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Fundamentos da Teoria Literária

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Unidade 1
Livro Didático Digital
Talita Jordina Rodrigues
Fundamentos da 
Teoria Literária
Fundamentos da 
Teoria Literária
Talita Jordina Rodrigues
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autora
TALITA JORDINA RODRIGUES
A AUTORA
Talita Jordina Rodrigues
Olá. Meu nome é Talita Jordina Rodrigues. Sou mestra em Literatura 
pela Universidade Federal de Santa Catarina e especialista em Cinema e 
Linguagem Audiovisual. Além disso, já cursei duas graduações: a primeira 
foi em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo e a segunda 
foi em Letras e Literaturas de Língua Portuguesa. Sigo sendo estudante, 
estou prestes a concluir mais uma graduação, dessa vez em Filosofia. 
Atuei como jornalista em redações de rádio e de televisão por seis anos. 
Também fui produtora cultural, tendo produzido projetos nas áreas de 
Literatura, Cinema e Comunicação. Já ganhei dois prêmios literários e 
dirigi um documentário audiovisual chamado Do tacho à mesa. Como 
pesquisadora, já publiquei dois livros didáticos e diversos artigos em 
revistas científicas da área das Letras.
Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência 
de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui 
convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores 
independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de 
muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
INTRODUÇÃO:
para o início do 
desenvolvimento de 
uma nova compe-
tência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA:
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou dis-
cutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das últi-
mas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO:
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
O que é Literatura? ..................................................................................... 10
As Funções da Linguagem de Jakobson ........................................... 19
A Poética de Aristóteles ...........................................................................32
Crítica e Teoria Literária ...........................................................................43
Fundamentos da Teoria Literária 7
LIVRO DIDÁTICO DIGITAL
UNIDADE
01
Fundamentos da Teoria Literária8
INTRODUÇÃO
Você deve se lembrar das aulas na escola em que se falava sobre 
a “pré-história”. Esse termo na verdade estava se referindo a um período 
da história da humanidade anterior à invenção da escrita. Isso mesmo! 
Uma das mais importantes divisões na linha do tempo da história mundial 
é norteada por essa habilidade tão importante no desenvolvimento 
humano: escrever e, como consequência, ler. Não é à toa que hoje, em 
pleno século XXI, você esteja se dedicando a estudar um pouco desse 
universo, o universo das palavras, em especial das palavras escritas. E 
esse universo é tão, tão rico que certamente você vai se encantar cada 
vez mais. 
Está preparado? Então, vamos juntos nesse mergulho!
Fundamentos da Teoria Literária 9
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar 
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o 
término desta etapa de estudos:
1. Apreender alguns conceitos dados ao termo “literatura”.
2. Conhecer a teoria das Funções da Linguagem de Roman 
Jakobson.
3. Discutir os conceitos centrais da teoria Estética de Aristóteles.
4. Conseguir observar as diferenças e as semelhanças entre os 
conceitos de Crítica e Teoria.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? 
Ao trabalho! 
Fundamentos da Teoria Literária10
O que é Literatura?
INTRODUÇÃO:
Ao final desta unidade, você será capaz de refletir melhor 
sobre o conceito de Literatura, assim como sobre os 
conceitos de Teoria e de Crítica Literária. Ao longo desse 
percurso inicial, trabalharemos com questões que formam 
a base dos estudos literários. Essas discussões, porém, 
jamais serão uma etapa vencida em sua trajetória na 
busca pelo conhecimento. Ao contrário! Muitas discussões 
iniciadas aqui acompanharão você pelo resto da vida. 
Então, vamos começar?
Se um extraterrestre chegasse à Terra e nos perguntasse o que é um 
sapato, por exemplo, seríamos capazes de explicar a ele com facilidade. 
Poderíamos dizer, sem especificar muito, que um sapato é uma peça do 
vestuário usada para proteger os pés. Logo em seguida, poderíamos dar 
a ele um exemplo, mostrando um tênis ou uma bota. Contudo, se esse 
mesmo extraterrestre nos pedisse para explicar o que significa a literatura, 
não seria tão simples construir uma definição precisa e rapidamente 
compreensível. Poderíamos ir a uma biblioteca e mostrar a ele as 
prateleiras repletas de livros, mas essa ação tampouco seria satisfatória. 
Isso porque dela surgiriam de imediato os seguintes problemas:
Problema nº 1: nem todos os livros impressos podem ser 
considerados literatura;
Problema nº 2: Nem toda literatura é impressa ou sequer escrita.
Em relação ao primeiro problema, basta passar um tempo em 
uma biblioteca ou em uma livraria para notar a diferença entre livros de 
botânica, por exemplo, e livros de poemas ou romances. As prateleiras, 
normalmente, são dividas em uma configuração geral que separa livros 
técnicos de literários. Nesse caso, os livros de botânica estariam no 
primeiro grupo, e os romances e os poemas, no segundo. 
Fundamentos da Teoria Literária 11
Figura 1 : Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro
Fonte:https://bit.ly/2GvPy2D
Em relação ao segundo problema colocado acima, ou seja, que 
nem toda literatura é impressa ou sequer escrita, basta pesquisarmos 
sobre a história da própria literatura, da própria escrita e da própria 
impressão, para vermos que a arte literária parece ter sido criada antes ou 
de maneira independente à escrita ou ao texto impresso. Diversas obras 
são anteriores à invenção da chamada imprensa, criada por Gutemberg, 
e muitas delas foram inventadas e repassadas apenas oralmente, mesmo 
no tempo em que o homem já dominava a escrita manual. A elaboração e 
a reprodução de histórias orais eram bastante frequentes na antiguidade, 
na Idade Média e até mesmo no início da Modernidade. Esse formato era, 
por exemplo, aquele adotado pelo poeta grego Homero que escreveu os 
clássicos Odisseia e Ilíada em forma de cantos, para serem repassados 
oralmente acompanhados de uma música.
https://bit.ly/2GvPy2D
Fundamentos da Teoria Literária12
VOCÊ SABIA?
A Odisseia e a Ilíada são consideradas as primeiras obras 
literárias do Ocidente. As duas obras, que hoje podem ser 
encontradas em livros volumosos, foram escritas em versos 
ritmados por volta do século VIII a.C. Acredita-se, porém, 
que essas histórias já faziam parte da tradição oral da época 
e que o autor Homero só as organizou e passou para o 
papel, dando, é claro, o seu toque inventivo e criativo. Na 
época, a escrita e a leitura não eram popularizadas como 
são hoje em dia. Por causa disso, era frequente que poemas 
e histórias fossem contadas em forma de música como 
uma maneirade decorá-los e preservá-los mais facilmente. 
Ainda em relação ao problema de a literatura não ser apenas 
impressa e escrita, a própria expressão “literatura oral” é capaz de reafirmar 
essa ideia. Há tempos se reconhece como literatura as fábulas, as lendas 
e os mitos que foram inventados pelas pessoas e transmitidos oralmente. 
Pensemos no folclore brasileiro, por exemplo. Não sabemos quem 
inventou a história do saci-pererê, mas sabemos que ela passou a ser 
contada e recontada de diversas maneiras pelas pessoas, sempre fazendo 
referência a um menino negro, muito travesso, que tem uma perna só e 
usa um gorro vermelho. Para além das histórias brasileiras, clássicos da 
literatura infantil mundial também foram criados e transmitidos oralmente, 
muito antes de chegarem às estantes das livrarias. É o caso da famosa 
história de João e Maria, publicada pela primeira vez pelos irmãos Grimm, 
dois escritores que pesquisaram sobre as narrativas da tradição oral e as 
colocaram em livros.
Testando: Como essas histórias que nasceram da oralidade não têm 
uma autoria definida, elas podem ser contadas de maneiras diferentes. 
Procure, por exemplo, livros do clássico João e Maria em bibliotecas e/ou 
em livrarias. Você verá que, em essência, eles contam a mesma história, 
mas as palavras usadas para contá-la são totalmente diferentes. Muitas 
vezes há também a diferença de alguns elementos e detalhes da própria 
narrativa, como um objeto ou um personagem secundário.
Fundamentos da Teoria Literária 13
Sabemos, então, que os livros impressos não são a principal 
referência para determinar o que é ou o que não é literatura. Muitas vezes, 
o livro pode ser o instrumento pelo qual temos acesso à literatura, mas 
também podemos ter acesso a ela de outras maneiras, como por meio 
de um recital ou até mesmo de uma peça de teatro. Igualmente, sabemos 
que o livro pode servir como instrumento para outros tipos de textos que 
não sejam literários. Como dissemos, as livrarias estão repletas de livros 
que não pertencem ao universo ou à “categoria” da literatura.
Para definir literatura temos, então, que pensar além do suporte, 
além do instrumento usado para transmiti-la. A partir daí, poderíamos 
dizer que um texto é ou não literário por seu conteúdo, ou seja, pelo tema 
abordado dentro dele. Isso, porém, é uma definição ainda mais frágil, já 
que é possível encontrar textos literários que tratam de infinitas coisas, 
desde elementos fantásticos, como unicórnios ou animais falantes, até 
cenas da vida cotidiana de um cidadão comum em uma cidade qualquer. 
Logo, poderíamos dizer de início que não se pode definir a literatura a partir 
da ideia de tema, mas é possível pensar em uma definição que trate da 
ideia de conteúdo de uma maneira mais ampla. Isso porque entendemos 
que a literatura é criada, inventada, imaginada. E não é necessariamente 
um fato verídico.
Com isso, chegamos à primeira definição possível do que é literatura:
DEFINIÇÃO:
a literatura está ligada à ideia de ficcionalidade; uma obra 
literária é uma obra de ficção.
A ficção é, portanto, uma maneira possível de conceituar a literatura. 
Quando pensamos em ficção, porém, não estamos querendo dizer que 
se trata de uma história que não tenha nenhuma relação com o universo 
real, com a vida cotidiana ou com aquilo que chamamos de realidade. 
Para explicar essa relação, o pensador italiano Umberto Eco utilizou a 
metáfora de um bosque. Segundo ele, quando lemos um texto literário 
Fundamentos da Teoria Literária14
temos uma experiência como a de adentrar a um bosque: não sabemos o 
que nos espera, mas vamos aos poucos nos ambientando, caminhando, 
conhecendo e nos habituando com o cenário proposto. Assim, entendemos 
que: se aceitarmos entrar nesse universo, aceitaremos também tudo o 
que está contido nele. 
Parece incoerente aceitar o convite para passear em um bosque e 
depois ficar bravo por encontrar uma árvore ou um pássaro, por exemplo. 
O mesmo ocorre quando começamos a ler um conto ou um romance. 
Fechamos um pacto com a obra e passamos a aceitar o que nela 
está contido. Assim, se nos propusermos a ler um conto de fadas, por 
exemplo, aceitaremos também que dentro desse universo pode haver 
seres mágicos como as próprias fadas. Ou gnomos. Ou animais falantes. 
Isso porque sabemos que, em geral, os contos de fadas mobilizam esse 
tipo de imaginário mais fantasioso.
SAIBA MAIS:
Uma corrente literária surgida na América Latina no 
século XX ficou muito famosa por mesclar elementos do 
mundo real com acontecimentos ditos “fantásticos”, ou 
seja, impossíveis de acontecer no mundo material. Esse 
movimento recebeu o nome de “Realismo Mágico” ou 
“Realismo Fantástico” e teve como principal expoente o 
escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do 
Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Sua obra-prima se 
chama Cem anos de solidão e tem todos os elementos 
do Realismo Mágico. O texto é divertidíssimo e vale a pena 
conferir!
Apesar de toda a liberdade criativa e inventiva que um texto literário 
possa ter, isso não quer dizer que ele não deva ter nenhum compromisso 
com o universo real e material. Ao contrário, todos os textos seguem uma 
lógica tanto interna quanto externa. Assim, quando estamos lendo uma 
narrativa em que os animais podem falar, entendemos que qualquer 
animal que venha a surgir dentro da história terá a mesma habilidade da 
Fundamentos da Teoria Literária 15
fala. Caso essa lógica interna seja quebrada, parece necessário que haja 
uma explicação, ou seja, que a própria história relate os motivos pelos 
quais tal animal pode falar e tal animal não pode. Se isso não ocorrer, o 
texto parecerá ao leitor algo inverossímil, ilógico, sem sentido.
Da mesma maneira que é necessário haver uma lógica interna, ou 
seja, uma coerência dentro do universo (ou do bosque) literário, deve 
haver também uma coerência em relação ao que está fora do universo 
ficcional. Segundo Umberto Eco, isso acontece de maneira natural em 
todo tipo de texto, uma vez que, para ele, toda ficção é uma espécie de 
parasita da realidade. Nesse ponto, cabe lembrar-se de uma excelente 
definição que o grande crítico brasileiro Antonio Candido deu a respeito 
da literatura em um de seus textos.
DEFINIÇÃO:
 Definição de Antonio Candido: “A literatura corresponde 
à necessidade universal de dar forma à fantasia, inclusive 
(talvez sobretudo) a fim de compreender melhor a realidade. 
A sua natureza reside neste paradoxo.” (CANDIDO, 1995).
Portanto, fantasia e realidade são categorias que não se anulam 
quando estamos tratando de ficção. Assim, por mais que uma narrativa 
contenha um número alto de elementos e de personagens fantasiosos, 
ela sempre estará ancorada em ideias que estruturam nosso mundo real 
e material.
Fundamentos da Teoria Literária16
ACESSE:
Para você pensar sobre essa mescla entre elementos 
mágicos e não mágicos, assista ao filme O labirinto do 
fauno. A obra dirigida por Guilhermo del Toro é um clássico 
do cinema e apresenta uma perfeita simbiose entre fantasia 
e realidade. Procure perceber quais são os elementos do 
nosso mundo material que ajudam a ancorar a narrativa, e 
a lógica interna da história, ou seja, aquela dada mesmo a 
partir dos elementos mágicos.
Em resumo, o que estamos querendo distinguir aqui são os 
conceitos de veracidade e de verossimilhança. Veracidade é um 
substantivo derivado da palavra “verdade” e que tem a pretensão de 
englobar aquilo que tenha a ver com a realidade, com o verdadeiro e, em 
última instância, com o confiável, do ponto de vista do mundo material. 
Já a verossimilhança está mais ligada à lógica ou apenas à proximidade 
com a realidade. Para que fique mais clara essa distinção, observemos as 
definições do dicionário:
DEFINIÇÃO:
 Definição 1: Veracidade – qualidade do que é verdadeiro ou 
verídico; apego à verdade; exatidão, fidelidade.
 Definição 2: Verossimilhança – qualidade do queé 
verossímil; que parece ser verdadeiro; provável; em que não 
repugna acreditar; plausível; crível.
Sendo assim, não podemos dizer que uma história como a 
Chapeuzinho Vermelho não tem tanta veracidade, mas podemos dizer 
que nela há verossimilhança porque se trata de uma história que tem sua 
lógica interna, tem sua coerência. Sendo assim, adentrar em um bosque 
ficcional – para usar a expressão de Umberto Eco novamente – significa 
esquecer-se da veracidade, mas estar sempre atento à verossimilhança.
Fundamentos da Teoria Literária 17
Se pegarmos os personagens da Disney como exemplo para essa 
discussão, notaremos que o Pluto é perfeitamente verídico: trata-se de 
um cachorro que age como agiria um cachorro em nosso mundo real. 
Ele anda sobre quatro patas, gosta de comer ossos e, em geral, não 
usa roupas ou sapatos. Porém, se compararmos a figura do Pluto com 
a do Pateta, o conjunto de personagens da Disney parece inverossímil, 
já que ambos são cachorros, mesmo tendo atitudes e características 
completamente diferentes. 
Figura 2 : Pluto e Pateta
Fonte: https://bit.ly/34rx7nF
O personagem Pateta, ao contrário do Pluto, anda sobre duas 
pernas, usa roupas, fala e come como um homem. É claro que ele é 
caracterizado como alguém muito mais atrapalhado do que um homem 
normal, mas ainda assim suas características estão mais próximas de 
uma figura humana do que de uma figura animal. Se esses personagens 
aparecessem em uma narrativa escrita e fossem descritos igualmente 
como cachorros, o narrador da história certamente teria que explicar 
os motivos pelos quais suas características são tão distintas, ou pelo 
menos porque um pode falar e o outro não. É claro que, no caso dos 
personagens da Disney, a forma como os personagens são desenhados 
https://bit.ly/34rx7nF
Fundamentos da Teoria Literária18
manipula nossa visão sobre a lógica interna da história. É por isso que 
muitas crianças gostam do Mickey e da Minnie sem perceber que eles 
são, na verdade, ratinhos. 
Independentemente desses detalhes, tanto Mickey, quanto Minnie 
ou Pateta e Pluto são personagens ficcionais. A ficção é, como íamos 
dizendo, uma forma de conceituar a literatura. Mas o fato de o Mickey ou o 
Pateta terem sido inventados não faz deles necessariamente personagens 
literários. Isso porque, além do conteúdo ficcional, a literatura tem outra 
característica importante de ser conceituada: a forma. Quer dizer, quando 
estamos ouvindo uma música, sabemos que estamos diante de um objeto 
artístico que conhecemos como música. Quando estamos assistindo 
a uma peça de teatro, identificamos esse espetáculo como sendo algo 
pertencente à categoria da arte chamada “teatro”. Sabemos tudo isso 
devido a uma forma ou, podemos dizer também, uma fórmula mais ou 
menos parecida.
Para compreender melhor o que é, afinal, o elemento “forma” dentro 
desse universo tão complexo chamado literatura, leia primeiramente os 
exemplos dados pelo crítico inglês Terry Eagleton:
A literatura transforma e intensifica a linguagem comum, 
afastando-se sistematicamente da fala cotidiana. Se alguém 
se aproximar de mim em um ponto de ônibus e disser: “Tu, 
noiva ainda imaculada da quietude”, tenho consciência 
imediata de que estou em presença do literário. Sei disso 
porque a tessitura, o ritmo e a ressonância das palavras 
superam o seu significado abstrato – ou, como os linguistas 
diriam de maneira mais técnica, existe uma desconformidade 
entre os significantes e os significados. Trata-se de um tipo 
de linguagem que chama a atenção sobre si mesma e exibe 
sua existência material, ao contrário do que ocorre com frases 
como: “Você não sabe que os motoristas de ônibus estão em 
greve?” (EAGLETON, 2006, p. 3)
Essa concepção de que a linguagem literária é facilmente 
reconhecível porque ela se difere de outras formas de comunicação entre 
as pessoas começou a ser elaborada por um linguista russo chamado 
Roman Jakobson. É sobre sua teoria que vamos falar a seguir.
Fundamentos da Teoria Literária 19
As Funções da Linguagem de Jakobson
INTRODUÇÃO:
para o início do desenvolvimento de uma nova competência. 
Roman Jakobson foi um estudioso da linguagem que 
elaborou diversas teorias importantes e que revolucionou 
os estudos linguísticos e literários no século XX. É dele 
uma teoria linguística muito famosa que trata das “funções 
da linguagem”, que afirma que existem seis funções da 
linguagem humana:
1. Função emotiva
2. Função conativa
3. Função metalinguística
4. Função fática
5. Função referencial
6. Função poética
Cada uma dessas funções pensadas por Jakobson seria explicada 
por um dos elementos que compõem o sistema de comunicação. 
De acordo com as teorias de comunicação, para ocorrer um processo 
comunicativo é necessário que se observe os seguintes elementos:
1. Emissor – aquele que passa a mensagem.
2. Receptor – aquele a quem a mensagem se dirige.
3. Código – o signo utilizado para passar a mensagem.
4. Canal – o meio utilizado para passar a mensagem.
5. Referente/contexto – situação comunicativa em que estão inseridos 
o emissor e o receptor.
6. Mensagem – o que se quer passar.
Fundamentos da Teoria Literária20
Figura 3 : O processo de comunicação inclui o emissor, o receptor, o código, o canal, o 
contexto e a mensagem
Fonte:https://bit.ly/2SrOQ91
Portanto, as funções da linguagem seriam seis, assim como 
também são seis os elementos do processo comunicativo. Dessa forma, 
Jakobson entende que cada função da linguagem está centrada em um 
dos elementos, como mostra o quadro abaixo:
Quadro 1 : As funções da linguagem relacionadas com o elemento do sistema comunicativo 
ao qual elas mais se aproximam
EMOTIVA 





EMISSOR
CONATIVA RECEPTOR
METALINGUÍSTICA CÓDIGO
FÁTICA CANAL
REFERENCIAL CONTEXTO
POÉTICA MENSAGEM
O professor da Universidade de Yale, Paul Fry, em um curso 
ministrado sobre Teoria Literária, utiliza a frase “Está chovendo” como 
exemplo para explicar as funções da linguagem propostas por Jakobson. 
A partir dessa expressão, ele nos faz perceber que é possível produzir 
pelo menos seis sentidos diferentes utilizando a mesma frase, de acordo 
com a ênfase dada aos elementos da comunicação em cada situação. 
https://bit.ly/2SrOQ91
Fundamentos da Teoria Literária 21
Vamos tomar emprestado esse exemplo para refletirmos sobre todas as 
funções da linguagem, uma a uma.
Para a função emotiva, por exemplo, como ela está centrada 
na figura do emissor da mensagem, poderíamos pensar em um poeta 
romântico falando a frase “está chovendo”. Um poeta romântico é alguém 
cuja necessidade maior é expressar os sentimentos de seu “eu lírico”, ou 
seja, de sua própria subjetividade, de suas angústias etc. Nesse caso, 
se um poeta romântico diz, em sua obra, a frase “está chovendo”, ele 
provavelmente estará querendo dizer algo como “está chovendo em meu 
coração” ou “a chuva expressa minhas desilusões” etc. Quer dizer, quando 
a mensagem está centrada no “eu”, ou seja, no emissor, ela em geral 
denota alguma emoção, daí essa função ser chamada de emotiva. 
Figura 4 : O poeta pobre, de Carl Spitzweg
Fonte:https://bit.ly/2HSQ0YY
No caso da função conativa, a ênfase está no receptor da mensagem. 
Imaginemos, então, uma mãe que vê seu filho se preparando para sair de 
casa em direção à escola. Ela diz a ele a frase: “Está chovendo!”. O menino 
https://bit.ly/2HSQ0YY
Fundamentos da Teoria Literária22
compreende, então, que ele deve pegar o guarda-chuva antes de sair, ou 
trocar de roupa, vestir um casaco, colocar uma galocha, ou qualquer coisa 
assim. Ora, nesse caso estamos tratando de uma espécie de comando 
para alguém, mais precisamente para o receptor da mensagem. Esse 
comando é o que define a função conativa.
Figura 5 : Imagem ilustrativa para a função conativa
Fonte:https://bit.ly/2GtD9fp
A metalinguística, porém, não é tão simples de ser explicada a 
partir da fórmula “está chovendo”. Isso porque essafunção não costuma 
ser utilizada no nosso dia a dia dessa maneira, em forma de uma frase. 
A metalinguagem é, na verdade, aquilo que define com palavras o 
significado de outras palavras. A função metalinguística está presente, por 
exemplo, nos dicionários. Sabemos que uma palavra é uma espécie de 
código inventado e convencionado dentro de uma língua. Em português, 
quando ouvimos a palavra “chover”, logo pensamos na imagem da chuva, 
ou seja, de um momento e lugar em que está caindo gotas de água do 
céu. Isso ocorre porque já sabemos o significado do verbo “chover”. Caso 
não saibamos o que significa “chover”, teremos que acionar a função 
metalinguística da linguagem, procurando o termo no dicionário de modo 
que ele defina “chover” utilizando um determinado conjunto de palavras. 
https://bit.ly/2GtD9fp
Fundamentos da Teoria Literária 23
Figura 6 : Função metalinguística
Fonte: https://bit.ly/30xKUYv
Em relação à função fática, ela é uma espécie de “teste” para verificar 
o meio, ou o canal, de transmissão da mensagem. Antes de se apresentar, 
um músico costuma testar o microfone, por exemplo, dizendo “teste, 
um, dois, testando...”. A função dessa ação comunicativa é puramente 
testar o canal, ver se é possível estabelecer uma comunicação dali em 
diante. Agora imaginemos um casal que se encontra em um elevador, 
ficam interessados um pelo outro, mas não sabem como começar uma 
conversa. Alguém poderia dizer, como é bastante comum, inclusive, a 
frase “Está chovendo, não é?”. E logo o outro responderia “É verdade! Está 
chovendo”. Ora, nesse caso as duas pessoas não estão tentando informar 
um dado preciso sobre a meteorologia, mas sim tentando estabelecer 
um contato inicial, ver se o canal de comunicação poderá funcionar mais 
adiante.
Exemplo: Em 1999, um comercial de televisão lançado no Brasil se 
tornou um dos mais famosos vídeos da história da publicidade brasileira. 
Ele foi feito para uma marca de refrigerante de laranja chamada Sukita, 
em que era apresentada uma conversa corriqueira em um elevador. A 
https://bit.ly/30xKUYv
Fundamentos da Teoria Literária24
cena era a seguinte: um homem de meia idade tentava puxar assunto 
com uma menina mais jovem que pegava o elevador com ele. Na cena, a 
moça quase não responde à tentativa de comunicação do homem até o 
momento em que o interrompe dizendo: “tio, aperta o 20 para mim?”. O fato 
de ela chamá-lo de “tio” frustra o sujeito que estava querendo conquistá-
la. Mas o fato é que essa propaganda demonstra precisamente a função 
fática da linguagem, ou seja, quando pelo menos um dos interlocutores 
está tentando estabelecer uma comunicação dizendo frases ou fazendo 
perguntas que são quase retóricas, ou seja, que não se espera resposta.
Figura 7 : Comercial de 1999 como exemplo da função fática da linguagem
Fonte: https://bit.ly/33CZ3G9
Quando falamos da função referencial, em contrapartida, pensamos 
em uma ação comunicativa que tem o referente ou o contexto como 
elemento central. Nesse caso poderíamos pensar em um meteorologista 
falando a expressão “está chovendo” para colegas de trabalho, por exemplo. 
A função da linguagem nesse exemplo é meramente informativa, ela tem 
apenas a intenção de informar, de transmitir uma informação que pode 
ser verificada. Se um meteorologista diz a alguém que está chovendo, 
https://bit.ly/33CZ3G9
Fundamentos da Teoria Literária 25
essa pessoa não suspeita que ele esteja querendo dizer outra coisa se 
não que nesse exato momento está caindo água do céu. Não há, nesse 
caso, um sentido escondido, ao contrário, a mensagem tenta ser precisa 
porque tem a função de informar.
Figura 8 : Exemplo de função referencial 
Fonte:https://bit.ly/3ll4YWh
A função poética da linguagem seria, enfim, a presente na literatura, 
ou seja, aquela que dá forma à arte literária, que a distingue de todas 
as outras formas de comunicação. Um texto literário pode apresentar 
elementos e seres fantásticos, como fadas e duendes. Um texto literário 
também pode expressar sentimentos humanos por meio de palavras 
rimadas, como é frequente em poemas românticos. Além disso, pode 
narrar uma situação extremamente corriqueira de alguém comum, 
como uma senhora indo comprar verduras em uma feira. De todas essas 
maneiras – e de muitas outras – um texto literário se distinguirá de outros 
gêneros do discurso. Essa distinção, segundo a teoria das funções da 
linguagem, diz respeito à forma do texto literário, assim como tem a ver 
também com sua gênese que é estar focada na mensagem, ou seja, no 
texto em si.
https://bit.ly/3ll4YWh
Fundamentos da Teoria Literária26
NOTA:
Gêneros do discurso são formas de comunicação que 
costumam ser estudados dentro de um subcampo da 
Linguística chamado “Análise do Discurso”. Nesse caso, os 
exemplos são muito mais abrangentes do que os gêneros 
literários. Eles podem ser bulas de remédio, manuais de 
aparelhos digitais ou até mesmo frases proferidas durante 
uma cerimônia de casamento . Quer dizer, os gêneros 
do discurso podem ser encontrados por toda parte, e há 
um campo do conhecimento responsável por analisá-
los e compreendê-los. Muitos desses discursos diversos 
são capazes de ajudar cientistas sociais e antropólogos a 
desvendar os mistérios do comportamento humano, assim 
como os mistérios acerca das formas de interação social. 
Em geral, os gêneros do discurso têm uma finalidade 
prática na vida em sociedade, diferente da literatura, que 
não tem esse mesmo compromisso.
Para recapitular um pouquinho, vamos lembrar que a função poética 
é uma das seis funções da linguagem elaboradas pelo linguista Roman 
Jakobson, cuja intenção inicial era de demonstrar que os processos 
comunicativos têm funções limitadas de acordo com os elementos que 
compõem esse processo de comunicação (emissor, receptor, código, 
canal, contexto e mensagem). Segundo essa ideia, cada uma dessas 
funções pode ser identificada no dia a dia, sendo uma delas a arte literária. 
A função poética representa, então, a situação social em que se encontra 
a literatura. Essa situação ocorre quando o foco do processo comunicativo 
está na mensagem, ou seja, quando o que está em jogo mesmo é o texto. 
Apenas o texto. Ou melhor: a arte do texto, a arte de organizar as palavras 
de tal maneira a provocar uma experiência estética.
Fundamentos da Teoria Literária 27
IMPORTANTE:
A função poética tem o nome que remete ao gênero lírico, 
ou seja, “poético”, mas é muito importante pensarmos que 
ela não se restringe apenas a esse tipo de texto. A função 
poética engloba todo tipo de texto literário, seja ele rimado 
ou não, versificado ou não, e assim por diante. Em resumo, 
a função poética da linguagem é encontrada tanto em 
poemas quanto em contos ou em romances. 
Voltando ao exemplo proposto pelo crítico Paul Fry, a frase “está 
chovendo” também pode ser encontrada em uma situação em que 
identificamos a função poética, dentro de um texto literário, tanto de 
poesia quanto de prosa, e a apreciaremos como se aprecia uma obra de 
arte, porque ela faz parte de um contexto estético. 
Figura 9 – Licença poética - chuva
Fonte: @freepik
Fundamentos da Teoria Literária28
Para ficar mais claro o que estamos dizendo sobre a função poética, 
leia os dois trechos abaixo, que foram extraídos do clássico da literatura 
Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez. O romance, que é 
situado na cidade fictícia de Macondo, narra em determinado momento 
a vida dos habitantes durante um período intenso de chuvas na região.
Exemplo 1:
Não fosse por esse padecimento que nada teria tido de 
pudendo para alguém que não estivesse doente também de 
pudicícia, e se não fosse a perda das cartas, Fernanda não teria 
se importado com a chuva, porque afinal de contas toda a sua 
vida tinha sido como se estivesse chovendo. Não modificou os 
horários nem perdoou os ritos. Quando a mesa ainda estava 
suspensa sobre tijolos e as cadeiras colocadassobre tábuas 
para que os comensais não molhassem os pés, ela continuava 
servindo com toalhas de linho e louça chinesa, e acendendo os 
candelabros no jantar, porque achava que as calamidades não 
podiam servir de pretexto para o relaxamento dos costumes. 
(MÁRQUEZ, 2002)
Exemplo 2:
O Coronel Gerineldo Márquez atendeu naquela tarde a um 
chamado telegráfico do Coronel Aureliano Buendía. Foi uma 
conversa de rotina que não havia de abrir nenhuma brecha 
para a guerra estancada. Ao terminar, o Coronel Gerineldo 
Márquez contemplou as ruas desoladas, a água cristalizada 
nas amendoeiras, e se encontrou perdido na solidão. 
— Aureliano — disse tristemente no manipulador — está 
chovendo em Macondo. Houve um longo silêncio na linha. De 
repente, os aparelhos saltaram com os signos desapiedados 
do Coronel Aureliano Buendia. 
— Não seja boboca, Gerineldo — disseram os signos. —É 
natural que esteja chovendo em agosto. 
Fundamentos da Teoria Literária 29
Fazia tanto tempo que não se viam que o Coronel Gerineldo 
Márquez se desconcertou com a agressividade daquela 
reação. Entretanto, dois meses depois, quando o Coronel 
Aureliano Buendía voltou a Macondo, o desconcerto se 
transformou em espanto. (MÁRQUEZ, 2002)
Depois de tudo isso, você deve estar pensando: e se um romance 
narrar a cena de uma mãe sugerindo ao filho que pegue um guarda-chuva 
ao pronunciar a frase “está chovendo”? Essa situação que utilizamos acima 
como exemplo para a função fática da linguagem demonstra um foco 
voltado para o receptor da mensagem. Nesse caso, estaríamos diante da 
função fática ou da função poética da linguagem? O próprio Jakobson já 
comenta esse problema ao apresentar sua teoria:
As particularidades dos diversos gêneros poéticos implicam 
uma participação, em ordem hierárquica variável, das outras 
funções verbais a par da função poética dominante. A poesia 
épica, centrada na terceira pessoa, põe intensamente em 
destaque a função referencial da linguagem; a lírica, orientada 
para a primeira pessoa, está intimamente vinculada à função 
emotiva; a poesia da segunda pessoa está imbuída de 
função conativa e é ou súplice ou exortativa, dependendo 
de a primeira pessoa estar subordinada à segunda ou esta à 
primeira. (JAKOBSON, 1995, p. 128)
RESUMINDO:
Em resumo, é natural que determinado gênero literário 
faça uso de uma ou de outra função da linguagem que 
não seja a função poética. Isso porque a literatura empresta 
discursos variados presentes no mundo. Mas o fato de 
estarmos diante de um texto literário faz com que estejamos 
necessariamente diante da função poética da linguagem 
sob o ponto de vista mais amplo. Um texto pode narrar a 
cena de uma mãe orientando o filho quanto à chuva, mas 
se ele é considerado literário, o foco continua sendo a 
mensagem, e não o receptor da mensagem pronunciada 
pela personagem “mãe”. 
Fundamentos da Teoria Literária30
O foco de um texto que pertence à função poética está na forma 
e nos motivos pelos quais o autor escreveu determinada cena dessa 
maneira e não de outra. Há de se pensar, portanto, em uma hierarquia 
das funções da linguagem. Elas podem ser utilizadas dentro de um texto 
literário, mas se estamos lendo um texto literário, o que predomina é a 
função poética.
Exemplo: Tomemos como exemplo a obra do escritor e humorista 
brasileiro Millôr Fernandes. Frequentemente, ele publicava, em suas 
colunas de revistas ou de jornais, textos que imitavam a linguagem de 
dicionários. Ele escrevia definições engraçadas e incomuns para palavras 
cotidianas. Esse conjunto de textos em forma de dicionário chegou 
a ser reunido em um livro chamado “Millôr definitivo: a bíblia do caos”. 
Observe abaixo alguns dos verbetes encontrados nessa obra e note como 
o texto parece pertencer à função metalinguística, mas que na verdade 
corresponde à poética se olharmos de maneira mais ampla. 
DICIONÁRIO – As palavras nascem saudáveis e livres, crescem 
vagabundas e elásticas, vivem informes, informais e dinâmicas. 
Morrem quando contraem o câncer do significado definitivos e 
são recolhidas ao CTI dos dicionários.
DIETA – Quem acredita em dieta engole qualquer coisa.
LIVRO – Livro não enguiça.
PESSIMISTA – Pessimista é o único que está preparado para 
ser otimista quando seu pessimismo der certo. (FERNANDES, 
2007)
O fato de a função poética estar centrada na mensagem, ou seja, na 
forma do próprio texto, faz com que Jakobson seja um formalista, isto é, 
um integrante do grupo de teóricos da literatura cujo entendimento maior 
era de que a forma era o elemento mais importante em um texto literário. 
Naturalmente, essa não é a única maneira de compreender um texto, mas 
ela serve muito bem para seguirmos com nosso desafio de conceituar a 
literatura. Assim, a partir da teoria das Funções da Linguagem de Roman 
Jakobson, chegamos à segunda definição de literatura.
Fundamentos da Teoria Literária 31
DEFINIÇÃO:
 Definição 2: a literatura emprega a linguagem de maneira 
peculiar; a literatura é a arte da palavra.
Sendo assim, agora entendemos a literatura como um texto 
ficcional cuja forma emprega uma linguagem peculiar, diferindo-se de 
outras linguagens cotidianas, de modo que acaba sendo considerada 
uma arte. Mas, como já dissemos, há inúmeras outras formas de se 
conceituar a literatura, assim como as artes em geral. Uma das mais 
antigas e importantes maneiras de conceituação da arte literária vem 
da Antiguidade Clássica Grega, mais precisamente do grande filósofo 
Aristóteles. É o que veremos na sequência.
Fundamentos da Teoria Literária32
A Poética de Aristóteles
INTRODUÇÃO:
A chamada Antiguidade Clássica Grega foi o berço da Filosofia. 
Foi nessa época e lugar que Tales de Mileto, considerado 
o primeiro filósofo da história, elaborou o seu pensamento 
e deu início a uma nova forma de produzir conhecimento. 
Foi na Grécia Antiga também que nasceram aqueles que 
mais tarde se tornariam os pilares do pensamento Ocidental: 
Sócrates, Platão e Aristóteles. O primeiro não deixou nada 
escrito, mas boa parte de seu pensamento foi registrado nas 
obras de seu mais importante aluno: Platão. Aristóteles, por 
sua vez, foi uma espécie de discípulo de Platão, embora não 
concordasse com todas as posições defendidas por Platão. 
Esses dois últimos, ao contrário de Sócrates, deixaram 
muitos escritos. Aristóteles, especialmente, produziu 
inúmeras obras sobre assuntos diversos, cuja maioria hoje 
constitui subcampos de estudos dentro da Filosofia. Um 
desses subcampos é o da Estética, disciplina filosófica que 
procura refletir sobre a arte.
EXPLICANDO MELHOR:
Se você for estudar Filosofia de maneira sistemática, 
verá que ela tem uma subdivisão de acordo com temas. 
A Filosofia Política, por exemplo, é uma dessas áreas. 
Nela estão contidos textos como A República, de Platão; 
O Príncipe, de Maquiavel; e Leviatã, de Thomas Hobbes. 
Como o próprio nome diz, a Filosofia Política trata de 
questões acerca da política, desde seu conceito até sua 
aplicação na vida em sociedade. Há ainda disciplinas como 
a Ontologia, a Lógica, a Ética e a Estética. Essa última, de 
que estamos tratando aqui, é o campo filosófico no qual 
só se estuda objetos artísticos. De acordo com o Dicionário 
de Filosofia de Nicola Abbagnano, o verbete “estética” tem 
primordialmente a seguinte definição:
Fundamentos da Teoria Literária 33
Com esse termo designa-se a ciência (filosófica) da arte e do belo. 
[...] Dissemos “arte e belo” porque as investigações desses dois objetos 
coincidem ou, pelo menos, estão estreitamente mescladas na filosofia 
moderna e contemporânea. (ABBAGNANO, 2012)
Aristóteles não foi o primeiro a falar sobre estética ou sobre arte de 
uma maneira geral. No famoso texto A República, escrito por Platão antes 
de Aristóteles escrever a sua Poética, já há a menção ao campo da arte 
e ao universo dos artistas ou artesãos. Apesar dessas menções em sua 
obra, Platão não chegou a esboçar uma teoria ou umpensamento mais 
desenvolvido ou específico sobre a literatura ou sobre a arte como um 
todo. Em geral, a ideia que temos sobre o que ele pensava das artes é 
extraída de sua teoria geral sobre os objetos do mundo. É por causa disso 
que o livro chamado Poética, de Aristóteles, acabou sendo considerado a 
primeira obra de Teoria Literária da história. Quer dizer, se formos mapear 
o pensamento sobre a arte, poderemos extrair, como já mencionado, 
algumas ideias da obra geral de Platão, mas se formos mapear obras que 
exclusivamente se dedicaram a refletir sobre esse campo, encontraremos 
em Aristóteles a pioneira.
Figura 10 : Escola de Atenas, com Platão e Aristóteles ao centro
Fonte: https://bit.ly/3nsWUon
Um dado muito curioso sobre essa obra de Aristóteles é que, apesar 
de ter sido escrita por volta de 330 a.C., ela ficou esquecida por muito 
https://bit.ly/3nsWUon
Fundamentos da Teoria Literária34
tempo, resgatada apenas depois do fim da Idade Média, ou seja, mais ou 
menos no século XV. Durante o período de dominação da Igreja Católica 
na Europa, muitos textos filosóficos da antiguidade se perderam e outros 
foram guardados por árabes e outros povos não cristãos, como ocorreu 
com a Poética. Apesar de termos tido a sorte de contar com povos que 
preservaram o texto de Aristóteles e de outros filósofos, a Poética não 
chegou intacta à Era Moderna. Quando sua primeira edição foi reproduzida 
em grego, já no Renascimento, ela não estava mais completa, ou seja, 
estavam faltando partes. O que estudamos, portanto, é o que seria a 
primeira parte da Poética de Aristóteles.
ACESSE:
O mistério envolvendo a segunda parte da Poética de 
Aristóteles inspirou o enredo de um dos clássicos da 
literatura mais recente. O crítico e escritor italiano Umberto 
Eco escreveu o romance O nome da rosa, colocando nele 
a suposta ideia de que a segunda parte da Poética estaria 
escondida em um monastério. Nesse romance de Eco, 
diversos monges morrem por causa do misterioso texto 
aristotélico. A obra foi também adaptada para o cinema em 
1986. Tanto o livro quanto o filme são uma ótima opção para 
aprender e ao mesmo tempo se divertir.
Uma das coisas que chama a atenção quando se começa a ler a 
Poética é a ausência da palavra “literatura”. Logo nas primeiras páginas, 
encontramos a seguinte menção:
A arte que se utiliza apenas de palavras, sem ritmo ou 
metrificadas, estas seja com variedade de metros combinados, 
seja usando uma só espécie de metro, até hoje não recebeu 
um nome. (ARISTÓTELES, 2014, p. 19)
Fundamentos da Teoria Literária 35
IMPORTANTE:
Ora, é importantíssimo nos situarmos no tempo para 
lembrarmos que, na época de Aristóteles, não havia livros 
impressos, e os escritos à mão eram raríssimos. Em resumo, 
o próprio exercício de ler não era popularizado. As pessoas 
em geral não liam, não eram alfabetizadas. Sendo assim, as 
formas de literatura eram as faladas oralmente, cantadas 
junto com instrumentos musicais, ou então encenadas. 
Quanto a esses gêneros literários mais predominantes 
na antiguidade abordaremos na próxima unidade. Por 
enquanto, é importante você pensar que toda a teoria de 
Aristóteles está baseada na poesia épica cantada e no texto 
dramático encenado. Tudo aquilo que se afasta da música 
ou do teatro seria, então, para Aristóteles era algo que 
ainda não tinha nome, mas que entrava no mesmo grupo 
da arte poética em geral. Hoje em dia, esse “geral” é o que 
chamamos de Literatura.
SAIBA MAIS:
Não foi só a Filosofia um campo importante que a Grécia 
Antiga nos deu. O teatro grego desse período também 
foi e continua sendo um marco da história do mundo e 
das artes. Entre os dramaturgos mais importantes estão 
Sófocles, Ésquilo e Eurípedes. As peças escritas por esses 
autores, além de outros que fizeram sucesso no período, 
são encenadas e estudadas até os dias de hoje. Elas são 
também, em parte, filosóficas, pois em geral tratam de 
questões universais e atemporais. 
Fundamentos da Teoria Literária36
Ainda no início de seu texto Poética, Aristóteles apresenta os dois 
principais temas de que pretende tratar ao longo das páginas seguintes: 
a tragédia e a comédia.
NOTA:
É, obviamente, por causa dessa apresentação que se 
pode especular o assunto de que trataria a segunda parte 
“perdida” do texto de Aristóteles.
Segundo o filósofo, a tragédia seria a produção voltada para a ação, 
ou seja, uma peça de teatro ou até mesmo uma epopeia que focasse seu 
enredo em um acontecimento. Do outro lado, a comédia, seria aquele 
texto cujo foco estivesse voltado para determinado personagem cômico, 
isto é, uma peça de teatro ou uma epopeia que se preocupasse em 
construir “tipos”, personagens caricatos da sociedade, provocando o riso 
e a identificação das pessoas.
É também logo no início de sua Poética que Aristóteles faz sua 
definição maior sobre a arte da escrita, seja ela em formato de poesia, 
de teatro ou de qualquer outro gênero que até mesmo viria a surgir 
posteriormente. Para ele, a arte poética ou literária, como chamamos 
hoje em dia, é uma imitação da realidade. Para usar o termo grego, que 
também é bastante difundido, para Aristóteles, a arte é uma espécie de 
mímesis da realidade. 
IMPORTANTE:
A palavra imitação, ou mímesis, é o ponto alto da definição 
de Aristóteles para a Literatura. Em qualquer discussão 
sobre o entendimento que o filósofo tinha a respeito da arte 
literária, é fundamental utilizar esse conceito de imitação.
Fundamentos da Teoria Literária 37
Então, quando falamos na palavra “imitação”, pensamos logo 
em alguém imitando outra pessoa de maneira caricata e engraçada. 
Essa ideia pode ser aplicada ao gênero da comédia, mencionado por 
Aristóteles. Mas, na verdade, a definição de imitação para ele vai muito 
além disso: quer dizer que o termo “imitação” serve para todo tipo de arte. 
Isso porque, para Aristóteles, todas as artes são produzidas com vistas 
para elementos da realidade. Isso serviria para a dança, cujos movimentos 
podem ser pensados a partir de pessoas, de animais, de plantas ou de 
qualquer objeto do mundo. Essa ideia de imitação também serviria para 
a pintura, cujas representações seriam sempre de cenas ou de coisas 
que podem ser encontradas no mundo. Por fim, essa ideia de imitação 
também estaria relacionada aos textos em geral, desde os escritos, até os 
cantados ou encenados.
Figura 11 : Imitação é o conceito chave para compreender a teoria Estética de Aristóteles
Fonte: https://bit.ly/2SspcRh
A imitação é, portanto, aquilo que une todas as artes. Em outras 
palavras, é o ponto em comum que todas as artes têm entre si, segundo 
o filósofo grego Aristóteles. Para ele, as artes vão se distinguir entre 
elas apenas pelos meios, maneiras e objetos utilizados para produzir a 
imitação. Em sua Poética, ele afirma o seguinte:
A epopeia, o poema trágico, bem como a comédia, o ditirambo 
e, em sua maior parte, a arte do flauteiro e a do citaredo, 
https://bit.ly/2SspcRh
Fundamentos da Teoria Literária38
todas vêm a ser, de um modo geral, imitações. Diferem 
entre si em três pontos: imitam ou por meios diferentes, ou 
objetos diferentes, ou de maneira diferente e não a mesma. 
(ARISTÓTELES, 2014, p. 19)
Em resumo, Aristóteles acredita que cada arte escolhe seu jeito de 
imitar a realidade. A mímesis é algo inerente à arte e, portanto, definidora 
dela. Sendo assim, podemos dizer que chegamos, nesta unidade, a uma 
terceira maneira de conceituar a literatura:
DEFINIÇÃO:
 Definição 3: literatura é mímesis; literatura é a representação 
ou a imitação da realidade.
Naturalmente, você deve estar pensando agora que essa 
definição não se aplica a tudo o que está no mundo. Como já falamos, 
há textos literários que representam seres e objetos fantásticos, mágicos, 
inventados. Nesse caso, o texto não estaria representando ou imitando 
algo da realidade, não é mesmo? Pensando dessa maneira, é claro que a 
definição de Aristóteles não fazsentido, mas, se observarmos de maneira 
mais ampla o objeto representado pela obra literária, veremos que há, 
sim, uma intenção de imitar a realidade. Por exemplo, a clássica história 
da Chapeuzinho Vermelho: parece pouco provável que quem a inventou 
tenha mesmo se inspirado em um fato que aconteceu de verdade. Não 
parece verídico que um lobo fale, nem que seja possível resgatar do 
interior de sua barriga uma senhora idosa que acabou de ser engolida.
Fundamentos da Teoria Literária 39
Figura 12 : Chapeuzinho Vermelho
Fonte:https://bit.ly/33Ay9P7
Contudo, o que realmente a história de Chapeuzinho Vermelho está 
querendo representar é uma situação que se pode observar no mundo. 
A narrativa não quer simplesmente mostrar lobos que falam ou vovós 
que são engolidas, mas também representa uma cena de desobediência 
e suas implicações. Em resumo, essa história é de uma menina que 
desobedece sua mãe, pegando o caminho que não deveria, e pagando 
um preço por isso. Isso é, de certa forma, a imitação da realidade, já que 
esse tipo de situação é recorrente no mundo. É claro que as situações 
de desobediência de filhos em relação aos seus pais não ocorrem dessa 
maneira, com a inclusão de fatos fantásticos, mas isso não deixa de 
representar uma coisa do mundo.
https://bit.ly/33Ay9P7
Fundamentos da Teoria Literária40
REFLITA:
Será que é possível mesmo pensar em todo e qualquer objeto 
estético ou artístico a partir da ideia de mímesis elaborada 
por Aristóteles? Procure pensar em filmes que você já viu, 
quadros famosos da história da arte que conhece, peças de 
teatro às quais assistiu ou até mesmo livros que já leu. Agora 
reflita: em que medida eles imitam a realidade? O conceito 
de mímesis pode ser aplicado a eles?
Além de mímesis, também é possível encontrar outo conceito 
chave na obra aristotélica que trata do campo da Estética, isto é, das artes: 
catarse. Essa ideia está ligada aos sentimentos que a experiência estética 
pode provocar no espectador. Quer dizer, uma obra de arte, segundo a 
ideia de Aristóteles, é capaz de provocar ou de despertar sentimentos 
diversos em um ser humano. Essa espécie de enxurrada de emoções de 
absolutamente toda natureza, boa ou ruim, é o que chamamos de catarse. 
DEFINIÇÃO:
Catarse é a:
libertação do que é estranho à essência ou 
à natureza de uma coisa e que, por isso, a 
perturba ou corrompe. Esse termo, de origem 
médica, significa “purgação”. [...] Aristóteles 
utilizou amplamente esse termo em seu 
significado médico, nas obras sobre história 
natural, como purificação ou purgação. Mas foi 
o primeiro que o usou para designar também 
um fenômeno estético, qual seja, uma espécie 
de libertação ou serenidade que a poesia e, 
em particular, o drama e a música provocam 
no homem. (ABBAGNANO, 2012)
Catarse não quer dizer, portanto, apenas se emocionar ao assistir a 
uma peça de teatro julgada “bonita”, por exemplo. A ideia vai além disso. 
A catarse é o resultado de uma provocação que mobiliza uma mistura 
complexa de sentimentos humanos e ao mesmo tempo os expurga, 
coloca-os para fora do corpo. 
Fundamentos da Teoria Literária 41
SAIBA MAIS:
Muitos séculos depois de Aristóteles escrever a Poética, 
um dos maiores dramaturgos da modernidade ficou muito 
conhecido por questionar e tentar reconfigurar a ideia da 
catarse aristotélica, o alemão Bertolt Brecht. Ele acreditava 
que a ideia antiga de catarse contribuía para formar 
espectadores e também cidadãos passivos, ou seja, que 
não conseguiam pensar ou tomar uma atitude frente aos 
problemas. Era muito comum que, em suas peças, Brecht 
tentasse quebrar essa sensação de passividade, rompendo 
com a ordem natural da narrativa. Muitas vezes ele mudava 
todo o espaço do teatro durante a peça ou interrompia a 
atuação e provocava espectadores. 
Como já mencionamos, a tragédia é o gênero que recebe mais 
atenção de Aristóteles, pelo menos no trecho que sobrou da Poética. 
O conceito de catarse surge precisamente a partir desse gênero tão 
importante para o filósofo grego. Ela seria, então, o objetivo final de uma 
peça teatral classificada como “trágica” dentro da concepção aristotélica. 
Figura 13 : A ideia de catarse relacionada com o que uma obra de arte é capaz de provocar 
no espectador ou no público
Fonte:https://bit.ly/3iAyo0A
https://bit.ly/3iAyo0A
Fundamentos da Teoria Literária42
Catarse e mímesis são, portanto, os dois principais conceitos que 
podemos extrair da teoria estética e literária de Aristóteles. E é com 
essa volta ao passado que encerramos, por ora, as discussões sobre os 
possíveis conceitos de literatura. Na sequência discutiremos as noções 
de teoria e de crítica literária, mas antes de seguirmos adiante, que tal 
fazermos uma breve recapitulação? 
RESUMINDO:
Uma das primeiras maneiras de conceituarmos a literatura 
é a partir de uma das faces de seu conteúdo, que diz 
respeito à falta de compromisso que a literatura tem com 
o universo material ou real. Sendo assim, a primeira coisa 
que podemos dizer sobre um texto literário é que ele é 
ficcional. Mas, além disso, sabemos que a literatura se 
difere de outras maneiras de comunicação também pela 
sua forma. Em outras palavras, é possível identificar o que 
é uma bula de remédio, o que é um manual de instruções 
de um equipamento eletrônico e o que é um conto ou 
uma poesia, porque cada um desses textos têm formas 
diferentes. Para justificar essa ideia, o linguista Roman 
Jakobson elaborou a teoria das Funções da Linguagem, 
em que identificou as funções: emotiva, conativa, 
metalinguística, fática, referencial e poética. Essa última 
foca na mensagem e se encontra em textos literários. A 
partir disso, compreendermos que a literatura é aquilo que 
emprega a linguagem de maneira peculiar, sendo, portanto, 
a arte das palavras. Outra maneira de pensar a literatura é a 
partir da ideia de Aristóteles, de que ela é sempre a imitação 
de alguma coisa do mundo. A mímesis seria, então, uma 
característica inerente e também definidora da arte literária. 
Fundamentos da Teoria Literária 43
Crítica e Teoria Literária
INTRODUÇÃO:
Agora que já temos uma ideia do que é a literatura, 
tentaremos esboçar também algumas ideias dos campos 
que se dedicam a observar essa arte. Frequentemente, 
as noções de Crítica e de Teoria literária se misturam e 
se confundem. Isso é natural, e tentaremos esclarecer os 
motivos pelos quais isso ocorre e os pontos específicos 
em que ambos os campos se encontram. Para começar, 
vamos observar as definições que o dicionário nos dá para 
os verbetes “crítica” e “teoria”:.
DEFINIÇÃO:
Crítica: arte de julgar uma obra de caráter intelectual, 
artístico ou literário; apreciação de uma criação intelectual, 
artística ou literária; julgamento; análise. Conjunto das 
pessoas que exercem a atividade de crítico. Juízo moral ou 
intelectual.
Teoria: sistema coerente dos conceitos, princípios e técnicas na base 
de determinado objeto de estudo. Conhecimento sistematizado sobre 
determinado domínio. Ideia ou sistema que resultam da especulação 
ou de conjecturas. Hipótese não testada experimentalmente que se 
apresenta como explicação de determinada circunstância ou fenômeno 
em relação aos quais existem dúvidas.
A partir desses conceitos preliminares, parece coerente dizermos 
que a Crítica é algo mais particular, mais específico, enquanto a Teoria seria 
“um sistema”, como o próprio dicionário diz. Quer dizer, a Teoria seria algo 
menos particular do que a Crítica, algo mais amplo, mais genérico, que 
serve para um maior número de casos. Essa divisão parece interessante 
e muito apropriada para começarmos o processo de distinguir a Teoria 
Fundamentos da Teoria Literária44
da Crítica literária. O problema é que, na prática, isso nem sempre ocorre, 
como explica o teórico francês Antoine Compagnon:
A confusão é mais embaraçosa na medida em que as palavras 
crítica literária são elas também utilizadas num sentido geral 
e num sentido particular:elas designam ao mesmo tempo a 
totalidade do estudo literário e sua parte que diz respeito ao 
julgamento. (COMPAGNON, 2010, p. 200)
O que Compagnon diz é que, por mais que tentemos dizer que a 
Crítica é particular e a Teoria é geral, sempre vai haver aqueles que utilizam 
o termo “Crítica” de maneira genérica, ou seja, para todo e qualquer caso. 
Isso ocorre, naturalmente, porque o exercício da Crítica é, ou pelo menos 
foi durante um período, algo mais popularizado, e também porque a 
Teoria literária como conhecemos hoje é um campo que se estabeleceu 
oficialmente há apenas cerca de um século. Essa confusão frequente não 
nos impede, obviamente, de tentar esboçar uma conceituação distinta 
para ambas as ideias, mas é importante que, de antemão, você saiba que 
poderá encontrar em alguns livros, matérias de jornais ou até mesmo 
na fala de conhecedores do campo noções diversas tanto para a Teoria 
quando para a Crítica.
Feito esse alerta, podemos seguir pensando na distinção desses 
dois conceitos da maneira como idealmente eles deveriam ser tratados. 
De um lado a Crítica literária que, como já mencionamos, trata de algo 
mais particular. Essa ideia de particularidade está ligada à análise de do 
conteúdo de uma obra. A Crítica, então, seria o exercício de observar 
criticamente um romance, um livro de contos, uma obra de poemas e 
assim por diante. Em geral, esse tipo de texto costuma ser encontrado em 
jornais impressos e, hoje em dia, em portais especializados.
Fundamentos da Teoria Literária 45
Figura 14 : Charge satiriza a noção de Crítica
Fonte: https://bit.ly/34lcKby
Porém, temos que tomar cuidado com a ideia negativa que a palavra 
“crítica” pode remeter. Um texto de jornal que é considerado uma Crítica de 
determinada obra literária, por exemplo, não tem necessariamente a função 
de criticar essa obra, ou seja, de falar da mal dela ou de salientar seus 
problemas. Essa ideia bastante genérica é falsa. Muitas críticas são feitas 
com o propósito de destacar boas qualidades de determinada obra ou de 
apresentar o que ela tem de melhor em contraponto com seus defeitos. 
NOTA:
No âmbito escolar, o exercício da Crítica também costuma 
estar presente, em geral com o nome “resenha”. Você 
deve se lembrar das vezes em que um professor ou uma 
professora passou um filme ou pediu para que os alunos 
lessem um livro e, em seguida, solicitou a tarefa de 
escrever uma resenha sobre tal objeto artístico. Podemos 
dizer que a famosa resenha escolar é uma forma de Crítica, 
uma vez que ela tem a intenção de fazer com que seu autor 
exponha suas impressões pessoais e analise de maneira 
crítica a obra escolhida. É claro que não se espera de um 
aluno o mesmo rigor com que se espera do texto de um 
sujeito que é oficialmente um Crítico literário. Ainda assim, 
a ideia de Crítica está presente na resenha escolar, isto é, 
suas intenções são basicamente as mesmas.
https://bit.ly/34lcKby
Fundamentos da Teoria Literária46
IMPORTANTE:
É importante pensar que uma Crítica de jornal pode ser 
compreendida como sendo parte do exercício jornalístico, 
embora não tenha a necessidade de ser assinada por um 
jornalista. Esse pertencimento ao campo jornalístico agrega 
à Crítica a necessidade de se buscar uma certa isenção no 
julgamento do objeto artístico.
Sendo assim, bons Críticos literários têm qualidades como as dos 
bons jornalistas, isto é, expõem da maneira mais objetiva possível os 
fatos que compõem o seu objeto de escrita. Nesse caso, a credibilidade 
do sujeito chamado de Crítico também é de extrema importância. 
Esses dois problemas são ironizados na tirinha acima. Primeiramente, 
podemos perceber nela a presença de um menino fazendo uma crítica 
que é, digamos, “negativa” a determinado livro, como se o exercício de 
fazer Crítica implicasse necessariamente o exercício de “não gostar” do 
objeto avaliado. Em uma segunda análise, percebemos também a ironia a 
respeito da falta de preparo e principalmente da falta de argumentos do 
“crítico” representado. Sobre isso, o crítico Fábio Akcelrud Durão faz uma 
observação:
O discernimento crítico depende de um emprego adequado, 
ou seja, desinteressado e descompromissado, da capacidade 
de análise e reflexão. Isso significa que, ao criticar determinada 
obra, deve-se tentar levar em consideração apenas ela mesma 
e não seu autor (de quem você pode discordar, ou mesmo 
odiar), público ou potencial comercial. (DURÃO, 2016, p. 14)
Para termos uma noção de como se produz uma Crítica literária, 
nada melhor do que ler atentamente uma.
Exemplo:
Crítica: ‘A noite da espera’ é um belo romance maturado aos poucos
Trama de Milton Hatoum gira em torno da ditadura no Brasil e da 
busca de um filho pela figura materna
Fundamentos da Teoria Literária 47
RIO — “Nem tudo é suportável quando se está longe.” Martim, o 
narrador do novo romance de Milton Hatoum, parece viver para comprovar 
essa afirmativa. Trata-se de um sujeito marcado pela falta — saudades 
da mãe, saudades do país distante, saudades de si. Martim circula entre 
dois tempos, cindido entre a memória da Brasília dos anos 1960 e a Paris 
dos 1970, ambientes mais do que familiares ao escritor amazonense. São 
espaços que já frequentou e lugares já visitados por sua prosa.
A trama gira em torno dos anos mais duros da ditadura no Brasil 
superposta à busca de um filho pela figura materna. Fruto da improvável 
união entre um conservador engenheiro da Escola Politécnica e uma 
professora de francês que o abandona por um novo amor, o personagem 
se vê obrigado aos 16 anos a rumar para Brasília em companhia do pai, 
vinculado ao projeto da construção da nova capital e entusiasta do 
governo militar. [...]
A noite da espera abre a série “O lugar mais sombrio”, projeto 
literário que prevê outros dois volumes, em que provavelmente outros 
fios narrativos serão convocados. O escritor vem maturando aos poucos 
a publicação de seus novos romances, na contramão de certa pressa do 
mercado editorial a exigir lançamentos a qualquer custo. É preciso dar 
tempo ao texto, já comentou certa vez Hatoum.
Talvez por carregar no próprio nome estreito vínculo com a luta, 
Martim (derivação de Marte, deus romano da guerra) habita sempre um 
lugar incômodo em relação à postura combativa. É soldado que não se 
lança à batalha, e parece nunca aderir por inteiro a ideologias: não é um 
líder, não milita sistematicamente — apenas levado pelas circunstâncias 
da vida e do tempo em que se encontra. Está por acaso nos lugares, se 
reúne com gente engajada contra o regime de exceção, mas o tempo 
todo sente medo e uma vaga sensação de paralisia. Um sujeito que deseja 
resistir por meio de palavras, toma notas, preenche cadernos e diários, 
mas padece com a imobilidade. Nessa falta de vigor reside um ganho na 
construção do protagonista, conferindo a ele dimensão complexa, porque 
mais humana. Acaso e deriva pautam suas ações. Como na cena em que 
adormece ao remar no Lago Paranoá e o vento leva o bote até o Palácio 
da Alvorada. Surpreendido pelos fuzis da guarda, termina preso.
Neste belo romance, a inação do narrador toma um sentido 
importante: causa permanente sentimento de inadequação, de ações a 
Fundamentos da Teoria Literária48
serem feitas, de livros a serem escritos, de conversas a serem travadas, 
de vidas a serem revolucionadas. “Entrei no quarto para escrever um 
poema sobre uma página de poesia planando na vastidão do cerrado. 
Fiquei pensando, não escrevi o poema. Nada”, reflete Martim.
Uma das razões dessa fragilidade reside na condição de fruto de 
um casal cujo segredo não nos é revelado. O silêncio sobre o rompimento 
dos pais, cada um à sua maneira, mina a força desse filho. E a espera pelo 
encontro sempre adiado com a mãe, Lina, é elemento desestruturante 
na educação sentimental de Martim. O tema é caro ao escritor, que já nos 
ofereceu grandes matriarcas em sua prosa, e filhos marcados por relações 
sempre erotizadas com essas mulheres. Assim foicom Emilie, de “Relato 
de um certo Oriente” (1989), desdobrada na Zana de “Dois irmãos” (2000).
Hatoum nunca escondeu ser a memória o motor de sua escrita. 
Sondar o passado, dar a ele novos sentidos, sempre foi a tônica de sua 
produção ficcional — a presença de marcadores temporais muito claros, 
datas, lugares, endereços, surge como desejo de segurar pela ponta dos 
dedos os acontecimentos. No entanto, a grafia do tempo sempre trapaceia. 
A pesada atmosfera familiar de culpa e de ausências abre espaço para a 
dúvida que permanece quando finda a leitura. Como em outros de seus 
livros, o final é aberto, e com isso ganha o leitor, tomando parte ativa ao 
completar lacunas. As perguntas importam mais do que a resposta.
Talvez Brasília seja mesmo o cenário da eclosão dessa crise, lugar 
que transita entre a promessa e a ruína, a redenção e a impossibilidade. 
Aqui ela é rota de fuga e cenário do fim do amor (a cidade, espaço ainda 
escassamente explorado na literatura brasileira, encontra na prosa de 
autores como Samuel Rawet, João Almino, Paloma Vidal e na poesia de 
Joaquim Cardozo e Nicolas Behr uma exceção). [...]
O escritor Julio Cortázar já chamara a atenção para o fato de que 
ler um livro é sempre botar o dedo no gatilho, multiplicando sua força 
explosiva. O gesto de resistir caminha de modo paralelo àquele de narrar 
— e a esse chamado a narrativa de Hatoum responde com um sonoro 
“sim”. (CHIARELLI, 2017)
A autora dessa Crítica sobre o romance A noite da espera, de Milton 
Hatoum, é a professora da Universidade Federal Fluminense, Stefania 
Chiarelli. Não se trata de uma jornalista escrevendo a Crítica, mas sim 
de uma especialista da área literária. É justamente nesse ponto que 
Fundamentos da Teoria Literária 49
encontramos uma possibilidade de distinção entre a Crítica e a Teoria. Em 
geral, a Crítica não tem a necessidade de ser feita por um acadêmico, 
ou seja, não precisa ter um rigor mais científico, embora hoje em dia 
seja comum os jornais convidarem especialistas oriundos do universo 
acadêmico que estudam a literatura, o teatro ou o cinema, por exemplo, 
para escreverem críticas sobre obras recentes dessas respectivas artes, 
como é o caso do exemplo acima. Essa configuração é bastante atual, 
visto também que os cursos de Letras e os programas de Mestrado e de 
Doutorado em Literatura são mais recentes do que o exercício jornalístico. 
Por causa disso, antes de existirem efetivamente os especialistas 
acadêmicos da área, já havia jornalistas, escritores ou intelectuais que 
produziam as críticas.
VOCÊ SABIA?
Você sabia que muitos escritores brasileiros que se 
tornaram grandes nomes da literatura tinham que trabalhar 
como jornalistas para ganhar dinheiro e sobreviver, já 
que era muito difícil viver apenas com a renda de suas 
publicações? Eles escreviam todo tipo de texto para o jornal 
e eram remunerados por isso. A crítica de arte em geral era 
um dos campos prediletos desses intelectuais da escrita. 
O famoso autor infantil, Monteiro Lobato, era uma dessas 
figuras. Em 1917, por exemplo, ele escreveu uma crítica de 
arte que provocou muita repercussão e é até hoje estudada 
e lembrada. Na época, a artista plástica Anita Malfatti havia 
aberto uma exposição com suas obras, e Monteiro Lobato 
publicou no jornal uma crítica bastante dura sobre ela. O 
texto se chama Paranoia ou Mistificação e apresenta uma 
visão ainda um pouco conservadora em relação à arte. É por 
causa da insatisfação em relação a esse conservadorismo 
que vários artistas se reúnem e acabam produzindo um 
dos mais importantes eventos brasileiros do século XX: a 
Semana de Arte Moderna de 22.
Fundamentos da Teoria Literária50
A Teoria, ao contrário da Crítica, é necessariamente produzida dentro 
do âmbito acadêmico. Há, portanto, um certo rigor em elaborar uma 
Teoria Literária ou, como também é chamada, uma Teoria da Literatura. 
A professora e pesquisadora Regina Zilberman apresenta esse campo da 
seguinte maneira:
A Teoria da Literatura é a ciência à qual compete estudar as 
manifestações literárias. Considerar a Teoria da Literatura 
uma ciência significa afirmar que corresponde a uma área de 
conhecimento que requer peritos (técnicos) detentores de 
competências especializadas para exercê-la. Se todo o leitor 
se posiciona perante obras literárias que leu, comentando-as 
e formulando juízos subjetivos, o teórico da literatura examina 
o mesmo material de modo objetivo, procurando descrever 
suas características mais constantes e as tendências vigentes 
para definir as marcas dominantes, apresentar propostas de 
interpretação e estabelecer padrões de qualificação. A Teoria 
da Literatura pode ser integrada às Ciências, porque classifica e 
ordena o material com que trabalha; e pertence, em especial, às 
Ciências Humanas porque interpreta e avalia o conjunto de obras 
que são o foco de sua investigação. (ZILBERMAN, 2012, p. 11)
A Teoria, portanto, se afasta do jornalismo e se aproxima da 
ciência. Sendo assim, o lugar onde podemos encontrar os teóricos é 
na universidade, e não mais nas redações de jornal, como o caso dos 
Críticos. Isso ocorre igualmente com o lugar onde se encontra os textos: 
eles não estão nas páginas de jornais ou nos portais de notícias, mas sim 
em revistas acadêmicas especializadas, em livros ou em conferências e 
comunicações orais de eventos acadêmicos.
Fundamentos da Teoria Literária 51
Figura 15 : Universidade de Yale, nos Estados Unidos, uma das principais referências em 
Teoria Literária
Fonte:https://bit.ly/2SvuwDG
Apesar de esse círculo de pessoas ser um pouco mais seleto, a 
Teoria pretende ser mais abrangente que a Crítica, como mencionamos 
no começo. Essa abrangência diz respeito ao caráter “extrínseco” que a 
Teoria pode ter, na contramão do caráter “intrínseco” que é inerente à 
Crítica. Como vimos acima, na fala do professor Fábio Durão, o crítico 
precisa se concentrar apenas na obra para escrever uma boa Crítica, 
seja ela literária, teatral ou sobre qualquer objeto artístico. Ele precisa se 
esquecer de diversos fatores que circundam essa obra analisada, como a 
biografia do autor, a expectativa de público ou até mesmo o potencial de 
venda e sucesso comercial da obra. Sendo assim, a Crítica se preocupa 
apenas com aquilo que é intrínseco do ponto de vista literário, ou seja, o 
que está no texto e nada além do texto.
Por outro lado, a Teoria é tão mais abrangente que pode se 
preocupar com aquilo que é intrínseco, isto, o que está no texto, e com 
questões extrínsecas a ele. Para dar um exemplo, existe um grupo de 
pesquisadores da literatura que estuda um elemento chamado “recepção”, 
tipo de estudo que se preocupa em como tal obra literária foi “recebida” 
https://bit.ly/2SvuwDG
Fundamentos da Teoria Literária52
em determinada época e lugar. Por exemplo, pode constituir um estudo 
de recepção a análise de como os leitores brasileiros começaram a ler a 
obra do dramaturgo inglês Willian Shakespeare. 
Sendo assim, a Teoria Literária pode teorizar sobre qualquer 
elemento que se relacione ou que possa se relacionar com o universo 
literário, desde a obra até o leitor, passando pelo autor e chegando até 
mesmo na própria Crítica. A Teoria não precisa se voltar apenas para uma 
obra específica. Por exemplo, vimos acima uma Crítica sobre um livro do 
autor brasileiro Milton Hatoum. No texto, há menção ao uso de elementos 
do campo da memória. Um teórico da literatura poderia, por exemplo, 
construir uma teoria sobre esse recurso dentro do campo literário e 
utilizar a obra de Hatoum como um dos exemplos. Ele, porém, não teria 
a necessidade de observar apenas esse texto, já que sua teoria deveria 
abranger, de certa maneira, um conjunto de produções literárias cujas 
características se aproximassem sob o ponto de vista da memória.
É comum vermos teorias literárias surgidas a partir do exercício da 
Crítica. Esse exercício, porém, não é o mesmo daquele cujo modelo é 
encontrado em jornais.Isso porque há também o que podemos chamar 
de “Crítica Acadêmica”, uma análise de determinada obra feita com um 
pouco mais de rigor científico. 
Exemplo: Um dos grandes nomes da Teoria da Literatura, o alemão 
Eric Auerbach, construiu uma de suas teorias mais famosas a partir de 
um texto literário específico. Sua teoria foi exposta no artigo chamado 
Mímesis: a representação da realidade na literatura ocidental. Esse texto 
começa com uma análise a respeito de uma cena do clássico Odisseia, 
de Homero. Como o próprio nome do artigo diz, há também uma tentativa 
de reavaliar a teoria aristotélica da imitação. O texto engloba, então, uma 
análise Crítica de uma obra específica, no caso, a obra de Homero, e a 
reformulação de uma teoria Estética, que é a teoria de Aristóteles. 
Ao longo dos nossos estudos daqui em diante, estaremos mais em 
contato, portanto, com a Teoria Literária ou a Teoria da Literatura. Veremos 
alguns elementos observados pelos acadêmicos que se debruçam sobre 
Fundamentos da Teoria Literária 53
a literatura, assim como algumas teorias importantes que fizeram parte 
da história.
RESUMINDO:
Chegamos ao fim desta unidade tão produtiva e importante. 
Você deve ter percebido que, embora tenhamos uma série 
de entendimentos sobre os conceitos básicos da Literatura, 
da Crítica e da Teoria, ainda seguimos problematizando 
essas ideias. Isso é natural no campo das Ciências, 
especialmente as Ciências Humanas, e mais ainda as 
disciplinas mais recentes das Ciências Humanas. Isso é, na 
verdade, uma ótima notícia, pois significa que você nunca 
ficará entediado e sempre terá opiniões e visões distintas 
para pesquisar e ler sobre esse assunto. 
Por ora, cabe fazermos um breve resumo daquilo que vimos e 
que certamente acompanhará você de agora em diante. Num primeiro 
momento, pensamos no conceito mais básico de literatura ligado à ideia 
de ficção. Isso quer dizer que pensamos na Literatura como algo inventivo 
e que, portanto, não tem grandes compromissos com o universo factual, 
material ou real. Depois mergulhamos na teoria de Roman Jakobson e 
descobrimos uma maneira de conceituar a literatura a partir de sua forma. 
Vimos as Funções da Linguagem e, dentre elas, a Função Poética que 
determina que a Literatura é algo que emprega a linguagem de maneira 
peculiar. Depois disso, passamos pelos conceitos de Mímesis e Catarse 
encontrados na teoria de Aristóteles. Por fim, discutimos um pouco sobre 
as possíveis diferenças entre Crítica e Teoria Literária.
Fundamentos da Teoria Literária54
REFERÊNCIAS
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Fontes, 2012.
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Longino. São Paulo: Cultrix, 2014.
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ocidental. São Paulo: Editora Perspectiva, 2013.
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Review, v. 32, no. 2, (1995), pp. 15-22.
CHIARELLI, S. Crítica: ‘A noite da espera’ é um belo romance maturado 
aos poucos. Adaptado de Jornal O Globo. 20 out. 2017. Disponível em: 
https://oglobo.globo.com/cultura/livros/critica-noite-da-espera-um-
belo-romance-maturado-aos-poucos-21969746. Acesso em: 29 set. 2020.
COMPAGNON, A. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo 
Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
CULLER, J. Teoria Literária, uma introdução. São Paulo: Beca produções 
Culturais, 1999.
DURÃO, F. A. O que é crítica literária? São Paulo: Nankin Editorial, Parábola 
Editorial, 2016.
EAGLETON, T. Teoria da Literatura, uma introdução. São Paulo: Martins 
Fontes, 2006.
ECO, U. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das 
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FERNANDES, M. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 
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HOMERO. Odisseia. São Paulo: Editora 34, 2014.
HOMERO. Ilíada. São Paulo: Editora 34, 2014.
JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1995.
MÁRQUEZ, G. G. Cem anos de solidão. São Paulo: Editora Record, 2002.
ZILBERMAN, R. Teoria da Literatura I. Curitiba: IESDE Brasil, 2012.
Talita Jordina Rodrigues
Livro Didático DigitalFundamentos da 
Teoria Literária
Talita Jordina Rodrigues

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