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CARTA DE SÃO CLEMENTE ROMANO AOS CORÍNTIOS (2)

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INSTITUTO INTERDIOCESANO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
MARLON CORDEIRO
CARTA DE SÃO CLEMENTE ROMANO AOS CORÍNTIOS
VITÓRIA
2020
INSTITUTO INTERDIOCESANO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
COSME DA ROCHA
CARTA DE SÃO CLEMENTE ROMANO AOS CORÍNTIOS
Trabalho apresentado ao Prof. Me. José Carlos Jurajuria, do Curso de Teologia do Instituto Interdiocesano de Filosofia e Teologia, como requisito parcial das exigências para a conclusão da disciplina História da Igreja I.
VITÓRIA
2020
INTRODUÇÃO
De acordo com Santo Irineu de Lyon, Clemente Romano, foi o terceiro na sucessão a Pedro, depois de Lino e Anacleto. Segundo algumas lendas, ele pertenceu a família dos “Flávios”, de acordo com os textos Pseudo-clementinas, Para Titus Flavius, fora primo de Domiciano. Também se acredita que fora escravo da família Flávia.” Após sua libertação, ele se põe a serviço. São Paulo o cita em Fl 4,3, a partir de Orígenes e Euzébio. Quem mais se aproxima de algo verdadeiro acerca de Clemente é a contemporaneidade com o cônsul Titus.
O pensamento de Orígenes e de Eusébio de Cesaréia atestam acerca desta realidade: “(...) Anacleto, tinha sido bispo da Igreja dos romanos durante doze anos, foi substituído por Clemente que o Apóstolo, em sua carta aos Filipenses, declara ter sido seu colaborador (…)” (HE, III,15). Já São Jerônimo fala a partir de Eusébio: “A estes (isto é, aos virgens de ambos os sexos) escreve uma carta Clemente, sucessor de Pedro Apóstolo, e de quem Paulo faz menção em quase todo seu discurso o entreteceu sobre a pureza da virgindade” (Adv. Iovinianum, VII).
Pensa-se também que segundo Tertuliano, Clemente se tornou bispo de Roma por São Pedro, porém não assumira por causa de Lino e assim, isto aconteceu depois que Anacleto viera a falecer. Estas lendas que remontam ao século IV d.C, dizem que Clemente fora exilado e martirizado no Mar Negro, porém, nem para Euzébio ou São Jerônimo, isso de fato tenha acontecido. São muitas as especulações acerca de sua biografia.
Esta carta, segundo Figueiredo (1986, p.45) é de uma época de muitas desgraças que caíram sobre o povo cristão, desencadeadas por Domiciano. Tal texto tem como destinatário a Igreja de Corinto, sendo a mesma chamada de “antiga”. Neste contexto, Clemente relata sobre homens que residem neste lugar desde muito tempo até a suas velhices compreendendo que é uma comunidade madura. O enredo desta carta se dá pelo fato de que os presbíteros estão sofrendo causa da rebelião de seus fiéis e, logo, Clemente, intervém, indicando caracteres referente a hierarquia e convivência entre as pessoas.
DESENVOLVIMENTO
Seguem as ideias principais dos capítulos:
1: Preocupação com os acontecimentos de pessoas “irrefletidas e audaciosas” que colocaram a Igreja em calamidade em Corinto. Rememora as boas práticas de fé. Por fim, apresenta conselhos na vivência familiar entre marido e mulher. 2: Novamente se faz menção a boas práticas que a comunidade vivia há algum tempo como a humildade, uma profunda paz, a volta a Deus pedindo a sua misericórdia, a busca pela fraternidade, não eram maliciosos, enfim, cheios de honra e virtudes. 3: Neste capítulo, é descrito que depois que o “bem amado” comeu e bebeu, acabou desonrando e aí nasceu o ciúme, a guerra e tanto outros males. As pessoas se afastaram de Deus e sua fé enfraqueceu. Em seu coração perverso, cada um caminhou, sendo que pelo ciúme, a morte dominou o mundo. 4: Ocorre aqui a menção ao fratricídio provocado por Caim ao seu irmão. O ciúme é porta para a morte, a inveja provoca a destruição dos irmãos. 5: Em oposição ao ciúme e a inveja, Pedro e Paulo são exemplos de tais males. Um suportou, dando o devido testemunho; o outro, pela paciência, foi glorioso na fé. 6: Cita também a fidelidade de mulheres a Deus, como Danaídes e Dircês. 7: Um apelo a mudança de vida, um convite ao contemplar o belo, aquele que nos criou. O Senhor sempre dá possibilidade de retornar, assim como fez nos tempos de Noé e Jonas. 8: O Senhor deseja que todos participem da conversão, pois sua vontade é poderosa e logo, oportuniza tal realidade sempre a cada um. 9: É um retorno a misericórdia divina, assim como Henoc e Noé se voltaram para Deus. 10: Abraão, por sua fé e obediência, é abençoado e tem uma grande descendência. 
11: Lot é salvo da ação de Deus, pois é permanece fiel a ele e não desconfia como sua esposa que se torna uma estátua de sal. 12: Mais uma vez se tem a hospitalidade como fundamento da comunidade de Corinto. Raab tem confiança no Senhor e por sua fé nada de ruim acontece com aqueles que ela cuida. 13: Fundamental ser humilde e evitar qualquer forma de orgulho, para assim andar junto aos preceitos divinos. 14: Ser submisso a Deus, sendo bondoso para com o outro, para que no fim o homem tenha a paz. 15: O Senhor convida a amar de forma sincera e não apenas com palavras vazias de sentido. A língua arrogante somente traz a morte. 16: Esta parte lembra o canto do servo sofredor: Jesus é o cordeiro que se doa. 17: Um convite a cada um imitar aqueles que souberam ser humildes apesar já terem belos exemplos de vida: Elias e Ezequiel, Abraão, Jó e Moisés. 18: Davi pede a Deus misericórdia sobre suas faltas para assim pode-lo servir com louvor. 19: Deus é favorável para com suas criaturas graças a modéstia e a humildade que os homens praticam. 20: Toda a natureza criada por Deus está submissa a ele, de forma ordenada, que se opõe de forma análoga a realidade inóspita de Corinto.
21: Solicita-se a reta conduta na vida de comunidade tendo em vista o gesto que Jesus fez na cruz por todos. 22:Ter fé em Cristo é a garantia de todas as coisas. Usar a língua para o mal leva o homem a ruína. 23: O Senhor agirá no tempo oportuno para exercer sua misericórdia. 24: A ressurreição se manifesta assim como da noite surge o dia. 25: Clemente compara a lenda da fênix com a ressurreição de Cristo. 26: O Criador opera a ressurreição daqueles que o serviram. 27: A nossa esperança se prenda ao Senhor, pois ele é fiel. 28: Impossível fugir do Senhor, pois ele tudo sabe acerca de mim. 29: O povo de Jacó tornou-se herança do Senhor. 30: Somos o povo santo do Senhor, é preciso fugir de todo e qualquer vício que não corresponda aos desígnios de Deus. 
31: Desejar a bênção para recebê-la no tempo oportuno, assim como aconteceu com Abraão, Isaac e Jacó. 32: Em Jesus, temos a justificação, promessa essa desde o antigo testamento. 33: Clemente aqui valoriza mais uma vez as obras da criação. 34: Deve-se aceitar com alegria o fruto de seu trabalho. Confiar no Senhor é a garantia de suas promessas. 35: Deus dá aqueles que o seguem dons admiráveis. 36: Jesus é aquele que nos protege e acolhe nossas fraquezas, o Filho de Deus. 37: Assim como na vida militar, e na organização corporal, a comunidade de Corinto precisa ter uma harmonia. 38: Permanecer em Cristo, cuidando daqueles que mais precisarem, por meio de obras, pois o Criador nos preparou tudo, antes mesmo do nosso nascimento. 39: A cólera e o ciúme matam os filhos distantes da salvação. 40: A ação litúrgica aqui é apresentada como a demonstração do povo que se volta para Deus em seu culto.
 41: Sobre a prática dos sacrifícios e sua coerência a que estão expostos. 42: Clemente aponta para a questão hierárquica como organização na comunidade. 43: A escolha de quem seria responsável pelo sacerdócio e culto foi Aarão e sua tribo. 44: Após a morte de um bispo, outro com comprovação deveria ser escolhido para assim exercer o ministério com a devida justiça. 45: Caminhar para a salvação exige perseverança na paciência nas coisas do Senhor. 46: Deve-se apegar aos santos em vista da santificação e da unidade com o corpo da Igreja, para que as disputas não causem cismas e revoltas. 47: Motivo vergonhoso a conduta dos fieis de Corinto em se rebelaram contra os presbíteros por causa de uma ou duas pessoas. Esta igreja é tida como inabalável. 48: Tirar todo mal é necessário e volta ao Senhor, por sua porta, pois ele é a justiça. 49: A caridadeé fundamental na vida daqueles que seguem a Cristo. 50: A caridade é grande, pois por ela o Senhor nos escolheu para a terra dos santos. 
51: Um convite à conversão, pois aqueles que assim não procederam, tiveram a morte como consequência de seus atos. 52: Para o Senhor, Ele deseja o coração contrito, que muda, transforma e se volta para ele. 53: Moisés clama pelo teu povo, o perdão de suas muitas faltas. 54: Para que o bem aconteça, é preciso se sacrificar, pois ao Senhor tudo pertence. 55: Cita exemplos de pagãos que pela penitência, oração e jejum alcançaram o bem para suas nações, pois Deus foi clemente para com eles. 56: O Senhor corrige a teus filhos, porque ele ama e quer sua misericórdia para com todos. 57: Reconhecer-se pequeno e não usar de soberba para com os presbíteros, para assim se arrepender com o coração. Faz bem escutar a sabedoria, para não colher os frutos das injustiças. 58: Obedecendo aos mandamentos do Senhor, sereis colocados entre os eleitos e nada sofrerão os temores ditos pela Sabedoria. 59: Pedido de oração para que os chamados à luz permaneçam neste caminho e não se afastem dele, como aqueles que desobedecem. 60: O Deus que cria, julga, é misericordioso e compassivo. 
61: O Senhor Deus dirige os povos nas devidas decisões, para que assim, se obtenha paz, mansidão e misericórdia. 62: Esta carta solicita aos fiéis de Corinto a busca por uma vida virtuosa, esquecendo dos rancores e buscando imitar o exemplo dos pais, daqueles que viveram bem a sua fé. 63: Para se obter a paz e a concórdia, é preciso desistir da revolta, da cólera, para que assim se alcance a verdade. O desejo de Clemente é por uma igreja de paz. 64: No fim desta carta, Clemente reconhece o poderio de Deus e ressalta que ao invocá-lo, terás muitas coisas boas para a sua vida. 65: Clemente faz um pedido de que Cláudio Efebo, Valério Biton e Fortunato, anunciem a paz em Corinto e voltem o mais rápido possível desta missão.
CONCLUSÃO
A Carta de São Clemente Romano aos Coríntios possibilita um testemunho importantíssimo para o martírio de Pedro e Paulo. Sua doutrina se baseia numa íntima relação entre os dois testamentos, indicando logo uma exclusiva história da salvação. Rememora grandes nomes do Antigo Testamento, com sua fidelidade a Deus. Apresenta uma perspectiva única de eleição deste Pai. Esclarece o conceito de Igreja, da composição da assembleia e da diferença entre presbíteros e leigos.
Neste contexto, Corinto é um local de grande movimentação entre a Grécia e Peloponeso e assim, com muitas pessoas, surge embates entre os cristãos e os presbíteros, sendo que estes são tirados de seus cargos. Clemente de Roma foi um grande nome na busca por harmonia na comunidade, bem como a posição em que cada sujeito deveria ocupar na hierarquia da fé. Até então, não se tinha a ideia da salvação sem viver o martírio por Cristo e esta epístola ilustra como Pedro e Paulo, mesmo frente a suas fragilidades, foram importantes para mostrar a adesão ao seguimento a Cristo.
Deus sempre se relacionou com as pessoas e Clemente, a partir dos exemplos dos antigos, evidencia o cuidado divino em diferentes momentos históricos para enfim dar-nos a graça da eleição. Em Jesus, a salvação se realiza, sendo que este dá um sentido por seu viver a lei que os antigos tinham deixado até então. Todos formam um só povo e assim, Clemente prioriza a ideia de ordem e obediência ligada a Igreja de Roma, que assim como a Igreja de Corinto, são transitórias e juntamente com todas as outras são “desinstaladas”, caminham para a Igreja de Deus, que é eterna.
Clemente aponta a diferença entre os presbíteros e os leigos, fazendo uma alusão ao Antigo Testamento, em que sendo os sacerdotes e levitas consagrados para uma função específica na Igreja, o presbítero também assim é neste momento em que Clemente descreve e a ideia etimológica por detrás de “laikós”, sendo aquele no antigo testamento como “coisas não consagradas” e aqui, neste contexto em que a Igreja está inserida, Clemente é o primeiro a empregar para as pessoas que não eram consagradas para uma função específica, mas, todavia, pertencia ao povo de Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBLIOTHECA PATRISTICA. Carta aos Coríntios: São Clemente Romano. S.ed. Disponível de: < https://sumateologica.files.wordpress.com/2010/02/clemente
_romano_cartas_aos_corintios.pdf> Acesso em 04 Mar. 2020
FIGUEIREDO, Dom Fernando Antônio. Curso de Teologia Patrística I: a vida da Igreja primitiva (séculos I e II) 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
PIERINI, Franco. A idade antiga: Curso de História da Igreja I. São Paulo: Paulus, 1998.

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