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Fonte: Dra. Virgínia, Rotinas em Ginecologia, Medcurso 2019 A vagina é um ecossistema dinâmico e complexo, sendo que o seu revestimento é composto por um epitélio escamoso sem queratina que, juntamente com a secreção, faz a primeira linha de defesa contra infecções. A secreção vaginal fisiológica é branca, inodora e viscosa, com cerca de 200 tipos diferentes de bactérias e milhões de unidades bacterianas formadoras de unidades formadoras de colônias por grama de fluido vaginal. A flora bacteriana normal é composta principalmente por lactobacilos, mas outros agentes potencialmente patogênicos podem estar presentes, principalmente quando ocorre desequilíbrio na flora vaginal. Os lactobacilos convertem glicogênio em ácido láctico, que auxilia na manutenção do pH vaginal normal, que varia entre 3,8 e 4,2. A descamação do revestimento epitelial vaginal facilita a expulsão de microrganismos que tenham aderido à sua superfície. A presença de toxinas liberadas por algumas bactérias facilita a persistência de um filme adesivo de microrganismos patogênicos, dificultando os mecanismos de defesa do epitélio vaginal. O aspecto da secreção pode variar conforme a fase do ciclo menstrual e a presença de glicogênio. A coloração normal da mucosa vaginal da mulher sadia apresenta aspecto rosa-pálido, tornando-se mais clara e adelgaçada em mulheres pós- menopáusicas e “vinhosa” durante a gestação. Salienta-se que nem sempre a presença de secreção genital aumentada é sinônimo de patologia. As vulvovaginites são infecções do trato reprodutivo da mulher, correspondendo até 40% das consultas de ginecologia. Elas ocorrem principalmente pelo desequilíbrio da flora vaginal, especialmente pela variação no número de lactobacilos. As vaginites são caracterizadas pela presença de secreção vaginal aumentada, odor vaginal e irritação vulvar e/ou vaginal, podendo estar associadas a cheiro desagradável e desconforto intenso. As principais causas são vaginose bacteriana (VB) (40-50%), candidíase (20-25%) e tricomoníase (15- 20%). É muito importante, pois sua sintomatologia é desconfortável e gera repercussões psicológicas e na sexualidade. Em geral, as pacientes se queixam de conteúdo vaginal aumentado, prurido e irritação, que podem estar associados a odor desagradável, a ardência e intenso desconforto. No entanto, é importante lembrar que nem toda descarga vaginal representa uma doença. A mulher pode apresentar uma secreção vaginal fisiológica! E muitas vezes esta secreção está acima do normal, o que configura a chamada mucorreia. Mucorreia x Corrimento o Mucorreia é a secreção vaginal acima do normal. O exame especular estabelece facilmente o seu diagnóstico. Ele mostra ausência de inflamação vaginal, mucosa vaginal de coloração rosa pálido, e a presença de muco claro e límpido. o Corrimento é uma anormalidade na quantidade ou no aspecto físico do conteúdo vaginal, que se exterioriza pelos órgãos genitais externos. Muitas vezes o quadro clínico é insuficiente para determinar a etiologia do corrimento genital. Tem a possibilidade de complicações e sequelas importantes. Facilitam a transmissão de HIV e outros agentes de transmissão sexual. Apesar do aprimoramento dos métodos diagnóstico e da disponibilidade elevada no número de medicamentosos, essas afecções continuam a representar um desafio para médicos e pacientes. A anamnese, o exame pélvico e o exame macroscópico do fluxo vaginal fornecem dados suficientes para o diagnóstico de um agente específico. Embora o exame microscópico direto das secreções vaginais não seja obrigatório, ele pode auxiliar na confirmação diagnóstica de vaginites, sendo os exames de cultura utilizados somente em casos especiais. Vaginose bacteriana Vaginose é a inflamação da vagina causado por um desequilíbrio da flora vaginal (os lactobacilus diminuem e aumentam as bactérias anaeróbicas e facultativas). Entre mulheres em idade reprodutiva, a VB é a principal causa de alterações da secreção. O agente principal é a Gardnerella, mas outros podem ser encontrados, como Atopobium, Prevotella, Megasphaera, Leptotrichia, Sneathia, Bifidobacterium, Dialister e Clostridium, Peptostreptococcus, Mobiluncus, Bacteroides e Mycoplasma hominis. Na maioria dos casos, a VB é um problema local; entretanto, em algumas situações, pode estar relacionada à ocorrência de problemas mais graves, como endometrite, salpingite, peritonite pélvica e abscessos pélvicos, relacionados principalmente aos germes anaeróbios ou micoplasmas. Os lactobacilos são responsáveis pela manutenção do pH vaginal ácido, por meio da produção de ácido láctico. As situações relacionadas à alcalinização vaginal – por exemplo, intercursos sexuais frequentes, uso de duchas vaginais, sexo anal, exercício físico, estresse, período pré-menstrual – favorecem o desequilíbrio da flora vaginal, predispondo à VB. Além disso, sua fisiopatologia está relacionada com uma alteração da resposta imune local (endógeno ou exógeno), tornando o meio vaginal imunossuprimido e susceptível a outros agentes sexualmente transmissíveis. É importante destacar que todos os fatores que fazem diminuir a quantidade de oxigênio nos tecidos e, portanto, o seu potencial de oxirredução, favorecem a infecção por anaeróbios estritos. Como resultado, ocorre liberação de citocinas, prostaglandinas e enzimas líticas por estes patógenos que respondem por algumas das manifestações clínicas (teste de whiff positivo) e pelo substrato fisiopatológico das complicações da VB. O diagnóstico é clinico e exame especular. Cerca de 50 a 70% das mulheres com VB são assintomáticas, e, nas sintomáticas, a principal queixa é secreção vaginal com odor desagradável que piora após relação sexual. Em até 15% dos casos, pode haver prurido e irritação vulvovaginal. Esse odor é advindo das aminas putrecidas que as Gardnerelas exalam após entrar em contato com as secreções vaginais. Exame especular: O corrimento vaginal é fluido, homogêneo, branco acinzentado (mais comum) ou amarelado (raro), normalmente em pequena quantidade e não aderente, e pode formar microbolhas. A presença de sintomas inflamatórios, como dispareunia, irritação vulvar e disúria, é exceção. A parede vaginal das mulheres com VB é de aparência normal e não eritematosa. Critérios de Amsel: 3 dos 4 itens a seguir → Corrimento vaginal branco-acinzentado, homogêneo e fino; → pH vaginal > 4,5 → Teste das aminas (wiff test) positivo → Presença de clue cells ou células-guia ou células- pista ou células-indicadoras ou células- -alvo ou células-índice ou células- chave no exame microscópico a fresco da secreção vaginal Teste das aminas (Whiff Test) o Deve-se adicionar 1 a 2 gotas de hidróxido de potássio (KOH) a 10% na secreção vaginal e depositar em uma lâmina. o O surgimento imediato de odor desagradável (peixe em decomposição), causado pela volatilização das bases aminadas, é característico das vaginoses. É um exame simples e de fácil avaliação. CLUE CELLS Correspondem a células epiteliais vaginais com sua membrana recoberta por bactérias que se aderem à membrana celular e tornam seu contorno granuloso e impreciso. Estão presentes em mais de 20% das células epiteliais vaginais de pacientes com VB. Embora constituam um achado característico de VB, as células- guia podem estar ausentes em até 40% dos casos. OBSERVAÇÕES: Os pontos discordantes do novo protocolo são: 1º) Características do corrimento, as quais não são um consenso na literatura; 2º) Visualização das clue cells na bacterioscopia corada pelo Gram. O novo protocolo não faz menção ao achado das clue cells na microscopia a fresco nos critérios de Amsel. Valelembrar que o CDC 2015 considera a coloração de Gram como o método laboratorial padrão- ouro para o diagnóstico de VB. Todas os livros didáticos não fazem distinção entre a microscopia a fresco e o exame de Gram para identificação destas células nos critérios de Amsel. Escore de Nugent: baseia-se em elementos avaliados na bacterioscopia do conteúdo vaginal pelo Gram. O tratamento visa eliminar os sintomas e restabelecer o equilíbrio da flora vaginal. → Primeira opção: ▪ Metronidazol 250 mg, 2 comprimidos, VO, 2x/dia, por 7 dias. ▪ Metronidazol gel vaginal 100 mg/g, um aplicador cheio, via vaginal, à noite ao se deitar, por 5 dias. → Segunda opção ▪ Clindamicina 300 mg, VO, 2x/dia, por 7 dias. → Gestantes ▪ Primeiro trimestre: Clindamicina 300 mg, VO, 2x/dia, por 7 dias. ▪ Após o primeiro trimestre: Metronidazol 250 mg, 1 comprimido, VO, 3x/dia, por 7 dias. Contudo, após o tratamento, a VB pode recorrer em mais de 30% das mulheres em um período de até 3 meses. Entre as possíveis causas, estão a patogenicidade da bactéria, a reinfecção e a falha na recolonização da flora vaginal pelos lactobacilos. Recorrências: 3 episódios no período de 6 meses. → Metronidazol 250 mg, 2 comprimidos, VO, 2x/dia, por 10-14 dias. → Metronidazol gel vaginal 100 mg/g, um aplicador cheio, via vaginal, à noite ao se deitar, por 10 dias, seguido de tratamento supressivo com duas aplicações semanais, por 4 a 6 meses. Entretanto, após o término da terapia, podem surgir novos episódio recorrentes. O tratamento das parcerias sexuais não está recomendado, visto que não se trata de uma IST. Mulheres devem ser avisadas de praticar abstinência sexual ou usar preservativos correta e consistentemente na vigência do tratamento da VB. O consumo de álcool deve ser evitado durante o tratamento com nitroimidazólicos. Para reduzir a possibilidade da reação dissulfiram- like, a abstinência alcoólica deve se estender por 24h após o término do tratamento com o metronidazol e por 72h após o término do tratamento com o tinidazol. Além disso, podemos lançar mão dos probióticos oral. Candidíase É um processo inflamatório causado pela proliferação de fungos no meio vaginal, principalmente a Candida albicans (85-95%). Estudos de prevalência indicam que a Candida sp. pode ser isolada do trato genital em aproximadamente 15 a 20% das mulheres assintomáticas saudáveis. Não é considerada uma IST. A via sexual não é a principal forma de transmissão na candidíase, visto que a Candida sp. pode fazer parte da flora endógena e é observada até mesmo em mulheres celibatárias. Entretanto, ela pode ocorrer em alguns casos. Em 40% dos casos, há infecção concomitante de VB e candidíase, sendo essa vaginite mais frequente em pacientes imunossuprimidas, diabéticas e portadoras de DSTs. Raramente a CVV ocorre antes da menarca, e sua incidência aumenta em adultos, tendo pico de incidência próximo aos 20 anos de vida, que se mantém por toda a menacme. A ocorrência é menos frequente em mulheres pós- menopáusicas, excetuando-se as que usam estrogênios. Entre os fatores predisponentes para o desenvolvimento da candidíase, pode-se apontar gestação, diabetes, contato oral-genital, uso de estrogênios em altas doses, anticoncepcionais orais, antibióticos, espermicidas e uso de diafragma ou DIUs. A gravidez, o uso de anticoncepcionais orais com altas doses de estrogênio, terapia hormonal somente com estrogênio e o diabetes propiciam aumento na concentração de glicogênio vaginal, com consequente acidificação do meio e proliferação de levedura. O diagnóstico é clinico e por exame ginecológico. Sintomas: prurido e corrimento intenso, além de disúria e dispareunia. Os sintomas podem ser decorrentes de reação alérgica à toxina produzida pelo fungo (canditina) e tendem a se manifestar ou se exacerbar na semana antes da menstruação, quando a acidez vaginal é máxima. Há melhora dos sintomas durante a menstruação e no período pós-menstrual. Exame ginecológico: hiperemia vulvar, edema e eventualmente fissuras e escoriações. Exame especular: hiperemia da mucosa vaginal, com conteúdo vaginal (fluido, espesso, flocular, aderido à parede vaginal). Exame à fresco (KOH 10%): possui uma sensibilidade de 50-60% e sua positividade (presença de hifas e esporos) dispensa continuar investigação. Bacterioscopia: por mais que seja o padrão ouro, é feito apenas nos casos recorrentes. Tratamento via oral → Fluconazol 150 mg dose única → Itraconazol 100 mg 2x/dia por 1 dia → Cetoconazol 200 mg 2x/dia por 5 dias Tratamento via intravaginal → Fenticonazol creme por 7 dias → Clotrimazol óvulo, 500 mg dose única → Butaconazol 20 mg/g dose única → Nistatina 25.000 UI/g por 14 dias Escolher uma das duas vias, não precisa prescrever oral e intravaginal na mesa paciente. Candidíase complicada: recorrente, etiologia não albicans, pacientes diabéticas e outras condições de comprometimento do sistema imune. A candidíase recorrente, definida como quatro ou mais episódios de vulvovaginite sintomática por ano, afeta cerca de 5 a 8% das mulheres. → Fase aguda ▪ Miconazol creme vaginal a 2%, um aplicador cheio, à noite ao se deitar, por 7 dias. ▪ Nistatina 100.000 UI, uma aplicação via vaginal, à noite, ao se deitar, por 14 dias. ▪ Fluconazol 150 mg VO dose única. ▪ Itraconazol 100 mg VO, 2 comprimidos, VO, 2x/dia, por 1 dia. → Durante a gestação, o tratamento deve ser realizado somente por via vaginal. O tratamento oral está contraindicado na gestação e lactação. → Esquema de supressão: após remissão dos episódios agudos ▪ Fluconazol 150 mg semanal por 2 meses/ quinzenal por 2 meses/ mensal por 2 meses (total de 6 meses de tratamento). ▪ Ácido bórico em óvulo 600 mg 2x/semana por 2 meses. Tricomoníase É uma infecção sexualmente transmissível, com a Trichomonas vaginalis de agente etiológico. Por ser uma IST, é importante lembrar de TRATAR O PARCEIRO. A tricomoníase possui alto poder infectante e pode ser identificada em 30 a 40% dos parceiros masculinos de pacientes infectadas, embora a infecção nos homens seja autolimitada e transitória. Nas mulheres, a tricomoníase pode variar desde portadoras assintomáticas até uma doença inflamatória grave e aguda. Embora a maioria das pacientes não apresente sintomas, quando presentes, estes costumam ser mais intensos logo após o período menstrual ou durante a gravidez. Sua fisiopatologia se dá pela ação inflamatória pelo agente etiológico, que facilita a aquisição de outras infecções, principalmente HIV, e está associada a complicações durante o ciclo gravídico puerperal. A tricomoníase somente se relaciona com a prática da atividade sexual desprotegida. Não há ligação com a idade da mulher, fase do ciclo menstrual, uso de anovulatórios, uso frequente de antibióticos ou frequência de intercursos sexuais. O diagnóstico se dá pelo quadro clínico e exame ginecológico. Sintomas: corrimento profuso amarelo esverdeado, ardor genital, sensação de queimação, disúria e dispareunia. Os homens são geralmente portadores assintomáticos e, em linhas gerais, comportam-se como vetores. Entretanto, algumas vezes desenvolvem um quadro de uretrite não gonocócica, epididimite ou prostatite. Exame ginecológico: hiperemia genital externa e corrimento exteriorizado pela fenda vulvar. Exame especular: conteúdo vaginal amarelo- esverdeado, por vezes, acompanhado de pequenas bolhas. Um achado altamente específico da tricomoníase exige memorização: colpite focal ou difusa caracterizada por um “colo em framboesa” ou “colo em morango”. Ele ocorre devido à dilatação capilar e hemorragias puntiformes. Bacterioscopia a fresco: é o métodomais utilizado para diagnóstico, com sensibilidade 51-65%. O agente é visualizado em mobilidade. Bacterioscopia pelo gram: também permite identificar T. vaginalis, só que imóvel. Ao teste de Schiller, observa-se intensa colpite focal e difusa. Nos casos difusos, o teste de Schiller apresenta tipicamente o colo uterino em “pele de onça” ou de aspecto “tigroide”. Cultura por meio de Diamond: recomendada quando existirem sintomas e os exames anteriores negativos. Tratamento: deve ser sistêmico, pois o tratamento tópico não atinge níveis terapêuticos nas glândulas vaginais e na uretra. → Metronidazol 2g VO dose única; → Tinidazol 2g VO dose única; → Metronidazol 500 mg 2x/dia por 7 dias. Recomendações → Abstenção alcoólica 24 horas após o metronidazol e 72 horas após o tinidazol. Efeito antabuse (dissulfiram-like) o As pacientes e os seus parceiros devem ser advertidos do consumo de álcool concomitante ao tratamento com metronidazol, tinidazol e secnidazol. o O risco potencial do efeito antabuse (dissulfiram- like), decorrente da interação de derivados imidazólicos com álcool (inibição da enzima aldeído desidrogenase pelos nitroimidazólicos), que se caracteriza por mal-estar, náuseas, tonteiras e “gosto metálico na boca”. → Referenciar o (s) parceiro (s) para tratamento (normalmente em dose única, pela resistência do homem ao tratamento prolongado). → Pesquisar outras infecções de transmissão sexual. Além disso, é importante oferecer sorologia e exames para investigar outras IST. O que fazer com as gestantes? o O metronidazol pode ser utilizado com segurança durante a gestação. O uso de metronidazol VO é tratamento-padrão durante toda a gestação. 1- Metronidazol 400 mg, 5 comprimidos, VO, dose única (dose total de tratamento 2 g); ou 2- Metronidazol 400 mg, 1 comprimidos, VO, 2x/dia, por 7 dias; 3- Metronidazol 250 mg, 1 comprimido, VO, 3x/dia, por 7 dias. o A ausência de tratamento está associada à prematuridade e ao baixo peso ao nascer. o O uso da via tópica está associado com falha de até 50% em gestantes e não gestantes. Vaginose Citolítica É uma vaginose causada pela excessiva proliferação de lactobacillus, que provoca redução do pH vaginal e citólise das células do epitélio escamoso da vagina e colo com consequente liberação de substâncias irritativas provocando o corrimento e a ardência vulvovaginal. A partir disso, a paciente refere vários sintomas ginecológicos. O diagnóstico é feito pela clínica e exame ginecológico. Critérios diagnósticos → pH vaginal entre 3,5 e 4,5. → Microscopia com solução salina: ▪ Ausência de micro-organismos não pertencentes a microbiota vaginal normal; ▪ Raros leucócitos; ▪ Citólise (núcleos desnudos); ▪ Aumento significativo de lactobacilos. Sintomas: corrimento esbranquiçado, prurido (piorando no período pré menstrual), ardor, queimação, disúria e dispareunia. Exame especular: conteúdo vaginal aumentado, com aspecto flocular, fluido ou em grumos. Bacterioscopia: ausentes elementos fúngicos (hifas e/ou esporos) e aumento excessivo de Lactobacillus e raros leucócitos. A bacterioscopia é o único exame que tem como diferenciar a vaginose citolítica da candidíase. Não existe um tratamento específico, visto que a etiopatogenia não é conhecida. A recomendação é alcalinizar o meio vaginal, usando duchas vaginais com bicarbonato de sódio (30-60 g) 2-3x por semana até a remissão do quadro clínico. Vaginite inflamatória descamativa É uma forma pouca frequente, mas severa, de vaginite purulenta crônica. Possui uma etiologia desconhecida, mas a hipótese está relacionada aos fatores imunológicos e deficiência de estrogênio. Em alguns casos, o Streptococcus grupo B e a E. coli são os agentes encontrados. O diagnóstico é pelo quadro clínico e exame ginecológico. Critérios diagnósticos → Conteúdo vaginal purulento em grande quantidade; → pH vaginal alcalino; → Microscopia: ▪ Processo descamativo vaginal intenso, com predomínio das células profundas (basais e parabasais); ▪ Flora vaginal do tipo 3 (ausência de lactobacilos): substituição da flora lactobacilar por cocos Gram-positivos; ▪ Número elevado de polimorfonucleares. Sintomas: geralmente são de longa duração, como dispareunia, ardor e corrimento purulento. Exame ginecológico: processo inflamatório de intensidade variável, com eritema, podendo haver petéquias ou equimoses na mucosa do trato genital e a cérvice pode estar envolvida. É importante excluir a tricomoníase. O tratamento tem como objetivo reduzir a proliferação bacteriana e processo inflamatório. Não existem, até o momento, estudos randomizados controlados. Sobel estudou 98 casos, utilizando 3 diferentes esquemas terapêuticos: → Clindamicina 2% 5g intravaginal por 7 dias → Hidrocortisona 10% intravaginal 2-4 semanas → Clindamicina + hidrocortisona intravaginais Houve boa resposta aos tratamentos, porém ocorreram recidivas de 30%. Para alguns autores, o estrogênio vaginal periodicamente poderia reduzir as recidivas. O papel dos probióticos nas vulvovaginites o Na prática diária, vários médicos prescrevem probióticos como tratamento adjuvante ou como forma de diminuir as recorrências de várias infecções. o Os probióticos são definidos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas levam a um benefício à saúde do hospedeiro”, e a justificativa para o uso seria seu efeito em reestruturar a microbiota em desequilíbrio. O colo é formado por dois tipos diferentes de células epiteliais: epitélio escamoso e epitélio glandular. A causa de inflamação cervical depende do tipo do epitélio afetado. A cervicite ou cervicite mucopurulenta ou endocervicite é a inflamação do epitélio colunar endocervical, ou seja, do epitélio glandular do colo uterino. Na maioria dos casos é assintomática (70-80%) e são descobertos apenas durante a investigação de rotina. A ausência de sintomas dificulta o diagnóstico, favorecendo complicações (endometrite, DIP e desfechos adversos para gestantes) e maior risco de HIV e câncer cervical. Etiologia → Os principais agentes são a Clamídia trachomatis (CT) e N. gonorrheae (NG). → Quando causa infecciosa, pensar mais em agentes gonocócicos e não gonocócicos. → Outros agentes menos usuais: mycoplasma, ureoplasma, infecção secundária, trichomonas, herpes símpex vírus. O diagnóstico é dado pelo quadro clínico e exame ginecológico. Alguns sintomas genitais leves, como corrimento vaginal, dispareunia ou disúria, podem ocorrer na presença de cervicite mucopurulenta. O colo uterino pode ficar edemaciado, sangrando facilmente ao toque da espátula de Ayre. Pode ser encontrada a presença de secreção mucopurulenta no orifício externo do colo uterino. Exame ginecológico: dor na mobilização do colo uterino, material mucopurulento no orifício do colo e sangramento ao toque da espátula ou swab. Os exames mais utilizados para o diagnóstico etiológico são: → Técnicas de biologia molecular: PCR e detecção de DNA. → Cultura em meio de McCoy → Bacterioscopia de secreção endocervical corado pelo Gram (sensibilidade 50%). → Culturas em meio de Thayer-Matin → Imunofluorescência direta → Métodos imunoenzimáticos (Eliza) O tratamento é voltado preferencialmente para o diagnóstico para o patógeno envolvido. Para isso, deve-se sempre buscar o diagnóstico etiológico mediante propedêutica laboratorial complementar. Entretanto, quando não está disponível, o tratamento é baseado em diagnóstico presuntivo para Clamidia e Neisseria Ghonorreae. Tratamento → Ciprofloxacino 500 mg dose única + Azitromicina 500 mg (2cp VO, dose única) → Ceftriaxona500 mg IM dose única + Azitromicina 500 mg (2cpVO dose única) → Em menores de 18 anos e gestantes, ciprofloxacino é contraindico, sendo a ceftrioxona (recomendação do MS), azitromicina ou amoxicilina os medicamentos de escolha. ▪ Azitromicina 1g VO em dose única. ▪ Amoxicilina 500 mg VO 8/8 horas por 7 dias. Nas gestantes, deve-se colher teste de controle após 3 semanas do fim do tratamento. Isso será importante para confirmar êxito terapêutico. Recomendações finais → Todos os parceiros devem ser tratados para NG ou CT se o ultimo contato foi antes do diagnóstico. → Considerar a possibilidade de associação de NG e CT no tratamento, devido a dificuldade prática do diagnóstico.
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