Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Laísa Dinelli Schiaveto Bronquiolite Viral Aguda INTRODUÇÃO A Bronquiolite Viral Aguda (BVA) é a infecção viral do trato respiratório inferior, mais comum em crianças pequenas, sendo o primeiro quadro de chiado em uma criança com história prévia de infecção viral. É caracterizada por inflamação das pequenas vias aéreas, edema e necrose epitelial, com aumento do muco e do broncoespasmo. Ocorre mais durante os primeiros 2 anos de idade, com uma incidência maior em lactentes menores de 6 meses. Assim, por volta dos 2 anos de idade, quase todas as crianças já terão sido infectadas por um dos agentes etiológicos da BVA, desenvolvendo ou não a enfermidade, sendo que as formas severas ocorrem em bebês de baixa idade, entre 1 e 3 meses de vida. Além disso, quanto maior a carga viral, maior será o comprometimento do estado geral. PRINCIPAL AGENTE ETIOLÓGICO: vírus sincicial respiratório (VSR). OUTROS AGENTES ETIOLÓGICOS: influenza, parainfluenza tipo 1 e 3, rinovírus, adenovírus, coronavírus e metapneumovírus humano. EPIDEMIOLOGIA - Distribuição mundial, com forte impacto clínico e social em países desenvolvidos e em desenvolvimento. - Altamente contagiosa. - Mais comum no outono e inverno. - Acomete os 2 primeiros anos de vida, com pico de incidência no 1º semestre. - Predomínio no sexo masculino; - Positividade para BVA resulta em 40% de chance para desenvolver asma. FISIOPATOLOGIA FONTE DE INFECÇÃO: membro da família ou colega da creche ou escola, com enfermidade respiratória aparentemente benigna. TRANSMISSÃO: contato direto ou próximo a secreções contaminadas, que podem envolver gotículas ou fômites, visto que as portas de entrada são a conjuntiva e a mucosa nasal. PERÍODO DE INCUAÇÃO: 2 a 8 dias, com uma média de 4 a 5 dias. PERÍODO DE DISSEMINAÇÃO VIRAL: 3 a 8 dias, mas pode se prolongar, especialmente em lactentes mais novos, nos quais pode continuar até por 3 a 4 semanas. MECANISMO PATOGÊNICO: (1) A replicação viral se inicia na nasofaringe, com altas concentrações virais nas secreções respiratórias. (2) A disseminação do aparelho respiratório superior para o inferior acontece devido a aspiração de secreções e a disseminação pelo epitélio respiratório, entre o 1º e 3º dia após o início da coriza. (3) Como resultado, ocorre dano ao epitélio ciliar do bronquíolo, dificultando a remoção de muco e de debris celulares, que, por sua vez, facilita o acúmulo de exsudato dentro dos bronquíolos e alvéolos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INÍCIO: - Sintomas de resfriado comum: - Espirro; - Coriza hialina; - Tosse; - Febre pode ou não estar presente. APÓS APROXIMADAMENTE 48 HORAS: - Taquidispneia; - Sibilância; - Vômitos pós tosse; - Tiragem intercostal; - Crepitações finas; - Tempo expiratório prolongado; - Desidratação associada com baixa ingesta; - Cianose (casos mais graves). FATORES DE RISCO - Prematuridade (< 29 semanas); - Idade < 6 meses; Laísa Dinelli Schiaveto - Presença de doença pulmonar; - Cardiopatias; - Baixo peso ao nascimento; - Desnutrição; - Idade materna; - Amamentação; - Aglomeração; - Exposição a irritantes das vias aéreas, como tabagismo passivo e poluição atmosférica. AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DIAGNÓSTICO 1. ACHADOS CLÍNICOS: Evolutivamente, o quadro clínico se inicia com espirro, rinorreia, tosse e febre baixa, que evolui para dificuldade respiratória associada a sinais de obstrução brônquica e sibilância. Ainda, pode haver a presença de cianose, indicando hipóxia e caracterizando gravidade, que pode vir associada a episódios de apneia, principalmente em prematuros. Portanto, consiste nos sinais e sintomas de IVAS com evolução para obstrução das vias aéreas inferiores. 2. EXAMES RADIOLÓGICOS: NÃO deve considerada uma medida de avaliação universal para todos os pacientes portadores de BVA. É útil nos casos graves, quando ocorre piora súbita do quadro respiratório ou quando existem doenças cardíacas ou pulmonares prévias; nos casos de complicações, como atelectasias e pneumotórax; nos casos em que for considerado outro diagnóstico. Os principais achados incluem: hiperinsuflação torácica difusa, hipertransparência, retificação do diafragma, broncograma aéreo com um infiltrado de padrão intersticial e atelectasias secundárias a tampões mucosos e infiltrados de baixa densidade com discreto espessamento pleural. - Hiperinsuflação, retificação dos arcos costais e retificação do diafragma: - Atelectasia: 3. EXAMES LABORATORIAIS: NÃO devem ser solicitados considerando a obtenção de informações para confirmação diagnóstica. Assim, hemograma e eletrólitos são solicitados somente na suspeita de sepse ou desidratação. 4. RECONHECIMENTO DO AGENTE ETIOLÓGICO: NÃO tem indicação para ser realizada de rotina, uma vez que a cultura do vírus em secreção de nasofaringe é demorada e possui baixa aplicabilidade clínica. - Imunofluorescência indireta e RT-PCR da secreção nasal. É útil para informações de vigilância epidemiológica e, em alguns serviços, para alocação de pacientes em leitos hospitalares para estratégia de isolamento. Laísa Dinelli Schiaveto DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Asma; - Coqueluche; - Insuficiência cardíaca (cardiopatia congênita e miocardite viral); - Malformação congênita (cisto broncogênico). TRATAMENTO Na grande maioria dos casos, a evolução é benigna e o processo evolui para a cura sem a necessidade de nenhuma intervenção. Assim, para casos leves, os pacientes são assistidos em casa e o princípio do tratamento é fundamentado em uma terapêutica eminentemente sintomática: - Controle da temperatura; - Manter hidratação adequada; - Manter nutrição adequada; - Acompanhamento da evolução do comprometimento respiratório. A necessidade de internação é infrequente, ocorrendo em cerca de 1 a 2% dos pacientes com faixa etária < 1 ano de idade. Para isso, existem os critérios de internação hospitalar, baseados no grau de comprometimento do sofrimento respiratório e na presença de fatores de risco associados. Nos casos moderados e graves, o tratamento é baseado na terapêutica sintomática em conjunto com: - Manipulação mínima; - Oxigenoterapia (Sat O2 alvo > 90%); - Aspiração das vias aéreas superiores; - Inalação com solução hipertônica 3%. OBS.: Broncodilatadores, corticosteroides e fisioterapia respiratória = terapêutica controversa. OBS.: A prevenção da infecção cruzada deve ser sempre considerada como etapa de extrema importância, principalmente para portadores de infecção pelo VRS. Já, em casos de crise, incialmente, utiliza-se broncodilatador de curta duração. Se persistir, utiliza-se corticosteroide VO ou EV e manutenção com corticosteroides inalatório. Se, mesmo assim, a crise ainda permanecer, utiliza-se sulfato de magnésio. CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR A SER RECOMENDADA: - Idade < 4 a 6 semanas; - Não aceitação da ingesta (50% inferior da ingesta normal); - Desidratação; - Letargia; - História de apneia; - Taquipneia moderada a grave; - Disfunção respiratória moderada a grave; - Sat O2 < 91% em ar ambiente; - Presença de comorbidades: cardiopatia congênita com repercussão clínica, hipertensão pulmonar, doença neuromuscular, pneumopatia dependente de oxigênio e imunodeficiência. A SER CONSIDERADA: - Presença de outras comorbidades: cardiopatias congênitas de menor repercussão clínica, doença pulmonar crônica, historia de prematuridade e síndrome de Down; - Evolução rápida da sintomatologia (< 24 a 48 horas); - Aspectos socioambientais: situação econômica desfavorável, fatores geográficos, dificuldade de transporte ou acesso à assistência. PREVENÇÃO GERAL: - Lavagem das mãos; - Uso de máscaras; - Evitar contato com indivíduos com doença respiratória; - Prevenção de tabagismo; - Aleitamentomaterno; - Frequência tardia a escolas, creches e berçários. PREMATUROS: 1. Profilaxia Indireta: vacinar contatos contra influenza e coqueluche. 2. Profilaxia Passiva: vacina com anticorpo monoclonal humanizado para VSR (palivizumabe), 5 doses IM,15 mg/kg, no período de fevereiro-junho. Laísa Dinelli Schiaveto Informações sobre a Palivizumabe - É recomendada, no primeiro ano de vida, para recém-nascidos com idade gestacional < 29 semanas. - É recomendada, no primeiro ano de vida, para recém-nascidos pré-termo portadores de doença pulmonar crônica da prematuridade definida por: idade gestacional < 32 semanas, associada a necessidade de oxigênio (> 21%), por, pelo menos, 28 dias após o nascimento. - No primeiro ano de vida é indicada para lactentes portadores de doenças cardíaca com repercussão hemodinâmica significativa. - No primeiro ano de vida, pode ser indicada até o máximo de 5 doses mensais (15 mg/kg/dose), durante a temporada do VSR (fevereiro-junho), naqueles lactentes que preenchem critérios de utilização de imunobiológico; sendo que, lactentes com critérios de utilização, nascidos ao longo da temporada do VSR, virão a requerer menos doses. - Não é recomendada no segundo ano de vida, exceto para os lactentes que necessitaram de, pelo menos, 28 dias de suplementação de oxigênio, após o nascimento, e que continuam a requerer alguma intervenção médica, como oxigênio suplementar, terapia crônica com corticosteroide ou diurético. - Deve ser descontinuada no caso de o lactente necessitar de hospitalização associada ao VSR. - No primeiro ano de vida, pode ser considerada nos lactentes com anomalia pulmonar ou doença neuromuscular capazes de prejudicar a capacidade de clearance das secreções das vias aéreas superiores. - Nos dois primeiros anos de vida (< 24 meses), pode ser considerada durante a temporada do VSR nas crianças profundamente imunocomprometidas. - Não é recomendada para crianças portadoras de fibrose cística ou síndrome de Down, devido à insuficiência de dados disponíveis. - Não é recomendada para prevenção de VSR associada a cuidados de saúde.
Compartilhar