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Laísa Dinelli Schiaveto Vulvovaginites e Infecções Sexualmente Transmissíveis VAGINA NORMAL A secreção vaginal normal é constituída de: secreções das glândulas sebáceas e sudoríparas vulvares, de Bartholin e de Skene; transudato da parede vaginal; células vaginais e cervicais esfoliadas; muco cervical; líquidos endometriais e da tuba; e microrganismos com seus produtos metabólicos, como as bactérias próprias da flora vaginal normal. O tipo e a quantidade de células esfoliadas, muco cervical e líquidos do sistema genital superior são determinados por processos bioquímicos influenciados pelos níveis hormonais. Assim, as secreções vaginais podem aumentar no meio do ciclo menstrual em função do aumento da quantidade de muco cervical. Entretanto, essas variações cíclicas não ocorrem quando a mulher usa contraceptivos orais e não há ovulação. O tecido descamado da vagina é formado por células epiteliais vaginais sensíveis a quantidades variáveis de estrogênio e progesterona. - Células Superficiais: predominam quando há estimulação estrogênica, sendo o principal tipo celular na idade fértil. - Células Intermediárias: predominam quando há estimulação progestogênica, sendo características da fase lútea. - Células Parabasais: predominam na ausência de um dos hormônios, sendo encontradas na pós-menopausa que não há terapia de reposição hormonal. A flora vaginal bacteriana normal é sobretudo aeróbica, com uma média de seis espécies diferentes de bactérias, sendo as mais comuns os lactobacilos produtos de peróxido de hidrogênio. Esta é determinada por fatores que afetam a capacidade de sobrevivência das bactérias, como pH vaginal e a disponibilidade de glicose para o metabolismo das bactérias. Em relação ao pH vaginal, em condições normais, o valor é < 4,5, sendo mantido pela produção de ácido láctico. Isso porque, as células epiteliais vaginais estimuladas por estrogênio são ricas em glicogênio e, assim, decompõem o glicogênio em monossacarídeos que, por sua vez, podem ser convertidos em ácido láctico pelas próprias células e pelos lactobacilos. Além disso, as secreções normais têm consistência flocular e cor branca, sendo localizadas geralmente na porção da vagina situada em nível inferior (fórnix posterior). O exame microscópico evidencia muitas células epiteliais superficiais, poucos leucócitos (menos de um por célula epitelial) e pequeno número ou ausência de células-alvo (clue cells). - Células-alvo são células epiteliais vaginais superficiais aderidas a bactéria, em geral Gardnerella vaginalis, que encobrem a borda celular nítida ao exame microscópico. Nesse sentido, é fisiológico a mulher apresentar variável quantidade de corrimento branco ou incolor, sem odor fétido e sem sintomas de prurido ou ardor, principalmente nos períodos pré e pós-menstrual. Para um possível diagnóstico, deve-se realizar os seguintes pontos: • Exame especular para avaliar o aspecto clínico; • Exame a fresco (lâmina e análise); • pH vaginal < 4,5; • Bacterioscopia corada por Gram pata avaliação da flora vaginal; • Células específicas e PCR para avaliação de patógenos; • Citologia oncótica para rastreio de câncer de colo de útero, além de pode auxiliar no diagnóstico de vulvovaginites. Laísa Dinelli Schiaveto INFECÇÕES VAGINAIS VAGINOSE BACTERIANA A Vaginose Bacteriana (VB) é uma alteração da flora bacteriana vaginal normal que acarreta na diminuição do número de lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio e no supercrescimento sobretudo de bactérias anaeróbias. As bactérias anaeróbias são encontradas em menos de 1% nas floras normais. Porém, em casos de vaginose bacteriana, a concentração dessas bactérias, como Gardnerella vaginalis e Mycoplasma hominis, é 100 a 1.000 vezes maior que em condições normais. Além disso, após o desaparecimento dos lactobacilos normais é difícil de restabelecer a flora vaginal normal e, por isso, a recorrência da vaginose bacteriana é comum. Ainda não se sabe qual fator desencadeia o distúrbio da flora vaginal normal. No entanto, acredita-se que haja influência da alcalinização repetida da vagina decorrente de coitos frequentes ou do isso de duchas vaginais. OBS.: Após o desaparecimento dos lactobacilos normais é difícil de restabelecer a flora vaginal normal e, por isso, a recorrência da vaginose bacteriana é comum. RISCOS: • GERAIS: DIP, DIP pós-aborto, infecções pós-operatórias da cúpula vaginal após histerectomia e anormalidades da citologia cervical. • GESTANTES: ruptura prematura das membranas, trabalho de parto e parto pré- termo, corioamnionite e endometrite pós- cesariana. DIAGNÓSTICO: Requer exames realizados no consultórios, sendo feito com base nos seguintes achados: • Odor vaginal tipo peixe e corrimento, principalmente após o coito. • Secreções vaginais cinzas e que formam uma fina camada de revestimento das paredes vaginais. • pH > 4,5 ( entre 4,7 e 5,7). • Exame microscópico mostra elevado número de células-alvo e ausência de leucócitos. • Acréscimo de KOH às secreções vaginais libera um odor de peixe (teste das aminas). • Bacterioscopia por Gram revela células-alvo. OBS.: A cultura de Gardnerella vaginalis não é recomendada como método diagnóstico devido a ausência de especificidade. TRATAMENTO: Tem como objetivo inibir os microrganismos anaeróbios, mas não os lactobacilos vaginais. 1. METRONIDAZOL - Principal fármaco de escolha, pois é um antibiótico com excelente atividade contra anaeróbios, mas pequenas atividade contra lactobacilos. - Metronidazol 500 mg, VO, 2 vezes/dia, durante 7 dias, sendo aconselhado evitar o consumo de álcool durante o tratamento e nas 24h subsequentes. - Metronidazol em gel a 0,75%, com aplicados de 5g, por via intravaginal, 1 vez/dia, durante 5 dias. 2. CLINDAMICINA - Clindamicina 300 mg, VO, 2 vezes/dia, durante 7 dias. - Clindamicina em óvulos 100 mg, por via intravaginal, 1 vez/dia ao se deitar, durante 3 dias. - Clindamicina creme a 2%, 100 mg por via intravaginal, em dose única. - Clindamicina creme a 2%, com aplicador de 5g, por via intravaginal, 1 vez/dia ao se deitar, durante 7 dias. OBS.: Muitos médicos preferem o tratamento por via intravaginal a fim de evitar efeitos colaterais sistêmicos. OBS.: O tratamento do parceiro não melhora a resposta terapêutica e, por isso, não é recomendado. Laísa Dinelli Schiaveto VAGINITE POR TRICHOMONAS (TRICOMONÍASE) A Tricomoníase é causada pelo parasito flagelado Trichomonas vaginalis, sendo uma infecção sexualmente transmissível (IST). - Muitas vezes, está associado à vaginose bacteriana, que pode ser diagnosticada em até 60% dos casos. Esse parasito existe apenas na forma de trofozoíto, sendo um anaeróbio capaz de gerar hidrogênio para se combinar ao oxigênio, criando, assim, um ambiente anaeróbio. Apresenta alta transmissão, uma vez que 70% dos homens contraem a doença após uma única exposição a uma mulher infectada, o que sugere que a transmissão do homem para a mulher seja ainda maior. RISCOS: • GERAIS: celulite da cúpula da vagina após histerectomia. • GESTANTES: ruptura prematura das membranas e parto pré-termo. DIAGNÓSTICO: Os fatores imunes locais e a quantidade de protozoários inoculados influenciam nas manifestações clínicas, podendo ser muito mais leves em pacientes com uma pequena inoculação, bem como assintomática. • Corrimento vaginal fétido, purulento e abundante, que pode originar da vagina, podendo estar acompanhado de prurido vulvar. • Eritema vaginal focal e colpite macular (colo em framboesa) nos indivíduos com altas concentrações de organismos. • pH > 5,0. • Exame microscópico com trichomonas móveis e aumento do número de leucócitos, bem como a presença de células-alvo nos casos da comum associação com vaginose bacteriana.• Teste das aminas pode ser positivo. OBS.: Como se trata de uma IST, as mulheres com essa infecção devem ser submetidas a exames para detecção de outras ISTs, sobretudo Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, bem como teste sorológico para sífilis e infecção pelo HIV. TRATAMENTO: 1. METRONIZADOL - Principal fármaco de escolha. - Metronidazol 2 g, VO, em dose única. - Metronidazol 200 mg, VO, 2 vezes/dia, durante 7 dias. - Mulheres que não respondem ao tratamento inicial devem ser tratadas novamente com metronidazol 500 mg, VO, 2 vezes/dia, durante 7 dias; - Se a repetição não for eficaz, deve-se tratar com metronidazol 2g, VO, em dose única, durante 5 dias OU tinidazol 2 g, VO, em dose única, durante 5 dias. OBS.: O parceiro deve ser tratado. OBS.: O metronidazol em gel não deve ser usado no tratamento da tricomoníase vaginal. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL A Candida albicans é responsável por 85-90% das infecções vaginais por leveduras, sendo que as demais, como a C. glabrata e C. tropicalis, causam sintomas vulvovaginais e tendem a ser mais resistentes ao tratamento. - Estima-se 75% da mulheres tenham, pelo menos, um episódio de candidíase vulvovaginal durante a vida. - Quase 45% das mulheres terão dois ou mais episódios. - Poucas têm infecção recorrente (crônica). Compreende um gênero de fungos dimórficos que existem na forma de blastosporos, responsáveis pela transmissão e colonização assintomática, e de micélios, que são produzidos pela germinação dos blastosporos e estimulam a colonização, além de facilitarem a invasão tecidual. Assim, as extensas áreas de prurido e inflamação associadas à invasão mínima das células epiteliais do sistema genital inferior sugerem a participação de uma toxina ou enzima extracelular, explicando assim o fenômeno de hipersensibilidade. Laísa Dinelli Schiaveto As pacientes assintomáticas apresentam maior concentração de microrganismos (> 104/ml) que as assintomáticas (< 103/ml). FATORES QUE PREDISPÕEM: • Uso de antibióticos; • Gravidez; • Diabetes. CLASSIFICAÇÃO: DIAGNÓSTICO: Os sintomas consistem em prurido vulvar associado a corrimento vaginal, em geral, semelhante a queijo coalhado. • Corrimento varia de aquoso a espesso homogêneo. • Pode haver disúria, dispareunia, queimação vulvar, irritação, eritema e edema de pele vulvar, lesões periféricas pustulopapulares bem delimitadas e úlceras vaginais. • Pode haver vagina com eritema e corrimento esbranquiçado aderente. • Colo com aparência normal. • pH normal (< 4,5). • Elementos fúngicos presentes em 80% dos casos. • Teste das aminas negativo. OBS.: Pode-se fazer um diagnóstico presuntivo quando não há comprovação da presença de elementos fúngicos ao exame microscópico, se o pH e os resultados do exame da preparação com solução salina forem normais e se a paciente apresentar aumento do eritema ao exame da vagina ou da vulva. Ressalta-se que é recomendado a realização de cultura para fungos. Entretanto, por outro lado, é improvável que mulheres com achados normais ao exame físico e sem evidência de elementos fúngicos ao exame microscópico tenha candidíase e, assim, não se deve administrar tratamento empírico, exceto se a cultura vaginal para leveduras for positiva. TRATAMENTO: 1. APLICAÇÃO TÓPICA DE AZÓIS - É o tratamento mais frequente. - É mais eficaz que a nistatina. - Causa alívio dos sintomas e culturas negativas em 80-90% dos pacientes que concluíram o tratamento. - Os sintomas, em geral, desaparecem em 2-3 dias. - Recomendam-se os esquemas de curta duração de até 3 dias. 2. FLUCONAZOL - Antifúngico oral, que parece ter eficácia igual à dos azóis no tratamento da candidíase leve a moderada. - As pacientes devem ser advertidas de que os sintomas persistirão por 2-3 dias após o início do tratamento. - Fluconazol 150 mg, VO, em dose única. Em casos com candidíase complicada, é vantajoso a dose complementar de Fluconazol 150 mg, VO, administrada 72h após a primeira dose. Além disso, estas podem ser tratadas com esquema tópico mais prolongado, com duração de 10-14 dias, bem como a terapia auxiliar com esteroide tópico fraco, como o creme de hidrocortisona a 1%, que pode ajudar a aliviar sintomas irritativos externos. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL RECORRENTE A Candidíase Vulvovaginal Recorrente é definida como quatro ou mais episódios de candidíase em um ano, nos quais as mulheres Laísa Dinelli Schiaveto apresentam sintomas irritativos persistentes no vestíbulo e na vulva. Assim, a queimação substitui o prurido, compondo o principal sintoma clássico. DIAGNÓSTICO: • Confirmado por microscopia direta das secreções vaginais e cultura para fungos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: • Micose crônica; • Dermatite atópica; • Vulvovaginite atrófica. TRATAMENTO: 1. FLUCONAZOL - Fluconazol 150 mg, VO, a cada 3 dias por 3 doses, durante 6 meses. VAGINITE INFLAMATÓRIA A Vaginite Inflamatória Descamativa é uma síndrome clínica caracterizada por vaginite exsudativa difusa, esfoliação de células epiteliais e corrimento vaginal purulento abundante. Sua causa ainda é desconhecida, mas os achados na coloração Gram mostram ausência relativa de bacilos gram-positivos normais (lactobacilos) e sua substituição por cocos gram-negativos (estreptococos). DIAGNÓSTICO: • Corrimento vaginal purulento, queimação ou irritação vulvovaginal e dispareunia. • Pode haver eritema vaginal e vulvar, manchas equimóticas vulvovaginais e colpite macular. • Prurido vulvar é menos frequente. • pH > 4,5. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: • Candidíase; • Vaginite atrófica. TRATAMENTO: 1. CLINDAMICINA - Clindamicina em creme a 2%, 5g, por via intravaginal, 1 vez/dia, durante 7 dias. - Em casos de recidiva (30% dos casos), o tratamento deve ser feito novamente com Clindaminicina em creme a 2%, 5g, por via intravaginal, 1 vez/dia, durante 14 dias. OBS.: Quando há recidiva em pacientes na pós-menopausa, cogita-se a terapia de reposição hormonal suplementar. VAGINITE ATRÓFICA A Vaginite Atrófica é acompanhada de corrimento vaginal purulento intenso e acomete mulheres após a menopausa. DIAGNÓSTICO: • Corrimento vaginal purulento intenso. • Pode haver dispareunia e sangramento pós- coito devido à atrofia do epitélio vaginal e vulvar. • Exame mostra atrofia genital externa, perda das pregas vaginais e mucosa vaginal pouco friável em determinadas áreas. • Exame microscópico mostra predomínio de células epiteliais parabasais e aumento do número de leucócitos, TRATAMENTO: 1. CREME VAGINAL DE ESTROGÊNIO TÓPICO - Estrogênio desempenha papel importante na manutenção do microambiente vaginal. - Creme de estrogênios conjugados 1g, por via intravaginal, 1 vez/dia, durante 1-2 semanas. - A terapia de manutenção com estrogênio, tópico ou sistêmico, é considerada com o objetivo de se evitar a recorrência do distúrbio. CERVICITE O colo é formado por dois tipos de células epiteliais: epitélio escamoso (ectocervical) e epitélio glandular (endocervical), sendo que o epitélio escamoso ectocervical é uma extensão do epitélio vaginal, além de ser contínuo a ele. Assim, a causa da inflamação cervical depende do epitélio afetado. - Epitélio Escamoso: Trichomonas, Candida e herpes-vírus simples (HSV). Laísa Dinelli Schiaveto - Epitélio Glandular: Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis A associação de cervicite com vaginose bacteriana é comum e, se não tratada ao mesmo tempo, causa acentuada persistência dos sinais e sintomas da cervicite. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico se baseia na presença de corrimento endocervical purulento, em geral, de cor amarela ou verde, denominado mucopus. • Após a remoção das secreções ectocervicais com um swab grande, insere- se um swab pequeno de algodão no canal endocervicalpara que o muco cervical seja extraído. O swab de algodão é examinado contra um fundo branco ou perto com o objetivo de se detectar a cor verde ou amarela do mucopus. • Zona de ectopia (epitélio glandular) é friável e sangra com facilidade. • Distribuição do mucopus sobre a lâmina quando corada pelo método Gram mostra aumento do número de neutrófilos (> 30 por campo de grande aumento); - É possível detectar diplococos gram- negativos intracelulares, que leva ao diagnóstico presuntivo de endocervicite gonocócica. - Se os resultados forem negativos para gonococos, o diagnóstico presuntivo é de cervicite por clamídia. • Exames para gonorreia e clamídia, de preferência testes de amplificação de ácido nucleico. TRATAMENTO: É feito com um esquema recomendado de antibiótico para tratamento de infecção não complicada do sistema genital inferior por clamídia e gonorreia. 1. ANTIBIÓTICOS - A resistência à fluoroquinolona é comum em isolados de Neisseria gonorrhoeae e, assim, não são mais recomendados. OBS.: Todos os parceiros sexuais devem ser tratados com esquema antibiótico semelhante. DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) A DIP é causada por microrganismos que colonizam a endocérvice e ascendem até o endométrio e as tubas uterinas, compreendo um diagnóstico clínico, que representa a infecção e inflamação do sistema genital superior. - A inflamação pode estra presente em qualquer ponto de uma sequência que inclui endometrite, salpingite e peritonite. Os principais causadores incluem Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, que são microrganismos sexualmente transmissíveis. Além disso, evidências recentes sugerem que Mycoplasma genitalium, Gardnerella vaginalis, Prevotella e peptoestreptococos também podem ser os agentes causadores. Ressalta-se que, a vaginose bacteriana é comum em mulheres com DIP, sendo que a consequente alteração da flora vaginal pode facilitar a disseminação ascendente de bactérias patogênicas por modificação enzimática da barreira de muco cervical. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico clássico se baseia numa tríade de sinais e sintomas: (1) dor pélvica; (2) dor à mobilização cervical e à palpação dos anexos; (3) febre. No entanto, há grande variação de sinais e sintomas, o que dificulta o diagnóstico de DIP aguda. Nesse sentido, muitas apresentam sinais sutis ou leves, os quais não são reconhecidos com facilidade e, assim, o atraso no diagnóstico e no tratamento contribuem para as sequelas inflamatórias no trato genital superior, como infertilidade, aderências e dor pélvica crônica. A análise de secreções vaginais e endocervicais é parte fundamental da avaliação, podendo detectar aumento do número de leucócitos polimorfonucleares. Laísa Dinelli Schiaveto Além disso, nos casos de mulheres com sintomas graves, pode-se solicitar exames mais elaborados, uma vez que o diagnóstico errado pode acarretar morbidade desnecessária. Assim, estes incluem biópsia de endométrio para confirmação da endometrite, ultrassonografia ou exames radiológicos a fim de que se caracterizem abscesso tubo- ovariano e laparoscopia para confirmação visual de salpingite. RESUMINDO... (1) Sintomas: nenhum necessário. (2) Sinais: dor à palpação dos órgãos pélvicos; leucorreia e/ou endocervicite mucopurulenta. (3) Outros critérios para aumentar a especificidade do diagnóstico: biópsia do endométrio que mostra endometrite; elevação PCR ou VHS; temperatura > 38ºC; leucocitose; teste positivo para gonorreia ou clamídia. (4) Critérios Específicos: comprovação de abscesso tubo-ovariano por US; confirmação visual de salpingite por laparoscopia. TRATAMENTO: Os esquemas de tratamento para DIP devem proporcionar cobertura empírica de amplo espectro, de patógenos mais prováveis. 1. TRATAMENTO AMBULATORIAL - Cefoxitina 2 mg IM + Probenecina 1 g VO; - Ceftriaxone 250 mg IM; - Cefalosporina equivalente; - MAIS: Doxiciclina 100 mg, VO, 2 vezes/dia, durante 14 dias; OU Azitromicina 500 mg inicialmente e, depois, 250 mg/dia durante 7 dias OBS.: O esquema ambulatorial com cefoxitina e doxiciclina é tão eficaz quanto a internação para a administração parenteral dos mesmos antimicrobianos. 2. TRATAMENTO HOSPITALAR à ESQUEMA A: - Cefoxitina 2 g, IV, a cada 6h; - Cefotetana 2 g, IV, a cada 12 h; - MAIS: Doxiciclina 100 mg, VO ou IV, a cada 12h. à ESQUEMA B: - Clindamicina 900 mg, IV, a cada 8 h; - MAIS: Ceftriaxona 1-2 g, IV, a cada 12 h; OU Gentamicina IV ou IM, com dose inicial (2 mg/kg), seguida por dose de manutenção (1,5 mg/kg) a cada 8h. Condições para Internação Hospitalar: diagnóstico incerto; suspeita de abscesso pélvico; doença clínica grave; dúvida sobre a adesão do tratamento ambulatorial. Condições para Alta Hospitalar: febre < 37,5ºC por mais de 24h; número de leucócitos normalizado; ausência de dor à descompressão súbita; repetição do exame mostrar acentuada melhora da dor à palpação dos órgãos pélvicos. OBS.: É necessário avaliar os parceiros sexuais e administrar o tratamento para infecção uretral por clamídia ou gonorreia. ÚLCERA GENITAL Em ordem, as principais causas de úlceras genitais são: - Herpes-Vírus Simples (HSV); - Sífilis (Treponema pallidum); - Cancróide (Haemophilus ducreyi); - Linfogranuloma Venéreo (Clamídia); - Granuloma Inguinal – Donovanose (Klebsiella granulomatis). OBS.: Essas doenças estão associadas ao aumento do risco de infecção pelo HIV. OBS.: Todas as mulheres com úlceras genitais devem ser submetidas a teste sorológico para sífilis. Laísa Dinelli Schiaveto SÍFILIS Característica: úlcera indolor e com dor mínima à palpação, sem linfadenopatia, principalmente se endurecida. Diagnóstico: solicita-se teste não-treponêmico (VDRL) e um teste treponêmico de confirmação (FTA-ABS). Tratamento: - Sífilis Primária, Secundária ou Latente Inicial: Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, IM, em dose única. - Sífilis Terciária, Latente > 1 ano e em Gestantes: Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, IM, 1 vez/semana, durante 3 semanas. REAÇÃO DE JARISCH-HERXHEIMER: é uma resposta febril aguda acompanhada por cefaleia, mialgia e outros sintomas, que pode ocorrer nas primeiras 24h após qualquer tratamento de sífilis. HERPES Característica: vesículas agrupadas misturadas a pequenas úlceras, sobretudo com história prévia dessas lesões. Diagnóstico: • A confirmação laboratorial é recomendada, pois o diagnóstico de herpes genital é traumático para muitas mulheres, modifica sua autoimagem e afeta sua capacidade percebida de inicial novas relações sexuais e ter filhos. • A cultura é o exame mais sensível e específico, uma vez que a sensibilidade se aproxima de 100% no estágio de vesícula e de 89% no estágio pustular, caindo apenas para 33% em pacientes com úlceras. - Resultados falso-negativos são comuns, principalmente, em pacientes com infecções recorrentes; solicita-se sorologia para herpes IgM e IgG. Tratamento: - Aciclovir 400 mg, VO, 3 vezes/dia, durante 7-10 dias; - Fanciclovir 250 mg, VO, 3 vezes/dia, durante 7-10 dias; - Valaciclovir 1 g, VO, 2 vezes/dia, durante 7- 10 dias. Embora esses fármacos proporcionem controle parcial dos sinais e sintomas clínicos, não erradicam vírus latentes nem afetam o risco subsequente, a frequência ou a intensidade de recorrências e, por isso, há a terapia supressora diária, que reduz a frequência de recorrências em, no mínimo, 75% em pacientes com seis ou mais recorrências por ano. CANCROIDE Característica: uma a três úlceras extremamente dolorosas, acompanhadas por linfadenopatia inguinal dolorosa OU um bubão inguinal acompanhado por uma ou várias úlceras. Diagnóstico: clínico. Tratamento: - Azitromicina 1 g, VO, em dose única; - Ceftriaxone 250 mg, IM, em dose única; - Ciprofloxacino 500 mg, VO, 2 vezes/dia, durante 3 dias;- Eritromicina base 500 mg, VO, 4 vezes/dia, durante 7 dias. Após 3-7 dias o início do tratamento, as pacientes devem ser reavaliadas com o intuito de assegurar a resolução gradual da úlcera genital, cuja cicatrização pode ser esperada em 2 semanas, a menos que seja muito grande. VERRRUGAS GENITAIS As Verrugas Genitais externas são uma manifestação da infecção por papilomavírus humano (HPV), sobretudo pelo tipo 6 e 11 não oncogênicos, que tendem a se manifestar em Laísa Dinelli Schiaveto áreas mais diretamente afetadas pelo coito, como a fossa navicular e áreas laterais na vulva e, com menor frequência, em toda a vulva, vagina e colo do útero. O traumatismo leve associado ao coito pode causar rupturas na pele da vulva, permitindo contato direto entre as partículas virais de um homem infectado e a camada basal da epiderme da parceira sexual suscetível. A infecção pode ser latente ou causar a replicação de particular virais com surgimento de uma verruga, a qual é altamente contagiosa. Assim, mais de 75% das parceiras sexuais desenvolvem essa manifestação de infecção por HPV quando expostas. DIAGNÓSTICO: clínico. TRATAMENTO: Tem como objetivo a remoção das verrugas; entretanto, não é possível erradicar a infecção viral, ocorrendo clareamento viral espontâneo dentro de 3 anos da infecção. A seleção do esquema terapêutico específico depende do local, do tamanho, do número de verrugas, bem como do custo, da eficácia, da convivência e dos possíveis efeitos adversos. OBS.: Na maioria das vezes, as recorrências são consequência da reativação de infecção subclínica, e não da reinfecção por um parceiro sexual à o exame dos parceiros não é absolutamente necessário. Por fim, a infecção pelo HIV tipo 6, 11, 15 e 18 pode ser evitada por vacinação. VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) A infecção pelo HIV produz um espectro de doença que avança de um estado assintomático até a AIDS clássica, sendo que, em não tratados, o ritmo de avanço da doença é variável. Assim, o tempo médio entre a infecção pelo HIV e o desenvolvimento de AIDS é de 10 anos, variando desde alguns meses até mais de 12 anos. Ainda, é importante destacar que, de certo modo, a doença pode ser alterada pelo tratamento antirretroviral. Estima-se que 40-50% das pessoas com HIV sejam mulheres, sendo que os responsáveis pela maioria dos casos incluem o uso de drogas intravenosas e a transmissão heterossexual. Em razão do seu impacto sobre o sistema imune, o HIV afeta o diagnóstico, a avaliação, o tratamento e o acompanhamento de muitas outras doenças, além de poder reduzir a eficácia do tratamento antimicrobiano de algumas ISTs. RISCOS: • Tuberculose; • Pneumonia bacteriana; • Pneumonia por Pneumocystis karinii (PPC); • Neoplasia intraepitelial cervical (infecção por HPV + HIV). RASTREAMENTO: O rastreamento de rotina para HIV é realizado em mulheres de 19 a 64 anos, enquanto o rastreamento dirigido é realizado nas mulheres com fatores de risco que estejam fora dessa faixa etária, como adolescentes sexualmente ativas. DIAGNÓSTICO: • Testes para anticorpos contra HIV: - Primeiramente, realiza-se ELISA ou teste rápido; - Se confirmado, realiza-se Western Blot, que, por sua vez, se positivo, confirma a infecção pelo HIV e a capacitação de transmissão do vírus. OBS.: O teste de HIV deve ser ofertado para todas as mulheres com o diagnóstico de qualquer IST, principalmente úlcera genital. Laísa Dinelli Schiaveto AVALIAÇÃO INICIAL HIV-POSITIVAS: • Rastreamento de doenças associadas ao HIV, como tuberculose e outras ISTs; • Administração das vacinas recomendadas, como hepatite B, pneumocócica e influenza; • Aconselhamento comportamental e psicossocial. TRATAMENTO: 1. TERAPIA ANTIRRETROVIRAL Os objetivos primários são: supressão máxima e durável da carga viral; restauração ou preservação da função imunológica; melhora da qualidade de vida; redução da morbidade e mortalidade relacionadas com o HIV; e prevenção da transmissão do HIV. Deve ser guiada pelo monitoramento dos parâmetros laboratoriais do RNA do HIV (carga viral) e do número de células T CD4+, bem como pela condição clínica do paciente. - É iniciada em todas as mulheres com historia de algumas doenças definidoras de AIDS ou contagem de células T CD4+ < 350 células/mm3. - É iniciada independente da contagem de células T CD4+ nos casos de gravidez, nefropatia associada ao HIV e coinfecção por hepatite B quando há indicação de tratamento de hepatite B. OBS.: Esquemas duplos de inibidores nucleosídicos da transcriptase reversa, associados a um inibidor da protease ou um inibidor não nucleosídico da transcriptase reversa, proporcionam um benefício clínico mais durável que a monoterapia. PROFILAXIA: - Pacientes com < 200 células T CD4+ por µL devem receber a profilaxia contra infecções oportunistas, como sulfametoxazol- trimetoprima ou pentamidina em aerossol para prevenção de pneumonia por Pneumocystis karinii. - Pacientes com < 50 células T CD4+ por µL devem receber profilaxia com azitromicina contra infecções por micobactérias. INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (ISTs) • HPV • HIV • Hepatite B e C • Herpes Genital • Sífilis • Tricomoníase • Cancróide ou Linfogranuloma Inguinal • Linfogranuloma Venéreo • Clamídia e Gonorreia (cervicites e DIP) INFECÇÃO NÃO SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS • Vaginose Bacteriana • Candidíase Vulvovaginal • Vaginite Inflamatória • Vaginite Atrófica • Vaginose Citolítica (excesso de lactobacilos, citólise, meio ácido conteúdo branco e mais comum pré-menstrual).
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