaliação identificar analfabetos 
funcionais presentes em todas séries do Ensino Básico e até no Universitário. Vejamos o 
que nos ajuda a professora e pesquisadora mineira. 
 
 
 
14 A melho r fo rma de ev i ta rmos a sedução do senso c omum (d izer o que todos d izem sem saber o porquê) 
é consu l ta r fontes c ient í f i cas com va lor notó r io e que t enham s ido c i tadas e abonadas por inúmeras 
pub l icações . 
 
 
22 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior 
de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade 
vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um 
novo fenômeno se evidencia: não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas 
se alfabetizam, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, 
não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para 
envolver-se com as práticas sociais da escrita: não leem livros, jornais, revistas, não 
sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem preencher um 
formulário... (SOARES, 2004,). (grifos nossos) 15 
 
Por extensão, podemos pensar em letramento literário como estado ou condição de 
quem não apenas é capaz de ler poesia ou drama, mas dele se apropria efetivamente por 
meio da experiência estética, fruindo-o. 
 
Contrariamente ao que ocorreu com a alfabetização, que se vem ampliando cada 
vez mais, a leitura de Literatura tem-se tornado cada vez mais rarefeita no âmbito escolar, 
como bem observou Regina Zilberman (2003, p. 258), seja porque diluída em meio aos 
vários tipos de discurso ou de textos, seja porque tem sido substituída por resumos, 
compilações, etc. Por isso, faz-se necessário e urgente o letramento literário: empreender 
esforços no sentido de dotar o educando da capacidade de se apropriar da literatura, tendo 
dela a experiência literária. 
 
Estamos entendendo por experiência literária o contato efetivo com o texto. Só assim 
será possível experimentar a sensação de estranhamento que a elaboração peculiar do 
texto literário, que pelo uso incomum da linguagem, consegue produzir no leitor, o prazer 
estético, o qual fica estimulado a contribuir com sua própria visão de mundo para a fruição 
estética. 16 
 
 Por ser o prazer estético compreendido aqui como conhecimento, participação, 
fruição, um tipo de conhecimento diferente do científico, ele objetivamente não pode ser 
medido. Mas abrimos um espaço organizado e para dialogarmos com ele e tratarmos dele, 
criou-se uma experiência construída a partir da troca de significados, da ampliação de 
 
15 letramento: estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita” 
(SOARES, 2004) 
 
16 Ação de aprov e i ta r ou us u f ru i r de a lguma opor t un idade. Ut i l i zação p raze rosa de a lgo; gozo. 
 
 
23 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
horizontes, com capacidade até de tocar nossa sensibilidade e nos causar horror, tristeza 
e medo 
 
Por ser a literatura, arte em palavras, nem tudo que é escrito pode ser considerado 
literatura. Essa questão, entretanto, não é tão simples assim, visto que a linha que divide 
os campos do literário e do não literário é bastante tênue, confundindo-se muitas vezes. 
 
Faça a comparação entre os dois textos: 
 
A) Lição sobre a água de Antônio Gedeão 
 
Este líquido é água. 
Quando pura 
é inodora, insípida e incolor. 
Reduzida a vapor, 
sob tensão e a alta temperatura, 
move os êmbolos das máquinas que, porisso, 
se denominam máquinas de vapor. 
É um bom dissolvente. 
Embora com exceções, mas de um modo geral, 
dissolve tudo bem, bases e sais. 
Congela a zero grau centesimais 
e ferve a 100, quando à pressão normal. 
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão, 
sob um luar gomoso e branco de camélia, 
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia 
com um nenúfar na mão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 Teoria Crítico Literária 
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B- 
Água (fórmula: H2O) é uma substância química cujas 
moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de 
oxigênio. É abundante no Universo, inclusive na Terra, onde cobre 
grande parte de sua superfície e é o maior constituinte dos fluidos dos 
seres vivos. As temperaturas do planeta permitem a ocorrência da 
água em seus três estados físicos principais. A água líquida, que em 
pequenas quantidades parece incolor, mas manifesta sua coloração 
azulada em grandes volumes, constitui os oceanos, rios e lagos que 
cobrem quase três quartos da superfície do planeta. Nas regiões 
polares, concentram-se as massas de gelo e vapor constitui parte da 
atmosfera terrestre. Mais especificamente, a água líquida tem duas 
fases líquida com grandes diferenças de estrutura e densidade.[1] 
A água possui uma série de características peculiares, como 
sua dilatação anômala, o alto calor específico e a capacidade de 
dissolver um grande número de substâncias. De fato, estas 
peculiaridades foram favoráveis para o surgimento da vida nos 
oceanos primitivos da Terra, bem como propiciaram sua evolução. 
Atualmente, todos os seres vivos existentes precisam da água para 
sua sobrevivência. 
Embora os oceanos cubram a maior parte da superfície 
terrestre, sua água é inadequada para o consumo humano por conta 
de sua salinidade. Somente uma pequena fração disponível sobre a 
superfície dos continentes que contém poucos sais dissolvidos, a 
água doce, está disponível para consumo direto. Wikipédia 
 
 
 
 
 
25 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
ATENÇÃO! A aula não acabou, oriento para que faça um exercício intelectual de 
vivenciar o conceito de estranhamento. 
• O que você não esperava encontrar no poema de Antônio Gedeão? Uma 
imagem apenas. 
• Pesquise para descobrir quem é. E de onde ela veio. (GOOGLE) 
• Compare a cena lembrada com os dozeversos anteriores. Qual é a sua 
hipótese para a mistura de temas? Para você vivenciar o conceito de 
literariedade, procure as diferenças de linguagem entre o poema e o texto da 
Wikipédia. Pense sobre isso várias vezes e constate que seus achados irão se 
ampliando. 
 
RESPOSTA. Só escureça as letras, para conferir sua resposta: 
(Ofélia é personagem da tragédia de Shakespeare, Hamlet. Ela se suicida, jogando-
se num rio ao e desesperar com a loucura do amado Hamlet.) INTERTEXTUALIDADE. 
 
 
 
26 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6. DE ONDE VEM A CRIAÇÃO? 
 
O Poder da Criação de Paulo César Pinheiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A um Poeta - Olavo Bilac 
 
Longe do estéril turbilhão da rua, 
Beneditino escreve! No aconchego 
Do claustro, na paciência e no sossego, 
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua! 
 
Mas que na forma de disfarce o emprego 
Do esforço; e a trama viva se construa 
De tal modo, que a imagem fique nua, 
Rica, mas sóbria, como um templo grego. 
 
Não se mostre na fábrica o suplício 
Do mestre. E, natural, o efeito agrade, 
Sem lembrar os andaimes do edifício: 
 
Porque a Beleza, gêmea da Verdade, 
Arte pura, inimiga do artifício, 
É a força e a graça na simplicidade. 
 
Vamos começar esta aula de uma forma diferente. Deliberadamente, espero 
provocar estranhamento e motivar você para uma reflexão polêmica. Já aviso: não há uma 
Não, ninguém faz samba só porque prefere 
Força nenhuma no mundo interfere 
Sobre o poder da criação 
Não, não precisa se estar nem feliz nem aflito 
Nem se refugiar em lugar mais bonito 
Em busca da inspiração 
Não, ela é uma luz que chega de repente 
Com a rapidez de uma estrela cadente 
Que acende a mente e o coração 
É faz pensar que existe uma força maior que nos guia 
Que está no ar 
Bem no meio da noite ou no claro do dia 
Chega a nos angustiar 
E o poeta se deixa levar por essa magia 
E o verso vem vindo e vem vindo uma melodia 
E o povo começa a cantar, lá laia laiá 
Lá lá laía laia 
https://www.cifraclub.com.br/paulo-cesar-pinheiro/
 
 
27 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
resposta certa. Acesse o endereço abaixo e ouça um time de sambistas brasileiros 
apresentando o Samba “O Poder da Criação” de Paulo César Pinheiro. Esse samba vale 
tanto quanto uma aula de literatura. 
 
Dona Ivone Lara, Salve o Samba! 
https://www.youtube.com/watch?v=tiAa8JsI37Y acesso em 02 de junho de 2019 
 
Houve durante séculos, no mundo ocidental, diversas tentativas de estabelecimento 
das marcas da literariedade de um texto. O que torna o texto, arte das palavras? 
 
Houve o tempo em que a arte da palavra era explicada pela presença valorizada do 
autor/ poeta. Melhor dizendo, a arte nascia de uma determinada intenção do autor ou dos 
sentimentos do autor. Em um aspecto mais amplo, originava-se da relação da obra com a 
sociedade a partir da cosmovisão de uma cultura, sobre o poeta. 
 
Mais recentemente, o mistério da criação deslocou-se do autor e da obra, para o 
terceiro elemento da tríade: leitor (visto esse como coprodutor do texto) e para a 
intertextualidade17, colocando-se em questão a autonomia e a especificidade da literatura. 
 
Essa mudança de ponto de vista determinou o deslocamento de foco da metodologia 
de ensino da literatura, criando posições diversas: de um lado, o professor que só trabalha 
com autores indiscutivelmente canônicos, como Machado de Assis, por exemplo, utilizando-
se de textos críticos também consagrados. Neste caso, o professor pode ser considerado 
autoritário, conservador, que aprendeu assim e assim “passa” para o aluno, “pois é isso 
que cai nos vestibulares”. De outro lado, há o professor que lança mão de textos que 
apresentem literariedade e provoquem estranhamento. Ou seja, desde poemas como os 
de Fernando Pessoa como textos típicos da cultura popular, como da cultura de massa. É 
caso do professor que se considera libertário (por desconstruir o cânone) e democrático 
(por deselitizar o produto cultural). É bom lembrar que o Prêmio Nobel de Literatura de 2016 
foi entregue ao compositor e cantor Bob Dylan 
 
 
17 Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na criação 
de um novo texto. Os textos já existentes e reconhecidos são chamados de textos fontes 
https://www.cifraclub.com.br/paulo-cesar-pinheiro/
https://www.youtube.com/watch?v=tiAa8JsI37Y
 
 
28 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Alerto que não existem respostas prontas para se fazer uma opção “ acertada” mas 
o recomendável é discutir no Conselho de Escola, com o coletivo escolar a abordagem 
didática a ser oferecida para que faça, desde a motivação para que jovens leiam, até 
promover o desempenho desejado de um leitor proficiente de literatura e que será 
submetido a provas variadas para continuidade de estudos e/ ou busca de profissão. 
 
Portanto, as duas opções devem ser avaliadas para que se evite subestimar alunos 
desprotegidos culturalmente e vítimas de preconceito, por achar que eles não entenderiam 
os clássicos, excluindo da literatura clássica os alunos economicamente fragilizados “que 
não gostam de ler literatura”. E nem retirando da avaliação literária produções de cultura de 
massas, por serem valorizadas pelo marketing nem sempre criterioso e serem mantidas 
como produto do mercado. Essa discussão é muitoapropriada para as reuniões de 
Avaliação e Planejamento, desde que subsidiadas por leituras prévias de documento 
oficiais PCN e Diretrizes do MEC e outras publicações e revistas dedicadas ao tema. Não 
basta discutir a partir apenas do senso comum ou de experiências do curso de ensino médio 
de décadas atrás, em que eram diferentes os critérios de “boa leitura”. Apenas a atualização 
das obras literárias não basta, precisa haver atualização teórica e metodológica. 
 
Convido você a ouvir de novo o samba e reler o soneto de Bilac, o primeiro de século 
XXI e o outro do século XIX- XX. A canção vinda da cultura popular e o soneto dos meios 
culturais acadêmicos/ políticos do século XX. Um é da estética tradicional do samba e outro 
da estética parnasiana. 
 
Uma metodologia de estudos literários é a Literatura Comparada que destaca temas 
em comum ou opostos, tipos de linguagem, de discursos e recursos estilísticos. 
 
Paulo Cesar Pinheiro afirma que a criação poética não é escolha pessoal, e nem 
consequência de algo exterior que interfira nesse fenômeno. Não é resultado, nem mesmo 
das emoções e nem da busca isolada da inspiração. Então, onde ela nasce? Nos dez 
versos seguintes ele vai ensaiando explicações com imagens belas, rápidas e fugazes pois 
nenhuma delas é o bastante para explicar, mas conseguem tocar a razão e a emoção. A 
explicação se amplia e chega à dimensão imaterial: força maior que nos guia Que está 
no ar. É a força misteriosa presente em todos os fenômenos epifânicos e em todas 
cosmogonias , que procuram explicar o inexplicável e que por milênios, angustiam a 
humanidade para descobrir como foi a criação do Universo, da Terra, da Natureza , do 
 
 
29 Teoria Crítico Literária 
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Humano, da Cultura e da Arte. E chegamos ao fim à descoberta de Paulo Cesar: o samba, 
a poesia, criação chegam ao ser humano como uma dádiva (E o verso vem vindo e vem 
vindo uma melodia e o povo começa a cantar) e se expandem para todas as criaturas 
que se beneficiam da beleza da criação. Repare no décimo quinto verso 5 fonemas V 
(fonema contínuo, velado como sopro e metáfora do sopro divino para que o surdo 
passasse a escutar) O sopro da Criação. Mesmo assim, permanece o mistério. Mesmo 
neste milênio de tantas certezas e verdades tecno-científicas que levam o embate entre 
grupos e a violência em nome de uma verdade, a arte consegue manter preservado um 
espaço para a descoberta, para o devir.18 Ainda não temos respostas, por isso é que vale 
a pensa continuar procurando 
 
 Já no soneto de Bilac todo o fazer poético é produto do trabalho do poeta que se 
isolada do mundo e com esforço de concentração opera um trabalho que exige esforço 
físico, semelhante a de um escultor, para que surja a OBRA, como expressão de valores 
morais como a Beleza e a Verdade. Do resultado desse ofício surge a Arte Pura que reúne 
“força e a graça na simplicidade”. Portanto encontramos uma explicação diferente tanto da 
origem da produção artística como para a destinação da obra. 
 
Para Paulo, o samba alimenta, faz o povo cantar e sambar, multiplicando a alegria 
entre todos. A arte chega a todos e os beneficia. 
 
Para Bilac a perfeição das formas artísticas inspira a presença de valores morais 
para um jovem país nascido sob o manto da filosofia Positivista. A BELEZA e a VERDADE 
ou em outras palavras: o BOM e o BELO precisam ser difundidos pela arte. 
 
 
18 [F i losof ia ] Processo de mudanças e fe t i vas pe las qua is todo ser passa. Mov imento pe rmanente que a tua 
como regra, sendo capaz de c r ia r , t rans formar e modi f i car tudo o que ex is te ; es sa própr i a mudança. 
 
 
30 Teoria Crítico Literária 
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7. A FORMAÇÃO DO LEITOR PROFICIENTE 
 
 A leitura crítica de um texto passa pelo reconhecimento da literariedade, 
estranhamento ou fruição. Os dois primeiros conceitos estão relacionados com a natureza 
da obra. Já a fruição, ela dirige o foco para o leitor, o público. 
 
Trataremos aqui de nos aproximar cada vez mais desses conceitos que não são 
excludentes, mas que se somam a fim de subsidiar a leitura crítica de um texto de arte, 
clássico, erudito ou não. 
 
 Há diferentes formas de fruição da arte segundo as classes sociais e as diferentes 
culturas, na medida em que para uma comunidade cultural, a possibilidade de conhecer e 
aproveitar a leitura de Machado de Assis ou Mário de Andrade, pode ficar prejudicada por 
faltar conhecimento prévio para tanto. Para ele, são familiares a literatura de massas, o 
folclore, a sabedoria espontânea, a canção popular, o cordel, o provérbio, as rezas. Estas 
modalidades são importantes e nobres, mas é grave considerá-las como suficientes para a 
grande maioria que, devido à limitação social, vive excluída do mundo letrado. 
 
 Não se trata de impor a erudição, como literatura clássica, romântica ou realista 
como paradigmas únicos de arte literária, mas sim de apresentar e oferecer aos jovens, até 
mesmo encorajá-los, para que usufruam do direito de expandir os horizontes cognitivos 
sobre a arte das palavras. 
 
 Afinal há um mundo de inteligência, cultura e sensibilidade “humanas” que é muito 
mais amplo e permanente do que o mundo da cultura de massas, tão consumível com 
paradigmas da sociedade de consumo e bem adequado à sociedade líquida de que fala 
Umberto Eco 19 
 
 
19 Pape Satàn Aleppe-Crônicas de Uma Sociedade Líquida 
 O ú l t imo l i v ro esc r i to por Umber to Eco. Cr ises ideo lóg icas , econômicas e po l í t i cas , ind iv idua l i smo 
desenf reado e uma re lação s imbió t i ca com nossos ce lu la res são a lguns dos e lementos que compõem 
o ambiente em que v ivemos : o de uma soc iedade l íqu ida, onde n ada pa rece fazer sent ido ou te r 
sequer a lgum s ign i f i cado. Nes te que é seu de r rade i ro l i v ro , a f im de t orna r mais fác i l a compreensão 
de nossa soc iedade desnor teada. . 
 
 
31 Teoria Crítico Literária 
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 Sempre haverá dúvidas nos julgamentos de um texto em casos limítrofes entre ser 
arte ou não. Mas é possível discernir um texto literário de um exclusivamente de consumo, 
pois nestes é possível identificar clichês, estereótipos, o senso comum e ausência total de 
algo novo, tanto na linguagem, na forma ou nas ideias. Resumindo: nem os critérios da 
História da Literatura, os Estilos de Época Literária nem o gosto particular do leitor 
sustentam o critério de um texto ser ou não literatura, pois há necessidade de se ter em 
mente que _ mesmo sendo arte, a fruição da leitura requer certa proficiência que só advém 
com leitura e estudo. Daí a importância da crítica literária como norteadora dos leitores. 
 
Desfrute (fruição): trata-se do aproveitamento satisfatório e prazeroso de obras literárias, 
musicais ou artísticas, de modo geral bens culturais construídos pelas diferentes linguagens, 
depreendendo delas seu valor estético. Apreender a representação simbólica das 
experiências humanas resulta da fruição dos bens culturais podem propiciar aos alunos 
momentos voluntários para que leiam coletivamente uma obra literária, assistam a um 
filme, leiam poemas de sua autoria – de preferência fora do ambiente de sala de aula: 
no pátio, na sala de vídeo, na biblioteca, no parque (PCN p. 67). 
 
Somente o deleite, não basta para o letramento literário, pois dessa forma, o prazer 
estético proporcionado pela fruição pode ser confundido com divertimento, com atividade 
lúdica simplesmente, talvez por isso se aconselha tal desfrute animado entre jovens seja 
algo reservado para fora da sala de aula Caso contrário, abre-se espaço para a falsa 
hipótese de que o texto literário é apenas aquele como leitura facilmente deglutível. 
 
Não podemos confundir prazer estético com palatabilidade.Também não se quer, 
com isso, afirmar que os textos que proporcionam prazer estético sejam obrigatoriamente 
densos, difíceis de serem compreendidos, maçantes. 
 
É bem verdade que é difícil conceituar o prazer estético, até porque o conceito tem 
uma história que vem da Antiguidade. 
 
Aristóteles, por exemplo, analisou a sensação de deleite provocado pela visão de 
um objeto belo (e, para ele, o belo advinha da imitação da natureza). Ou seja das 
mimeses.20 O filósofo reconhece no prazer estético a dupla natureza: uma proveniente dos 
sentidos (prazer diante da técnica perfeita de imitação) e outra, intelectual (prazer pelo 
reconhecimento da imagem original no imitado). 
 
20 M imese, mímes is ou mimes is , é um termo c r í t i co e f i losóf ico que abarca uma v ar i edade de s ign i f i cados , 
inc lu indo a im i tação, representação, mímica, o a to de se assemelhar , o a t o de expressão e a apresentação 
do eu. 
 
 
32 Teoria Crítico Literária 
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Na poética de Aristóteles, há ainda o conceito de catarse ligado ao prazer estético. 
Ou seja: o prazer ante a tragédia pode surgir com a identificação do receptor ao que foi 
representado e ele deixar emergir suas próprias paixões 21 e se entregar a uma descarga 
emocional prazerosa e salutar. 
 
Com o passar dos tempos, foram várias as considerações em torno do prazer 
advindo da fruição de uma obra de arte. Para citar um filósofo mais recente e polêmico, 
lembremos Adorno22, para quem a sensação de prazer diante de uma obra, na atualidade, 
já deporia contra seu caráter verdadeiramente artístico, provando apenas sua 
palatabilidade, o que em última instância quer dizer apropriada ao consumo. Portanto para 
Adorno a fruição seria a negação da arte. 
 
Dada a dificuldade, mas também a necessidade, de utilizarmos o termo, esclarece-
se que a fruição de um texto literário diz respeito à apropriação que dele faz o leitor, 
concomitante à participação do mesmo leitor na construção dos significados desse mesmo 
texto. 
 
Quanto mais profundamente o receptor se apropriar do texto e a ele se entregar, 
mais rica será a experiência estética, isto é, quanto mais letrado literariamente o leitor, 
mais crítico, autônomo e humanizado será. Mas esta informação serve para apontar o futuro 
a ser planejado para aqueles que querem atingir o grau elevado de proficiência em leitura 
autônoma e crítica de uma obra de arte. 
 
É importante oferecer esta opção que vai requerer uma atitude de leitor contumaz, 
ao longo da própria vida. Mas ao término da Educação Básica, quando os alunos se 
preparam para as provas seletivas com conteúdos tão variados, o professor de Literatura 
 
21 Pa ixão - Emoção ou sent imento mui to for te (amor , ód io , dese jo e tc . ) , capaz de a l te ra r o 
compor t amento, o rac ioc ín io , a luc idez : De ixa r -se l evar pe las pa ixões . O que causa padec imento. 
22 Theodor W. Adorno ( 1903 – 1969) foi filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. Adorno valoriza a linguagem 
artística, a qual consegue expressar as irracionalidades, contradições e estranhamentos dos sujeitos, sem violentá-las por meio 
de conceitos. Ao erigir os seus próprios significados, cada obra de arte cria o seu mundo interno (ser-para-si), sem necessidade 
de se espelhar em objetos externos e incorrer em violência cognitiva 
 
 
 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/1903
https://pt.wikipedia.org/wiki/1969
https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Musicologia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Compositor
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha
 
 
33 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
deve ter a prudência na hora de fazer a indicação de leituras, pois se exagerar, será grande 
o risco de insucesso. 
 
 Quanto ao estudante de Letras, a expectativa é diferente. Ao término do curso, ele 
precisa atingir um certo grau de autonomia para a busca de referências e para conferir 
sentido ao que lê. Mesmo que seu repertório de leituras ainda esteja em formação, o 
estudante pode praticar com crônicas, poemas, letras de música, desde que esse repertório 
limitado, vá se ampliando com o passar os anos, a fim de criar referências que possam 
indicar a presença de intertextualidades em um texto. 
 
 Afinal, para o professor de literatura competente, não bastam o diploma e o histórico 
escolar de seu curso de Letras. Para ser professor de literatura, exige-se a honestidade de 
que seja leitor assíduo, atualizado, com disponibilidade de ampliar sua fruição ante as 
linguagens experimentais da atualidade. Ser leitor proficiente de literatura, requer um alto 
investimento pessoal de horas e horas de leitura, numa sociedade de baixo letramento e 
que supõe que o leitor, sentado numa cadeira, em silêncio, lendo, é apenas uma pessoa 
que “não está fazendo nada”. Para a maioria das pessoas ler é não fazer nada... 
 
 Da tríade autor/obra/público, o leitor vem sendo analisado e conceituado não só por 
meio das chamadas teorias da recepção, como também por outras linhas críticas da 
atualidade, para as quais não apenas autor e texto merecem atenção da crítica, mas esse 
terceiro elemento forma com os outros o campo de estudo da crítica, da teoria e da história 
da Literatura. O leitor e a leitura tornam-se, hoje, objetos de reflexão teórica, até mesmo no 
interior do próprio texto literário. 
 
 
Por meio da leitura, dá-se a concretização de sentidos múltiplos, originados em 
diferentes lugares e tempos. Hoje a noção de texto se amplia: o que antes era considerado 
fixo e imutável passou a ser “espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se 
contestam escrituras variadas, das quais nenhuma é original” (BARTHES, 1988). 
 
 
 
34 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Bakhtin, ao desenvolver o conceito de polifonia23, chamando a atenção para a 
dimensão dialógica do texto, apontou para sua pluralidade discursiva, que ultrapassa os 
limites da estrutura interna da obra, estendendo-se à leitura alcançando a voz do leitor. A 
palavra plural, requer uma leitura também múltipla, não mais regulada pela busca do 
significado único ou pela verdade interpretativa, mas atenta às relações e às diferentes 
vozes que se cruzam nos textos literários. 
 
Nas discussões sobre o caráter plural da leitura, uma pergunta deve ser feita: a leitura 
do texto literário possibilita a irrefreável disseminação de sentidos, tantos quantos forem os 
leitores que o fertilizem com seu olhar? Umberto Eco, em seu famoso livro Obra aberta, 
coloca definitivamente em cena a relação fruitiva dos receptores, quando ainda eram as 
obras estudadas como um cristal, ou seja: como estruturas fechadas em suas relações 
internas. Eco, motivado pela polêmica gerada pelo seu conceito de obra aberta, questiona: 
“[...] é possível fazer tão decididamente a abstração de nossa situação de intérpretes, 
situados historicamente, para ver a obra como um cristal?”24 (ECO, 1969). Ver a obra de 
literatura como obra aberta indicava as novas formas de arte contemporâneas, tendo como 
eixo a relação obra–leitor. 
 
Vinte anos depois de escrito o primeiro ensaio que resultaria em Obra aberta (1969), 
Umberto Eco, em Lector in fabula (1986), dialoga com seu livro que primeiro colocou a 
questão da “abertura” da obra de arte, tentando mostrar como a solicitação da cooperação 
do leitor já era estratégia do texto colocada pelo autor. Posteriormente, em Interpretação e 
superinterpretação (1993), o autor retoma mais uma vez, na tentativa de desfazer equívocos, 
seu conceito de obra aberta: 
a) Toda obra de arte é aberta porque não comporta apenas uma interpretação; 
b) A "obra aberta" não é uma categoria crítica, mas um modelo teórico para 
tentar explicar a arte contemporânea;23 a polifonia textual apresentada por Mikhail Bakhtin, é uma característica dos textos em que estão presentes diversas vozes. O termo 
polifonia é formado pelos vocábulos “poli” (muitos) e “fonia” (relativo ao som, voz). A polifonia aponta a presença de obras ou referências 
que aparecem dentro de outra. È a presença da intertextualidade. 
 
24 Crista l , metá fo ra para uma obra be la e t rans lúc ida, mas de dureza que res is te o manuse io , impenet ráve l . 
Eco defende que as obras podem e dev em ser penet radas por múl t i p las le i tu ras . 
 
 
35 Teoria Crítico Literária 
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c) Qualquer referencial teórico usado para analisar a arte contemporânea não 
revela suas características estéticas, mas apenas um modo de ser dela 
segundo seus próprios pressupostos. 
d) A intencionalidade é considerada um pressuposto da obra aberta. Além de 
toda obra possibilitar várias interpretações, a obra aberta apresenta-se de 
várias formas e cada uma delas se submete ao julgamento do público. 
 
 
 
 
36 Teoria Crítico Literária 
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8. TEXTO 8 
“O texto literário resulta de uma vontade de comunicação. Mas 
aquilo que o define é, mais do que a vontade de comunicação, a 
sua capacidade de significar. É esta característica que o 
distingue de qualquer texto normal, puramente utilitário.” 
Yvette Centeno, Docente da Universidade de Lisboa 
 
 Até a primeira metade do século XX permanecia o conceito positivista de literatura, 
que se baseava nas referências teóricas do positivismo que oferecia os mesmos critérios 
para a crítica literária. A ideia darwinista de sobrevivência das espécies passou a ser 
utilizada como referência para sobrevivência de uma obra: as melhores e mais fortes 
sobrevivem no tempo; a valoração da raça como fator de formação da literatura; a 
construção de uma história literária se confundindo com a própria história do país. Isso 
reforçava a ligação entre Literatura e História. No entanto, na segunda metade daquele 
século dois movimentos de teoria e crítica literária realizaram uma ruptura como o conceito 
positivista: o Formalismo Russo e o New Criticism. 
 
Estes movimentos partem do princípio de que os textos literários possuem 
características estruturais peculiares que os diferenciam inequivocamente dos textos 
não-literários, por esse motivo é possível estabelecer a definição de um determinado 
referencial de literatura capaz de sustentar a ideia de que a literatura deve ser definida 
como modalidade específica da linguagem verbal, relacionando-se com a linguística. 
 I - Para os formalistas russos, a linguagem literária é resultado de uma função 
específica da linguagem verbal. E a partir da constatação de que no ato de comunicação, 
há presença de seis elementos, que são: 
a) emissor: é aquele que envia a mensagem (pode ser uma única pessoa ou um 
grupo de pessoas). 
b) mensagem: é o conteúdo (assunto) das informações que ora são transmitidas ou 
se refere ao objeto ou a situação a que a mensagem se refere. 
c) receptor: é aquele a quem a mensagem é endereçada (um indivíduo ou um grupo), 
também conhecido como destinatário. 
d) canal de comunicação: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. 
e) código: é o conjunto de signos e de regras de combinação desses signos utilizados 
para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor irá decodificar. 
 
 
37 Teoria Crítico Literária 
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 - Funções de Linguagem https://www.todamateria.com.br/funcoes-da-
linguagem/ acesso em 03 de setembro de 2019 
 
 Para Roman Jakobson, a comunicação verbal pressupõe a interação de seis fatores, 
sendo que cada um deles origina uma função linguística específica. Mesmo ocorrendo a 
presença de mais do que uma função sempre haverá uma delas predominando: 
• A função expressiva (ou emotiva) está centrada no emissor; a primeira pessoa 
do singular é algumas vezes uma indicação desta função. 
• A função conotativa está orientada para o destinatário, aqui a presença, ou do 
outro (Tu ou Vós) é mais evidente. É a quem dirigimos a mensagem. 
• A função referencial (denotativa ou cognitiva) está orientada para o contexto; 
refere-se ao assunto, ao que está nos rodeando. 
• A função fática ocorre em mensagens que têm por finalidade estabelecer, 
prolongar ou interromper a comunicação, isto é, verificar se o processo funciona; 
testa se o canal está funcionando e se o receptor tem condições de receber a 
mensagem. 
• A função metalinguística está centrada no código, ocorre quando “o emissor e/ou 
o receptor julgam necessário averiguar se ambos utilizam na verdade o mesmo 
código” (Jakobson) 
• A função poética está centrada na própria mensagem. 
 
A este propósito, Todorov afirma: “A literatura é uma linguagem não instrumental e 
o seu valor reside nela própria” (TODOROV, 1978: 18). 
https://www.todamateria.com.br/funcoes-da-linguagem/
https://www.todamateria.com.br/funcoes-da-linguagem/
 
 
38 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Tanto no Formalismo Russo como no New Criticism, “a função poética é a que volta 
a atenção sobre a própria “mensagem”” (TODOROV, 1978). 
 
 II - A maior contribuição do New Criticismo para a leitura crítica do poema consiste 
na definição da autonomia do texto literário, que passou a ser entendido como uma 
entidade independente, livre das supostas relações determinantes da sociedade com o 
artista e deste com o texto e se empenhar na formulação de uma teoria objetiva da arte. 
 
T.S.Eliot 25recusou a ideia de poesia como expressão da personalidade do poeta, 
concebendo-a como resultado consciente do trabalho do espírito, que organiza as 
experiências da personalidade. Em vez de entender o poema como consequência de 
sentimentos pessoais, ele passou a encará-lo como uma forma de apropriação pessoal da 
tradição literária, em que a visão individual das coisas deve, essencialmente, se transformar 
em sabedoria técnica. Resumindo: não se admite, portanto, nenhum outro tipo de 
informação para além do que o que está contido no próprio texto. 
 
Dois conceitos introduzidos na Teoria da Literatura pelos teóricos do New Cristicism 
são: 
• O correlato objetivo. Trata-se da criação de um conjunto de objetos, de uma 
série de eventos, de uma situação ou de uma paisagem com o poder de 
despertar no leitor a emoção desejada. O poeta seleciona e dispõe os elementos 
de tal forma, que, uma vez vislumbrados na leitura, desencadeiam imediata 
reação emocional. 
• Close Reading, ou seja, a correta leitura que deve fundar-se em pressupostos 
objetivos, consagrados pelo sistema de uma teoria aplicável a qualquer texto e 
à disposição de qualquer pessoa com um mínimo de condições técnicas para o 
exercício da leitura. Esse exercício consiste no exame minucioso do poema, 
cuja forma os novos críticos entendem como um organismo dinâmico, regido por 
tensões e ambiguidades. Entender o poema equivale a resolver essas 
 
25 Thomas Stearns Eliot crít ico l iterário recebeu o Prêmio Nobel de 
Literatura de 1948. Wikipédia 
acesso em 3 de set, 2019 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/T._S._Eliot
 
 
39 Teoria Crítico Literária 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
ambiguidades, estabelecidas pela relação entre as diversas unidades 
semânticas do texto, que independem do sentimento do autor, mas que podem 
decorrer de sua consciência estrutural no momento da composição 
 
John Crowe Ramsom, responsável pelo nome do movimento, propõe a ideia de que 
todo poema deve ser abordado como se fosse um pequeno drama, uma história em que se 
destacam um falante, uma estória e sua transmissão a um suposto ouvinte. Tais 
componentes integram a situação ficcional de qualquer poema. Essa noção é importante, 
pois, segundo ela, o poema seja lírico,

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