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Fundamentos da Teoria Literária - Trilha de Aprendizagem COMPLETO

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Fundamentos da Teoria Literária 
 
O que é literatura? 
Ao final desta Unidade, você será capaz de refletir melhor sobre o conceito de Literatura, assim 
como sobre os conceitos de Teoria e de Crítica Literária. Ao longo desse percurso inicial de seus 
estudos, trabalharemos com questões que formam a base dos estudos literários. Essas discussões, 
porém, jamais serão uma etapa vencida em sua trajetória na busca pelo conhecimento. Ao contrário! 
Muitas das discussões iniciadas aqui acompanharão você pelo resto da vida. Então, vamos 
começar? 
 
Se um extraterrestre chegasse a Terra e nos perguntasse o que é um sapato, por exemplo, seríamos 
capazes de explicar a ele com facilidade. Poderíamos dizer, sem especificar muito, que um sapato é 
uma peça do vestuário usada para proteger os pés. Logo em seguida, poderíamos dar a ele um 
exemplo, mostrando um tênis ou uma bota. Contudo, se esse mesmo extraterrestre nos pedisse para 
explicar o que significa a Literatura, não seria tão simples construir uma definição precisa e 
rapidamente compreensível. Poderíamos ir a uma biblioteca e mostrar a ele as prateleiras repletas de 
livros, mas essa ação tampouco seria satisfatória. Isso porque dela surgiriam de imediato os 
seguintes problemas: 
 
Problema nº 1: Nem todos os livros impressos podem ser considerados literatura; 
 
Problema nº 2: Nem toda literatura é impressa ou sequer escrita; 
 
Em relação ao primeiro problema, basta passar um tempo em uma biblioteca ou em uma livraria 
que notaremos a diferença entre livros de botânica, por exemplo, e livros de poemas ou romances. 
As prateleiras, normalmente, são divididas numa configuração geral que separa livros técnicos de 
livros literários. Neste caso, os livros de botânica estariam no primeiro grupo e os romances e 
poemas estariam no segundo grupo. 
 
Em relação ao segundo problema colocado acima, ou seja, que nem toda literatura é impressa ou 
sequer escrita, basta pesquisarmos sobre a história da própria literatura, da própria escrita e da 
própria impressão que veremos que a arte literária parece ter sido criada antes ou de maneira 
independente à escrita ou ao texto impresso. Diversas obras são anteriores à invenção da chamada 
imprensa, criada por Gutemberg, e muitas delas foram inventadas e repassadas apenas oralmente, 
mesmo no tempo em que o homem já dominava a escrita manual. A elaboração e a reprodução de 
histórias orais era bastante frequente na Antiguidade, na Idade Média e até mesmo no início da 
Modernidade. Esse formato era, por exemplo, aquele adotado pelo poeta grego Homero que 
escreveu os clássicos Odisseia e Ilíada em forma de cantos, para serem repassados oralmente 
acompanhados de uma música. 
 
A Odisseia e a Ilíada são consideradas as primeiras obras literárias do Ocidente. As duas obras, que 
hoje podem ser encontradas em livros volumosos, foram escritas em versos ritmados por volta do 
século VIII a.C. Acredita-se, porém, que essas histórias já faziam parte da tradição oral da época e 
que o autor Homero só as organizou e passou para o papel, dando, é claro, o seu toque inventivo e 
criativo. Na época, a escrita e a leitura não eram popularizadas como são hoje em dia. Por conta 
disso, era frequente que poemas e histórias fossem contadas em forma de música como uma 
maneira de decorá-los e preservá-los mais facilmente. 
 
Ainda em relação ao problema da literatura não ser apenas impressa e escrita, a própria expressão 
“literatura oral” é capaz de reafirmar essa ideia. Há tempos se reconhece como literatura as fábulas, 
lendas e mitos que foram inventados pelas pessoas e transmitidos oralmente. Pensemos no folclore 
brasileiro, por exemplo. Não sabemos quem inventou a história do saci-pererê, mas sabemos que ela 
passou a ser contada e recontada de diversas maneiras pelas pessoas, sempre fazendo referência a 
um menino negro, muito travesso, que anda sobre uma perna só e usa um gorro vermelho. Para 
além das histórias brasileiras, clássicos da literatura infantil mundial também foram criados e 
transmitidos oralmente, muito antes de chegarem às estantes das livrarias. É o caso da famosa 
história de João e Maria, publicada pela primeira vez pelos Irmãos Grimm, dois escritores que 
pesquisaram sobre as narrativas da tradição oral e as colocaram em livros. 
 
Como essas histórias que nasceram da oralidade não têm uma autoria definida, elas podem ser 
contadas de maneiras diferentes. Procure, por exemplo, pesquisar livros do clássico João e Maria 
em bibliotecas e/ou em livrarias. Você verá que em essência eles contam a mesma história, mas as 
palavras usadas para contá-la são totalmente diferentes. Muitas vezes há também a diferença de 
alguns elementos e detalhes da própria narrativa, como um objeto ou um personagem secundário. 
 
Sabemos, então, que os livros impressos não são a principal referência para determinar o que é ou o 
que não é literatura. Muitas vezes o livro pode ser o instrumento pelo qual temos acesso à literatura, 
mas também podemos ter acesso a ela de outras maneiras, como por exemplo, por meio de um 
recital ou até mesmo de uma peça de teatro. Igualmente sabemos que o livro pode servir como 
instrumento para outros tipos de textos que não sejam literários. Como dissemos, as livrarias estão 
repletas de livros que não pertencem ao universo ou à “categoria” da literatura. 
 
Para definir literatura temos, então, que pensar além do suporte, além do instrumento usado para 
transmitir a literatura. A partir daí, poderíamos dizer que um texto é ou não literário por seu 
conteúdo, ou seja, pelo tema abordado dentro dele. Isso, porém, é uma definição ainda mais frágil, 
já que é possível encontrar textos literários que tratam de infinitas coisas, desde elementos 
fantásticos, como unicórnios ou animais falantes, até cenas da vida cotidiana de um cidadão comum 
em uma cidade qualquer. Logo, poderíamos dizer de início que não se pode definir a literatura a 
partir da ideia de tema. Mas é possível pensar em uma definição que trate da ideia de conteúdo de 
uma maneira mais ampla. Isso porque entendemos que a literatura é criada, inventada, imaginada. E 
não é necessariamente um fato verídico. 
 
Com isso chegamos à primeira definição possível do que é literatura: 
 
Definição 1: a literatura está ligada à ideia de ficcionalidade; uma obra literária é uma obra de 
ficção. 
 
A ficção é, portanto, uma maneira possível de conceituar a literatura. Quando pensamos em ficção, 
porém, não estamos querendo dizer que se trata de uma história que não tenha nenhuma relação 
com o universo real, com a vida cotidiana ou com aquilo que chamamos de realidade. Para explicar 
essa relação, o pensador italiano Umberto Eco utilizou a metáfora de um bosque. Segundo ele, 
quando lemos um texto literário temos uma experiência como a de adentrar a um bosque: não 
sabemos o que nos espera, mas vamos aos poucos nos ambientando, caminhando, conhecendo e nos 
habituando com o cenário proposto. Assim, entendemos que: se aceitamos entrar nesse universo, 
aceitaremos também tudo o que está contido nele. 
 
Parece incoerente aceitar o convite para passear em um bosque e depois ficar bravo por encontrar 
uma árvore ou um pássaro, por exemplo. Da mesma maneira ocorre quando começamos a ler um 
conto ou um romance. Fechamos um pacto com a obra e passamos a aceitar o que nela está contido. 
Assim, se nos propomos ler um conto de fadas, por exemplo, aceitaremos também que dentro desse 
universo pode haver seres mágicos como as próprias fadas. Ou gnomos. Ou animais falantes. Isso 
porque sabemos que em geral os contos de fadas mobilizam esse tipo de imaginário mais fantasioso. 
 
Uma corrente literária surgida na América Latina no século XX ficou muito famosa por mesclar 
elementos do mundo real com acontecimentos ditos “fantásticos”, ou seja, aqueles impossíveis de 
acontecer no mundo material. Esse movimento recebeu o nome de “Realismo Mágico”ou 
“Realismo Fantástico” e teve como principal expoente o escritor colombiano Gabriel García 
Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Sua obra-prima se chama Cem anos de 
solidão e tem todos os elementos do Realismo Mágico. O texto é divertidíssimo e vale a pena 
conferir! 
 
Apesar de toda a liberdade criativa e inventiva que um texto literário possa ter, isso não quer dizer 
que ele não deva ter nenhum compromisso com o universo real e material. Ao contrário, todos os 
textos seguem uma lógica tanto interna quanto externa. Assim, quando estamos lendo uma narrativa 
em que os animais podem falar, entendemos que qualquer animal que venha a surgir dentro da 
história terá essa habilidade da fala. Caso essa lógica interna seja quebrada, parece necessário que 
haja uma explicação, ou seja, que a própria história relate os motivos pelos quais tal animal pode 
falar e tal animal não pode. Se isso não ocorrer, o texto parecerá ao leitor algo inverossímil, ilógico, 
sem sentido. 
 
Da mesma maneira que é necessário haver uma lógica interna, ou seja, uma coerência dentro do 
universo (ou do bosque) literário, deve haver também uma coerência em relação ao que está fora do 
universo ficcional. Segundo Umberto Eco, isso acontece de maneira natural em todo tipo de texto, 
uma vez que, para ele, toda ficção é uma espécie de parasita da realidade. Nesse ponto, cabe 
lembrar de uma excelente definição que o grande crítico brasileiro Antonio Candido deu a respeito 
da literatura em um de seus textos. Ele disse: 
 
Definição de Antonio Candido: “A literatura corresponde à necessidade universal de dar forma à 
fantasia, inclusive (talvez sobretudo) a fim de compreender melhor a realidade. A sua natureza 
reside neste paradoxo.” FONTE: CANDIDO, Antonio. Literatura, espelho da América? Madison, 
WI: Luso- Brazilian Review, v. 32, no. 2, (1995), 
 
Portanto, fantasia e realidade são categorias que não se anulam quando estamos tratando de ficção. 
Assim, por mais que uma narrativa contenha um número alto de elementos e personagens 
fantasiosos, ela sempre estará ancorada em ideias que estruturam nosso mundo real, nosso mundo 
material. 
 
Para você pensar sobre essa mescla entre elementos mágicos e não-mágicos, assista ao filme O 
labirinto do fauno. A obra dirigida por Guilhermo del Toro é um clássico do cinema e apresenta uma 
perfeita simbiose entre fantasia e realidade. Procure perceber quais os elementos do nosso mundo 
material que ajudam a ancorar a narrativa. Além disso, perceba a lógica interna da história, ou seja, 
aquela dada mesmo a partir dos elementos mágicos. 
 
Em resumo, o que estamos querendo distinguir aqui são os conceitos de veracidade e 
verossimilhança. Veracidade é um substantivo derivado da palavra “verdade” e que tem a pretensão 
de englobar aquilo que tenha a ver com a realidade, com o verdadeiro e, em última instância, com o 
confiável do ponto de vista do mundo material. Já a verossimilhança está mais ligada à lógica ou 
apenas à proximidade com a realidade. Para que fique mais clara essa distinção, observemos as 
definições do dicionário: 
 
Definição 1: Veracidade – qualidade do que é verdadeiro ou verídico; apego à verdade; exatidão, 
fidelidade. 
 
Definição 2: Verossimilhança – qualidade do que é verossímil; que parece ser verdadeiro; provável; 
em que não repugna acreditar; plausível; crível. 
 
Sendo assim, não podemos dizer que uma história como a Chapeuzinho Vermelho não tem tanta 
veracidade, mas podemos dizer que nela há verossimilhança porque trata-se de uma história que 
tem sua lógica interna, tem sua coerência. Sendo assim, adentrar em um bosque ficcional – para 
usar a expressão de Umberto Eco novamente – significa esquecer-se da veracidade mas estar 
sempre atento à verossimilhança. 
 
Se pegarmos os personagens da Disney como exemplo para essa discussão, notaremos que o 
personagem Pluto é perfeitamente verídico: trata-se de um cachorro que age como agiria um 
cachorro em nosso mundo real. Ele anda sobre quatro patas, gosta de comer ossos e, em geral, não 
usa roupas ou sapatos. Porém, se compararmos a figura do Pluto com a figura do Pateta, o conjunto 
de personagens da Disney parece inverossímil já que ambos os personagens são cachorros mesmo 
tendo atitudes e características completamente diferentes. 
 
O personagem Pateta, ao contrário do Pluto, anda sobre duas pernas, usa roupas, fala e come como 
um homem. É claro que ele é caracterizado como alguém muito mais atrapalhado do que um 
homem normal, mas ainda assim suas características estão mais próximas de uma figura humana do 
que de uma figura animal. Se esses personagens aparecessem em uma narrativa escrita e fossem 
descritos igualmente como cachorros, o narrador da história certamente teria que explicar os 
motivos pelos quais suas características são tão distintas, ou pelo menos os motivos pelos quais um 
pode falar e o outro não. É claro que no caso dos personagens da Disney a forma como os 
personagens são desenhados manipula nossa visão sobre a lógica interna da história. É por isso que 
muitas crianças gostam do Mickey e da Minnie sem perceber que eles são, na verdade, ratinhos. 
 
Independente desses detalhes, tanto Mickey, quanto Minnie ou Pateta e Pluto são personagens 
ficcionais. A ficção é, como íamos dizendo, uma forma de conceituar a literatura. Mas o fato de 
Mickey ou Pateta terem sido inventados não faz deles necessariamente personagens literários. Isso 
porque além do conteúdo ficcional, a literatura tem outra característica importante de ser 
conceituada: a forma. Quer dizer, quando estamos ouvindo uma música, sabemos que estamos 
diante de um objeto artístico que conhecemos como música. Quando estamos assistindo a uma peça 
de teatro, identificamos esse espetáculo como sendo algo pertencente à categoria da arte chamada 
de “teatro”. Sabemos tudo isso por conta de uma forma ou, podemos dizer também, uma fórmula 
mais ou menos parecida. 
 
Para compreender melhor o que é, afinal, esse elemento “forma” dentro desse universo tão 
complexo chamado de “literatura”, leia primeiramente os exemplos dados pelo crítico inglês Terry 
Eagleton: 
 
A literatura transforma e intensifica a linguagem comum, afastando-se sistematicamente da fala 
cotidiana. Se alguém se aproximar de mim em um ponto de ônibus e disser: “Tu, noiva ainda 
imaculada da quietude”, tenho consciência imediata de que estou em presença do literário. Sei disso 
porque a tessitura, o ritmo e a ressonância das palavras superam o seu significado abstrato – ou, 
como os linguistas diriam de maneira mais técnica, existe uma desconformidade entre os 
significantes e os significados. Trata-se de um tipo de linguagem que chama a atenção sobre si 
mesma e exibe sua existência material, ao contrário do que ocorre com frases como: “Você não sabe 
que os motoristas de ônibus estão em greve? (EAGLETON, 2006, p. 3) 
 
Essa concepção de que a linguagem literária é facilmente reconhecível porque ela se difere de 
outras formas de comunicação entre as pessoas começou a ser elaborada por um linguista russo 
chamado Roman Jakobson. É sobre sua teoria que vamos tratar a seguir. 
 
As funções da linguagem de Jakobson 
Roman Jakobson foi um estudioso da linguagem que elaborou diversas teorias importantes e que 
revolucionou os estudos linguísticos e literários no século XX. É dele uma teoria linguística muito 
famosa que trata das “Funções da linguagem”. Segundo essa teoria, existem SEIS funções da 
linguagem humana: 
1. Função emotiva 
2. Função conativa 
3. Função metalinguística 
4. Função fática 
5. Função referencial 
6. Função poética 
 
Cada uma dessas funções pensadas por Jakobson seria explicada por um dos elementos que 
compõem o sistema de comunicação. De acordo com as teorias de comunicação, para ocorrer um 
processo comunicativo é necessário que se observe os seguintes elementos: 
1. Emissor – aquele que passaa mensagem; 
2. Receptor – aquele a quem a mensagem se dirige; 
3. Código – o signo utilizado para passar a mensagem; 
4. Canal – o meio utilizado para passar a mensagem; 
5. Referente/contexto – situação comunicativa em que estão inseridos o emissor e o receptor; 
6. Mensagem – o que quer se quer passar. 
 
As funções da linguagem seriam, portanto, SEIS assim como também são SEIS os elementos do 
processo comunicativo. Dessa forma, Jakobson entende que cada função da linguagem está centrada 
em um dos elementos, como mostra o quadro abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMOTIVA → EMISSOR 
CONATIVA → RECEPTOR 
METALINGUÍSTICA → CÓDIGO 
FÁTICA → CANAL 
REFERENCIAL → CONTEXTO 
POÉTICA → MENSAGEM 
Figura 1 - As funções da linguagem relacionadas com o elemento do sistema comunicativo ao qual 
elas mais se aproximam. 
O professor da Universidade de Yale, Paul Fry, em um curso ministrado sobre Teoria Literária, 
utiliza a frase “Está chovendo” como exemplo para explicar as funções da linguagem propostas por 
Jakobson. A partir dessa expressão ele nos faz perceber que é possível produzir pelo menos seis 
sentidos diferentes utilizando a mesma frase, de acordo com a ênfase dada aos elementos da 
comunicação em cada situação. Vamos tomar emprestado esse exemplo para refletirmos sobre todas 
as Funções da Linguagem, uma a uma. 
 
Para a função EMOTIVA, por exemplo, como ela está centrada na figura do emissor da mensagem, 
poderíamos pensar em um poeta romântico falando a frase “Está chovendo”. Um poeta romântico é 
alguém cuja necessidade maior é expressar os sentimentos de seu “Eu Lírico”, ou seja, de sua 
própria subjetividade, de suas angústias etc. Nesse caso, se um poeta romântico diz, em sua obra, a 
frase “está chovendo”, ele provavelmente estará querendo dizer algo como “está chovendo em meu 
coração” ou “a chuva expressa minhas desilusões” etc. Quer dizer, quando a mensagem está 
centrada no “eu”, ou seja, no emissor, ela em geral denota alguma “emoção”, daí essa função ser 
chamada de emotiva. 
 
No caso da função CONATIVA, a ênfase está no receptor da mensagem. Imaginemos, então, uma 
mãe que vê seu filho se preparando para sair de casa em direção à escola. Ela diz a ele a frase: “Está 
chovendo!”. O menino compreende, então, que ele deve pegar o guarda-chuva antes de sair, ou que 
ele deve trocar de roupa, vestir um casaco, colocar uma galocha, ou qualquer coisa assim. Ora, 
nesse caso estamos tratando de uma espécie de comando para alguém, mais precisamente para o 
receptor da mensagem. Esse comando é o que define a função conativa. 
 
A função METALINGUÍSTICA, porém, não é tão simples de ser explicada a partir da fórmula 
“está chovendo”. Isso porque essa função não costuma ser utilizada no nosso dia-a-dia dessa 
maneira, em forma de uma frase. A metalinguagem é, na verdade, aquilo que define com palavras o 
significado de outras palavras. A função metalinguística está presente, por exemplo, nos dicionários. 
Sabemos que uma palavra é uma espécie de código inventado e convencionado dentro de uma 
língua. Em português, quando ouvimos a palavra “chover”, logo pensamos na imagem da chuva, ou 
seja, de um momento e lugar em que está caindo gotas de água do céu. Isso ocorre porque já 
sabemos o significado do verbo “chover”. Caso não saibamos o que significa “chover”, teremos que 
acionar a função metalinguística da linguagem, procurando o termo no dicionário de modo que ele 
defina “chover” utilizando determinado conjunto de palavras. 
 
Em relação à função FÁTICA, ela é uma espécie de “teste” para verificar o meio, ou o canal, de 
transmissão da mensagem. Antes de se apresentar, um músico costuma testar o microfone, por 
exemplo, dizendo “teste, um, dois, testando...”. A função dessa ação comunicativa é puramente 
testar o canal, ver se é possível estabelecer uma comunicação dali em diante. Agora imaginemos um 
casal que se encontra em um elevador, ficam interessados um pelo outro, mas não sabem como 
começar uma conversa. Alguém poderia dizer, como é bastante comum inclusive, a frase “Está 
chovendo, não é?”. E logo o outro responderia “É verdade! Está chovendo”. Ora, nesse caso as duas 
pessoas não estão tentando informar um dado preciso sobre a meteorologia, mas estão tentando 
estabelecer um contato inicial, ver se o canal de comunicação poderá funcionar mais adiante. 
 
Em 1999, um comercial de televisão lançado no Brasil se tornou um dos mais famosos vídeos da 
história da publicidade brasileira. O comercial foi feito para uma marca de refrigerante de laranja 
chamada Sukita e nele era apresentada uma conversa corriqueira em uma elevador. A cena era a 
seguinte: um homem de meia idade tentava puxar assunto com uma menina mais jovem que pegava 
o elevador com ele. Na cena, a moça quase não responde à tentativa de comunicação do homem até 
o momento em que o interrompe dizendo: “tio, aperta o 20 para mim?”. O fato de ela chamá-lo de 
“tio” frustra o sujeito que estava querendo conquistál-a. Mas, o fato é que essa propaganda 
demonstra precisamente a função fática da linguagem, ou seja, quando pelo menos um dos 
interlocutores está tentando estabelecer uma comunicação dizendo frases ou fazendo perguntas que 
são quase retóricas, ou seja, que não se espera resposta. 
 
Quando falamos da função REFERENCIAL, em contrapartida, pensamos em uma ação 
comunicativa que tem o referente ou o contexto como elemento central. Nesse caso poderíamos 
pensar em um meteorologista falando a expressão “está chovendo” para colegas de trabalho, por 
exemplo. A função da linguagem nesse exemplo é meramente informativa, ela tem apenas a 
intenção de informar, de transmitir uma informação que pode ser verificada. Se um meteorologista 
diz a alguém que está chovendo, essa pessoa não suspeita que ele esteja querendo dizer outra coisa a 
não ser que nesse exato momento está caindo água do céu. Não há, nesse caso, um sentido 
escondido, ao contrário, a mensagem tenta ser precisa porque tem a função de informar. 
 
A função POÉTICA da linguagem seria, enfim, aquela presente na literatura, ou seja, aquela que dá 
forma à arte literária, que a distingue de todas as outras formas de comunicação. Um texto literário 
pode apresentar elementos e seres fantásticos, como fadas e duendes, por exemplo. Um texto 
literário também pode expressar sentimentos humanos por meio de palavras rimadas, como é 
frequente em poemas românticos. Ou ainda um texto literário pode narrar uma situação 
extremamente corriqueira de uma pessoa comum, como uma senhora indo comprar verduras em 
uma feira. De todas essas maneiras – e de muitas outras – um texto literário se distinguirá de outros 
gêneros do discurso. Essa distinção, segundo a teoria das funções da linguagem, diz respeito à 
forma do texto literário, assim como tem a ver também com sua gênese que é estar focada na 
mensagem, ou seja, no texto em si. 
 
Gêneros do discurso são formas de comunicação que costumam ser estudados dentro de um 
subcampo da Linguística chamado “Análise do Discurso”. Nesse caso, os exemplos são muito mais 
abrangentes do que os gêneros literários. Eles podem ser, por exemplo, bulas de remédio, manuais 
de aparelhos digitais ou até mesmo frases proferidas durante uma cerimônia de casamento, por 
exemplo. Quer dizer, os gêneros do discurso podem ser encontrados por toda parte e há um campo 
do conhecimento responsável por analisá-los e compreendê-los. Muitos desses discursos diversos 
são capazes de ajudar cientistas sociais e antropólogos a desvendar os mistérios do comportamento 
humano assim como os mistérios acerca das formas de interação social. Em geral, os gêneros do 
discurso têm uma finalidade prática na vida em sociedade, diferente da literatura que não tem esse 
mesmo compromisso. 
 
Para recapitularmos um pouquinho o que estamos tratando nesta seção, lembremos que a “função 
poética” é uma das SEIS funções da linguagem elaboradas pelo linguistaRoman Jakobson. A 
intenção inicial de Jakobson era demonstrar que os processos comunicativos têm funções limitadas 
de acordo com os elementos que compõem esse processo de comunicação (emissor, receptor, 
código, canal, contexto e mensagem). Segundo essa ideia, cada uma dessas funções pode ser 
identificada no dia-a-dia, sendo uma delas a arte literária. A função poética representa, então, a 
situação social onde se encontra a literatura. Essa situação ocorre quando o foco do processo 
comunicativo está na MENSAGEM, ou seja, quando o que está em jogo mesmo é o texto. Apenas o 
texto. Ou melhor: a arte do texto, a arte de organizar as palavras de tal maneira a provocar uma 
experiência estética. 
 
A função POÉTICA tem o nome que remete ao gênero lírico, ou seja, “poético”, mas é muito 
importante pensarmos que ela não se restringe apenas a esse tipo de texto. A função poética engloba 
todo tido de texto literário, seja ele rimado ou não, versificado ou não, e assim por diante. Em 
resumo, a função poética da linguagem é encontrada tanto em poemas quanto em contos ou 
romances. 
 
Voltando ao exemplo proposto pelo crítico Paul Fry, a frase “está chovendo” também pode ser 
encontrada em uma situação em que identificamos a função poética. Ela pode ser encontrada dentro 
de um texto literário, tanto de poesia quanto de prosa, e a apreciaremos como se aprecia uma obra 
de arte porque ela faz parte de um contexto estético. 
 
Para ficar mais claro o que estamos dizendo sobre a função POÉTICA, leia os dois trechos abaixo 
que foram extraídos do clássico da literatura Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez. O 
romance, que é situado na cidade fictícia de Macondo, narra em determinado momento a vida dos 
habitantes durante um período intenso de chuvas na região. 
 
Exemplo 1: 
Não fosse por esse padecimento que nada teria tido de pudendo para alguém que não estivesse 
doente também de pudicícia, e se não fosse a perda das cartas, Fernanda não teria se importado com 
a chuva, porque afinal de contas toda a sua vida tinha sido como se estivesse chovendo. Não 
modificou os horários nem perdoou os ritos. Quando a mesa ainda estava suspensa sobre tijolos e as 
cadeiras colocadas sobre tábuas para que os comensais não molhassem os pés, ela continuava 
servindo com toalhas de linho e louça chinesa, e acendendo os candelabros no jantar, porque achava 
que as calamidades não podiam servir de pretexto para o relaxamento dos costumes. 
 
Exemplo 2: 
O Coronel Gerineldo Márquez atendeu naquela tarde a um chamado telegráfico do Coronel 
Aureliano Buendía. Foi uma conversa de rotina que não havia de abrir nenhuma brecha para a 
guerra estancada. Ao terminar, o Coronel Gerineldo Márquez contemplou as ruas desoladas, a água 
cristalizada nas amendoeiras, e se encontrou perdido na solidão. 
 
— Aureliano — disse tristemente no manipulador — está chovendo em Macondo. Houve um longo 
silêncio na linha. De repente, os aparelhos saltaram com os signos desapiedados do Coronel 
Aureliano Buendia. 
 
— Não seja boboca, Gerineldo — disseram os signos. —É natural que esteja chovendo em agosto. 
 
Fazia tanto tempo que não se viam que o Coronel Gerineldo Márquez se desconcertou com a 
agressividade daquela reação. Entretanto, dois meses depois, quando o Coronel Aureliano Buendía 
voltou a Macondo, o desconcerto se transformou em espanto. 
 
FONTE: Márquez, Gabriel García. Cem anos de solidão. São Paulo: Editora Record, 2002. 
 
Depois de tudo isso, você deve estar pensando: e se um romance narrar a cena de uma mãe 
sugerindo ao filho que pegue um guarda-chuva ao pronunciar a frase “está chovendo”? Essa 
situação que utilizamos acima como exemplo para a função FÁTICA da linguagem demonstra um 
foco voltado para o receptor da mensagem. Nesse caso, estaríamos diante da função FÁTICA ou da 
função POÉTICA da linguagem? O próprio Jakobson já comenta esse problema ao apresentar sua 
teoria. Ele diz: 
 
As particularidades dos diversos gêneros poéticos implicam uma participação, em ordem 
hierárquica variável, das outras funções verbais a par da função poética dominante. A poesia épica, 
centrada na terceira pessoa, põe intensamente em destaque a função referencial da linguagem; a 
lírica, orientada para a primeira pessoa, está intimamente vinculada à função emotiva; a poesia da 
segunda pessoa está imbuída de função conativa e é ou súplice ou exortativa, dependendo de a 
primeira pessoa estar subordinada à segunda ou esta à primeira. (JAKOBSON, 1995, p. 128) 
 
Em resumo, é natural que determinado gênero literário faça uso de uma ou de outra função da 
linguagem que não seja a função POÉTICA. Isso porque a literatura empresta discursos variados 
presentes no mundo. Mas o fato de estarmos diante de um texto literário faz com que estejamos 
necessariamente diante da função POÉTICA da linguagem sob o ponto de vista mais amplo. Um 
texto pode narrar a cena de uma mãe orientando o filho quanto à chuva, mas se esse texto é 
considerado literário, o foco continua sendo a MENSAGEM e não o receptor da mensagem 
pronunciada pela personagem “mãe”. 
 
O foco de um texto que pertence à função poética está na FORMA e nos motivos pelos quais o 
autor escreveu determinada cena dessa maneira e não de outra maneira. Há de se pensar, portanto, 
em uma hierarquia das funções da linguagem. Elas podem ser utilizadas dentro de um texto 
literário, mas se estamos lendo um texto literário o que predomina é a função POÉTICA. 
 
Tomemos como exemplo a obra do escritor e humorista brasileiro Millôr Fernandes. 
Frequentemente ele publicava, em suas colunas de revistas ou de jornais, textos que imitavam a 
linguagem de dicionários. Ele escrevia definições engraçadas e incomuns para palavras cotidianas. 
Esse conjunto de textos em forma de dicionário chegou a ser reunido em um livro chamado “Millôr 
definitivo: a bíblia do caos”. Observe abaixo alguns dos verbetes encontrados nessa obra e note 
como o texto parece pertencer à função METALINGUÍSTICA, mas na verdade ele corresponde à 
função POÉTICA se olharmos de maneira mais ampla. 
 
DICIONÁRIO – As palavras nascem saudáveis e livres, crescem vagabundas e elásticas, vivem 
informes, informais e dinâmicas. Morrem quando contraem o câncer do significado definitivos e 
são recolhidas ao CTI dos dicionários. 
 
DIETA – Quem acredita em dieta engole qualquer coisa. 
 
LIVRO – Livro não enguiça. 
 
PESSIMISTA – Pessimista é o único que está preparado para ser otimista quando seu pessimismo 
der certo. 
 
FONTE: FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2007. 
 
O fato de a função POÉTICA estar centrada na MENSAGEM, ou seja, na forma do próprio texto 
faz com que Jakobson seja um Formalista, ou seja, um integrante do grupo de teóricos da literatura 
cujo entendimento maior era de que a FORMA era o elemento mais importante em um texto 
literário. Naturalmente, essa não é a única maneira de compreender um texto, mas ela serve muito 
bem para seguirmos com nosso desafio de conceituar a literatura. Assim, a partir da teoria das 
Funções da Linguagem de Roman Jakobson, chegamos à segunda definição de literatura: 
 
Definição 2: a literatura emprega a linguagem de maneira peculiar; a literatura é a arte da palavra. 
 
Sendo assim, agora entendemos a literatura como um texto ficcional cuja forma emprega uma 
linguagem peculiar diferindo-se então de outras linguagens cotidianas de maneira que acaba sendo 
considerada uma arte. Mas, como já dissemos, há inúmeras outras maneiras de se conceituar a 
literatura, assim como as artes em geral. Uma das mais antigas e importantes maneiras de 
conceituação da arte literária vem da Antiguidade Clássica Grega, mais precisamente do grande 
filósofo Aristóteles. É o que veremos na sequência. 
 
A Poética de Aristóteles 
A chamada Antiguidade Clássica Grega foi o berço da Filosofia. Foi nessa época e lugar que Tales 
de Mileto,que é considerado o primeiro filósofo da História, elaborou o seu pensamento e deu 
início a uma nova forma de produzir conhecimento. Foi na Grécia Antiga também que nasceram 
aqueles que mais tarde se tornariam os pilares do pensamento Ocidental: Sócrates, Platão e 
Aristóteles. O primeiro, Sócrates, não deixou nada escrito, mas boa parte de seu pensamento foi 
registrado nas obras de seu mais importante aluno: Platão. Aristóteles, por sua vez, foi uma espécie 
de discípulo de Platão, isso embora ele não concordassem com todas as posições defendidas por 
Platão. Esses dois últimos, Platão e Aristóteles, ao contrário de Sócrates, deixaram muitos escritos. 
Aristóteles, especialmente, produziu inúmeras obras sobre assuntos diversos, a maioria deles que 
hoje constituem subcampos de estudos dentro da Filosofia. Um desses subcampos é o da Estética, 
disciplina filosófica que procura refletir sobre a arte. 
 
Se você for estudar Filosofia de maneira sistemática, você verá que ela tem uma subdivisão de 
acordo com temas. A Filosofia Política, por exemplo, é uma dessas áreas. Nela estão contidos textos 
como a própria República, de Platão; O Príncipe, de Maquiavel; e Leviatã de Thomas Hobbes. 
Como o próprio nome denuncia, a Filosofia Política trata de questões acerca da política, desde seu 
conceito até sua aplicação na vida em sociedade. Há ainda disciplinas como a Ontologia, a Lógica, 
a Ética e a Estética. Essa última, que estamos tratando aqui, é o campo filosófico onde só se estuda 
objetos artísticos. De acordo com o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, o verbete 
ESTÉTICA tem primordialmente a seguinte definição: 
 
Com esse termo designa-se a ciência (filosófica) da arte e do belo. [...] Dissemos “arte e belo” 
porque as investigações desses dois objetos coincidem ou, pelo menos, estão estreitamente 
mescladas na filosofia moderna e contemporânea. 
 
FONTE: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora WMF Martins 
Fontes, 2012. 
 
 
Aristóteles não foi o primeiro a falar sobre Estética, ou sobre arte de uma maneira geral. No famoso 
texto A República, escrito por Platão antes de Aristóteles escrever a sua Poética, já há a menção ao 
campo da arte e ao universo dos artistas ou artesãos. Apesar dessas menções em sua obra, Platão 
não chegou a esboçar uma teoria ou um pensamento mais desenvolvido ou específico sobre a 
literatura ou sobre a arte como um todo. Em geral, a ideia que temos sobre o que Platão pensada das 
artes é extraída de sua teoria geral sobre os objetos do mundo. É por conta disso que o livro 
chamado de Poética, de Aristóteles, acabou sendo considerado a primeira obra de Teoria Literária 
da História. Quer dizer, se formos mapear o pensamento sobre a arte, poderemos extrair, como já 
mencionamos, algumas ideias da obra geral de Platão, mas se formos mapear obras que 
exclusivamente se dedicaram a refletir sobre esse campo, encontraremos em Aristóteles a pioneira. 
 
Um dado muito curioso sobre essa obra de Aristóteles é que apesar de ela ter sido escrita por volta 
de 330 a.C, ela ficou esquecida por muito tempo, tendo sido resgatada apenas depois do fim da 
Idade Média, ou seja, mais ou menos no século XV. Durante o período de dominação da Igreja 
Católica na Europa, muitos textos filosóficos da Antiguidade se perderam e outros foram guardados 
por árabes e outros povos não-cristãos, como ocorreu com a Poética. Apesar de termos tido a sorte 
de contar com povos que preservaram o texto de Aristóteles e de outros filósofos, a Poética não 
chegou intacta à Era Moderna. Quando sua primeira edição foi reproduzida em grego, já no 
Renascimento, ela não se encontrava mais completa, ou seja, estavam faltando partes. O que 
estudamos, portanto, é o que seria a primeira parte da Poética de Aristóteles. 
 
O mistério envolvendo a segunda parte da Poética de Aristóteles inspirou o enredo de um dos 
clássicos da literatura mais recente. O crítico e escritor italiano Umberto Eco escreveu o romance O 
nome da rosa colocando nele a suposta ideia de que a segunda parte da Poética estaria escondida em 
um monastério. Nesse romance de Eco, diversos monges morrem por conta do misterioso texto 
aristotélico. O nome da rosa foi também adaptado para o cinema em 1986. Tanto o livro quanto o 
filme são uma ótima opção para aprender e ao mesmo tempo se divertir. 
 
Uma das coisas que chama a atenção quando se começa a ler a Poética de Aristóteles é a ausência 
da palavra “literatura”. Logo nas primeiras páginas, encontramos a seguinte menção: 
 
A arte que se utiliza apenas de palavras, sem ritmo ou metrificadas, estas seja com variedade de 
metros combinados, seja usando uma só espécie de metro, até hoje não recebeu um nome. 
(ARISTÓTELES, 2014, p. 19) 
 
Ora, é importantíssimo nos situarmos no tempo para lembrarmos que na época de Aristóteles não 
havia livros impressos e aqueles que eram escritos à mão eram raríssimos. Em resumo, nessa época 
o próprio exercício de ler não era popularizado. As pessoas em geral não liam, não eram 
alfabetizadas. Sendo assim, as formas de literatura eram as faladas oralmente, ou cantadas junto 
com instrumentos musicais, ou então encenadas. Quanto a esses gêneros literários mais 
predominantes nas Antiguidade, trataremos com mais tempo na próxima Unidade. Por enquanto, é 
importante você pensar que toda a teoria de Aristóteles está baseada na poesia épica cantada e no 
texto dramático encenado. Tudo aquilo que se afasta da música ou do teatro seria, então, para 
Aristóteles algo que ainda não tinha nome, mas que entrava no mesmo grupo da arte poética em 
geral. Hoje em dia esse “geral” é o que chamamos de Literatura. 
 
Não foi só a Filosofia um campo importante que a Grécia Antiga nos deu. O teatro grego desse 
período também foi e continua sendo um marco da História do mundo e das artes. Entre os 
dramaturgos mais importantes estão Sófocles, Ésquilo e Eurípedes. As peças escritas por esses 
autores, além de outros que fizeram sucesso no período, são encenadas e estudadas até os dias de 
hoje. Elas são também, em parte, filosóficas, pois em geral tratam de questões universais e 
atemporais. 
 
Ainda no início de seu texto chamado de Poética, Aristóteles apresenta os dois principais temas de 
que pretende tratar ao longo das páginas seguintes: a tragédia e a comédia. 
 
É, obviamente, por causa dessa apresentação que se pode especular o assunto de que trataria a 
segunda parte “perdida” do texto de Aristóteles. 
 
Segundo o filósofo, a tragédia seria aquela produção cuja centralizada estivesse na ação, ou seja, 
uma peça de teatro ou até mesmo uma epopeia que focasse seu enredo em um acontecimento. Do 
outro lado, a comédia, seria aquele texto cujo foco estivesse voltado para determinado personagem 
cômico, ou seja, uma peça de teatro ou uma epopeia que se preocupasse em construir “tipos”, ou 
seja, personagens caricatos da sociedade, provocando o riso e a identificação das pessoas. 
 
É também logo no início de sua Poética, que Aristóteles, faz sua definição maior sobre a arte da 
escrita, seja ela em formato de poesia, ou de teatro ou de qualquer outro gênero que até mesmo viria 
a surgir posteriormente. Para Aristóteles, a arte poética, ou literária como chamamos hoje em dia, é 
uma imitação da realidade. Para usar o termo grego, que também é bastante difundido, para 
Aristóteles a arte é uma espécie de mímesis da realidade. 
 
A palavra imitação, ou mímesis, é o ponto alto da definição de Aristóteles para a Literatura. Em 
qualquer discussão sobre o entendimento que Aristóteles tinha a respeito da arte literária, é 
fundamental utilizar esse conceito de imitação. 
 
Então, quando falamos na palavra “imitação” pensamos logo em alguém imitando outra pessoa de 
maneira caricata e engraçada. Essa ideia pode ser aplicada ao gênero da comédia, mencionado por 
Aristóteles. Mas, na verdade, a definição de imitação para Aristóteles vaimuito além disso. O que 
ele quer dizer com o termo “imitação” serve para todo tipo de arte. Isso porque, para Aristóteles, 
todas as artes são produzidas com vistas para elementos da realidade. Isso serviria para a dança, 
cujos movimentos podem ser pensados a partir de pessoas, de animais, de plantas ou de qualquer 
objeto do mundo. Essa ideia de imitação também serviria para a pintura, cujas representações 
seriam sempre de cenas ou de coisas que podem ser encontradas no mundo. E por fim, essa ideia de 
imitação também estaria relacionada aos textos em geral, desde os textos escritos, até os cantados 
ou encenados. 
 
A imitação é, portanto, aquilo que une todas as artes. Quer dizer, a imitação é o ponto em comum 
que todas as artes têm entre si, segundo o filósofo grego Aristóteles. Para ele, as artes vão se 
distinguir entre elas apenas pelos meios, maneiras e objetos utilizados para produzir essa imitação. 
Veja o que o próprio Aristóteles diz em sua Poética: 
 
A epopeia, o poema trágico, bem como a comédia, o ditirambo e, em sua maior parte, a arte do 
flauteiro e a do citaredo, todas vêm a ser, de um modo geral, imitações. Diferem entre si em três 
pontos: imitam ou por meios diferentes, ou objetos diferentes, ou de maneira diferente e não a 
mesma. (ARISTÓTELES, 2014, p. 19) 
 
Em resumo, Aristóteles acredita que cada arte escolhe seu jeito de “imitar” a realidade. A mímesis é 
algo inerente à arte e, portanto, definidora dela. Sendo assim, podemos dizer que chegamos, nesta 
Unidade, a uma terceira maneira de conceituar a literatura: 
 
Definição 3: literatura é mímesis; literatura é a representação ou imitação da realidade. 
 
Naturalmente, você deve estar pensando agora que essa definição não se aplica a tudo o que está no 
mundo. Como já falamos, há textos literários que representam seres e objetos fantásticos, mágicos, 
inventados. Nesse caso, o texto não estaria representando ou imitando algo da realidade, não é 
mesmo? Pensando dessa maneira, é claro que a definição de Aristóteles não faz sentido. Mas, se 
observarmos de maneira mais ampla o objeto representado pela obra literária, veremos que há sim 
uma intenção de imitar a realidade. Por exemplo, pensemos na clássica história da Chapeuzinho 
Vermelho. Parece pouco provável que quem inventou essa história tenha mesmo se inspirado em 
um fato que aconteceu de verdade. Não parece verídico que um lobo fale, nem que seja possível 
resgatar do interior de sua barriga uma senhora idosa que acabou de ser engolida. 
 
Contudo, o que realmente a história de Chapeuzinho Vermelho está querendo representar é uma 
situação que se pode sim observar no mundo. A narrativa não quer simplesmente mostrar lobos que 
falam ou vovós que são engolidas, ela está querendo representar uma cena de desobediência e suas 
implicações. Em resumo, a história da Chapeuzinho Vermelho é a história de uma menina que 
desobedece sua mãe, pegando o caminho que não deveria, e que paga um preço por isso. Ora, isso 
é, de certa forma, a imitação da realidade, já que esse tipo de situação é recorrente no mundo. É 
claro que as situações de desobediência de filhos em relação aos seus pais não ocorrem dessa 
maneira, com a inclusão de fatos fantásticos, mas isso não deixa de representar uma coisa do 
mundo. 
 
Será que é possível mesmo pensar em todo e qualquer objeto estético ou artístico a partir da ideia de 
“mímesis” elaborada por Aristóteles? Procure pensar em filmes que você já viu, quadros famosos da 
história da arte que você conhece, peças de teatro que você assistiu ou até mesmo livros que você já 
leu. Agora pense: em que medida eles “imitam” a realidade? O conceito de mímesis pode ser 
aplicado a eles? 
 
Além do conceito de mímesis, também é possível encontrar outo conceito chave na obra aristotélica 
que trata do campo da Estética, ou seja, das artes: o conceito de catarse. Essa ideia está ligada aos 
sentimentos que a experiência estética pode provocar no espectador. Quer dizer, uma obra de arte, 
segundo a ideia de Aristóteles, é capaz de provocar ou de despertar sentimentos diversos em um ser 
humano. Essa espécie de enxurrada de emoções de absolutamente toda natureza, boa ou ruim, é 
aquilo que chamamos de catarse. 
 
Catarse é a “libertação do que é estranho à essência ou à natureza de uma coisa e que, por isso, a 
perturba ou corrompe.” Esse termo, de origem médica, significa “purgação”. [...] Aristóteles 
utilizou amplamente esse termo em seu significado médico, nas obras sobre história natural, como 
purificação ou purgação. Mas foi o primeiro que o usou para designar também um fenômeno 
estético, qual seja, uma espécie de libertação ou serenidade que a poesia e, em particular, o drama e 
a música provocam no homem.” ABBAGNANO, 2012. 
 
Catarse não quer dizer, portanto, apenas se emocionar ao assistir a uma peça de teatro que julgados 
“bonita”, por exemplo. A ideia de catarse vai além disso. A catarse é o resultado de uma provocação 
que mobiliza uma mistura complexa de sentimentos humanos e ao mesmo tempo os expurga, 
coloca-os para fora do corpo. 
 
Muitos séculos depois de Aristóteles escrever a sua Poética, um dos maiores dramaturgos da 
modernidade ficou muito conhecido por questionar e tentar reconfigurar a ideia da catarse 
aristotélica. Esse dramaturgo era o alemão Bertolt Brecht. Ele acreditava que a ideia antiga de 
catarse contribuía para formar espectadores e também cidadãos passivos, ou seja, que não 
conseguiam pensar ou tomar uma atitude frente aos problemas. Era muito comum que em suas 
peças Brecht tentasse quebrar essa sensação de passividade, rompendo com a ordem natural da 
narrativa. Muitas vezes ele mudava todo o espaço do teatro durante a peça ou interrompia a atuação 
e provocava espectadores. 
 
Como já mencionamos, a Tragédia é o gênero que recebe mais atenção de Aristóteles, pelo menos 
no trecho que sobrou da Poética. O conceito de catarse surge precisamente a partir desse gênero tão 
importante para o filósofo grego. Ela seria, então, a finalidade, ou seja, o objetivo final de uma peça 
teatral classificada como “trágica” dentro da concepção aristotélica. 
 
Catarse e mímesis são, portanto, os dois principais conceitos que podemos extrair da teoria Estética 
e literária de Aristóteles. E é com essa volta ao passado que encerramos, por ora, as discussões 
sobre os possíveis conceitos de literatura. Já na sequência discutiremos as noções de Teoria e de 
Crítica literária. Mas antes de seguirmos adiante, que tal fazermos uma breve recapitulação? 
 
Uma das primeiras maneiras de conceituarmos a literatura é a partir de uma das faces de seu 
conteúdo. Essa face diz respeito à falta de compromisso que a literatura tem com o universo 
material ou real. Sendo assim, a primeira coisa que podemos dizer sobre um texto literário é que ele 
é ficcional. Mas, além disso, sabemos que a literatura se difere de outras formas de comunicação 
também pela sua forma. Quer dizer, é possível identificar o que é uma bula de remédio, o que é um 
manual de instruções de um equipamento eletrônico e o que é um conto ou uma poesia porque cada 
um desses textos têm formas diferentes. Para justificar essa ideia, o linguista Roman Jakobson 
elaborou a teoria das Funções da Linguagem, em que identificou as funções: emotiva, conativa, 
metalinguística, fática, referencial e poética. Esta última seria aquela focada na mensagem e que 
seria encontrada em textos literários. A partir disso, compreendermos que a literatura é aquilo que 
emprega a linguagem de maneira peculiar, sendo, portanto, a arte das palavras. Outra maneira de 
pensar a literatura é a partir da ideia de Aristóteles, de que ela é sempre a imitação de alguma coisa 
do mundo. A “mímesis” seria, então, uma característica inerente e também definidora da arte 
literária. 
 
Crítica e Teoria Literária 
Agora que já temos uma ideia do que é a literatura, tentaremos esboçar também algumasideias dos 
campos que se dedicam a observar essa arte. Frequentemente, as noções de Crítica e de Teoria 
literária se misturam e se confundem. Isso é natural e tentaremos esclarecer os motivos pelos quais 
isso ocorre e os pontos específicos em que ambos os campos se encontram. Para começar, vamos 
observar as definições que o dicionário nos dá para os verbetes “crítica” e “teoria”: 
 
Crítica: arte de julgar uma obra de caráter intelectual, artístico ou literário; apreciação de uma 
criação intelectual, artística ou literária; julgamento; análise. Conjunto das pessoas que exercem a 
atividade de crítico. Juízo moral ou intelectual. 
 
Teoria: sistema coerente dos conceitos, princípios e técnicas na base de determinado objeto de 
estudo. Conhecimento sistematizado sobre determinado domínio. Ideia ou sistema que resultam da 
especulação ou de conjecturas. Hipótese não testada experimentalmente que se apresenta como 
explicação de determinada circunstância ou fenômeno em relação aos quais existem dúvidas. 
 
A partir desses conceitos preliminares, parece coerente dizermos que a Crítica é algo mais 
particular, algo mais específico. Isso enquanto que a Teoria seria “um sistema”, como o próprio 
dicionário diz. Quer dizer, a Teoria seria algo menos particular do que a Crítica, algo mais amplo, 
algo mais genérico, algo que serve para um maior número de casos. Essa divisão parece interessante 
e muito apropriada para começarmos o processo de distinguir a Teoria da Crítica literária. O 
problema é que na prática isso nem sempre ocorre, como explica o teórico francês Antoine 
Compagnon: 
 
A confusão é mais embaraçosa na medida em que as palavras crítica literária são elas também 
utilizadas num sentido geral e num sentido particular: elas designam ao mesmo tempo a totalidade 
do estudo literário e sua parte que diz respeito ao julgamento. (COMPAGNON, 2010, p. 200) 
 
O que Compagnon está lembrando é que por mais que tentemos dizer que a Crítica é particular e a 
Teoria é geral, sempre vai haver aqueles que utilizam o termo “Crítica” de maneira genérica, ou 
seja, para todo e qualquer caso. Isso ocorre, naturalmente, porque o exercício da Crítica é, ou pelo 
menos foi durante um período, algo mais popularizado. Isso também ocorre porque a Teoria literária 
como conhecemos hoje é um campo que se estabelecer oficialmente há apenas cerca de um século. 
Essa confusão que ocorre com frequência não nos impede, obviamente, de tentarmos esboçar uma 
conceituação distinta para ambas as ideias. Mas é importante que, de antemão, você saiba que 
poderá encontrar em alguns livros, matérias de jornais ou até mesmo na fala de conhecedores do 
campo, noções diversas tanto para a Teoria quando para a Crítica. 
 
Feito esse alerta, podemos seguir pensando na distinção desses dois conceitos da maneira como 
idealmente eles deveriam ser tratados. De um lado a Crítica Literária que, como já mencionamos, 
trata de algo mais particular. Essa ideia de particularidade está ligada à análise de do conteúdo de 
uma obra. A Crítica, então, seria o exercício de observar criticamente um romance, um livro de 
contos, uma obra de poemas e assim por diante. Em geral, esse tipo de texto costuma ser encontrado 
em jornais impressos e hoje em dia em portais especializados. 
 
O que temos que tomar cuidado, porém, é com a ideia negativa que a palavra “crítica” pode remeter. 
Um texto de jornal que é considerado uma Crítica de determinada obra literária, por exemplo, não 
tem necessariamente a função de criticar essa obra, ou seja, de falar da mal dela ou de salientar seus 
problemas. Essa ideia bastante genérica é falsa. Muitas Críticas são feitas com o propósito de 
destacar boas qualidades de determinada obra ou então de apresentar o que ela tem de melhor em 
contraponto com seus defeitos. 
 
No âmbito escolar o exercício da Crítica também costuma estar presente. Em geral ele recebe o 
nome de “resenha”. Você deve se lembrar das vezes em que um professor ou uma professora passou 
um filme ou pediu para que os alunos lessem um livro e em seguida solicitou a tarefa de escrever 
uma resenha sobre esse objeto artístico. Podemos dizer que a famosa resenha escolar é uma forma 
de Crítica, uma vez que ela tem a intenção de fazer com que seu autor exponha suas impressões 
pessoais e analise de maneira crítica a obra escolhida. É claro que não se espera de um aluno o 
mesmo rigor com que se espera do texto de um sujeito que é oficialmente um Crítico literário. 
Ainda assim, a ideia de Crítica está presente na resenha escolar, ou seja, suas intenções são 
basicamente as mesmas. 
 
É importante pensar que uma Crítica de jornal pode ser compreendida como sendo parte do 
exercício jornalístico, embora não tenha a necessidade de ser assinada por um jornalista. Esse 
pertencimento ao campo jornalístico agrega à Crítica a necessidade de se buscar uma certa isenção 
no julgamento do objeto artístico. 
 
Sendo assim, bons Críticos literários têm qualidades como as dos bons jornalistas, ou seja, expõem 
da maneira mais objetiva possível os fatos que compõem o seu objeto de escrita. Nesse caso, a 
credibilidade do sujeito chamado de Crítico também é de extrema importância. Esses dois 
problemas são ironizados na tirinha acima. Primeiramente, podemos perceber nela a presença de um 
menino fazendo uma crítica que é, digamos, “negativa” a determinado livro, como se o exercício de 
fazer Crítica implicasse necessariamente o exercício de “não gostar” do objeto avaliado. Numa 
segunda análise, percebemos também a ironia a respeito da falta de preparo e principalmente da 
falta de argumentos do “crítico” representado. Sobre isso, o crítico Fábio Akcelrud Durão faz uma 
observação: 
 
O discernimento crítico depende de um emprego adequado, ou seja, desinteressado e 
descompromissado, da capacidade de análise e reflexão. Isso significa que, ao criticar determinada 
obra, deve-se tentar levar em consideração apenas ela mesma e não seu autor (de quem você pode 
discordar, ou mesmo odiar), público ou potencial comercial. (DURÃO, 2016, p. 14) 
 
Para termos uma noção de como se produz uma Crítica literária, nada melhor do que ler 
atentamente uma. 
 
Exemplo 
Crítica: ‘A noite da espera’ é um belo romance maturado aos poucos 
 
Trama de Milton Hatoum gira em torno da ditadura no Brasil e da busca de um filho pela figura 
materna 
 
RIO — “Nem tudo é suportável quando se está longe.” Martim, o narrador do novo romance de 
Milton Hatoum, parece viver para comprovar essa afirmativa. Trata-se de um sujeito marcado pela 
falta — saudades da mãe, saudades do país distante, saudades de si. Martim circula entre dois 
tempos, cindido entre a memória da Brasília dos anos 1960 e a Paris dos 1970, ambientes mais do 
que familiares ao escritor amazonense. São espaços que já frequentou e lugares já visitados por sua 
prosa. 
 
A trama gira em torno dos anos mais duros da ditadura no Brasil superposta à busca de um filho 
pela figura materna. Fruto da improvável união entre um conservador engenheiro da Escola 
Politécnica e uma professora de francês que o abandona por um novo amor, o personagem se vê 
obrigado aos 16 anos a rumar para Brasília em companhia do pai, vinculado ao projeto da 
construção da nova capital e entusiasta do governo militar. [...] 
 
A noite da espera abre a série “O lugar mais sombrio”, projeto literário que prevê outros dois 
volumes, em que provavelmente outros fios narrativos serão convocados. O escritor vem maturando 
aos poucos a publicação de seus novos romances, na contramão de certa pressa do mercado editorial 
a exigir lançamentos a qualquer custo. É preciso dar tempo ao texto, já comentou certa vez Hatoum. 
 
Talvez por carregar no próprio nome estreito vínculo com a luta, Martim (derivação de Marte, deus 
romano da guerra) habita sempre um lugar incômodo em relação à postura combativa. É soldado 
que não se lança à batalha, e parece nuncaaderir por inteiro a ideologias: não é um líder, não milita 
sistematicamente — apenas levado pelas circunstâncias da vida e do tempo em que se encontra. 
Está por acaso nos lugares, se reúne com gente engajada contra o regime de exceção, mas o tempo 
todo sente medo e uma vaga sensação de paralisia. Um sujeito que deseja resistir por meio de 
palavras, toma notas, preenche cadernos e diários, mas padece com a imobilidade. Nessa falta de 
vigor reside um ganho na construção do protagonista, conferindo a ele dimensão complexa, porque 
mais humana. Acaso e deriva pautam suas ações. Como na cena em que adormece ao remar no 
Lago Paranoá e o vento leva o bote até o Palácio da Alvorada. Surpreendido pelos fuzis da guarda, 
termina preso. 
 
Neste belo romance, a inação do narrador toma um sentido importante: causa permanente 
sentimento de inadequação, de ações a serem feitas, de livros a serem escritos, de conversas a serem 
travadas, de vidas a serem revolucionadas. “Entrei no quarto para escrever um poema sobre uma 
página de poesia planando na vastidão do cerrado. Fiquei pensando, não escrevi o poema. Nada”, 
reflete Martim. 
 
Uma das razões dessa fragilidade reside na condição de fruto de um casal cujo segredo não nos é 
revelado. O silêncio sobre o rompimento dos pais, cada um à sua maneira, mina a força desse filho. 
E a espera pelo encontro sempre adiado com a mãe, Lina, é elemento desestruturante na educação 
sentimental de Martim. O tema é caro ao escritor, que já nos ofereceu grandes matriarcas em sua 
prosa, e filhos marcados por relações sempre erotizadas com essas mulheres. Assim foi com Emilie, 
de “Relato de um certo Oriente” (1989), desdobrada na Zana de “Dois irmãos” (2000). 
 
Hatoum nunca escondeu ser a memória o motor de sua escrita. Sondar o passado, dar a ele novos 
sentidos, sempre foi a tônica de sua produção ficcional — a presença de marcadores temporais 
muito claros, datas, lugares, endereços, surge como desejo de segurar pela ponta dos dedos os 
acontecimentos. No entanto, a grafia do tempo sempre trapaceia. A pesada atmosfera familiar de 
culpa e de ausências abre espaço para a dúvida que permanece quando finda a leitura. Como em 
outros de seus livros, o final é aberto, e com isso ganha o leitor, tomando parte ativa ao completar 
lacunas. As perguntas importam mais do que a resposta. 
 
Talvez Brasília seja mesmo o cenário da eclosão dessa crise, lugar que transita entre a promessa e a 
ruína, a redenção e a impossibilidade. Aqui ela é rota de fuga e cenário do fim do amor (a cidade, 
espaço ainda escassamente explorado na literatura brasileira, encontra na prosa de autores como 
Samuel Rawet, João Almino, Paloma Vidal e na poesia de Joaquim Cardozo e Nicolas Behr uma 
exceção). [...] 
 
O escritor Julio Cortázar já chamara a atenção para o fato de que ler um livro é sempre botar o dedo 
no gatilho, multiplicando sua força explosiva. O gesto de resistir caminha de modo paralelo àquele 
de narrar — e a esse chamado a narrativa de Hatoum responde com um sonoro “sim”. 
 
FONTE: CHIARELLI, Stefania. Crítica: ‘A noite da espera’ é um belo romance maturado aos 
poucos. Adaptado de Jornal O Globo. 
 
A autora dessa Crítica sobre o romance A noite da espera, de Milton Hatoum, é a professora da 
Universidade Federal Fluminense Stefania Chiarelli. Não se trata de uma jornalista escrevendo a 
Crítica, mas sim de uma especialista da área literária. É justamente nesse ponto que encontramos 
uma possibilidade de distinção entre a Crítica e a Teoria. Em geral, a Crítica não tem a necessidade 
de ser feita por um acadêmico, ou seja, não tem a necessidade de ter um rigor mais científico. Isso 
muito embora hoje em dia seja frequente que os jornais convidem especialistas oriundos do 
universo acadêmico que estudam a literatura, ou o teatro ou o cinema, por exemplo, para 
escreverem críticas sobre obras recentes dessas respectivas artes, como é o caso do nosso exemplo 
acima. Essa configuração é bastante atual, visto também que os cursos de Letras e os programas de 
Mestrado e Doutorado em Literatura são mais recentes do que o exercício jornalístico. Por conta 
disso, antes de existirem efetivamente os especialistas acadêmicos da área, já havia jornalistas, 
escritores ou intelectuais que produziam as críticas. 
 
Você sabia que muitos escritores brasileiros que se tornaram grandes nomes da nossa literatura 
tinham que trabalhar como jornalistas para ganhar dinheiro e sobreviver, já que era muito difícil 
viver apenas com a renda de suas publicações. Eles escreviam todo tipo de texto para o jornal e 
eram remunerados por isso. A crítica de arte em geral era um dos campos prediletos desses 
intelectuais da escrita. Nosso famoso autor infantil, Monteiro Lobato, era uma dessas figuras. Em 
1917, por exemplo, ele escreveu uma crítica de arte que provocou muita repercussão e é até hoje 
estudada e lembrada. Na época, a artista plástica Anita Malfatti havia aberto uma exposição com 
suas obras e Monteiro Lobato publicou no jornal uma crítica bastante dura sobre ela. O texto se 
chama Paranoia ou Mistificação e apresentava uma visão ainda um pouco conservadora em relação 
à arte. É por conta da insatisfação em relação a esse conservadorismo que vários artistas se reúnem 
e acabam produzindo um dos mais importantes eventos brasileiros do século XX: a Semana de Arte 
Moderna de 22. 
 
A Teoria, ao contrário da Crítica, é necessariamente produzida dentro do âmbito acadêmico. Há, 
portanto, um certo rigor em elaborar uma Teoria Literária ou, como se chama também, uma Teoria 
da Literatura. A professora e pesquisadora Regina Zilberman apresenta esse campo da seguinte 
maneira: 
 
A Teoria da Literatura é a ciência à qual compete estudar as manifestações literárias. Considerar a 
Teoria da Literatura uma ciência significa afirmar que corresponde a uma área de conhecimento que 
requer peritos (técnicos) detentores de competências especializadas para exercê-la. Se todo o leitor 
se posiciona perante obras literárias que leu, comentando-as e formulando juízos subjetivos, o 
teórico da literatura examina o mesmo material de modo objetivo, procurando descrever suas 
características mais constantes e as tendências vigentes para definir as marcas dominantes, 
apresentar propostas de interpretação e estabelecer padrões de qualificação. A Teoria da Literatura 
pode ser integrada às Ciências, porque classifica e ordena o material com que trabalha; e pertence, 
em especial, às Ciências Humanas porque interpreta e avalia o conjunto de obras que são o foco de 
sua investigação. (ZILBERMAN, 2012, p. 11) 
 
A Teoria, portanto, se afasta do Jornalismo e se aproxima da Ciência. Sendo assim, o lugar onde 
podemos encontrar os teóricos é na Universidade e não mais nas redações de jornal como era o caso 
dos Críticos. Isso ocorre igualmente com o lugar donde se encontra os textos, eles não estão nas 
páginas de jornais ou nos portais de notícias, mas sim em revistas acadêmicas especializadas, em 
livros ou em conferências e comunicações orais de eventos acadêmicos. 
 
Apesar desse círculo de pessoas ser um pouco mais seleto, a Teoria pretende ser mais abrangente 
que a Crítica, como mencionamos no começo. Essa abrangência diz respeito ao caráter “extrínseco” 
que a Teoria pode ter, na contramão do caráter “intrínseco” que é inerente à Crítica. Como vimos 
acima, na fala do professor Fábio Durão, o crítico precisa se concentrar apenas na obra para 
escrever uma boa Crítica, seja ela literária, teatral ou sobre qualquer objeto artístico. Ele deve 
esquecer de diversos fatores que circundam essa obra analisada, como a biografia do autor, a 
expectativa de público ou até mesmo o potencial de venda e sucesso comercial da obra. Sendo 
assim, a Crítica se preocupa apenas com aquilo que é intrínseco do ponto de vista literário, ou seja, 
aquilo que está no texto, nada além do texto. 
 
Por outro lado, a Teoria é tão maisabrangente que pode se preocupar com aquilo que é intrínseco, 
ou seja, aquilo que está no texto, mas também pode se preocupar com questões extrínsecas a ele. 
Para dar um exemplo, existe um grupo de pesquisadores da literatura que estuda um elemento 
chamado de “recepção”. Esse tipo de estudo vai se preocupar em como determinada obra literária 
foi “recebida” em determinada época e lugar. Por exemplo, pode constituir um estudo de recepção a 
análise de como os leitores brasileiros começaram a ler a obra do dramaturgo inglês Willian 
Shakespeare. 
 
Sendo assim, a Teoria Literária pode teorizar sobre qualquer elemento que se relacione ou que possa 
se relacionar com o universo literário, desde a obra até o leitor, passando pelo autor e chegando até 
mesmo na própria Crítica. A Teoria não precisa se voltar apenas para uma obra específica. Por 
exemplo, vimos acima uma Crítica sobre um livro do autor brasileiro Milton Hatoum. No texto, há 
menção ao uso de elementos do campo da memória. Um teórico da literatura poderia, por exemplo, 
construir uma teoria sobre esse recurso dentro do campo literário e utilizar a obra de Hatoum como 
um dos exemplos. Ele, porém, não teria a necessidade de observar apenas esse texto, já que sua 
teoria deveria abranger, de certa maneira, um conjunto de produções literárias cujas características 
se aproximassem sob o ponto de vista da memória. 
 
É comum vermos teorias literárias surgidas a partir do exercício da Crítica. Esse exercício, porém, 
não é o mesmo daquele cujo modelo é encontrado em jornais. Isso porque há também o que 
podemos chamar de “Crítica Acadêmica”, ou seja, de uma análise de determinada obra feita com 
um pouco mais de rigor científico. 
 
Um dos grandes nomes da Teoria da Literatura, o alemão Eric Auerbach, construiu uma de suas 
teorias mais famosas a partir de um texto literário específico. Sua teoria foi exposta no artigo 
chamado Mímesis: A Representação da Realidade na Literatura Ocidental. Esse texto começa com 
uma análise a respeito de uma cena do clássico Odisseia, de Homero. Como o próprio nome do 
artigo diz, há também uma tentativa de reavaliar a teoria aristotélica da imitação. O texto engloba, 
então, uma análise Crítica de uma obra específica, no caso trata-se da obra de Homero, e uma 
reformulação de uma teoria Estética, que é a teoria de Aristóteles. 
 
Ao longo dos nossos estudos daqui em diante, estaremos maiem contato, portanto, com a Teoria 
Literária ou a Teoria da Literatura. Veremos alguns elementos que são observados pelos acadêmicos 
que se debruçam sobre a literatura, assim como veremos algumas teorias importantes que fizeram 
parte da História. 
 
Ufa! Chegamos ao fim desta Unidade tão produtiva e importante. Você deve ter percebido que, 
embora tenhamos uma série de entendimentos sobre os conceitos básicos da Literatura, da Crítica e 
da Teoria, ainda seguimos problematizando essas ideias. Isso é natural no campo das Ciências, 
especialmente as Ciências Humanas, e mais ainda as disciplinas mais recentes das Ciências 
Humanas. Isso é, na verdade, uma ótima notícia pois significa que você nunca ficará entediado e 
sempre terá opiniões e visões distintas para pesquisar e ler sobre esse assunto. 
 
Mas, por ora, cabe aqui fazermos um breve resumo daquilo que vimos e que certamente 
acompanhará você de agora em diante. Num primeiro momento, pensamos no conceito mais básico 
de literatura, que está ligado à ideia de “ficção”. Isso quer dizer que pensamos na Literatura como 
algo que é inventivo e portanto não tem grandes compromissos com o universo factual, material ou 
real. Depois mergulhamos na teoria de Roman Jakobson e descobrimos uma maneira de conceituar 
a literatura a partir de sua forma. Vimos as Funções da Linguagem e, dentre elas, a Função Poética 
que determina que a Literatura é algo que emprega a linguagem de maneira peculiar. Depois disso, 
passamos pelos conceitos de Mímesis e Catarse encontrados na teoria de Aristóteles. Por fim, 
discutimos um pouco sobre as possíveis diferenças entre Crítica e Teoria Literária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A tríade clássica 
Ao final desta Unidade, você será capaz de distinguir os gêneros clássicos da literatura: 
lírico, dramático e épico. Também conhecerá algumas das obras clássicas pertencentes a 
essa “tríade” tão importante para a arte literária. E ainda você conhecerá alguns gêneros 
que surgiram somente a partir da Modernidade, mais precisamente a partir da invenção de 
Gutemberg, a imprensa. Dentro desse universo, você também terá contato com diversos 
exemplos para poder apreciar. A partir de todos esses estudos, você será capaz de 
perceber elementos específicos de textos específicos e os relacionará com algum gênero 
da Literatura. 
 
Antes de entrarmos efetivamente em cada um dos gêneros, é importante que você 
compreenda o que motivou os capítulos desta Unidade. A lírica, o drama e a epopeia 
constituem aquilo que costumamos chamar de “tríade clássica” quando falamos de gêneros 
literários. Isso porque esses eram os gêneros que se podia encontrar já na Antiguidade 
Clássica Grega, embora naquela época ainda não se usasse precisamente esses termos. 
E são esses os três gêneros principais, ou seja, que constituem uma espécie de guarda-
chuva capaz de abarcar qualquer outro gênero que viria a ser inventado posteriormente. 
Esses três gêneros guardam uma característica intimamente ligada à Antiguidade. Essa 
característica bastante relacionada ao contexto Grego Clássico é a marca de oralidade. 
 
Você deve se lembrar que, na primeira Unidade, discutimos a ideia recorrente de relacionar 
a literatura com os textos impressos, não é mesmo? Descontruímos essa ideia ao lembrar 
que existe também a literatura oral e que ela foi extremamente popular em um contexto em 
que a escrita e a leitura ainda não eram popularizadas. É o caso da Grécia Antiga, a 
principal referência dos primórdios da epopeia, da lírica e do drama. 
 
Figura 1 - Grécia Antiga: nosso ponto de partida para compreender os gêneros literários. 
 
 
Como já estudamos, os textos literários na Antiguidade ou eram encenados ou eram 
recitados ou cantados junto a melodias. Pouquíssima coisa era lida individualmente. Isso 
porque até mesmo o hábito de leitura individual é algo que se relaciona mais à Modernidade. 
Imagine se acomodar em um lugar confortável e tranquilo, abrir um livro e começar a ler 
em silêncio. Pois bem! Esse é um hábito que não combina com a Grécia Antiga, nem com 
outros contextos anteriores à Era Moderna. Basta lembrarmos que até mesmo a questão 
da individualidade é algo bem mais recente. Sendo assim, é muito importante que você 
tenha em mente qual era a maneira com que as pessoas se relacionavam com a arte da 
escrita nos primórdios da literatura e da divisão dos gêneros literários. 
 
Você sabia que antes da invenção da imprensa no século XV, não existiam livros impressos. 
A única forma de reproduzir um texto era copiando ele à mão, o que no caso de textos muito 
longos era praticamente inviável. Além disso, se o livro fosse mesmo importante a ponto de 
alguém se dedicar a copiá-lo à mão, ele circularia entre pouquíssimas pessoas já que a 
maioria não sabia ler. Na Idade Média, por exemplo, alguns monges exerciam a função de 
“escribas” e passavam dias e dias copiam manualmente textos importantes. Nessa época, 
o “formato” da obra também era diferente. Em geral elas eram escritas em papiro e 
enroladas em longas folhas. 
 
Dessa maneira, pensaremos a partir de agora em três gêneros bastante antigos que não 
precisavam necessariamente do instrumento livro para existirem e que mesmo sem a 
reprodução em ampla escala conseguiram sobreviver com o passar do tempo. Os nomes 
que trataremos aqui são lírica, epopeia e drama, mas provavelmente você já deve conhecer 
ao menos dois deles por outros nomes. Para resumir, a líricaé o que hoje chamamos de 
“poesia” e o drama é o que chamamos de “teatro”. Exatamente! A lírica é o que costumamos 
chamar de poesia e tem características bem próprias, principalmente no que diz respeito à 
forma. Parece fácil identificar um poema, não é mesmo? 
 
Em relação ao drama, ele é usado para se referir de maneira geral ao texto escrito para ser 
encenado no teatro. Esse também é facilmente identificado por qualquer estudante, já que 
ele contém o que chamamos de “rubricas” que são apontamentos sobre determinadas 
ações em uma cena. Já a epopeia, também chamado de gênero épico, é um tipo de 
narrativa mais antiga que não sobreviveu ao tempo da mesma forma que os outros dois 
gêneros sobreviveram e que hoje em dia nós temos um pouco menos de contato com ela. 
 
Aprofundaremos todos esses detalhes logo em seguida, mas por ora é importante você 
saber que até mesmo essa definição de “tríade” não surgiu na Grécia Antiga. Embora Platão 
e Aristóteles, assim como Horácio e Longino, tenham discorrido sobre os gêneros literários, 
eles ainda não eram tão bem definidos quanto passaram a ser posteriormente. Você deve 
se lembrar, como vimos na Unidade anterior, que nem mesmo a palavra “literatura” aparece 
na obra Poética de Aristóteles, ele se refere a algo que ainda não tinha nome. Alguns termos, 
portanto, foram sendo discutidos com o passar do tempo e essa “tríade”, como estamos 
chamando aqui, foi oficialmente instituída no campo dos estudos literários a partir de um 
movimento chamado de Romantismo Alemão. 
 
O Romantismo Alemão foi um movimento que englobou as ciências e as artes e que tinha 
a intenção de se voltar contra o racionalismo excessivo instituído pelo Iluminismo. O 
movimento deu grandes contribuições para a literatura e para a teoria literária. Alguns dos 
principais nomes do Romantismo alemão são os teóricos August e Friedrich Schlegel, o 
poeta Novalis, o escritor Goethe, assim como os compositores musicais Beethoven e 
Brahms. 
 
Figura 2 - Pintura clássica do Romantismo Alemão: “Caminhante sobre o mar de névoa”, 
de Caspar David Friedrich. 
 
É no contexto do Romantismo Alemão, que surge a teoria que fundamenta toda essa ideia 
de “tríade clássica” que estamos tratando aqui. Vejamos o que o teórico Gerárd Genette 
comenta sobre esse surgimento: 
 
A gloriosa tríade vai dominar toda a teoria literária do romantismo alemão – logo, muito para 
além dele – mas não sem sofrer por seu turno algumas novas reinterpretações e mutações 
internas. Friedrich Schlegel, que abre aparentemente o fogo, conserva ou reencontra a 
repartição platônica, mas dá-lhe uma significação nova: a “forma” lírica, escreve ele pouco 
depois [...] em 1797, é subjetiva, a dramática é objetiva, a épica é subjetiva-objetiva. 
(GENETTE, 1987, p. 54-55) 
 
Como comenta Genette, os românticos alemães ao consolidarem a ideia de tríade dos 
gêneros literários aproveitam para fazer uma importante distinção que se relaciona às ideias 
de subjetividade e de objetividade. Seguindo esse pensamento do representante do 
Romantismo Alemão, Friedrich Schlegel, uma diferenciação inicial seria: 
 
 
Figura 3 - Concepções de Friedrich Schlegel 
O Romantismo Alemão dá, então, o pontapé inicial da teoria dos gêneros literários como 
conhecemos hoje. Seus autores também antecipam a distinção dos três principais gêneros 
a partir de questões de objetividade e de subjetividade, discussão que vai estar bastante 
presente no período moderno. 
 
Mas, além dessa forma de distinção, é necessário observar que cada um dos gêneros pode 
ser visto de maneiras diferentes. Para Anatol Rosenfel, devemos pensar nos gêneros lírico, 
dramático e épico a partir de duas categorias: 
 
1. Do ponto de vista do substantivo; 
2. Do ponto de vista do adjetivo. 
 
Esses dois termos, substantivo e adjetivo, são emprestados da gramática e refletem duas 
das classes de palavras que utilizamos na língua. O substantivo, como você deve se 
lembrar, é aquilo que dá nome às coisas do mundo. Já o adjetivo é aquilo que qualifica as 
coisas do mundo. Assim, o que Rosenfedl quer dizer quando distingue o caráter substantivo 
e o caráter adjetivo dos gêneros é que eles podem ser compreendidos tanto como um coisa 
do universo, ou seja, um tipo de texto, quanto como uma qualidade de outras coisas do 
mundo, ou seja, um traço estilístico. Para resumir: 
 
 
Figura 4 - Como se deve pensar os gêneros, segundo Anatol Rosenfeld 
Se você observar um serviço de streaming, como por exemplo o popular Netflix, você verá 
que os filmes estão divididos por gêneros como terror, romance, comédia e assim por diante. 
Mas se você observar a divisão de gêneros em uma livraria, por exemplo, você verá que 
algumas nomenclaturas se repetem mas não dizem respeito à mesma coisa. Isso ocorre 
porque em geral a classificação de gênero no cinema tem a ver mais com o caráter adjetivo, 
ou seja, com o conteúdo desse filme. Um filme de romance, por exemplo, é um filme que 
apresenta, em alguma medida, uma história de amor. Mas se você buscar por um romance 
em uma livraria, você encontrará obras que falam de uma infinidade de assuntos, desde 
guerras até casos sobrenaturais. Carrie, a estranha, de Stephen King, é um romance do 
ponto de vista da literatura, mas do ponto de vista do cinema, Carrie, a estranha é um filme 
de terror. 
 
Essas perspectivas, adjetiva e substantiva, dos gêneros não são, naturalmente, elementos 
capazes de nos dar conceitos completamente diversos sobre um mesmo gênero. Sobre 
isso, Rosenfeld explica: 
 
Costuma haver, sem dúvida, aproximação ente gênero e traço estilístico: o drama tenderá, 
em geral, ao dramático, o poema lírico e a Épica (epopeia, novela, romance) ao épico. No 
fundo, porém, toda obra literária de certo gênero conterá, além dos traços estilísticos mais 
adequados ao gênero em questão, também traços estilísticos mais típicos dos outros 
gêneros. (1985, p. 18) 
 
Quer dizer, embora haja duas formas de pensar o gênero lírico, por exemplo, essas duas 
formas se complementam. De um lado falamos de um texto lírico porque ele pertence 
mesmo ao gênero lírico, de outro lado falamos de um texto lírico porque, embora ele 
pertença a outro gênero, ele tem como uma de suas características o lirismo. 
 
Para resumir tudo o que acabamos de esboçar sobre as formas de classificação dos 
gêneros literários, podemos pensar em gêneros enquanto tipos textuais que mais se 
aproximam ou se afastam da objetividade ou da subjetividade – se seguirmos o 
pensamento de Friedrich Schlegel. Ou então podemos pensar nos gêneros literários sob 
as perspectivas substantiva ou adjetiva – a partir do que teoriza Anatol Rosenfeld. 
Tomaremos, então, essas duas perspectivas para que possamos compreender melhor a 
lírica, a epopeia e o drama. 
 
O gênero lírico: o poema e suas características 
Comecemos a pensar o gênero lírico a partir das categorias propostas por Rosenfeld. 
Nesse caso, veremos que, do ponto de vista substantivo, falaremos da Lírica, ou seja, da 
poesia, do poema. Por outro lado, sob a perspectiva adjetiva, pensaremos nos traços 
estilísticos líricos. Estes traços estilísticos líricos podem ser encontrados no interior de 
textos de diversos gêneros. Se olharmos um dicionário, veremos que uma das definições 
para o termo “lírico” trata justamente de seu caráter adjetivo: 
 
Lírico (adj.): que exprime sentimentalismo. 
 
Ora, como já mencionamos, um texto pode demonstrar algum lirismo mesmo não sendo 
um texto que pertença ao gênero lírico. Isso ocorre porque estamos tratando de um adjetivo, 
ou seja, de uma característica, de uma qualidade. 
 
Figura 5 - A expressão do sentimentalismo é o que caracteriza o lirismo. | Fonte: Wikimedia 
Commons 
 
A partir dessa ideia, chegamos também à classificação que Friedrich Schlegel elaborou 
para os gêneros clássicos. Segundo ele, o gênero lírico é aquele que está mais próximo da 
subjetividade, como

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